Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sábado, 28 de novembro de 2009

A ODISSÉIA GAÚCHA DO SEIVAL

INTRODUÇÃO
Houve sempre muita confusão sobre a famosa aventura empreendida por Garibaldi, objetivando a tomada da cidade de Laguna, durante a Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos. Isso, porque ensinavam que os navios teriam sido transportados por terra, através das lagoas existentes ao longo da faixa litorânea que se estende desde o sul do estado do Rio Grande do Sul até, praticamente, a cidade de Laguna, no estado de Santa Catarina. Essa epopéia sempre me parecera muito estranha e mal explicada, considerando que os dois estados possuem costa marítima e esses barcos poderiam ter navegado ao invés de transportados por terra, com um enorme sacrifício das tropas já debilitadas da República Rio Grandense. Na verdade, havia outras razões que impediam o uso dessa solução tão evidente e mais simples. Vamos, nesse artigo, tentar deixar bem claras essas razões e todo o desenrolar dessa fantástica façanha.
E antes de entrar no assunto, propriamente dito, uma rápida explicação sobre os nomes dos barcos que participaram da aventura. “Seival” era o nome de um dos dois barcos ou lanchões utilizados por Giuseppe Garibaldi na tomada da cidade de Laguna, que culminou com a proclamação da República Juliana, durante a Guerra dos Farrapos. O nome do lanchão é uma alusão à vitória obtida pelos gaúchos na Batalha do Seival, em data anterior à fabricação do barco. Seival era um arroio afluente do rio Candiota, no município de Bagé, onde se travou um dos mais sangrentos combates da Revolução Farroupilha com derrota e fuga das forças imperiais. Atualmente Candiota é um município do Rio Grande do Sul e Seival um distrito de Candiota.
Há dúvidas quanto ao nome do segundo barco que fez parte da expedição. Para alguns, “Farroupilha”, e para outros “Rio Pardo”, seria o nome do outro lanchão, maior, que acompanhava o Seival na empreitada; possivelmente porque, posteriormente à tomada de Laguna, um outro barco com o nome de Rio Pardo entrou também em cena.
Os lanchões teriam sido construídos com a finalidade específica de tomar a cidade de Laguna, que constituía, à época, um porto marítimo importante e necessário, pela impossibilidade técnica da conquista do porto de Rio Grande, que foi sempre fortemente defendido pelas forças imperiais.

A EPOPÉIA NOS CAMPOS GAÚCHOS
A epopéia do Seival e do Farroupilha teve início em pleno território gaúcho. Muito tempo antes do desenvolvimento dos veículos anfíbios, Garibaldi demonstrou que um barco construído para se movimentar na água também podia andar na terra. Para chegar a Laguna e conquistá-la, proclamando a República Juliana, o chamado "herói de dois mundos" teve que colocar em execução um dos mais arrojados planos militares já idealizados em qualquer época. A história realmente começou com a construção dos barcos.
No delta do Rio Camaquã, que desemboca na margem direita da Lagoa dos Patos, a pouco mais de meio caminho entre Porto Alegre e Rio Grande, na Fazenda do Brejó, que pertencia à Dona Antônia Joaquina da Silva, irmã de Bento Gonçalves, nos galpões abandonados de uma velha charqueada, o Governo Republicano mandara edificar um pequeno estaleiro para construir embarcações com a finalidade de controlar as águas internas. Este local era considerado estratégico devido à baixa profundidade que não permitia aos navios de guerra do Império, que patrulhavam essas águas, se aproximarem muito da costa.
John Griggs, também conhecido por “João Grandão”, um mercenário norte-americano contratado pelos Farroupilhas, era o mestre encarregado de fazer funcionar o estaleiro. Era marinheiro de grande habilidade, qualidade importante na tarefa. A Lagoa dos Patos, embora ampla, é rasa, com muitos bancos de areia. Este obstáculo natural, contornado por Griggs, impediu a perseguição mais efetiva por embarcações maiores da marinha imperial, que guardavam o porto de Rio Grande.
O trabalho era penoso, a madeira vinha dos matos adjacentes e no pequeno estaleiro trabalhavam quatro carpinteiros locais. O ferro era penosamente forjado ali mesmo e a própria fazenda fornecia a cordoalha de couro trançado e os cabos de cizal necessários para armar os barcos. Garibaldi logo sentiu que com os recursos disponíveis a construção seria muito lenta. Conseguiu então que o governo conseguisse ajuda de Montevidéu, na figura de Carniglia, conhecido carpinteiro naval, com sua equipe de mestres e operários. De Montevidéu vieram também alguns marinheiros que somados a outros tantos das redondezas formaram uma tripulação heterogênea de setenta homens. Com esse auxílio extra, em pouco mais de dois meses conseguiram construir dois lanchões, aos quais deram nomes que evocavam vitórias Farroupilhas. O maior, de 18 toneladas, foi chamado “Farroupilha” e seu comando dado a Garibaldi; o segundo, de 12 toneladas, foi batizado como “Seival” e seu comando entregue a John Griggs.
Entretanto, estando as embarcações dos Farroupilhas cercadas na Lagoa dos Patos, onde as forças do Império dominavam a entrada e saída, para atingir o mar, seus barcos teriam que ser deslocados, inicialmente, por terra. E aí iniciou-se uma epopéia digna de figurar com destaque na história dos conflitos mundiais. Sobre ela teria dito Garibaldi a Bento Gonçalves, numa reunião do alto comando farroupilha:
"Não existe a menor dificuldade na expedição por mar a Laguna. Mande-me o general alguns carpinteiros e a madeira necessária para a construção de quatro grandes rodados e cem juntas de bois carreiros, para a tração das rodas, e eu farei transportar os lanchões até Tramandaí, se Deus quiser".
Na primeira semana de maio do ano de 1839 os barcos foram lançados à água e durante nove dias andaram pela lagoa à procura de presas. Finalmente nas alturas de Cristóvão Pereira encontraram a sumaca “Mineira” e o patacho “Novo Acordo”. Após um único tiro abordaram a "Mineira", mas o "Novo Acordo" conseguiu fugir. A presa foi encalhada e a sua carga dividida, conforme carta de corso que Garibaldi havia recebido. Em resposta a esse ataque o governo federal enviou para a Lagoa dos Patos, sob o comando do almirante inglês John Grenfell, quatro navios de guerra. Entretanto, não era tarefa fácil à marinha imperial apanhar os revoltosos que conheciam todos os alagados, bancos e baixios da costa. Eram guerrilheiros que, inclusive, levavam cavalos a bordo, mostrando a mesma competência, no manejo das rédeas, cabrestos e boleadeiras, que a poucos momentos demonstravam nas escotas, adriças e leme dos lanchões. Quando, perseguidos pelos imperiais, chegavam a um banco, o brado era: “À água, patos!”. Todos pulavam na água, inclusive Garibaldi e metendo os ombros no barco cruzavam para o outro lado.

Esta guerrilha náutica terminou quando o Governo Farroupilha resolveu atacar Laguna usando esta pequena frota como apoio. O governo imperial, preocupado com os acontecimentos nas águas internas, resolveu destruir o estaleiro no delta do Camaquã, retomar o forte de Itapuã e o do Junco. Contando com uma frota numerosa, foi fácil retomar esses redutos, o mesmo não acontecendo com a idéia de capturar Garibaldi. Os lanchões Seival e Farroupilha cortaram as águas da Lagoa dos Patos, fustigados pela retaguarda por Grenfell. Fugindo e despistando, Garibaldi, profundo conhecedor da Lagoa dos Patos, passa por cima do banco das Desertas, entra na Lagoa do Casamento e esconde-se dentro do Arroio Capivari, a montante da lagoa do mesmo nome, onde desemboca, a duas milhas da sua foz. Nesse local teriam camuflado os mastros com a vegetação abundante das margens e passado a executar o planejado: construir duas carretas para os barcos e levá-los até Tramandaí. Enquanto o General Canabarro requisitava na região, em segredo, duzentos bois de canga, Garibaldi reunia o material necessário, principalmente cordoalha e madeirame de embarcações apreendidas. As rodas seriam de madeira, com 3,20 metros de diâmetro e cerca de 40 centímetros de largura. As margens do arroio foram aplainadas e os eixos e rodas submergidos sob os cascos para que a carreta pudesse ser montada. Tudo pronto, atrelaram 16 juntas de boi e tentaram o início da viajada, que não funcionou e quase virou o barco. Finalmente, em 05 de julho do mesmo ano conseguiram tirar os barcos da água e iniciar o transporte por terra.
Aqui, um parêntese curioso, para quem conhece o cenário gaúcho. Os lanchões Seival e Farroupilha teriam deixado o rio Capivari no ponto onde esse rio é cruzado, atualmente, pela RS-040, cerca de mil metros antes do posto da Polícia Rodoviária de Capivari, que fica no cruzamento dessa rodovia com o início da chamada “Estrada do Inferno” (nome antigo da BR-101, mas o inferno continua). Para quem vai de Porto Alegre em direção a Capivari, há um marco logo depois da ponte sobre o rio Capivari, à esquerda, indicando o local considerado como o início da movimentação terrestre das embarcações do grupo comandado por Garibaldi.

Entre o rio Capivari e o rio Tramandaí, através de campos, areais e banhados, foram percorridos cerca de cem quilômetros entre os dias 5 de julho pela manhã e a tardinha do dia 14 do mesmo mês, sem que as forças imperiais tivessem a mínima suspeita do que estava acontecendo. Lá chegados, tiveram que preparar o terreno para recolocar os barcos na água e reequipá-los, inclusive com as armas, pois haviam deles retirado tudo o que era possível, para deixá-los mais leves durante o percurso. Após reparos rápidos que não levaram três dias, as âncoras foram içadas e os barcos foram lançados no rio Tramandaí dali seguindo para o mar, através da barra do rio Tramandaí, e para o ataque às forças imperiais que se encontravam acantonadas em Laguna.
EM TERRAS E
MARES CATARINENSES
Entretanto, a alegria da navegação no mar pouco durou, pois baixou um pampeiro (o mesmo minuano dos gaúchos) que acabou causando o naufrágio do “Farroupilha”, próximo à cidade de Araranguá. Quando Garibaldi, escapando com vida do naufrágio, conseguiu chegar à praia, perto da Pedra do Campo Bom, contou sua tripulação sobrevivente e constatou ter perdido 16 marujos, dentre eles companheiros italianos de muitas jornadas. Sem tempo sequer para lastimar as perdas, os sobreviventes prosseguiram a pé, tentando se reunir na Barra do Camacho com as forças revolucionárias que estavam indo atacar Laguna.
Enquanto isso, o Seival, com John Griggs no comando, talvez por ser um barco mais ligeiro, conseguiu evitar o naufrágio e continuou velejando até a barra do Camacho onde, milagrosamente, penetrou com a intenção de atingir Laguna pelo rio Tubarão, ao invés de penetrar por sua foz, onde se encontra o porto de Laguna.


Quando Garibaldi e seus homens chegaram à barra do Camacho, o Seival já lhe tinha adentrado. Com o auxilio de um prático local o Seival seguiu, com Garibaldi também a bordo, pelos tortuosos canais que ligam as lagoas de Garopaba do Sul e Santa Marta, até chegar ao rio Tubarão. Os imperiais mantinham sentinelas permanentes no morro da Glória instruídos para controlarem a barra do Tubarão, em Laguna, contra quem viesse do mar, pois pelo rio Tubarão só baleeiras podiam navegar. A flotilha imperial era composta dos vasos de guerra “Imperial Catarinense”, “Sant’Anna” e “Lagunense”, de dois lanchões e mais a escuna “Itaparica” e o brigue “Cometa”.
Em Laguna, enquanto os "patos" de Garibaldi atacavam por água, os homens do general David Canabarro investiam por terra. Ao verem o Seival surgir, de repente, na foz do Tubarão, na Lagoa de Santo Antônio, atacando agressivamente a nave "Sant’Anna", o pânico instalou-se definitivamente entre as fileiras imperiais. José de Jesus, comandante da "Imperial Catarinense", sentindo a derrota próxima, manda incendiar seu barco causando ainda mais confusão. Numa decisão que o levaria à corte marcial o coronel Vilas Boas, dando a batalha por perdida, ordenou retirada e o brigue "Cometa" conseguiu fugir levando para o Desterro (Florianópolis) a notícia da derrota.
A 22 de julho de 1839, os farroupilhas dominavam de vez a vila de Laguna, conquistando um importante porto para os Farroupilhas, que nunca conseguiram se apoderar dos portos de Rio Grande e São José do Norte. A 29 do mesmo mês foi proclamada a República Juliana, por não haver contiguidade com a República Rio Grandense, infelizmente de vida efêmera.
As peripécias de Garibaldi, entretanto, não pararam por aí. Cinco novos barcos da República de Piratini foram posteriormente incorporados à sua flotilha que, agora possuidora de um porto adequado, continuou a causar graves estragos à marinha imperial.

EPÍLOGO
Finalmente, na batalha naval de Laguna, dada a superioridade das forças imperiais face aos farroupilhas, quase todos os barcos republicanos envolvidos foram queimados e o “Seival” abordado pela “Bela-Americana”, porém sem nenhum tripulante à bordo. O “Seival” foi encalhado e mais tarde posto a flutuar, transformado em iate mercante com o nome de "Garrafão". Como navio mercante navegou ainda muitos anos, acabando seus dias encalhado em uma praia de Laguna. Em 1916, quando ia ser restaurado por historiadores italianos, foi queimado. Em 1945 foi encontrada uma figueira nos restos da quilha do Seival; transplantada para uma praça de Laguna ficou conhecida como a “Árvore de Anita”. Uma réplica do Seival ainda pode ser vista hoje, na cidade de Tramandaí, Rio Grande do Sul, no Parque Histórico General Manuel Luiz Osório.
Na Itália, muitos anos depois, no auge de sua fama, assim manifestou-se Garibaldi acerca de seus companheiros da Revolução Farroupilha.
“E, repassando na memória as vicissitudes da minha vida no vosso meio, em seis anos de guerra e de constante prática de ações magnânimas, como que em delírio exclamo: Onde estão estes belicosos filhos do Continente (Rio Grande do Sul), tão majestosamente intrépidos nos combates? Onde estão Bento Gonçalves, Antônio Neto, Davi Canabarro, Joaquim Teixeira Nunes e outros tantos lanceiros farrapos que não me lembro! Que o Rio Grande ateste, com uma modesta lápide, o sítio em que descansam seus ossos. E vossas belíssimas patrícias (a mulher gaúcha) cubram de flores este santuário de suas glórias.”

terça-feira, 17 de novembro de 2009

BOA NOITE, MRS. CALABASH, ONDE QUER QUE ESTEJA

Uma vez eu escutei, não lembro mais onde, nem quando (já tudo começa a perder-se, nas brumas do tempo ...), uma melodia maravilhosa, cantada por uma voz e uma interpretação únicas. Não se tratava, de forma alguma, de uma grande voz, uma voz maravilhosa, mas apenas uma voz inesquecível, como também a melodia, diga-se de passagem. Não descansei mais enquanto não descobri a canção e o seu intérprete: tratava-se da antiga “Make someone happy”, interpretada por Jimmy Durante. Não demorou muito e consegui importar um CD inteiro – The Best of Jimmy Durante - gravado por ele; e foi com agradável surpresa que, nesse disco, além da música que eu buscava, descobri um conjunto de outras jóias raras. O disco inteiro é uma jóia só, mas quero, nesse artigo, tocar levemente na primeira canção mencionada acima, que foi o grande motivo da minha busca, mencionar de passagem uma segunda, “I’ll be seeing you” e dedicar, a maior parte do texto, a uma terceira do mesmo CD, chamada “I’ll see you in my dreams”.
Pelo menos as duas últimas músicas não são, absolutamente, do meu tempo, como a gente costuma dizer, toda vez que não quer parecer tão velho como é, em realidade. Lembro-me, vagamente, de minha mãe mencionar o nome do intérprete algumas vezes, não como cantor, propriamente dito, mas como ator de cinema, meio cômico, no mais das vezes.
“Make someone happy” (“Faça alguém feliz”) é uma canção popular que ficou famosa, (relativamente) recentemente, através do filme de 1993, “Sleepless in Seattle”, interpretada pelo mesmo Jimmy Durante. A letra e a música dessa canção foram criadas por Betty Comden, Adolph Green e Jule Styne e ela foi originalmente criada para o musical, de 1960, “Do, Re, Me”, estrelada por Phil Silvers, Nancy Walker, David Burns, John Reardon, Nancy Dussault e interpretada por Nancy Walker.
“I’ll be seeing you” – “Estarei vendo você” - é uma canção popular criada para o musical da Broadway “Right This Way” – “Exatamente dessa forma” -, que fechou após quinze apresentações, apenas. A música foi escrita por Sammy Fain, a letra por Irving Kahal e a canção foi publicada em 1938. Já vêm que eu tinha razão quando dizia que as músicas não eram do meu tempo, visto ter eu nascido em 1944. O tema musical tem forte poder emocional e foi muito apreciada durante a Segunda Guerra Mundial. Apresentada ao longo de todo o filme de 1944, também intitulado “I’ll be seeing you”, estrelado por Ginger Rogers e Joseph Cotten, a sua gravação por Bing Crospby tornou-se um sucesso naquele ano (oh, ano do meu nascimento!), chegando a número um na segunda semana de julho. Mais tarde a canção tornou-se notavelmente associada ao pianista Liberace, como o tema do seu espetáculo de televisão na década de 1950.
“I’ll see you in my dreams” – “Verei você em meus sonhos” -, também uma canção popular, das mais famosas e cantadas dos seus dias, foi escrita por Isham Jones, com letra de Gus Kahn. Essa, ainda mais antiga que as anteriores, foi publicada em 1924 e originalmente gravada pelo próprio Isham Jones e a Orquestra de Ray Miller. Permaneceu no quadro das mais tocadas por dezesseis semanas durante o ano de 1925 e por sete semanas como a número 1. A canção foi escolhida como a canção título do filme de mesmo nome, uma biografia musical de Gus Kahn. Posteriormente, foi gravada por muitas vozes famosas, que incluíram Mario Lanza, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, além de Jimmy Durante e ainda outros. Mais tarde, a canção tornou-se a trilha sonora do filme “Kitty Foyle”, de 1940, que premiou Ginger Rogers com o seu único Oscar como melhor atriz principal.
Desde que ouvi essa melodia pela primeira vez, fiquei muito curioso com a frase com que Jimmy Durante encerra a sua interpretação de “I’ll see you in my dreams”: Good night, Mrs. Calabash, wherever you are (Boa noite, Senhora Calabash, onde quer que esteja). Como a música é muito romântica, pus-me a conjeturar sobre o objetivo da despedida, ao final da música. Vamos às possibilidades!
James Francis “Jimmy” Durante, nascido a 10 de fevereiro de 1893 e falecido a 29 de janeiro de 1980, nas vésperas de celebrar 87 anos, era um cantor e ícone do cinema americano, pianista, comediante e ator, cuja distintiva ironia, linguagem cômica pesada, canções com influência no jazz e o enorme nariz – suas freqüentes piadas sobre o próprio apêndice criaram uma espécie de auto referência que tornou-se o seu apelido: “Schnozzola”, mistura de “nose” (nariz em inglês) com a sua descendência italiana – ajudaram-no a torná-lo uma das personalidades mais familiares e populares entre os anos 1920’s e os anos 1970’s.
Jimmy Durante trabalhou, por muitos anos, em shows de rádios e suas apresentações eram tradicionalmente reconhecidas por duas marcas registradas: “Inka Dinka Doo” como seu tema de abertura e a sua invariável assinatura de despedida “Good night, Mrs. Calabash, wherever you are”. Por anos, Jimmy Durante preferiu manter vivo o mistério, mas acabou condescendendo.
Uma das teorias é de que a frase referir-se-ia à proprietária de um restaurante da cidade de Calabash, na Carolina do Norte, onde Jimmy e sua trupe haviam parado uma vez para comer. Ele teria sido tão tocado pela comida servida e pelo bate-papo que teria dito à proprietária que a faria famosa; como não soubesse o seu nome, ele se referia a ela como Mrs. Calabash. De fato, ao momento do encontro, a proprietária não fazia a menor idéia da pessoa com quem estava falando. Residentes de longa data de Calabash confirmam que ela era uma pessoa real com um nome real, Lucille “Lucy” Coleman. Em 1940, Lucy teria 28 anos de idade e gerenciava um restaurante na cidade, à época uma minúscula comunidade a beira-mar, limitando com a Carolina do Sul. A filha de Lucy, Clarice Holden, disse que jamais esqueceria o que aconteceu após a conversa entre os dois. “Quando Mr. Durante e seu grupo estavam se encaminhando para a saída, após a refeição, ele voltou-se para a minha mãe e disse: boa noite Mrs. Calabash.” Lucy Coleman morreu em 1989, quase 50 anos  após seu encontro  com Jimmy Durante; os residentes de Calabash acreditam que a saudação de boa noite de Jimmy Durante era a sua maneira de dizer a Mrs. Coleman: “Olá, Lucy, eu lembro de você, se você ainda estiver por aí, agora.” Aparentemente, a popularidade de Jimmy Durante era tão grande que ele podia imortalizar a proprietária de um pequeno restaurante do Sul.
A outra teoria – sou mais simpático a essa – é de que esse “boa noite”, de despedida, seria a sua saudação pessoal à sua falecida primeira esposa, Jeanne Olsen, que ele desposou em 19 de junho de 1921 e perdeu no Valentine’s Day (espécie de Dia dos Namorados e/ou dos Amigos, festejado nos EUA) de 1943. A palavra “Calabash” pode ter sido uma típica mutilação de Jimmy Durante com relação à palavra “Calabasas”, o local do Sul da Califórnia onde o par teria constituído o seu lar durante os últimos dias da vida de Jeanne. Num encontro do “National Press Club”, em 1966 (transmitido no programa “NBC’s Monitor”), Jimmy Durante revelou que a saudação era, de fato, um tributo à primeira Mrs. Durante. Certa vez, enquanto dirigindo pelo interior, eles pararam numa pequena cidade chamada Calabash, pela qual Mrs. Durante teria se apaixonado. Ele se lembrava que a cidade situava-se próximo de Chicago. Assim, “Mrs. Calabash” tornou-se o seu apelido íntimo; anos mais tarde ele passou a assinar a sua despedida do programa de rádio com a saudação “Good Night, Mrs. Calabash”. Ele adicionou o resto “... wherever you are”, ao final do primeiro ano do programa.
Não é muito importante saber qual das duas versões seria a verdadeira; ambas são muito bonitas e é emocionante ouvi-lo dizer a frase ao final da música. Se vocês nunca a ouviram, convido-os a escutar agora, não apenas “I’ll see you in my dreams”, mas também as duas primeiras mencionadas: “Make someone happy” e “I’ll be seeing you”, pelas quais tenho um especial carinho. Mas prestem muita atenção à terceira, “I’ll see you in my dreams” e, principalmente, ao seu final, quando ele diz “Good night, Mrs. Calabash, wherever you are”, e vocês hão de concordar que é impossível ouvir essas canções sem se apaixonar pelo fantástico romântico “narigudo”, Jimmy Durante.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

VILA OLIVA

O estado do Rio Grande do Sul possui 496 municípios, sendo que um dos mais importantes, por destacar-se como a principal cidade do pólo metal-mecânico na região serrana, é o de Caxias do Sul. Este município possui 10 subprefeituras que envolvem as quatro regiões administrativas – Ana Rech, Desvio Rizzo, Forqueta e Galópolis – e os seis distritos - Criúva, Fazenda Souza, Santa Lúcia do Piai, Vila Cristina, Vila Seca e Vila Oliva. Este “post” é uma pequena homenagem a este último distrito de Caxias do Sul: Vila Oliva.
Localizado a cerca de 45 km de Caxias do Sul, o distrito de Vila Oliva é formado por campos, ótimos para a criação de gado e ovelhas, e por terras de cultura agrícola. A localidade pertencia, anteriormente, ao município de São Francisco de Paula, até que em 1954 a população requisitou sua anexação a Caxias do Sul através de um plebiscito que lhes deu ganho de causa, fazendo com que a localidade passasse então a ser um dos distritos de Caxias do Sul.
Em 1932 os irmãos Francisco e Luiz Oliva adquiriram 33.000 km² de terra, em sua maioria coberta de pinheiros e mata nativa, e começaram a explorar a madeira de pinho. Como a madeireira exigia mão de obra, diversos funcionários dos Irmãos Oliva adquiriram terrenos nas proximidades, dando origem à Vila que homenageou seus fundadores. Posteriormente as terras foram divididas e vendidas a colonos que se dedicavam à agricultura.
Os irmãos Oliva tiveram papel fundamental na construção da vila, pois construíram a atual estrada que a liga à área urbana do município. Além disso, indenizaram os donos de terrenos e construíram cercas laterais por conta própria com a intenção de transportar a madeira que exploravam até a capital do Estado.
Hoje o distrito possui uma população de aproximadamente 1300 habitantes. Sua principal atividade econômica é a fruticultura, tendo como principais produtos cultivados a maçã, o caqui e a ameixa. Ainda há, como produção representativa, os hortigranjeiros, a pecuária de corte e a extração vegetal.
E de onde vem o meu interesse pessoal em Vila Oliva?
Eu nunca havia ouvido falar nesse nome, em minha vida, até o dia em que fui estudar no Colégio Anchieta, de Porto Alegre. Quando menino, cumpri os quatro anos do ginásio daquela época, nesse Colégio, entre os anos de 1955 e 1958. Naquela época, os padres Jesuítas dirigiam e lecionavam no Colégio Anchieta, que então se localizava na Rua Duque de Caxias, muito próximo da Catedral Metropolitana e ao lado do Museu Júlio de Castilhos. Em minha opinião, os Jesuítas sempre foram professores extraordinários e sempre pretenderam proporcionar aos seus alunos uma educação muito saudável, nunca descurando de qualquer dos seus componentes, aí incluindo, obviamente, o aspecto religioso.
Paralelamente ao aspecto educacional, sempre se preocuparam com o fato de que os alunos tivessem seu tempo ocioso preenchido, tanto quanto possível, com atividades saudáveis e, preferencialmente, supervisionada. Para tanto, o complexo educacional anchietano contava com instalações exemplares tanto em Porto Alegre como fora da capital. Assim, eram muito conhecidos dos alunos do Anchieta e de seus pais, o Morro do Sabiá, em Ipanema, com a sua Casa da Juventude e as suas várias modalidades de atividades desportivas, a casa de Retiro Vila Manresa, num dos morros da Glória e a sua casa de férias de Vila Oliva, município de Caxias do Sul.
Sempre gostei muito e pratiquei esportes de vários tipos e, por essa razão, me dei muito bem no Anchieta. Freqüentava com assiduidade todas as suas instalações e atividades, sem esquecer as suas capelas no próprio Colégio ou fora dele, onde aprendi a ajudar às missas, tornando-me um “coroinha” ou sacristão, segundo a terminologia mais adequada. Mas era particularmente adepto das férias em Vila Oliva, sempre esperadas com muita ansiedade, tanto nos recessos de inverno, em julho, como nos de verão, quando poderiam acontecer em janeiro ou fevereiro.
Essas férias sempre foram uma experiência inesquecível, para nós, meninos entre os seus 11 e 15 anos de idade. Era a ocasião em que nos afastávamos dos pais por um período então nunca imaginado, que podia variar de 15 a 30 dias seguidos. Era uma verdadeira aventura! A começar pela própria viagem que, para se tornar menos cara, era realizada de trem, de Porto Alegre até Caxias e em ônibus, muito pouco confortável, de Caxias até Vila Oliva. Lembro que muitas vezes, os pais não conseguiam controlar a sua ansiedade e nos faziam pelo menos uma visita dentro do período de afastamento da casa – e como essa visita era bem vinda! – pois mesmo numa época de pura diversão e entretenimento, às vezes a saudade apertava e era sempre muito bom voltar a ver os pais. Sem contar que, quando iam, eles sempre lembravam de nos levar algumas guloseimas, raridade por lá e muito importante, tendo em vista que na Casa da Juventude, em Vila Oliva, embora pagássemos por essas férias, a alimentação era farta, mas jamais com supérfluos. Os padres não podiam dar-se ao luxo das guloseimas que sempre podíamos desfrutar quando em nossas casas. Essas viagens eram verdadeiras temeridades se fossem realizadas sem correntes colocadas sobre os pneus, dado o estado em que ficavam as estradas de terra, entre Ana Rech e Vila Oliva, na eventualidade de ocorrência de chuvas pesadas.
Considerando que os padres jesuítas tornavam-se, durante o período das férias, responsáveis por um número considerável de jovens alunos (que podia atingir a mais de 120 alunos), as atividades diárias tinham que ser muito bem planejadas e organizadas. Lembro, por exemplo, que todos os alunos eram separados em cerca de 10 Turmas, que sentavam-se sempre às mesmas mesas e tinham lugares pré-determinados nos dormitórios. Recordo, também, que eram poucos os padres que participavam das férias (não me lembro de que fossem mais de meia dúzia por período) e por isso, contavam eles sempre com ex-anchietanos, mais velhos e comprovadamente responsáveis, para ajudá-los, constituindo-se eles nos Chefes de Turmas. Além disso, a cada dia, um dos alunos era indicado, pelo padre mais graduado, para ser o “Fiscal do Dia”; este carregava consigo um apito e era, durante aquele dia, uma espécie de responsável pelo fiel cumprimento de todas as atividades diárias, nos seus respectivos horários, de acordo com uma agenda pré-estabelecida pela autoridade maior da casa. Essas atividades incluíam eventos desportivos, religiosos, sociais, trabalhos, além dos horários de refeições, banho e descanso, tudo perfeitamente organizado.
A Casa da Juventude de Vila Oliva incluía instalações adequadas para a realização de todas as atividades mencionadas. Entre elas, a própria casa, num laranja berrante, com os dormitórios, refeitórios, lavatórios, sempre limpíssimos, e as salas de jogos, que incluíam ping-pong, sinuca, fla-flu (pebolim ou totó) e jogos de carta e outros, de salão; a capela, da mesma cor da casa, para as missas diárias e outras atividades religiosas; a piscina, com trampolim, a quadra de futebol de salão e o mais esperado, o campo de futebol, de tamanho profissional. Ainda havia, no alto de uma colina junto à casa, uma cobertura com bancos formando um grande círculo, que servia como uma espécie de corte de justiça e teatro onde eram realizadas as chamadas Reuniões da Noite. Nessas reuniões, também diárias, aconteciam duas espécies de eventos, um imediatamente após o outro. Na primeira parte da noite era realizado o temível ajuste de contas das faltas diárias praticadas pelos alunos, com punições que variavam desde a perda da “mariola” de sobremesa até a proibição de participar de alguma evento especialmente agradável ao potencial punido. Na segunda parte da Reunião eram realizadas pequenas apresentações de teatro, de cantores ou instrumentistas e as famosas anedotas teatralizadas, tudo preparado pelos alunos e supervisionado pelos chefes de turma. Eventualmente, sempre aconteciam atividades especiais, como por exemplo um concurso de saltos ornamentais no trampolim da piscina e até mesmo um banho de piscina inesperado num dos padres, de batina e tudo, sempre façanha de responsabilidade dos alunos mais velhos.
Mas o grande evento das férias, sem qualquer dúvida, pelo menos para uma grande maioria dos alunos, era o Campeonato de Futebol, disputado durante todo o período das férias, no sistema de pontos corridos, entre pelo menos meia dúzia de times organizados de forma a tornar a competição o mais equilibrada possível, jogando todos contra todos. Nem mesmo os padres escapavam de presenciar, vez por outra, uma pancadaria generalizada entre jogadores de duas equipes que, certamente, haveriam de acertar as contas com a justiça na próxima reunião da noite.
Essa competição só era ultrapassada, em importância, pela sempre esperada disputa entre o time principal do Anchieta e o time da Vila Oliva. Essa era sempre levada muito a sério e não foram poucas as vezes em que o jogo encerrou-se com pancadaria. Já começa que o jogo era sempre apitado por residente da Vila e mais de uma vez, o bandeirinha que anulava os nossos ataques (sempre da Vila), trocava de lado, junto com o time, ao término do primeiro tempo. O time do Anchieta, pelas duras faltas praticadas pelo time da Vila, que não punha limite de idade aos seus atletas, era sempre formado pelos alunos mais velhos e mais fortes. Lembro perfeitamente de uma vez em que, por qualquer razão, faltou um jogador ao time do Anchieta e eu pedia, desesperado, aos padres que organizavam o evento, para que eles me deixassem jogar; eles bem conheciam as minhas habilidades futebolísticas, mas temerosos de me colocarem, com apenas 11 ou 12 anos de idade, para jogar contra adultos e sujeito a me machucar sem necessidade, se negavam a concordar com meus rogos. A solução foi encontrada quando, pela sugestão de um dos bons jogadores mais velhos, os padres concordaram com que eu jogasse, com a promessa de que eu não disputaria, de forma alguma, jogadas previsivelmente perigosas ou ríspidas. Foi uma promessa que nunca pude cumprir e me orgulho muito de ter desempenhado muito bem o meu papel, sem maiores conseqüências pessoais no plano físico, pelo que saí de campo muito festejado.
A Vila resumia-se, praticamente, a uma rua central, onde ficava o único Hotel existente, o único restaurante idem, e o único armazém de grande porte idem, idem. Mas como tudo parecia tão grande e maravilhoso! O hotel da vila servia como hospedagem aos pais dos alunos, quando realizavam as suas visitas; e no armazém comprávamos o presente que não poderia faltar para as nossas mães, quando do nosso retorno ao lar. Aos fins de semana, quando nossas folgas eram maiores, sempre achávamos um jeito de driblar a vigilância dos padres e dar uma fugida a uma das vinícolas locais para fazer a famosa “degustação” dos vinhos caseiros e da célebre “verdinha”, cachaça feita de menta e de um verde cristalina inesquecível.
E haveria ainda muitas outras coisas para contar, como as maravilhosas aventuras em nossos acampamentos, as fugidas para os passeios de barco no lago da represa ... Devo muito a essa Vila Oliva, de lembranças inesquecíveis do meu tempo maravilhoso do ginásio no Colégio Anchieta. Ainda volto lá, qualquer dia desses, para matar as saudades e rever as paisagens inesquecíveis de tempos tão alegres e sem arrependimentos...

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O FAMOSO RUBICÃO

Muitos, com certeza, lembrar-se-ão das suas aulas de História Geral do segundo grau, quando o professor emocionado, literalmente declamava a célebre frase de Júlio César, ao atravessar o rio Rubicão: “Alea Jacta Est!”. Estas foram três coisas que, de fato, pelo menos eu, nunca esqueci: Júlio César, a frase e o Rubicão. Mas o que eu não entendi, na época, foi o real significado do fato, a sua importância e também porque nunca mais se falou do Rubicão e nem ao menos mostrou-se a região por onde ele corria. Aliás, até aí, nenhuma novidade; na minha experiência pessoal, nunca os professores de história daquele tempo ensinavam as coisas que realmente importavam no estudo da História. Na mentalidade dos professores da época, apenas datas e nomes eram as coisas importantes; as origens dos fatos, suas causas e conseqüências eram raramente mencionadas. Entretanto, no caso em particular, há pelo menos duas grandes e boas razões para que o Rubicão fosse, posteriormente ao fato, tão desprezado, senão totalmente esquecido.



A pequena cidade que aparece no centro da primeira foto chama-se “Savignano sul Rubicone”. Na verdade, “Comune de Savignano sul Rubicone”, situada na região nordeste da Itália, próximo de San Marino, Rimini e Cesena. Savignano é uma Comuna (municipalidade) que faz parte da Província de Forli-Cesena, na região italiana de Emilia-Romagna, localizada a cerca de 90 km de Bolonha e 30 km a sudeste de Forli, às margens do Mar Adriático.



Um pouco a esquerda do centro da foto, dentro do pequeno retângulo, pode-se enxergar uma pequena ponte sobre um rio. A foto seguinte, ampliação da foto anterior, mostra com mais clareza a antiga ponte romana que justamente atravessa sobre o pequeno “fiume Rubicone”; seu curso encontra-se materializado e pode ser acompanhado, na foto seguinte, pela linha negra, até a sua foz no Mar Adriático, em Forli, próximo à cidade mais importante de Rimini. Suas nascentes, que não são vistas na foto, localizadas nos montes Apeninos, situam-se a cerca de 30 km da sua foz. A próxima foto mostra em detalhe a ponte romana e o Rio Rubicão na atualidade.


A cidade tomou o seu nome do Rubicão, rio que se tornou famoso pela histórica travessia de Júlio Cesar, quando retornava a Roma, vindo da Gália Cisalpina. Desde então, uma combinação de modificações naturais e criadas pelo homem fizeram com que o Rubicão alterasse o seu curso repetidas vezes. Por séculos, a exata localização do curso original ficou desconhecida. Em 1933, o Fiumicino, um rio que atravessa a cidade de Savignano Sul Rubicone, foi identificado como a mais provável localização do Rubicão original. Antes disso a região se chamava Savignano di Romagna.



À época de Júlio César, o rio era considerado como a materialização do limite sul da Província da Gallia Cisalpina ao norte, separando-a da Itália, propriamente dita, ao sul. O rio tornou-se notável uma vez que a lei romana proibia que o rio Rubicão fosse atravessado por qualquer legião do exército romano; dessa forma, a lei assim protegia a República de ameaça militar interna. Quando Júlio César atravessou o Rubicão com o seu exército em 49 AC, supostamente em 10 de janeiro do calendário romano, para prosseguir em seu caminha para Roma, ele quebrou a lei romana e armou um conflito inevitável. Nessa ocasião, segundo o historiador Suetonius, Júlio César teria lançado a famosa frase latina “alea jacta est”, significando: a sorte está lançada! De uma certa forma, foi a travessia deste rio, por Júlio César, com suas legiões, que precipitou uma guerra civil na República Romana, finalmente conduzindo ao estabelecimento do Império Romano.



A Gallia Cisalpina (Gallia deste lado dos Alpes, lado de Roma) era o nome romano dado a uma área geográfica (mais tarde uma província da República Romana) no território do norte da Itália dos dias modernos (incluindo a Emilia-Romagna, Friuli-Venezia Giulia, Liguria, Lombardia, Piedmont, Trentino-Alto Adige/ Sudtirol e Veneto), habitada pelos Celtas. Em oposição, encontrava-se a Gallia Transalpina, região correspondente, do outro lado dos Alpes (sempre com relação a Roma). A província da Gallia Cisalpina foi anexada à Itália no ano 42 AC, como parte do programa de “italização” de Otávio (Imperador Augustus) durante o Segundo Triunvirato. A partir desse momento desapareceu a importância do Rubicão como acidente geográfico, pois deixava de representar a linha de fronteira do extremo norte da Itália. A decisão de Augustus fez com que o Rubicão perdesse muito de sua importância e, enquanto as memórias desvaneciam, o nome “Rubicão” gradualmente desapareceu da toponímia local.



Para completo azar do Rubicão, após a queda do Império Romano e durante os primeiros séculos da Idade Média, a planície costeira entre Ravenna e Rimini foi inundada várias vezes e durante esses períodos, como é natural ocorrer, este e vários outros pequenos rios da região tiveram seus cursos alterados. Por esta razão e também para possibilitar a regularização dos cursos d’água e a irrigação dos campos ribeirinhos, com o renascimento da agricultura após a Idade Média, durante os séculos XIV e XV, várias obras hidráulicas foram implantadas; o resultado final foi, muitas vezes, a completa retificação dos rios, como ainda hoje é feito com freqüência. Com o passar dos séculos, vários rios da costa italiana do Adriático entre Ravenna e Rimini foram considerados como sendo o antigo Rubicão. Em 1933, após vários séculos de esforços, como já mencionado, o rio chamado Fiumicino (por acaso, “pequeno rio” em italiano), que atravessava a cidade de Savignano di Romagna (atualmente Savignano Sul Rubicone), foi oficialmente identificado como o Rubicão original.



Hoje, muito pouca evidência existe da passagem histórica de César. Savignano Sul Rubicone é uma cidade industrial e o rio tornou-se um dos mais poluídos da região de Emilia-Romagna. A intensa exploração das águas subterrâneas no curso superior do Rubicão, junto com o natural esgotamento de suas nascentes, tem reduzido consideravelmente suas descargas. E o velho Rubicão acabou perdendo, além da sua fama, o seu próprio curso natural, a não ser em seu curso superior entre colinas baixas, ainda vegetadas e agora tristes. A foto ao lado mostra a foz do rio Rubicão, no Mar Adriático.


Hoje, a sua antiga fama permanece apenas na consagrada frase “Atravessar o Rubicão”, uma expressão popular consagrada com o significado de ultrapassar o ponto sem retorno, referindo-se à travessia do rio por Júlio César no ano 49 AC, considerada na época um ato de guerra.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

SANTA HELENA, A TRISTE ILHA DE NAPOLEÃO (2/2)

Lembro aos meus leitores e amigos que quiserem ler o texto completo, que comecem pela primeira parte (1/2), publicada anteriormente; infelizmente, por configuração do blog, ela encontra-se abaixo desta (2/2).

Santa Helena (Saint Helena, em inglês) é um território britânico ultramarino do Atlântico Sul, localizado praticamente a meio do oceano, mas geralmente englobado nos territórios africanos por se encontrar mais perto da África do que da América do Sul. A ilha, entretanto, curiosamente foi descoberta em 1501 pelo navegador galego João da Nova, enquanto a serviço de Portugal. João da Nova dirigia-se à Índia, tendo nessa viagem também descoberto a ilha de Ascensão. Entretanto, Portugal nunca colonizou a ilha rochosa e sem praias, que veio a ser ocupada pela marinha inglesa no século XIX.

Colônia até 1981, o território é constituído pela Ilha de Santa Helena (122 km² e 4.255 habitantes) e por duas dependências muito afastadas: Ascensão (91 km² e 1.122 habitantes), a noroeste, e Tristão da Cunha (207 km² e 284 habitantes), ao sul. Relativamente à ilha de Santa Helena propriamente dita, o território mais próximo é a ilha de Ascensão, seguindo-se a costa africana do sul de Angola e do norte da Namíbia, a leste. Sua capital é Jamestown.


Longwood House foi a residência oficial de Napoleão Bonaparte durante seu exílio na ilha de Santa Helena, de 10 de dezembro de 1815 até a sua morte em 5 de maio de 1821. A casa situa-se numa planície varrida pelo vento, cerca de 6,5 km distante de Jamestown. Originalmente a residência de verão do Tenente Governador, ela foi convertida  para uso de Napoleão em 1815. O governo britânico reconheceu sua inadequabilidade como lar do ex-Imperador e seu séquito e, ao tempo de sua morte, havia construído uma nova casa, próxima daquela, que, infelizmente, ele nunca chegou a ocupar.

Após a morte de Napoleão , Longwood House foi revertida à Companhia das Índias Orientais e, posteriormente, à Coroa Inglesa, passando a ser usada para finalidades agrícolas. Relatórios sobre o seu abandono chegaram a Napoleão III, sobrinho de Napoleão Bonaparte, inicialmente Presidente e, posteriormente, Imperador da França. Desde 1854 negociava ele com o governo britânico  a sua transferência à França. Em 1858 Longwood House foi transferida ao governo francês junto com o Valley of the Tomb por uma soma de £7.100 (sete mil e cem libras). O Valley of the Tomb (Sane Valley) foi o local escolhido por Napoleão para o seu túmulo, muito simples, sem qualquer ostentação. Ele chegou até Sane Valley em uma de suas solitárias caminhadas e ficou deleitado pela paisagem de paz e pelas plantas que lá cresciam. Desde então, ambos têm estado sob controle do Ministro das Relações Exteriores Francês e um representante do governo francês vive na ilha, como responsável pelo gerenciamento das duas propriedades. Em 1959 uma terceira propriedade, The Briars, onde Napoleão passou os seus dois primeiros meses na Ilha, enquanto Longwood estava sendo preparado, foi também doado ao governo francês.
Como resultado da destruição pelos cupins, o governo francês considerou a demolição do prédio na década de 1940. Longwood House e Balcombe House, nos Briars, foram demolidas nessa época, mas Longwood House foi salva e tem sido fielmente restaurada por curadores franceses. Os degraus de pedra na entrada constituem a única parte original da estrutura a sobreviver. Os restos mortais do Imperador encontram-se hoje nos Invalides, em Paris.
Atuamente, a indústria do turismo local explora muito tal particular aspecto da história, bem como o calmo estilo de vida da população de Santa Helena. Por não possuir praias e ser o seu litoral completamente rochoso, a ilha sempre foi utilizada como prisão. Não há uma saída fácil do seu interior, a não ser através da capital, Jamestown.

Santa Helena não possui aeroporto, sendo todo o transporte de pessoas e cargas feito através de barcos. Existe um projeto para construção de um aeroporto, que provavelmente será concluído no ano de 2010, como forma de viabilização econômica da ilha, principalmente através do turismo. Santa Helena é ainda muito dependente de recursos vindos da Inglaterra.




Um triste fim? Sim, muito triste para um homem que realizou, ao longo da sua atribulada vida, feitos tão memoráveis. Um fim justo? Bem, Napoleão julgou a si próprio quando declarou, já em Santa Helena, sozinho com suas reflexões: “O infortúnio também encerra glória e heroísmo. Se tivesse morrido no trono, com a auréola da onipotência, a minha história ficaria incompleta para muita gente. Hoje, mercê da desgraça, posso ser julgado por aquilo que realmente sou”.  É tarefa impossível, para qualquer outro mortal, julgá-lo com justiça. Deixemo-la aos cuidados de Deus!

SANTA HELENA, A TRISTE ILHA DE NAPOLEÃO (1/2)


Toda a vez que ouço falar ou cito Santa Helena, a ilha para a qual Napoleão Bonaparte foi desterrado após o seu último governo dos “Cem Dias”, não posso deixar de enxergar a triste figura do ex-imperador francês e conquistador de quase toda a Europa, sentado em um dos seus rochedos, cabisbaixo e meditabundo. E deduzo que ele estaria, possivelmente, rememorando os seus dias de glória, mas também, certamente, avaliando e pesando as suas ações durante o período em que o mundo a ele se curvava, com medo.
Esse artigo não pretende falar sobre a vida de Napoleão, mas sim sobre a ilha, pouco conhecida, onde o ex-imperador - que, ao contrário de Carlos Magno que humildemente dirigiu-se a Roma, convocou o Papa para coroá-lo em Paris -, passou seus últimos e solitários dias. Entretanto, para que os leitores possam, com mais fundamento, raciocinar ou emitir opinião acerca do merecimento ou não do seu triste fim, apresentamos também um curtíssimo resumo da sua trajetória desde o início da sua notabilidade nas cortes européias e do mundo. Como em geral acontece, a pesquisa tornou-se demasiado longa para uma só publicação, razão pela qual este “post” refere-se apenas à primeira parte da idéia. A segunda parte será publicada imediatamente, a seguir.
Digam o que disserem os historiadores que forem contra, e sejam os motivos os que foram, à época, a grande verdade é que Napoleão Bonaparte, de general francês vitorioso, em pouco tempo tornou-se imperador da França, com o mesmo poder absoluto da realeza que a Revolução Francesa, que não era sua, derrubara pouco antes.
Napoleão Bonaparte começou a destacar-se, militarmente, em 1795, ao sufocar uma revolução monarquista em Paris, após o término do período do terror, numa Revolução já combalida. Após ter-se destacado na guerra contra a Itália e na Campanha do Egito, foi escolhido para chefiar o golpe que depôs o Diretório, com o auxílio de militares e membros do governo, em 10 de novembro de 1799 ou, segundo o calendário republicano, no 18 Brumário, sendo designado General-em-Chefe  do Exército do Interior. Entretanto, a derrubada do Diretório não lhe foi suficiente e após aquela, dissolveu também a Assembléia e implantou o Consulado, numa ditadura disfarçada, além de retomar princípios do Antigo Regime e encerrar dez anos de lutas revolucionárias que influenciariam, como influenciaram profundamente, os movimentos de independência na América Latina e a organização dos países da Europa.
O Consulado foi o período de 1799 a 1804, durante o qual Napoleão promulgou uma nova Constituição, reestruturou o aparelho burocrático e criou o ensino controlado pelo Estado. Em 1801 declarou o Estado leigo, com a subordinação do clero às autoridades seculares. Em 1804 promulgou o Código Napoleônico, que garantia a liberdade individual, a igualdade perante a lei, o direito à propriedade privada, o divórcio e incorporou o primeiro código comercial. Entretanto, como se não bastasse, no mesmo ano Napoleão criou o seu Império – coroando-se Imperador, com o nome de Napoleão I -, espécie de monarquia vitalícia sustentada pelo êxito das guerras e reformas internas. E, como não poderia deixar de ser, em 1805 a França voltou a adotar o tão bom e antigo calendário gregoriano, sofrendo um governo ditatorial, com censura à imprensa e repressão policial e do exército.

A partir desse estado de coisas, Napoleão passou a intervir em toda a Europa, derrotando as tropas austríacas, prussianas e russas, passando a controlar a Áustria, Holanda, Suíça, Itália e Bélgica. Avançou na Espanha, enfrentando a resistência de guerrilheiros locais e obrigou a família real portuguesa, temerosa da expansão napoleônica, a fugir, em 1808, para o Brasil, sua colônia na América.
Em 1806, após a derrota da marinha francesa na Batalha de Trafalgar, na Espanha, para a marinha britânica do Almirante Nelson, Napoleão decretou o “Bloqueio Continental” contra a Inglaterra, proibindo que qualquer país europeu abrisse seus portos ao comércio com a Inglaterra, com o óbvio objetivo de enfraquecer os ingleses e, ao mesmo tempo, reservar o mercado continental europeu às manufaturas francesas. Em 1807 o bloqueio recebeu a adesão da Espanha e da Rússia; Portugal, tradicional aliado da Inglaterra, recusou-se a aderir, sendo invadido pelas tropas francesas.
Em 1812 o Império Napoleônico incorporou 50 (cinqüenta) milhões dos 175 (cento e setenta e cinco) milhões de habitantes do continente europeu e introduziu as reformas burguesas nos demais países da Europa, quebrando as estruturas feudais remanescentes. Impôs o sistema métrico decimal, implantou o direito moderno e (pasmem, mesmo sendo um Imperador!) difundiu amplamente as idéias de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa.
No mesmo ano, pretextando punição contra o abandono do Bloqueio Continental pela Rússia, Napoleão declarou guerra a Moscou, mas, subestimando o famoso inverno russo, transformou a sua própria campanha num completo desastre. O formidável escritor russo Tolstoi declara, explicitamente, em seu monumental romance “Guerra e Paz”, que é lenda a história de que, diante da iminência da invasão o governador russo teria ordenado o incêndio da cidade após o abandono da sua população; segundo ele, tal incêndio teria sido, na verdade, acidental. Fato ou lenda, o exército napoleônico encontrou apenas destroços e, sem possibilidade de reabastecer seus suprimentos, dos seus 600 mil soldados conseguiu manter apenas cerca de 37 mil, para a desastrada retirada que ainda sofreu permanente assédio da guerrilha russa até às vizinhanças de Paris.
Tal derrota estimulou a formação de uma coalizão que reuniu russos, ingleses, espanhóis, prussianos, suecos e austríacos contra a França. Em1813, os exércitos aliados conseguiram derrubar o sistema napoleônico e libertar a Alemanha, a Holanda e o norte da Itália. Em 1814 tomaram Paris e formaram um governo provisório, dirigido por Talleyrand, que depôs Napoleão desterrando-o para a Ilha de Elba, na costa Italiana. Os Bourbon retornaram ao poder e entronizaram Luís XVIII, irmão de Luís XVI, guilhotinado durante a Revolução Francesa.
Napoleão, do fundo de seu retiro, nunca deixou de informar-se do que sucedia no continente. Conhecendo as deficiências do governo enfraquecido, sabia que o exército queria vê-lo novamente no comando. Em tais circunstâncias, Napoleão fugiu da Ilha de Elba e desembarcou na costa Meridional da França, a 1º de março de 1815, sendo recebido em toda a parte com alegria delirante pelos camponeses e pelos ex-soldados. Entrou triunfalmente em Paris a 20 de março de 1815 e, a partir daí, reinou por mais cem dias, desta feita de forma moderada, organizando o regime através de um “Ato Adicional” à Constituição, tornando-se um “imperador liberal”.
Entretanto, os soberanos estrangeiros coligados, reunidos no Congresso de Viena e surpreendidos com o acontecimento, renovaram a aliança, declararam Napoleão fora da lei e levantaram novo exército destinado a, definitivamente, destruir Napoleão Bonaparte. Entendendo ser melhor tomar a ofensiva, a fim de frustrar os planos de seus inimigos, Napoleão marchou sobre a Bélgica e venceu os prussianos, comandados por Blücher, em Ligny. Entretanto, em 18 de junho de 1815, em Waterloo, foi fragorosamente derrotado pelo Duque de Wellington e pelo general Blücher, à frente de um exército coligado. Entregando-se aos ingleses foi por eles deportado em exílio definitivo, no dia 21 de junho, para Santa Helena, uma pequena ilha perdida no Atlântico Sul, onde morreu em 5 de maio de 1821.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

CURIOSIDADES ACERCA DE "MY WAY" OU "COMME D'HABITUDE"

Existe uma música antiga, belíssima, que foi popularizada por Frank Sinatra, denominada "My Way". Entretanto, na verdade, a melodia original é uma canção francesa, denominada "Comme d'Habitude", composta por Claude François, Jacques Revaux e Gilles Thibault. Quem escreveu a letra, em inglês, para a gravação americana, foi também um cantor americano antigo, que fez muito sucesso pelo final da década de 50 e década de 60, mas continua cantando até hoje, chamado Paul Anka. A letra inglesa, de Paul Anka, contando a história de um homem que se aproxima da morte e que deve ter tido nela sucesso, não apresenta qualquer relação com a letra original francesa de Claude François e Gilles Thibault.
O próprio Paul Anka poderia ter gravado a música cuja letra criou, pois foi, como dissemos acima, cantor de sucesso durante os famosos e decantados "Anos Dourados", dos quais participei com toda a minha energia e imensa alegria. A razão pela qual ele não a gravou, é o objetivo desse artigo.
Paul Anka ouviu essa canção popular, original da França, de 1967, "Comme d'Habitude", executada por Claude François, com música de Jacques Revaux e letra de Gilles Thibault, quando se encontrava em férias, no sul da França. Ele, imediatamente, voou para Paris, para negociar os direitos da canção.
Muitos anos mais tarde, numa entrevista em 2007, ele teria dito: "Eu pensei que fosse uma gravação 'de merda', mas havia qualquer coisa estranha nela".
Assim, ele adquiriu os direitos de publicação sem qualquer custo e, dois anos mais tarde, durante um jantar na Flórida, com Frank Sinatra e um par de indivíduos da Máfia, após oferecer a melodia a Sinatra, para gravação, dele teria ouvido que estava "deixando o serviço. Estou cheio dele, estou caindo fora".
Mesmo assim, de volta a Nova York, Paul Anka reescreveu a canção original para Frank Sinatra, sutilmente alterando a estrutura melódica e mudando a letra. Sobre a sua ação, ele conta:
"A uma da manhã eu sentei numa velha máquina de escrever elétrica IBM e disse: 'Se Frank fosse escrever isso, o que ele diria?' E eu comecei, metaforicamente, 'E agora, o fim está próximo'. Eu li um monte de jornais e notei que tudo era 'meu isso' e 'meu aquilo'. Estávamos na 'geração eu' e Frank tornou-se o cara que eu iria usar para dizer isso. Usei palavras que nunca usaria: 'Eu comi tudo e cuspi tudo de volta'. Mas essa era a sua forma de falar. Eu costumava frequentar saunas de vapor com os caras da 'Rat Pack' (a turma do Frank Sinatra: Dean Martin, Sammy Davis Jr. e outros) – eles gostavam de falar como os caras da Máfia embora tivessem medo da própria sombra."
Paul Anka terminou a canção às cinco da manhã. E prossegue contando:
"Eu telefonei a Frank em Nevada – ele estava no Caesar's Palace – e disse, 'Tenho alguma coisa realmente especial para você!'"
Mais tarde Paul Anka veio a queixar-se: "Quando minha companhia de gravação descobriu o que eu havia feito eles ficaram "putos" porque não a guardei para mim próprio. Eu respondi, 'hei, eu posso escrevê-la, mas isso não indica que sou o cara feito para cantá-la.' Ela foi para Frank e para ninguém mais".
Talvez agora, até se entenda porque os tribunais deram a Paul Anka o ganho da causa, uma vez que ele havia negociado os direitos de publicação sem quaisquer custos. Se ele possuía o documento comprobatório dessa transação, teria que ganhar, inevitavelmente. Mas, realmente, é incrível!!!
Posteriormente, até o próprio Paul Anka e, entre outros, o nosso conhecido Elvis Presley e o moderno Robbie Williams (este, em espanhol: "A Mi Manera") acabaram gravando essa música, mas nunca com o mesmo sucesso obtido por Frank Sinatra, como acertadamente havia vaticinado o escritor da letra inglesa.
Quem quiser relembrar, sinta-se à vontade para curtir "My Way", com o "dono" do sucesso, Frank Sinatra, imbatível mesmo depois de velho.
Esta postagem, feita ao final do ano de 2009, estava encerrada e enterrada, colocada à disposição do público, desde aquela data. Mas vejam como são as coisas. Hoje, 19 de novembro de 2020, um seguidor colocou um comentário elogioso àquela postagem e, para responder ao comentário, tive que reler a postagem. E vi então que, na minha concepção, cometi um esquecimento sem justificativa, considerando a maneira como costumo escrever minhas postagens. E resolvi então fazer este acréscimo a ela.
Na verdade, eu conheci essa música em sua versão original, em francês, sob o título "Comme d'Habitude", quando eu ainda não conhecia a versão inglesa "My Way". Eu já tinha, naquela época, mais de um disco de uma grande intérprete da música francesa, chamada Mireille Mathieu, que se tornou, logo logo, uma das minhas cantoras preferidas. Mireille Mathieu chegou a gravar um CD em que interpretava apenas canções francesas interpretadas pela diva francesa Edith Piaf. Por essa razão, foi indesculpável não mencionar esse fato na postagem, falta de que me redimo agora, oferecendo aos meus leitores a gravação "Comme d'Habitude", na voz maravilhosa de Mireille Mathieu.