Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

ROBIN HOOD E O CORAÇÃO DA ROSA - 3a PARTE


A LENDA
Sempre tive uma atração especial pelas histórias e lendas medievais, com seus monstros e dragões, cavalheiros destemidos e donzelas em aflição. E sempre me pergunto por que essas lendas sobrevivem? Talvez por que pessoalmente nos relacionamos ao que elas dizem? As lendas são de fato um exagero de uma verdade original? Este é o caso da lenda de Robin Hood? Por que a história de Robin Hood desafia o tempo e renasce com cada nova narrativa? É por que os personagens na história eram carne e sangue e viveram e amaram exatamente como nós? É por que eles se empenharam para conquistar os seus próprios medos e lutar pelo que as suas consciências lhes disseram o que era certo? Ou é por que há um elemento de magia e mistério situado apenas abaixo da superfície do conto – um que ainda existe logo abaixo da superfície do mundo moderno?
A popular história de Robin Hood que todos conhecem, imortalizada pelo mito de Hollywood e outras mecas da cinematografia, é baseada numa peça escrita por um contemporâneo de Shakespeare, Anthony Munday, em 1598. Ela narra o conto de um nobre deserdado que conduz um bando de foras-da-lei em sua luta contra o inescrupuloso Sheriff de Nottingham, a partir das profundezas da Floresta de Sherwood. A história é assentada nos anos 1190 quando o Rei Ricardo I, o Coração de Leão (Richard I, the Heart of Lion) encontra-se fora, participando das Cruzadas, e seu irmão, Príncipe John, governa a Inglaterra em seu lugar.
Na lenda, Robin Hood é o maior arqueiro e o melhor líder de homens – um fora da lei injustamente expulso de suas terras. Roubando dos ricos para dar aos pobres ele é uma inspiração para o tiranizado e oprimido. Para aqueles que abandonaram tudo o que tinham para segui-lo, ele é quase uma figura messiânica cuja liderança fornece finalidade e razão para as suas duras e amargas vidas. A história de Robin Hood tem sido contada por centenas de anos. Ela tem sido retratada em poemas, peças e novelas por sete séculos e, presentemente, aparece nos cinemas, na TV e até mesmo em desenhos. Mas trata-se simplesmente de uma história? De fato, soa muito como material de fantasia e sonho. Contudo, atrás do conto há uma verdade histórica: uma história real e tão impressionante e romântica quanto um mito medieval.

A HISTÓRIA
Muitos historiadores que haviam previamente buscado evidência da verdade através da história, examinaram registros a partir do reinado de Ricardo I. Como nada conclusivo foi encontrado, muitos acreditaram que Robin Hood era nada mais do que um mito.
Contudo, em sua pesquisa histórica, o escritor Graham Phillips descobriu evidência conclusiva de um Robin Hood histórico, de um período inteiramente diferente. A razão pela qual outros falharam em descobrir essa evasiva documentação foi que, baseados em enganos feitos por Anthony Munday, eles haviam pesquisado datas erradas. Nas criptas da Biblioteca Britânica, em Londres, sobrevive um conto de Robin Hood escrito mais de 200 anos antes dos tempos de Munday. Trata-se de um trabalho anônimo que apareceu pela primeira vez na segunda metade do século XIV, chamado “As Façanhas de Robin Hood”. A palavra original inglesa “Gest” (Façanhas) era uma palavra medieval que significa uma história ou conto, de forma que, por conveniência, o trabalho é mencionado como Gest. Estudiosos literários há muito que sabiam da existência da Gesta, mas muitos historiadores negligenciaram sua importância como evidência para um Robin Hood histórico. Significativamente, ela coloca a história numa época diferente da peça de Munday. Ela é assentada no início do século XIV e não ao final do século XII, quando o rei não é Ricardo I, mas Eduardo II. Robin também não é um nobre, mas um soldado – um cavalheiro no exército de Thomas, Conde de Lancaster. A ação se desenrola em 1322 quando Robin é forçado a tornar-se um fora-da-lei após o Conde de Lancaster ter falhado numa rebelião contra o Rei. A rebelião de Lancaster é um evento histórico e os registros mostram que muitos dos seus seguidores se refugiaram na Floresta de Sherwood para continuar uma campanha de guerrilha. O Conde de Lancaster havia sido o Lorde de Nottinghamshire e Yorkshire e havia liderado um levante popular contra as injustas taxas impostas pelo Rei, imediatamente após uma extrema falta de víveres. Infelizmente, Lancaster foi traído pela revelação de seus planos ao Rei por seu, até então leal, braço direito, Henry de Facombery. Quando o exército rebelde foi derrotado na batalha de Boroughbridge, em Yorkshire, em 15 de março de 1322, Lancaster foi morto e o Rei recompensou Facombery, designando-o Sheriff de Nottinghamshire e Yorkshire, sendo encarregado de capturar os rebeldes que haviam se refugiado na Floresta de Sherwood. Tudo leva a crer que Henry de Facombery tenha se tornado o lendário Sheriff de Nottingham.
  
O mapa ao lado mostra a região onde teria vivido Roberto Hode, ou Robin Hood, podendo-se ver Barnsdale (ao centro do mapa) no condado de Yorkshire e, mais abaixo, Nottingham e a Floresta de Shervood, já no condado de Nottinghamshire, conforme é relatado a seguir.
Seguindo o trabalho de um obscuro historiador de Yorkshire, de meados do século XIX, chamado Joseph Hunter, Graham descobriu um registro do líder dos rebeldes, que havia escapado logo após a derrota de Lancaster. Nos arquivos de Wakefield Manor, na borda norte da Floresta Barnsdale, cinquenta milhas ao norte de Sherwood, seu nome está registrado como Robert Hode. Como Robin era o apelido de Robert e Hode era a ortografia medieval de Hood, parecia que o Robin Hood histórico havia sido finalmente encontrado. De fato, em um documento particular, ele é referido como ‘Robin Hode’. É muito possível que esta e a Floresta de Sherwood fossem, naquele período da história uma só floresta ou que Robin tivesse atuado nos dois locais. Atualmente, Barnsdale Forest situa-se em Yorkshire ao passo que Sherwood Forest situa-se em Nottinghamshire, ao sul.
A possibilidade de que Robert Hode fosse de fato o histórico Robin Hood, foi apoiada pelos nomes dos outros fora-da-lei registrados como sendo do seu bando. Little John, o poeta equilibrado que compôs a primeira história de Robin Hood para preservar a verdade para o futuro, como braço direito de Robin tornou-se o contrapeso das decisões muitas vezes impulsivas do seu líder, geradas por seu amor por Marian.

Um homem conhecido por Little John é registrado como tendo sido enterrado no pátio da igreja próxima de Hathersage, onde seu túmulo ainda pode ser visto.
Além disso, há registros de um certo Frei Tuck, tido como Capelão de Lancaster e que tomou parte na revolta.
A esposa de Robert também era uma perfeita candidata para a donzela Marian, pois, digno de nota à época, ela de fato se teria juntado a ele na floresta e tido um papel ativo no conflito.
Tudo isso funcionou como prova adicional de que Roberto Hode teria sido o histórico Robin Hood. Robert era um cavalheiro relativamente abastado, nascido em Loxley, Yorkshire, que viveu em um solar modesto na margem da Floresta de Barnsdale. Em 1321 ele casou com uma garota da vila próxima de Woolley, chamada Matilda. Na peça de Anthony Munday, Matilda era o nome real da donzela Marian, sendo o nome Marian um cognome adotado por ela após ter-se refugiado na Floresta de Sherwood. Exatamente como na lenda, Matilda Hode juntou-se ao seu marido na floresta e, raro para a época, ela de fato representou um importante papel no movimento. Foi ela que primeiro conduziu Robin na confusão celestial de um novo mundo, pela descoberta do Coração da Rosa – o antigo santuário nas profundezas da floresta onde o tempo e o espaço não podiam penetrar. Todos esses fatos servem como espantosa confirmação de que Robert Hode foi de fato o Robin Hood histórico.
Os arquivos reais, datando do reinado de Edward II em Winchester, ao sul da Inglaterra, revelam que aos fora-da-lei de Sherwood, fora finalmente concedida anistia pelo rei em 1323, como recompensa por seu apoio em sufocar uma nova rebelião. Entretanto, dois anos mais tarde, com a rebelião deixada para trás, Edward II mudou de idéia e Robert e seus seguidores foram novamente colocados fora da lei e desapareceram de registro. Graham não pode encontrar evidência histórica do que aconteceu com Robert Hode. Contudo, a Gesta diz que Robin Hood teria sido finalmente assassinado – sangrado pela abadessa do Convento de Kirklees, em Yorkshire, quando ele buscou refúgio naquele lugar, em 1347. A razão pela qual a abadessa o teria assassinado é um mistério uma vez que o manuscrito que restou foi danificado e os que dizem respeito à traição não sobrevivem mais. Tudo o que se tem conhecimento é que, após matar Robin, a prioresa suicidou-se e Little John chegou apenas para enterrar o corpo do seu amigo nas proximidades.

À direita, a casa de recepção do Convento de Kirklees, em West Yorkshire, onde Robert Hode teria sido assassinado em 1347. Essa é a construção que restou do convento, que foi destruído muito pouco tempo após a sua morte.
O Convento de Kirklees historicamente existiu e Elizabeth de Staynton é de fato registrada como a prioresa pelos anos 1340’s. Quando seu túmulo foi encontrado nos anos 1950’s, a inscrição revelou que ela havia de fato morrido em 1347, exatamente no ano em que a Gesta diz que ela se teria suicidado.

Mais surpreendentemente ainda, o túmulo de um Roberto Hode foi descoberto numa mata próxima. O túmulo original não se encontra mais lá, mas em 1665 um historiador local chamado Nathaniel Johnston fez um esboço do que dele ainda sobrevive. Hoje, um monumento em ruínas, do século XIX, marca o local, trazendo uma inscrição que clama ser ele o local real do túmulo de Robin Hood.
Ao lado, o local do túmulo original de Robin Hood, a cerca de 600 m do Convento de Kirklees.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

ROBIN HOOD E O CORAÇÃO DA ROSA - 2a PARTE

A BUSCA
Embora os três parceiros contassem com muitos elementos, ainda faltavam algumas respostas essenciais para a montagem do seu musical. Por exemplo, quem seria a enigmática prioresa Elizabeth de Staynton e porque essa mulher da Igreja havia aparentemente assassinado Robin Hood e então se suicidado? O que aconteceu com Marian e, mais intrigante de tudo, onde teria Robin passado os misteriosos vinte e dois anos entre o seu desaparecimento em 1325 e a sua morte em Kirklees em 1347? Em busca desses elementos, os Russells e Graham Phillips decidiram passar o verão viajando pela Inglaterra em busca de novas pistas históricas. Eles nunca imaginaram quão extraordinária se tornaria essa busca.

No mapa dos condados da Grã Bretanha, ao lado, pode-se apreciar o palco onde se desenrolaram os eventos relacionados à vida de Robin Hood. Em amarelo, quase no centro da Ilha, encontra-se o maior condado inglês, Yorkshire, onde se situa a Floresta de Barnsdale; limítrofe deste, ao sul, em azul e bem pequeno, o condado de Nottinghamshire, onde fica a cidade de Nottingham e a floresta de Sherwood.
Vencedores da batalha de Hastings, os normandos franceses invadiram a Inglaterra saxônica em 1066. Em remotos condados do interior, muitos saxões que haviam sido oprimidos por seus supremos senhores Normandos, permaneceram fiéis à sua antiga religião pré-cristã e ainda veneravam suas principais deidades pagãs – o deus da floresta Herne, o deus caçador Laan e a deusa da natureza Eostre. Nos condados do Conde de Lancaster permitiu-se que a antiga religião prosseguisse paralelamente à Igreja estabelecida e ambas coexistiam pacificamente. Após a morte de Lancaster, entretanto, Henry de Facombery proibiu a velha religião e os fora-da-lei foram declarados heréticos.
Phillips e os Russells descobriram um manuscrito do século XVI, previamente desprezado, nas criptas da Biblioteca William Salt, em Stafford, que lançou uma fascinante nova luz sobre os papéis que Robin e Marian representaram nessa velha religião. O autor era o historiador Elizabethano Robert Vernon, que tinha feito um estudo da lenda de Robin Hood após a estréia da peça de Anthony Munday em 1598. A partir de documentos que ainda existiam em seu tempo, Vernon descobriu que os fora-da-lei de Sherwood consideravam Robin e Marian como personificações dos antigos deuses Eostre e Laan. De acordo com Vernon, após a morte dos históricos Robin e Marian, surgiu a lenda de que eles retornariam um dia. Além disso, a velha religião sobreviveu e ainda era praticada em segredo no principal santuário ao deus Herne – um azevinho sagrado que permanecia num antigo círculo de pedra nas profundezas da floresta da Inglaterra central. Sendo guardado por dois lobos espectrais, o santuário era conhecido por “The Heart of the Rose” (o Coração da Rosa).
Nos seus escritos, Roberto Vernon havia feito referência a uma lenda similar relativa a Robin e Marian. A lenda contava que Robin havia sido mortalmente ferido em batalha e que a donzela Marian o tinha levado ao ‘Coração da Rosa’ para tratar de suas feridas. Ali o deus Herne apareceu e deu-lhe o poder de cura para revivê-lo. De acordo com o conto popular, uma vez recuperado, Robin ganhou o poder do deus caçador Laan e foi capaz de reunir os fora-da-lei como oposição à tirania do Sheriff de Nottingham.
Assim, os Russells e Phillips tinham agora a resposta a um enigma previamente não resolvido: por que a lenda de Robin Hood havia sobrevivido por tão longo tempo antes que fosse popularizada pela peça de Anthony Munday. Segundo parece, Robin e Marian eram vistos, no passado, como figuras celestiais na mitologia Saxã; além de herói popular, Robin Hood era visto como ser semi-divino.

Intrigados por essas novas descobertas, Phillips e os Russells decidiram redescobrir a localização, há tanto esquecida, do ‘Coração da Rosa’. Embora ainda existissem registros históricos relativos à sua importância como santuário Saxão, em épocas pré-Cristãs, nenhuma referência específica à sua localização sobreviveu. O nome ‘Coração da Rosa’ parecia ser o nome medieval para o santuário, previamente referido em Latim como ‘Litha Duodecima’ (A Duodécima Pedra). Tudo o que eles sabiam é que ela estaria em algum lugar no centro da Inglaterra, pois era evidente o que o nome medieval implicava, tendo em vista que a rosa era o emblema da Inglaterra. Além disso, as lendas de Robin Hood sugeriam que ela estaria em algum lugar da Floresta de Sherwood.
Diz-se que o exato coração da Inglaterra é a vila de Meriden em Warwickshire, onde um monumento ainda marca o local. Por isso, eles decidiram concentrar sua busca numa mata próxima; se o ‘Coração da Rosa’ tivesse realmente existido, parecia improvável que o círculo de pedras ainda sobrevivesse. Havia, de fato, apenas uma área de bosque que poderia ter qualquer associação com Robin Hood: era um denso trecho de um bosque de pinho chamado Braden Wood, onde a lenda falava de um encontro entre Robin e um cervo gigante. Embora puro folclore, a história pode ter-se originado de uma tradição genuína relativa ao histórico Robin e sua associação com um santuário local onde o deus Herne era venerado. O cervo era considerado consagrado e Herne era muitas vezes representado com uma cabeça de cervo.
O círculo vermelho no mapa ao lado, localiza a Vila de Meriden, situada no condado de Warwickshire, considerado o ponto central da Inglaterra, não da Grã Bretanha. Logo acima pode-se ver a cidade de Nottingham e, um pouco mais ao norte, York.
Numa ensolarada e quente tarde do meio do verão, Phillips e os Russells visitaram Braden Wooden e foi ali que a extraordinária série de eventos iniciou. Os três encontravam-se seguindo uma trilha nas profundezas da floresta quando, subitamente, o som de uivos encheu o ar. Eles congelaram e olharam-se com surpresa, pois soava exatamente como o uivo de um lobo. Tal som, que poderia ser comum no agreste dos EUA, na Inglaterra central seria impossível, pois há séculos que não existiam mais lobos selvagens nas Ilhas Britânicas. Enquanto eles permaneciam escutando, o som gélido se fez ouvir novamente, desta feita como se dois lobos estivessem uivando em uníssono. Recuperando o ânimo, eles seguiram o som até uma solitária cabana à beira do caminho. Olhando em torno, eles viram que havia, de fato, dois lobos dentro de um cercado isolado no jardim da cabana. Verificou-se que o proprietário da cabana mantinha os animais como animais de estimação, tendo-os salvo quando um zoológico local havia sido obrigado a fechar. Pareceu uma estranha coincidência que eles estivessem procurando por um local que, dizia a lenda, fosse guardado por dois lobos e ali eles tivessem encontrado dois lobos reais.
Os três brincaram com a ideia de que tal fato poderia ser a forma do destino dizer-lhes que eles estavam próximos do local que procuravam. Embora, no momento, eles não vissem razão lógica para considerar a possibilidade seriamente, concluíram que não perderiam nada se procurassem na área de mata atrás da cabana e logo se encontraram numa clareira no meio da qual havia um único grande azevinho com cerca de 10m de altura. Quando Graham Phillips lembrou-lhes que o azevinho era considerado consagrado ao Deus Herne e que se dizia que havia um deles no ‘Coração da Rosa’, Graham Russell percebeu que havia algo realmente misterioso. A árvore estava coberta de frutos vermelho brilhante e ele disse que as bagas de azevinho não amadureciam até a chegada do inverno – de fato, pelo meio do inverno, razão pela qual elas são tradicionalmente associadas com o Natal. Contudo, aqui, elas haviam amadurecido no pico do verão. Obviamente, a árvore não poderia ter permanecido ali por mais de 700 anos, mas era certamente algo muito singular. Os lobos e agora o azevinho bizarramente amadurecido!
Diz-se que o ‘Coração da Rosa’ era um antigo círculo de pedras, chamados megálitos e encontrados por toda a Inglaterra; alguns deles estão admiravelmente bem preservados, como é o caso do maior e mais famoso, Stonehenge. Embora a maioria fosse muito menor e menos elaborada que Stonehenge, esses antigos monumentos foram todos erigidos há mais de 3.000 anos atrás, como locais de adoração. Anos depois, os Anglo-Saxões adotaram alguns deles como templos para seus próprios deuses e diz-se que o ‘Coração da Rosa’ teria sido o mais importante.
Não havia pedras aparentes em torno do azevinho. Contudo, se tivesse existido um círculo de pedras ali, seus megálitos poderiam ter caído há séculos atrás. Eles decidiram afastar as samambaias que cobriam o solo e, imediatamente, encontraram três grandes pedras semi-enterradas e cobertas de limo. Cada uma delas tinha cerca de 1,4 m de comprimento e eram retangulares, claramente modeladas pelo homem. Eram em tudo exatamente como os megálitos caídos de um antigo círculo de pedras. Nada estava marcado no mapa, mas os arqueólogos estão continuamente descobrindo os restos de círculos de pedra até então desconhecidos, quando megálitos caídos são desenterrados ou descobertos sob a terra por acidente. Os três não podiam ver outra razão pela qual tais pedras pudessem estar no meio da floresta e pareceu que eles tinham descoberto um círculo de pedras esquecido.
Teriam eles encontrado o ‘Heart of the Rose’? Certamente era uma possibilidade razoável. As pedras estavam no que tinha sido uma vez parte da Floresta de Sherwood; era próximo do centro da Inglaterra; era a única mata por milhas a volta, ligada a uma lenda de Robin Hood – especificamente, alguma que associasse os fora-da-lei com um cervo, o animal sagrado de Herne. Embora círculos de pedra megalíticos fossem comuns em algumas partes do país, muito poucos são conhecidos na Inglaterra Central. Que eles tivessem encontrado os restos do que parecia um, nesse local particular, tornou muito provável que fosse o sítio pelo qual estivessem procurando. O que era particularmente singular é que eles jamais teriam encontrado as pedras não fosse pelos lobos e então pelo azevinho peculiar. A despeito do que o senso comum ditasse, eles não poderiam fazer nada a não ser acreditar que tivessem sido conduzidos ao ‘Coração da Rosa’.

domingo, 24 de janeiro de 2010

ROBIN HOOD E O CORAÇÃO DA ROSA - 1a PARTE

Como muitos devem saber, “Air Supply” é o nome de uma dupla de “soft rock” com uma seqüência de sucessos em todo o mundo, a partir do final da década de 70 aos dias de hoje. O conjunto é hoje formado pelo guitarrista e vocalista Graham Russell, nascido Graham Cyril Russell, a 11 de junho de 1950, em Sherwood, Nottingham, England, UK e pelo vocalista principal Russell Hitchcock, nascido Russell Charles Hitchcock, em 15 de junho de 1949, em Melbourne, Victoria, Austrália. O par se encontrou pela primeira vez em maio de 1975 quando participava da produção australiana do musical “Jesus Christ Superstar”, de Andrew Lloyd Weber, o mesmo autor de tantos outros maravilhosos musicais como “The Phantom of the Opera”, “Cats”, “Aspects of Love”, “Evita”, “Joseph and the Amazing Technicolor Dreamcoat”, “Starlight Express”, entre os que conheço e me lembro. Mas essa é uma outra história.
Um pouco mais tarde, no mesmo ano, junto com Chrissie Hammond e outros dois componentes, formaram o “Air Supply”, como um grupo de cinco. Posteriormente o grupo realizou alterações em seus quadros e o resultado final é hoje a dupla vocalista tão conhecida e o seu conjunto de instrumentistas.

Tornei-me um fã incondicional das músicas do “Air Supply” desde que os escutei pela primeira vez: pelo conjunto de suas vozes, pelas composições de alta qualidade que criam, pelos arranjos orquestrais primorosos que produzem para as suas músicas. Entre as suas interpretações há uma que, desde cedo, atraiu particularmente o meu gosto musical, sem que eu mesmo pudesse explicar as razões para tal: “Heart of the Rose”, composição de Graham Russell, de 1995. Pois um dia desses, estava eu escutando minhas músicas gravadas no PC - em ordem alfabética para não demonstrar qualquer favoritismo -, quando realizava mais uma de minhas pesquisas, quando chega a vez de “Heart of the Rose”. Quem possui fluência em qualquer idioma, sabe que, por várias razões, uma das coisas mais complicadas de se entender em uma língua estrangeira, são as letras das músicas enquanto cantadas. Até na língua mãe ocorre esse tipo de coisa. Dei-me conta então, de que nunca procurara a letra dessa melodia, embora a apreciasse muito; e fui buscá-la. E em sua busca tomei conhecimento de fatos incríveis, para mim até então desconhecidos, que pretendo agora resumir neste artigo.
INTRODUÇÃO
O Air Supply permaneceu como uma das bandas mais tocadas do mundo durante as três últimas décadas. Com muitos “simples” nas "Dez Mais" e álbuns de platina a seu crédito, o membro da banda, cantor e compositor, Graham Russell, decidiu compor uma peça musical sobre a história de Robin Hood, lenda internacional original da Floresta de Sherwood, Nottingham, mesma cidade inglesa onde nasceu o cantor. Por que Robin Hood? E o cantor conta que, nascido em Nottingham, era grande candidato a qualquer associação com Robin Hood. Enquanto garoto, sempre queria desesperadamente ir à Floresta de Sherwood e quando pela primeira vez caminhou na real Floresta de Sherwood, com nove anos de idade, tornou-se parte da sua mágica. Naquela época já usava então o seu autêntico boné de Robin Hood e só uma coisa lhe faltava: construir seu acampamento secreto e encontrar os outros divertidos companheiros e Marian, naturalmente, a menos que o mau Sheriff a tivesse capturado. Entretanto, à medida que crescia começou a perceber que Robin era sempre lembrado apenas como uma lenda e isso era desolador, pois o seu Robin era muito real e ele não o deixaria ir. Observava também que os encantos de Robin em Nottingham eram, certamente, apenas lenda; o castelo de Nottingham não tinha nada a ver com Robin, o maior carvalho na floresta de Sherwood que, dizia-se, servia para armazenar todo o dinheiro roubado dos ricos, não era, nem de perto, velho bastante para ser do tempo de Robin. Quem sabe ele seria apenas um mito? Em torno de 1975 Graham começou a sonhar com a floresta em termos de um musical, sentindo um orgulho renovado por pertencer ao território de Robin Hood. Naquela época ele começava a participar da produção australiana de “Jesus Christ Superstar” e começou a dar-se conta de como poderia ser encenado um show chamado “Sherwood”. A coisa o excitava porque ele estava sendo pago para atuar numa produção teatral real ao mesmo tempo em que absorvia e aprendia tudo o que podia.
Nesse instante, algo aconteceu que o fez colocar Sherwood de lado por algum tempo: o Air Supply teve um sucesso extraordinário, excursionando, gravando, escrevendo canções e atuando por todo o mundo por muitos anos. Apenas em 1987, quando as coisas desaceleraram um pouco, Graham pode voltar ao seu sonho de concretizar “Sherwood”. Estimulado por Jodi, sua esposa americana, fizeram uma viagem à Inglaterra para reunir mais informação histórica e, por absoluta coincidência, encontraram um historiador em Coventry, cujo novo livro estava para ser liberado. O título do livro era “Robin Hood: The Man Behind the Myth” (Robin Hood: o Homem Atrás do Mito), e o escritor, Graham Phillips. Em seu livro, Phillips propunha que Robin Hood havia sido, de fato, uma figura histórica. Embora muitos dos contos relativos às façanhas de Robin tenham sido exagerados, Phillips descobriu registros medievais que revelavam que a lenda foi baseada, com um notável grau de veracidade, em eventos históricos.
Tornaram-se grandes amigos e atravessaram a Inglaterra, em busca do “real” Robin Hood e o que encontraram foi muito mais interessante do que a própria lenda. Encontraram Robin Hood, o homem real, e com ele todos os seus amigos e Marian; mas ele mostrou-lhes mais alguma coisa. Ele os conduziu a um lugar que existe em todos nós, cuja corporificação física é um azevinho ao lado de uma fascinante lagoa, circundada por pedras antigas, bem no coração da Inglaterra. Escondido de todos até a hora certa, era um lugar fora dos limites desta dimensão: Robin os havia conduzido ao ‘Heart of the Rose’.

domingo, 3 de janeiro de 2010

GUELFOS E GIBELINOS

Ao cabo do “Canto X” do “Inferno” da “Divina Comédia” de Dante, com todas as anotações muito mais do que necessárias e suficientes, de uma edição muito bem cuidada, as dúvidas se acumulavam na minha cabeça, de parcos conhecimentos. Não apenas sobre o objetivo propriamente dito da obra, que é ainda mais grave, mas também sobre personagens e suas localizações dentro do contexto da obra. Daí nasceu a idéia desse artigo, que não se propõe a analisar (nem seria preciso dizer) a “Divina Comédia”, mas apenas conhecer um seu pequeno porém importante detalhe, para uma melhor compreensão do Poema, que descreve a jornada do autor para encontrar Deus. Trata-se de um detalhe da sua faceta política.
Dante ou Durante Alighieri, nascido em Florença (Firenze, em italiano) numa época em que a Itália não existia como nação, mas seu atual território era apenas um conjunto de cidades-estado então perfeitamente autônomas, denominadas comunas, viveu durante o período de 1265 a 1321, em plena Idade Média.

Os Guelfos e os Gibelinos constituíam facções políticas que, a partir do século XII, estiveram em luta na Itália, especialmente em Florença. Os conflitos se intensificaram sobretudo a partir do século XIII. Em sua origem, tratava-se de uma disputa entre os partidários do Papado (os guelfos) e os partidários do Sacro Império Romano-Germânico (os gibelinos).
O Sacro Império Romano-Germânico foi a união de territórios da Europa Central durante a Idade Média, durante toda a Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea sob a autoridade do Sacro Imperador Romano. Embora Carlos Magno seja considerado o primeiro Sacro Imperador Romano, coroado em 25 de Dezembro de 800, a linha contínua de imperadores começou apenas com Oto o Grande em 962. O último imperador foi Francisco II, que abdicou e dissolveu o Império em 1806 durante as Guerras Napoleônicas. A partir do século XV, este estado era conhecido oficialmente como o “Sacro Império Romano da Nação Germânica”.
A extensão territorial do Império variou durante sua história, mas no seu ápice englobou os territórios dos modernos estados da Alemanha, Áustria, Suíça, Liechtenstein, Luxemburgo, República Tcheca, Eslovênia, Bélgica, Países Baixos e grande parte da Polônia, França e Itália. Na maior parte da sua história, o Império consistiu de centenas de pequenos reinos, principados, ducados, condados, Cidades livres imperiais, e outros domínios. Apesar de seu nome, na maior parte da sua existência o Sacro Império Romano-Germânico não incluiu a cidade de Roma em seus domínios. No que se refere ao Sacro Império Romano-Germânico, paremos por aqui, visto ser este, isoladamente, assunto para vários livros.
As denominações "guelfos" e "gibelinos" originaram-se após a morte de Henrique V, Sacro Imperador Romano-Germânico (1125), sem deixar herdeiros diretos. Criou-se então um conflito na disputa pela sucessão do Império. Os guelfos e o Papa apoiavam a casa da Baviera e Saxônia dos Welfen (de onde provém a palavra guelfo), enquanto os gibelinos eram partidários da casa da Suábia dos Hohenstaufen, senhores do castelo de Waiblingen (de onde provém a palavra gibelino).
No interior das cidades, a mesma dicotomia se reproduziu, mas acabou perdendo o significado tradicional da luta politica entre o Papado e Império, para transformar-se em luta entre as facções da população, pelo domínio da cidade. Para aumentar sua força, as cidades, tanto guelfas quanto gibelinas, reuniam-se em ligas opostas. E, muita vezes, dentro de uma própria cidade, dominada por uma das duas grandes facções políticas, formavam-se pequenas sub-facções que frequentemente lutavam entre si.
Assim, a partir da segunda metade do século XIII, a cidade guelfa de Florença combateu a liga gibelina formada pelas cidades toscanas de Arezzo, Siena, Pistoia, Lucca e Pisa. Foi um longo conflito, cujos momentos mais dramáticos foram as batalhas de Montaperti (1260) e de Altopascio 1325. Na segunda metade do século XIII, após a batalha de Benevento, em 1266, houve nas cidades gibelinas, uma verdadeira crise, quando perderam o seu maior apoio - a dinastia suábia. Essa crise teve início com Frederico Barbarossa para concluir-se com as derrotas de Corradino e Manfredi da Sicília, entre 1266 e 1268.

Disso resultou o fortalecimento dos guelfos que, finalmente, predominaram na Península Itálica, apoiados militarmente tanto pelo Rei de Nápoles, Carlos I da Sicília, como pelos vários Papas. Com isso, os guelfos chegaram a se reapoderar de Florença, a partir de 1269, quando derrotaram os gibelinos de Siena.
Ao final do século XIII, o partido guelfo se dividiu em duas facções: os Guelfos Brancos (Guelfi Bianchi), liderados por Vieri dei Cerchi, e os Guelfos Negros (Guelfi Neri), liderados por Corso Donati, que, de certa forma, seriam Gibelinos, numa versão tímida. Na origem dessa divisão existia uma querela de clãs que opunha os Cerchi aos Donati. A divisão era também social, sendo os Cerchi - uma antiga família patrícia florentina - mais próximos do povo, enquanto os Donati - uma das famílias mais numerosas e importantes da Florença medieval – eram mais ligados à elite florentina.
As cores foram atribuídas primeiramente por Vieri dei Cerchi, que apoiou a família Grandi, de Pistoia, conhecida localmente como la parte bianca (o partido branco). Corso Donati, por consequência, protegeu o partido oposto, la parte nera - a parte negra. Em 1300, na Praça da Santíssima Trindade, em Florença, explode uma batalha que marcará a clivagem definitiva entre os dois partidos. Os guelfos negros, muito próximos do Papa Bonifácio VIII, levam vantagem sobre os brancos, incapazes de se defender, e Carlos de Valois (1270-1325), vindo da França para apoiar o Papa, ataca Florença sem encontrar resistência. A partir de janeiro de 1302, começa o exílio dos brancos, dentre os quais Dante Alighieri. Cante Gabrielli de Gubbio reinará sobre a cidade.
Até pouco antes disso, Dante se havia mantido neutro em suas atividades cívicas, em face das lutas travadas entre Brancos e Negros. Deixou entretanto de ser neutro, e de forma muito coerente, quando se tratou de defender Florença contra o Papa Bonifácio VIII, fazendo então causa comum com o sBrancos, quando a sorte não lhe sorriu. Com a vitória dos Negros, Dante foi condenado por seus adversários políticos a pagar multa de 5.000 “liras de florins pequenos” e a passar dois anos no exílio. Como se tivesse auto-exilado antes e nunca se tivesse defendido de qualquer das acusações contra si, o Poeta foi novamente condenado, desta feita a ser queimado vivo em praça pública. Em consequência, durante mais de vinte anos, Dante preferiu viver no exílio – com uma alternativa dessas ... -, nunca mais voltando a Florença, mas ainda desenvolvendo atividades políticas, desta feita convertido aos Gibelinos. Alguns anos mais tarde, não desejando mais ser guelfo ou gibelino, fez “parte per sé stesso”, ou seja, tornou-se o “partido político de um homem só”. O roteiro do exílio de Dante ainda não foi totalmente esclarecido. Tem-se notícia de que o Poeta apareceu em várias cidades da Itália e que, numa certa época, esteve em Paris onde morou por algum tempo. Posteriormente passou a viver em Verona e, por último, em Ravena, onde finalmente morreu na noite de 13 para 14 de setembro de 1321.