Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

BREVE HISTÓRIA DAS ORIGENS DE PORTUGAL - PARTE III (Última)

CONDADO DE PORTUCALE
Vímara Peres foi um fidalgo galego nascido em 820 e morto em 873, Cristão da Reconquista, cavaleiro e senhor da guerra, enviado por D.Afonso III, das Astúrias, ao vale do rio Douro, com a incumbência de expulsar dali os mouros, da linha natural cujo domínio os asturo-leoneses consideravam fundamental para a sua defesa. A ele se ficou a dever, entre outras coisas, o repovoamento cristâo das terras de entre Douro e Minho. Ajudado pelos cavaleiros cristãos da regiâo, conquistou Portucale aos mouros no ano de 868.
Nesse mesmo ano, de 868, receberia Vímara Peres (figura ao lado) o título de Conde de Portucale, dando assim início a uma dinastia condal que duraria até ao ano de 1071. Já nessa época o território designava-se Terra Portugalense. Pouco a pouco foram alargadas as fronteiras do território, que confinava com outros territórios (Braga, Lamego, Viseu, Terras da Feira e Coimbra). Entre as suas obras consta ainda a da fundação de um pequeno burgo fortificado, junto de Braga, a que deu o nome de Vimaranis - que então significava "terras de Vímara" - e haveria de se transformar na cidade de Guimarães e berço de Portugal.
A reconquista permitiu também a restauração diocesana, tendo os bispos de Portucale sido instalados numa pequena povoação chamada Magneto (a qual os especialistas fazem corresponder com a actual Meinedo, no conselho de Lousada).
Na segunda metade do século XI, reconstituiu-se, ao sul, o condado de Coimbra (que incluía não só a cidade do Mondego, como ainda as terras de Lamego, Viseu e Feira), sendo entregue ao conde Sesnando Davides, um moçárabe do rei Fernando I de Leão e Castela, que conquistara definitivamente a cidade em 1064 (este condado viria, mais tarde, a ser incorporado ao Portucalense).

CONDADO PORTUCALENSE
A ambição de Afonso VI de Leão e Castela, auto-denominado Imperador de toda a Hispânia, reconstituiu novamente a unidade dos Estados paternos e, quando Garcia morreu, em 1091, os territórios do Reino da Galiza, em sua posse, passaram, por mérito, às mãos do Cruzado Conde Raimundo de Borgonha, casado com D. Urraca, filha de Afonso VI. A partir daí, as chamadas terras de Portucale passam a ser um Condado (Condado Portucalense) dependente do Reino da Galiza, que por sua vez prestava vassalagem a Afonso VI de Leão e Castela. Nessas alturas, o vigor das investidas Almorávidas recomendava a distribuição dos poderes militares, para melhor reforçar o território. Assim, foram criados um comando na zona central, entregue ao próprio rei Afonso VI; outro, não oficial, exercido por El Cid em Valência, e o terceiro, no ocidente, entregue a Raimundo de Borgonha. Este último não conseguiu defender eficazmente a linha do Tejo — tendo já perdido Lisboa, que fora cedida aos Leoneses pelo reino Taifa de Badajoz, juntamente com Santarém, que estava também prestes a cair nas mãos dos Almorávidas.
Alguns anos mais tarde, em 1096, descontente com as políticas bélicas de Raimundo, Afonso VI entrega o governo do Condado Portucalense ao primo de Raimundo, Rei da Galiza, o Conde D. Henrique de Borgonha, casado com sua outra filha, D. Teresa, passando assim a ser Conde de Portucale. Na prática, o Condado Portucalense deixava de ser dependente do Reino de Galiza, para prestar vassalagem directamente ao Reino de Leão e Castela, o que provocou um grande descontentamento entre a nobreza galega. O conde D. Henrique, apoiado pelos interesses políticos clunicenses, introduz-se ambiciosamente na política do Reino, conquistando poder junto das cortes. Vendo-se na condição de subordinados ao rei, os condes ou governadores tinham amplos poderes administrativos, judiciais e militares, e o seu pensamento orientava-se, naturalmente, para a aquisição de uma completa autonomia quando, no caso português, as condições lhe eram propícias. Deste condado, nasceria o Reino de Portugal.
A fim de aumentar a população e valorizar o seu território, D. Henrique deu foral e fez vila (fundou uma povoação nova) em várias terras, entre elas Guimarães, na qual fez vila de burgueses, atraindo ali, com várias regalias, muitos francos seus compatriotas.
Em Guimarães fixou D. Henrique a sua habitação, em paços próprios, dentro do castelo que ali fora edificado no século anterior. Falecido o conde D. Henrique (1112), passa a viúva deste D. Teresa, a governar o condado durante a menoridade do seu filho Afonso Henriques.

INDEPENDÊNCIA DE PORTUGAL
Inicialmente, o pensamento de D. Teresa foi idêntico ao do seu marido: fortalecer a vida portucalense e conseguir a independência para o condado. Em 1121 intitula-se «Rainha», mas os conflitos com o alto clero e sobretudo a intimidade com Fernão Peres, fidalgo galego a quem entregara o governo dos distritos do Porto e Coimbra, trouxeram-lhe a revolta dos Portucalenses e do próprio filho, sistematicamente afastados, por estranhos, da gerência dos negócios públicos. D. Teresa planeja então uma união com a poderosa família galega dos Trava, unindo assim novamente o Condado Portucalense ao Reino de Galiza e inviabilizando toda e qualquer aspiração portuguesa à independência.
Aos catorze anos de idade (1125), o jovem Afonso Henriques, com o apoio da nobreza portuguesa, arma-se a si próprio cavaleiro – segundo o costume dos reis – tornando-se assim guerreiro independente. A posição de favoritismo em relação aos nobres galegos e a indiferença para com os fidalgos e eclesiásticos portucalenses por parte de sua mãe, D. Teresa, originou a sua revolta, sob chefia do seu filho, D. Afonso Henriques (figura acima).
Em 24 de junho de 1128, trava-se a Batalha de São Mamede (Guimarães) entre os partidários do infante Afonso e os de sua mãe. Esta é vencida e expulsa da terra que dirigira durante 15 anos. D. Afonso Henriques toma conta do condado, declarando-o reino independente, como neto de Afonso VI e dele vai fazer o Reino de Portugal.
Lutando contra os cristãos de Leão e Castela e os muçulmanos, Afonso Henriques conseguiu uma importante vitória contra os Mouros na Batalha de Ourique, em 1139, e declarou a independência. Continuou, entretanto, a luta contra as forças de Afonso VII de Leão e Castela (inconformado com a perda das terras portuguesas, pois, à semelhança de seu pai, Afonso VI, ele também se intitulava Imperador), enquanto, paralelamente, travava lutas contra os muçulmanos.
Em 1139, após uma estrondosa vitória na Batalha de Ourique, contra um forte contingente mouro, D. Afonso Henriques afirma-se como Rei de Portugal, aclamado pelos chefes portugueses. Nascia assim, o Reino de Portugal e sua primeira dinastia, com o rei Afonso I de Borgonha (Afonso Henriques). Somente a 5 de outubro de 1143 é reconhecida a independência de Portugal pelo rei Afonso VII de Leão e Castela, no Tratado de Zamora, assinando-se a paz definitiva. Desde então, D. Afonso Henriques procurou consolidar a independência por si declarada. Fez importantes doações à Igreja e fundou diversos Conventos. Dirigiu-se ao Papa Inocêncio II e declarou Portugal tributário da Santa Sé, tendo reclamado para a nova monarquia a protecção pontifícia. Em 1179 o Papa Alexandre III, através da Bula Manifestis Probatum, reconhece a existência de Portugal como país independente e vassalo da Igreja Católica Apostólica Romana.
Na continuação de suas conquistas, buscou também por terras ao sul, até então povoadas por Mouros e, após ver malograda a primeira tentativa de conquistar Lisboa em 1142, conseguiu o seu intento em 24 de Outubro do mesmo ano (a figura acima mostra D. Afonso I durante o sítio de Lisboa), após conquistar Santarém, no dia 15 de Março, com o auxílio de uma poderosa esquadra de 160 navios e um contingente de cerca de 13 mil cruzados que se dirigiam para a Terra Santa.
Em 1492, com a conquista do reino de Granada, a Reconquista chegava ao fim. Já os reinos da Galiza, Leão, Castela, Navarra e Aragão iniciavam uma relativa unificação ao possuir um único rei (embora mantendo a autonomia econômica, administrativa e comercial), que posteriormente recebeu o nome de reino de Espanha. Juntamente com o reino independente de Portugal, debatiam-se estes dois estados pelas conquistas marítimas. Ainda com o apoio da Igreja, ambos os reis estavam agora de olhos voltados para o Norte de África, nas praças comerciais de renome, como Ceuta e Tânger, sob o pretexto da cristianização. Caminhava-se, paralelamente, para a fase inicial dos Descobrimentos.
Nesse ponto da história encerramos o nosso artigo, que tem como objetivo único, apresentar as origens de Portugual como país, etnia e língua. Nele, foram apenas apresentados os fatos, sem nos determos nas suas causas e nas suas consquências, nem tampouco imprimindo qualquer forma de interpretação. Era importante, para o autor da pesquisa, mostrar a forma como Portugal se originou da mesma Península Ibérica da qual se originou a Espanha, indicar os povos que compuseram a sua etnia final, bastante complexa e, finalmente, apresentar as influências que sofreu na formação final da sua língua portuguesa. Com humildade esperamos ter atingido esse objetivo, que consideramos de alguma importância como descendentes que somos daquele povo.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

BREVE HISTÓRIA DAS ORIGENS DE PORTUGAL - PARTE II

INVASÃO DOS BÁRBAROS
Em 409 DC, os chamados povos bárbaros, compostos principalmente por Suevos, Vândalos e Visigodos, todos de origem germânica, além dos Alanos, de origem persa, fixam-se na Hispânia. Em 411 DC estes povos dividem entre si o território: os Vândalos ocuparam a Galécia e a Bética, os Suevos, a região ao norte do Douro, enquanto os Alanos ocuparam as províncias da Lusitânia e a Cartaginense. Algum tempo depois, ocorreu a entrada dos Visigodos, na península, a serviço do Império Romano, com o objectivo de subjugar os invasores anteriores.
De todos estes povos, os Suevos e os Visigodos seriam aqueles que teriam uma presença mais duradoura no território que é hoje Portugal. Estabelecendo a capital do seu reino em Braga, os Suevos dominaram um território que também incluía a Galiza e chegam a dominar a parte ocidental da Lusitânia. Estabelecidos na condição de federados do Império Romano, os Suevos eram pagãos, tendo sido evangelizados por S. Martinho de Dume e convertidos ao catolicismo. A partir de 470 DC crescem os problemas do reino suevo com o vizinho reino visigodo. Em 585 DC o rei visigodo Leovigildo toma Braga e anexa o reino suevo. A partir daqui toda a Península Ibérica fica unificada sob o reino visigodo (com excepção de algumas zonas do litoral sul e levantino, controladas pelo Império Bizantino) até à queda deste reino em 711 DC. Os povos bárbaros sempre foram numericamente inferiores à população hispano-romana, razão pela qual foram obrigados à miscigenação étnica e cultural.

OCUPAÇÃO MUÇULMANA
Em 711 DC a Península Ibérica foi invadida pelos muçulmanos do Norte de África (basicamente Berberes com alguma componente de Árabes), comandadas por Tarik ibn-Ziyad, o que obrigou os seus ocupantes bárbaros a recolher-se, principalmente nas Astúrias, uma região no Norte da Península que, pelas suas características naturais, colocava grandes dificuldades ao domínio muçulmano. Estes dominaram partes da península por mais de cinco séculos: inicialmente sobre o controle do Califado de Damasco, Al-Andalus, mais tarde sob a forma de um emirado e califado e, devido ao colapso deste, em pequenos reinos (Taifas) com autonomias características. Durante um longo período, em nome da recristianização da região, ocorreu um longo processo de lutas, considerado por alguns como parte do movimento de cruzadas, resultando finalmente na completa reconquista do teritório por parte dos cristãos. Os muçulmanos que não foram expulsos ou mortos durante o processo de reconquista, tiveram de aderir aos costumes locais (incluindo o Cristianismo). Não se sabe ao certo o grau existente de mescla com estes berberes na população portuguesa actual, mas há um consenso de que esta mescla existe. É durante esta fase que ocorre o nascimento do Reino de Portugal e de diversos outros reinos na Península Ibérica, vindo estes últimos, posteriormente, a se unificar dando origem ao reino de Espanha.
Al-Andalus foi o nome dado à Península Ibérica pelos seus conquistadores islâmicos do século VIII, tendo o nome sido utilizado para se referir à península, independentemente do território politicamente controlado pelas forças islâmicas.
De início integrado na província norte-africana do império omíada, o Al-Andalus seria um emirado (756–929 DC) e posteriormente um califado independente do poder abássida (929–1031 DC). Com a dissolução do califado em 1031 DC, o território pulverizou-se em vários reinos Taifa.
Com a reconquista dos territórios pelos cristãos, descendentes dos godos, que se refugiaram na região das Astúrias, no norte da península, num processo que ficou designado historicamente por Reconquista, o nome Al-Andalus foi-se adequando ao cada vez menor território sob ocupação árabe-muçulmana, na metade sul da península, aproximadamente a mesma área da antiga província romana Hispânia Bética, cujas fronteiras foram progressivamente empurradas para sul, até à tomada de Granada pelos Reis Católicos, em 1492.

A RECONQUISTA
A Reconquista (também referenciada como Conquista cristã) é a designação historiográfica do movimento cristão, com início no século VIII que visava à recuperação, pelos Visigodos cristãos, das terras perdidas para os árabes durante a invasão da Península Ibérica.
Se rápida foi a ocupação muçulmana da Península Ibérica, a reconquista pelos Visigodos foi francamente mais lenta.
Este processo gradual originou o nascimento de pequenos reinos que iam sendo alargados à medida que a Reconquista era bem sucedida.
Primeiro, o Reino das Astúrias, que viria a dividir-se entre os filhos de Afonso III das Astúrias, após a sua morte. Assim nasciam os reinos de Leão e Galiza e, mais tarde, de Navarra e Aragão e de Castela, sendo que este compreendia já as terras de Portucale, que correspondia, mais ou menos, aos territórios que hoje fazem parte de Portugal, até à cidade de Coimbra.
A guerra tinha um só objectivo: a reconquista das terras com tudo o que nelas existia. A idéia de “cruzada” só veio a surgir na época das Cruzadas (1096). A reconquista de todo o território peninsular duraria cerca de oito séculos, só sendo completada, como dito acima, em 1492, com a reconquista do reino muçulmano de Granada pelos Reis Católicos. No então teritório de Portugal, a reconquista terminou com a conquista definitiva de Silves, pelas forças de D. Afonso III, em 1253. Mais tarde, a expansão marítima portuguesa, precedida pela conquista das praças africanas foi considerada, em parte, como uma continuação da Reconquista.

O NASCIMENTO DE PORTUGAL
Houve, no atual território de Portugal, ao longo do processo de reconquista, dois Condados Portucalenses ou Condados de Portucale distintos: o primeiro, fundado por Vímara Peres após a presúria de Portucale (Porto) em 868 e incorporado ao reino da Galiza em 1071, após a morte do conde Nuno Mendes (e que embora gozando de certa autonomia, constituiu sempre uma dependência do reino das Astúrias/Leão/Galiza), sendo sensivelmente equivalente ao actual Entre-Douro-e-Minho); o segundo, constituído em 1095 em feudo do rei Afonso VI de Leão e Castela e oferecido a Henrique de Borgonha, um burguinhão que veio auxiliá-lo na Reconquista de terras aos Mouros, tendo também recebido a mão de sua filha Teresa de Leão. Este último condado era muito maior em extensão, já que abarcava também os territórios do antigo condado de Coimbra, suprimido em 1091, partes de Trás-os-Montes e ainda do Sul da Galiza (mormente da diocese de Tui). Deve-se notar que Condado é um termo genérico para designar o Território Portucalense, já que os seus chefes eram alternativamente intitulados Comite (conde), Dux (duque) ou Princeps (Príncipe).
Por uma questão de comodidade aludir-se-á, ao longo deste artigo, ao primeiro condado portucalense como Condado de Portucale, e ao segundo como Condado Portucalense, dado serem essas as expressões mais consagradas.
O nome do condado vem do topônimo Portucale, com o qual desde o século IX se designava uma cidade situada perto da foz do Douro, designada de Portus Cale, "Porto de Cale", formado pelo termo latino portus ("porto") e pelo grego kalós ("belo"), donde qualquer coisa como "Porto Belo".
Data assim desse período a expressão terra portucalense ou província portucalense para designar um território distinto que era limitado, ao norte, pela terra bracarense, e ao sul, pelo rio Vouga, e tinha por centro e cabeça a povoação de Portucale.
Quando da invasão muçulmana da península Ibérica, Portucale era já, desde a segunda metade do século VI, a sede da diocese Portucalense, situada na província da Galécia, subordinado ao bispo de Braga. Com a invasão, a diocese não sobreviveu, tendo sido restaurada apenas após a reconquista do Porto, em 868.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

BREVE HISTÓRIA DAS ORIGENS DE PORTUGAL - PARTE I

Pois, de repente, enquanto eu realizava uma pesquisa para descobrir as origens do nome da minha família paterna, Azambuja, sabendo que nascera em Portugal, comecei a meditar sobre as origens do país que acabou descobrindo este nosso Brasil. O que mais aguçava a minha curiosidade era conhecer as razões pelas quais Portugal e Espanha, repartindo a antiga Península Ibérica e falando línguas tão semelhantes, não constituíam um só país. Espero que esse artigo possa ajudar os leitores a entender as razões que fizeram de Portugal o que ele é hoje, principalmente no que se refere ao seu espaço físico, língua e etnia. Para que se tenha o quadro completo, a figura que segue mostra, à esquerda, a Península Ibérica nos dias atuais, com a localização de Portugal e Espanha, no contexto da Europa e limitando-se com a África, através do Estrito de Gibraltar. 
Dada a extensão do artigo, que foi de todas as formas reduzido, sem prejudicar a essência do que pretende o autor esclarecer, faremos a sua publicação em  três capítulos, dos quais este é o primeiro. Mas vamos à história.

BEM NO INÍCIO
Pensa-se que a Península Ibérica foi habitada, primordialmente, por povos autóctones – oriundo da própria terra onde se encontra, sem resultar de imigração ou importação - que vieram a ser conhecidos como Iberos. Entre eles estão os Tartessos, considerados pelos gregos como a primeira civilização do Ocidente.
Cerca de 1.000 AC, mas provavelmente ainda antes, a região passou a ser habitada por povos Indo-Europeus, de origem Celta que coexistiram com os povos Iberos, habitando regiões distintas da Península Ibérica. Na zona Leste da meseta Central, os povos Celtas mesclaram-se com os povos Iberos dando origem aos Celtiberos, que não se devem confundir com os Celtas Ibéricos (Celtas da Península Ibérica) que em Inglês se denominam de Celtiberians. Em vista disso, vários povos habitavam a Península Ibérica, divididos em três ramos étnico-culturais primordiais: Os Celtas Indo-Europeus, os Iberos de origem desconhecida e os Celtiberos que viviam na Meseta Central. Influências mínimas exerceram os Gregos e os Fenícios-Cartagineses com as suas pequenas colônias-feitorias comerciais costeiras semi-permanentes de grande importância estratégica. Estes últimos dois povos não contribuiram virtualmente para a ascendência dos povos da Península.

ROMANIZAÇÃO
Cartago é uma antiga cidade, originariamente uma colônia fenícia no norte da África, situada a leste do lago de Túnis, perto do centro de Túnis, na Tunísia. A figura ao lado mostra um mapa do Mar Mediterrâneo Ocidental, no ano 279 AC, indicando as posições relativas de Roma, Cartago (Cartagine) no Norte da África e da Ilha da Sicília (Siracusa), bem como da Península Ibérica.
Fundada por colonizadores fenícios de Tiro, que a substituiu no ocidente, foi uma potência na Antigüidade, disputando com Roma o controle do mar Mediterrâneo. Dessa disputa originaram-se as três Guerras Púnicas, após as quais Cartago foi destruída. A antiga capital púnica é hoje um bairro de Túnis e uma estação arqueológica e turística importante, tendo sido classificado patrimônio mundial pela UNESCO em 1979 (abaixo, ruínas de Cartago).
Entre os séculos V e III AC Cartago envolveu-se em freqüentes hostilidades com a Grécia e a Sicília. Foi nesta última que Cartago teve seu primeiro choque com Roma. A meio caminho entre estas duas antigas cidades e capitais de império encontra-se a Sicília. O controle desta ilha foi determinante no decorrer das Guerras Púnicas porque a Sicília era o "celeiro" do mundo antigo.
A invasão romana da península Ibérica iniciou-se no contexto da Segunda Guerra Púnica (218 AC-201 AC), quando as legiões romanas, sob o comando do cônsul Cneio Cornélio Cipião, para ali se movimentaram taticamente, a fim de atacar pela retaguarda os domínios de Cartago na região. De facto, a influência cartaginesa na península Ibérica permitia um expressivo reforço, tanto de suprimentos quanto de homens, a Cartago. A estratégia do Senado Romano visava, desse modo, enfraquecer as forças cartaginesas, afastando os seus exércitos da Península Itálica.
Vários combates cruentos foram travados entre Roma e Cartago, com altos e baixos até o ano de 205 AC quando, apesar de todos os seus esforços, Aníbal foi obrigado a pedir paz aos romanos comandados por Cipião, o Africano e Roma tornou-se a senhora de todo o sul da Hispânia, dos Pirineus a Algarve, na costa e, no interior, de Huesca ao sul até o rio Ebro; a partir daí iniciou-se a administração romana da península, inicialmente com o caráter de ocupação militar, com o fim de manutenção da ordem e de exploração dos recursos naturais das regiões ocupadas, doravante integradas ao território controlado pela República.
Ao final da Terceira Guerra Púnica, Cartago foi finalmente destruída por Cipião Emiliano, em 146 AC, sendo arrasada até os seus alicerces e seu solo salgado para que nele nada mais crescesse, tal o ódio que se havia criado entre as duas nações.

A RESISTÊNCIA
A derrota dos cartagineses, entretanto, não garantiu a ocupação pacífica da península, pelos romanos. A partir de 194 AC, registraram-se choques com tribos de nativos, denominados genericamente como Lusitanos, conflitos que se estenderam até 138 a.C., denominados por alguns autores como guerra lusitana. A disputa foi mais acesa pelos territórios mais prósperos, especialmente na região da atual Andaluzia.
Ao se iniciar a fase imperial romana, a pacificação de Augusto também se fez sentir na península Ibérica: a partir de 19 AC, as suas legiões ocuparam a região norte peninsular, mais inóspita. Com esta ocupação, asseguravam-se as fronteiras naturais e pacificava-se essa região mais atrasada, de modo a que não constituísse ameaça para as populações do vale do rio Ebro e da chamada Meseta, já em plena fase de Romanização.
Na península Ibérica a Romanização ocorreu concomitantemente com a conquista, tendo progredido desde a costa mediterrânica até ao interior e à costa do Oceano Atlântico. Para esse processo de aculturação foram determinantes a expansão do latim e a fundação de inúmeras cidades, tendo como agentes, em princípio, os legionários e os comerciantes.
Os primeiros, ao se miscigenarem com as populações nativas, constituíam famílias, fixando os seus usos e costumes, ao passo que os segundos iam condicionando a vida econômica, em termos de produção e consumo. Embora não se tenha constituído uma sociedade homogênea na península, durante os seis séculos de romanização registraram-se momentos de desenvolvimento mais ou menos acentuado, atenuando, sem dúvida, as diferenças étnicas do primitivo povoamento.
A língua latina acabou por se impor como língua oficial, funcionando como factor de ligação e de comunicação entre os vários povos. As povoações, até aí predominantemente nas montanhas, passaram a surgir nos vales ou planícies, habitando casas de tijolo cobertas com telhas. Como exemplo de cidades que surgiram com os Romanos, temos Braga (Bracara Augusta), Beja (Pax Julia), Conímbriga e Chaves (Aquae Flaviae).
A indústria desenvolveu-se, sobretudo a olaria, as minas, a tecelagem, as pedreiras, o que ajudou a desenvolver também o comércio, surgindo feiras e mercados, com a circulação da moeda e apoiado numa extensa rede viária (as famosas "calçadas romanas", de que ainda há muitos vestígios no presente) que ligava os principais centros de todo o Império. A influência romana fez-se sentir também na religião e nas manifestações artísticas. Tratou-se, pois, de uma influência profunda, sobretudo a sul, zona primeiramente conquistada. Finalizado o processo de conquista, a província foi integrada ao Império, dividida em três partes, administrativamente:
  • Tarraconense, ao norte e nordeste, até os Pirineus;
  • Bética, ao sul; e
  • Lusitânia, com capital em Emerita Augusta (atual Mérida), que se estendia entre os rios Douro e Guadiana.
Nesse artigo, descreveremos apenas a região da Lusitânia, pois que foi dela que, no que se refere à etnia e geograficamente, originou-se o povo e o país de Portugal. Entretanto, é bom que se frise, ao longo da história da Península Ibérica muitas novas e diferentes divisões ainda ocorrerriam antes da completa definição dos países que hoje a compõem.

A LUSITÂNIA
Lusitânia (em latim Lusitania) é o nome dado, na Antiguidade, ao território onde viveram os lusitanos. O nome passou a designar, após a conquista romana, uma província da Hispânia Ulterior.
O historiador e geógrafo grego Estrabão (entre 63 AC e 24 DC) descreveu a Lusitânia pré-romana, numa primeira análise, como indo desde o Tejo à costa cantábrica, tendo a Ocidente o Atlântico e a Oriente as terras de tribos célticas. Quando em 29 AC foi criada por Augusto a província Lusitânia, o limite ao norte passou a ser o rio Douro e ao sul ultrapassou o Tejo, anexando a Extremadura espanhola, Alentejo e Algarve; e a oriente ocupou parte das terras dos célticos.
Apesar de as fronteiras da Lusitânia não coincidirem perfeitamente com as de Portugal de hoje, os povos que aqui habitaram são uma das bases etnológicas dos portugueses do centro e sul e também dos extremenhos da Extremadura espanhola.
Muitos dos povos antigos que entraram na Península Ibérica deixaram no território da Lusitânia vestígios bem marcados dos contactos comerciais e de influência cultural. Nomeadamente e perfeitamente acentuados e reveladores de uma assimilação mais profunda, são os vestígios da ocupação romana e também os das invasões dos visigodos e dos árabes.
Viriato foi o grande líder lusitano que conseguiu conter a expansão romana durante alguns anos, fazendo com que fosse dos últimos territórios a resistir à ocupação romana da Península Ibérica. Não obstante, seria morto à traição (140 AC) por três companheiros de armas comprados pelos romanos. A partir daí, a romanização do território que viria a ser português prosseguiu sem maiores dificuldades para Roma.
Os Romanos deixaram um importante legado cultural naquilo que é hoje Portugal, nos costumes, na arte, na arquitetura, na rede viária e nas pontes, algumas das quais servem até aos nossos dias, como a de Trajano sobre o rio Tâmega em Chaves (Aquae Flaviae) ou a de Vila Formosa (Alter do Chão). Uma variante do Latim (Latim Vulgar) passou a ser o idioma dominante da região. Surgiram novas cidades e desenvolveram-se outras, segundo o modelo habitual de colonização romana. Em 74 DC o imperador Vespasiano concedeu o "direito latino" (equiparação aos municípios da Itália) a grande parte dos municípios da Lusitânia, datando dessa época um importante surto urbano. Difundiu-se também a cidadania romana, que viria a ser atribuída a todos os súditos (livres) do império pela chamada Constituição Antoniniana, ou édito de Caracala (212 DC). Durante o Império Romano o Cristianismo difundiu-se em toda a Hispânia, pelo menos a partir do século III.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

ROBIN HOOD E O CORAÇÃO DA ROSA - 4a (E ÚLTIMA ) PARTE

O MUSICAL 

The Heart of the Rose” começa com um prólogo montado no antigo santuário "The Heart of the Rose". Aqui, a antiga lenda de Eostre e Laan é reapresentada e, nesta, Eostre usa a sua mágica para ressuscitar o seu amado Laan. Como gratidão por seu renascimento e como um sinal de que ele sempre olhará pela terra, Laan modela um artefato na forma de cornos de cedro, da madeira de uma árvore sagrada situada no centro do bosque.
A história de Robin e Marian começa muitos séculos mais tarde, durante a Idade Média e o reinado de Edward II. A Inglaterra é próspera e o Conde de Lancaster permite que a velha religião continue em Nottingham. A primeira cena é o tradicional festival do 'Dia de Maio' e dispostos na praça da cidade estão os cornos sagrados, uma vez fabricados pelo próprio Laan. Durante o festival Robin encontra Marian pela primeira vez e os dois se apaixonam. Juntos, eles são coroados rei e rainha de maio – as representações da deusa e do deus Eostre e Laan. A meia-irmã de Marian, Elizabeth, já apaixonada por Robin, lhe jura vingança. Convencida de que a velha religião a traiu, a amargurada Elizabeth rouba os chifres, crendo que sem a sua proteção a velha religião cairia e que Robin e Marian cairiam com ela. Ela deixa a cidade e entra para a Igreja, fazendo os votos como freira.
Pouco tempo depois a fome estende-se por toda a terra. Quando o apelo de Lancaster ao rei, para abolir as taxações inviáveis para a situação, cai em ouvidos surdos, ele lidera uma revolução. Contudo, o seu braço direito, Henry de Facombery, o trai, entregando os planos de batalha ao rei; e o exército rebelde é emboscado e derrotado. Lancaster é morto e Robin, seu capitão, é mortalmente ferido. Marian leva Robin ao santuário “The Heart of the Rose”, no meio da floresta de Sherwood, onde ele é miraculosamente curado. Quando os rebeldes sobreviventes vêm que Marian salvou Robin das mãos da morte, eles ficam convencidos de que o par é verdadeiramente a reencarnação de Eostre e Laan. Crendo que eles são agora conduzidos por seu velho deus, os fora-da-lei espontaneamente concordam em seguir Robin em seu empenho contra a opressão.
Aceitando esse papel, Robin organiza os rebeldes numa efetiva força de luta e começa a roubar os ricos para alimentar os pobres. Inevitavelmente, os fora-da-lei entram em conflito com o novo Sheriff de Nottingham, Henry de Facombery, que vai, ao final, vingar-se de Robin assassinando Marian. Embora Robin finalmente mate o Sheriff num duelo e seja perdoado pelo Rei, sem Marian ele é um homem alquebrado. Ele não possui mais uma causa pela qual lutar e a sua fé em seu destino foi-se. Por muitos anos ele vive só na floresta até que adoece e é conduzido por Little John à abadia onde Elizabeth é agora a abadessa. Desavisado do ódio e traição de Elizabeth, Robin é secretamente envenenado por sua cunhada. Durante a sua morte, Elizabeth mostra-lhe os chifres sagrados que roubou muitos anos atrás. Ainda amarga, conta-lhe que foi ela a responsável pela morte de Marian e pela queda da velha religião. Quando ela permite a Robin segurar os chifres pela última vez, longe de deixar o mundo como um homem alquebrado e deprimido, sua fé miraculosamente retorna. Ele sabe que, como a personificação de Laan, sua vida inspirará outros das gerações vindouras. Embora Robin morra e seja enterrado por Little John no “Heart of the Rose”, ele permanece unido à Marian, em espírito, e sua lenda perdurará para sempre.

Como vêm, uma linda mistura da história com a lenda, colocada em música maravilhosa. E de repente, não se tem mais certeza do que é lenda ou realidade, ou se ambas são apenas uma coisa só, aquilo que desejamos que seja ...
E para que os leitores possam bem acompanhar essa belíssima interpretação do ‘Air Supply’, segue, para fechar o artigo, a letra da música e a correspondente tradução.


Heart Of The Rose                   Coração da Rosa

Air Supply                                                 Air Supply



A long time ago, from the valley of the sun                   Há muito tempo atrás, do vale do sol,
Came the holy power,                                                  Chegou o poder sagrado.
When the gods were one                                              Quando os deuses eram um,
Searching for a new home,                                           Procurando por um novo lar,
Searching for this land                                                 Procurando por esta terra,
Guided by the stars, and a vision they had seen            Guiado pelas estrelas e uma visão que tinham tido.
The pillars of the temple,                                             Os pilares do templo
In these hills of green                                                  Nessas verdes Colinas,
Buried deep inside for only us to find                            Profundamente enterradas para que apenas nós os encontrássemos



(Chorus)                                                                      (Coro)
It is the roar of the wind,                                             É o rugido do vento,
The power of the sun                                                   O poder do sol,
The strength of a thousand bows                                  A energia de mil arcos.
And those who near it again, will fear it again               E aqueles que dele se reaproximarem, teme-lo-ão novamente.
And it's here in the heart of the rose                             E é aqui, no coração da rosa.
Painted in the sky was the moment to awake                Pintado no céu era o momento de acordar.
All that lay within you,                                                 Tudo o que existe dentro de você,
As this dawn should break                                            Quando esta aurora deve romper,
With this force awoken, none can stand before             Com esta força desperta, ninguém pode permanecer adiante.
This is the hour, now is the time                                  Esta é a hora, agora é o momento.
Driven by the purest love, I give you mine                    Guiado pelo amor mais puro, eu lhe dou o meu.
All that we must be, is everything we see                     Tudo o que devemos ser, é tudo o que vemos


(Chorus)                                                                     (Coro)
Our love, has brought us both together                         Nosso amor fez o nosso encontro
And it's our love that will go on forever                         E é o nosso amor que durará para sempre.
There is no love that can become as one                       Não há amor que possa tornar-se um só,
Before it's time                                                            Antes que seja tempo.


(Chorus)                                                                      (Coro)
It is the trees in the earth,                                           São as árvores na terra,
It is the rivers that run                                                São os rios que correm.
And through us this secret flows                                   E através de nós esse segredo flui.
And now our destiny calls,                                            E agora nosso destino chama .
You'll remember it all                                                   Você se lembrará de tudo.
Our love for the heart of the rose                                 Nosso amor pelo coração da rosa.