Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

terça-feira, 29 de março de 2011

UMA PEQUENA HISTÓRIA DA INGLATERRA CONTADA POR UM GAÚCHO DE PORTO ALEGRE, DESCENDENTE DE PORTUGUESES E RESIDENTE EM GRAMADO - A HISTÓRIA PROPRIAMENTE DITA (5) (Décima Terceira Parte)

II - OS ROMANOS NA GREAT BRITAIN - 43 DC – 410 DC

Introdução
Chamamos de Britain Romana, a parte da Great Britain controlada pelo Império Romano entre 43 DC e 410 DC, à qual os próprios romanos se referiam como Britannia. A conquista romana que iniciou em 43 DC, ilustra o profundo impacto cultural e político que pequenos números de pessoas podem proporcionar em algumas circunstâncias, já que os romanos não colonizaram as ilhas da Britain de forma significativa. Para uma população em torno de três milhões, seus exércitos, administração e aventureiros políticos adicionaram apenas uns poucos por cento.
As cidades e vilas da província foram, predominantemente, construídas por pessoas nativas adotando a nova cultura internacional do poder. A civilização greco-romana deslocou a cultura ‘celta’ da Europa da Idade do Ferro. Esses ilhéus, realmente, tornaram-se romanos, tanto cultural quanto legalmente (a cidadania romana era mais um status político do que uma identidade étnica). Pelo ano 300 DC, quase todos eram romanos na ‘Britannia’, legal e culturalmente, embora de descendência indígena, ainda a maioria falando dialetos ‘celtas'. O governo romano viu uma alteração cultural profunda, mas, enfaticamente, sem qualquer emigração de massa.
Antes da invasão romana, conforme vimos, a Idade do Ferro Britain já possuía laços culturais e econômicos com a Europa Continental, mas os invasores introduziram novos desenvolvimentos na agricultura, urbanização, indústria e arquitetura, deixando um legado ainda hoje aparente. Registros históricos, após a invasão inicial, eram esparsos, embora muitos historiadores romanos mencionassem, de passagem, a Britannia e os nomes de muitos de seus governadores fossem conhecidos. A maior parte do conhecimento da Britain Romana vem de investigações arqueológicas e, especialmente, de evidência epigráfica. Com a conquista romana surgiram os primeiros registros históricos da história da England.

A Invasão Romana
Como já mencionado, Julius Caesar havia visitado a England, em 55 e 54 AC¸ mas apenas para agradar ao seu público em Roma, como propaganda política (desde aquela época já utilizada). Realmente, em 43 DC o Imperador Claudius retornou ao trabalho de Julius Caesar, ordenando a invasão da England, sob o comando de Aulus Plautius. Não se sabe quantas legiões romanas foram enviadas; diretamente atestado, apenas a legião ‘II Augusta’, comandada pelo futuro imperador Vespasiano, tomou parte na invasão. Os romanos velejaram em três divisões e, provavelmente, desembarcaram em Richborough, Kent, embora alguns sugiram que pelo menos parte da invasão desembarcou na costa sul, na área de Fishbourne, West Sussex.
Os romanos derrotaram os Catuvelaunni e seus aliados em duas batalhas: no rio Medway e no Thames, onde teria morrido Togodumnus, um de seus líderes. Plautius suspendeu a campanha no Thames e pediu ajuda a Claudius que chegou com reforços, incluindo artilharia e elefantes, para a marcha final sobre Camulodunum - nome romano para o antigo assentamento hoje conhecido por Colchester, cidade do condado de Essex), - a capital dos Catuvelaunni.

Camulodonum, atual Colchester, próximo do estuário do Thames. entrada natural dos invasores romanos
O Estabelecimento do Governo Romano
Os romanos rapidamente estabeleceram controle sobre as tribos do sudeste da England. O chefe da tribo British Catuvellauni, Caractacus, irmão de Togodumnus, inicialmente fugiu de Camulodunum para o sul de Wales, onde esboçou alguma resistência, até a sua derrota e captura em 51 DC. Afirma-se que Camulodunum é a cidade mais velha na Britain, como registrada pelos romanos, tornando-se, posteriormente, a primeira cidade romana. De fato existe evidência arqueológica de assentamento de 3.000 anos atrás. Caractacus foi posteriormente enviado para Roma, onde fez amizades nos altos escalões, sendo finalmente libertado em reconhecimento por sua coragem e acabou morrendo em Roma. A resistência ao domínio romano continuou em Wales, particularmente inspirada pelos Druidas, chefes religiosos dos povos celtas nativos.
Por dez anos a England permaneceu calma, até a morte de Prasutagus, o rei da tribo Iceni. Boudicca, sua rainha, incomodada por ter suas terras tomadas e suas duas filhas violentadas pelos romanos, optou por uma ação afirmativa ao invés de uma abordagem diplomática. Sob a liderança de Boudicca, os Iceni, com os seus vizinhos do sul, os Trinovantes, se revoltaram, incendiando até as bases as cidades de Londinium (London), Verulamium (St. Albans) e Camulodunum (Colchester). Boudicca envenenou-se após seu exército ter sido virtualmente aniquilado pelas legiões romanas que retornavam do norte de Wales, após nova tentativa para subjugar os Druidas, em Anglesey.
Durante os anos 70’ e 80’ os romanos, sob o comando de Gnaeus Julius Agricola, estenderam seu controle ao norte e oeste da England, com legiões localizadas em York (ao norte), Chester e Caerleon (a oeste) marcando os limites da ‘Zona Civil’. Agricola ainda moveu-se em direção ao norte, derrotando as tribos Caledonian, sob a liderança de Calgacus, na batalha de Mons Graupius, ao norte da Scotland, mas gradualmente desistiu de suas conquistas na região.
Por muito tempo da história da Britain romana, um grande número de soldados formou a guarnição da ilha, fazendo com que os Imperadores colocassem um militar sênior como governador da província. Como resultado, muitos futuros imperadores romanos serviram antes como governadores ou embaixadores nessa província, incluindo Vespasiano, Pertinax e Gordian I.

Ruínas de teatro romano em Verulamium, atual St. Albans, Hertfordshire, Great Britain
 Não há fonte histórica descrevendo as décadas que se seguiram à retirada de Agricola, incluindo o nome do seu substituto. A arqueologia tem mostrado que alguns fortes romanos ao sul do istmo do Forth-Clyde foram reconstruídos e aumentados, embora outros tenham sido abandonados. Moedas e cerâmica romanas circularam em assentamentos nativos nas Lowlands scottish antes de 100 DC, indicando a crescente romanização. Contudo, em torno de 105 DC parece ter havido um sério recuo por conta dos Picts: vários fortes foram destruídos pelo fogo, indicando hostilidades nas áreas do sudeste da Scotland, embora os próprios romanos tivessem o hábito de destruir seus fortes durante retiradas ordenadas para negar recursos ao inimigo.
Ao visitar a Britannia, cerca de 120 DC, o Imperador Adriano dirigiu a construção de uma extensa muralha de defesa, conhecida como Muralha de Adriano, com comprimento de cerca 130 km, de Newcastle, na costa leste, a Carlisle, na costa oeste, projetada para marcar os limites do Império Romano. Ruínas desta muralha podem ser vistas até hoje.
Quando Adriano morreu em 138 DC, seu sucessor Antonius Pius (138-161 DC) abandonou a recém completada muralha e fez uma nova investida em direção ao norte, estabelecendo uma nova fronteira através da Muralha Antonina, construída entre as foz do rio Forth e do rio Clyde, na Scotland. Em torno de 160 DC a Muralha Antonina foi abandonada e a Muralha de Adriano novamente tornou-se o limite norte do Império Romano na Britain. Entretanto, os romanos não abandonaram totalmente a Scotland por essa época, mantendo um grande forte em Newstead com sete postos avançados menores, pelo menos até 180 DC. Enorme quantidade de prata romana foi encontrada na Scotland, a sugerir mais do que um comércio comum, sendo provável que os romanos estivessem reforçando acordos formais, pagando tributo aos seus implacáveis inimigos, os Picts.
Em 175 DC uma grande força de 5.500 homens de cavalaria da Sarmácia (atual Irã) chegou à Britannia, provavelmente para reforçar tropas lutando contra revoltas sem registro. Em 180 DC a Muralha de Adriano foi rompida pelos Picts e nessa batalha, morto o oficial comandante ou governador da Província.

Localização das Muralhas de Adriano e Antonina na Great Britain
 Ulpius Marcellus foi enviado como governador substituto e pelo ano 184 conseguiu uma nova paz, para enfrentar um motim de suas próprias tropas. Descontentes com a inflexibilidade de Marcellus, eles tentaram eleger um conselheiro chamado Priscus, como governador usurpador; ele recusou, e Marcellus deu-se por muito feliz por deixar a província com vida.

Ruínas da Muralha de Adriano na Great Britain atual
 O futuro imperador Pertinax foi enviado à Britannia para dominar o motim e teve sucesso, inicialmente. Contudo, um levante eclodiu entre as tropas e Pertinax foi atacado e deixado como morto. Enviado a Roma sucedeu, por breve período, a Commodus, como imperador, em 192 DC.
Os romanos nunca tiveram sucesso em subjugar totalmente a Britain, tendo sempre que manter uma presença militar significativa para controlar a ameaça das tribos não conquistadas. Mas a maior parte dos habitantes acatou a disciplina e a ordem romana. Cidades apareceram pela primeira vez na Great Britain, que incluíam York, Chester, St. Albans, Bath, Lincoln, Gloucester e Colchester. Todos esses centros maiores ainda encontram-se ligados pelo sistema romano de estradas militares, irradiando do grande porto de London, que também permitiam a distribuição de supérfluos romanos, como condimentos, vinhos, vidros etc., trazidos de outras regiões do império. É provável que a ‘romanização’ da Britain tenha afetado principalmente a aristocracia, que teria aumentado o seu ‘status’ adotando a forma e as práticas romanas, como por exemplo, o banho regular. A grande maioria da ‘populaça’ teria permanecido intocada pela civilização romana, vivendo da terra e ganhando a vida com dificuldade.

quinta-feira, 24 de março de 2011

UMA PEQUENA HISTÓRIA DA INGLATERRA CONTADA POR UM GAÚCHO DE PORTO ALEGRE, DESCENDENTE DE PORTUGUESES E RESIDENTE EM GRAMADO - A HISTÓRIA PROPRIAMENTE DITA (4) (Duodécima Parte)

Antes de Roma: Os Celtas
Ao final da Idade do Ferro (os últimos 700 anos AC) encontramos nossas primeiras testemunhas oculares da Britain, através de autores Greco-romanos, incluindo Julius Caesar, que a invadiu em 55 e 54 AC. Essas revelam um mosaico de povos distintos mas há pouco indício de que tais grupos tivessem algum senso de identidade coletiva mais apurado do que os ilhéus do ano 100 DC, que se consideravam ‘Britons’. Contudo, há algo em que romanos, modernos arqueólogos e os próprios ilhéus da Idade do Ferro, concordariam: eles não eram celtas. Esta foi uma invenção do século XVIII; o nome nunca foi usado antes. A ideia veio da descoberta, cerca de 1700 DC, de que as línguas não inglesas da Ilha, se relacionam à     dos antigos Gauleses do continente, que realmente eram chamados Celtas. Este antigo rótulo étnico continental foi aplicado à mais ampla família das línguas. Mas ‘Celtic’ logo foi estendida para descrever monumentos, arte, cultura e povos insulares, antigos e modernos: a identidade ‘celtic’ nasceu, como ‘britishness’, no século XVIII. Contudo, a linguagem não determina etnicidade (o que faria os modernos ilhéus ‘Germans’, uma vez que a maioria deles fala inglês, classificada como língua ‘germanic’). De qualquer forma, ninguém sabe como ou quando as línguas que escolhemos chamar ‘celtic’, chegaram no arquipélago – elas já estavam estabelecidas há muito e tinham se diversificado em várias línguas quando nossa evidência começou. Certamente, não há razão para ligar a vinda da língua ‘celtic’ com qualquer grande ‘invasão celtic’ da Europa durante a Idade do Ferro porque não há qualquer forte evidência a sugerir que tivesse existido alguma. Os arqueólogos concordam plenamente sobre duas coisas na Idade do Ferro British: suas muitas culturas regionais se desenvolveram a partir da Idade do Bronze local precedente e não derivaram de ondas de invasores continentais ‘celtas’; em segundo lugar, chamar a Idade do Ferro British ‘celtic’ é tão enganoso que é melhor abandonar. Certamente há importantes semelhanças e conexões culturais entre Britain, Ireland e Europa continental, que refletem contatos íntimos e, sem dúvida, o movimento de algumas pessoas, mas o mesmo poderia ser dito para vários outros períodos da história. As coisas que rotulamos como ícones ‘celtas’ – tais como fortes de colina, arte, armas e joias – eram muito mais relacionadas a aspectos aristocráticos, políticos, militares e religiosos do que à etnia comum.

A Crescente Influência Romana

Pelo final do segundo século AC a influência romana passou a estender-se ao Mediterrâneo ocidental e sul da França, o que causou o crescente contato entre a Britain e o mundo romano através do English Channel (Canal da Mancha). Esse contato foi inicialmente confinado ao comércio de pequenas quantidades de bens supérfluos romanos, como vinho, provavelmente cambiados por escravos, minerais e grãos, através de locais como Hengistbury Head, em Dorset e Mount Batten, próximo de Plymouth, em Devon. Após 50 AC e a conquista da Gaul (França moderna) por Julius Caesar, esse comércio intensificou e focou o sudeste da England.
Além de relações comerciais intensas, parece que Roma estabeleceu relações diplomáticas com um bom número de tribos e pode ter exercido considerável influência política antes da conquista romana da England no ano 43 DC. No mesmo tempo, novos tipos de grandes assentamentos chamados ‘oppida’ apareceram ao sul da Britain, aparentemente para atuar como centros políticos, econômicos e religiosos. Outros apareceram como centros de produção de moedas da Idade do Ferro, que muitas vezes deram os nomes dos governantes, alguns se autodenominando ‘rex’, em latim, para ‘rei’.
Após 43 DC, todo o Wales e England, ao sul da linha da Muralha de Hadrian, tornou-se parte do império romano. Além dessa linha, na Scotland e Ireland, a Idade do Ferro e suas tradições permaneceram, com ocasionais incursões romanas na Scotland e algum comércio com a Ireland.

Tribos Nativas da Britain
As Ilhas British e as regiões tribais no primeiro século DC

Regiões Tribais Chaves

01: Caledones (Caledonii);
02: Taexali; 03: Carvetii; 04: Venicones; 05: Epidii; 06: Damnonii; 07: Novantae; 08: Selgovae; 09: Votadini; 10: Brigantes; 11: Parisi; 12: Cornovii; 13: Deceangli; 14: Ordovices; 15: Corieltauvi; 16: Iceni; 17: Demetae; 18: Catuvellauni; 19: Silures; 20: Dubunni; 21: Dumnonii; 22: Durotriges; 23: Belgae; 24: Atrebates; 25: Regni; 26: Cantiaci; 27: Trinovantes.

O mapa acima mostra a localização aproximada das principais tribos que viviam na Britain ao tempo da conquista romana, no primeiro século DC, unicamente de acordo com escritores romanos que visitaram a Britain. Um dos melhores observadores das tribos da Britain celta foi Tacitus, que escreveu sobre eventos hstóricos na Britain, seguido de um geógrafo chamado Ptolemy, que fez uma descrição da Britain, listando os nomes das muitas tribos british. Contudo, devemos tratar estes escritos com cuidado, pois os cronistas romanos muitas vezes mal entendiam os eventos british ou mesmo os nomes das tribos. Isso é especialmente verdade no que se refere às suas descrições de tribos ao norte, onde o conhecimento dos romanos era ainda mais limitado. De fato, uma informação precisa sobre onde essas tribos viviam, é inteiramente ausente de registros romanos contemporâneos.

sábado, 19 de março de 2011

UMA PEQUENA HISTÓRIA DA INGLATERRA CONTADA POR UM GAÚCHO DE PORTO ALEGRE, DESCENDENTE DE PORTUGUESES E RESIDENTE EM GRAMADO - A HISTÓRIA PROPRIAMENTE DITA (3) (Undécima Parte)

A Idade do Bronze
O início da Idade do Bronze (2.500 – 1.500 AC) viu a produção regular de um trabalho de metal mais sofisticado, consistindo principalmente de machados, adagas e pontas de lança conectadas à haste por um pino. Os primeiros bronzes aparecem na Britain nos séculos imediatamente antes de 2.500 AC, que é, usualmente, aceito como o início da Idade do Bronze. Embora a aparência do metal marque um importante desenvolvimento tecnológico, especialmente no controle do fogo, ela não traz uma grande mudança na forma como as pessoas viviam no início da Idade do Bronze. “Henges”, por exemplo, continuam em uso, mas os túmulos comunitários maiores, tais como os túmulos longos e os de passagem são substituídos por túmulos redondos menores. Muitos desses continham um sepulcro inicial ou primário, muitas vezes de um importante homem ou mulher, que poderia ser enterrado com uma cerâmica distintiva e altamente decorada, junto com trabalhos de bronze ou estanho, como adagas ou machados. Algumas vezes os corpos eram adornados com anéis, braceletes e brincos de ouro. Esses locais eram, claramente, importantes locais de reunião de pessoas e eram cuidadosamente situados na paisagem, ou para serem vistos por uma vasta área ou para marcar o início ou fim do território de uma comunidade. As casas no início da Idade do Bronze eram normalmente redondas com um telhado cônico e uma entrada simples.

Mudança acelerada
A Média Idade do Bronze (1.500 – 1.250 AC) marca um importante período de alteração, crescimento e, provavelmente, também de expansão da população. Houve uma alteração importante na prática de sepultamento, do enterro em túmulos para a cremação em grandes cemitérios abertos, onde as cinzas eram colocadas em urnas de cerâmica, especialmente preparadas. Os assentamentos consistiam em casas redondas, muitas vezes agrupadas, possivelmente para defesa, mas também porque as pessoas preferiam viver próximas umas das outras. Durante este período são encontrados números crescentes de amontoados de trabalhos em metal, com centenas de pontas de lanças, machados e adagas colocados no solo, muitas vezes em um local úmido ou alagado, prática que prosseguiria através de toda a Idade do Ferro. A média Idade do Bronze também vê os primeiros sistemas campesinos, indicando uma crescente pressão sobre a terra á medida que o número de pessoas e animais crescia.
O final da Idade do Bronze é marcado pela chegada de novos estilos de trabalhos em metal e cerâmica, permanecendo invariável nos outros aspectos. A cavalgada tornou-se mais popular e as espadas eram projetadas como armas de corte. As casas eram ainda redondas, padrão que penetraria a Idade do Ferro, mas as primeiras casas retangulares começam a surgir. Os sistemas campesinos da média Idade do Bronze continuaram em uso e foram aumentados. Nas terras altas da Britain, o final da Idade do Bronze assistiu à construção dos primeiros fortes de colina e o início do chamado modo de vida ‘Celtic’.

Idade do Ferro, 800 AC – 43 DC
Crescimento e Desenvolvimento
A idade do ferro assistiu à gradual introdução da tecnologia do trabalho com ferro, embora a adoção generalizada de artefatos de ferro não tenha ocorrido até o período de 500 a 400 AC. À medida que a Idade do Ferro progredia pelo primeiro milênio AC, fortes grupos regionais emergiam, refletidos no estilo da cerâmica, objetos de metal e tipos de assentamentos. Em algumas áreas, estados tribais e reinos surgiram ao final do primeiro século AC.
Estudos antigos da Idade do Ferro British, tendiam a ver as invasões estrangeiras como sendo responsáveis pelas alterações em larga escala que tiveram lugar durante este período. Pesquisa moderna tem encontrado pouca evidência que apoie essas teorias e a ênfase mudou, principalmente, em direção a alterações econômicas e sociais nativas. Contudo, a arqueologia demonstra que os contatos de comércio e permuta, entre a Britain e o continente europeu, prosseguiram através de toda a Idade do Ferro.
A inovação tecnológica cresceu durante a Idade do Ferro, especialmente em direção ao final do período. Alguns dos maiores avanços incluíram a introdução do torno de oleiro (principalmente no sudeste da England), do torno mecânico (usado para trabalho com madeira e manufatura de objetos de xisto) e o moinho para moer grãos.
A população da Britain cresceu substancialmente durante a Idade do Ferro e provavelmente excedeu o milhão, parcialmente causado, esse crescimento, pela introdução de novas culturas, incluindo variedades melhoradas de cevada e trigo e plantações crescentes de ervilhas, feijão, linho e outras culturas. Técnicas de cultivo melhoradas e a introdução do arado de ferro forjado tornaram possível o cultivo de pesados solos argilosos.

Os Fortes de Colina

Os mais conhecidos e visíveis vestígios da Idade do Ferro são os fortes de colina. Cerca de 3.000 exemplos são conhecidos por todas as ilhas britânicas, variando em tamanho, desde pequenos muros fechados com menos de um hectare, a locais enormes, com múltiplos fossos, como o Castelo Maiden, em Dorset e o Old Oswestry em Shropshire. A função e forma desses monumentos variou, enormemente, com o tempo. Os primeiros exemplos datam do final da Idade do Bronze e início da Idade do Ferro (900 a 600 AC) e mostram pequena evidência de assentamento permanente, mas sim para reuniões sazonais, talvez para atividades comerciais ou religiosas, com a função adicional de centro de abastecimento para a comunidade mais ampla. Pelo ano 450 AC, muitos desses fortes ficaram fora de uso; os que sobreviveram ficaram sujeitos a fases importantes de reconstrução, muitas vezes com múltiplas barreiras e valas, entradas muito complexas e uma clara evidência de uma grande e permanente população.
A escavação de Danebury, em Hampshire, revelou, em considerável detalhe, o desenvolvimento de um forte do oitavo século AC, até o seu abandono, no primeiro século AC. Em torno de 450 AC, Danebury começa a se transformar em um assentamento maior e planejado, com zonas para armazenamento de alimentos, processamento das colheitas, habitações domésticas e mesmo prédios religiosos. Os artefatos recuperados mostram a perícia e diversidade dos ferreiros, ceramistas e outros “especialistas” da Idade do Ferro.
Em algumas partes do sul da Britain, os fortes de colina foram abandonados em torno de 100 AC, sem razões totalmente entendidas, mas talvez devido à emergência de estados tribais mais centralizados. Na Britain oeste e norte e Ireland, os fortes de colina continuaram a ser ocupados e ainda possuíam um importante papel na vida diária ao tempo da conquista romana no ano de 43 DC.
Afora os fortes de colina, a maioria dos assentamentos da Idade do Ferro era pequena e, possivelmente, abrigava simples famílias estendidas. Esses sítios individuais eram colocados dentro de paisagens de campos e trilhas muito extensas e ordenadas. Muitos eram cercados por barreiras e valas, embora fossem raramente largas o suficiente para serem consideradas como defensivas. Dois bons exemplos foram escavados ao sul da England, em Little Woodbury, Wiltshire e Gussage All Saints, em Dorset. A construção padrão da Idade do Ferro era a casa redonda, feita de madeira ou pedra, com um telhado de turfa, dependendo localmente do material disponível. Exemplos bem preservados em pedra ainda sobrevivem como baixas paredes circulares com entradas amplas, em muitas áreas altas das Ilhas British. As plataformas em nível para casas de madeira ainda sobrevivem dentro de fortes de colina não arados, tais como Hod Hill, em Dorset, British Camp, em Herefordshire e Braidwood, em Lothian. Em bordas de charcos e lagos, assentamentos conhecidos como ‘crannogs’ também foram encontrados. Eram ilhas artificiais construídas de pedra e madeira e podem ter sido localizadas por suas qualidades defensivas. Assentamentos abertos também são conhecidos, variando de uma só ou pequenos grupos de cabanas circulares a grandes assentamentos tipo vilas. As últimas são especialmente comuns a leste da England, por exemplo em Little Waltham, Essex.
As práticas de sepultamento na Britain da Idade do Ferro variavam grandemente, sendo raras em algumas regiões, como no sul da England, com apenas um pequeno número de enterros adultos, descobertos em poços em fortes de colina e outros assentamentos. Descobertas de ossos humanos fragmentários em muitos locais conduziram à sugestão de que a maioria da população nessa região era descartada pela exposição deliberada do cadáver. No sudoeste e oeste, os corpos eram muitas vezes enterrados em pequenos caixões de pedra, conhecidos como ‘cistas’. Os mais notáveis de todos eram os ‘bog bodies’ (corpos de brejos), exemplos dos quais são conhecidos por todas as Ilhas British e norte da Europa. A colocação desses indivíduos em locais úmidos pode também indicar uma relação com práticas rituais pré-históricas de depositar trabalhos de metal em rios, lagos e brejos. Tais locais têm produzido alguns dos mais perfeitos trabalhos de metal da Idade do Ferro nas Ilhas British, incluindo: o Elmo de Waterloo e o Escudo de Battersea, ambos do Rio Thames; o amontoado de Llyn Cerig Bach, de um brejo em Anglesey, North Wales; e a tocha de ouro de um brejo em Clonmacnoise, Ireland. Os ferreiros de bronze e ouro nativos produziram itens de alta qualidade, indicando contato próximo com seus contrapartidas do continente. A primeira cunhagem na Britain apareceu ao final do segundo século AC e pelo ano 20 AC moedas foram encontradas por todo o sudeste da England. O uso de moedas nunca se estendeu para o norte e oeste da Britain ou Ireland durante este período.

segunda-feira, 7 de março de 2011

UMA PEQUENA HISTÓRIA DA INGLATERRA CONTADA POR UM GAÚCHO DE PORTO ALEGRE, DESCENDENTE DE PORTUGUESES E RESIDENTE EM GRAMADO - A HISTÓRIA PROPRIAMENTE DITA (2) (Décima Parte)

Os povos da Britain - Introdução 
A história da Britain primitiva tem, tradicionalmente, sido contada em termos de ondas de invasores que deslocavam ou aniquilavam seus predecessores. A arqueologia sugere que esse quadro está fundamentalmente errado. Por mais de 10.000 anos os povos se movimentaram, entrando e saindo da Britain, algumas vezes em números significativos; contudo, sempre existiu uma continuidade básica de população. A comunhão de genes da ilha alterou-se mais lentamente e, de longe, menos completamente do que se deduziu pelo “modelo de invasão”; e a noção de migrações em grande escala, uma vez a explicação chave para as mudanças na Britain primitiva, tem sido amplamente desacreditada. Uma continuidade genética substancial da população não impede desvios na cultura e identidade. É de fato bastante comum observar alterações culturais importantes, incluindo a adoção de identidades totalmente novas, com pouca ou nenhuma alteração biológica para uma população. Milhões de pessoas desde os tempos romanos têm pensado em si próprios como britânicos (British), por exemplo, embora essa identidade somente tenha sido criada em 1707, com a união de Inglaterra, País de Gales e Escócia. Antes dos tempos romanos, “Britain” era apenas uma entidade geográfica sem significado político e sem identidade cultural. Compreensivelmente, isso permaneceu verdadeiro até o século XVII quando James I da Inglaterra e VI da Escócia pensou em estabelecer uma pan-monarquia britânica. Durante toda a história registrada, a ilha tinha consistido de múltiplos grupos e identidades culturais. Muitos desses agrupamentos procuraram fora, através dos mares, por suas conexões mais próximas – eles não se conectavam, necessariamente, de forma natural, com seus companheiros ilhéus, muitos dos quais eram mais difíceis de alcançar do que os vizinhos marítimos na Irlanda ou na Europa continental. Em consequência, não faz sentido olhar para a “Britain” isoladamente; é preciso considerá-la com a Irlanda, como parte do mais amplo “Arquipélago Atlântico”, mais próxima da Europa continental e com a Escandinávia, parte do mundo do Mar do Norte.

Primeiros povos
Da chegada dos primeiros humanos modernos – que eram caçadores-coletores, seguindo a retração do gelo da Era Glacial em direção ao norte – ao início da história registrada vai um período de cerca de 100 séculos ou 400 gerações. Este é um vasto período de tempo e sabemos muito pouco sobre o que aconteceu naqueles anos; é mesmo muito difícil responder à questão “Quem foram os povos originais da ‘Britain’?”, porque eles não deixaram qualquer registro sobre si próprios. Podemos, entretanto, dizer que, biologicamente, eles eram parte da população Caucasóide da Europa. Os estereótipos físicos regionais, familiares a nós, - hoje um padrão amplamente visto como resultado das invasões pós-romanas, Anglo-Saxônica e Viking (povos de cabelos avermelhados na Escócia, pequenos e de cabelos escuros no País de Gales e cabelos loiros e escorridos ao sul da Inglaterra), já existiam nos tempos romanos. Na medida em que representam a realidade, eles talvez provem o povoamento da “Britain” após a Era Glacial, ou os primeiros fazendeiros de 6.000 anos atrás. Desde muito cedo, as limitações e oportunidades dos ambientes variados das ilhas da Bretanha encorajaram uma grande diversidade regional de cultura. Através da pré-história houve uma miríade de sociedades em pequena escala e muitas identidades tribais insignificantes, que duravam não mais do que pequenas gerações antes de se cindirem, fundirem ou serem eliminadas. Esses grupos estavam em contato e conflito com seus vizinhos e, algumas vezes, com grupos mais distantes – a aparência de objetos importados exóticos atestam intercâmbios, alianças e laços de similaridade e guerras.

Revolução neolítica?
A mudança de um sistema de vida caçador-coletor para fazendeiro é o que define o início da Era Neolítica ou Nova Idade da Pedra. Na Britain, o período precedente às últimas sociedades caçadoras-coletoras do pós glacial, é conhecido como Mesolítico ou Média Idade da Pedra. Costumava-se acreditar que a introdução da cultura na Bretanha havia sido resultado de uma enorme migração ou movimento de população através do Canal da Mancha (British Channel). Hoje, estudos de DNA sugerem que o influxo de novas populações foi, provavelmente, muito pequeno – alguma coisa em torno de 20% da população total foi imigrante. Assim, a maioria dos primeiros fazendeiros foi, provavelmente, gente do Mesolítico que adotou a nova forma de vida e levou-a com eles para outras partes da Britain, o que não foi uma mudança rápida – a cultura demorou cerca de 2.000 anos para se difundir por todas as partes das Ilhas Britânicas. Não foi, portanto, uma “revolução Neolítica”, mas uma transição relativamente gradual. Sabemos, por exemplo, que os caçadores do Mesolítico administravam ou zelavam por sua caça. Eles faziam clareiras nas matas em torno de água potável, esforçando-se para que as manadas de veados e outros animais que caçavam não fossem sobre exploradas. Tampouco a mudança, de caça administrada para cultura pastoral, foi uma brusca alteração. Os primeiros fazendeiros trouxeram os ancestrais de gado, ovelha e carneiro com eles, do continente. Porcos domésticos foram desenvolvidos a partir de porcos selvagens que viviam nas florestas da Bretanha. Fazendeiros do Neolítico também mantiveram cães domesticados, que foram desenvolvidos a partir de lobos. É possível que as primeiras criações domésticas fossem permitidas vaguear, atendidas por uns poucos pastores.

Sepultamentos e crenças
Os fazendeiros do Neolítico também trouxeram consigo as primeiras sementes de trigo e cevada que haviam sido cultivadas milênios antes, a partir de gramíneas selvagens que cresciam na região do atual Iraque. Inicialmente, os cereais provavelmente cresciam em locais ajardinados próximos das casas dos povoados. Após colhido, o grão necessitava ser armazenado e protegido contra as pestes naturais e os grupos piratas, o que acentuou um modo de vida mais estabelecido do que havia nas comunidades do mesolítico, que se moviam pelo país num padrão estacional, seguindo os animais, pássaros e peixes que caçavam.
A manufatura de cerâmica chegou à Britain com os primeiros fazendeiros e requeria o controle de altas temperaturas, sendo um importante desenvolvimento tecnológico primitivo. Os vasos originais de cerâmica não possuindo, em geral, qualquer decoração, tinham pesadas bordas e bases arredondadas; a partir de 3.500 AC a parte superior de alguns vasos de cerâmica era decorada com arranjos feitos com a argila ainda mole.
As casas do Mesolítico eram, principalmente, estruturas leves adequadas a um estilo de vida nômade; no Neolítico elas eram mais permanentes, com telhados de palha e paredes de varas de nogueira ou chorão entrelaçadas, feitas a prova do vento com uma mistura de argila, palha e esterco.
A partir de cerca de 3.800 AC, vemos um movimento para áreas antes não habitadas ou exploradas. Esse período também testemunhou o aparecimento dos primeiros grandes túmulos comunais - conhecidos como “longos túmulos ou barreiras” – e os primeiros monumentos cerimoniais, conhecidos como “cercados calçados”. Nesses lugares, as pessoas das comunidades de uma dada região se reuniriam socialmente, para encontrar novos parceiros, para adquirir mantimentos frescos e presentes. Inicialmente as casas do Neolítico eram retangulares em sua maioria, mas em torno de 3.000 AC as casas redondas se tornaram mais importantes, o que coincide com a aparência de monumentos rituais circulares, tais como os “henges” e os túmulos de passagem.
Os chamados monumentos “henge”, como o famoso Stonehenge, parecem ter se desenvolvido a partir dos cercados calçados de cerca de 3.000 AC. Eles incorporam os alinhamentos lunar e solar que são vistos como meios de união das estruturas físicas e sociais das sociedades humanas com as forças do mundo natural.

UMA PEQUENA HISTÓRIA DA INGLATERRA CONTADA POR UM GAÚCHO DE PORTO ALEGRE, DESCENDENTE DE PORTUGUESES E RESIDENTE EM GRAMADO - A HISTÓRIA PROPRIAMENTE DITA (1) (Nona Parte)

INTRODUÇÃO
Essa pretensiosa idéia de escrever uma história da Inglaterra foi motivada pela minha curiosidade sobre a figura histórico-lendária de um dos seus personagens mais ilustres, o Rei Arthur. Desde muito jovem peguei gosto pela literatura Arthuriana e só depois de velho consegui o almejado direito ao “ócio produtivo”, para poder dedicar-me a uma pesquisa mais aprofundada sobre a vida desse personagem. Ora, a vida do Rei Arthur está diretamente ligada à vida da Great Britain que, por sua vez, é um dos países de história mais complexa do mundo, por pelo menos dois motivos principais: (1) trata-se de uma grande ilha, permanentemente (bem, tudo tem o seu limite) socialmente separada do continente europeu, por própria e veemente opção; (2) a sua peculiar origem e a forma de colonização que sofreu ao longo do seu estabelecimento como uma só nação. Uma coisa leva a outra e chegamos à conclusão que, para contar uma pequena história do Rei Artur, deveríamos contar um pouco da história da Inglaterra, que não é pequena e começou há muito, mas muito tempo atrás. Ora, o assunto começou a ficar muito mais longo do que eu imaginava (e gostaria) que ficasse, é muito fácil de imaginar. Em consequência, transformou-se em mais uma das minhas tarefas que, possivelmente, não verei concluída antes do encerramento do meu curto estágio neste nosso mundo. O que não quer dizer que não iremos persegui-la até o nosso próprio limite.
Desse reconhecimento, algumas consequências brotaram imediatamente. Uma delas é que a matéria que eu pretendia fosse uma simples crônica para o meu “blog”, transformou-se numa missão de aprendizado particular – meu aprendizado -, que estarei publicando, periódica, parcelada e parcimoniosamente, à medida que consiga ir fechando as partes que comporão o todo pretendido; principalmente porque há outros assuntos pelos quais tenho interesse e dos quais não abdicarei de ir, também, publicando. Uma segunda consequência é que o trabalho jamais será desenvolvido com a profundidade desejável e servirá então para satisfazer à curiosidade daqueles que nada sabem - e aqui me incluocomo eu próprio-, sobre assunto, podendo ter, para eles, algum interesse semelhante; muitas partes serão pinceladas aqui e ali, de pesquisa realizada nas fontes disponíveis.
Esta etapa do nosso trabalho foi dividida em três partes, em ordem cronológica, para bem situar o leitor. Na primeira delas descrevemos, superficialmente, o período que vai do ano 8.000 AC até o início da Era Cristã, que coincide com a invasão da Britain pelo poderoso Império Romano, englobando a Idade da Pedra Polida (Neolítico), a Idade do Bronze e a Idade do Ferro. Na segunda etapa, descrevemos aquilo que chamamos de “England Romana”, período de aproximadamente 400 anos, em que a Ilha esteve ocupada pelos soldados romanos. Finalmente, na terceira parte, com mais detalhes que nas anteriores, descrevemos a “England Anglo-Saxônica”. Evidentemente, e por razões óbvias, é nesse período que concentraremos nossos maiores esforços; no período que descreve a chegada e dominação dos povos anglo-saxons, época durante a qual teria vivido o nosso herói, o Rei Arthur, que merece um capítulo todo especial. Antes disso, terão sido breves referências, necessárias para localizar o leitor sobre as origens dos povos da Britain.
À guisa de “introdução”, para um assunto tão amplo quanto o escolhido, é o que basta. Seria tolice uma apresentação mais volumosa, quando o futuro reserva um material que, para muitos, já poderá constituir um tremendo exagero. Vamos, portanto, ao que de fato interessa...

 
I -DA IDADE DA PEDRA AO INÍCIO DA ERA CRISTÃ


Do Neolítico à Idade do Bronze, 8.000 - 800 AC
O alvorecer da exploração agrícola 

A Terra existe há uns cinco bilhões de anos, mas na imensa maior parte desse longuíssimo tempo não houve sinal de vida sobre o planeta. As primeiras formas de vida que surgiram através de milhões de anos (já dividimos a coisa por mil!) foram se tornando mais completas e evoluídas, até chegarem aos grandes animais e ao aparecimento dos grandes “hominídeos” - todas as espécies de primatas em que se inclui o homem moderno -, por volta de 2 milhões de anos atrás. Os cientistas pensam que foi, aproximadamente, há um milhão e meio de anos que algumas espécies de hominídeos começaram a se distinguir dos outros animais por sua capacidade de fabricar armas rudimentares, de pau e pedra (para se defenderem e para caçar), e descobriram que certas coisas da natureza podiam ser utilizadas como utensílios.
O mais antigo hominídeo, com sinais de inteligência, foi descoberto no sul da África, numa gruta onde se encontravam ossadas fósseis, de vários hominídeos da mesma espécie, dando a entender que já viviam em grupo. Juntamente foram recolhidas pedras que tinham sido trazidas de rios bem distantes, já com intenção de aproveitá-las como utensílios. Em 1868, foram descobertos esqueletos na França, em Cro-Magnon.
 
 Abri de Cro-Magnon, local da primeira descoberta em 1868
Foram encontrados também fósseis do mesmo estágio de civilização numa gruta em Grimaldi (Itália), na República Tcheca e em muitos outros lugares. Trata-se do nosso ancestral mais direto, que apareceu por volta de 40.000 anos atrás (já dividimos novamente por mil!). Pelos utensílios e sinais de civilização que deixou, já demonstrava uma inteligência mais evoluída. Por isso foi também chamado de “Homo Sapiens” ("homem sábio"). Este teria fabricado mais de uma centena de objetos diferentes com as mais variadas utilidades, inclusive ornamentais. Usava sepulturas coletivas, tendo sido grande pescador e caçador. Daí por diante, os seres-humanos foram se aperfeiçoando, melhorando suas técnicas de domínio sobre a natureza, desenvolvendo sua cultura e se organizando em sociedades que foram as civilizações antigas.
A Pré-história corresponde ao período da história que antecede à invenção da escrita, evento que marca o começo dos tempos históricos registrados e que terá ocorrido, aproximadamente, em torno do ano 4000 AC. Assim definido, seu término torna-se muito elástico, pois ele também pode ser contextualizado, para um determinado povo ou nação, como o período da história desse povo ou nação sobre o qual não haja documentos escritos. Assim, no Egito, a pré-história terminou aproximadamente em 3500 AC, enquanto que no Brasil terminou em 1500 DC e na Nova Guiné, ela terminou, aproximadamente, em 1900 DC. Para muitos historiadores o próprio termo "pré-história" é errôneo, pois não existe uma anterioridade à História e sim à Escrita.
A Idade da Pedra é o período da Pré-História, durante o qual os seres humanos criaram ferramentas de pedra, tornando então a tecnologia mais avançada. A madeira, os ossos e outros materiais também foram utilizados nesse período, mas a pedra foi utilizada para fabricar ferramentas e armas, de corte ou percussão. Contudo, esta é uma circunstância necessária, mas insuficiente para a definição deste período, já que nele tiveram lugar fenômenos fundamentais para o ser humano, no que se refere às aquisições tecnológicas (fogo, ferramentas, moradia, roupa, etc), à evolução social, às mudanças do clima, à diáspora do ser humano por todo o mundo habitável, desde o seu berço africano, e à revolução econômica de um sistema caçador-coletor até um sistema, parcialmente, produtor (entre outras coisas). O intervalo de tempo que abrange a Idade da Pedra é ambíguo, disputado e variável segundo a região em questão. Por exemplo, escavações mostraram que enquanto em certos lugares, como a Grã-Bretanha, se vivia na Idade da Pedra, em outros, como Roma, Egito e China, já se usavam os metais e conhecia-se a escrita. Alguns grupos humanos nunca desenvolveram a tecnologia do metal fundido e, portanto, ficaram numa “idade de pedra” até se encontrarem com culturas tecnologicamente bem mais desenvolvidas.
Tradicionalmente, a Idade da Pedra é dividida em Paleolítico (ou Idade da Pedra Lascada), com um sistema econômico de caça-coleta e Neolítico (ou Idade da pedra Polida), em que se produz a revolução para o sistema econômico produtivo: agricultura e pecuária.
O Neolítico, também chamado de Idade da Pedra Polida, é período da Pré-História que começa em 8000 AC. Durante este período surge a agricultura; a fixação, resultante do cultivo da terra e domesticação de animais para o trabalho, cria o sedentarismo (moradia fixa em aldeias).
Seres humanos têm vivido no local ao norte da Europa, atualmente chamado de Grã-Bretanha, por cerca de 750.000 anos. Durante a maior parte deste tempo eles sobreviveram através da coleta de alimentos como nozes, bagas, folhas e frutas de origem selvagem, bem como da caça. Por milênios, ocorreram fases de frio extremo, quando vastas áreas da Grã-Bretanha ficaram cobertas com gelo, seguidas de períodos mais quentes. Após o final da Era Glacial, ocorrida a cerca de 10.000 anos atrás, os níveis do Mar do Norte começaram a subir a partir do momento em que as águas anteriormente represadas em enormes lençóis de gelo começaram a derreter. Em algum momento após 8.200 AC, a última “ponte de terra” seca, ligando Lincolnshire e East Anglia à Holanda (futuro British Channel), foi inundada pelo brejo de água salgada. Em torno de 6.000 AC até mesmo os brejos já haviam terminado em sua maior parte, submersos pelo mar, e a Great Britain então separou-se do continente europeu.
As pessoas que viviam nas novas ilhas da Great Britain eram descendentes dos primeiros humanos modernos ou “Homo Sapiens”, que chegaram ao norte da Europa em torno de 30.000 a 40.000 anos atrás. Como seus ancestrais, viviam da caça e da coleta. A introdução da exploração agrícola, quando os povos aprenderam a produzir ao invés de adquirir sua alimentação, é vista, pela maioria dos cientistas, como uma das maiores mudanças na história da humanidade. Essa mudança ocorreu em várias épocas em diferentes locais ao redor do mundo. No Paleolítico os povos eram nômades, caçando e coletando plantas selvagens. Em torno da metade do quinto milênio AC, uma nova forma de vida, baseada na exploração agrícola e de animais, foi introduzida através do continente. A substituição da caça e da coleta foi gradativa e não se completou até o final do terceiro milênio AC na Grã-Bretanha. Assim que a exploração agrícola foi estabelecida, as comunidades começaram a se instalar. O conceito de cultura que alcançou a Grã-Bretanha entre 5.000 AC e 4.500 AC, havia se espalhado pela Europa, com origem na Síria e Iraque, entre cerca de 11.000 AC e 9.000 AC.