Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

domingo, 24 de abril de 2011

I WILL FOLLOW HIM ou CHARIOT?

Ao aproximar-se o final dos domingos, sempre abateu-se sobre mim – e continua a ocorrer no presente - uma espécie de melancolia, nada grave, que nunca soube identificar. Inicialmente eu a creditava à proximidade de uma nova segunda-feira, com as aulas normais e todas as suas consequências e, posteriormente, às maiores responsabilidades profissionais que então se seguiram. Hoje, numa situação bem mais confortável e tranquila, já sem compromissos formais, essa sensação ainda ocorre, nesses momentos.
Durante o último fim de semana, vivenciando aquela espécie de melancolia, recebi, de uma amiga muito querida, de mil anos atrás, um “clip” maravilhoso que me motivou, formidavelmente, a escrever este “post”.
O “clip” a que me refiro apresenta a Orquestra de André Rieu com seu coral e o Harlem Gospel Choir, apresentando-se no Radio Music City Hall, em New York. Quem nasceu na década de 40 e viveu a sua adolescência nas décadas de 50 e 60, sem uma vez dançar a música “I Will Follow Him” ou “Chariot”, definitivamente não soube o que foi viver aquela época! Eu tive essa felicidade! E sempre fui muito curioso sobre as várias versões que ouvi da mesma melodia, em várias línguas, cantada por vários cantores, incluindo a brasileira Lana Bittencourt, e executada por várias orquestras. Satisfazer a curiosidade dos meus leitores, que conhecem – ou não - e se emocionaram com essa canção, é o principal objetivo deste artigo. Abaixo, o “clip’ de André Rieu, destacando-se que a terceira soprano a se apresentar, em seu lindo vestido rosa-choque, é a nossa brasileira Carla Mafioleti, iniciada aos 7 anos de idade em Porto Alegre, pela soprano brasileira Neyde Thomas. Ela estudou na Holanda, posteriormente, e desde 2002 é parte do conjunto de sopranos da orquestra do violinista André Rieu.
Essa maravilhosa melodia foi composta em 1961 por dois franceses dos quais, certamente, muito poucas pessoas já ouviram falar: J. W. Stole e Del Roma. Entretanto, se mencionarmos os nomes dos grandes Franck Pourcel e Paul Mauriat, poucos dirão não conhece-los. Pois ocorre que J. W. Stole foi o pseudônimo utilizado por Franck Pourcel, da mesma maneira que Del Roma foi o apelido usado por Paul Mauriat na composição conjunta de “Chariot”, melodia letrada, em seu original, por Jacques Plante e orquestrada por Raymond Lefèvre, ambos também franceses. A figura abaixo é a partitura original, para piano, de “Chariot”, composta pelos dois músicos franceses.

Petula Clark na capa que lhe deu o #1 na França
Partitura original de Chariot



















Essa melodia foi imediatamente gravada por Petula Clark, em 1962, em francês, de acordo com a letra original escrita por Jacque Plante, que apresentamos abaixo, para que os leitores possam acompanhar a gravação também original, que apresentamos a seguir. A capa do vinil que atingiu a primeira posição na França e a oitava na Bélgica, aparece acima. Petula Clark ganhou também um Disco de Ouro com sua gravação em italiano, “Sul mio carro”, que alcançou a quarta posição na Itália. Uma sua gravação em inglês, lançada nos EUA, fez muito pouco sucesso.


CHARIOT

Chariot, Chariot
Si tu veux de moi
Pour t'accompagner au bout des jours
Laisse-moi venir près de toi
Sur le grand chariot de bois et de toile

Nous nous en irons
Du côté où l'on verra le jour
Dans les premiers reflets du ciel
Avant la chaleur du soleil
Sous la dernière étoile

La plaine, la plaine, la plaine
N'aura plus de frontière
La terre, la terre, sera notre domaine
Que j'aime, que j'aime,
Ce vieux chariot qui tangue,
Qui tangue, qui tangue

Si tu veux de moi
Pour dormir à ton côté toujours
L'été sous la lune d'argent
L'hiver dans la neige et le vent
Alors dis-le moi, je pars avec toi

La plaine, la plaine, la plaine
N'aura plus de frontière
La terre, la terre, verra notre domaine
Que j'aime, que j'aime,
Ce vieux chariot qui tremble
Qui tremble, qui tremble

Si tu veux de moi
De ma vie et de mon fol amour
Le long des torrents et des bois
Au cœur des dangers et des joies
Alors dis-le moi, je pars avec toi.

No ano seguinte de 1963, uma americana, Little Peggy March, gravou a mesma melodia numa versão adaptada por Arthur Altman, em língua inglesa, criada por Norman Gimbel, com o título “I will follow Him”. Com essa gravação, Little Peggy March, então com 15 anos de idade, tornou-se a mais jovem intérprete feminina a colocar um simples em primeiro lugar no “US billboard”e em todo o mundo. Além dos EUA, essa gravação fez muito sucesso na Austrália, Nova Zelândia, Japão e Escandinávia. Abaixo, a capa do vinil que fez todo esse sucesso.
Little Peggy March, a mais jovem #1 no "billboard"

A letra original, em francês, não tem nada a ver com a sua versão inglesa, a começar pelo título. A primeira é uma canção romântica que transporta a pretendente em um carro (“chariot”), ao encontro do seu amado; a versão em língua inglesa é praticamente um “gospel” que proclama a intérprete como uma seguidora de Deus. Foi impossível encontrar um “clip” da época com a famosa interpretação que a tornou número 1 em todo o mundo. Entre apresentar um “clip” mais moderno e apenas escutar à interpretação original, apreciando a capa do disco que a fez famosa, optamos por esta última e a apresentamos a seguir. E logo a letra da versão em inglês para que o leitor possa bem acompanhar a brilhante gravação.



I WILL FOLLOW HIM

(Du-du-doot, du-du-doot, du-du-doot.)
(Du-du-du-du-du-du-doot, du-du-doot, du-du-doot.)
(Du-du-du-du-du-du-doot...)

Love him, I love him, I love him.
And where he goes I'll follow, I'll follow, I'll follow.

I will follow him.
Follow him wherever he may go.
There isn't an ocean too deep,
A mountain so high it can keep,
Keep me away.

(Du-du-doot, du-du-doot, du-du.)
I must follow him (follow him).
Ever since he touched my hand I knew,
That near him I always must be.
And nothing can keep him from me.
He is my destiny (destiny).

I love him, I love him, I love him,
And where he goes, I'll follow, I'll follow, I'll follow
He'll always be my true love, my true love, my true love,
From now until forever, forever, forever.

I will follow him (follow him).
Follow him wherever he may go
There isn't an ocean too deep,
A mountain so high it can keep,
Keep me away, away from my love

I love him, I love him, I love him,
And where he goes, I'll follow, I'll follow, I'll follow.
He'll always be my true love, my true love, my true love,
From now until forever, forever, forever.

I will follow him (follow him),
Follow him wherever he may go,
There isn't an ocean too deep,
A mountain so high it can keep,
Keep me away, away from my love.

(Du-du-doot, du-du-doot, du-du-doot...)
(And where he goes I'll) follow, I'll follow, I'll follow.
I know I'll always love him, I love him, I love him.
And where he goes I'll follow, I'll follow, I'll follow.
I know I'll always love him...
[baixando ...]




Vários outros intérpretes gravaram essa melodia, incluindo a nossa brasileira Lana Bittencourt, em inglês, e quiçá tenha sido essa a gravação mais cantada e dançada na década de 60, no Brasil, a dessa cantora de tantos outros sucessos à época.
Gravações instrumentais da mesma melodia também foram realizadas, destacando-se, evidentemente, as interpretadas pelas orquestras dos dois próprios compositores. De fato, Franck Pourcel iniciou a vitoriosa carreira da canção, como peça instrumental, no mesmo ano de 1961 e a colocou na quinta posição, aparecendo no LP de lançamento europeu “Amour Danse e Violons No 17”.




Paul Mauriat somente a gravou, com sua orquestra, no ano de 1976, no álbum “Paul Mauriat Plays the Hits of 1976”, usando um “Moog Synthesizer”.


Finalmente, no ano de 1992, a canção foi apresentada, com proeminência, no filme “Sister Act” (Mudança de Hábito), em que estreou Whoopi Golberg, quando executada pelo coro das freiras, numa homenagem ao Papa.

Como incondicional admirador que sou, das duas antológicas e míticas orquestras mencionadas, é com o maior prazer que apresento, como fecho ao meu artigo, uma curta biografia dos dois grandes músicos franceses, Franck Pourcel e Paul Mauriat, aqui realçados como compositores da sua canção título. Para não tornar ainda mais longa essa postagem, clique nos “links”, acima ou abaixo, se quiser conhecer algo da vida desses ilustres músicos franceses.

Um lindo Domingo de Páscoa aos meus leitores!


segunda-feira, 11 de abril de 2011

UMA PEQUENA HISTÓRIA DA INGLATERRA CONTADA POR UM GAÚCHO DE PORTO ALEGRE, DESCENDENTE DE PORTUGUESES E RESIDENTE EM GRAMADO - A HISTÓRIA PROPRIAMENTE DITA (6) (Décima Quarta Parte)

O Terceiro Século
A morte de Commodus pôs em movimento uma série de eventos que finalmente conduziram à guerra civil. Após o curto reinado de Pertinax, muitos rivais emergiram visando o império, incluindo Septimius Severus e Clodius Albinus, o novo governador da Britain que havia, aparentemente, vencido os nativos em suas primeiras rebeliões e que controlava três legiões, tornando-o um forte pretendente. Albinus atravessou o Canal para a Gaul em 195 DC, onde as províncias lhe eram simpáticas e estabeleceu-se em Lugdunum (atual Lyon, França). Severus chegou em Fevereiro de 196 e a batalha que se seguiu foi decisiva. Albinus foi derrotado e suicidou-se. Severus eliminou os adeptos de Albinus e confiscou grandes áreas de terra na Britain como punição. Entretanto, Albinus havia claramente demonstrado a necessidade de três legiões para a boa defesa da província e a visão tradicional é de que a sua ausência levou o norte da Britain à total anarquia. A sucessão de governadores militarmente distinguidos sugere que os inimigos de Roma colocavam um difícil desafio e o relatório de Lucius Alfenus Senecio a Roma, em 207 DC descreve os “bárbaros” se rebelando, devastando a terra, saqueando e causando destruição por todo o lado. Senecio solicitou reforços ou uma expedição imperial que Severus adotou embora já tivesse 62 anos de idade. Evidência arqueológica mostra que Senecio havia reconstruído Muralha de Adriano e a chegada de Severus à Britain induziu as tribos inimigas a um pedido de paz imediata. Contudo, parece que o Imperador não faria tal viagem em vão e, além disso, quisesse fornecer aos seu filhos adolescentes Caracalla e Geta, uma experiência, ao vivo, de como controlar uma terra bárbara hostil. Severus conduziu uma expedição de 20.000 homens ao norte (208 ou 209 DC), atravessando a muralha e passando pelo leste da Scotland numa rota parecida com a de Agricola. Sabotados por ataques de guerrilha das tribos do norte e retardados por um terreno hostil, Severus nunca pode enfrentar os Caledonii em um campo de batalha. As forças romanas avançaram para o norte até, o rio Tay, pouco conseguindo com a invasão em vista dos tratados de paz com os Caledonii. Cerca de 210 DC Severus já havia retornado a York, e a fronteira, novamente à Muralha de Adriano. Como uma de suas últimas medidas, Severus tentou resolver o problema de poderosos e rebeldes governantes na Britain, dividindo a província em Britannia Superior e Britannia Inferior, mantendo as rebeliões potenciais em xeque por quase um século. Fontes históricas fornecem pouca informação sobre as décadas seguintes, um período conhecido por “Longa Paz”. Ainda assim, o número de grandes amontoados enterrados de bens encontrados deste período cresceu, indicando permanente agitação. Uma cadeia de fortes foi construída ao longo da costa da Britain sul, para controlar a pirataria, que cresceu em número pelos cem anos seguintes, tornando-se os “Fortes de Praia Saxon”.
 

A Bacia Hidrográfica do rio Tay, na Scotland, e meandrando no seu leito para o leste

Em meados do terceiro século DC, o Império Romano foi convulsionado por invasões e rebeliões bárbaras e por novos aspirantes imperiais. Com exceção do aumento dos assentamentos Frisian na costa do Mar do Norte (com aprovação das autoridades romanas para proteger a área contra os ataques Caledonian), a Britannia aparentemente evitou essas questões. Em 259 foi estabelecido o chamado Império Gallic, quando Postumus rebelou-se contra Gallienus e a Britannia fez parte desse Império até o ano de 274, quando Aureliano reunificou o antigo Império.
Ao final dos anos 270, um meio briton chamado Bononus rebelou-se para evitar a repercussão ao deixar sua frota ser incendiada por bárbaros em Cologne. Ele foi rapidamente destroçado por Probus, mas logo em seguida um governador anônimo na Britannia também tentou um levante. Tropas irregulares de Vândalos e Burgundianos foram enviadas pelos romanos através do Canal por Probus para abafar o levante, por volta de 278 DC.
A última das rebeliões que afetou a Britannia foi a de Carausius e seu sucessor Allectus. Carausius, um comandante naval, provavelmente no English Channel, foi acusado de manter, para si próprio, saque de pirataria, e sua execução foi ordenada pelo Imperador Maximiano. Em 286 DC ele proclamou-se imperador na Britain e norte da Gaul e permaneceu no poder enquanto Maximian tratava de sublevações em outros locais. Em 288 uma invasão para depor o usurpador falhou. Seguiu-se uma incômoda paz, durante a qual Carausius cunhou moedas, proclamando a sua legitimidade e convidando reconhecimento oficial. Em 293 DC Constantius Chlorus lançou uma segunda ofensiva, sitiando o porto do rebelde em Boulogne e cortou sua assistência naval. Após a queda da cidade, Constantius atacou os aliados Frankish de Carausius. Susequentemente, o usurpador foi assassinado por seu tesoureiro, Allectus que o sucedeu brevemente. Seu reino teve um fim quando Julius Asclepiodotus atracou próximo de Southampton e derrotou-o numa batalha em terra. Constantius chegou a London para receber a vitória e decidiu dividir a província ainda mais, em quatro regiões, cada uma com o seu próprio governador:
•    Maxima Caesariensis (com base em London) tirada da Britannia Superior;
•    Britannia Prima, também da Britannia Superior;
•    Flavia Caesariensis, da Britannia Inferior;
•    Britannia Secunda, da Britannia Inferior.
No mesmo ano, sob as reformas da Tetrarquia, do Imperador Diocleciano, a Britannia tornou-se uma das quatro dioceses – governada por um "vicarius" - da prefeitura pretoriana das Galliae (as Gauls), compreendendo as províncias da Gaul, Britannia, Germania e Hispania.

Quarto Século

Constantius Chlorus retornou em 306 DC para invadir o norte da Britannia embora sua saúde enfraquecida. Sabe-se pouco de suas campanhas, mas de fontes históricas fragmentárias parece que ele chegou ao extremo norte da Britain, vencendo uma grande batalha antes de retornar para York, ao sul. Ele permaneceu na Britain até a sua morte, sendo substituído em suas funções por seu filho Constantino I, que usou a sua base na Britannia como ponto de partida de sua marcha ao trono imperial.
No meio do século, por alguns anos a província foi leal ao usurpador Magnentius, que sucedeu Constans após a sua morte. Após a derrota e morte de Magnentius na batalha de Mons Seleucus, em 353 DC, Constantius II seu notário imperial chefe, Catena, à Britain a caça dos seguidores de Magnentius.
À medida que o quarto século avançava, crescentes ataques dos saxons se verificaram ao leste e dos irish a oeste da England. Uma série de fortes já estava sendo construída no início de 280 DC, para a defesa das costas, mas essas defesas não foram suficientes quando um assalto geral de saxons, irish e attacotti, combinado com uma aparente discórdia na guarnição da Muralha de Adriano, aniquilou a Britain Romana em 367 DC. Essa crise, muitas vezes chamada de “Conspiração Bárbara” ou “Grande Conspiração”, foi revertida por Flavius Theodosius com uma série de reformas civis e militares. Outro usurpador imperial, Magnus Maximus, possivelmente filho de Theodosius, levantou o bastião da revolta em Segontium (atual Caernarvon), ao norte de Wales, em 383 DC, e atravessou o English Channel. Maximus manteve muito do império ocidental e lutou uma campanha de sucesso contra os Picts e os Scots, em torno de 384. Suas proezas continentais exigiram tropas da Britain e parece que fortes em Chester e outros lugares foram abandonados neste período, causando ataques e assentamentos ao norte de Wales pelos Irish. Seu governo encerrou em 388 DC, mas nem todas as tropas British retornaram, pois os recursos militares imperiais estavam agonizando após a catastrófica batalha de Adrianópolis, em 378. Em torno de 396 houve crescentes incursões bárbaras na Britain e uma expedição, possivelmente conduzida por Stilicho, foi realizada contra os atacantes. Parece que a paz foi restaurada em 399 DC e nenhuma outra guarnição foi ordenada; ao contrário, em 401 DC mais tropas foram retiradas para ajudar na guerra contra Alarico I.

Fim do Domínio Romano
A visão tradicional dos historiadores é de que houve um declínio econômico geral no início do quinto século. Contudo, evidência arqueológica consistente conta outra história que tem reavaliado essa visão, embora algumas características tenham acordado: menos residências urbanas, embora mais opulentas, final de novos edifícios públicos e abandono de alguns existentes, com exceção de estruturas defensivas e a formação generalizada de depósitos de “terra negra”, indicando uma horticultura crescente nos limites urbanos. O abandono de alguns locais aconteceu posteriormente ao que se cria anteriormente e muitas construções alteraram o seu uso, mas não foram destruídas. Os ataques bárbaros cresceram, mas focados em assentamentos rurais vulneráveis e não em cidades. Algumas vilas tiveram novos pisos de mosaico construídos nessa época, sugerindo que os problemas econômicos foram limitados e irregulares, embora muitos tenham se deteriorado antes de ser abandonados no quinto século. Alguns centros urbanos, como Canterbury, Cirencester, Wroxeter, Winchester e Gloucester permaneceram ativos durante o quinto e sexto séculos, cercados por grandes estados agrícolas. A vida urbana, em geral, cresceu com menos intensidade pelo quarto final do quarto século e moedas cunhadas entre 378 e 388 DC eram muito raras, indicando uma combinação provável de declínio econômico, diminuição do número das tropas e problemas com os pagamentos de soldados e oficiais. É provável que cerca de 430 DC as moedas, como meio de troca, tenham sido abandonadas. A produção em massa de cerâmica provavelmente terminou uma ou duas décadas antes; os ricos continuaram a usar vasos de metal e vidro, ao passo que os pobres adotaram vasos de couro ou madeira.
Ao final do quarto século a Britain esteve sob crescente pressão dos bárbaros, por todos os lados e as tropas eram muito pequenas para uma defesa efetiva. O exército rebelou-se e após elevar dois usurpadores decepcionantes, escolheu um soldado, Constantino III, para tornar-se imperador em 407. Ele atravessou a Gaul com um exército e foi derrotado por Honorius; é incerto o número de tropas que permaneceu ou se alguma vez retornou ou, ainda, se algum comandante em chefe foi novamente nomeado para a Britain. Uma incursão Saxon foi repelida pelos Britons em 408 e, no ano seguinte Zosimus registra que os nativos expulsaram a administração civil romana. Um último apelo feito pelas comunidades British foi rejeitado pelo imperador Honorius em 410 DC. A aparente contradição é explicada como uma revolta camponesa contra as classes dominantes de terra, solicitantes da ajuda romana. Com a saída da maior parte do governo militar e civil, a administração e a justiça ficaram nas mãos das autoridades municipais e pequenos “senhores da guerra” gradualmente emergiram na Britain, ainda aspirando aos ideais e convenções romanas.

As ‘Idades das Trevas’
Na Britain oeste e norte, em torno dos mares ocidentais, o fim do poder romano viu a reafirmação dos antigos padrões, isto é, a continuidade das tendências culturais e linguísticas que vigoravam antes da Idade do Ferro. Contudo, no longo termo, o contínuo desenvolvimento de um mosaico mutável de sociedades, gradualmente tendeu (como em outros lugares da Europa) à formação de estados maiores. Assim, por exemplo, o reino de Dalriada, governado pelos Irish, no extremo noroeste, fundiu com o reino Pictish para formar a Scotland. As partes mais a oeste da velha província, onde a cultura romana não havia deslocado a tradicional, também compartilhou dessas tendências, criando pequenos reinos que se desenvolveriam, sob a pressão dos Saxons, nas regiões Welsh e Cornish.
O destino do resto da província romana foi muito diferente: após o colapso do poder imperial, cerca de 410 DC, a civilização romanizada prontamente definhou. Pelo século VI DC, a maior parte da Britannia era tomada pelos reinos ‘Germanic’. Aparentemente, houve uma completa descontinuidade entre a Britain romana e a England anglo-saxon; acreditou-se uma vez que os romano-british foram massacrados ou empurrados para o oeste por hordas invasoras de anglo-saxons, parte do grande movimento para o oeste de ‘bárbaros’ esmagando o império ocidental. Contudo, nunca houve tal deslocamento de ‘celtas’ por ‘germans’.
(No próximo episódio, a chegada dos Anglo-Saxons)