Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066 (PARTE 13 - ÚLTIMA)

GEORGE V – (1910-1936)
George V

George V nasceu em 3 de junho de 1865, Segundo filho de Edward VII e Alexandra. Sua educação básica foi algo insignificante se comparada à do herdeiro legítimo, seu irmão mais velho Albert. George escolheu a carreira de oficial da marinha, que serviu com competência até a morte de Albert, em 1892, com a qual assumiu o papel de herdeiro legítimo. Casou-se com Mary de Teck em 1893, que lhe deu quatro filhos e uma filha.
George subiu ao trono no meio da controvérsia do orçamento de 1910. Tories, na Casa dos Lordes, estavam em desacordo com os Liberais, na Casa dos Comuns, pressionando por reformas sociais. Quando George concordou em criar pares suficientes para aprovar a medida, os Lordes capitularam e desistiram do poder de veto absoluto, oficialmente resolvendo o problema com a aprovação da Lei do Parlamento, em 1911.
A criação da Royal Flying Corps (RFC), em abril de 1912, refletiu o reconhecimento britânico da crescente importância da aviação militar. Em 1918, a RFC foi unida à Royal Naval Air Service para formar a Royal Air Force (RAF).
Nessa época, o transatlântico ‘Titanic’, da White Star, era o maior navio no mundo, à época do seu lançamento. Seus construtores e proprietários clamavam que nada afundaria o navio, mas em sua viagem inaugural, de Southampton para New York, ele colidiu com um iceberg, afundando em horas, com perda de 1.503 vidas.
Em junho de 1914, o herdeiro do trono Austro-Húngaro, Arquiduque Franz Ferdinand, foi assassinado por Gavrilo Princip, um terrorista bosnio-servo, em Sarajevo. O governo Austro-Húngaro culpou a Servia, usando o assassinato como pretexto para a guerra. Para a maioria dos bretões, este foi um evento remoto e insignificante, mas o conflito cresceu fortemente, arrastando as “Grandes Potências” e resultando na explosão da Primeira Guerra Mundial.
Em agosto de 1914, a Rússia, aliada da Servia mobilizou seu exército. A Alemanha, aliada do império Austro-Húngaro, declarou Guerra à Rússia. Mas a aliança da França com a Rússia ameaçou a Alemanha em duas frentes e ela agiu rapidamente, invadindo a neutra Bélgica. A Bretanha, garantidora da neutralidade belga, exigiu o recuo da Alemanha, que expirou em 4 de agosto, com a sua imediata declaração de guerra. Durante a guerra, George e Mary fizeram várias visitas ao fronte e numa delas o cavalo de George rolou sobre ele, fraturando-lhe o pélvis e deixando-o com fortes dores para o resto da sua vida.
Buscando a rendição da Inglaterra, em fevereiro de 1916 os alemães declaram guerra irrestrita, por seus submarinos, a navios mercantes de todas as nacionalidades; falharam em seus objetivos e apressaram a entrada dos EUA na guerra, em abril de 1917. Nessa mesma época, sentimentos antialemães fizeram George adotar o nome de família "Windsor" (do castelo de mesmo nome), criando a famosa Casa de Windsor, que reina até hoje na figura de Elizabeth II.
Em fevereiro de 1917, o Czar Nicholas II da Rússia foi forçado a abdicar após sérios reveses na guerra contra a Alemanha. Um governo provisório, de liberais e moderados, foi estabelecido, mas também falhou no campo de batalha e foi derrubado por um golpe cuidadosamente planejado pelos bolchevistas, que prometeram ‘paz pão e terras’ ao povo russo esgotado pela guerra. Em novembro do mesmo ano, inspirado pelos escritos de Karl Marx, os bolchevistas estabeleceram um governo baseado no 'soviet' (conselho de governo), afastando-se da Guerra em março de 1918, em termos humilhantes, pelo tratado de Brest-Litovsk, com Alemanha, Império Austro-Húngaro e Império Otomano. Na busca, a qualquer preço, da paz prometida pelo líder bolchevista Vladimir Lenin, a Rússia perdeu enormes faixas de território, com um terço da sua população, 50% da sua indústria e 90% de suas minas de carvão. A oposição ao Tratado ajudou a incendiar a Guerra civil russa, que durou até 1922.
Em 11 de novembro de 1918, sob termos muito onerosos, finalmente a Alemanha capitulou, assim encerrando-se a Primeira Grande Guerra com a vitória da Inglaterra e seus aliados.
A relação entre a Inglaterra e o resto do Império sofreu várias alterações. Em 1918, após o levante de Sinn Féin(1) , em 1916, foi estabelecido um Parlamento irlandês independente e o Ato do Governo da Irlanda, de 1920, dividiu a Irlanda ao longo de linhas religiosas. Em abril de 1925, em seu primeiro orçamento como Ministro das Finanças, Winston Churchill reconduziu a Bretanha ao seu sistema monetário pré 1914, pelo qual a moeda inglesa era fixada a um preço que refletia as reservas em ouro do país. O ato resultou em deflação maciça e supervalorização da Libra. Em outubro de 1926, a Imperial Conference, em Londres, reconheceu legalmente que os domínios do Canadá, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul, eram autônomos e iguais em status, uma decisão mais tarde confirmada pelo Estatuto de Westminster, de 1931, que criou o British Commonwealth of Nations (Comunidade das Nações Britânicas).
Em 1922, um grupo de fabricantes de rádios, incluindo o pioneiro Guglielmo Marconi, estabeleceram a British Broadcasting Company. Em 1927 a companhia obteve uma carta patente, tornando-se a British Broadcasting Corporation (BBC), presidida por John Reith, com a missão de melhorar a Bretanha através da radiodifusão, instruindo a corporação com a famosa frase 'informar, educar e entreter'.
A Quinta Lei da Reforma de maio de 1928, proposta pelo governo Conservador, alterou a Representação da "Lei do Povo" de 1918, que havia concedido emancipação às mulheres com mais de 30 anos, com propriedade. A nova lei deu a todas as mulheres os mesmos direitos dos homens: voto a todas maiores de 21 anos.
Enquanto trabalhava no St Mary's Hospital, em Paddington, Londres, Alexander Fleming percebeu que o mofo que crescia num prato, impediu o desenvolvimento da bactérias. Howard Florey e Ernst Chain desenvolveram a penicilina posteriormente de forma que pudesse ser usada como remédio, mas apenas com a Segunda Guerra Mundial ela começou a ser produzida em massa.
A depressão mundial de 1929 a 1931 afetou profundamente a Inglaterra, levando o rei a persuadir os líderes dos partidos Conservador, Liberal e Trabalhista, a se unirem numa coalizão governamental. Ao final da década de 1920, George e os Windsors eram uma das poucas famílias reais que mantinham seu status na Europa. Em 1935, a Índia recebeu alguma autodeterminação através da Lei da Índia.
A natureza da monarquia evoluiu pela influência de George. Em contraste com à sua avó Victoria e seu pai Edward VII, a perspectiva real de George foi bem mais humilde. Ele esforçou-se em personificar as qualidades que a nação via como suas forças maiores: atividade, dignidade e dever. A monarquia passou de uma instituição de legalidade constitucional a baluarte dos valores e costumes tradicionais, particularmente os relativos à família.
George morreu após seu Jubileu de Prata (25 anos de reinado), após uma série de ataques de bronquite, em 20 de janeiro de 1936, sendo substituído por seu filho Edward.

EDWARD VIII – (1936)
Edward VIII, o rei que abdicou

Edward VIII, filho mais velho de George V e Mary de Teck, nasceu em 23 de junho de 1894. Casou-se com uma americana divorciada, Wallis Simpson, após abdicar ao trono, após escassos onze meses de reinado. O casal não teve filhos.
Rumores relativos à ligação entre Edward e Mrs. Simpson circulavam antes da morte de George V. A situação chegou à beira de uma crise constitucional com a sua ascensão: a Igreja da Inglaterra (a mesma de Henry VIII), da qual era o líder, censurava o divórcio, o Parlamento recusou qualquer título a Wallis, o povo opôs-se a ter uma mulher duas vezes divorciada como consorte do rei e a lei inglesa não possuía precedente para uma esposa de rei sem título ou capacidade oficial. O Primeiro Ministro Stanley Baldwin avisou-lhe que o povo britânico não a aceitaria. Se Edward insistisse na questão, a monarquia constitucional seria irrevogavelmente ferida. Na iminência de perder a mulher que amava, Edward preferiu abdicar, transmitindo sua decisão à nação em 11 de dezembro de 1936. Casou-se com Wallace Simpson, na França, em junho de 1937, tornando-se Duque e Duquesa de Windsor. Baldwin recebeu o crédito de ter evitado uma crise constitucional que poderia ter acabado com a monarquia.
Edward era imensamente popular quando assumiu o trono; sua viúva, a duquesa de Windsor lamentou sua abdicação após a sua morte, em 1972: “Ele teria sido um grande rei; o povo o amava!”

GEORGE VI – (1936 – 1952)
George VI, do Reino Unido

O irmão mais novo de Edward VIII, o Duque de York, foi coroado George VI. Nascido em 14 de Dezembro de 1895, George era o Segundo filho de George V e Mary de Teck. Era um jovem tímido e modesto que muito admirava seu irmão Edward, Príncipe de Gales. Da infância aos trinta anos, George muito sofreu pela gagueira em seus discursos, o que exacerbava sua timidez; Lionel Logue, um fonoaudiólogo australiano, teve um papel fundamental na ajuda a George para vencer a gagueira.
George casou-se com Elizabeth Bowes-Lyon em 1923, que lhe deu duas filhas, Elizabeth e Margaret. Ele e sua esposa, rainha Elizabeth (posteriormente a rainha mãe), tornaram-se figuras inspiradoras para a Bretanha, durante a segunda guerra mundial. O monarca visitou seus exércitos em diversas frentes de batalha e fundou a Cruz de George para ‘atos de grande heroísmo ou da mais notável coragem em circunstâncias de extremo perigo’.
Em 1o de setembro as forças alemãs invadiram a Polônia. O Primeiro Ministro Neville Chamberlain ainda evitou declarar Guerra à Alemanha, mas uma ameaçadora revolta no gabinete e um forte sentimento público de que Hitler tinha que ser confrontado, forçaram-no a honrar o tratado anglo-polonês. Após vários anos de políticas de apaziguamento, a Grã Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha em 3 de setembro de 1939, pela segunda vez em 25 anos.
George, seguindo os passos de seu pai, visitou as tropas, fábricas de munições, docas de abastecimento e áreas atingidas por bombas, em apoio aos esforços de guerra. Embora os bombardeios nazistas a Londres, a família real permaneceu no Palácio de Buckingham. George chegou ao ponto de praticar tiro ao alvo com seu revolver, jurando defender o Palácio até a morte, o que nunca foi necessário. Todas essas ações, durante os anos de Guerra, muito somaram ao prestígio da monarquia.
No início de maio de 1940, o Primeiro Ministro Neville Chamberlain havia perdido a confiança na Casa dos Comuns. Os ministros trabalhistas recusaram servir numa coalizão nacional tendo Chamberlain como líder e ele resignou. Churchill tornou-se o Primeiro Ministro de coalizão em 10 de maio, mesmo dia em que a Alemanha invadiu a Holanda e a Bélgica.
Sir Winston Churchill,
Primeiro Ministro da Guerra
Em 26 de maio de 1940, 338.000 soldados ingleses e franceses foram evacuados na épica retirada de Dunkirk, de que participaram destroieres e centenas de pequenas embarcações voluntárias. Em 25 de junho de 1940 a França capitulou.
Os EUA entraram na Guerra com os aliados, em dezembro de 1941, após o ataque japonês a Pearl Harbor e a subsequente declaração de guerra alemã aos Estados Unidos. Milhões de homens e milhares de aviões foram despachados para a Bretanha, que tornou-se a base para pilotos americanos bombardearem a Europa, uma plataforma para tropas americanas lutarem no norte da África e, crucialmente, o ponto de lançamento para as invasões do “Dia D”, início da libertação da Europa Ocidental.
Em 6 de junho de 1944, as forças aliadas invadiram a Normandia no “Dia D”, no maior ataque anfíbio da história, com 150.000 homens nas praias da Normandia no primeiro dia, numa ação combinada de centenas de navios e total superioridade aérea. Ao final do “Dia D”, cinco cabeças de praia haviam sido tomadas e os aliados finalmente tinham um pé na França.
Hitler suicidou-se em 30 de abril de 1945, quando as forças soviéticas de aproximavam do “bunker” de Berlim, e o grande almirante alemão, Karl Dönitz, rendia-se ao general aliado Dwight Eisenhower em 7 de maio do mesmo ano. No dia seguinte a Bretanha celebrou o fim da guerra com o dia da vitória na Europa. Em 15 de agosto de 1945, o dia da vitória sobre o Japão marca o fim da Segunda Guerra Mundial.
Na Conferência de Yalta, início de 1945, os “Três Grandes”, Winston Churchill, da Bretanha, Presidente Franklin D. Roosevelt dos EUA e o líder soviético Joseph Stalin, concordaram em estabelecer uma nova organização global – as Nações Unidas (ONU), oficialmente entrando em atividade em 24 de outubro, com a Bretanha como um dos cinco membros do seu “Conselho de Segurança”, com poder de veto.
Em 23 de outubro de 1951 o governo trabalhista caiu, com os conservadores obtendo uma clara maioria. Singularmente, Winston Churchill tornou-se Primeiro Ministro novamente com a idade de 76 anos, focando seu governo nas relações exteriores, incluindo a redução da escalada das tensões da Guerra Fria e mantendo um especial relacionamento com os EUA.
George, desde o início de 1941, predissera as privações do fim da Segunda Guerra Mundial. De 1945 a 1950, a Grã Bretanha passou por marcadas transições. O Banco da Inglaterra, bem como muitas facetas da indústria, transporte, produção de energia e saúde, passaram a ter algum grau de propriedade pública. As dores do parto do estatismo e a mudança do Império para uma Comunidade multirracial, perturbaram o nervoso rei, deixando-o física e emocionalmente drenado à época de sua morte. O “esbelto e calmo homem de olhos cansados” tivera um reinado conturbado, mas havia feito o possível para deixar a monarquia em melhores condições do que a havia encontrado. George morreu de câncer em 6 de fevereiro de 1952.

ELIZABETH II – (1952 ATÉ O PRESENTE)
Elizabeth II e o Duque de
Edinburgh, na Coroação

Elizabeth II é, atualmente, a rainha da Inglaterra, a rainha da geração atual, da minha geração. É, portanto, a rainha da época em que vivemos, da época que vivenciamos. Ainda lembro da época em que ela ascendeu ao trono, na flor dos meus oito anos. Por esta razão, e até para não ser monótono, não daremos maiores detalhes do seu reinado, mas apenas as generalidades que dizem respeito à própria monarca.
Elizabeth II, nascida em 21 de abril de 1926, era a filha mais velha de George VI e Elizabeth Bowes-Lyon. Casou-se com Philip Mountbatten, um primo distante, em 1947; o casal tem 4 filhos: Charles, príncipe de Gales, Anne, Andrew e Edward. Ela já reina por sessenta e um anos e tudo indica que ainda permanecerá no trono por um bom tempo.
A monarquia, como instituição na Europa, quase desapareceu durante as duas guerras mundiais: escassos dez reis permanecem hoje, sete dos quais possuem família ligada à Inglaterra. Elizabeth é, de longe, a mais conhecida e mais viajada chefe de estado no mundo. Ela aprova a transformação de império para Comunidade, descrevendo a troca como “uma metamorfose benéfica e civilizada”. A indivisibilidade da Coroa foi formalmente abandonada, por estatuto, em 1953 e, “Líder da Comunidade”, foi adicionada à longa lista de títulos reais que ela possui.
As viagens de Elizabeth renderam-lhe a lisonja de seus súditos; ela é saudada com honesto entusiasmo e calorosa estima em cada visita ao exterior. Tem sido o elo principal de uma cadeia forjada entre os vários países da Comunidade. A monarquia, bem como o Império, evoluiu - o que era antes a imagem do poder absoluto é agora um símbolo de fraternidade.
Elizabeth tem trabalhado muito para manter uma clara divisão entre seu público e sua vida privada. Foi a primeira monarca a enviar seus filhos a internatos, a fim de removê-los da mídia indiscreta. Ela possui um forte senso de dever e zelo, despachando suas obrigações reais com grande eficiência e dignidade. Seu conhecimento das situações e tendências atuais é singularmente atual, muitas vezes criando embaraço em seus Primeiros Ministros. Harold Wilson, ao aposentar-se, observou: "Certamente aconselharei meu sucessor a fazer seu dever de casa antes da audiência". Churchill, que serviu a quatro reis, era impressionado e encantado por seu conhecimento e juízo. Ela possui um senso de humor raramente exibido onde uma presença digna é o objetivo.
Elizabeth II, a "velha" rainha do
Reino Unido e Commonwealth
Elizabeth, como seu pai antes dela, elevou o caráter da monarquia através de suas ações. Infelizmente, as ações de seus filhos têm desdourado o seu nome real. Os divórcios públicos de Charles e Diana e Andrew e Sarah Ferguson, foram seguidos por indiscrições adicionais dos príncipes, levando uma população sobrecarregada por impostos, a repensar a necessidade de uma monarquia. Talvez Elizabeth não venha a reinar tanto quanto Victoria, mas seu reinado, excepcionalmente longo, já deixou uma brilhante marca na vida do seu país.
E com esta postagem marcamos o fim desta longa publicação, considerando cumprida nossa proposta de relatar a "HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066", uma história das pessoas que, de uma forma ou de outra, em suas respectivas épocas, lograram atenuar as tensões entre o estado, a sociedade e a igreja, entre os povos nativos, invasores ou convidados, de forma a forjar, por séculos de conflitos entremeados por períodos de paz, o maior império que o mundo jamais viu.


(1) Sinn Féin (em português “Nós Mesmos”) era o nome de partido político irlandês fundado em 1905 por Arthur Griffith, que deu foco ao nacionalismo e republicanismo irlandês, em várias formas. De fato, o Sinn Féin não esteve envolvido no fracassado “Levante da Páscoa”, durante a semana da Páscoa de 1916, a despeito da culpa que lhe imputou o governo inglês. Os líderes do levante buscavam mais do que a proposta do partido de uma separação mais forte do que um governo nacional sob uma monarquia dupla.


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066 (PARTE 12)

A ERA VITORIANA (1837 - 1901)
Rainha Victoria, o mais longo reinado do UK

Victoria, nascida em 24 de maio de 1819, era filha de Edward, Duque de Kent e Strathearn, e Victoria de Saxe-Coburg-Saalfeld. Edward morreu quando Victoria tinha apenas 8 meses de idade, após o que sua mãe determinou um rígido regime para evitar as cortes de seus tios, George IV e William IV. Casou-se com o Príncipe Albert de Saxe-Coburg-Gotha in 1840 e a união produziu quatro filhos e cinco filhas.
Victoria subiu ao trono com a morte de William IV, recém completados 18 anos, e recusou qualquer influência além da sua dominante mãe, governando por si própria. O respeito popular pela Coroa era muito baixo à época da sua coroação, mas a modesta e direta jovem rainha venceu os corações de seus súditos. Desejava ser informada dos assuntos políticos, embora não tivesse acesso direto nas decisões da política. A ‘Lei da Reforma’, de 1832, havia estabelecido que o padrão da autoridade legislativa residia na Casa dos Lordes e a autoridade executiva, em um Gabinete formado por membros da Casa dos Comuns, com o monarca, essencialmente, removido do circuito. Ela respeitava e trabalhou muito bem com Lorde Melbourne, Primeiro Ministro nos primeiros anos do seu reinado, e a Inglaterra cresceu social e economicamente.
Albert, príncipe consorte
O Príncipe Albert, a quem ela era fortemente devotada, substituiu Melbourne como a influência masculina dominante na vida de Victoria. O povo, contudo, não simpatizava  com o príncipe alemão: ele foi excluído de qualquer posição política oficial, nunca possuiu um título de nobreza e só foi chamado Príncipe Consorte após 17 anos de casamento. Victoria não fazia nada sem a aprovação de seu marido. Seus interesses em arte, ciência e indústria, o estimularam a organizar a ‘Exibição do Palácio de Cristal’, em 1851, uma convenção industrial altamente lucrativa. Ele usou os lucros (algo em torno de £186,000), para adquirir terras em Kensington para o estabelecimento de vários museus culturais e industriais. Em janeiro de 1858, por influência do Príncipe consorte, o pianista e condutor Charles Hallé fundou a primeira orquestra sinfônica britânica, indicando o crescimento das atividades culturais proporcionadas aos cidadãos do Reino Unido. A morte de Alberto, de tifo, em 1861, afetou profundamente a mente de Victoria, que entrou numa reclusão por mais de 25 anos, só saindo dela para as celebrações do Jubileu Dourado de 1887, a celebração do seu 50º ano no trono. Uma geração inteira criou-se sem jamais ter visto a face de sua rainha.
A reforma do governo permitiu que a Inglaterra evitasse as condições politicamente tumultuadas que varriam a Europa no meio do século XIX. O continente experimentava as crescentes dores do conservadorismo, liberalismo, socialismo e as lutas nacionalistas por unificação política. A Inglaterra focou no desenvolvimento industrial e comercial e na expansão do alcance imperial. Durante o reinado de Victoria o império dobrou o seu tamanho, abarcando o Canadá, Austrália, Índia e vários locais da África e sul do Pacífico. Seu reinado, quase livre de guerras, enfrentou um levante irlandês (1848), as Guerras dos Boers(1)  na África do Sul (1881, 1899-1902) e uma rebelião na Índia (1857), além da Guerra da Crimeia (1853-56) que, unida à França, travou contra a Rússia, e venceu. Os sucessos em evitar envolvimentos europeus foi devido, em grande parte, aos casamentos dos filhos de Victoria: ou diretamente, ou por casamento, ela ficou ligada às casas reais da Alemanha, Rússia, Grécia, Romênia, Suécia, Dinamarca, Noruega e Bélgica. Nicholas II da Rússia foi casado com uma neta de Victoria, Alexandra e o temível imperador da Alemanha, Kaiser Wilhelm II, era o seu neto "Willy". Durante sua reclusão, ela governou sua família com a mão de ferro que lhe foi negada pelo arranjo institucional inglês.
O governo Whig, sob o visconde Melbourne, enfrentou crescentes dificuldades de ordem financeira e pública. Em agosto de 1841, Sir Robert Peel forçou uma eleição geral, após derrotar os Whigs numa moção de ‘não confiança’ na Casa dos Comuns. Os Tories venceram uma maioria por mais de 70, na Casa dos Comuns, escolhendo Peel como novo primeiro ministro. Essa foi a primeira eleição dos tempos modernos, em que um partido politico com maioria parlamentar foi derrotado por outro, que ganhou uma marcante maioria. Os velhos partidos políticos da Inglaterra, os Whigs e os Tories, se transformaram durante o reinado de Victoria. O apoio de Robert Peel para o Corn Law Repeal(2) (Anulação da Lei dos Cereais), em 1846, contra a ideia dos seus próprios pares, dividiu os Tories em dois campos. Os adeptos de Peel juntaram-se com os Whigs para criar o Partido Liberal e os Tories contrários a Peel, tornaram-se o Partido Conservador. Ao contrário da maioria da Europa, os políticos ingleses concordaram nas principais questões da estrutura governamental e ideologia política, mas diferiram nas questões menores de prática política e sua implementação. Os Liberais representavam comerciantes e artesãos, enquanto os Conservadores representavam a pequena nobreza proprietária de terra. O papel de Victoria nesse realinhamento politico foi o de mediadora entre os Primeiros Ministros que saíam e que chegavam (o Primeiro Ministro era escolhido pelo partido que tinha o controle da Casa dos Comuns). Ela gostava particularmente do Conservador Benjamin Disraeli que, por ligar Victoria à expansão do Império, respeitava a monarquia que havia faltado desde a reclusão de Victoria. Por outro lado, desprezou o proeminente Primeiro Ministro Liberal William Gladstone, cujo partido dominou o Parlamento de 1846 a 1874.
Mesmo entre as dores do luto, durante a sua reclusão, Victoria deu muita atenção aos negócios e administração diários, num tempo de grande evolução política e social. Foram muitas e importantes as leis apresentadas e aprovadas em sua era, incluindo as Leis da Reforma de 1867 e 1884 que ampliaram o sufrágio.
O termo Victorian England (Inglaterra Victoriana), derivou da ética e gostos pessoais da Rainha que, em geral, refletiam os da classe media. O Jubileu de Ouro retirou-a de sua concha e ela voltou a abraçar a vida pública. Visitou as possessões inglesas e a França (primeira monarca inglesa a fazer isso desde a coroação de Henry VI, em 1431. Quando ela morreu, com avançada idade, uma inteira era morreu com ela.
Antes de encerrar o seu reinado, porque muito importantes, gostaríamos de alinhar alguns fatos relacionados à era victoriana.
O escritor Charles Dickens
Charles Dickens foi um dos maiores novelistas victorianos. No ano de 1838, 'Oliver Twist' foi, como muitas das suas outras novelas, originalmente publicada em capítulos, trazendo à atenção pública contemporânea vários de seus males sociais. Outros trabalhos de Dickens incluem 'The Pickwick Papers' (As Aventuras de Mr. Pickwick), 'A Christmas Carol' (Um Conto de Natal), 'David Copperfield' e 'Great Expectations' (Grandes Esperanças), uma de suas obras primas de minha preferência.
Outro grande nome da ciência e literatura victoriana, Charles Darwin, publicou, em novembro de 1859, sua obra universal “Sobre a Origem das Espécies”, após vinte anos de pesquisas. Embora a polêmica levantada pela obra, poucos cientistas victorianos adotaram uma posição ateísta por sua leitura; imagino porque, de fato, ele nunca a escreveu com essa intenção.
Fato importante e desconhecido da maioria, servindo inclusive como explicação, mais ou menos recente, para os incidentes religiosos na Irlanda, a estabelecida Igreja da Irlanda era anglicana, embora somente 3% da população irlandesa pertencesse a ela, a vasta maioria sendo Católica Romana. A legislação de William Gladstone colocou as propriedades da Igreja nas mãos de comissários que podiam usá-las para ‘esquemas sociais’, incluindo alívio da pobreza e a expansão da educação superior. Os bispos irlandeses não mais puderam ter assento na Casa dos Lordes.
Charles Darwin
É também da era victoriana (17 de novembro de 1869) a abertura do canal de Suez, ligando o Mar Mediterrâneo ao mar Vermelho. A Bretanha se havia oposto à construção do canal por uma companhia internacional, mas mudou sua posição em 1875, quando o governo Conservador de Benjamin Disraeli comprou 40% das cotas da Companhia do Canal. O canal então tornou-se de interesse estratégico vital, particularmente como rota para a Índia e o Oriente, sendo protegido por tropas britânicas desde 1883.
A partir de agosto de 1880, a educação tornou-se obrigatória na Grã Bretanha, para crianças entre 5 e dez anos de idade. As despesas estatais com a educação, que eram da ordem de 1,25 milhões de libras em 1870, passaram para 4 milhões e chegariam a 12 milhões de libras ao final do reinado de Victoria (a total dessemelhança com o que ocorre no Brasil, não é mera coincidência).
Em janeiro de 1881, a mansão do magnata da Engenharia, Sir William Armstrong, tornou-se a primeira casa da Inglaterra a ter luz elétrica. Construída em Cragside in Rothbury (Northumberland) e projetada pelo arquiteto escocês Richard Norman Shaw, incorporou todas as modernidades possíveis; suas lâmpadas eram energizadas pela água de um riacho local passando por um gerador rudimentar.
Guglielmo Marconi, inventor
O físico italiano de Nascimento, Guglielmo Marconi, conduziu um grande número de experimentos ligados à comunicação, ao sul da Bretanha, entre 1896 e 1897, recebendo a patente em julho de 1897, logo após sua primeira comunicação através da água, de Lavernock Point, South Wales, para Flat Holm Island, no Canal de Bristol. Ele estabeleceu o primeiro sinal transatlântico em dezembro de 1901, inaugurando a ‘Era Sem Fio’.
Em 22 de janeiro de 1901, com a idade de 81 anos, Victoria morreu, tornado o seu reinado de 63 anos, o mais longo da Bretanha e marcando, realmente, o fim de uma era.

AS DUAS GUERRAS MUNDIAIS E A CONSTRUÇÃO DA MODERNA GRÃ-BRETANHA (1901 – 1945)

EDWARD VII – (1901-1910)

Edward VII rei do UK
Edward VII, nascido em 9 de novembro de 1841, era o primogênito da rainha Victoria e tomou o nome da família de seu pai, o príncipe consorte Albert, daí a troca de linhagem, embora fosse ainda Hanoverian por parte de sua mãe. Casou-se com a princesa Alexandra da Dinamarca, em 1863, com apenas 22 aos de idade, e com ela teve três filhos e três filhas.
Victoria e Albert impuseram um regime estrito sobre Edward e mesmo após a morte de seu pai, Victoria sempre lhe negou papel oficial no governo, com o que ele se rebelou, entregando-se às mulheres, comidas, bebidas, jogos, esportes e viagens. Alexandra fez vistas grossas às suas atividades extramaritais, que continuaram até os seus sessenta anos e o implicaram em vários casos de divórcios.
Edward sucedeu no trono após a morte de Victoria e, a despeito de sua má reputação, lançou-se ao seu papel de rei com vitalidade. Suas muitas viagens à Europa lhe deram sólida fundação como embaixador em relações exteriores, ajudado por suas relações com as casas reais do continente. Os receios de Victoria foram provados errados: as incursões de Edward na política externa foram muito eficientes nas alianças entre Grã Bretanha, França e Rússia, e a par de suas indiscrições sexuais, suas maneiras e estilos o valorizaram frente ao povo inglês.
A legislação social foi o foco do Parlamento durante o reinado de Edward. A Lei da Educação, de 1902, forneceu educação secundária subsidiada, e o governo Liberal passou uma série de leis beneficiando as crianças, após 1906; após 1908, foram estabelecidas pensões aos idosos. A Lei das Trocas de Emprego, de 1909, lançou as bases para o seguro de saúde nacional, que conduziu a uma crise constitucional sobre os meios de financiamento de tal legislação. O orçamento feito por David Lloyd-George propôs importantes aumentos de impostos sobre ricos proprietários de terras e foi derrotado no Parlamento. O Primeiro Ministro Asquith apelou a Edward para criar vários novos lordes que pudessem virar a votação, mas ele recusou fortemente.
Edward morreu em 6 de maio de 1910, com a idade de 68 anos, após uma série de ataques do coração, no meio da crise orçamentária que foi resolvida no ano seguinte com a aprovação da lei pelo governo Liberal.


(1) A África do Sul é um país africano colonizado, principalmente, por holandeses e ingleses, embora também franceses e alemães tenham participado da colonização. Os Trekboer (posteriormente chamados Grensboer e finalmente Boer - palavra holandesa para “fazendeiros”), eram pastores nômades descendentes, em grau praticamente igual, de colonizadores holandeses, franceses e alemães, que começaram migrando das áreas adjacentes ao atual Cape Town, durante o século XVII e por todo o século XVIII, e posteriormente durante o século XIX para se estabelecer no Orange Free State, Transvaal (no conjunto conhecido como “República dos Boers”) e, em menor número, Natal. Sua principal motivação para deixar Cape Town foi escapar ao governo inglês e das constantes lutas entre o governo britânico e as tribos da fronteira leste. As “Boer Wars” (Guerras dos Boer) foram duas guerras lutadas, durante 1880-1881 e 1899-1902, entre o Império Britânico e as duas repúblicas Boer independentes de Orange Free State e Transvaal.
(2) A Corn Law foi uma lei de comércio criada para proteger os produtores de cereais do Reino Unido contra a competição com produtos importados mais baratos, através da imposição de altos impostos de importação; tal lei permitia que os agricultores cobrassem os valores que quisessem, sem a possibilidade de importação a preços mais competitivos mesmo quando o povo do Reino Unido mais necessitasse dos cereais (épocas de fome). A lei foi criada em 1815, pelo Ato de Importação, e revogada em 1846, pelo mesmo Ato, com o decisivo apoio de Peel, num significativo avanço do livre comércio.

Conclui na PARTE 13