Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sexta-feira, 31 de julho de 2015

HISTÓRIA DO POVO HEBREU APÓS A CONQUISTA DE JUDÁ PELA BABILÔNIA (PARTE 3 - FINAL)

IV.1 - FACÇÕES EXISTENTES À ÉPOCA

Este me parece o momento adequado para introduzir as facções surgidas em Israel, muito importantes para o bom entendimento dos desdobramentos consequentes, principalmente antes, durante e pouco após a época de Cristo.
Os essênios eram descendentes de Zadok, o sacerdote ao tempo de Davi, que se mantiveram fora do poder durante os períodos Hasmoneano e Romano. Consideravam o Templo impuro, se mudaram num exílio auto imposto para uma comunidade monástica em Qumran, no rio Jordão, e esperaram por uma batalha do fim dos tempos em que eles, como “filhos da luz”, seriam conduzidos pelo alto sacerdote e o “Mestre da Retidão” contra os filhos das trevas. Como isso aconteceu no rio Jordão, sua figura central era a reconquista de Canaã. Os essênios eram ascetas e formavam uma comunidade hierarquicamente organizada, uma seita apocalíptica fundamental. São conhecidos hoje pelos Manuscritos do Mar Morto, que contêm alguns dos seus escritos, mas a maioria são cópias dos trabalhos da Bíblia Hebreia. Os manuscritos foram descobertos no deserto da Judeia, próximo ao rio Jordão, em 1942.
É difícil dizer quando os fariseus, como uma facção, surgiram. Josephus os menciona pela primeira vez em conexão com Jônatas, o sucessor de Judas Macabeu. Um dos fatores que distinguia os fariseus de outros grupos, antes da destruição definitiva do Templo, era a sua crença de que todos os judeus tinham de observar as leis da pureza (aplicadas ao serviço do templo) fora do templo. A maior diferença, contudo, era a permanente aderência dos fariseus às leis e tradições do povo judeu com relação à assimilação. Formavam um movimento de reforma laica (não sacerdotal) e eram os guardadores do Tora oral, isto é, as interpretações orais do Tora, que eles criam foram dadas a Moisés no Monte Sinai e que ajudaram o povo a manter os mandamentos com menos possibilidade de transgressão. Transferiram muitos aspectos da pureza do Templo à esfera doméstica e enfatizaram os rituais domésticos e os serviços de sinagoga que poderiam ser feitos fora do Templo, em Jerusalém. Como Josephus observou, os fariseus eram considerados os mais versados e precisos expositores da lei judaica.
Os saduceus eram os líderes sacerdotais no poder durante a dinastia Hasmoneana, que se encontravam também em termos cordiais com Roma, quando ela dominou. Eram conservativos na crença: a autoridade era o Tora, sem interpretação oral, profetas nem escritos. Não acreditavam em ressurreição pessoal.
Durante o período hasmoneano, os saduceus e os fariseus funcionaram, primariamente, como facções políticas. Embora os fariseus tenham se oposto às guerras de expansão dos hasmoneanos e à forçada conversão dos idumeus, o racha político entre eles se tornou maior quando os fariseus exigiram que o rei Alexander Janeu escolhesse entre ser rei e ser o Alto Sacerdote. Como resposta, o rei alinhou-se abertamente com os saduceus, adotando os seus ritos no templo. Tais ações causaram um motim no templo, conduzindo a uma breve guerra civil que terminou com uma sangrenta repressão aos fariseus, embora em seu leito de morte o rei tenha pedido uma reconciliação entre as partes. Sua viúva e sucessora, Salomé Alexandra, tinha um irmão que era líder fariseu. Josephus atesta que Alexandra era favoravelmente inclinada aos fariseus, cuja influência cresceu muito durante o seu reino, especialmente na instituição denominada “Sinédrio” (uma espécie de assembleia ou conselho, famosa no tempo de Cristo). Seu filho mais velho, que a sucedeu, buscou o apoio fariseu e seu filho mais novo, Aristobulus, procurou o apoio saduceu. Como vimos, este conflito culminou numa guerra civil que terminou quando o general romano Pompeu capturou Jerusalém, em 63 AC, inaugurando o período romano da história judia.
Todas as facções mencionadas perduraram por todo o período romano, até a guerra dos Judeus, que culminou com a destruição do Templo de Jerusalém e a difusão dos judeus por todo o mundo.

V – PALESTINA ROMANA E FIM DOS HASMONEANOS

Retornamos ao assunto principal, no ponto em que os dois irmãos Hircano II e Aristobulus II disputavam o poder de Israel.
Pois ao tempo em que a guerra civil pelo poder se desenvolvia, o general romano Marcus Aemilius Scaurus chegou à Síria para tomar posse, em nome do Cônsul Gnaeus Pompeius Magnus (Pompeu), do reino dos selêucidas. Os dois irmãos apelaram a ele, com presentes para seduzi-lo. Inicialmente, Scaurus inclinou-se para Aristobulus, mas quando Pompeu chegou à Síria, as coisas mudaram, pois ele pretendia ter a Judeia sob o mando romano. E chegou à conclusão que para isso, seria muito mais fácil se Hircano estivesse no poder ao invés de Aristobulus. Este adivinhou as intenções de Pompeu e reuniu seus exércitos, mas foi derrotado por ele várias vezes, tendo suas cidades capturadas. Aristobulus entrincheirou-se na fortaleza de Alexandrium (entre Scythopolis e Jerusalém), mas concluindo sobre a impossibilidade de vencer, rendeu-se à primeira convocação dos romanos, comprometendo-se a entregar-lhes Jerusalém. Como os cidadãos relutavam em entregar a cidade, Pompeu teve que sitiá-la e finalmente penetrou na Cidade Santa em 63 AC. Com isso a Judeia tornou-se um protetorado de Roma, devendo-lhe impostos, sob a administração de um governador romano da Síria, mas com direito a manter um rei.
De 57 a 55 AC, Aulus Gabinius, proconsul da Síria, dividiu o reino hasmoneano anterior em Galileia (ao norte), Samaria (no centro) e Judeia (ao sul), com cinco distritos com conselhos legais e religiosos (os Sinédrios): Jerusalém, Gadara (na Jordânia, onde se encontram os limites com Síria e Israel), Amathus (sem localização), Jericó e Sepphoris (região central da Galileia, 3,7 km de Nazaré).
Com a vitória de Pompeu, Aristobulus foi levado para Roma como prisioneiro e Hircano novamente indicado Alto Sacerdote, mas com autoridade política. Entretanto, em 50 AC, Júlio Cesar, sucedendo a Pompeu, demonstrou interesse em usar Aristobulus e sua família como clientes para tomar o controle da Judeia de Hircano e Antipater, devedores de Pompeu, fazendo com que partidários de Pompeu envenenassem Aristobulus em Roma. 

No início da guerra civil entre Pompeu e Júlio Cesar, Hircano e Antipater preparavam-se para apoiar Pompeu, mas com o seu assassinato e a queda da República Romana para o Império Romano, conduziram as forças judias para apoiar Cesar, em dificuldades na Alexandria. Sua ajuda na hora certa, somada à sua influência junto aos judeus egípcios, recomendaram ambos a Cesar que os garantiu como extensão de sua autoridade na Palestina. A Judeia foi liberada dos tributos e taxas devidos a Roma e ganhou independência para administração interna.
A restauração de Hircano como etnarca (e alto sacerdote) em 47 AC, coincidiu com a indicação de Antipater como primeiro Procurador Romano da Judeia, permitindo-lhe promover os interesses de sua própria casa, colocando seus filhos Phasael, como governador de Jerusalém, e Herodes, como governador da Galileia. Com isso a tensão entre Hircano e a família de Antipater cresceu, culminando com o julgamento de Herodes por supostos abusos em seu governo e sua fuga para o exílio em 46 AC. Mas Hircano era tão incapaz e fraco que Herodes retornou em seguida e, quando defendeu-o contra o Sinédrio, frente a Marco Antônio, este retirou sua autoridade política nominal e seu título, entregando-as ao acusado Herodes, em 43 AC.
Herodes, o Grande, governador da Galileia e, posteriormente,
"Rei dos Judeus" pelo Senado Romano, em 40 AC 
Cesar foi assassinado em 44 AC e a confusão e intranquilidade se espalharam por todo o mundo romano, incluindo a Judeia. Antipater, o idumeu, foi assassinado por um rival em 43 AC, mas os filhos de Antipater assassinaram o rival, mantendo o controle sobre a Judeia e o fantoche de seu pai, Hircano.
Após o assassinato de Júlio Cesar, Quintus Labienus, um general romano republicano e embaixador junto aos Parta, alinhou-se com Brutus e Cassius (assassinos de Cesar) na guerra civil dos “Libertadores”. Com a sua derrota, Labienus uniu-se aos Partas, ajudando-os na invasão dos territórios romanos, em 40 AC. O exército parta atravessou o Eufrates e Labienus conseguiu a adesão das guarnições romanas de Marco Antônio em torno da Síria à sua causa. Os partas dividiram seu exército e, sob Pacorus, conquistaram o Levante da costa Fenícia até a terra de Israel.
Antigonus II Matatias, filho de Aristobulus II, instigou os partas a invadirem a Síria e a Palestina e os judeus apoiaram a descendência dos Macabeus, expulsando os odiados idumeus e seu fantoche rei judeu. A luta entre o povo e os romanos foi deflagrada e Antigonus, colocado no trono pelos partas, imaginou que uma nova era de independência havia chegado.
Phasael e Hircano II partiram em embaixada aos partas e foram presos por eles. Antigonus, presente ao evento, cortou as orelhas de Hircano II para impedi-lo de voltar a ser Alto Sacerdote e condenou Phasael à morte. Antigonus acumulou os cargos de rei e alto sacerdote por apenas três anos, porque não havia capturado Herodes, o mais perigoso dos seus inimigos. Herodes fugiu em exílio buscando o apoio de Marco Antônio e foi declarado “Rei dos Judeus” pelo Senado Romano, em 40 AC.
O conflito persistiu por alguns anos pois as forças romanas se ocupavam em derrotar os partas, faltando recursos para o apoio a Herodes. Finalmente, derrotando os partas, em 37 AC, Antigonus foi entregue a Marco Antônio e executado em seguida. Os romanos confirmaram a proclamação de Herodes, o Grande, como Rei dos Judeus, trazendo o fim da Dinastia Hasmoneana sobre a Judeia, 
mas não dos hasmoneanos, cujo destino foi ainda mais cruel.
O reino hasmoneano havia sobrevivido 103 anos antes de chegar à Dinastia Herodiana. Herodes, o Grande, casou com uma princesa hasmoneana, Mariane, tentando amenizar a situação. Aristobulus III, neto de Aristobulus II, por seu filho mais velho Alexander, foi feito alto sacerdote por muito pouco tempo e então executado em 36 AC, por ciúmes de Herodes. Sua irmã Mariane, esposa de Herodes, caiu também vítima dos seus ciúmes. Seus filhos, Aristobulus IV e Alexander, foram também executados por seu pai, Herodes, quando adultos.
Hircano II fora mantido pelos partas desde 40 AC e até 36 AC viveu entre os judeus babilônios que lhe prestavam todo o respeito. Naquele ano, Herodes, que ainda temia que ele pudesse reivindicar o trono, convidou-o a retornar a Jerusalém. Em vão os judeus babilônios o avisaram para não ir. Herodes recebeu-o com todo o respeito, deu-lhe o assento de honra em sua mesa e a presidência do conselho de estado, esperando por uma boa oportunidade para livrar-se dele. Em 30 AC, acusado de conspiração com o rei da Arábia, Hircano II, o último hasmoneano restante, foi condenado e executado. Como se vê, sua sede de matar não era pequena, sendo importante lembrar que esse Herodes, o Grande, é o mesmo Herodes da época do nascimento de Cristo que, segundo o Evangelho de Mateus, mandou matar todas os meninos com menos de um ano de idade, nascidos em Belém, com medo de perder o trono para o recém-nascido “Rei dos Judeus”, que lhe fora revelado pelos Três Reis Magos.



                                                                 VI - EPÍLOGO


Herodes Antipas, governador da Galileia na era de Cristo
 Com a morte de Herodes, o Grande, em 4 AC, o imperador romano de então, Augustus, respeitou seu testamento, dividindo seu reino entre seus três filhos. Arquelaus recebeu o título de “etnarca” e foi indicado para governar as três regiões geográficas de Samaria, Judeia e Idumeia. Ele foi deposto e exilado em 6 DC, quando Roma juntou essas regiões na província romana da Judeia. Herodes Antipas, designado “tetrarca” (governador de um quarto), recebeu a Pereia e a Galileia (até 39 DC), onde Jesus viveu o seu ministério de adulto. Felipe recebeu partes mais remotas do reino, que nada interessam ao nosso contexto.
Mas além dos governadores, o poder nas diferentes regiões da Palestina era dividido por mais duas figuras, ao final dos anos 20 DC e início dos anos 30. Pôncio Pilates, romano, com a queda de Arquelaus, era o prefeito romano da grande Judeia (onde ficava Jerusalém). Por isso foi o responsável pelo julgamento de Cristo. José Caifás, também figura importante ao tempo de Cristo, era o grande sacerdote em Jerusalém, lembrando que a Samaria (pertencente à grande Judéia) não era judia ao tempo.
Em 44 DC, Roma instalou o mando de um Procurador Romano, paralelo aos reis herodianos que seguiram, Herodes Agripa I (41 a 44 DC) e Agripa II (50 a 100 DC)
A queda do Reino Hasmoneano marcou o fim de um século de governo judeu independente, mas o nacionalismo judeu e seu desejo por independência prosseguiram sob o domínio romano. Iniciaram com o “Censo de Quirinius”, em 6 DC (ao qual o Evangelho de Lucas relaciona o nascimento de Cristo), e conduziram a uma série de guerras judia – romanas, nos séculos I e II DC, incluindo a “Grande Revolta” (66 a 73 DC), a “Guerra de Kitos” (115 a 117 DC) e a “Revolta de Bar Kokhba” (132 a 135 DC).
Durante tais guerras, comunidades temporárias foram estabelecidas, mas que acabavam por cair ao poder sustentado de Roma. As legiões romanas de Vespasiano e Titus sitiaram Jerusalém, saquearam e incendiaram o Templo de Herodes (no ano 70 DC) e fortalezas judias, como Gamla (63 DC) e Massada (73 DC), escravizando e massacrando grande parte da população judia. A derrota das revoltas judias contra o Império Romano, contribuíram notavelmente para os números e a geografia da “Diáspora Judia”, a dispersão dos judeus que perderam seu estado ou foram vendidos como escravos por todo o império romano. Mas isso já é um outro grande assunto ...

segunda-feira, 27 de julho de 2015

HISTÓRIA DO POVO HEBREU APÓS A CONQUISTA DE JUDÁ PELA BABILÔNIA (PARTE 2)

Matatias, o Hasmoneano,
iniciador da revolta dos Macabeus
As tentativas de Antíoco IV de proscrever a religião judia, conduziram a um conflito entre um grupo judeu rebelde, conhecido como Macabeus, e o Império Selêucida, que durou de 167 a 160 AC e que ficou conhecido como a “Revolta dos Macabeus”. Segundo “Macabeus I, Antigo Testamento”, um sacerdote judeu, chamado Matatias, o Hasmoneano, inflamou a revolta pela recusa em adorar deuses gregos, matando um judeu helenístico que avançou para sacrificar a um ídolo, em seu lugar, e fugindo, em seguida, para o deserto de Judá, com seus cinco filhos. Após a morte de Matatias, um ano depois, em 166 AC, seu filho Judas Macabeu conduziu um exército de judeus dissidentes à vitória sobre a dinastia Selêucida, em ações de guerrilha, inicialmente contra judeus helenizados. Os Macabeus destruíram altares pagãos, circuncisaram meninos e obrigaram os judeus a se oporem à lei. O termo “Macabeus”, usado para descrever o exército judeu, foi tomado da palavra hebraica para “martelo”.
Após as vitórias iniciais, os Macabeus entraram triunfalmente em Jerusalém, limparam o Templo, restabeleceram a tradicional adoração judia e instalaram Jônatas Macabeu, irmão de Judas Macabeu, como alto sacerdote. A nova consagração do Templo, quando retomado pelos Macabeus de Judá, após sua vitória, é a base da celebração do Hanuka no Judaísmo. Após cinco anos de guerra, em 161 AC, Judas buscou uma aliança com a República Romana, para remover os gregos. 
Jônatas Macabeu, irmão de Judas,
continuador da revolta dos Macabeus
Um grande exército selêucida foi enviado para esmagar a revolta, mas retornou à Síria com a morte de Antíoco IV. Seu comandante Lysias, preocupado com problemas internos, concordou com um compromisso político que restaurava a liberdade religiosa. Antíoco IV foi substituído por Demetrius I Soter, o sobrinho cujo trono ele havia usurpado. Demetrius enviou para Israel o general Bachides, com um poderoso exército, a fim de instalar Alcimus no posto de Alto Sacerdote. Bachides subjugou Jerusalém, matou Judas Macabeu e estabeleceu os helenos como governantes de Israel. Com isso, os patriotas perseguidos, sob a liderança de Jônatas Macabeu, fugiram, estabelecendo acampamento a leste do rio Jordão e permanecendo em guerrilha contra os selêucidas.
Após a morte de seu governador fantoche, Alcimus, alto sacerdote de Jerusalém, Bachides sentiu-se seguro para deixar o país. Mas as guerrilhas de Jônatas o chamaram de volta e depois de sitiado vários dias por Bachides, ele ofereceu um tratado de paz e troca de prisioneiros de guerra. Bachides rapidamente assentiu e afirmou nunca mais fazer guerra contra Jônatas, abandonando Israel com suas forças. Jônatas fixou residência na velha cidade de Michmash e de lá empenhou-se em limpar Jerusalém. 
Attalus II Philadelphus, rei
de Pergamo, relevo em pedra 
As relações de Demetrius I Soter com Attalus II Philadelphus, do Pergamo (1), (que reinou entre 159 e 138 AC neste reino importante do período helenístico), Ptolomeu VI do Egito (reinou entre 163 e 145 AC) e sua irmã e rainha conjunta Cleópatra II, estavam se deteriorando e eles apoiaram um reclamante rival ao trono selêucida, Alexandre Balas, que pretendia ser filho de Antíoco IV Epifânio e primo de Demetrius. Este foi obrigado a chamar de volta as guarnições da Judeia, exceto as das cidades do Acra e Beth-zur, para reforçar seu poderio. Além disso, ele fez uma proposta pela lealdade de Jônatas, permitindo-lhe recrutar um exército e recuperar os reféns mantidos na cidade de Acre. Jônatas aceitou tais termos, estabeleceu residência em Jerusalém e iniciou a fortificação da cidade. Alexander Balas ofereceu a Jônatas termos ainda mais favoráveis, que incluíam o posto de Alto Sacerdote em Jerusalém; apesar de uma segunda carta de Demetrius que fazia promessas quase impossíveis de honrar, Jônatas declarou seu apoio a Balas, tornando-se líder oficial do seu povo e já oficiando a Festa dos Tabernáculos de 153 AC com as vestes do Alto Sacerdote. Com isso, o partido helenístico já não poderia ataca-lo sem severas consequências.
Em 150 AC, Demetrius perdia seu trono e sua vida. Ao vitorioso Alexander Balas foi dada a honra adicional de casar com Cleopatra Thea, filha de seus aliados Ptolomeu VI e Cleopatra II. Convidado para a cerimônia, Jônatas compareceu com presentes para os reis e sentou-se entre eles como seu igual. Foi declarado por Balas uma espécie de governador militar e governador civil da Província, e enviado de volta  para Jerusalém, com honras.
Em 147 AC, Demetrius II Nicator, filho de Demetrius I Soter, reivindicou o trono de Balas. O governador de Coele Syria (termo helenístico para uma região da Síria), Apolônio Taos, aproveitou para desafiar Jônatas para uma batalha. Jônatas e Simeão conduziram uma força de 10.000 homens contra o exército de Apolônio, em Jafa, que não estava preparado para o rápido ataque e abriu os portões para render-se aos judeus, mas recebendo reforços de Azotus, apareceu na planície com 3.000 homens, incluindo forças de cavalaria superiores. Jônatas atacou, capturou e queimou Azotus, com o templo residente de Dagon, e as vilas da vizinhança.
Alexander Balas honrou o Alto Sacerdote vitorioso, dando-lhe a cidade de Ekron com seu território circunjacente. O povo de Azotus queixou-se ao rei Ptolomeu VI, que tinha vindo para lutar com seu genro, mas Jônatas encontrou-o em Jaffa, em paz, e acompanhou-o até o rio Eleuterus, retornando a Jerusalém e mantendo a paz com o rei do Egito, a despeito do seu apoio a diferentes rivais ao trono Selêucida.
Em 145 AC, a Batalha de Antióquia (capital do Império Selêucida, fundada por Seleucos I Nicator em finais do século IV AC) resultou na derrota final de Alexander Balas pelas forças de seu sogro Ptolomeu VI, que foi uma das baixas da batalha. Demetrius II Nicator ficou como único mandatário do Império Selêucida, tornando-se o segundo marido de Cleópatra.
Jônatas não se submeteu ao novo rei e aproveitou a oportunidade para sitiar a fortaleza selêucida de Acra, em Jerusalém, símbolo do controle selêucida sobre a Judeia. Ela era fortemente guarnecida por uma força selêucida e oferecia asilo a judeus helenistas. Jônatas foi chamado a conversar com Demetrius e foi acompanhado dos anciãos e sacerdotes com muitos presentes. Por 300 talentos (medida de peso em metal precioso) Jônatas consegui a isenção do pagamento de impostos, por escrito, para todo o país. Em troca, Jônatas levantou o cerco de Acra, deixando-a em mãos selêucidas.
Logo em seguida, um novo reclamante ao trono selêucida surgiu na figura de Antíoco VI Dionysus, filho de Alexandre Balas e Cleopatra Thea. Tinha apenas três anos de idade mas o general Diodotus Tryphon o usou para avançar nos seus projetos ao trono. Demetrius então chamou Jônatas, como seu aliado, prometendo a retirada da guarnição de Acra. Jônatas deu-lhe a proteção de 3.000 homens em sua capital, Antióquia, contra seus próprios súditos.
Demetrius não cumpriu sua promessa para com Jônatas que resolveu então apoiar o novo rei quando Diodotus Tryphon e Antíoco VI capturaram a cidade, especialmente quando o último confirmou seus direitos e indicou seu irmão Simão como strategos (líder militar) da Paralia (província costeira da Palestina à época), desde a “Escada do Tiro” (penhasco ao sul do Tiro) até a fronteira com o Egito.
Jônatas e Simão tinham agora poder para realizar conquistas e foi o que fizeram: Ashkelon (sul de Israel), Gaza (mais ao sul),a planície de Hazar (ao norte de Israel) e a fortaleza de Beth-Zur (próximo de Jerusalém). Como Judá nos primeiros anos, Jônatas buscou alianças com outros povos. Renovou seus tratados com os romanos e trocou mensagens amistosas com Partia e outras potências.
Diodotus Tryphon foi com um exército à Judeia e convidou Jônatas a Scythopolis (nome grego da cidade de Beit She’an, às margens do Jordão, a jusante do Mar da Galileia) para uma conferência amistosa onde ele o persuadiu a dispensar seu exército de 40.000 homens, prometendo-lhe Acra e outras fortalezas. Jônatas caiu na armadilha, levou com ele 1.000 homens a Acra, onde foram todos mortos e ele aprisionado.
Quando Diodotus Tryphon entrava em Judeia, foi confrontado pelo novo líder judeu, Simão, pronto para a batalha. Pretendendo evitar a batalha, Tryphon exigiu 100 talentos e os dois filhos de Jônatas como reféns, para libertar Jônatas. Para não ser acusado da morte de seu irmão, Simão concordou com as exigências. Tryphon executou Jônatas para que ele não fosse empecilho às suas conquistas e nada se sabe sobre seus dois filhos. Jônatas foi enterrado por Simão em Modin (a moderna Modin a 30 km a oeste de Jerusalém). Uma de suas filhas foi uma ancestral de Flavius Josephus.
Simão assumiu a liderança em 142 AC, recebendo os cargos de Alto Sacerdote e Príncipe de Israel. A liderança dos Hasmoneanos foi estabelecida por uma resolução adotada em 131 AC, numa grande assembleia dos sacerdotes, anciãos e povo da terra, para que Simão fosse o seu líder e Alto Sacerdote para sempre, até que surgisse um “profeta confiável”. Ironicamente, a eleição foi realizada no estilo helenístico. 
Simão Macabeu, fundador da
Dinastia Hasmoneana
Simão fez o povo judeu semi-independente dos gregos selêucidas e reinou de 142 a 135 AC, inaugurando a Dinastia Hasmoniana, com a concordância do Senado Romano, em 139 AC. Simão foi assassinado (junto com seus filhos mais velhos, Matatias e Judá) pela instigação de seu genro Ptolomeu, filho de Abubus (ou Abobus ou Abobi), que havia sido nomeado governador da região pelos selêucidas.

IV – A DINASTIA HASMONEANA

A Dinastia Hasmoneana foi a dinastia governante de Judá e regiões vizinhas, de 140 a 116 AC, reinando quase autonomamente dos selêucidas. A dinastia foi estabelecida sob a liderança de Simão Macabeu, duas décadas depois que seu irmão Judas Macabeu derrotou o exército selêucida durante a Revolta dos Macabeus. Essa revolta iniciou um período de 25 anos de independência judia, potencializado pelo permanente colapso do Império Selêucida sob ataques das potências nascentes da República Romana e do Império Parta. Contudo, o mesmo vácuo de poder que permitiu ao Estado Judeu ser reconhecido pelo Senado Romano em 139 AC, propiciou a sua exploração pelos próprios romanos.
Em 135 AC, João Hircano, o terceiro filho de Simão, assumiu a liderança e governou como Alto Sacerdote, tomando um nome de governante grego (de Hyrcania) em aceitação à cultura helenística de seus suseranos selêucidas. No primeiro ano da morte de Simão, o rei selêucida Antíoco VII Sidetes atacou Jerusalém e, de acordo com Flavius Josephus, Hircano abriu o sepulcro do Rei David e removeu 3.000 talentos, que pagou como tributo para que poupassem a cidade. Ele permaneceu como governador, como um vassalo selêucida, como seu pai, reinando pelas duas décadas seguintes, como semiautônomo.
O Império Selêucida se desintegrava em face das guerras Selêucida – Parta e em 129 AC, Antíoco VII Sidetes foi morto por forças de Phraates II da Partia, permanentemente encerrando o mando selêucida a leste do Eufrates. Em 116 AC explodiu uma guerra civil entre os meio irmãos Antíoco VIII Grypus e Antíoco IX Cyzicenus, que resultou numa ruptura adicional do já significantemente reduzido reino, propiciando a revolta dos estados clientes selêucidas, como a Judeia.
Em 110 AC, com o desmoronamento do império selêucida, a dinastia tornou-se totalmente independente e João Hircano conseguiu suas primeiras conquistas militares, levantando um exército mercenário para capturar Madaba (na Jordânia, imediatamente a montante do Mar Morto) e Schechem (Siquém, margem ocidental do Jordão ao norte de Jerusalém, primeira capital do Reino de Israel), aumentando consideravelmente sua influência regional. Em seguida capturou a Transjordânia, Samaria, Galileia e Idumeia (a bíblica Edom) forçando o seu povo a converter-se ao judaísmo, como condição para permanecerem em seu país. Ele queria que sua mulher o sucedesse como chefe do governo e seu filho Aristobulus I permanecesse apenas como Alto Sacerdote. Entretanto, com sua morte, Aristobulus encarcerou sua mãe (deixando-a morrer) e três irmãos, tomando o poder como o primeiro hasmoneano com o título de basileus (termo grego com o mesmo significado de rei ou imperador), afirmando a independência do estado. Morreu apenas um ano depois, em 103 AC.
Seus irmãos foram libertados e um deles, Alexander Janeu, reinou de 103 a 76 AC, morrendo durante o cerco da fortaleza Ragaba. Em 87 AC, de acordo com Josephus, após uma guerra civil de seis anos, envolvendo o rei selêucida Demetrius III Eucaerus, Alexander crucificou 800 rebeldes judeus em Jerusalém.
Alexander foi sucedido por sua esposa Salomé Alexandra, que reinou de 76 a 67 AC, sendo a primeira rainha judia. Em seu reinado, seu filho Hircano II foi o Alto Sacerdote e nomeado seu sucessor. Ele reinava há apenas três anos quando seu irmão mais jovem, Aristobulus II iniciou uma revolução. Hircano II avançou contra ele com exército de mercenários e seus seguidores fariseus (logo falaremos deles), mas Aristobulus possuía um exército mais forte e na batalha que decidiria o reino, próximo de Jericó, a maior parte dos mercenários desertou de Hircano bandeando-se para seu irmão. Hircano refugiou-se na cidadela de Jerusalém, mas a captura do templo, por Aristobulus, obrigou-o a render-se. A paz foi acertada com a renúncia de Hircano ao reino e ao posto de alto sacerdote, mas mantendo as demais dignidades a que fazia jus como irmão do novo rei Aristobulus II, que reinou de 67 a 63 AC.
De 63 a 40 AC, o governo esteve nas mãos de Hircano II como alto sacerdote e etnarca (líder político), embora o poder estivesse nas mãos de seu conselheiro Antipater, o Idumeu, fundador da Dinastia Herodiana e pai de Herodes, o Grande. É importante lembrar que em 63 AC, com a conquista do reino pela República Romana (veremos abaixo, a “Palestina Romana”), dissolvido e estabelecido como Estado Cliente Romano, os governantes, daí para a frente, tornaram-se fantoches de uma guerra entre Júlio César e Pompeu, o Grande. As mortes de Pompeu (em 48 AC), César (em 44 AC) e as guerras civis romanas relacionadas, temporariamente relaxaram a pressão de Roma sobre Israel, permitindo a breve ressurgência de um hasmoneano apoiado pelo Império Parta. Esta curta independência foi rapidamente esmagada pelos romanos sob Marco Antônio e Otávio.

(1) Pergamo foi, inicialmente, uma antiga cidade grega, hoje localizada na moderna Turquia, entre o Mar Egeu (Mediterrâneo grego, a 26 km dele) e o Mar Negro. A partir da dinastia dos Attalus, a cidade expandiu-se para formar o Reino de Pergamo, tornando-se sua capital (281 a 133 AC), durante o período helenístico. Pergamo é citada no Livro das Revelações (Bíblia), como uma das sete igrejas da Ásia.

Na próxima postagem, conclusão da HISTÓRIA DO POVO HEBREU ..., com a terceira e última parte.

terça-feira, 21 de julho de 2015

HISTÓRIA DO POVO HEBREU APÓS A CONQUISTA DE JUDÁ PELA BABILÔNIA (PARTE 1)

I - INTRODUÇÃO

A fonte histórica mais segura para acompanhar a saga do povo hebreu é, sem dúvida, o Antigo Testamento da Bíblia, ou o Tora, para os judeus. E aqui aproveito a oportunidade para apresentar o significado de algumas palavras básicas relacionadas.

O Tora (que em hebreu significa “instrução” ou “ensino”), ao qual muitas vezes nos referimos como “Pentateuco”, é o conceito central na tradição religiosa Judaica. Possui uma grande quantidade de significados: pode significar os primeiros cinco livros (Gêneses, Êxodos, Levíticos, Números e Deuteronômio) dos vinte e quatro livros do Tanakh (conjunto dos livros da Bíblia Hebreia), em geral incluindo os comentários rabínicos. O Tora pode significar também “instrução”, oferecendo uma forma de vida para aqueles que o seguem. Ele pode significar a narrativa continuada do Gêneses ao final do Tanakh. Pode até mesmo significar a totalidade do ensinamento, cultura e prática judeus. Comum a todos esses significados, o Tora consiste na narrativa fundamental do povo judeu: seu chamamento por Deus, suas provações e atribulações e seu pacto com seu Deus, que envolve seguir uma forma de vida personificada num conjunto de obrigações e leis civis morais e religiosas.

O Talmud (significando “instrução” ou “aprendizado”, é um texto central do Judaísmo Rabínico. O termo “Talmud” em geral se refere ao Talmud Babilônico, embora haja uma coleção anterior conhecida como o Talmud de Jerusalém. O Talmud tem dois componentes. A primeira parte é o Mishnah (cerca de 200 DC), o compêndio escrito do Tora Oral do Judaísmo Rabínico. A segunda parte é o Gemara (cerca de 500 DC), uma elucidação do Mishna e dos escritos Tanáticos relacionados, que muitas vezes se aventuram por outros assuntos e expõe amplamente a Bíblia Hebreia. O Talmud pode ser usado para significar apenas o Gemara ou o Gemara e o Mishna impressos juntos. O Talmud completo consiste de 63 tratados e, em impressão normal, possui mais de 6.200 páginas e é escrito em hebreu e aramaico. O Talmud contém os ensinamentos e opiniões de milhares de rabis sobre uma variedade de assuntos, incluindo o Halakha (conjunto das leis religiosas judias derivadas do Tora escrito e oral), a ética, filosofia, costumes e história Judia, além de muitos outros tópicos.
Entretanto, mesmo este fantástico documento, torna-se bem difícil de ser acompanhado - ao menos pelos leigos ou pouco conhecedores do assunto – a partir do momento em que o Estado Judeu é invadido pela Babilônia, Jerusalém é devastada, o Templo destruído e grande parte da sua população levada cativa para as longínquas terras da Mesopotâmia. Há muito as doze tribos de Israel já se haviam separado, chegara a época dos profetas e muito do Antigo Testamento passa para o plano figurativo e religioso, tornando a leitura difícil de ser acompanhada e entendida. A história dos Hebreus só volta a ser novamente narrada e entendida após o nascimento de Cristo, através dos Evangelhos (Novo Testamento da Bíblia); nesse caso, segundo o ponto de vista dos primeiros cristãos e de cunho eminentemente religioso, com ênfase em sua figura central, Jesus Cristo.
Certamente existem historiadores contemporâneos (Flavius Josephus – “Josephus” -, Gaius Plinius Secundus – “Plínio, o Velho” – e Philo Jadaeus – “Philo de Alexandria”) que escreveram a sua história à época e, posteriormente, uma grande quantidade de historiadores modernos, usando essas fontes, apresentaram as suas respectivas versões.
O objetivo desta publicação é exatamente tentar preencher essa lacuna. O período que vai da invasão de Israel pela Babilônia e exílio dos hebreus em cativeiro, até a revolta dos judeus contra o império romano, que acabou com a destruição do Templo, pela segunda vez, e a definitiva difusão dos hebreus por todo o mundo; visto pelo prisma exclusivamente histórico.
Como esse assunto vai envolver a participação de vários impérios, já quero deixar claro que não é objetivo deste trabalho o detalhamento individual das suas histórias, mas apenas mostrar as suas relações com a história do povo hebreu durante o período mencionado. Muitos dos impérios que serão mencionados, já foram motivo de outras postagens do pesquisador e podem ser examinados, quando necessário.

II – CONQUISTA DO REINO DE JUDÁ PELA BABILÔNIA

Antes do exílio, Judá era uma monarquia que havia mantido as tradições de Israel, a comunidade tribal uma vez unida sob o Rei Davi. Havia absorvido muito das tradições pan-israelitas, mas ainda era uma comunidade, uma entidade política sem outra finalidade que a de existir, sobreviver e prosperar como uma entidade política.
Entre as principais instituições da Judá pré-exílica, estavam:
  • Os reis davídicos, uma dinastia que reivindicava investidura divina;
  • O templo Salomônico que, com as reformas de curta duração introduzidas por Ezequiel e Josias, abrigou vários cultos;
  • Adivinhos proféticos ao serviço dos reis e também profetas críticos dos reis, advogando somente a adoração de Javé. 
    Nabucodonosor II da Babilônia

O cativeiro babilônico ou exílio babilônico foi o período da história judaica durante o qual um grande número de judeus do antigo reino de Judá permaneceu cativo na Babilônia. Em 605 AC, Nabucodonosor II, rei da Babilônia, sitiou Jerusalém que não lhe pode defrontar, o que ocasionou a criação de um tributo a ser pago pelo rei hebreu Eliaquim (ou Jeoiaquim). No quarto ano de Nabucodonosor II, Eliaquim recusou-se a pagar o tributo, o que motivou um novo sítio da cidade no sétimo ano do rei babilônico (597 AC), que culminou com a morte do rei de Judá e o exílio de seu sucessor Joaquim (ou Jeconias) - que reinou por apenas três meses -, sua corte e muitos outros, para a Babilônia. Seu sucessor, Zedequias (ou Sedecias ou Matanias), e outros, foram exilados no décimo oitavo ano de Nabucodonosor II (587 AC); uma deportação posterior ainda ocorreu no vigésimo terceiro ano de Nabucodonosor II (582 AC).
Império Babilônico Nabucodonosor II

A completa conquista do reino de Judá pela Babilônia, concretizou-se, portanto, em 587 AC, quando o rei de Judá era Zedequias. Os babilônios destruíram Jerusalém e seu Templo, expurgando os membros da elite da sua população para a Babilônia, aí incluindo Zedequias - cujos filhos foram mortos em sua frente e ele cego e jogado na prisão até a sua morte. Esse período ficou sendo conhecido como “Cativeiro da Babilônia”. A despeito da perda do Templo, o Judaísmo não morreu como religião, embora o culto e o sacrifício no Templo fossem impossíveis. Os judeus se consolidaram em torno dos seus documentos sagrados e o Tora tomou o lugar do Templo como um centro sagrado. O judaísmo tornou-se uma religião de livro, com um foco sagrado portátil. O exílio babilônico dos judeus tornou-se proverbial. Durante e após o exílio, eles desenvolveram uma energia criativa sem precedentes, do que resultou a edição definitiva do Pentateuco, dos livros de Samuel e Reis, de muitos dos livros proféticos e também na composição de uma nova literatura que refletia as preocupações dos que retornaram da Babilônia, muitas vezes mais diretamente, do que a antiga literatura. Durante este período eles editaram suas histórias e escritos sagrados com a visão de que os profetas estavam certos: as desditas das “crianças de Israel” eram devidas à sua desobediência ao pacto, o que resultou na edição definitiva do Tora. O estudo do Tora tornou-se o foco da prática, com encontros semanais em casas de estudo públicas. A ênfase foi colocada nas determinações do Tora que podiam ser seguidas longe do templo, tais como a circuncisão, a observância do Sabá, as leis da pureza e as prescrições de dieta.
Mapa da deportação do povo de Judá

Em 539 AC, o persa Ciro, o Grande, conquistou a Babilônia e por um seu decreto Judá retornou do exílio em 539 AC e foi politicamente reconstruído como uma província administrativa semiautônoma da Pérsia. Passou a ser governada por uma elite sacerdotal cujos pontos de vista e atitudes foram moldados pelos projetos religiosos para reconstrução delineados no exílio. Estavam em desacordo com a população, rigorosamente forçaram a separação da população heterogênea de Judá e governaram à base do Tora. Em 428 AC, Ezra trouxe, da Babilônia para Jerusalém, e promulgou, o Tora, que serviu como o ideal legal de um estado teocrático (governado por sacerdotes ao invés de reis), efetivamente marcando o início da moderna religião judaica. Ezra foi o sacerdote que reorganizou o estado Israelita politicamente e organizou o novo sistema religioso que incluía o estudo do Tora, ficando conhecido como o “Pai do Judaísmo”. Neemias, um funcionário da corte na Pérsia, retornou pouco mais tarde para reconstruir as muralhas da cidade e o templo de Jerusalém, isto é, o Segundo Templo, já que o primeiro havia sido construído por Salomão. A partir daí, a religião passou a ser conhecida como o “Judaísmo do Segundo Templo”. 
Ciro o Grande, Pérsia
A influência persa tornou-se notável na literatura apocalítica judia (simbolismo do bem contra o mal, angelologia, figura do demônio como ano caído e o mal personificado). A língua administrativa de Judá passou a ser o aramaico, língua do império persa, ao invés do hebreu. Uma importante nova instituição foi o uso dos Levitas como sacerdotes auxiliares.
O pouco que sabemos sobre a história do “Judaísmo do Segundo Templo”, de outras fontes, é aumentado por fragmentos de cartas escritas em papiro encontradas por modernos arqueólogos, em Elefantina, escavadas quando a barragem de Assuam, no Egito, foi construída durante a década de 1960.

III – A HELENIZAÇÃO DO ORIENTE MÉDIO E A REVOLTA DOS MACABEUS
Alexandre da Macedônia

Alexandre da Macedônia foi um dos grandes estrategistas militares do mundo e nunca perdeu uma batalha. Suas campanhas foram, basicamente, uma tentativa de vingança pelo fato da Pérsia ter invadido a Grécia em 490 e 480 AC. Cerca de 332 AC, Alexandre havia conquistado o Império Persa (ao qual Judá estava subordinado e praticamente sem expressão como potência militar, após ter retornado do Exílio Babilônico) e dela recuperado o Império do Egito, a costa grega da Ásia Menor ocidental e Tiro, seguindo rapidamente para o leste, até o Paquistão. Alexandre teria passado perto, mas provavelmente nunca visitado Jerusalém.
Após a morte precoce de Alexandre, em 323 AC, com a idade de 33 anos, seus vários generais lutaram entre si até 306-305 AC, quando os vencedores repartiram o Império de Alexandre em três, assim permanecendo até a conquista da região pelos romanos: a Ptolomeu I coube o Egito; a Antigonus I coube a Grécia e a Macedônia; e a Seleucos I coube a Ásia Menor. 
Seleucos I Nicator
Estes acontecimentos encerraram o tempo do poder persa e introduziram a helenização de todo o Oriente Médio. Os judeus continuaram falando aramaico e praticando a religião durante os tempos persas. Mas o período helenístico conduziu a conflitos culturais e políticos muito violentos, finalmente conduzindo à revolta contra o Império Romano (66 DC) durante a qual Judá, Jerusalém e o Templo (símbolo de independência político-religiosa) foram destruídos pela segunda vez.
Entre 332 e 167 AC, após a conquista de Alexandre, Israel foi primeiro governado pelo Egito e então pela Ásia Menor. Isso ocorreu quando Antíoco IV “Epifânio” (“um manifesto de Deus”), um rei selêucida (da dinastia Selêucida, grega, fundada por Seleucos I), invadiu o reino ptolomaico do Egito em 168 AC, aparentemente sem o apoio judeu. É preciso que se tenha em mente que, nessa época, o reino de Judá possuía mínima expressão política em todo o Oriente Próximo, apenas tratando de sobreviver entre o Egito, de um lado, e o império Selêucida, do outro, enquanto fazendo alianças ora com um, ora com outro e sofrendo as consequências de tais alianças.
Antíoco IV Epifânio
Tudo começou quando o Alto Sacerdote Simão II morreu, em 175 AC, e o conflito irrompeu entre os simpatizantes de seu filho Onias III (que se opunha à helenização e apoiava os Ptolomeus) e seu filho Jason (que apoiava a helenização e os Selêucidas). Seguiu-se um período de intriga política com sacerdotes como Menelaus subornando o rei para conquistar o Alto Sacerdócio e acusações de assassinato de disputantes ao título. O resultado foi uma breve guerra civil durante a qual os Tobias, um grupo de filosofia helenística, conseguiram colocar Jason na posição de Alto Sacerdote. Em 175 AC a crise chegou ao clímax quando Jason estabeleceu uma arena para jogos públicos próxima do Templo, segundo estudiosos “convertendo Jerusalém numa cidade grega com ginásios e efebos. 
Simão II Macabeu
Em 167 AC, Antíoco IV respondeu à guerra civil em Jerusalém atacando a cidade e ignorando a pressão da República Romana para se retirar. Ele colocou como fora da lei a prática da religião dos judeus, prometendo a morte a todos os que circuncisassem seus filhos, mantivessem as leis da alimentação “kashrut” (conjunto das leis religiosas judias sobre a alimentação) ou mantivessem o Sabá. Ele realizou o que, na profecia de Daniel, foi denominada a “abominação da desolação”: a profanação do Templo, em Jerusalém, com o sacrifício de um porco ao deus grego Zeus.


Na próxima postagem, continuação da HISTÓRIA DO POVO HEBREU .... com a PARTE 2.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

AS TRÊS PRIMEIRAS GRANDES CIVILIZAÇÕES MUNDIAIS: VALE DO INDO OU HARAPPIANA (PARTE 04 -FINAL)

VI – COLAPSO E HARAPPIANA FINAL

Em torno de 1800 AC, sinais de um declínio gradual começaram a surgir e cerca de 1700 AC, a maioria das cidades foi abandonada. A escrita começou a desaparecer, pesos e medidas padronizadas, usadas no comércio e para fins de taxação caíram em desuso e a conexão com o Oriente Médio foi interrompida. As razões para tal declínio não são totalmente claras.
Localização das Montanhas Hindu Kush, entrada dos "arianos"
Em 1953 surgiu a teoria de que o declínio da CVI fora causado pela invasão de uma tribo Indo-Europeia da Ásia Central, os “arianos”, criadores de gado, iniciada cerca de 1500 AC. Os arianos teriam atravessado as montanhas Hindu Kush – cadeia de montanhas do Paquistão com 800 km de comprimento entre o Afeganistão Central e o norte do Paquistão - e entrado em contato com a civilização do Vale do Indo, numa grande migração, vista como uma invasão, razão maior para o seu colapso. Como evidência, foi citado um grupo de 37 esqueletos encontrados em várias partes de Mohenjo-Daro, e passagens nos Vedas que fazem referência a batalhas e fortes. Contudo, estudiosos logo começaram a rejeitar tal teoria, já que os esqueletos pertenciam a um período posterior ao abandono das cidades e nenhum foi achado próximo da cidadela. Além disso, as marcas nos crânios foram causadas por erosão e não por agressão violenta.
Uma mudança climática pode ter causado um declínio da CVI, também indicado para as áreas vizinhas do Oriente Médio. O clima do vale do Indo esfriou e secou significativamente a partir de 1800 AC, por um enfraquecimento geral das monções àquela época. Alternativamente, um fator crucial pode ter sido o desaparecimento de porções substanciais do sistema fluvial do rio Ghaggar Hakra. Um evento tectônico pode também ter desviado as fontes do sistema para a Planície do Ganges, embora a total incerteza quanto à data desse acontecimento, pois a maioria dos povoamentos nos leitos do rio Ghaggar Hakra não foi ainda datada. Hoje a maioria dos estudiosos acredita que o colapso da CVI foi causada pela seca e declínio do comércio com o Egito e a Mesopotâmia, bem como pela migração de outros povos, desmatamento, cheias e alterações no curso do rio. Finalmente, a última razão para o declínio da Civilização do Vale do Indo pode ter sido uma combinação de todos os fatores antes apontados.
Qualquer que tenha sido a razão, a CVI chegou a um fim. Durante vários séculos os arianos gradualmente se estabeleceram e implantaram a agricultura. Sua linguagem ganhou a supremacia sobre as línguas locais. A origem das línguas mais faladas hoje, no sul da Ásia, retroage aos arianos, que introduziram as línguas Indo-Europeia no subcontinente indiano. Outras características da moderna sociedade indiana, como práticas religiosas e divisão em castas, podem ser rastreadas até o tempo das migrações arianas e ainda antes delas.
Anteriormente, acreditava-se que o declínio da Civilização Harappiana tivesse conduzido a uma interrupção na vida urbana do subcontinente indiano. Contudo, a CVI não desapareceu subitamente e muitos dos seus elementos podem ser encontrados em culturas posteriores, como por exemplo, pelo menos parte da religião védica.
Dados arqueológicos atuais sugerem que a cultura classificada como Harappiana Final pode ter persistido até pelo menos 1000 a 900 AC e foi parcialmente contemporânea com a cultura da “Cerâmica Pintada Cinza”. Arqueólogos de Harvard apontam para Pirak, povoamento do “Harappiano Final”, que floresceu continuamente, de 1800 AC até a invasão de Alexandre, o Grande, em 325 AC. Recentes escavações arqueológicas indicam que o declínio de Harappa impeliu o povo para leste. Após 1900 AC, o número de locais investigados na Índia cresceu de 211 para 853. Escavações na Planície do Ganges mostram que os aglomerados urbanos começaram cerca de 1200 AC, somente poucos séculos após o declínio de Harappa e muito antes do que previamente esperado. Os arqueólogos têm enfatizado que, como na maioria das áreas mundiais, houve uma série de desenvolvimentos culturais, que ligam as duas maiores fases de urbanização do sul da Ásia.
Como consequência do colapso da Civilização do Indo, culturas regionais emergiram, em graus variáveis, mostrando a influência daquela civilização. Na antiga grande cidade de Harappa, foram encontrados sepultamentos que correspondem a uma cultura regional chamada “Cemitério H”. Ao mesmo tempo, a “Cultura da Cerâmica Pintada Ocre” expandiu-se de Rajasthan para a Planície do Ganges.

VII – A CIVILIZAÇÃO DO VALE DO INDO NO CONTEXTO MUNDIAL

A CVI tem sido às vezes identificada com a toponímia Meluhha, conhecida dos registros sumérios, que chamavam seus habitantes de meluhhaitas. Ela tem sido comparada, em particular, com as civilizações do Elam e com a Creta Minoana, por paralelos culturais isolados. A fase Harappiana Madura da CVI é contemporânea à Idade do Bronze Média no antigo Oriente Próximo, em particular com o período Elamita Antigo, o Dinástico Inicial ao Ur III da Mesopotâmia, o pré-palaciano da Creta Minoana e do Antigo Reino ao Primeiro Período Intermediário do Egito.
Após a descoberta da CVI, na década de 1920, ela foi imediatamente associada aos indígenas de Dasyu, inimigos das tribos Rigvédicas, mencionadas nos numerosos hinos do Rigveda[1]. A presença de muitos corpos não enterrados encontrados nas montanhas de Mohenjo-Daro, foi interpretada como de vítimas de uma guerra de conquista. A associação da CVI com a cidade de Dasyus permanece tentadora porque o arcabouço temporal admitido da primeira migração Indo-Ariana na Índia corresponde claramente ao período de declínio da CVI, do registro arqueológico. A descoberta da avançada e urbana CVI, contudo, alterou a visão do século XIX, de uma migração Indo-Ariana primitiva como uma invasão de uma cultura avançada às custas de uma população aborígene primitiva, para uma aculturação gradual de bárbaros nômades sobre uma avançada civilização urbana, comparável às migrações germânicas após a queda de Roma. Essa mudança de cenários simplistas de invasões, paralela desenvolvimentos similares quando se fala de transferência de linguagem e movimento de população em geral, como no caso da migração dos primeiros falantes gregos para a Grécia, ou a Indo-Europeização da Europa Ocidental.

VIII – CONCLUSÕES E DÚVIDAS

Como já dissemos e repetimos, muitas dúvidas pairam sobre a Civilização do Vale do Indo, a maior delas, certamente, referindo-se ao relativamente rápido colapso de civilização tão importante.
Por que esta civilização, considerado seu alto grau de sofisticação, não se espalhou além do Vale do Indo? Em geral, a área onde as cidades do Vale do Indo se desenvolveram, era árida e as pessoas podem conjeturar sobre as razões que motivaram um desenvolvimento urbano ao longo de um rio que escoava através de um virtual deserto. Os povos da área não desenvolveram a agricultura de larga escala e, consequentemente, não tiveram necessidade de desmatar grandes áreas de florestas. Nem possuíam tecnologia para tanto, visto que estavam restritos ao uso de implementos de pedra ou bronze.
Um outro ponto de debate repousa sobre a natureza das relações entre as cidades mais importantes. Não se sabe ainda se elas eram cidades-estados independentes ou parte de um reino maior. Houve alguma vez um Império Indo? Um império é um grande país ou grupo de países, com povos diferentes, governados por um rei ou imperador. A Civilização do Indo era enorme, mas não sabemos se ela tinha reis e nada parece ter mudado muito por centenas de anos. Novas casas eram construídas sobre as antigas e os planos urbanos das cidades permaneciam inalterados, com a vida prosseguindo por gerações. Isso podia significar que os governantes Indo controlavam tudo ou apenas que as pessoas eram felizes do jeito que a vida fluía. O que parece ser uma coroa, foi encontrada em um local chamado Kunal. Será que essa coroa pertencia a um rei Indo? Será que cada cidade teria o seu próprio rei?
As cidades do Vale do Indo possuíam fortes muralhas, possivelmente para manter afastados os seus inimigos. Como castelos, possuíam torres e pesados portões, mas não há indícios de que tenham possuído soldados. Funcionários da cidade podiam fiscalizar comerciantes entrando e saindo e talvez houvesse também guardas, em caso de problemas mais sérios. Outras civilizações antigas, como o Egito, possuíam grandes exércitos que os reis usavam para travar batalhas contra os seus inimigos. Os povos do Indo, entretanto, parecem ter vivido em paz pela maior parte da sua história.
"Swastika" antiga, sinal de bondade
Apenas a título de curiosidade, gostaríamos de fazer menção à famosa cruz suástica que todos tão bem conhecem. Essa cruz de dois braços curvados em ângulos retos, ou no sentido horário ou anti-horário, na cor negra tornou-se, no século XX, o odiado símbolo nazista da Alemanha de Hitler. Entretanto, a suástica (swastika) é, de fato, um antigo símbolo de bondade e aparece em selos encontrados nas cidades do Vale do Indo. O nome “swastika” vem de uma antiga língua, chamada “Sânscrito”, e significa “bem para ser”. Era um sinal de boa sorte para os hindus e para o Budismo significa “renascimento”. Antigas cruzes suásticas têm sido encontradas na arquitetura hindu, moedas da Mesopotâmia, nas ruínas da cidade de Troia (Turquia) e em outras culturas da Ásia, Europa e até mesmo na América Nativa.
Mais significativamente, sob que circunstâncias as cidades do Vale do Indo entraram em declínio? Os primeiros ataques em povoamentos mais afastados, pelos arianos, parecem ter ocorrido cerca de 2000 AC, próximo de Baluchistan e, entre as cidades mais importantes, pelo menos Harappa foi, muito provavelmente, destruída pelos arianos. No “Rigveda” há menção de um deus da guerra védico, Indra, destruindo alguns fortes e cidadelas, que podem ter incluído Harappa e algumas outras cidades do Vale do Indo. Falou-se, também, de uma calamidade cataclísmica que teria atingido a CVI, cerca de 1600 AC, mas isso não explica porque povoamentos localizados várias centenas de quilômetros, uns dos outros, foram totalmente erradicados.
O grande presente do povo do Vale do Indo ao mundo, foi a demonstração de como viver pacificamente em cidades. Seu modo de vida foi baseado no comércio, sem a figura do dinheiro. Com poucos inimigos, não possuíam grandes exércitos. Certamente nem todos eram ricos, mas mesmo os pobres possuíam o suficiente para comer. Em suas cidades limpas e bem planejadas, o povo da CVI usufruiu de coisas tão belas quanto úteis, construindo igualmente brinquedos, joias e sistemas de drenagem.
Cerca de 1500 AC a Civilização do Vale do Indo havia terminado. Os agricultores continuaram a viver em suas vilas, mas as cidades acabaram em ruínas. Com o tempo, mesmo os tijolos de argila foram carregados pelos ventos, chuvas e enchentes. Ela durou mais de mil anos e manteve o seu auge durante 500 a 700 anos.

[1] Conforme vimos antes, o Rigveda é um dos quatro textos sagrados canônicos do Vedas. É um dos mais antigos textos existentes em qualquer língua indo-europeia, compostos na região noroeste do subcontinente indiano, mais provavelmente entre 1500 e 1200 AC. O Rigveda contém várias descrições poéticas e mitológicas da origem do mundo, hinos louvando aos deuses, e orações antigas para a vida, prosperidade etc...