Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 (Parte 7)


VIII – A GUERRA CIVIL RUSSA (Continuação)


Stalin, Lenin e Kalinin em 1919, Guerra Civil Russa

Terminada a guerra civil, a Rússia estava completamente arrasada, com graves problemas para recuperar sua produção agrícola e industrial; e os bolcheviques interpretaram corretamente a situação. Os camponeses resistentes em entregar sua produção ao governo, os trabalhadores e soldados desanimados diante das dificuldades, a população descontente com os problemas de produção e abastecimento, os operários se insurgindo contra o governo e outras rebeliões internas, deixaram claro que era impossível dar seguimento ao comunismo de guerra. Tornava-se necessário recuar nas ambições de implantação imediata do comunismo. Voltar atrás não era uma medida fácil de ser tomada e somente Lenin tinha condições morais e políticas para ordenar a retirada sem perder apoio dentro do partido, dar uma volta ao capitalismo de Estado, como solução para vencer o impasse econômico. E disse então a famosa frase: 'É preciso dar dois passos atrás para depois voltar a avançar'.


PERDAS DA GUERRA CIVIL RUSSA

Os resultados da Guerra Civil russa foram terríveis. O demógrafo soviético Boris Urlanis estimou o número total de mortos em ação na Guerra Civil e com a Polônia em cerca de 300.000 (125,000 no Exército Vermelho e 175.000 no Exército Branco e entre os poloneses) e o total de pessoal militar morto por doenças, de ambos os lados, em 450.000. Durante o “Terror Vermelho”, a Cheka (primeira de uma sucessão de organizações de segurança e braço militar do Estado Soviético, criada em dezembro de 1917 por um decreto de Lenin, foi o instrumento do Terror Vermelho) realizou pelo menos 250.000 execuções sumárias de “inimigos do povo”, com estimativas que alcançam mais de um milhão. Entre 300.000 e 500.000 cossacos foram mortos ou deportados durante a ‘limpeza” de uma população de três milhões. Uma estimativa diz que 100.00 judeus foram mortos na Ucrânia, a maior parte pelo Exército Branco. Órgãos punitivos do todo poderoso Don Cossack Host (uma república autônoma ou independente ao sul da atual Rússia e a região de Donbas, na Ucrânia, do final do século XVI até 1918), sentenciou 25.000 pessoas a morte, entre maio de 1918 e janeiro de 1919. O governo de Kolchak (estabeleceu um governo comunista na Sibéria e foi reconhecido por algum tempo como o chefe supremo e comandante em chefe das forças militares russas; mais tarde foi preso e executado pelos bolcheviques) executou 25.000 pessoas apenas na província de Ekaterinburg. Ao final da Guerra Civil, a República Socialista Federativa Soviética Russa (RSFSR) estava exausta e próxima da ruína. As secas de 1920 e 1921, bem como a fome de 1921, pioraram o desastre, com as doenças alcançando proporções pandêmicas, com 3 milhões morrendo somente de tifo em 1920. Outros milhões morreram de fome generalizada. Em 1922 haviam pelo menos sete milhões de crianças de rua na Rússia como resultado de aproximadamente dez anos de devastação da Grande Guerra e da Guerra Civil. Outros dois milhões de “russos emigrados” fugiram da Rússia pelo extremo oriente e pelos países recém independentes do Mar Báltico, incluindo uma alta percentagem da população mais culta e especializada da Rússia. A economia russa ficara devastada pela guerra, com fábricas e pontes destruídas, gado e matéria prima saqueados, minas inundadas e o maquinário destruído. O valor da produção industrial caiu a 1/7 do valor de 1913 e a agricultura a 1/3. De acordo com o jornal Pravda, “os trabalhadores das cidades e alguns das vilas sufocavam nos espasmos da fome”. As estradas de ferro rastejavam, as casas ruíam, as cidades se enchiam de resíduos, as epidemias se espalhavam causando muitas mortes e a indústria se extinguia. Estima-se que a produção total de minas e fábricas em 1921 havia caído a 20% dos níveis de antes da guerra e muitos itens cruciais experimentaram declínio ainda mais drástico. Por exemplo, a produção de algodão caiu a 5% e o ferro a 2% dos níveis pré-guerra. O Comunismo de Guerra salvou o governo soviético durante a sua Guerra Civil, mas muito da economia da Rússia havia chegado a uma paralisação. Os camponeses respondiam ao confisco (política e campanha bolchevique de confisco de grãos e outros produtos agrícolas dos camponeses por um preço fixo nominal de acordo com cotas especificados) pela recusa em arar a terra. Em 1921 a terra cultivada encolheu a 62% da área pré-guerra; o rebanho de cavalos caiu de 35 milhões em 1916 para 24 milhões em 1920 e o gado de 58 para 37 milhões. A taxa de câmbio passou de dois rublos por dólar em 1914 para 1200 rublos em 1920. As perdas humanas totais foram avaliadas entre 7 milhões e 12 milhões durante a Guerra, em sua maioria civis. A Guerra Civil Russa foi a maior catástrofe nacional que a Europa jamais vira.
Cadáveres das vítimas da fome russa em 1921,
em Buzuluk, a poucos quilômetros de Saratov

 Visando, portanto, promover a reconstrução do país, Lenin introduziu muitas regras contraditórias à sua própria filosofia, pois enquanto apoiava o “tudo pertence ao Estado”, criou políticas que apoiavam a iniciativa privada de modo a poder reconstruir o país devastado por sucessivas revoluções. Em fevereiro de 1921, criou a Comissão Estatal de Planificação Econômica ou GOSPLAN, encarregada da coordenação geral da economia do país. Em seguida, em março de 1921, adaptou um conjunto de medidas conhecidas como “Nova Política Econômica” ou NEP, que restabelecia as práticas capitalistas vigentes antes da Revolução. Entre as medidas contidas na NEP destacavam-se: liberdade de comércio interno, liberdade de salário aos trabalhadores, autorização para o funcionamento de empresas particulares e permissão de entrada de capital estrangeiro para a reconstrução do país. O estímulo pelo ganho pessoal foi reintroduzido e o igualitarismo teve que ceder passo à hierarquia e aos privilégios materiais. O Estado russo continuou, no entanto, exercendo controle sobre setores considerados vitais para a economia, como o comércio exterior, o sistema bancário e as grandes indústrias de base. Num certo sentido, o país passou a ter uma constituição produtiva anacrônica onde medidas socialistas (estatização das empresas, minas, transportes e bancos) conviviam com medidas capitalistas (o médio produtor rural, o capitalismo urbano) e com a economia tradicional (economia de subsistência empregada pelos camponeses pobres). Entretanto, foi essa política que permitiu a sobrevivência do Regime, dando-lhe a folga necessária para a reordenação de forças. O próprio Lenin teve dificuldade em definir o estado de coisas que, ironicamente, classificava como uma "mistura de czarismo com práticas capitalistas, besuntadas por um verniz soviético". Os resultados práticos não demoraram a surtir efeito. Lentamente a produção agrícola foi sendo restabelecida; o sistema viário voltou a funcionar com maior regularidade e as pequena indústrias começaram a lançar seus produtos no mercado. 
Mais vítimas da fome de 1921 e 1922 na RSFSR

Em dezembro de 1922, foi organizado um congresso geral de todos os sovietes, com a fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS)[1]. O governo da União, cujo órgão máximo era o Soviete Supremo (Legislativo), passou a ser integrado por representantes das diversas repúblicas. Competia ao Soviete Supremo, eleger um comitê executivo (Presidium), dirigido por um presidente com a função de chefe de estado. Competiam ao governo da União as grandes tarefas relativas ao comércio exterior, política internacional, planificação da economia, defesa nacional, entre outras. Paralelamente a essa estrutura formal, funcionava o Partido Comunista, que controlava, efetivamente, o poder da URSS. Sua função era controlar os órgãos estatais, estimulando sua atividade e verificando sua lealdade, e manter os dirigentes em contato permanente com as massas. Também assegurava à população a difusão das ideologias vindas da alta cúpula. 
Iosif Vissarionovich Dzugashvili, o
" Homem de Ferro", terror da Era Stalin

A tragédia do bolchevismo dos anos vinte se deu na medida em que, devido ao peso das circunstâncias, tiveram que transformar-se num partido que representava a si mesmo. Suas bases sociais - o proletariado urbano -, além de escassas numericamente, foram literalmente dizimadas pela guerra civil e pela desorganização da economia ocorrida neste período. Depois de longos anos de guerra e de guerra civil, a extrema tensão a que foram submetidas as massas, tornou-as apáticas. Este comportamento favoreceu a implantação da ditadura partidária, mas os custos políticos foram terríveis - não só para o socialismo russo, como para a causa do socialismo internacional.
O isolamento em que o país se encontrava aprofundou-se ainda mais. A tão esperada revolução que deveria ocorrer num país desenvolvido, não aconteceu. Depois do fracasso dos espartaquistas (na Alemanha) em 1919 e dos comunistas em 1923, a Alemanha deixou de figurar como uma possível aliada. Estes fatores terminaram por fazer com que os bolcheviques fossem obrigados a alterar sua estratégia interna. A União Soviética de agora em diante deveria contar com seus próprios recursos. Evidentemente que aceitar esta nova situação era uma heresia. O socialismo era um movimento internacional, que não podia ser limitado por fronteiras, embora os fatos fossem uma poderosa evidência para qualquer teoria internacionalista. A União Soviética teria que lançar-se na "construção do Socialismo" enfrentando todos os fatores adversos: a falta de quadros técnicos e culturais, o imenso analfabetismo do campesinato, a baixa produtividade e a pouca qualificação de seu operariado. Lenin, contudo, não viveria para ver este dia, pois sua saúde deteriorou-se rapidamente desde julho de 1922, sendo frequentemente incapacitado por derrames e, relutantemente, passando muitas de suas atividades para Stalin e Trotsky. O fundador do primeiro Estado socialista morreu em 21 de janeiro de 1924, com a idade de 53 anos. A Guerra Civil russa terminara em 1923 e a Era Lenin em 1924, contudo, a pior parte da Revolução Russa ainda estava por vir, durante os anos de terror da Era Stalin.

JOSEF STALIN

Iosif Vissarionovich Dzugashvili (18/12/1879 – 05/03/1953) nasceu filho único na vila de Gori, próximo de Tiflis, capital da Georgia, do Império Russo, de uma pia lavadeira analfabeta e ex-escrava (Ekaterina Gheladze) e de um sapateiro bêbado, ex-servo, de quem sofria (como sua mãe) impiedosas surras e que os abandonou bem cedo, causando seu crescimento em extrema pobreza. A varíola dos seus sete anos deixou-lhe a face marcada e o braço esquerdo levemente deformado, o que lhe causava intimidação por parte das outras crianças, provocando-lhe uma necessidade constante de provar-se a si mesmo. Ainda jovem tornou-se um rebelde, sonhando em liderar uma revolução para libertar a Georgia do Império Russo.
Pobre como era, foi enviado por sua mãe para o seminário ortodoxo em Tiflis, para se tornar padre. A escola era um instrumento da russificação czarista, causando aos alunos georgianos, uma permanente resistência na defesa da nacionalidade e no aumento do sentimento anti-russo que contaminou Stalin e o fez ingressar nas fileiras dos primeiros grupos da social democracia russa, fundada por Lenin e outros intelectuais em 1898. Foi expulso da escola e logo a Okrana, polícia secreta do Czar, colocou-lhe as mãos em cima, submetendo-o às agruras da prisão e deportação, por subversão ao regime. Em 1901 tornou-se membro do Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR). No mesmo ano, depois de uma manifestação organizada por ele e reprimida violentamente pelas autoridades tentou, sem sucesso, eleger-se líder do já combalido POSDR de Tiflis. Neste mesmo ano, foi expulso do partido de forma unânime pelos mencheviques, acusado de caluniador e agente provocador.
Sua vida até a Revolução de 1917 foi uma sucessão de prisões, fugas, curtas viagens ao exterior e novos desterros, durante as quais foi descoberto por Lenin, também vivendo no exterior. Em 1906, Stalin casa com sua primeira esposa Ketevan Svanidze, oriunda de família pobre da baixa nobreza, que lhe dá o filho Yakov no ano seguinte. Na facção bolchevique do POSDR, Stalin organizava greves e assaltos a bancos (em 1907 rouba 250.000 rublos de um banco em Tiflis.), de onde provinham os fundos para as atividades revolucionárias, embora fortemente condenado pela maioria dos socialistas. Após o assalto de Tiflis, Stalin e família fogem das forças czaristas para Baku, no Azerbaijão, onde sua esposa morre de tifo e ele fica arrasado com a perda. Entrega o filho para ser criado pelos pais da esposa e dedica-se ao trabalho revolucionário, adotando então o codinome Stalin (“homem de ferro”).
Seu primeiro encontro com Lenin ocorreu numa reunião do Partido na Finlândia, quando este ficou impressionado com seu “implacável operador subterrâneo”. Em 1912 foi indicado por Lenin para integrar o Comitê Central do Partido Bolchevique, considerada por Stalin uma decorrência lógica da sua fidelidade aos princípios leninistas, desde o fracionamento da socialdemocracia russa entre bolcheviques e mencheviques ocorrida em 1903.
A Revolução de 1917 encontrou Stalin preso na Sibéria, por agitação contra a Primeira Grande Guerra. Com o Czar deposto por essa revolução, ele retornou a Petrogrado, seu berço, assumindo, temporariamente a chefia do partido enquanto Lenin não retornava do seu exílio. Saudado como herói quando ajudou Lenin a escapar para a Finlândia, desta vez, é indicado para o círculo mais interno do Partido Bolchevique. Com a queda do Tzar e o início da Guerra Civil, Stalin, como outros da linha dura do Partido, ordena a execução pública de desertores e renegados. Tornou-se editor do Pravda, mas embora Lenin claramente respeitasse suas habilidades, não teve um papel importante no período de março a novembro de 1917, a não ser por um curto período em julho e agosto, quando Lenin ainda encontrava-se na Finlândia e os outros líderes estavam na prisão. Um diarista da revolução, Nikolai Sukhanov (de nome real Gimmer), então um menchevique e membro do Comitê Executivo do Soviete de Petrogrado em 1917, referia-se a Stalin como a “mancha cinza”. Quando Lenin retorna e toma o poder, indica Stalin para o posto de Secretário Geral do Partido Comunista, onde ganha novas habilidades como mediador dos funcionários de todo o Partido. A Guerra Civil, entre 1918 e 1921, deu a Stalin sua primeira chance de comando, fonte de conflitos entre ele e Trotsky, o chefe supremo das forças armadas da Revolução.
Em sua luta pelo poder Stalin tinha várias desvantagens. Não era um orador, falava devagar e com forte acento da Georgia, não era um intelectual como os maiores líderes bolcheviques e escreveu pouco. Seus colegas o viam, inicialmente, como um irrelevante e obtuso camarada, bom administrador que poderia encarregar-se da papelada. E esse foi o grande engano da parte deles. Stalin logo entendeu que poderia usar a burocracia do Partido como a ferramenta para ganhar o poder. Em 1922 ele mantinha as seguintes posições: (1) membro do Politburo (principal órgão executivo do Partido, criado em janeiro de 1919 e mais tarde rebatizado de Presidium); (2) Membro do Comitê Central, onde a política era debatida e as decisões tomadas; (3) Membro do Bureau de Organização, que supervisionava as organizações do Partido; (4) Chefe do Secretariado do Partido, que estabelecia a agenda para o Comitê Central e os encontros do Politburo; (5) Comissário do Inspetorado dos Operários e Camponeses, que controlava o aparelhamento administrativo e, ironicamente, protegia contra a burocratização; (6) Comissário das Nacionalidades; e (7) Secretário Geral do Partido, por recomendação de Lenin, após ter sofrido o seu primeiro derrame em maio de 1922.
Com a morte de Lenin, em janeiro de 1924, o vazio deixado por seu líder logo seria preenchido por Stalin e sua gente. Já durante as pompas fúnebres de Lenin, o Secretário Geral do Partido, encarregado de prestar as últimas homenagens, apresenta-se ao público como herdeiro direto do líder morto. Muitos no Partido esperavam que o líder do Exército Vermelho, Leon Trotsky, fosse o sucessor natural de Lenin, mas suas ideias eram idealistas demais para a maioria do Partido Comunista. Stalin, contudo, desenvolve sua própria marca de marxismo – “Socialismo em um País” -, concentrado no vigor da União Soviética em vez de na revolução mundial. De 1924 a 1929, várias coligações foram estabelecidas entre Stalin e seus companheiros do Comitê Central. Numa primeira ele aliou-se a Zinoviev e Kamenev para neutralizar a ameaça de Trotsky que foi banido para uma região central da Rússia e depois expulso do país. No momento seguinte ele encontrou em Bukharin um aliado contra seus ex-colaboradores e, finalmente, reduziu-o também ao silêncio. As ideias de Stalin tornaram-se populares no Partido e, em 1929, ele torna-se ditador da União Soviética. Nesse ano Stalin fomenta seus Planos Quinquenais para transformar a União Soviética num país industrializado. Para modernizar a agricultura, Stalin determina a “coletivização”: aglutinação e estatização das propriedades. Cerca de 5 milhões morrem de fome, mas Stalin, na crença de que “o fim justifica os meios”, prende e mata milhões de pequenos proprietários. Durante os anos de terror, Stalin promove a sua imagem de líder benevolente e herói da União Soviética ao mesmo tempo em que cresce sua paranoia e os expurgos do Partido e do Exército de todos a que a ele se opõem. 93 dos 139 membros do Comitê Central são assassinados, assim como 81 dos 103 generais e almirantes. A sua polícia secreta impõe o stalinismo e as pessoas são encorajadas à denúncia recíproca. Três milhões de pessoas são acusadas de se oporem ao comunismo e enviadas aos “gulags” (campos de trabalhos forçados da Sibéria). Em 1932, sua segunda esposa Nadezhda Alliluyeva, com quem se casara em 1919 e que lhe dera os filhos Svetlana e Vassily, se suicida pelos maus tratos que recebia de Stalin e sua morte é oficialmente relatada como causada por apendicite. Seu filho da primeira esposa, Yakov, um soldado do Exército Vermelho, é capturado ao início da Segunda Guerra Mundial; os alemães propõem uma troca de prisioneiros para soltá-lo e Stalin recusa por acreditar que seu filho se rendera voluntariamente; Yakov morre num campo de concentração nazista em 1943. Sua filha Svetlana, criada em circunstâncias privilegiadas na União Soviética, por odiar o sistema que seu pai criara, foge para o ocidente, em 1967. Em 1939, Segunda Guerra Mundial, Stalin assina com Hitler um pacto de não agressão. Quando os exércitos de Hitler derrotam a França e a Inglaterra recua, Stalin ignora os avisos de seus generais e não se prepara para o ataque nazista de 1941, que surge da Polônia. Com o futuro da União Soviética pendurado na balança, Stalin sacrifica milhões de russos para vencer a Alemanha. Só em Stalingrado (hoje Volgogrado), ponto de virada da guerra, as forças soviéticas perderam um milhão de homens, mas conseguiram derrotar os nazistas em 1943. É visto como um dos personagens mais importantes da vitória dos aliados contra as forças do Eixo, ao ocupar grandes faixas da Europa Oriental, incluindo Berlim Oriental. Em 1946 até mesmo Berlim Ocidental, ocupada pelos aliados, é bloqueada pelas forças de Stalin. Em seus últimos anos de vida, Stalin torna-se crescentemente desconfiado de tudo e de todos, prosseguindo os expurgos contra os seus inimigos dentro do Partido. Stalin morre de um derrame em 5 de março de 1953 com muitos russos pranteando a perda do grande líder que transformou o país. Mas os milhões de encarcerados saúdam a morte de um dos maiores homicidas e ditadores da História, conforme denunciado por seu sucessor, Nikita Khrushchev, ao iniciar a “desestalinização” da URSS.
Duas frases de Stalin que bem definem o seu caráter:
1 - “A morte de um homem é uma tragédia. A morte de milhões é apenas uma estatística”.
O historiador Anton Antonov- Ovseyenko alega que esta teria sido a resposta de Stalin a Churchill quando este objetou à abertura precipitada de uma nova frente na Europa, em 1943, durante uma conferência em Teerã, com a seguinte versão: “Quando um homem morre é uma tragédia. Quando milhares morrem é uma estatística”.
2 – “Ideias são mais poderosas que armas. Não permitiríamos que nossos inimigos tivessem armas, por que permitiríamos que tivessem ideias?”



[1] A União Soviética (URSS), portanto, sucedeu à Rússia czarista e existiu entre 1922 e 1991, como uma união de 15 repúblicas soviéticas subnacionais, com a capital em Moscou. A República Socialista Russa era a maior e mais populosa das que compunham a URSS, dominando-a durante toda a sua existência de 69 anos. Em 25 de dezembro de 1991, como resultado da dissolução da URSS, a Federação Russa, seu estado sucessor, assumiu os direitos e obrigações da antiga União Soviética e tornou-se reconhecida como a continuação de sua personalidade jurídica. A União Soviética também era conhecida como СССР, um acrônimo para União das Repúblicas Socialistas Soviéticas de acordo com seu nome em russo. Escrita originalmente no alfabeto cirílico (russo), o mundo ocidental “latinizou” as letras, acabando por adotá-la como CCCP. A sigla ficou bastante conhecida no mundo ocidental, devido ao uso do acrônimo em uniformes em competições esportivas e outros objetos, em eventos culturais e tecnológicos ocorridos na URSS, pelo destaque da União Soviética em tais eventos. Durante a gestão de Vladimir Putin, o antigo nome foi retomado, mas desta vez descrito como o original “Rossiya”, restaurando o hino soviético, a águia bicéfala da Rússia czarista e reutilizando a foice e o martelo como símbolo do exército russo.

Na próxima postagem, prossegue com a PARTE 08

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 (Parte 6)

VIII – A GUERRA CIVIL RUSSA


Durante o período que se seguiu à tomado do poder pelos bolcheviques, várias medidas de impacto foram tomadas: (1) Pedido de paz imediato à Alemanha; (2) Confisco de propriedades privadas para serem distribuídas entre o povo; (3) Declaração do direito nacional dos povos: o novo governo comprometeu-se a acabar com a dominação exercida pelo governo russo sobre regiões tais como a Finlândia, a Geórgia ou a Armênia; (4) Estatização da economia: o novo governo passou a intervir diretamente na vida econômica, nacionalizando diversas empresas.
A desonrosa assinatura de paz de Brest Litovsk, para a
Rússia, com a Alemanha 
Em 3 de março de 1918, o governo soviético bolchevique assinou, em separado, a Paz de Brest-Litovsk com a Alemanha. Uma paz reconhecidamente insultuosa, em que aceitava entregar à Alemanha, vastos territórios russos além de vultuosa quantia em marcos-ouro, para assim conseguir fazer vingar, em sua pátria, seus ideais marxistas socialistas. No dia 12 de março do mesmo ano, Moscou torna-se a capital da República Federativa Socialista Soviética Russa e da União Soviética, menos de cinco anos após.
A retirada da Rússia da Primeira Guerra Mundial, o Tratado de Brest-Litovsk, com toda a desonra de ter entregue à Alemanha e seus aliados, terras valiosas até então pertencentes à Rússia, o desejo da volta ao poder da então elite russa e o medo de que o ideário comunista se propagasse para a Europa e eventualmente para o mundo, fez eclodir a Guerra Civil Russa, que acabou envolvendo outras nações.

O DESONROSO TRATADO DE PAZ DE BREST-LITOVSK

O tratado de Brest-Litovsk foi um tratado de paz assinado em 3 de março de 1918, entre o novo governo bolchevista da Rússia Soviética e as Potências Centrais (Império Alemão, Império Austro-Húngaro, Bulgária e Império Otomano), que encerrou a participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial. Foi assinado em Brest-Litovsk, então Polônia e hoje Bielorrússia, após dois meses de negociações, forçado pela ameaça de avanços adicionais por parte da Alemanha e Áustria. De acordo com o tratado, a Rússia Soviética invalidava todos os compromissos anteriores de aliança com a Tríplice Entente.
A retirada da Rússia da guerra fora um dos principais objetivos da Revolução Russa de 1917 e uma das prioridades do recém-criado governo bolchevique. A guerra tornara-se impopular entre o povo russo, pelas imensas perdas humanas (cerca de quatro milhões de mortos). Entretanto, os termos do Tratado de Brest-Litovski eram humilhantes. Através deste, a Rússia Bolchevique abria mão do controle sobre a Finlândia, cedia à Alemanha os Estados Bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia), Bielorrússia e Ucrânia, bem como, ao Império Otomano, as província de Ardaham e Kars Oblast, ao sul do Cáucaso e do distrito georgiano de Batumi, antes sob seu domínio. A Polônia não foi mencionada no tratado. Estes territórios continham um terço da população da Rússia, metade de sua indústria e nove décimos de suas minas de carvão. A Rússia também concordou em pagar seis bilhões de marcos-ouro alemães como reparações. O historiador Spencer Tucker diz: “O Estafe Geral Alemão havia formulado termos extraordinariamente ásperos, que chocaram mesmo o negociador alemão”. Quando os alemães protestaram, mais tarde, que o Tratado de Versailles de 1919 foi muito duro com eles, os Aliados (e historiadores favoráveis aos aliados) responderam que ele havia sido mais brando que o de Brest-Litovsk. O Tratado foi efetivamente encerrado em novembro de 1918, quando a Alemanha rendeu-se aos Aliados, resultando em alívio para os bolcheviques que já se achavam em guerra civil.
O Governo Provisório Russo, já com Kerensky, havia decidido continuar a guerra, através de telegrama enviado pelo Ministro das Relações Exteriores Pavel Milyukov, à Entente, nos mesmos termos que a Rússia Imperial acordara, ao que se opunha o Soviete de Petrogrado, que já possuía sua força paramilitar, os Guardas Vermelhos, em março de 1917. Isso fez com que os alemães oferecessem apoio aos bolcheviques, permitindo a Lenin retornar à Rússia do seu exílio na Suíça e oferecendo-lhe ajuda financeira. Com suas “Teses de Abril”, Lenin incluiu a doação de todo o poder aos sovietes dos operários e soldados, bem como a retirada imediata da Rússia da guerra. Por todo ano de 1917 os bolcheviques espalharam propaganda derrotista e revolucionária, pedindo pela queda do Governo Provisório e um fim à guerra. Após a desastrosa “Ofensiva Kerensky”, a disciplina no exército russo deteriorou-se completamente, com os soldados desobedecendo ordens com orientação bolchevista e permitindo aos comitês de soldados tomarem o controle de suas unidades após a deposição dos oficiais. Ocasionalmente, soldados russos e alemães eram vistos deixando suas posições e confraternizando.
O recém estabelecido governo soviético, com a Revolução de Outubro, decidiu retirar da guerra a Rússia, com a assinatura de Lenin do Decreto de Paz, em 26 de outubro de 1917, aprovado pelo Segundo Congresso do Soviete dos Deputados de Operários, Soldados e Camponeses, chamando todas as nações beligerantes e seus governos a iniciarem imediatas negociações de paz. Em dezembro de 1917 um armistício entre a Rússia Soviética e as Potências Centrais foi concluído e a luta cessou, com as negociações de paz iniciando em Brest-Litovsk, em 22 de dezembro. Lenin tinha muito mais interesse em vencer a revolução interna na Rússia do que em lutar contra os alemães.
Após dois turnos de negociações, Lenin desejava aceitar a proposta de paz alemã imediatamente, mas maioria do Comitê Central Bolchevique discordou. Com isso, a delegação soviética retornou à conferência de paz sem instruções para assinar o tratado proposto. Em fevereiro de 1918, a Alemanha reconheceu o governo separatista da Ucrânia e com ele assinou o primeiro Tratado de Brest-Litovsk. Frustrado com as continuadas demandas germânicas pelas cessões de território, em 10 fevereiro de 1918, Trotsky anunciou que a Rússia, unilateralmente, declarava um fim das hostilidades contra as Potências Centrais e retirava-se das negociações de paz, numa espécie de “sem guerra – sem paz”, pelo que foi denunciado por alguns líderes bolchevistas por ultrapassar suas ordens e prerrogativas. Na verdade Trotsky apostou nas revoluções socialistas nos países europeus, mormente na própria Alemanha e Áustria, que não acabaram acontecendo.
As consequências foram terríveis para os bolcheviques, pois em 18 de fevereiro de 1918, as Potências Centrais cansaram da sua procrastinação e em duas semanas renderam a maior parte da Ucrânia, Bielorrússia e os Estados Bálticos, e pelo mar Báltico uma esquadra alemã aproximou-se de Petrogrado. Em fevereiro de 1918 as Potências Centrais enviaram novos e mais exigentes termos de paz, concedendo 48 horas para a concordância dos soviéticos. Lenin novamente pressionou para que a proposta fosse aceita e, desta feita, obteve maioria do Comitê Central, que despachou novos delegados com instruções para aceita-la. Em 3 de março de 1918 o governo soviético assinou termos ainda piores que os anteriormente rejeitados, com o Império Germânico, Áustria –Hungria e Turquia do outro lado. O tratado marcou a retirada da Rússia da Primeira Guerra Mundial, como um inimigo dos seus cossignatários, sob termos humilhantes, como vimos na introdução. Ao despertar do repúdio russo aos acordos czaristas, nacionalização de propriedades e confisco de bens no estrangeiro, Rússia e Alemanha assinaram um acordo adicional, em 27 de agosto de 1918, pela qual a primeira concordava em pagar seis bilhões de marcos-ouro como compensação aos interesses germânicos por suas perdas. Finalmente, o Tratado de Brest-Litovsk teve ainda uma consequência muito pior para o povo russo: ele acabou por se tornar o maior responsável pela Guerra Civil russa, um evento que causou a morte de milhões de russos e deixou o país completamente na miséria, tudo pela vitória de uma ideologia.
Felizmente – e ironicamente - para o governo bolchevique, as forças aliadas, principalmente representadas por Estados Unidos, Inglaterra e França, venceram a guerra ao final do mesmo ano de 1918 e o tratado foi anulado, salvando a Rússia de consequências ainda piores. A Turquia quebrou o tratado após dois meses, invadindo a recém criada “Primeira República da Armênia”, em maio de 1918. Para a Alemanha, o tratado de Brest-Litovsk durou somente oito meses e meio, quando cortou relações diplomáticas com a Rússia em 5 de novembro de 1918. No armistício com a Alemanha, que encerrou a Primeira Grande Guerra, em 11 de novembro de 1918, uma das primeiras condições foi a completa anulação do Tratado. No tratado de Rapallo, concluído em abril de 1922, a Alemanha aceitou a completa anulação do Tratado de Brest-Litovsk, com as duas potências concordando em abandonar todas as reivindicações recíprocas territoriais e financeiras relacionadas à guerra.

O ano I da Revolução seria aquele em que as promessas de Lenin deveriam ser cumpridas, mas a transição do governo czarista para o socialista não foi um parto normal. As fábricas, minas, bancos, estradas de ferro e o comércio foram entregues às administrações dos operários e funcionários e foi atendida a "fome de terra" dos camponeses com a abolição da propriedade fundiária. Politicamente, o novo regime proclamou a nova ordem social na Constituição Soviética de 1918, que continha uma declaração de direitos do "povo explorado e trabalhador". Entretanto, se a paz com a Alemanha retirou o país da guerra, a "necessária folga" do novo regime pouco durou.
A guerra civil eclodiu em abril de 1918 e seria uma das mais cruentas da história do nosso século. Os kulaks foram acusados de trair a revolução e o governo central enviou, contra eles, brigadas de operários ao campo para apoiar o movimento camponês. Em várias regiões da Rússia, ex-generais Czaristas levantaram suas tropas contra o governo bolchevique. A execução de kulaks e a morte de militantes bolcheviques nos conflitos com os exércitos de russos brancos caracterizaram o início da guerra civil russa.
As potências que venceriam a Primeira Guerra Mundial, alarmadas pelas medidas tomadas pelo governo soviético, resolveram prestar auxílio militar aos russos brancos e, aproveitando-se do verdadeiro caos em que o país se encontrava, enviaram tropas inglesas, francesas, americanas e japonesas para ajudar os contrarrevolucionários. Tais forças desembarcaram nas regiões ocidentais (Criméia e Georgia) e orientais (Vladivostok e Sibéria Oriental) da Rússia, com o objetivo de derrubar o governo bolchevique (recém-saído da guerra) e instaurar um regime neo-czarista (a favor da continuação da Rússia na mesma guerra). É bem possível que o seu objetivo maior fosse evitar a "contaminação" da Europa Ocidental pelos ideais bolcheviques - daí a expressão utilizada por Clemenceau, Presidente da França, "cordon sanitaire" (cordão sanitário), que passou a vigorar à época como sinônimo da intervenção.
Durante o curto período em que os territórios cedidos pelo Tratado de Brest-Litovski estiveram em poder do exército alemão, as várias forças anti-bolcheviques puderam organizar-se e armar-se. Estas forças dividiam-se em três grupos que também lutavam entre si: 1) czaristas, 2) liberais, eseristas (membros do Partido Social Revolucionário – PSR) e metade dos socialistas e 3) anarquistas. Com a derrota da Alemanha em 1919, esses territórios tornaram-se novamente alvo de disputa, bem como bases das quais partiriam forças que pretendiam derrubar o governo bolchevique.
Trotsky com oficiais alemães, a caminho
da assinatura do Tratado de Paz, 1918
Para enfrentar a maré contrarrevolucionária, o novo governo instituiu o novo “Exército Vermelho”[1], comandado e treinado por Leon Trotsky, que revelou-se brilhante estratego, disciplinador rígido e líder das tropas. Com a ajuda deste, os bolcheviques mostraram-se preparados para resistir aos ataques do também recém-formado exército polonês, dos Exércitos Brancos de Denikin, Kolchak, Yudenich e Wrangel, e também para suprimir o Exército Insurgente de Makhno e a Revolta de Kronstadt (que clamava pela derrubada dos bolcheviques e pela instauração da democracia proletária e da administração direta), ambos de forte inspiração anarquista. Ao iniciar o ano de 1921, todas as formações contrarrevolucionárias haviam sido derrotadas e seus principais expoentes (Koltchak, Wrangel, Denikin e Yudenich) exilados no exterior. As forças expedicionárias aliadas foram obrigadas a retirar-se, tanto pela derrota dos Brancos, quanto pela pressão da opinião pública internacional. Com isso encerrava-se a guerra civil, com a vitória do Exército Vermelho, e o Partido Bolchevique, que desde 1918 havia alterado sua denominação para Partido Comunista, consolidava a sua posição no governo, tendo Lenin como o seu primeiro líder comunista. 
Lenin, primeiro líder
comunista da URSS
No terreno econômico, devido à situação de emergência e pelo próprio ímpeto revolucionário, instituiu-se o "comunismo de guerra". O dinheiro e as leis do mercado foram abolidos, sendo substituídos por uma economia dirigida baseada no confisco de cereais produzidos pelos camponeses. Naturalmente estas medidas criaram um desestímulo ao plantio, levando-os a produzirem exclusivamente para o sustento de suas famílias, com um resultado catastrófico. Os centros urbanos ficaram sem alimentos, provocando um êxodo urbano que viu as populações de Petrogrado e Moscou reduzidas pela metade. A fome de 1921 transformou-se numa das maiores tragédias da Rússia moderna, em que milhões pereceram.

PERDAS DA GUERRA CIVIL RUSSA

Os resultados da Guerra Civil foram terríveis. O demógrafo soviético Boris Urlanis estimou o número total de mortos em ação na Guerra Civil e com a Polônia em cerca de 300.000 (125,000 no Exército Vermelho e 175.500 no Exército Branco e entre os poloneses) e o total de pessoal militar morto por doenças, de ambos os lados, em 450.000. Durante o “Terror Vermelho”, a Cheka (primeira de uma sucessão de organizações de segurança e braço militar do Estado Soviético, criada em dezembro de 1917 por um decreto de Lenin, foi o instrumento do Terror Vermelho) realizou pelo menos 250.000 execuções sumárias  de “inimigos do povo”, com estimativas que alcançam mais de um milhão. Entre 300.000 e 500.000 cossacos foram mortos ou deportados durante a ‘limpeza” de uma população de três milhões. Uma estimativa diz que 100.00 judeus foram mortos na Ucrânia, a maior parte pelo Exército Branco. Órgãos punitivos do todo poderoso Don Cossack Host (uma república autônoma ou independente ao sul da atual Rússia e a região de Donbas, na Ucrânia, do final do século XVI até 1918), sentenciou 25.000 pessoas a morte, entre maio de 1918 e janeiro de 1919. O governo de Kolchak (estabeleceu um governo comunista na Sibéria e foi reconhecido por algum tempo como o chefe supremo e comandante em chefe das forças militares russas; mais tarde foi preso e executado pelos bolcheviques) executou 25.000 pessoas apenas na província de Ekaterinburg. Ao final da Guerra Civil, a República Socialista Federativa Soviética Russa (RSFSR) estava exausta e próxima da ruína. As secas de 1920 e 1921, bem como a fome de 1921, pioraram o desastre, com as doenças alcançando proporções pandêmicas, com 3 milhões morrendo somente de tifo em 1920. Outros milhões morreram de fome generalizada. Em 1922 haviam pelo menos sete milhões de crianças de rua na Rússia como resultado de aproximadamente dez anos de devastação da Grande Guerra e da Guerra Civil. Outros dois milhões de “russos emigrados” fugiram da Rússia pelo extremo oriente e pelos países recém independentes do Mar Báltico, incluindo uma alta percentagem da população mais culta e especializada da Rússia. A economia russa ficar devastada pela guerra, com fábricas e pontes destruídas, gado e matéria prima saqueados, minas inundadas e o maquinário destruído. O valor da produção industrial caiu a 1/7 do valor de 1913 e a agricultura a 1/3. De acordo com o jornal Pravda, “os trabalhadores das cidades e alguns das vilas sufocavam nos espasmos da fome”. As estradas de ferro rastejavam, as casas ruíam, as cidades se enchiam de resíduos, as epidemias se espalhavam causando muitas mortes e a indústria se extinguia. Estima-se que a produção total de minas e fábricas em 1921 havia caído a 20% dos níveis de antes da guerra e muitos itens cruciais experimentaram declínio ainda mais drástico. Por exemplo, a produção de algodão caiu a 5% e o ferro a 2% dos níveis pré-guerra. O Comunismos de Guerra salvou o governo soviético durante a sua Guerra Civil, mas muito da economia da Rússia havia chegado a uma paralização. Os camponeses respondiam ao confisco (política e campanha bolchevique de confisco de grãos e outros produtos agrícolas dos camponeses por um preço fixo nominal de acordo com cotas especificados) pela recusa em arar a terra. Em 1921 a terra cultivada encolheu a 62% da área pré-guerra; o rebanho de cavalos caiu de 35 milhões em 1916 para 24 milhões em 1920 e o gado de 58 para 37 milhões. A taxa de câmbio passou de dois rublos por dólar em 1914 para 1200 rublos em 1920. As perdas humanas totais foram avaliadas entre 7 milhões e 12 milhões durante a Guerra, em sua maioria civis. A Guerra Civil Russa foi a maior catástrofe nacional que a Europa jamais vira.

Exército Vermelho dispara contra agricultores e opositores
do comunismo na revolta de Kronstadt, março de 1921.
Politicamente, os bolcheviques iniciaram a luta final contra outras facções da Esquerda (mencheviques, anarquistas e social-revolucionários), terminando por se transformarem no único partido legalizado do país. Durante o X Congresso do partido, em 1921, adotaram uma resolução ainda mais drástica: a proibição da existência de facções dentro do partido. Quer dizer, os bolcheviques estendiam a ditadura sobre si próprios. Enquanto a liderança esteve nas mãos de Lenin, não foram tomadas medidas repressivas contra os membros recalcitrantes ou divergentes; mas serviu de poderoso instrumento coercitivo quando Stalin empalmou a direção partidária.


[1] “Exército Vermelho” (em sua forma curta) ou “Exército Vermelho dos Operários e dos Camponeses”, foi o exército da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, criado por Trotsky, em 1918, para defender o regime bolchevista durante a guerra civil russa, desmantelado em 1991. O nome abreviado faz referência à cor vermelha, símbolo do socialismo. Apesar do Exército Vermelho ter sido transformado oficialmente no Exército Soviético em 1946, o termo Exército Vermelho é de uso comum no Ocidente para se referir a todas as Forças Armadas soviéticas ao longo de sua história.

Prossegue com a PARTE 7