Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 (Parte 8)

IX - OS ANOS DE FERRO DA ERA STALIN

União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 1922
A morte de Lenin cedeu lugar a uma violenta luta interna pelo poder, principalmente entre Trotsky e Stalin. Para Trotsky, o sucesso do socialismo na URSS dependia da vitória de revoluções operárias nos países vizinhos. Defendia, portanto, a revolução mundial permanente. O grupo que se lhe opunha, ao contrário, defendia a construção do socialismo apenas na URSS, deixando de lado a tese da revolução mundial até conseguir a industrialização do país, com a União Soviética em pé de igualdade com as nações capitalistas.
Lenin acabou sendo sucedido por um triunvirato (Troika) com plenos poderes sobre o Estado e a Organização Partidária. Dos triúnviros, (Kamenev, Zinoviev e Stalin) foi Stalin que de fato passou a usufruir de maior poder e autoridade, com o cargo de Secretário Geral, responsável pela administração do Partido e pela admissão ou exclusão de seus militantes. A combinação deste cargo com os outros seis que ocupava (ver Quadro anterior de Stalin), permitiu a Stalin monitorar as nomeações do Partido nas zonas rurais de toda a União Soviética e assim construir um exército de fiéis seguidores. Isso significava que logo ele poderia controlar a eleição dos deputados do Soviete Supremo, o principal corpo legislativo, e o Congresso do Partido, de forma a poder manipulá-los. 
Mortos pela fome de 1922 jogados no cemitério de Buzuluk.

Stalin também foi mais estimulado ao saber que nos últimos dois anos de vida de Lenin, e logo após sua morte, Trotsky era visto como seu sucessor óbvio e temido por outros líderes. Contudo, no seu último ano de vida, Lenin começou a duvidar de ambos. Em seu “Testamento” (Ver Quadro “A Carta Testamento de Lenin” a seguir), Lenin escreveu que Stalin deveria ser removido do posto de Secretário Geral. Provocado pela rudeza de Stalin para com sua esposa Nadezhda Krupskaia (1869-1939) – a quem Stalin reprendera severamente por não seguir as ordens dos médicos de manter assuntos do Partido afastados de Lenin, após seu derrame -, ele chamou Stalin de “grosseiro e cruel”. Ao mesmo tempo, ele criticou Trotsky por ser muito arrogante. Finalmente, ele alertou para o perigo da rivalidade entre os dois, que poderia cindir o Partido. Quando o “Testamento” foi finalmente liberado por Nadezhda aos principais líderes do Partido e lido por eles em um encontro durante o 13º Congresso do Partido, Stalin apresentou a sua renúncia, mas seus colegas decidiram não publicá-lo, como Lenin havia pedido, e o ignoraram. Isso foi feito porque acreditavam que tal crítica pública de Stalin garantiria a eleição de Trotsky como Secretário Geral e temeram que o “pai” do Exército Vermelho e antigo menchevique se tornasse um ditador militar e se livrasse deles. Outro fato que depôs muito contra Trotsky foi o fato dele se encontrar ausente quando da morte e funerais de Lenin, propositalmente apressados e conduzidos por Stalin. Numa época em que a reconstrução do país ganhava cada vez mais importância, os administradores foram ocupando o lugar dos teóricos e dos agitadores e Stalin terminou sendo o veículo da nova situação. Graças a seus poucos recursos teóricos, não tinha nenhum grande compromisso em manter fidelidades ideológicas; ao contrário, servia-se delas para executar o seu projeto político-econômico. A tese do "socialismo num só país", esboçado inicialmente por Bukharin[1] e, posteriormente, por Stalin, saiu vitoriosa e aclamada em 1924, durante o XIV Congresso do Partido Comunista e Trotsky foi automaticamente jogado na oposição pelo triunvirato. Ainda em 1924, após a morte de Lenin, Bukharin tornou-se membro permanente do Politburo, opondo-se à política de rápida industrialização e coletivização na agricultura, posição então abraçada por Stalin. Em 1925, Stalin aproximou-se do grupo de Bukharin, Rykov e Tomsky (bloco “direitista”) que apoiava a NEP de Lenin, enquanto Kamenev e Zinoviev, “esquerdistas”, desejavam o país mais fortemente em direção ao controle estatal da economia. Ambos perceberam que Stalin os traía, buscando aliança com a facção de Bukharin ao mesmo tempo em que reunia um forte grupo em torno de si mesmo. Direitistas e esquerdistas digladiavam-se no Congresso do Partido e os direitistas pareciam levar a melhor a despeito dos ataques a Stalin e sua política de “socialismo em um só país”. Em julho de 1926, Kamenev e Zinoviev foram em busca de Trotsky para obter apoio e fundaram a “Oposição Unida”. Entretanto, em outubro do mesmo ano, no Congresso do partido, ambos haviam sido removidos do Politburo. Stalin então apressou o Partido a apoiar seus pontos de vista para não serem acusados de anti-leninistas. Trotsky era a expressão do ímpeto revolucionário da época heroica, que lentamente estava sendo arquivada pela nova elite dirigente. Sua formação cosmopolita e internacionalista, o indispunha com o "socialismo num só país", que se identificava com os ditames do aparelho administrativo-burocrático e com o nacionalismo. Trotsky resistiu e, em 1927, foi destituído de suas funções como comissário de guerra, expulso do Partido e exilado para Alma-Ata, na remota Ásia Central Soviética, em 1928, e deportado da Rússia em 1929. Stalin tinha o controle. Tempos depois, em 1940, Trotsky seria assassinado no México, a mando de Stalin, por um agente de segurança soviético, a golpes de picareta na cabeça.


A CARTA TESTAMENTO DE LENIN

O “Testamento de Lenin” é o nome dado a um documento escrito por Vladimir Lenin nas últimas semanas de 1922 e primeira semana de 1923. No testamento, Lenin propôs alterações à estrutura dos corpos de governo soviéticos. Sentindo sua morte iminente, ele também comentou sobre os membros dirigentes da União Soviética, de forma a garantir o seu futuro. Sugeriu que Stalin fosse removido de sua posição de Scretário Geral do Comitê Central do Partido Comunista Russo.
Lenin queria que o testamento fosse lido no XII Congresso do Partido do Partido Comunista Russo, a ser realizado em abril de 1923. Contudo, após o terceiro derrame, em março de 1923, que o deixou paralisado e impossibilitado de falar, o testamento foi mantido secreto por sua esposa, na esperança de sua eventual recuperação. Somente após a morte de Lenin, em janeiro de 1924, ela entregou o documento ao Secretariado do Comitê Central do Partido, pedindo que ele fosse disponibilizado aos delegados do XIII Congresso do Partido, em maio de 1924.
Seu testamento apresentava o triunvirato (ou Troika) que governaria, Stalin, Grigory Zinoviev e Lev Kamenev, com um desconfortável dilema. Por um lado, eles teriam preferido suprimir o testamento já que ele era crítico aos três, bem como ao aliado deles, Nikolai Buckarin e seus oponentes Leon Trotsky e GeorgyPyatakov. Embora os comentários de Lenin fossem prejudiciais a todos os líderes comunistas, Joseph Stalin seria o mais prejudicado uma vez que a única sugestão prática do testamento era removê-lo do cargo de Secretário Geral do Comitê Central do Partido. De outro lado, a liderança não ousava ir diretamente contra os desejos de Lenin imediatamente após a sua morte, especialmente com sua viúva desejando que todos fossem afastados. A liderança encontrava-se também no meio de uma luta entre facções pelo controle do Partido, com a facção governante consistindo de grupos aliados tão frouxamente que logo brigariam, o que tornaria difícil um disfarce.
O compromisso final proposto pelo triunvirato no Conselho dos Anciãos do XII Congresso, após Kamenev ler o texto do documento, foi que o Testamento de Lenin fosse disponibilizado aos delegados sob as seguintes condições (essas condições foram tornadas públicas em 1934 por um panfleto de Trotsky e confirmadas por documentos liberados durante e após a “glasnost” de Gorbachev):
1 – O Testamento seria lido por representantes da liderança do Partido para cada delegado regional, separadamente.
2 – Anotações não seriam permitidas
3 – O Testamento não seria comentado durante o encontro plenário do Congresso.

A proposta foi adotada pela maioria, com objeções de Krupskaya. Como resultado, o testamento não teve o efeito desejado por Lenin e Stalin manteve sua posição como Secretário Geral. O fracasso da divulgação do documento no Partido ficou como um ponto de contenção durante a luta entre a oposição de esquerda e a facção Stalin-Bukharin entre 1924 e 1927. Sob pressão da oposição, Stalin teve que ler o testamento novamente durante o encontro do Comitê Central em julho de 1926. Uma versão editada do Testamento foi impressa, em dezembro de 1927, numa edição limitada, disponibilizada aos delegados do 15º Congresso do Partido. A divulgação mais ampla do Testamento foi solapada pelo consenso da liderança do Partido de que ele não poderia ser impresso publicamente pois arruinaria o Partido como um todo.
O texto do Testamento e a sua ocultação logo tornou-se conhecida no Ocidente, especialmente após a controvérsia descrita por Max Eastman em seu livro “Desde que Lenin Morreu” (1925). A liderança soviética denunciou o relato de Eastman e usou a disciplina do Partido para forçar Trotsky, ainda um membro do Politburo, a escrever um artigo negando a versão de Eastman dos eventos. O texto completo do Testamento de Lenin, em língua inglesa, foi publicado como parte de um artigo de Eastman que apareceu no New York Times, em 1926.
A partir do instante em que Stalin consolidou sua posição de líder inquestionado do Partido Comunista e da União Soviética, ao final da década de 1920, todos as referências ao Testamento de Lenin foram consideradas como agitação antissoviética e punida como tal. A Negação da existência do Testamento permaneceu um dos pilares da historiografia soviética até a morte de Stalin em 5 de março de 1953. Após a denúncia de Nikita Khrushchev's sobre Stalin no 20o Congresso do Partido, em 1956, o documento foi, finalmente, oficialmente publicado pelo governo soviético. O documento original encontra-se em um museu dedicado a Lenin.
A carta constitui uma crítica ao governo soviético, tal como estava, avisando de perigos que ele anteviu e fazendo sugestões para o futuro. Algumas daquelas sugestões incluíam o crescimento do Comitê Central do Partido, dando ao Comitê de Planejamento do Estado poderes legislativos e alterando a política das nacionalidades implementada por Stalin.
Sobre a crítica de Stalin e Trotsky:
“O camarada Stalin, tendo assumido como Secretário Geral, tem autoridade ilimitada concentrada em suas mãos e não estou certo de que ele sempre será capaz de usar esta autoridade com cuidado suficiente. O camarada Trotsky, por outro lado, como sua luta contra a Comitê Central sobre a questão do Comissariado das Comunicações do Povo, já provou ser distinto, não apenas por sua habilidade relevante. Talvez ele seja, pessoalmente, o homem mais capaz no atual Comitê Central, mas tem mostrado excessiva autossegurança e mostrado excessiva preocupação com o lado puramente administrativo do trabalho. Essas duas qualidades dos dois mais importantes líderes do atual CC podem, inadvertidamente, conduzir a uma partição e se o nosso Partido não tomar medidas para evitar isso, a divisão virá inesperadamente”
Lenin sentiu que Stalin tinha mais poder que podia manejar e podia ser perigoso se o permitisse sucede-lo. Num post script escrito poucas semanas mais tarde, Lenin recomendou a Remoção de Stalin da sua posição de Secretário Geral do Partido: “Stalin é muito vulgar e este defeito, embora tolerável no nosso meio e tratando conosco, comunistas, torna-se intolerável num Secretário Geral. Essa a razão porque sugiro que os camaradas pensem numa forma de remover Stalin desse posto, indicando outro para a sua vaga, que seja mais tolerante, mais leal, mais polido e mais considerado com os camaradas, menos caprichoso etc”.
Por “poder”, Trotsky ponderou que Lenin quisesse dizer “poder administrativo” antes de “influência política” dentro do Partido e ressaltou que Lenin tinha efetivamente acusado Stalin de falta de lealdade.
O Testamento de Lenin não deve ser confundido com o “Testamento Político de Lenin”, um termo usado no leninismo, para se referir a um conjunto de cartas e artigos ditados por Lenin durante sua doença, que instruem sobre a continuação da construção do Estado Soviético que, tradicionalmente, inclui os seguintes trabalhos:

1) Uma carta para um congresso;
2) Sobre a designação de funções legislativas ao Gosplan;
3) A “Questão das Nacionalidades” ou sobre “A Autonomia”;
4) Páginas do meu Diário;
5) Sobre Cooperação;
6) Sobre nossa revolução;
7) Como reorganizaremos o “Rabkrin” (Inspetorado dos Operarios e Camponeses);
8) Melhor menos, mas melhor.


O conflito pelo poder perdurou de 1923 a 1928, quando finalmente Stalin tornou-se o senhor da chefia do governo e deu início às reformas com que visou, primordialmente, ao fortalecimento da URSS. Durante o período stalinista (1928 - 1953) calcula-se que o terror político soviético foi responsável pela prisão de mais de cinco milhões de cidadãos e pela morte de mais de 23 milhões de pessoas. 
Prisioneiros do Gulag em trabalho forçado no
Canal do Mar Branco, em 1933


Os planos quinquenais de Stalin, para o desenvolvimento da economia nacional da União Soviética, foram uma série de planos econômicos centralizados a nível nacional. Tais planos foram desenvolvidos por um comitê estatal de planejamento, baseados na teoria das forças produtivas, parte das linhas gerais de ação do Partido Comunista para o desenvolvimento econômico. Esses planos continuaram até o 13º Plano que iniciou em 1991 e deveria ir até 1995, mas terminou com a dissolução da União Soviética em 1991.

Em 1928 Stalin lança o primeiro plano quinquenal (1928-1932) com o objetivo de priorizar a industrialização e "edificar o socialismo", passando para o Estado o controle de toda a atividade econômica. O primeiro passo dado, em 1929, foi a coletivização forçada das propriedades privadas cuja “administração” passou a ser completamente “racionalizada” pelo Estado soviético: pequenos, médios ou grandes proprietários de terras são executados ou deportados em massa com suas famílias. A URSS do final dos anos vinte possuía, aproximadamente, 25 milhões de pequenas propriedades, onde viviam mais de cem milhões de camponeses com suas famílias. A contradição da propriedade privada da terra e propriedade socializada foi resolvida num golpe. Criaram-se milhares de fazendas coletiva (kolkozes) e granjas estatais (solfkozes) que deveriam iniciar uma nova etapa da história da exploração agrícola do solo. Esperava-se deste modo, fazer com que a produtividade agrícola aumentasse com a mecanização das lavouras, acumulando-se assim a renda necessária para a sustentação dos grandes projetos de eletrificação e industrialização. A resistência dos camponeses foi muito além das expectativas. Mataram seu gado, inutilizaram suas ferramentas e, em muitas regiões, rebelaram-se abertamente contra o regime. Stalin foi implacável! Mobilizaram-se inclusive forças do Exército para cumprir o projeto de coletivização e milhões de kulaks foram deportados para os campos siberianos condenados a trabalhos forçados. O impiedoso chicote de Stalin abateu-se sobre o campo e destruiu o que restava de resistência.

A partir de dezembro de 1929, Stalin converteu-se no ditador absoluto da União Soviética. O método que utilizou para a total conquista do poder político teve como base a sua habilidade no controle da máquina burocrática do Partido e do Estado, bem como a montagem de um implacável sistema de repressão política de todos os opositores. Desse modo, Stalin conseguiu eliminar do Partido, do Exército e dos principais órgãos do Estado todos os antigos dirigentes revolucionários, muitos dos quais tinham sido grandes companheiros e apoiadores de Lenin ainda antes da revolução, como Zinoviev, Bukharin, Kamenev, Rikov, Muralov, entre outros. Depois de presos e torturados, os opositores de Stalin eram forçados a confessar crimes de espionagem que não haviam praticado. Assim, conhecidos patriotas eram executados como traidores da pátria. Era a farsa jurídica que caracterizou as chamadas depurações.
Nos anos trinta a União Soviética iria se lançar numa das mais formidáveis e traumatizantes aventuras dos tempos contemporâneos, na tentativa de realizar a transição vertiginosa de um país agrário para um país industrializado. Pela primeira vez na História, essa transição não se daria pelas forças cegas da lei do mercado e sim pelo impulso estatal amparada numa pretendida planificação econômica geral. Stalin enterrou definitivamente a NEP e deu início ao lançamento das bases industriais que permitiram posteriormente a URSS sair vitoriosa no conflito com a Alemanha Nazista (1941-45). No entanto sua política teve terríveis consequências no plano físico, moral e intelectual da nação. Acicatado pela necessidade de fazer frente a "ameaça capitalista" que cercava o país, os soviéticos lançaram-se à tarefa num ritmo sem precedentes.
O sucesso do primeiro plano quinquenal foi fazer a União Soviética iniciar sua jornada para leva-la a uma potência mundial através da industrialização, preparando-a para vencer a Segunda Guerra Mundial. Sem o primeiro e os demais planos que o seguiram, a União Soviética não teria sido preparada para a invasão germânica, em 1941, e para derrotar a Alemanha em 1945.
Voroshilov, Molotov, Stalin e
Yezhov, quando chefe de NKVD
Ao ser fuzilado como traidor do povo
em 1940, Yezhov é removido da foto 
 No segundo plano quinquenal (1933-1937), Stalin procura dar maior ênfase ao desenvolvimento da indústria leve. Como aconteceu com os demais planos, o Segundo não teve o mesmo sucesso que o primeiro, falhando em atender os níveis de produção recomendadas nas indústrias do carvão e do óleo. Nesse período, na área urbana os projetos industriais cresciam como cogumelos, o padrão de vida era baixo e as dificuldades de habitação, transporte e alimentação duríssimas. Milhares de camponeses foram jogados dentro das fábricas, onde sua inabilidade, indisciplina e ignorância provocavam um espantoso índice de acidentes de trabalho. Mas o clima do país, pelo menos nessa época, era de entusiasmo.
Stalin, Lakoba, Svetlana (filha de Stalin) e Beria após
após assumir a chefia da NKVD, substituindo Yezhov.
A juventude lançou-se ardorosamente na construção industrial pois esperava-se em breve chegar finalmente à sociedade igualitária. Milhares de administradores, economistas, engenheiros eram formados e engajavam-se na monumental tarefa. No entanto, a população ainda iria passar pôr um teste ainda mais duro - a Era do Terror - quando Stalin decidiu-se pela eliminação de todos àqueles que lhe fizeram e faziam oposição, dentro do partido. O assassinato de Kirov, um dedicado homem de confiança de Stalin, em Leningrado (a antiga Petrogrado rebatizada em homenagem à morte de Lenin), serviu de pretexto para que o ditador iniciasse o “Grande Expurgo”, os terríveis expurgos que espantaram o país e o mundo. Todos aqueles que eram considerados ameaças, eram mortos ou enviados para campos de concentração ou gulag (Ver Quadro “O Tenebroso Gulag Soviético”, próxima postagem) na Sibéria. Milhares foram presos, torturados e mortos. Nem mesmo as forças armadas ficaram imunes e vários de seus principais dirigentes foram fuzilados. Numa série de processos (entre 1936 e 1938) toda a "Velha Guarda" do partido bolchevique foi esmagada. Este terrível período ficou na memória como a Yezhovchina - o “terror de Yezhov”, chefe da Polícia Secreta (NKVD
[2]), que também foi executado, quando Beria assumiu o comando do aparelho repressivo, em 1938. Os principais dirigentes foram executados em três grandes processos: Zinoviev e Kamenev em 1936, Radeck e Pyatakov em 1937, Bukharin e seu grupo em 1938. Os expurgos no Exército atingiram 3 dos 5 marechais, 14 dos 16 comandantes de exército de I e II classe, seus 8 almirantes, etc...; dos 783 altos oficiais e comissários militares, 528 foram presos ou fuzilados.




[1] Nikolai Ivanovich Bukharin (09/10/1888 – 15/03/1938) foi um revolucionário bolchevique russo, político soviético e prolífico autor sobre teoria revolucionária. Quando jovem passou seis anos no exílio, em contato com Lenin e Trotsky, seus companheiros. Após a Revolução de fevereiro de 1917, ele retornou a Moscou onde suas credenciais bolchevistas lhe garantiram uma alta posição no Partido; após a Revolução de outubro, tornou-se editor do Pravda. Seu leve movimento para a direita, como defensor da NEP o colocou como principal aliado de Stalin. Entre 1926 e 1929, Bukharin gozou de grande poder como Secretário Geral do Comitê Executivo do Comintern, mas a decisão de Stalin de avançar com a Coletivização, afastou os dois e Bukharin foi expulso do Politburo. Embora tenha participado da escritura da Constituição Soviética de 1936, quando o Grande Expurgo começou, no mesmo ano, Stalin viu em algumas cartas, conversas e telefonemas de Bukharin indícios de “deslealdade”. Foi expulso do Partido e preso em fevereiro de 1937, por ser “Trotskysta”, falsamente acusado de conspiração para subverter o Estado Bolchevique, condenado por espionagem e atividades contrarrevolucionárias e executado em março de 1938, após um julgamento que alienou muitos simpatizantes comunistas ocidentais.

[2] O “Comissariado do Povo para Assuntos Interno” (NKVD), foi uma agência de execução da lei, da União Soviética, que diretamente executava o papel de poder do Partido Comunista, diretamente associada com a Polícia Secreta Soviética.

Prossegue na próxima postagem com a PARTE 9.