Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

quinta-feira, 28 de abril de 2016

ORIGEM E FORMAÇÃO DA ALEMANHA (PARTE 2)

GUERRAS NAPOLEÔNICAS

Friedrich Wilhelm II, 1797.

Durante o reinado de Friedrich Wilhelm II (1786-1797), a Prússia anexou território polonês através de outras Partições da Polônia[1]. Seu sucessor, Friedrich Wilhelm III (1797-1840), anunciou a união da igreja luterana da Prússia e as igrejas reformadas em uma. Com a ajuda de seus ministros, Barão vom und zum Stein e o Príncipe Karl August von Hardenberg, instituiu uma série de reformas liberais dentro do reino.
De 1801 a 1805, durante as “Guerras Napoleônicas”, a Prússia foi dominada por Napoleão I (Napoleão Bonaparte). A Prússia teve parte importante nas guerras revolucionárias francesas, mas permaneceu em silêncio por mais de uma década, devido à Paz de Basileia, de 1795, só para ir mais uma vez à guerra com a França em 1806, quando falharam as negociações com aquele país sobre a alocação dos domínios de influência no Império Germânico. Por isso, em 1806, Friedrich Wilhelm III reuniu uma coligação contra Napoleão e foi derrotado, perdendo muito do seu território.
Friedrich Wilhelm III, o rei das
Guerras Napoleônicas
 A Prússia sofreu uma derrota devastadora contra as tropas de Napoleão Bonaparte nas Batalhas gêmeas de Jena e Auerstedt, travadas em 14 de outubro de 1806. A derrota decisiva sofrida pelo exército prussiano subjugou o Reino da Prússia ao Império Francês até a Sexta Coalizão[2], formada em 1812, levando Friedrich Wilhelm III e sua família a fugir temporariamente para Memelburgo (Klaipėda)[3]. Nos termos dos Tratados de Tilsit, em 1807, o estado perdeu quase a metade do seu território, incluindo as áreas adquiridas com a segunda e a terceira Partições da Polônia, que então caíram para o Ducado de Varsóvia, além da obrigação de pagar uma grande indenização ao exército e a permissão de tropas francesas por toda a Prússia, efetivamente tornando-a um reino satélite francês.
A partir de 1806, com a formal dissolução do milenar “Sacro Império Romano-Germânico”, por Napoleão Bonaparte, em 6 de agosto, com a renúncia do seu último imperador Francisco II (a partir de 1804, Francisco I da Áustria) que manteve até 1918 o título de Imperador da Áustria, os estados alemães se encontraram muito fragmentados e, como resposta a esta derrota, reformadores como Stein e Hardenberg definiram a modernização do estado prussiano. Entre as suas reformas estavam a libertação dos camponeses da servidão e a emancipação dos judeus como cidadãos com pleno direito. O sistema escolar foi reorganizado e, em 1818, o comércio livre foi introduzido. O processo de reforma do exército terminou em 1813 com a introdução do serviço militar obrigatório.
Após a derrota de Napoleão na Rússia, em 1812, a Prússia encerrou sua aliança com a França e participou da “Sexta Coalizão” durante as "Guerras de Libertação" contra a ocupação francesa. Tropas prussianas, sob o comando do marechal Gebhard Leberecht von Blücher, contribuíram decisivamente (com os britânicos) na Batalha de Waterloo, em junho de 1815, com a vitória final sobre Napoleão e seu desterro definitivo na Ilha de Santa Helena.
O Congresso de Viena em 1815, que redesenhou o mapa político da Europa após a “Batalha de Waterloo”, que resultou na queda do Império Francês, deu como recompensa à Prússia, a recuperação de sua fortuna e seus territórios perdidos, bem como boa parte do noroeste da atual Alemanha, com toda a Renânia, Vestfália e alguns outros territórios. Essas terras ocidentais eram de vital importância, porque incluíam a área do Ruhr, área rica em carvão e centro da recente industrialização da Alemanha, especialmente na indústria de armas. Tais ganhos territoriais implicaram também na duplicação da população da Prússia. Em troca, a Prússia se retirou das áreas da Polônia central para permitir a criação do Congresso da Polônia sob a soberania russa. 
Confederação Germânica em 1815. Verde escuro, Estados
Membros; em claro, territórios dos Estados fora da Confederação
A Prússia emergiu das guerras napoleônicas como a potência dominante entre os estados alemães que, após 1815, no Congresso de Viena, passaram a ser chefiados pelo Império Austríaco, na “Confederação Germânica”, criada para coordenar as economias separadas dos países de língua alemã e substituir o antigo Sacro Império Romano. Tal era uma confederação fraca de 39 Estados, que representava apenas os soberanos e não os povos daqueles territórios. O tamanho e a influência da cada Estado variava consideravelmente. O Império Austríaco e o Reino da Prússia eram os maiores e mais importantes membros da confederação. Grandes partes de seus territórios e de suas forças armadas não foram incluídas na confederação, o que permitia a ambos atuar como países independentes; por exemplo, durante as guerras com a Dinamarca, Áustria e Prússia não combateram sob a bandeira da confederação. Ambas possuíam um voto cada na dieta (assembleia). Dois Estados-membros eram governados por soberanos estrangeiros: os reis da Dinamarca, dos Países Baixos e do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda (até 1837) eram membros da Confederação Germânica na qualidade, respectivamente, de duque de Holstein e rei de Hanôver. Cada um detinha um voto cada na dieta. Seis outros Estados contavam um voto cada na dieta: os reis da Baviera, Saxônia e Vurtemberg, o príncipe-eleitor do Hesse e os grão-duques de Baden e do Hesse. Vinte e três membros menores compartilhavam cinco votos na dieta. As quatro cidades livres de Lübeck, Frankfurt, Brêmen e Hamburgo compartilhavam um voto na dieta. As suas fronteiras eram aproximadamente as mesmas fronteiras do Sacro-Império à época da Revolução Francesa, excetuando o território que corresponde hoje à Bélgica. Os seus membros, drasticamente reduzidos em relação aos mais de 200 que constituíam o Sacro-Império, dispunham de plena soberania e comprometiam-se a uma defesa mútua, mantendo em conjunto uma série de fortalezas no Luxemburgo, em Mogúncia, Rastatt, Ulm e Landau. Os assuntos políticos, naturalmente limitados devido à grande autonomia dos estados-membros, discutiam-se na dieta federal, sob presidência austríaca, de Frankfurt.
A primeira metade do século XIX viu uma luta prolongada nos estados alemães, entre os liberais, que queriam uma Alemanha unida e federal sob uma constituição democrática, e os conservadores, que queriam manter o Império como uma colcha de retalhos de estados independentes monárquicos, com a Prússia e a Áustria competindo por influência. Um pequeno movimento que marcou o desejo de unificação alemã neste período foi o movimento estudantil Burschenschaft (corporação estudantil de antigos combatentes das guerras contra Napoleão Bonaparte, que haviam retomado seus estudos, em 1815, na Universidade de Jena), que incentivou o uso da bandeira preto-vermelho-ouro, as discussões sobre a nação alemã unificada e um sistema político progressista e liberal. Por causa do tamanho da Prússia e de sua importância econômica, os estados menores começaram a associar-se em sua área numa zona de livre comércio em 1820. A Prússia se beneficiou com a criação em 1834 da união aduaneira alemã (Zollverein), que incluiu a maioria dos estados alemães mas excluiu a Áustria.
Por essa época, o Reino da Dinamarca mantinha uma União Pessoal (uma união de estados com chefe de Estado comum) com os ducados de Schleswig e Holstein, sendo que ambos tinham laços estreitos entre si, embora apenas Holstein fizesse parte da Confederação Germânica. O Schleswig era um ducado soberano (formalmente independente), de maioria dinamarquesa, vinculado à coroa da Dinamarca por uma União Pessoal e por laços feudais. Já o Holstein era um ducado soberano, de maioria alemã, que integrara o Sacro Império Romano-Germânico e a Confederação, mas ligado à Dinamarca por uma União Pessoal desde o século XV. Em outras palavras, o rei da Dinamarca era o duque do Schleswig e do Holstein, territórios governados, na prática, pelos dinamarqueses. O chamado Tratado de Ribe (1460) dispunha que os dois ducados não poderiam ser separados. A extinção da linhagem real masculina da Dinamarca, com a morte do rei Friedrich VII, criou para os dinamarqueses o problema da manutenção do seu controle sobre o Schleswig-Holstein, cobiçado por advogados da unificação Alemã.
Por 1844 quase todos os estados germânicos estavam economicamente ligados à Prússia. Quando Friedrich VII, rei da Dinamarca, após as Revoluções de 1848, tentou integrar Schleswig, mas não Holstein, ao estado dinamarquês, promulgando uma constituição democrática comum à Dinamarca e ao Schleswig, provocou um movimento separatista nos ducados. Em março de 1848, a grande maioria alemã do Schleswig-Holstein rebelou-se contra a Dinamarca e buscou a independência frente a esta última, para se associar à Confederação Germânica. O Reino da Prússia, sob Friedrich Wilhelm IV, interveio militarmente em favor da revolta, expulsou dos ducados as tropas dinamarquesas e conseguiu levar a Confederação Germânica contra a Dinamarca na Primeira Guerra do Schleswig (1848-1851). A guerra terminou quando as grandes potências europeias pressionaram a Prússia a aceitar o Protocolo de Londres de 1852. Nos termos deste acordo de paz, a Confederação Germânica devolvia o Schleswig-Holstein à Dinamarca que, por um acordo com a Prússia, comprometia-se a não criar laços adicionais com o Schleswig mais fortes do que os deste último com o Holstein. Como se vê, um resultado não conclusivo que logo faria estalar um novo conflito.

AS GUERRAS DE UNIFICAÇÃO

Wilhelm I, proclamado imperador do Império Alemão
Sob o Rei Wilhelm I (1861 a 1888), e seu primeiro ministro e chanceler imperial, Príncipe Otto Von Bismarck (a partir de 1862), o Chanceler de Ferro, ministro presidente do Reino, a Prússia alcançou o pico do seu poder, realizando a unificação alemã através do desprezo aos recursos do liberalismo político e da opção pela política da força.
Em 1862, o rei Wilhelm I nomeou Otto von Bismarck como primeiro-ministro da Prússia, decidido a derrotar tanto os liberais quanto os conservadores e aumentar a supremacia prussiana e a sua influência entre os estados alemães. Há muito debate sobre se Bismarck realmente planejou criar uma Alemanha unida quando partiu nesta jornada, ou se ele simplesmente se aproveitou das circunstâncias. Certamente suas memórias pintam um quadro róseo de um idealista, mas estes foram escritos com o benefício da retrospectiva e certos eventos cruciais que não poderiam ser previstos. O que está claro é que Bismarck apoiou grandes setores da população com a promessa de levar a luta para uma maior unificação alemã. Em busca do seu objetivo maior, Bismarck guiou a Prússia através de três guerras que, no seu conjunto, trouxeram Wilhelm I da Prússia à posição de Imperador Alemão: (1) a guerra contra a Dinamarca em 1864; (2) a “Guerra das Sete Semanas” contra a Áustria, em 1866; (3) e a “Guerra Franco-Prussiana” em 1870. Essas três guerras colocaram a Prússia como estado líder no Império Germânico. Em 1867 tornou-se o núcleo da Confederação da Alemanha do Norte e, em 1871, do Império Germânico. Daí em diante, a história da Prússia geralmente coincide com a história da Alemanha.
Chanceler Otto Von Bismarck,
retratado por N. Repik
Em 1863, a Dinamarca introduziu uma constituição compartilhada para a Dinamarca e Schleswig. Isso levou a um conflito com a Confederação Germânica, que autorizou a ocupação de Holstein pela Confederação, da qual as forças dinamarquesas se retiraram. Em 1864, forças prussianas e austríacas cruzaram a fronteira entre Holstein e Schleswig iniciando a Segunda Guerra do Schleswig. As forças austro-prussianas derrotaram os dinamarqueses, que entregaram os dois territórios. Na Convenção de Gastein, de 1865 a Prússia assumiu a administração de Schleswig enquanto a Áustria assumiu a de Holstein.
Bismarck percebeu que a dupla administração de Schleswig e Holstein era apenas uma solução temporária, e as tensões aumentaram entre o Reino da Prússia e o Império Austríaco. A luta pela supremacia na Confederação e a disputa sobre Schleswig e Holstein, levou à Guerra Austro-Prussiana, em 1866.
Do lado austríaco, ao sul, estavam os estados alemães (incluindo a Baviera e Württemberg), alguns estados alemães centrais (incluindo Saxônia) e Hanôver, ao norte. Do lado prussiano estavam o Reino da Itália e a maioria dos estados ao norte da Confederação e alguns estados centrais menores. As tropas prussianas, melhor armadas, conquistaram a vitória fundamental na batalha de Königgrätz, sob Helmuth von Moltke. O conflito centenário entre Berlim e Viena pelo domínio da Confederação havia acabado.
Pela Paz de Praga, em 1866, a Prússia anexou quatro dos aliados austríacos no norte e no centro da Alemanha: Hanôver, Hesse-Kassel, Nassau e Frankfurt. A Prússia também ganhou o controle total de Schleswig-Holstein. Como resultado desses ganhos territoriais, a Prússia estendeu-se através de dois terços do norte da Confederação, que continha dois terços da sua população. A “Confederação Germânica” foi dissolvida e a Prússia agrupou 21 estados norte do rio Meno para formar a “Confederação da Alemanha do Norte” sob hegemonia do Reino da Prússia e excluindo a Áustria e a Baviera.
Wilhelm I, Imperador Germânico  a partir
de 18 de janeiro de 1871.
A Prússia foi o Estado dominante na nova confederação, como um reino composto praticamente de quatro quintos do território do novo Estado e da população. O controle quase total da Prússia sobre a confederação foi garantido na constituição redigida por Bismarck em 1867. O poder executivo seria realizado por um presidente, coadjuvado por um chanceler apenas a ele subordinado. A presidência foi um cargo hereditário dos governantes Hohenzollern da Prússia. Havia também uma casa de dois parlamentos. A casa baixa, ou Reichstag, eleita por sufrágio universal masculino; a casa superior, ou Bundesrat (Conselho Federal), era nomeado pelos governos estaduais e, na prática, a casa mais forte. A Prússia teve 17 de 43 votos, e poderia facilmente controlar processos através de alianças com outros estados.
A polêmica entre a Prússia e o “Segundo Império Francês”[4] sobre a candidatura de um Hohenzollern ao trono espanhol foi intensificada tanto pela França como por Bismarck. Com seu “despacho de Ems”[5], Bismarck provocou a declaração de guerra da França à Prússia, por Napoleão III, em 19 de julho de 1870. Honrando os seus tratados, os estados alemães juntaram forças e, rapidamente, derrotaram a França na Guerra Franco-Prussiana. Com a vitória, sob a liderança de Bismarck, Baden, Württemberg e a Baviera, que haviam ficado fora da Confederação da Alemanha do Norte, aceitaram a incorporação a um Império Germânico unificado.
Segundo Bismark, o Império era a solução da "Alemanha Menor" no que se refere à união de todos os povos de língua alemã em um estado, excluindo a Áustria, que permaneceu conectada ao Reino da Hungria e cujos territórios incluíam populações não-alemãs. Em 18 de janeiro de 1871 (o 170º aniversário da coroação do rei Friedrich I), Wilhelm I foi proclamado "Imperador Germânico" (não "Imperador da Alemanha") no Salão dos Espelhos, em Versalhes, perto de Paris, com a capital francesa ainda sob cerco. Esse título (em alemão, “Deutscher Kaiser”) foi o título oficial do chefe de estado do Império Germânico, (Deutsches Reich) então ocupado pelo rei da Prússia (e Bismarck como seu chanceler), e vigorou desde que a Confederação da Alemanha do Norte, após a vitória da Prússia sobre a França na Guerra Franco – Prussiana, em 1871, tornou-se um império, até 1918, com o término da Primeira Guerra Mundial e a derrota da Alemanha.

[1] As Partilhas da Polônia ocorreram ao longo do século XVIII e puseram fim à existência da soberana República das Duas Nações (Reino da Polônia e Grão Ducado da Lituânia). Elas envolveram o Reino da Prússia, o Império Russo e a Monarquia/Império Austríaco, dividindo as terras da república entre elas. As três partilhas ocorreram em: 5 de agosto de 1772; 23 de janeiro de 1793; e 24 de outubro de 1795.
[2] A Sexta Coalizão (1812-1814) reuniu Áustria, Prússia, Rússia, Reino Unido, Portugal, Suécia, Espanha e alguns Estados Germânicos que finalmente conseguiram derrotar a França e enviar Napoleão para o seu primeiro exílio, na Ilha de Elba. Com a frustrada invasão da Rússia, os seus adversários se reorganizaram, expulsaram Napoleão da Alemanha em 1813 e invadiram a França em 1814, obrigando Napoleão a abdicar restaurando os Bourbons.
[3] Klaipėda, anteriormente referida como Memelburgo, é uma cidade e único porto lituano, situada na entrada da laguna da Curlândia, que deságua no mar Báltico, fundada pelos Cavaleiros Teutônicos. Algumas de suas construções mais antigas possuem similaridades com construções alemãs, francesas, inglesas, dinamarquesas e também do sul da Suécia.
[4] O Segundo Império Francês foi o regime monárquico bonapartista implantado por Napoleão III de 1852 a 1870, entre os períodos históricos da Segunda República e da Terceira República, na França. Durante este período, a capital Paris foi centro de exposições mundiais, para onde convergiam a divulgação do progresso cultural e industrial do mundo. Com a Guerra Franco-Prussiana, o Império encontrou seu fim, mostrando seu despreparo militar, com o próprio Imperador Napoleão III sendo capturado na desastrosa batalha de Sedan e deposto em seguida.
[5] O “Despacho de Ems” é um documento histórico. Foi o telegrama que relatou o encontro, em 13 de Julho de 1870 entre o Rei da Prússia Wilhelm I e o embaixador da França, na Prússia, em Bad Ems, no rio Lahn, perto de Koblenz. O telegrama foi habilmente manipulado por Bismark, de forma a torna-lo uma afronta aos franceses, assim provocando a declaração de Guerra da França.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

ORIGEM E FORMAÇÃO DA ALEMANHA (PARTE 1)

I – INTRODUÇÃO

A Prússia, que se tornaria um apelido pejorativo para o militarismo e autoritarismo alemão, começou a sua história inteiramente fora da atual Alemanha, embora ao longo de sua história se tenha transformado na origem do reino e do estado da Alemanha. O povo chamado Prussiano, em alemão, que habitava as terras da costa sudeste do mar Báltico, era eslavo, ligado aos lituanos e letões. Foram conquistados e cristianizados à força, no século XIII, pelos Cavaleiros Teutônicos vindos da Terra Santa. Camponeses germânicos foram trazidos para cultivar a terra e, cerca do ano 1350, a maioria da população já era germânica, embora os poloneses tenham anexado parte da Prússia no século seguinte, deixando os Cavaleiros Teutônicos com o Leste da Prússia.
No pico de sua expansão, ao final do século XIX, a Prússia se estendia ao longo das costas dos Oceanos Báltico e do Norte, da Bélgica, Holanda, França e Luxemburgo, no oeste, para o Império Russo no leste, para a Áustria-Hungria no leste, sudeste e sul, e para a Suíça ao sul.
A Prússia moderna foi, sucessivamente, com modificações geográficas, um reino independente (1701-1871), o maior reino constituinte do Império Germânico (1871-1918), um estado ou território constituinte da República de Weimar (1919-1933) e uma divisão administrativa, compreendendo 13 províncias, do centralizado Terceiro Reich Germânico (1934-1945). Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Prússia Ocidental foi perdida para a Polônia, e a Prússia Oriental foi separada do resto do Império Germânico, em 1919, sob os termos do “Tratado de Versailles”, por uma faixa do antigo território prussiano conhecido como “Corredor Polonês” (Corredor de Dantzig ou Corredor de Gdansk), projetado para dar à Polônia uma saída ao Mar Báltico e o maior motivo da invasão da Polônia por Hitler, na “inauguração” da Segunda Guerra Mundial. As outras províncias da Prússia entre as duas Guerras Mundiais eram Reno, Brandenburgo, Pomerânia, Berlin, Saxônia, Schleswig-Holstein, Hannover, Vestfália, Grenzmark Posen-Westpreussen (atualmente na Polônia), Hessen Nassau e Hohenzollern (ambas na atual Alemanha), e Silesia (hoje parte na Polônia e parte na República Tcheca). Em 1947, após a Segunda Grande Guerra (1939-1945), a Prússia foi abolida como uma unidade política e, com exceção da Prússia Oriental, repartida em várias partes pelas quatro zonas de ocupação na Alemanha, administradas pela França, Grã Bretanha, Estados Unidos e URSS. A região nordeste da Prússia Oriental foi anexada pela URSS e o restante foi colocado sob administração polonesa. Berlin era a capital da Prússia antes da Segunda Guerra Mundial e as principais cidades incluíam Frankfurt am Main, Colônia, Essen, Dortmund, Düsseldorf, Magdeburg, Stettin (agora Szczecin) e Königsberg (agora Kaliningrado).
Este, o assunto que vamos, a partir de agora, analisar detalhadamente.


II - UMA BREVE HISTÓRIA DA PRÚSSIA



A área que foi, até modernamente, conhecida como Prússia, foi habitada, em tempos remotos, por tribos eslávicas[1] ocidentais, ancestrais dos poloneses modernos, do oeste, e tribos bálticas, muito relacionadas aos lituanos, do leste. A região e seus habitantes foram descritos pela primeira vez por Tácito, em sua obra “Germânia”, no ano de 98 DC, no período em que suevos, godos e outros povos germânicos viviam em ambos as margens do rio Vístula[2], ao lado dos éstios, os povos do leste, como os chamou Tácito em seu livro, que viviam depois dos povos germânicos da Média Germânia.
Num mapa moderno, a região original dos primeiros prussianos
É uma região histórica que se estende desde a Baía de Gdansk (na Polônia atual) e o final da Curlândia (na costa sudeste do Mar Báltico, na atual Letônia) até a Masúria, grande região no nordeste do território polonês atual. O nome Prússia tem sua origem histórica nos prussianos, um povo báltico que habitava a área em torno das lagunas da Curlândia e do rio Vístula (no que é hoje o norte polonês). Nos séculos VII e VIII os vikings também começaram a penetrar a costa oriental do mar Báltico. Os maiores centros de comércio dos prussianos, como Truso e Kaup, parecem ter absorvido alguns Vikings. Prussianos usaram o mar Báltico como uma rota comercial, frequentemente viajando de Truso a Birka (atual Suécia). No final da Era Viking, os filhos do rei dinamarquês Harald Bluetooth e Canuto, o Grande, lançaram várias expedições contra os prussianos. Eles destruíram muitas áreas na Prússia, incluindo Truso e Kaup, mas não conseguiram dominar totalmente a população. Em algum ponto após o século VII, a área foi invadida e colonizada por tribos germânicas pagãs, mais tarde conhecidas como prussianas. As pessoas do qual o nome Prússia é derivado eram, geralmente, chamados Prússicos ou Borússicos, nas fontes mais antigas. Esse povo falava uma linguagem agora conhecida como Prussiano Antigo e seguia uma mitologia prussiana pagã. 
Figura medieval representando o
martírio de Santo Adalberto

Os saxões entraram na Europa Oriental no século X e falharam em suas tentativas de converter os prussianos ao cristianismo. Em 997 o bispo e santo Adalberto foi martirizado como missionário na Prússia.
Em 1211, André II da Hungria concedeu Burzenland[3], na Transilvânia, como um feudo dos Cavaleiros Teutônicos (sobre os Cavaleiros Teutônicos, ver quadro abaixo), uma ordem religiosa militar que converteu os prussianos ao Cristianismo e levou colonizadores germânicos e holandeses para o território conquistado. Em 1225, André II expulsou os Cavaleiros Teutônicos da Transilvânia, que se transferiram para o mar Báltico. Conrado I, o duque polaco de Mazóvia, tentou em vão conquistar a Prússia pagã nas cruzadas em 1219 e 1222. Em 1226, o duque Conrado I convidou os Cavaleiros Teutônicos para conquistar as tribos prussianas bálticas em suas fronteiras, o que eles conseguiram no mesmo ano. Durante 60 anos de lutas contra os prussianos, a ordem criou um estado independente, que passou a controlar a Prússia. Em 1237, eles passaram a controlar também a Livônia (atual Letônia e Estônia). Nesta década de 1230, o território dos prussianos e dos povos vizinhos, curonianos (habitantes da Curlândia) e livônios, estiveram sob o controle do Estado da Ordem Teutônica. Por volta de 1252, eles terminaram a conquista da tribo prussiana setentrional dos escalvianos, assim como os ocidentais curonianos bálticos e ergueram o Castelo de Memel (atual Lituânia), que se tornou a cidade portuária de Memel (atual Klaipėda). 
Tribos prússicas, entre outras tribos
bálticas, cerca de 1200 DC
Foram os Cavaleiros Teutônicos que deram origem ao Ducado da Prússia e à Marca de Brandenburgo, principado do Sacro Império Romano Germânico, com papel crucial na história da Alemanha e da Europa Central. Durante séculos, a Casa de Hohenzollern governou com sucesso a região, expandindo seu tamanho por meio de um exército bem organizado e eficaz. Ao final do século XIII a região estava completamente subjugada e daí para diante foi governada pelos Cavaleiros Teutônicos, como um feudo papal, subordinados ao Papa e ao Imperador.

A ORDEM TEUTÔNICA


A “Ordem dos Cavaleiros Teutônicos de Santa Maria de Jerusalém”, conhecida apenas como “Ordem Teutônica”, foi uma ordem militar cruzada, vinculada à Igreja Católica, por votos religiosos, pelo Papa Clemente III, formada em São João do Acre, Israel, na época das Cruzadas, ao final do século XII. Seus membros usavam sobrevestes brancas com uma cruz negra. Os Cavaleiros tiveram a sua sede em Montfort, uma fortaleza construída nos tempos do Reino de Jerusalém[1] (1099-1291), durante as Cruzadas, cujos vestígios ainda se conservam ao norte de Israel.
A Torre Teutônica da cidade de Acre, em Israel
A Ordem Teutônica foi uma das mais poderosas e influentes da Europa. A maioria dos seus membros pertencia à nobreza, inclusive à família real prussiana e outros nobres germânicos. Os soberanos e a nobreza dos estados antecessores da atual Alemanha, inclusive a família soberana do Império Alemão (1871-1918) e da Prússia (1525-1947), os Von Hohenzollern, eram membros da Ordem.
Após a derrota das forças cristãs no Oriente Médio, os cavaleiros teutônicos mudaram-se para a Transilvânia, em 1211, a convite do rei André II, da Hungria, onde fundaram a cidade de Brasov, mas foram expulsos em 1224. Transferiram-se então para o norte da Polônia, onde criaram o “Estado da Ordem Teutônica” (que existiu entre 1224 e 1525). A agressividade e o poder da Ordem ameaçavam os países vizinhos, em especial o Reino da Polônia e o Grão-Ducado da Lituânia.
Entre 1229 e 1279 a ordem conquistou áreas na Prússia, onde os cavaleiros construíram muitas cidades e fortes. Por volta de 1329, os cavaleiros teutônicos controlavam, por domínio papal, toda a região do Báltico, desde o golfo da Finlândia até a Pomerânia, na Polônia. Na parte sul de seu domínio, a ordem foi abolida e suas terras se tornaram a Prússia, em 1525. A parte norte (Estônia e Letônia) foi dividida entre a Polônia, Rússia e Suécia, depois de 1558.
Em 1410, na batalha de Grunwald (também conhecida como batalha de Tannenberg), um exército combinado polaco-lituano, comandado pelo rei polaco Ladislau II Jagelão, derrotou a Ordem e pôs fim a seu poderio militar. O poder da Ordem continuou a declinar até 1525, quando seu grão-mestre, Alberto de Brandemburg, converteu-se ao luteranismo e assumiu o título e os direitos de duque hereditário da Prússia (embrião do Reino da Prússia, catalisador do futuro Império Alemão). O Grão-Magistério foi então transferido para Mergentheim, de onde os grão-mestres teutônicos continuavam a administrar as consideráveis posses da Ordem no Sacro Império Romano-Germânico.
Em 1806, quando Napoleão Bonaparte determinou a extinção do Sacro Império, a Ordem perdeu as suas últimas propriedades seculares, mas logrou sobreviver até o presente. O decreto papal emitido por Pio XI, a 21 de novembro de 1929, transformou os cavaleiros teutônicos numa ordem clerical composta por sacerdotes, padres e freiras. Atualmente, tem a sua sede em Viena, Áustria, e trabalha, primordialmente, com objetivos assistenciais. A cruz teutônica está na origem da célebre "Cruz de Ferro", condecoração ainda em uso pelas forças armadas alemãs.
Nas mãos de Heinrich Himmler, a SS foi estruturada segundo o modelo da Ordem dos Cavaleiros Teutónicos, cujos membros, acreditava-se, tinham sido guardiões do Santo Graal. Equipes da SS foram designadas para encontrar tanto o Santo Graal quanto a Arca da Aliança.

[1] O Reino de Jerusalém foi um Estado cruzado criado no Levante, em 1099, pela Primeira Cruzada. O reino durou aproximadamente 200 anos, de 1099 a 1291 quando o Acre, sua última possessão, foi destruída pelos Mamelucos, mas sua história é dividida em dois períodos distintos. O Primeiro Reino de Jerusalém (com a capital nessa cidade) existiu entre 1099 e 1187, quando foi quase totalmente tomado por Saladino, muçulmano de origem curda e primeiro sultão do Egito e Síria. Após a Terceira Cruzada, o Reino foi reestabelecido em Acre, em 1192 e durou até a sua destruição, em 1291. Esse segundo reino é algumas vezes chamado de Segundo Reino de Jerusalém ou Reino do Acre.

Tribos Prussianas no Século XIII
Sua relação, inicialmente estreita, com a Coroa polonesa deteriorou depois que eles conquistaram em 1308 a Pomerânia (mar Báltico, ao norte da Polônia e vizinha de Dantzig) ou Pomerélia e Dantzig (Gdansk dos tempos modernos), controlada pelos poloneses. Durante a segunda metade do século XIV, uma forte oposição aos germânicos desenvolveu-se na Europa Oriental, causando a união dinástica da Polônia e Lituânia (União de Krewo), em 1385, que derrotou os Cavaleiros Teutônicos na Batalha de Grunwald (Tannenberg), em 1410.
Na Guerra dos Treze Anos, a Batalha da Lagoa do Vístula,
14/09/1463, entre Ordem Teutônica e Confederação Prussiana
A “Guerra dos Treze Anos” (1454-1466) começou quando a Confederação Prussiana[4], uma coalizão de cidades da Prússia Ocidental, se rebelou contra a ordem, com solicitação de ajuda ao rei polonês. Os Cavaleiros Teutônicos foram forçados a reconhecer a soberania e prestar homenagem ao rei Casimiro IV da Polônia, na Segunda Paz de Torun (1466), perdendo a Prússia Ocidental para a Polônia, que se tornou conhecida como Prússia Real Polonesa. Os termos da segunda Paz de Torun deixaram os Cavaleiros de posse da parte oriental da Prússia, mantida como um feudo da coroa polonesa. Com isso, a Prússia, que já possuía Berlim como sua capital, ficou dividida em dois estados: a Prússia Real, no oeste, e Prússia Ducal, no leste. A Prússia Real (ou Prússia Polonesa) era uma província do Reino da Polônia, parte da comunidade encravada fora do Estado da Ordem Teutônica. Administrativamente, a Prússia Real era parte da Província da Grande Polônia, junto com a própria Grande Polônia, com a capital em Poznan, formando um corredor ao Mar Báltico (Corredor Dantzig). A Prússia Ducal, um feudo da Coroa da Polônia até 1657, foi estabelecida durante a Reforma Protestante, em 1525 e foi o primeiro ducado luterano com população dominante de língua germânica e minorias polonesa e lituana. Nessa época, o porto de Dantzig foi designada uma “cidade livre”.
A Reforma Protestante, do início a meados do século XVI, viu muitos prussianos se converterem ao Protestantismo, ao passo que a Polônia permaneceu - e ainda permanece - solidamente católica. Em 1525, Alberto de Brandenburgo – Ansbach, um membro da casa de Hohenzollern, o último Grande Mestre dos Cavaleiros Teutônicos, tornou-se um luterano protestante e secularizou os restantes dos territórios prussianos da ordem para a Prússia Ducal, área a leste da foz do rio Vístula, às vezes chamada de "Prússia Adequada". Pela primeira vez, essas terras chegaram às mãos da família Hohenzollern. A dinastia Hohenzollern havia governado a “Marca de Brandemburg”, a oeste, um estado germânico centrado em Berlim, desde o século XV. Além disso, com sua renúncia da ordem, Alberto, 1º Duque da Prússia, agora podia casar-se e produzir herdeiros legítimos, o que transformou a Prússia Ducal num ducado hereditário. A unidade das duas partes da Prússia foi preservada pela manutenção das suas fronteiras, da cidadania de seus habitantes e da sua autonomia política.
Em 1618, a Prússia Ducal, ainda um estado vassalo da Polônia, passou a John Sigismund, um Hohenzollern. Com a união da Prússia Ducal com Brandenburgo, através do seu neto, Friedrich Wilhelm, Grande Eleitor de Brandenburgo, e a invasão pelos suecos em 1657, a Polônia rendeu soberania e independência à Prússia Ducal, que se transformou no Reino da Prússia, chefiado pela linha Hohenzollern, na Paz de Oliva, em 1660. Friedrich Wilhelm, que governou de 1640 até a sua morte, em 1688, transformou Brandenburgo – Prússia no mais forte dos estados germânicos do norte, criou um eficiente exército, fortificou Berlim, centralizou a administração do ducado e assumiu poderes de governança que eram anteriormente exercidos pela nobreza e as oligarquias da cidade.
Friedrich I, fundador do Reino da Prússia
Seu filho, o Eleitor Friedrich III (1657 – 1713), conhecido em Berlim como o “Fritz Torto” - um acidente de infância lhe tinha torcido a espinha e deixado uma corcunda -, apaixonado por tudo que era francês, buscava uma coroa como recompensa por ter ajudado o Imperador Leopoldo I (então Arquiduque da Áustria e imperador do Sacro Império Romano). Brandenburgo não podia ter um rei, pois que parte do Império, e não podia haver um rei da Prússia porque parte dela estava na Polônia. Por uma fórmula engenhosa, contudo, Friedrich obteve de Leopoldo I, Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, onde a maior parte das terras da Prússia estava, a permissão para ser chamado “Rei na Prússia” e não “Rei da Prússia”. Tal permissão culminou com a proclamação do Reino da Prússia (em substituição ao Ducado da Prússia), com sua capital em Berlim, em 18 de janeiro de 1701, quando o Eleitor[5] Friedrich III se auto coroou Friedrich I, em Konigsberg, e o país se tornou uma das grandes potências de sua época, com maior influência nos séculos XVIII e XIX. A partir daí Brandenburgo, embora ainda teoricamente parte do Sacro Império Romano, devendo obediência ao Imperador, passou a ser tratado na prática como parte do Império da Prússia. Friedrich I e sua segunda esposa, Sophia Charlotte de Hanover, irmã de George I da Inglaterra, fez da sua corte em Berlim uma miniatura de Versailles, onde o francês era a primeira língua, a etiqueta francesa era seguida com rigor e o rei desfilava em sapatos vermelhos de saltos altos e uma longa cabeleira para esconder sua corcunda, desperdiçando dinheiro como água e imitando ao máximo Louis XIV. O estado prussiano cresceu em esplendor durante o reinado de Friedrich I, que patrocinou as artes às custas do tesouro. 
Friedrich Wilhelm I, o austero Rei Soldado
Friedrich I foi sucedido por seu filho, Friedrich Wilhelm I (que reinou de 1713 a 1740), o austero "Rei Soldado", que transformou seu reino numa autocracia militar, dando à Prússia sua duradoura reputação. Aumentou de forma significativa o tamanho do exército prussiano e reconstruiu a organização do Estado em torno de um exército profissional permanente, um dos mais poderosos da Europa, embora suas tropas apenas brevemente tivessem entrado em ação durante a Grande Guerra do Norte. Tendo em vista o tamanho do exército em relação à população total, Mirabeau diria mais tarde: A Prússia, não é um estado com um exército, mas um exército com um Estado. No tratado de Estocolmo, de 1720, adquiriu a metade da Pomerânia sueca.
O rei Friedrich Wilhelm I morreu em 1740 e foi sucedido por seu filho, Friedrich II (que reinou entre 1740 e 1786), cujas realizações levaram a sua reputação ao título de "Friedrich II, o Grande". Como príncipe herdeiro, Friedrich II concentrou-se, principalmente, na filosofia e nas artes, mas usou os recursos e o exército herdado de seu pai para tornar a Prússia uma das principais potências da Europa ao final do século XVIII. Em dezembro de 1740 ele invadiu e tomou a província austríaca da Silesia, a mais rica da Monarquia de Habsburgo, precipitando a “Guerra da Sucessão Austríaca” (1740-1748)[6]. A Silesia, repleta de solos ricos e cidades prósperas com fábricas, se tornou uma região vital para a Prússia, aumentando grandemente a área, população e riqueza do país. Ao final da “Guerra dos Sete Anos” (1756-1763)[7] o território prussiano incluía a Silesia, principal causa da iniciada rivalidade e conflitos de mais de um século entre Áustria e Prússia, os dois estados mais poderosos dentro do Sacro Império Romano-Germânico (embora, ironicamente, ambos tivessem extenso território fora do império), até 1866. 
Friedrich II, o Grande, rei da Prússia (1740-1786)
Foi durante o seu reinado e seu formidável gênio militar, que a Prússia anexou a Prússia Real Polonesa, assim ligando seu reino da Prússia, ao leste, com Brandenburgo e o corpo principal de suas possessões germânicas no oeste. Assim, a nação que consistia das províncias de Brandenburgo, Pomerânia, Danzig, Prússia Ocidental e Prússia Oriental, tornou-se a maior potência da Europa e teve uma grande influência em muitos assuntos internacionais.
Durante os últimos anos de seu reinado, Friedrich II abriu as fronteiras da Prússia aos imigrantes que fugiam da perseguição religiosa em outras partes da Europa, como os huguenotes. A Prússia tornou-se um refúgio seguro, da mesma forma que os Estados Unidos receberam imigrantes em busca da liberdade no século XIX. Friedrich, o Grande, o primeiro "Rei da Prússia", praticou o despotismo esclarecido. Ele introduziu um código civil geral, aboliu a tortura e estabeleceu o princípio de que a Coroa não iria interferir em assuntos de justiça. Ele também promoveu um ensino secundário superior, precursor do sistema (escola de gramática) que preparava os alunos mais brilhantes para os estudos universitários. O sistema de ensino prussiano foi imitado em vários países, incluindo os Estados Unidos.
Friedrich II, o Grande, foi sucedido no trono, em 1786, por Friedrich Wilhelm II, que foi, por sua vez, sucedido por Friedrich Wilhelm III, o rei das “Guerras Napoleônicas”, em 1797, e a elas dedicaremos um capítulo especial, por sua importância na formação do futuro estado da Alemanha.

[1] Os primeiros eslavos compreendiam um grupo diverso de sociedades tribais que viveram durante o período migratório e o início da Idade Média europeia, entre os séculos V e X, que indiretamente criaram as fundações para as nações eslávicas da atualidade. A primeira menção escrita do nome eslavo, data do século VI, quando as tribos eslávicas ocupavam uma vasta área da Europa leste central. Pelos dois séculos seguintes, os eslavos se espalharam mais, em direção aos Balcãs e os Alpes, ao sul e oeste e em direção ao rio Volga, no norte e leste.
[2] O Vístula é o mais longo rio da Polônia, com 1.047 km, e sua bacia hidrográfica banha cerca de 194 mil km², ou quase dois terços da superfície da Polônia. Ele tem a sua nascente nos Beskides (cadeia montanhosa entre o nordeste da República Checa, o noroeste da Eslováquia, o sul da Polônia e o oeste da Ucrânia, fazendo parte dos Cárpatos) ocidentais, na alta Silésia, a 1.106 metros de altitude escoando pela Polônia antes de desembocar no Mar Báltico, perto de Gdansk.
[3] A Burzeland é uma área histórica e etnográfica no sudeste da Transilvânia, Romênia, com uma população mista de romenos, alemães e húngaros. Situa-se nas cadeias de montanhas dos Cárpatos do Sul; sua cidade mais importante é Brasov.
[4] A Confederação Prussiana foi uma organização formada em 1440 por um grupo de 53 nobres e clérigos e 19 cidades, na Prússia, que se opuseram à Ordem Teutônica. Em 1454, o líder da confederação, Hans von Baysen, pediu formalmente a Casimiro IV, Rei da Polônia, para incorporar a Prússia ao Reino da Polônia. Isto marcou o início da Guerra dos Treze Anos (1454-1466), travada entre o vitorioso Reino da Polônia e a derrotada Ordem Teutônica. A guerra foi terminada pela Paz de Torun.
[5] Os príncipes-eleitores (ou simplesmente eleitores) do Sacro Império Romano, eram os membros do colégio eleitoral deste Império, que possuíam, desde o século XIII, o privilégio de eleger o Rei dos Romanos ou, a partir do meio do século XVI, diretamente o Sacro Imperador Romano. O herdeiro aparente de um príncipe-eleitor secular ficou conhecido como um príncipe eleitoral. A dignidade do Eleitor possuía grande prestígio e era o segundo após o Rei ou Imperador.
[6]Conflito europeu causado pela “Pragmática Sanção”, segundo a qual o imperador Carlos VI pretendeu legar o Sacro Império Romano à filha, Maria Teresa da Áustria. A guerra, desencadeada após a morte do imperador do Sacro Império Romano, Carlos VI, foi motivada pela ambição da Prússia, da Baviera e da Espanha. O fim definitivo da guerra foi selado pelo Tratado de Aquisgrão.
[7] Foi uma série de conflitos internacionais ocorridos durante o reinado de Luís XV, entre a França, a Monarquia de Habsburgo e seus aliados (Saxônia, Império Russo, Império Sueco e Espanha), de um lado, e a Inglaterra, Portugal, o Reino da Prússia e Reino de Hanôver, de outro. A guerra deu continuidade a disputas não apaziguadas pelo Tratado de Aquisgrão e foi desencadeada por vários fatores: preocupação das potências europeias com o crescente prestígio e poderio de Friedrich II, o Grande, Rei da Prússia; as disputas entre a Monarquia de Habsburgo e o Reino da Prússia pela posse da Silésia; e a disputa entre a Grã-Bretanha e a França pelo controle comercial e marítimo das colônias das Índias e da América do Norte. Também foi motivada pela disputa por territórios situados na África, Ásia e América do Norte.