Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sábado, 9 de março de 2019

PAULO DE TARSO, O CRIADOR DO CRISTIANISMO


Paulo de Tarso, o apóstolo Paulo, sem dúvida é um dos personagens bíblicos mais conhecidos de todos os cristãos, sendo considerado, por muitos, o maior líder do cristianismo. Quanto mais eu leio sobre Paulo, mais me convenço que ele vai além disso, que ele seria o próprio criador do Cristianismo, que jamais teria prosperado sem Paulo. Infelizmente, tendo vivido há dois mil anos atrás, num lugar e numa época conturbada e de parcos recursos de registro, há muito pouco material disponível sobre personagem tão importante da História; praticamente todo o material existente se resume ao Novo Testamento e, posteriormente, ao que foi escrito sobre ele, sempre a partir da mesma fonte original. Assim, resolvi fazer a minha própria pesquisa e escrever algo sobre esse fantástico homem que foi Paulo de Tarso, entre outras coisas conhecido como o escritor das treze epístolas do Novo Testamento.

BIOGRAFIA DE PAULO

Paulo foi o nome romano de Saulo, nascido em Tarso, na Cilícia (segundo Atos 21:39), cerca do ano 5 da era cristã. Vale à pena falarmos um pouco sobre a geografia e a história da cidade natal de Paulo para que tenhamos um melhor entendimento desta grande figura histórica.
Mapa da Cilícia de 1903

Cilícia era o nome de uma antiga região na costa sul da Ásia Menor[1], localizada imediatamente ao sul do seu platô central, em território da moderna Turquia. A grosso modo, ocupava o que é hoje a região Mediterrânea da Turquia a leste da província de Antália, situando-se a sua fronteira ocidental entre as modernas cidades turcas de Gazipasa e Alanya. Foi organizada como uma entidade política desde a época dos hititas[2] até o período bizantino[3]. A ilha de Chipre era separada da Cilícia por uma estreita faixa do Mediterrâneo. A antiga Cilícia era naturalmente dividida em duas regiões chamadas Cilícia Traqueia e Cilícia Pédias, separadas pelo rio Lamas. 
A Cilicia teve importante papel durante o Império Aquemênida[4] e depois sob Alexandre da Macedônia; após sua morte, com a repartição do império, foi inicialmente dominada pelo Egito de Ptolomeu e, posteriormente, esteve sob os Selêucidas. A Cilícia Pédias foi anexada pelos romanos em 103 AC, conquistada primeiro por Marcus Antonius Orator em sua campanha contra os piratas que lá habitavam e seu primeiro governador foi Sula. A Cilícia Traqueia só foi conquistada por Pompeu em 67 AC, após o que ela foi unida à Pedias para formar a nova Província da Cilícia, tendo Tarso por capital. 
Júlio César reorganizou novamente a região em 47 AC e, vinte anos depois, a Cilícia tornou-se parte da província da Síria-Cilícia Fenícia. Num primeiro momento, o distrito ocidental foi deixado a cargo de reis nativos (ou sacerdotes hereditários) e um pequeno reino, comandado por Tarcondímoto I, conseguiu se manter independente no oriente. Porém, toda a região foi finalmente anexada à província por Vespasiano em 72 DC. A região era considerada importante o suficiente para ser governada por um procônsul e incluía 47 cidades. E aqui já chegamos ao período de Paulo, quando a Cilícia pertencia, portanto, ao poder romano.
Localização da Cilícia nas regiões clássicas da Ásia Menor

A cidade de Tarso é banhada pelo rio Cidno e dista cerca de dezesseis quilômetros da costa nordeste do Mar Mediterrâneo, aproximadamente a 26 metros acima do nível do mar, na região sul da atual Turquia. O nascimento de Paulo em Tarso é atestado em quatro referências diretas (Atos 9:30; 11:25; 21:39; 22:3). Em duas situações Paulo declarou, explicitamente, o seu nascimento em Tarso.
Existe alguma especulação sobre a fundação da cidade de Tarso. Sua existência sugere entre seis mil a nove mil anos de história, o que dificulta muito uma conclusão definitiva sobre o tema, e a coloca como uma das cidades mais antigas do mundo. O que se pode afirmar é que Tarso já era uma cidade nativa da Cilícia desde tempos bem remotos. Alguns estudiosos sugerem que Tarso foi capital de Kizzuwatna, a antiga Cilícia, nos tempos heteus. Tarso é mencionada no “Obelisco Negro de Salmaneser”, como sendo uma das cidades sob o domínio assírio em meados do século 9 AC. As Montanhas de Taurus, na região da cidade, forneciam recursos de alta qualidade em prata e ferro e acredita-se que por volta do século 7 AC, com o intuito de ficarem mais próximos de tais recursos, mercadores gregos estabeleceram ali uma colônia. No período selêucida, registra-se certa autonomia da cidade de Tarso e algum relato desse período pode ser encontrado no livro apócrifo 2 Macabeus.
Não existe muita informação consistente sobre a história de Tarso no restante do século 2 AC. Entretanto, já no século 1 AC, alguns detalhes importantes são facilmente levantados. Como vimos, a atuação romana na Cilícia começou por volta de 105 AC, mas apenas em 64 AC foi que Pompeu a anexou a Roma como província. A partir daí os governadores ficaram incumbidos de pacificar essa região da costa da Ásia Menor que se encontrava infestada de piratas, e garantir também os interesses romanos. Em 41 AC, Antônio concedeu a Tarso a condição de cidade livre, isentando-a de impostos.
Estima-se que nos tempos do Império Romano, Tarso abrigou uma população de pelo menos quinhentas mil pessoas. Ao norte da cidade, existia uma estrada principal que conduzia até os Portões da Cilícia, onde se encontrava a única boa rota de comércio que ligava a Síria e a Ásia Menor. A posição privilegiada de Tarso nessa rota favoreceu o desenvolvimento financeiro da cidade. Cerca de nove quilômetros ao sul de Tarso, foi construído um porto onde muitos navios ancoravam, embora algumas embarcações menores navegassem até a metade do percurso a Tarso, subindo pelo curso do rio Cidno.
Por ter nascido em Tarso, o apóstolo Paulo era cidadão romano (ele mesmo afirma ser cidadão romano de nascimento). Provavelmente, muitos cidadãos de Tarso, receberam a cidadania romana após o acordo firmado por Pompeu. Logo, nos tempos de Pompeu, Júlio César, Antônio e Augusto, muitos judeus que ali residiam receberam a cidadania romana, o que pode ser muito bem o caso dos antepassados do Apóstolo Paulo.
No século 1 DC, Tarso foi a principal cidade da Cilícia, e possuía importante riqueza comercial e agrícola. Tarso também era um importante centro cultural e intelectual grego, possuindo uma grande universidade que, à época, a equiparava a outras cidades como Atenas e Alexandria. A cidade de Tarso também se orgulhava de ter muitos eruditos importantes entre os seus cidadãos.
Embora muitas escavações já tenham sido realizadas na região de Tarso, até agora muitos detalhes ainda impedem que a cidade dos dias de Paulo seja recriada com exatidão. As ruínas da antiga Tarso encontram-se sob a cidade atual e fazendas da região.
Embora tenha nascido um cidadão romano, Paulo era um judeu da Dispersão[5], um judeu circuncidado da tribo de Benjamin, e membro zeloso do partido dos Fariseus.
O Novo Testamento faz várias menções a grupos religiosos, políticos e profissionais que existiam naquela época, sendo bom lembrar que estamos falando dos judeus como o grande todo religioso. Os Fariseus formavam o grupo mais conhecido de todos, sendo um dos principais grupos religiosos entre os judeus. Eles eram os mais rigorosos quanto aos costumes e religiosidade judaica. Também exerciam forte influência sobre o povo, devido à insistência na observância da Lei Mosaica e no respeito às tradições dos antepassados. Na maioria das vezes eles se opunham a Jesus, mas alguns deles trataram Jesus com respeito. Jesus reprovava sua exagerada religiosidade aparente, fazendo refletir uma espiritualidade hipócrita. O apóstolo Paulo foi criado como Fariseu, aluno do respeitado mestre Fariseu Gamaliel (At 22:3; 23:6; 26:5). Entretanto, além deste, havia outros grupos religiosos, tais como: (a) Saduceus, pequeno grupo comparado aos Fariseus, porém muito poderoso devido à constituição do grupo religioso, formado por Sacerdotes e pessoas influentes e ricas de Jerusalém. Os Saduceus não se davam bem com os Fariseus, porém algumas vezes se uniram a eles para fazer oposição à Jesus. Prezavam muito o Pentateuco (cinco primeiros livros do Antigo Testamento) e não acreditavam na ressurreição, Juízo Final ou na existência de anjos. (b) Os Essênios eram um grupo separatista formado na época helenística e provavelmente originado entre os Fariseus. Observavam a Lei com rigor, mas consideravam que o Sacerdócio era corrupto, além de serem contra muitas práticas religiosas e o sistema sacrifical judaico. A maioria deles morava em comunidades, no deserto de En-Gedi, embora alguns vivessem em cidades. Esse grupo não é citado na Bíblia. (c) Os Zelotes eram considerados um partido judaico nacionalista que se opôs fortemente a Roma. O nome Zelote significa “zeloso”, “fanático”. Em algumas ocasiões eram chamados de “cananeus” ou “nacionalistas”. Os Zelotes tiveram um papel muito ativo na grande rebelião dos anos 66 a 70 DC, que resultou na destruição de Jerusalém. Simão, um dos doze discípulos de Jesus, era chamado de “Zelote”. (d) Os Herodianos era um grupo de judeus que preferiam ser governados por um descendente do rei Herodes, o Grande, ao invés de um governador romano, como Pôncio Pilatos. O nome “Herodianos” também podia se referir a pessoas que estavam a serviço de Herodes. (e) Os Samaritanos eram as pessoas nascidas em Samaria, região que ficava entre a Judeia e a Galileia. Os Samaritanos reconheciam apenas os livros da Lei (o Pentateuco) como autoridade doutrinal. Os judeus não aceitavam como legítimo o culto dos Samaritanos, considerando-o como praticamente pagão e por isso não aceitavam qualquer tipo de relacionamento com os Samaritanos. (f) Os Escribas, Rabinos ou Mestres da Lei formavam um grupo profissional. Não pertenciam, em geral, à classe sacerdotal, mas eram influentes e tiveram uma elevada consideração como intérpretes das Escrituras e dirigentes do povo. (g) Os Publicanos formavam outro grupo profissional que aparece nos Evangelhos Sinóticos (Marcos, Mateus e Lucas, por conterem muitas das mesmas histórias, em contraposição ao de João que é, em muitos pontos, diferente). Eram os coletores de impostos ou da alfândega em favor dos romanos. Formavam uma classe desprezada e odiada, por conta do oficio que exerciam.
A infância e adolescência do apóstolo Paulo têm sido temas de grande debate entre os estudiosos. Alguns defendem que o apóstolo Paulo passou toda sua infância em Tarso, indo apenas durante sua adolescência para Jerusalém. Outros defendem que Paulo foi para Jerusalém ainda bem pequeno. Nesse caso, ele teria passado sua infância longe de Tarso. Na verdade, desde seu nascimento até seu aparecimento em Jerusalém, como perseguidor dos cristãos, conforme os relatos do livro de Atos dos Apóstolos, há muito pouca informação sobre a vida do apóstolo Paulo. Entretanto, sabe-se com certeza que ele foi educado em Jerusalém, sob o ensino do renomado doutor da lei, Gamaliel, neto de Hillel. Paulo conhecia profundamente a cultura grega. Ele também falava o aramaico, era herdeiro da tradição do farisaísmo, estrito observador da Lei e mais avançado no judaísmo do que seus contemporâneos. A partir disso, pode-se afirmar que sua família possuía alguns recursos e desfrutava de posição proeminente na sociedade. Não se sabe ao certo como o pai do apóstolo teria conseguido a cidadania romana. Algumas pessoas importantes e abastadas conseguiam compra-la. Outras, conseguiam-na ao prestar algum serviço relevante ao governo romano. A cidadania romana concedia alguns privilégios, como por exemplo, a garantia do julgamento perante César, se exigido, nos casos de acusação, imunidade legal dos açoites antes da condenação e não poderia ser submetido à crucificação, a pior forma de pena de morte à época.
O livro de Atos dos Apóstolos informa que quando Estêvão foi apedrejado, suas vestes foram depositadas aos pés de Paulo de Tarso (Atos 7:58). Após esse episódio da morte de Estêvão, Paulo de Tarso assumiu uma posição importante na perseguição aos cristãos. Ele recebeu autoridade oficial para liderar as perseguições. Além disso, na qualidade de membro do concílio do Sinédrio[6], ele dava o seu voto a favor da morte dos cristãos.
O próprio Paulo afirma que “respirava ameaça e morte contra os discípulos do Senhor” (Atos 9:1). Além de deflagrar a perseguição em Jerusalém, ele ainda solicitou cartas ao sumo sacerdote para as sinagogas em Damasco. Seu objetivo era levar preso para Jerusalém qualquer um que fosse seguidor de Cristo, tanto homem como mulher. Paulo perseguia e assolava a Igreja de Deus (Gálatas 1:13) e fazia isso acreditando que estava servindo a Deus e preservando a pureza da Lei Judaica.

A CONVERSÃO DE PAULO DE TARSO

As narrativas no livro de Atos dos Apóstolos e as notas do próprio apóstolo Paulo em suas epístolas, sugerem uma súbita conversão. Entretanto, alguns intérpretes defendem que algumas experiências ao longo de sua vida devem tê-lo preparado previamente para aquele momento. A experiência do martírio de Estêvão e sua campanha, de casa em casa, para perseguir os cristãos, podem ser exemplos disto. O que se sabe, realmente, é que Paulo de Tarso partiu em missão para Damasco, com o intuito de destruir a comunidade cristã daquela cidade. De repente, algo inesperado aconteceu, algo que causou uma mudança radical, não só na vida de Paulo de Tarso, mas no curso da História.

“E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões. E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer. (Atos 9:3-6)” 

Ao escrever “Atos dos Apóstolos”, Lucas interpreta a conversão de Paulo de Tarso como um ato miraculoso, um momento em que um inimigo declarado de Cristo se transformou em seu apóstolo. Os homens que estavam com Paulo ouviram a voz, mas não compreenderam as palavras. Eles ficaram espantados, mas não puderam ver a pessoa de Cristo. Por outro lado, Paulo viu o Cristo ressurreto e ouviu suas palavras. Esse encontro foi tão importante para Paulo que a base de sua afirmação sobre a legalidade de seu apostolado está fundamentada nessa experiência (1 Coríntios 9:1; 15:8-15; Gálatas 1:15-17). Considerando que Paulo de Tarso não havia sido um dos doze discípulos de Jesus, além de ter perseguido seus seguidores, a necessidade e importância da revelação pessoal de Cristo para Paulo fica evidente. Essa experiência transformou Paulo de Tarso profundamente.
O primeiro aspecto da mudança na vida do apóstolo Paulo pode ser percebido quando, imediatamente, ele responde à voz de Cristo: “Senhor, que queres que eu faça?”. Essa pergunta marcou o começo de seu novo relacionamento com Cristo, quando ele responde ao seu chamado. A mudança radical que atingiu a vida do apóstolo Paulo fica também evidente na mensagem que ele começou a pregar na própria cidade de Damasco. Isso é realmente impressionante. Ele começou a pregar o Evangelho no mesmo lugar em que pretendia prender os seguidores de Cristo (Atos 9:1,2), passando de perseguidor a pregador de Jesus.
Antes de sua conversão, Paulo de Tarso não aceitava a divindade de Jesus. Ele até acreditava que ao perseguir seus seguidores como um animal selvagem, tentando força-los a blasfemar contra Jesus, estaria fazendo a vontade de Deus (Atos 26:9-11; 1 Coríntios 12:3). É certo dizer que ele via Jesus como um impostor. Após sua conversão, sua pregação não era outra, senão anunciar que Jesus é o Filho de Deus (Atos 9:20). O Paulo duro, rigoroso, ameaçador e violento de outrora, depois de convertido mudo totalmente a doutrina de sua vida, passando a demonstrar ternura, sensibilidade e amor. Essas características ficam evidentes em suas obras posteriores.

O INÍCIO DO MINISTÉRIO DO APÓSTOLO PAULO 

Após o encontro que teve com Cristo, quando ficou instantaneamente cego, o apóstolo Paulo chegou em Damasco e ficou três dias em oração. A mando do Senhor, o discípulo Ananias[7] vai ao seu encontro, põe a mão em sua cabeça e no mesmo instante ele recobra a visão e é convertido ao cristianismo instantaneamente. Foi Ananias quem o batizou (Atos 9:17,18) e também foi ali, naquela mesma cidade, que Paulo começou sua obra de difusão do cristianismo.
Não há informações detalhadas sobre os primeiros anos de seu ministério. O que se sabe é que o apóstolo Paulo pregou rapidamente em Damasco e depois foi passar um tempo na Arábia (Atos 9:20-22; Gl 1:17). A Bíblia não esclarece o que ele fez ali, nem mesmo qual o lugar específico da Arábia em que ele ficou. Depois, o apóstolo Paulo retornou a Damasco, onde sua pregação provocou uma oposição tão grande que ele precisou fugir para salvar sua própria vida (2 Coríntios 11:32,33).
Naquela ocasião ele fugiu para Jerusalém (Gálatas 1:18). Nesse tempo havia completado cerca de três anos de sua conversão. Paulo tentou juntar-se aos discípulos, mas estavam todos receosos dele. Foi então que Barnabé[8] se dispôs a apresentá-lo aos líderes dos cristãos. Entretanto, seu período em Jerusalém foi muito rápido, pois novamente os judeus procuravam assassiná-lo. Por conta disso, os cristãos decidiram despedir Paulo, uma decisão confirmada pelo Senhor numa visão. Segundo o que ele próprio afirma em Gálatas 1:18, ele ficou somente quinze dias com Pedro. Essa informação se harmoniza com o relato de Atos 22:17-21[9]. Paulo acabou deixando Jerusalém antes que pudesse se encontrar com os demais apóstolos e também antes de se tornar conhecido pessoalmente pelas igrejas da Judeia. Porém, os crentes de toda aquela região já ouviam as boas-novas sobre Paulo. 

O SILÊNCIO EM TARSO E O TRABALHO EM ANTIÓQUIA[10]

Tendo chegado a Tarso, sua terra natal, ali permaneceu em silêncio durante um período de dez anos, conhecido como “o período silencioso do ministério do apóstolo Paulo”, embora seja provável que ele tenha fundado algumas igrejas naquela região. Estudiosos sugerem que as igrejas mencionadas em Atos, tenham sido fundadas por Paulo durante esse período.
É certo que Barnabé, ao ouvir falar da obra que Paulo estava desenvolvendo, solicitou a presença do apóstolo em Antióquia, na posição de um obreiro auxiliar. O Objetivo era que Paulo o ajudasse numa promissora missão evangelística entre os gentios[11]. Após cerca de um ano, ocorreu um período de grande fome e os crentes da Antióquia providenciaram contribuições para auxiliar os cristãos da Judeia. Tais contribuições foram levadas por Paulo e Silas[12], que regressaram à Antióquia assim que completada sua missão. Esse período em Antióquia foi essencial ao ministério do apóstolo Paulo, pois foi ali que sua missão de levar o evangelho aos gentios começou a ganhar força. Foi também em Antióquia que o Espírito Santo orientou a Igreja a separar Barnabé e Paulo para a obra à qual Deus os chamara. Só então as viagens missionárias de Paulo tiveram início.

“E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: ‘Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado.’ Então, jejuando e orando e pondo sobre eles as mãos, os despediram.” (Atos13:2,3) 

AS VIAGENS MISSIONÁRIAS DO APÓSTOLO PAULO
As viagens missionárias de Paulo de Tarso

O trabalho evangelístico do apóstolo Paulo abrangeu um período de cerca de dez anos, acontecendo principalmente em quatro províncias do Império Romano: Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia. Paulo concentrava-se nas cidades-chave, isto é, nos maiores centros populacionais de sua época. Isso fazia parte de seu planejamento missionário. Quando alguns judeus e gentios aceitavam a mensagem do Evangelho, logo esses convertidos tornavam-se o núcleo de uma nova comunidade local. Dessa forma, o apóstolo Paulo alcançou até mesmo as áreas rurais. A estratégia missionária usada pelo apóstolo Paulo pode ser resumida da seguinte forma: 

1. Ele trabalhava nos grandes centros urbanos, para que dali a mensagem se propagasse às regiões circunvizinhas;
2. Ele pregava nas sinagogas, a fim de alcançar judeus e gentios convertidos.
3. Ele focava sua pregação na comprovação de que a nova dispensação (período bíblico) era o cumprimento das profecias da antiga dispensação.
4. Ele percebia as características culturais e as necessidades dos ouvintes. Assim ele aplicava tais particularidades em sua mensagem evangélica.
5. Ele mantinha o contato com as comunidades cristãs estabelecidas. Esse contato se dava por meio da repetição de visitas e envio de cartas e mensageiros de sua confiança.
6. Ele estava atento às desigualdades presentes na sociedade de sua época e promovia a unidade entre ricos e pobres, gentios e judeus. Além disso, ele solicitava que as igrejas mais prósperas auxiliassem os mais pobres.

Em Atos 14:21-23, é possível perceber que o método de Paulo para estabelecer uma igreja local obedecia a um padrão regular. Primeiramente era feito um trabalho dedicado ao evangelismo, com a pregação do Evangelho. Depois havia um trabalho de edificação, onde os crentes convertidos eram fortalecidos e encorajados. Por último, presbíteros eram escolhidos em cada igreja, para que a organização eclesiástica fosse estabelecida.
A primeira viagem missionária de Paulo (ver figura acima) está registrada em Atos 13:1 a 14:28). Não se sabe exatamente quanto tempo durou essa primeira viagem. Sabe-se apenas que ela deve ter ocorrido por volta de 44 e 50 DC. O ponto de partida foi Antióquia, um lugar que havia se tornado um tipo de centro do Cristianismo entre os gentios.
Basicamente a viagem foi concentrada na Ilha de Chipre e na parte sudeste da província romana da Galácia. Barnabé foi o líder, até um determinado momento da viagem, e Paulo era o pregador principal. João Marcos servia como auxiliador dos missionários principais. Entretanto, João Marcos os deixou (literalmente os abandonou) em Perge, na Panfília, e retornou para Jerusalém. A partir desse ponto, o apóstolo Paulo assumiu a liderança da missão.
A segunda viagem missionária de Paulo (ver figura acima) está registrada em Atos 15:36 a 18:22. O propósito dessa viagem, conforme o próprio Paulo diz, era visitar os irmãos por todas as cidades em que a palavra do Senhor já havia sido anunciada (Atos 15:36). No entanto, ao discordarem sobre a ida de João Marcos na viagem missionária, Paulo e Barnabé decidiram se separar. Então Paulo levou consigo Silas, também chamado de Silvano.
A data provável dessa viagem fica entre os anos de 50 e 54 d.C. Essa segunda viagem cobriu um território bem maior do que a primeira, estendendo-se até a Europa. A obra evangelística foi concluída na Macedônia e Acaia, e as cidades visitadas foram: Filipos, Tessalônica, Beréia, Atenas e Corinto.
O apóstolo Paulo permaneceu em Corinto um longo tempo (Atos 18:11,18). Ali ele pregou o Evangelho e exerceu sua atividade profissional de fazer tendas. Foi dessa cidade que ele enviou a Epístola aos Gálatas e, provavelmente, um pouco depois, também enviou as Epístolas aos Tessalonicenses. Paulo também parou brevemente em Éfeso e ao partir prometeu retornar em outra ocasião (Atos 18:20,21).
A terceira viagem missionária de Paulo (ver figura acima) está registrada em Atos 18:23 a 21:16. Essa viagem ocorreu entre 54 e 58 DC. O apóstolo Paulo atravessou a região da Galácia e Frígia e depois prosseguiu em direção a Ásia e à sua principal cidade, Éfeso. Ali o apóstolo ficou por um longo período, cumprindo a promessa feita anteriormente. É provável que todas, se não pelo menos a maioria das Sete Igrejas da Ásia[13], tenha sido fundada durante esse período. Parece que antes de Paulo escrever a Primeira Epístola aos Coríntios, ele fez uma segunda visita à cidade de Corinto, regressando logo depois para Éfeso. Mais tarde, escreveria 1 Coríntios.
Quando deixou Éfeso, Paulo partiu para a Macedônia. Foi ali, talvez em Filipos, que ele escreveu a Segunda Epístola aos Coríntios. Depois, finalmente o apóstolo Paulo passou pela terceira vez em Corinto. Antes de partir dessa cidade, provavelmente ele escreveu a Epístola aos Romanos.
O resultado das viagens missionárias do apóstolo Paulo foi extraordinário. O Evangelho se espalhou consideravelmente. Estima-se que perto do final do período apostólico, o número total de cristãos no mundo era em torno de quinhentos mil. Apesar de esse resultado ter sido fruto de um árduo trabalho que envolveu um enorme número de pessoas, conhecidas e anônimas, o obreiro que mais se destacou nessa missão certamente foi o apóstolo Paulo. 

O DEBATE DO APÓSTOLO PAULO COM PEDRO 

Em um determinado momento, devido ao crescente número de gentios na Igreja, questões a respeito da Lei e dos costumes judaicos sugiram entre os cristãos. Muitos cristãos judeus insistiam que os gentios deveriam observar a Lei Mosaica. Eles queriam que os crentes gentios se enquadrassem nos costumes judaicos, principalmente em relação à circuncisão. Para eles, só assim poderia haver igualdade na comunidade cristã.
O apóstolo Paulo identificou esse movimento judaizante como uma ameaça à verdadeira natureza do Evangelho da graça. Por isso ele se posicionou claramente contra essa situação. Diante dessas circunstâncias, o apóstolo Paulo repreendeu Pedro, publicamente (Gálatas 2:14), pois Pedro havia se separado de alguns crentes gentios, a fim de evitar problemas com certos cristãos judaizantes. Esse também foi o pano de fundo que levou o apóstolo Paulo a escrever uma epístola de advertência aos Gálatas. Nessa epístola ele apresenta com grande ênfase o tema da salvação pela graça mediante a fé.
Podemos dizer que esse acontecimento foi a primeira crise teológica da Igreja. Para que o problema fosse solucionado, Paulo e Barnabé foram enviados a uma conferência com os apóstolos e anciãos em Jerusalém. O concílio decidiu que, de forma geral, os gentios que se convertessem não estavam sob a obrigação de observar os costumes judaicos.

PRISÕES E MORTE DO APÓSTOLO PAULO 

Existe muita discussão em relação ao número de prisões que o apóstolo Paulo sofreu. Essa discussão ocorre, principalmente, pelo fato de o livro de Atos não descrever toda a história de Paulo. Além disso, provavelmente, o apóstolo Paulo foi preso algumas vezes por um período muito curto de tempo, como por exemplo, em Filipos (Atos 16:23).
Ao falar sobre suas próprias prisões, o apóstolo Paulo escreve o seguinte:

São ministros de Cristo? (falo como fora de mim) eu ainda mais; em trabalhos, muito mais; em açoites, mais do que eles; em prisões, muito mais; em perigo de morte, muitas vezes (2 Coríntios 11:23) 

Considerando apenas as principais prisões do apóstolo Paulo, sabe-se que ele foi preso em Jerusalém (Atos 21), e para impedir que fosse linchado, ele foi transferido para Cesareia. Nessa cidade, Felix, o governador romano, deixou o apóstolo Paulo na prisão por dois anos (Atos 23-26). Festo, sucessor de Felix, sinalizou que poderia entregar Paulo aos judeus, para que por eles ele fosse julgado.
Como Paulo sabia que o resultado do julgamento seria totalmente desfavorável a sua pessoa, então na qualidade de cidadão romano, ele apelou para César. Depois de um discurso perante o rei Agripa e Berenice, o apóstolo Paulo foi enviado sob escolta para Roma. Após uma terrível tempestade, o navio em que ele estava naufragou, e Paulo passou o inverno em Malta.
Finalmente o apóstolo Paulo chegou a Roma na primavera. Na capital do Império ele passou dois anos em prisão domiciliar. Apesar disso ele tinha total liberdade para ensinar sobre o Evangelho (Atos 28:31). É exatamente nesse ponto que termina a história descrita no livro de Atos dos Apóstolos. O restante da vida de Paulo precisa ser contado utilizando-se os registros de outras fontes.
As únicas informações adicionais que encontramos no Novo Testamento sobre a biografia do apóstolo Paulo, parte das Epístolas Pastorais.
As Cartas Pastorais ou Epístolas Pastorais, são epístolas escritas por Paulo (1Timóteo, 2 Timóteo, Tito) e endereçadas a dois dos seus companheiros mais próximos, Timóteo e Tito, líderes das igrejas das cidades de Éfeso e Creta respectivamente. Embora na Bíblia a Epístola de Tito apareça após as Epístolas de 1 e 2 Timóteo, a sua ordem cronológica é diferente, a mais aceita sendo 1 Timóteo, Tito, 2 Timóteo. Suas datas mais prováveis são as seguintes:

1 Timóteo: entre 62 e 64 DC;
Tito: entre 62 e 64 DC;
2 Timóteo: entre 64 e 68 DC.

A autoria de Paulo é amplamente aceita pela tradição cristã, embora alguns estudiosos, desde o século IV DC tentem contestar a sua autoria; eles afirmam que as Cartas Pastorais foram escritas em algum momento do século II DC, apresentando para isso alguns argumentos a embasar a sua teoria:

1) A complexidade eclesiástica que a Igreja possuía: alguns estudiosos acreditam que a estrutura da igreja descrita nas Cartas Pastorais é evoluída demais para o primeiro século. Porém, o livro de Atos e as demais Cartas de Paulo já descrevem uma igreja bem organizada e com presbitério constituído.
2) Teologia inferior em relação às outras Cartas de Paulo: alguns defendem que as doutrinas encontradas nas Cartas Pastorais não compreendem toda Teologia que Paulo possuía. Mas sobre isso vale lembrar que as Cartas Pastorais foram destinadas a líderes, e não a membros da Igreja. Sendo assim, seria desnecessário que Paulo precisasse repassar exaustivamente todo o conteúdo teológico encontrado em outras epístolas dirigidas às Igrejas.
3) Diferenças linguísticas: alguns defendem que o estilo literário encontrado nas Cartas Pastorais é diferente das outras Epístolas de Paulo. Eles dizem que nelas existem palavras novas ao mesmo tempo em que faltam alguns termos frequentemente utilizados por Paulo em suas epístolas. Mas as Cartas Pastorais são textos curtos e insuficientes para tal análise. Além disso, essas diferenças também são encontradas em outras epístolas incontestavelmente escritas por Paulo.
4) Tipo de heresia tratada: alguns estudiosos defendem que as heresias tratadas nas Cartas Pastorais são o resultado do Gnosticismo do século II DC. Mas se realizarmos uma análise dos termos originais em grego utilizado por tais estudiosos para fundamentar esse argumento, comprovaremos que essa alegação não faz qualquer sentido. Além disso, devemos considerar que o movimento gnóstico começou na Palestina e na Síria aproximadamente vinte anos após o Pentecoste. Portanto, já era de se esperar que as epístolas escritas após esse período reagissem contra esses movimentos.

Provavelmente Paulo escreveu as Epístolas 1 Timóteo e Tito, enquanto ainda na Macedônia; se isso estiver certo, as duas primeiras Cartas Pastorais teriam sido escritas durante o período de liberdade de Paulo entre as duas prisões romanas. Quanto a Carta 2 Timóteo, não há dúvida de que ela foi escrita em Roma, enquanto Paulo estava preso e prestes a sofrer o martírio.
O grande objetivo das Cartas Pastorais era tratar de assuntos urgentes que precisavam ser solucionados o quando antes. Dentre esses assuntos, destacam-se dois principais:

1) Nomear homens de extrema integridade e caráter para os cargos de bispos e diáconos.
2) Combater as heresias e os falsos ensinamentos que estavam se espalhando nas igrejas.

Na Epístola de 2 Timóteo podemos encontrar um teor de aconselhamento um pouco diferente. Na última das Cartas Pastorais, o apóstolo Paulo praticamente admite seu martírio iminente. Prestes a ser morto, o apóstolo dos gentios fala a Timóteo acerca de sua tamanha confiança em Cristo. Ele ressalta que nem mesmo a morte poderia abalar a sua fé. É nessa Carta Pastoral que Paulo faz uma reflexão de toda sua vida a serviço do Evangelho de Cristo, com a inesquecível declaração: “Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé” (2 Timóteo 4:7).
Essas epístolas parecem sugerir que o apóstolo Paulo foi solto depois da primeira prisão em Roma relatada em Atos por volta de 63 DC. Após ser solto, ele teria visitado a área do Mar Egeu e viajado até a Espanha.
Depois, Paulo foi novamente aprisionado em Roma, onde acabou sendo executado pelas mãos de Nero, por volta de 67 a 68 DC (2 Timóteo 4:6 a 18). A Epístola de Clemente[14] e o cânone Muratoriano[15] atestam sobre uma viagem que Paulo teria feito a Espanha.
A tradição cristã conta que a morte do apóstolo Paulo teria ocorrido junto à estrada de Óstia, fora da cidade de Roma, por decapitação. Talvez o texto que melhor defina a biografia do apóstolo Paulo, seja exatamente este:

Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a Sua vinda. (2 Timóteo 4:7,8) 



[1] A Ásia Menor (Pequena Ásia, em grego), também conhecida como Anatólia ou península anatoliana, denota a penetração ocidental da Ásia, que compõe a maior parte da República da Turquia. A região é banhada pelo mar Negro, ao norte, o mar Mediterrâneo, ao sul e pelo mar Egeu, a oeste. O mar de Mármara liga os mares Negro e Egeu através dos estreitos de Bósforo e Dardanelos, separando-a da Trácia, no continente europeu. Hoje, a Ásia Menor é muitas vezes considerada como sinônimo de Turquia Asiática, cujas fronteiras leste e sudeste são amplamente consideradas como as fronteiras turcas com os países vizinhos: Geórgia, Arménia, Azerbaijão, Irã, Iraque e Síria, no sentido horário.
[2] Povo indo-europeu que, no 2º milénio AC, fundou um poderoso império na Anatólia central, cuja queda data dos séculos XIII-XII AC. Na sua extensão máxima, o Império Hitita compreendeu a Anatólia e regiões do Líbano e Síria.
[3] O Império Bizantino foi a continuação do Império Romano na Antiguidade Tardia e Idade Média, até a sua queda. Sua capital, Constantinopla (atual Istambul), era anteriormente conhecida como Bizâncio. Inicialmente parte oriental do Império Romano (comumente chamada de Império Romano do Oriente), sobreviveu à fragmentação e ao colapso do Império Romano do Ocidente, no século V e continuou a prosperar, existindo por mais de mil anos até sua queda para os turcos otomanos, em 1453.
[4] O “Império Aquemênida”, também chamado “Primeiro Império Persa” (550 a 330 AC), foi um império situado na Ásia Ocidental e fundado por Ciro, o Grande. Em sua maior extensão, alcançava dos Balcãs e Europa Oriental, no oeste, até o Vale do Indus, ao leste, constituindo o maior império, até então, da história. Incorporando vários povos de diferentes origens e fés, foi notável por seu modelo de sucesso de uma administração centralizada e burocrática (através dos sátrapas subordinados ao Rei dos Reis), pela construção de uma forte infraestrutura, como os sistemas rodoviário e postal, pelo uso de uma língua oficial por todos os seus territórios e pelo desenvolvimento de serviços civis e um enorme exército profissional. Pelo século VII AC, os persas haviam se estabelecido na porção sudoeste do Platô Iraniano, região de Persis, que tornou-se a região central do Império. Desta região, Ciro, o Grande avançou para derrotar os Medos, os Lídios e o Novo Império Babilônico , estabelecendo o Império Aquemênida.
[5] O termo “Dispersão” (no grego, Diáspora) foi o termo usado para se referir aos judeus que viviam fora da Palestina. Depois da desastrosa Guerra Judaica de 66-73 DC e da destruição do Templo pelos romanos em 70 DC, grandes levas de judeus deixaram a sua pátria seguindo, principalmente, na direção Leste, rumo à Mesopotâmia. Mas o processo de "dispersão" começou muito antes disso. Pelo menos desde seu exílio na Babilônia, no século 6 AC os judeus começaram a se fixar em vários lugares do Oriente Médio e da região leste do Mediterrâneo. Na época do NT, provavelmente havia mais judeus vivendo fora da Palestina do que nela. Calcula-se que só no Egito havia um milhão de judeus. Em Alexandria, os judeus eram uma parcela tão significativa da população que formavam uma unidade política distinta, vivendo em áreas próprias da cidade e preservando a própria cultura e estilo de vida distintos.
[6] O Sinédrio era uma assembleia religiosa judaica ao tempo de Jesus. Os membros do Sinédrio governavam e julgavam o povo judeu de acordo com a Lei de Moisés e as tradições judaicas. Jesus foi julgado pelo Sinédrio antes de ser crucificado.
[7] Há muito pouca informação sobre o personagem Ananias, provavelmente um discípulo de Jesus, mas o próprio Paulo em um dos seus discursos, (Atos 22), descreve Ananias como um temente a Deus segundo a Lei e que tinha bom testemunho de todos os judeus que habitavam em Damasco.
[8] Barnabé foi um membro da Igreja Primitiva de Jerusalém, descendente da tribo de Levi, originário de uma família sacerdotal judaico-cipriota. O ministério de Barnabé ficou mais notório quando chegou a Jerusalém a informação de que na Síria os cristãos helenistas, que haviam lá se refugiado devido à perseguição que se iniciou na Judéia após a morte de Estêvão, estavam promovendo uma grande evangelização. Barnabé, então, foi enviado para lá, com o intuito de verificar a situação e agir conforme achasse mais apropriado. Ao chegar, Barnabé ficou maravilhado por ver muitos gentios pagãos se convertendo ao Evangelho pela graça de Deus. Logo, ele foi de grande valia para que aquela evangelização ganhasse ainda mais força.
[9] Nesse capítulo de Atos, Pedro é chamado de Cefas. Quando Pedro se encontrou com Jesus, o Senhor o chamou de Cefas, do aramaico Kefa, que significa “rocha” ou “pedra” e que em sua forma grega é Petros, ou seja, Pedro. O significado desse título se refere ao fato de que Pedro se tornaria firme como uma rocha, ao invés de uma pessoa com temperamento inconstante. Paulo sempre o chamou Cefas.
[10] Na atual Turquia, às margens do Mar Mediterrâneo, quase na fronteira com a Síria.
[11] A palavra “gentio”, em hebraico “goyim”, foi utilizada na Bíblia para designar os povos que não pertenciam ao povo de Israel, que não eram hebreus, sem representar alguma antipatia ou aversão. Às vezes foi também utilizado para significar os povos pagãos. Um judeu não podia casar com um gentio, porque os gentios não adoravam à Deus nem obedeciam à lei de Moisés; mas um gentio podia se converter ao judaísmo.
[12] Silas ou Silvanus foi um membro líder da primeira comunidade cristã, que acompanhou o apóstolo Paulo em partes de suas primeira e segunda jornadas missionárias. Silas parece ser, tradicionalmente, o Silvanus mencionado em quatro epístolas. Algumas traduções chamam-no Silas nas epístolas. Paulo, Silas e Timóteo são listados como coautores de duas cartas aos Tessalonianos. II Corintios menciona Silas como tendo orado com Paulo e Timóteo à Igreja em Corinto; a primeira epístola de Pedro menciona Silas como um “fiel irmão”.
[13] As Sete Igrejas da Ásia Menor, são, originalmente, as destinatárias do livro do Apocalipse. Essas igrejas ficaram popularmente conhecidas como “as Sete Igrejas do Apocalipse”. O número “sete” é muito representativo na construção do livro do Apocalipse, onde aparece, explicitamente, 54 vezes. A relação das sete igrejas pode ser encontrada facilmente logo no Capítulo 1 do Apocalipse (Ap 1:11): Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Achavam-se próximas umas das outras (no máximo 55 km), interligadas por boas estradas romanas, o que facilitava a troca de correspondência. Outro fato interessante é que em todas essas cidades de cada uma das igrejas, existia uma corte romana, o que naquela época representava grandes problemas para os cristãos. Inclusive, em Éfeso, Esmirna e Pérgamo, havia templos onde era celebrado o culto ao imperador.
[14] A Primeira Epístola de Clemente é uma carta endereçada aos cristãos da cidade de Corinto. A carta foi composta em algum momento entre 70 e 140 DC, mais provavelmente cerca de 96 DC. Compete com o Didaquê (ou “Doutrina dos Doze Apóstolos”, é um escrito do século I DC que trata do catecismo cristão, constituído de dezesseis capítulos; apesar de obra pequena, de grande valor histórico e teológico) como um dos documentos cristãos existentes mais antigos (senão o mais antigo) fora do Novo Testamento. Como o nome sugere, uma Segunda Epístola de Clemente é conhecida, um trabalho posterior e de outro autor. A carta é uma resposta aos eventos de Corinto, onde a congregação havia deposto alguns presbíteros, conclamando-a se arrepender restaurando-os à sua posição e obedecendo aos seus superiores. Ele dizia que os Apóstolos haviam constituído a liderança da Igreja e instruído a como perpetuar o ministério. Embora atribuído ao Papa Clemente, o trabalho é anônimo e não há evidência de que Roma tivesse um bispo no sentido monárquico ao tempo. Pode ter sido escrito por um simples líder da Igreja em Roma.
[15] O Cânone Muratori, também conhecido por fragmento muratoriano ou fragmento de Muratori, é uma cópia da lista mais antiga que se conhece dos livros do Novo Testamento. Foi descoberta na Biblioteca Ambrosiana de Milão por Ludovico Antonio Muraori (1672–1750) e publicada em 1740. Na lista figuram os nomes dos livros que o autor desconhecido da lista considerava admissíveis, com alguns comentários. A lista está escrita em Latim e encontra-se incompleta, daí ser chamada de fragmento. Apesar de ser consensual datar o manuscrito como sendo do século VII DC, ele é cópia de um texto mais antigo, tentativamente datado como sendo de por volta do ano 170, já que nele é referido o Pastor de Herma e como recente o bispado de Pio I, morto em 157.