Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

Músicas Preferidas

Música é o meu ponto fraco!!! Ainda sou capaz de identificar, ao ouvir uma melodia, a época e situação da minha vida em que a escutei pela primeira vez ou fui por ela marcado. Qualquer pessoa sabe que é muito difícil dizer qual a sua melodia preferida, pois as músicas impressionam as pessoas de maneiras diversas; e essas várias sensações acabam tornando uma música preferida por tal razão, outra por qual motivo e assim sucessivamente, de forma que diferentes pessoas catalogam diferentes melodias como as suas preferidas.
Assim justificado, nesta página você vai encontrar algumas das minhas músicas preferidas, comentários sobre a sua composição e seus autores e intérpretes. É importante mencionar que as postagens não obedecem a uma ordem de preferência; quando eu lembro ou ouço alguma música e começo a cantarolar, é um sinal, para mim, de que chegou a hora de publicar algo sobre ela; então pesquiso e publico. Além disso, não faço distinção entre música clássica ou popular, mas confesso minha preferência pelas composições mais calmas, embora já tenha cantado e dançado muito "rock" em minha vida. Espero que os visitantes encontrem aqui algo que lhes traga algum prazer.
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ADIÓS

Feita a introdução acima, eu inicio essa minha relação com a melodia chamada ADIÓS. Cabe, imediatamente, uma ressalva: não sou um fã ardoroso da música latina. Essa, entretanto, entre algumas outras, me é extremamente evocativa dos meus tempos de criança. Já tive oportunidade de escrever em outros lugares, que muitas das minhas músicas preferidas não são do meu tempo, mas a elas fui conduzido por influência de meus pais, ou por lembrança de tenra idade quando por eles era levado para assistir apresentações de orquestras no antigo Auditório Araújo Viana, então situado ao lado da Praça da Matriz, em Porto Alegre, onde hoje se situa a Assembleia Legislativa do Estado. Morei ali perto, por pouco tempo e tinha então, em 1947, os meus três anos de idade e músicas como essas eram muito executadas, naquele período de pós Segunda Guerra Mundial, por grandes orquestras americanas, estilo Glenn Miller, entre outras. Essas músicas que são, evidentemente, músicas de boa qualidade, ficaram muito bem guardadas em minha memória e, embora não sejam executadas com frequência – principalmente nesses tempos atuais, muito conturbados -, sempre me conduzem de volta àqueles tempos de criança, já tão longínquos e sempre as escuto com muito prazer.
Adiós é, originalmente, uma “rumba fox trot, de autoria de Enric Madriguera (música e letra original em espanhol), composta em 1931; posteriormente, Eddie Woods faria uma versão em inglês da letra em espanhol. A letra original é triste e simples, contando a história de um homem que se despede do seu amor, pedindo que não o esqueça. Mas é realmente a melodia, que mais traduz a tristeza que ele sente e que a torna tão linda. Posteriormente essa melodia foi transformada, em ritmo e orquestração, transformando-se, nas execuções de Glenn Miller, Mantovani e outras grandes orquestras em canção suave e de alta qualificação. Vários cantores também gravaram a sua composição, entre eles Pedro Vargas e o nosso Roberto Carlos.
Enric Madriguera foi um violinista, compositor e diretor de orquestra espanhol, de origem catalã, nascido em Barcelona, em 17 de fevereiro de 1904 e morto em 7 de setembro de 1973, em Danbury, Connecticut, USA. Já costumava dar concertos, ainda quando criança, antes de entrar para o conservatório de Barcelona. A forma castelhana do seu nome é “Enrique”, como algumas vezes ele usava em discos.
Antes de emigrar aos Estados Unidos, fez muitas apresentações na Espanha e França, ainda como adolescente. Já nos EUA, com vinte e poucos anos de idade, fez parte, como solista, das célebres orquestras filarmônicas de Chicago e Boston. Ao final dos anos 1920’s, Madriguera tocou na orquestra de estúdio Ben Selvin, na Columbia Records, New York, onde serviu brevemente como diretor daquela companhia para gravações de música latina.
Ao encerrar os anos 1920’s, durante uma temporada em Cuba, chegou a dirigir a Orquestra Filarmônica Cubana, de cuja proveitosa etapa nasceu o seu gosto pelos ritmos cubanos e seu vínculo com “La Única”. Como era conhecida a cantora cubana Rita Montaner, inspiradora de uma das suas mais famosas composições: Adiós. Rita havia feito uma versão muito original da canção de Moisés Simons, “El Manisero”; “Adiós”, notavelmente influenciado pelo primeiro, também se converteu em estrondoso sucesso. 
Enric Madriguera entre membros de sua orquestra
Em 1932 ele iniciou sua própria orquestra no Biltmore Hotel, que gravou para a Columbia até 1934. Nesse período sua música era, na maior parte, dança ou fox trot anglo-americana, embora tivesse um modesto hit com sua interpretação em rumba de Carioca. Pelos anos 1940’s ele gravava quase que exclusivamente música latino-americana. Diz-se que todos os embaixadores de países sul-americanos declararam Madriguera o “Embaixador de Música para todas as Américas”. Apareceu em alguns musicais em curta metragem, incluindo “Enric Madriguera e sua Orquestra, de 1946, em que ele interpretava várias canções cantadas por sua esposa vocalista Patricia Gilmore.
Enric Madriguera foi, junto com seu patrício Xavier Cugat, um dos músicos que mais difundiram os ritmos cubanos a partir do início dos anos 1930’s.
Para ser o mais fiel possível à memória da própria canção, vou começar apresentando a versão original da gravação de Adiós pelo selo Columbia, com a orquestra de Enric Madriguera e o vocalista Guty Cárdenas. A seguir, a versão que talvez tenha feito mais sucesso e também por mostrar um estilo muito característico, pela Orquestra de RayConniff e Seus Cantores. Mas, a gravação que realmente me emocionou, fica por conta de Mantovani e sua Orquestra. É aquela que que eu costumo dizer que, em certas partes da sua execução, chega a dar uma dorzinha lá no fundo do coração ...
Para quem quiser acompanhar cantando, segue a letra original em espanhol. Ao lado da letra, apresentamos a primeira página da partitura da composição "Adiós", com letra de Eddie Woods.

Adiós
Me voy linda morena lejos de ti
El alma hecha una pena porque al partir
No quiero que olvides nuestro amor
Hermosa flor
Mi alma cautivaste
Con la fragancia de tú candor
Tú eres toda mi ilusión
Tú eres mi dulce canción
Adiós
Me voy linda morena lejos de aqui
A llorar mi tristeza lejos de ti
Hermosa flor
Mi alma cautivaste
Con la fragancia de tú candor
Tú eres toda mi ilusión
Tú eres mi dulce canción
Adiós, adiós
Me voy linda morena lejos de aqui
A llorar mi tristeza lejos de ti
Adiós
Adiós, adiós
Me voy linda morena lejos de aqui

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WHAT A DIFF’RENCE A DAY MADE

Esta música que eu hoje enfoco, já foi objeto de uma postagem em meu blog “Beowulf”, por outras razões, mas como eu a acho lindíssima, trago-a aqui como mais uma das minhas músicas preferidas.
Muito conhecida por esse nome inglês, essa música foi composta por uma mexicana chamada María Méndez Grever, com o título original de “Cuando Vuelva a tu Lado”. Quem já passou dos 50 anos de idade e gostava, quando jovem, de ouvir, cantar e dançar boleros, como é o meu caso, certamente há de lembrar-se dela. Por outro lado, os adeptos da música americana mais antiga também hão de conhecê-la em sua versão no ritmo e língua inglesa. Eu que me enquadro nas duas faunas, sempre gostei das duas versões. O pitoresco, no assunto, é que eu nunca me dei conta de que as duas são versões diferentes de uma mesma composição, dada a diferença de interpretação entre a composição original e a versão em língua inglesa; além disso, há muito tempo eu não escutava a composição original da música gravada em 1934, dez anos antes de eu nascer e, como todo bolero, de uma maneira geral, há muito caída no esquecimento. Essa, por sinal, a razão de ter publicado uma postagem sobre ela: resgatar, sempre que possível for, os compositores dessas músicas maravilhosas que escutamos por todo o mundo sem que a sua autoria seja revelada, uma causa que abraço e sempre abraçarei com o maior prazer.
María Joaquina de la Portilla Torres, filha do espanhol de Sevilla, Francisco de la Portilla e de sua esposa mexicana Julia Torres, nasceu na província de Guanajuato, México, em 16 de agosto de 1894. Estudou no Colégio do Sagrado Coração e desde menina recebeu educação musical, tendo feito sua primeira composição – segundo um artigo do New York Times - com quatro anos de idade: uma canção natalina com versos escritos por ela mesma.
Aos seis anos transferiu-se para Sevilla, Espanha, lugar de origem de seu pai. Logo viajou para Paris onde teve aulas (pasmem!) com os compositores clássicos Claude Debussy (francês) e Franz Lehár (austríaco). Este último sugeriu-lhe que não se sujeitasse jamais à técnica musical, mas que conservasse a sua espontaneidade. Regressando ao México, com a idade de doze anos, Maria ingressou na escola de canto de sua tia Cuca Torres e em 1916 estabeleceu-se em New York onde conheceu aquele que seria o seu esposo, no mesmo ano, León A. Grever, executivo de uma companhia petrolífera americana, de quem adquiriu o sobrenome com o qual se imortalizaria. Com ele viveu para o resto da sua vida.
Aos dezoito anos, em 1912, ela escreveu a sua primeira canção, “A una ola” (em inglês “To a wave”), vendendo três milhões de cópias. Em 1920 começou a trabalhar como compositora de trilhas sonoras para os estúdios de cinema Paramount Pictures e 20th Century Fox. Ao todo, escreveu mais de 800 canções – a maior parte delas boleros – e sua popularidade alcançou grandes audiências na América Latina, Europa e Estados Unidos.
Seu primeiro grande êxito produziu-se em 1926 com a melodia “Júrame” (em inglês, “Promise, Love”), um tango-bolero interpretado por José Mojica, quando era ainda pouco conhecida, e por Julio Iglesias e Placido Domingo mais recentemente, emtre outros. Por essa época o “bolero” começava a transformar-se no gênero musical mais popular do momento. Desde então, María Grever alcançou um êxito atrás do outro, com obras como “Cuando vuelva a tu lado” (em inglês “What a diff’rence a day made” ou “What a difference a day makes”), “Te quiero, dijiste” (ou “Muñequita Linda”) – em inglês “Magic is the moonlight”, escrita em 1944 para o filme de Esther Williams, Bathing Beauty -, gravada pelo inesquecível Nat King Cole, em espanhol, pelo ator/cantor Dean Martin e pelo cantor inglês de “rock and roll” Cliff Richard, em inglês e, mais recentemente, por Placido Domingo, Linda Ronstadt, entre vários outros, “Alma Mia”, Yo canto para ti”, “Volveré” (em inglês, “I will return”), “Vida mía” e muitas outras. Tornou-se a primeira compositora mexicana do sexo feminino a tornar-se uma autora de sucesso. Embora suas músicas tenham alcançado uma imensa e merecida popularidade, Grever nunca desfrutou do reconhecimento mundial, pois apesar de sua música ser muito cantada, seu nome é conhecido somente por poucos.
María Grever era uma compositora extraordinariamente versátil, frequentemente escrevendo a música e a letra de suas peças e então interpretando-as em concertos ao vivo. Durante sua carreira, que teve o seu pico nas décadas de 30 e 40, ela escreveu partituras para filmes e letras para shows da Broadway, organizando concertos que combinavam teatro, música e dança. Frequentemente baseadas nos ritmos e estilos da música latino-americana, particularmente mexicana, mas também espanhola, suas letras eram deliciosamente românticas, cheias de sentimento e fáceis de lembrar.
Ela foi um membro atuante da prestigiosa “American Society of Composers, Authors and Publishers” (Sociedade Americana de Compositores, Autores e Editores). À data de sua morte, com a idade de 57 anos, em 15 dezembro de 1951, após um longo período de doença, ela vivia no Wellington Hotel, na Sétima Avenida, Manhattan. Deixou o marido e dois filhos: Charles Grever, um editor de música de New York, e a filha Carmen Livingston. Imediatamente após a sua morte ela foi homenageada com um “sarau musical” no Biltmore Hotel pela “União das Mulheres das Américas” (Union of Women of the Americas – UWA) e aclamada “Mulher das Américas, 1952”, pela mesma associação.
A música que dá o título ao nosso “post” merece, exatamente por essa razão, um destaque especial. What a Diff’rence a Day Made é, portanto, uma canção popular originalmente escrita em espanhol, em 1934, com o título Cuando Vuelva a tu Lado. Em 1959, Dinah Washington (a minha preferida), uma cantora americana de Tuscaloosa, Alabama, nascida Ruth Lee Jones, gravou a melodia em inglês, com letra escrita por Stanley Adams. Embora tenha sido gravada anteriormente por outros intérpretes, como Harry Roy e sua Orquestra e pelos Irmãos Dorsey, ela tornou-se a canção assinatura de Dinah Washington, garantindo-lhe um Grammy Award por Best Rhythm and Blues Performance (Melhor Desempenho em Ritmo e Blues) e foi, em 1998, introduzida no Grammy Hall of Fame.
Capa e disco simples em 78 rpm, com a gravação
"What a Diff'rence a Day Makes", com Dinah Washington
A seguir apresentamos a letra da versão para o inglês, de Stanley Adams, para que os leitores possam acompanhar Dinah Washington cantando essa maravilhosa canção.

What A Diff'rence A Day Made
Autoria de Maria Grever and Stanley Adams
Intérprete Dinah Washington

What a diff'rence a day made
Twenty-four little hours
Brought the sun and the flowers
Where there used to be rain
My yesterday was blue, dear
Today I'm a part of you, dear
My lonely nights are through, dear
Since you said you were mine
Now what a diff'rence a day makes
There's a rainbow before me
Skies above can't be stormy
Since that moment of bliss, that thrilling kiss
It's heaven when you find romance on your menu
What a diff'rence a day made
And the difference is you


Vários outros cantores de grande calibre gravaram essa mesma versão em inglês, entre eles Julie Dawn, Roy Marsh, Sarah Vaughan, Aretha Franklin, Esther Phillips, Diana Ross (gravada em 1972 mas apenas liberada em 2006), Cher, Ray Conniff, Bobby Darin e Rod Stewart, no seu quinto volume de uma série ironicamente chamada “The Great American Songbook”.
Com relação à versão original, em espanhol, vários intérpretes importantes também a gravaram, entre os quais podemos citar o Trio Los Panchos com Eydie Gorme, Libertad Lamarque, a célebre cantora argentina de tangos, Jamie Cullum (2003) e Luis Miguel (1991). Sem dúvida alguma, a que registrou o maior sucesso foi a primeira e por essa razão, apresentamos a letra original da compositora e a gravação com o trio Los Panchos e Eydie Gorme



Maria Mendes Grever em seu trabalho.
Cuando Vuelva a tu Lado
Trio Los Panchos & Eydie Gorme
Compositor: María Mendes Grever

Cuando vuelva a tú lado
No me niegues tus besos
Que el amor que te he dado
No podrás olvidar.

No me preguntes nada
Que nada he de explicarte
Que el beso que negaste
Ya no lo puedes dar.

Cuando vuelva a tú lado
Y esté solo contigo
Las cosas que te digo
No repitas jamás, por compasión.

Une tu labio al mío
Y estréchame en tus brazos
Y cuenta a los latidos
De nuestro corazón.
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CHARMAINE

I – A MÚSICA

“Charmaine” é uma dessas músicas que a gente ouve pela primeira vez e quer ouvir várias vezes e imediatamente se põe a cantarolar. E logo vem a vontade de pesquisar as suas origens, porque música tão delicada não pode ser produto de gente de poucos sentimentos. E então, mais uma vez se confirma o que alguém escreveu (e agora não lembro quem) sobre as músicas de filmes: se os compositores clássicos vivessem hoje, escreveriam música para cinema!
“Charmaine” é uma canção popular composta por Ernö Rapée (para o seu nome, várias grafias serão encontradas), com letra de Lew Pollack, em 1926 e publicada em 1927. A música foi, originalmente, composta em ritmo de valsa, mas as versões posteriores foram apresentadas em andamento 4/4.
Ela foi criada em 1926, para o filme mudo “What Price Glory?” (no Brasil, como “Sangue por Glória”). Quero aqui fazer uma observação necessária. Eu sou velho, mas não sou do tempo do cinema mudo; apenas, não enxergo idade em música, como muita gente faz (ou não faz). E se eu enxergasse, como todos os que assim procedem, o que seria de Mozart, Bach, Beethoven e tantos outros? Mas lembro que, quando pequeno, assisti a muitos filmes mudos, principalmente de Charles Chaplin ( o nosso inesquecível “Carlitos”). E lembro também que, em tais filmes, era indispensável a execução de uma música que permeava todo o filme, e que tinha que ser totalmente compatível com ele, pois não havendo som e diálogos, era absolutamente necessário que ela exprimisse a atmosfera e o ambiente da película. Nesse caso, a sensibilidade dos autores das músicas era, muito mais do que então, colocada a prova; e só eram aprovados os melhores! E lembro também, que era necessária a existência, de tempos em tempos, mas não com muita frequência, na própria película, de cartões escritos que forneciam alguma explicação vista como indispensável ao seu melhor entendimento. Feito esse pequeno parênteses, voltemos ao assunto específico da nossa postagem.
A versão de “Charmaine” que mais vendeu, gravada por Guy Lombardo e sua Orquestra, permaneceu sete semanas na primeira posição, em 1927. Essa mesma música foi também executada no filme “Duas Garotas e um Marinheiro”; posteriormente, foi gravada pela orquestra de Harry James, em 1944.
Uma versão instrumental, arranjada por Ronald Binge e executada pela Orquestra de Mantovani, a minha favorita, foi o seu primeiro sucesso nos quadros dos Estados Unidos em 1951. Tal versão foi lançada pela London Records como número de catálogo 1020. Inicialmente ela alcançou os quadros da Billboard[1] em 9 de novembro de 1951, neles permanecendo durante 19 semanas e atingindo o No 10. Várias outras gravações orquestradas dessa música foram realizadas e eu gostaria de destacar a versão de James Last e sua grande orquestra e coro, pelo próprio mérito do seu arranjo, que fugiu um pouco da versão original sentimental, tornando-a mais alegre e vibrante.
Em 1963, a gravação dos “The Bachelors”, famoso conjunto irlandês, alcançou o No5 nos quadros britânicos. Um doa mais conhecidos cantores americanos, Frank Sinatra, também gravou essa música, em 1962, no álbum “All Alone” (Sozinho) assim como Tony Williams, o cantor líder dos “The Platters”, no álbum “A Girl is a Girl”, gravado entre 1961 e 1962.
“Charmaine” é uma daquelas canções populares cujas letras usam o famoso “pássaro azul da felicidade” americano, como símbolo de alegria e satisfação: “I wonder, when bluebirds are mating, will you come back again?” (Eu me pergunto, quando os pássaros azuis estão se unindo, você vai voltar para mim?); por essa razão ela tem sido muito usada em filmes sempre que uma situação romântica se configura. No filme “One Flew Over the Cuckoo’s Nest” (no Brasil como “Um Estranho no Ninho”), a melodia é constantemente tocada como música de fundo na instituição mental onde permanece Jack Nicholson, assim como em muitos outros filmes.
Abaixo, a letra da música “Charmaine”, em duas versões, uma para cantor homem e outra para cantora, para os leitores poderem acompanhar por qualquer das gravações apresentadas.

CHARMAINE
(Versão masculina)
I can't forget the night we met, how bright were stars above
That precious memory lingers yet, when you declared your love
And then you went away and now each night and day

I wonder why you keep me waiting, Charmaine, my Charmaine
I wonder when bluebirds are mating, will you come back again?
I wonder if I keep on praying, will our dreams be the same?
I wonder if you ever think of me too, I am waiting my Charmaine for you

(Versão Feminina)
You went away on dreary day, I knew you had to go
Mid tears and cheers, I heard you say, "Charmaine, I love you so"
Tho old years turn to new, my heart keeps calling you

"I wonder why you keep me waiting", Charmaine cries in vain
I wonder when bluebirds are mating, will you come back again?
I wonder if I keep on praying, will our dreams be the same?
I wonder if you ever think of me too, Charmaine's waiting, just for you

II OS AUTORES

Ernö Rapée, o criador da música “Charmaine”, foi um maestro, compositor e pianista americano, mas nascido húngaro, de Budapeste, em 4 de junho de 1891 e falecido em 26 de junho de 1945. Foi um dos mais prolíficos maestros sinfônicos americanos da primeira metade do século XX. Seu cargo mais importante foi o de maestro principal da Radio City Symphony Orchestra, a orquestra permanente do Radio City Music Hall, cuja música foi ouvida por milhões, pelo ar. Um virtuoso pianista, Rapée é também lembrado por canções populares que ele escreveu ao final da década de 1920, como músicas escritas especialmente para filmes mudos. Quando não conduzia orquestras ao vivo, supervisionava partituras de filmes para filmes sonoros, colecionando uma lista substancial de filmes em que ele trabalhou como compositor, arranjador ou diretor musical.
Estudou piano e, mais tarde, atuou como maestro, na Real Academia de Música Nacional Húngara. Mais tarde foi maestro assistente de Ernst von Schuch, em Dresden. Como compositor, tocou seu primeiro piano concerto com a Orquestra Filarmônica de Viena e após um tour pela América, como maestro convidado, iniciou suas apresentações no Teatro Rialto, em Nova York, como assistente de Hugo Riesenfeld, onde começou a compor e conduzir para filmes mudos.
Posteriormente, Rapée foi contratado por Samuel “Roxy” Rothafel, como diretor musical da orquestra de 77 membros do Teatro Capitol, em Nova York. Foi no Capitol que Rapée fez o seu mais famoso arranjo clássico da Rapsódia Húngara No 13, de Liszt.
A próxima mudança de Rapée foi para a Filadélfia, onde conduziu uma orquestra de 68 membros, no Teatro Fox, e teve, como artista convidado, o famoso pianista, arranjador e compositor australiano Percy Grainger. Do Fox ele foi para um sucesso internacional em Berlim, com uma orquestra de 85 membros da “Ufa-Palast am Zoo”, quando foi convidado para conduzir a Orquestra Filarmônica de Berlim em um concerto. Posteriormente apresentou-se como maestro da Filarmônica de Budapeste e outras orquestras europeias, retornando à América após enorme sucesso na Europa.
Iniciou um compromisso com o Roxy Theatre, em Nova York, inaugurando-o em março de 1927, como diretor de música de sua Orquestra Sinfônica Roxy, com 110 membros, a maior orquestra permanente do mundo à época, excedendo em três a Orquestra Sinfônica de Nova York.
Em 1932, Rapée atingiu o pico de sua carreira como diretor musical e maestro principal da Orquestra Sinfônica no novo “Radio City Music Hall” do Roxy Rothafel, cargo que ocupou até a sua morte, em Nova York, NY, de um ataque do coração, em 26 de junho de 1945.
Lew Pollack, autor da letra de “Charmaine”, nasceu em Nova York em 16 de junho de 1895 e foi um compositor de músicas ativo durante as décadas de 1920 e 1930. Entre as suas canções mais conhecidas estão “Charmaine” e “Diane”, ambas em parceria com Ernö Rapée, entre muitas outras. Foi eleito para Hall da Fama de Compositores em 1970.
Pollack foi educado na “DeWitt Clinton High School” e atuou como um rapaz soprano no Grupo Coral Walter Damrosch. Em sua carreira profissional inicial, Pollack foi um cantor e pianista em atos de teatro de variedades e começou a escrever temas musicais para cinema mudo, como em “What Price Glory” e “Seventh Heaven” (Sétimo Céu). Também escreveu partituras completas para filmes sonoros, entre eles, “Pigskin Parade”, “One in a Million”, “Life Begins in College”, “Rebecca of Sunnybrook Farm” e “Captain January” (todos muito antigos para serem nossos conhecidos).
Colaborou com compositores como Ernö Rapée, Sidney Mitchell, Paul Francis Webster e Ned Washington, entre outros.
Lew Pollack morreu em Hollywood, Califórnia, em 18 de janeiro de 1946.

III – O FILME

What Price Glory?(no Brasil, “Sangue por Glória”) foi uma comédia-drama de guerra, cinema mudo, americano, de 1926, produzido e distribuído pela Fox Film Corporation e dirigido por Raoul Walsh. O filme foi baseado na peça de “What Price Glory”, de 1924, de Maxwell Anderson e Lawrence Stallings, e refilmado em 1952, com o mesmo título, estrelado por James Cagney.
No filme, Flagg e Quirt eram sargentos veteranos do Corpo de Fuzileiros dos Estados Unidos, cuja rivalidade vinha de muitos anos atrás. Flagg (Victor McLaglen) recebe um posto de capitão comissionado no comando de uma companhia nas linhas de frente da França, durante a Primeira Guerra Mundial. O sargento Quirt (Edmund Lowe) é designado para a unidade de Flagg como oficial não comissionado. Flagg e Quirt rapidamente reassumem sua rivalidade que, dessa vez, toma sua forma através das suas afeições por Charmaine (Dolores del Rio), a filha do estalajadeiro local. Contudo, o desejo de Charmaine por um marido e a realidade da guerra, dão aos dois homens uma causa comum.
O filme foi lançado como cinema mudo pela Fox Film Corporation, em 23 de novembro de 1926, nos Estados Unidos, com 116 minutos de duração. Em janeiro de 1927 o filme foi relançado pela Fox, com efeitos sonoros e música sincronizados, através do sistema Movietone.
Parte de sua fama vem do fato de que os personagens podem ser vistos falando obscenidades que não aparecem nos cartões de diálogos, mas podem ser entendidos por leitores de lábios. O estúdio foi inundado por chamadas e cartas de americanos enraivecidos, incluindo surdos e mudos, para os quais a vívida imprecação entre o sargento Quirt e o capitão Flagg pareceu extremamente ofensiva.





[1] A “Billboard” é uma revista de música americana fundada em Cincinnati, em 01 de novembro de 1951, por William H. Donaldson e James Hennegan. Foi originalmente sediada na cidade de Nova York e hoje pertencente à Prometheus Global Media. É considerada uma das mais antigas revistas de negócio no mundo. Inicialmente a revista focou a distribuição de panfletos e celebrações de rua antes de se especializar na indústria da música, na década de 1960. A Billboard mantém vários quadros de gravações internacionalmente reconhecidos que rastreiam as canções e álbuns mais populares de várias categorias, em base semanal. Os principais quadros são “As 100 Mais da Billboard” e “As 200 Mais da Billboard”, respectivamente classificando as canções e álbuns mais ouvidos, sem considerar o gênero. As classificações de canções são baseadas em vendas de digitais baixados, música tocada nas rádios e liberadas na internet. As de álbuns foram baseadas apenas nas vendas, até 2014 e os dados são principalmente baseados no sistema de rastreamento Nielsen SoundScan, usado desde 1991.


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ANONIMO VENEZIANO

 Esta música me traz lindas lembranças do ano tão distante de 1973, quando retornava da minha primeira viagem à Europa, em companhia da minha esposa Selene e da filha Cláudia, então única. Havíamos passado seis meses na Inglaterra, radicados em Londres, mas viajando por toda a Grã Bretanha, e mais quatro meses na França, morando na pacata e histórica cidade de Brive-La-Gaillarde, mas também viajando bastante por toda a metade meridional do país, além da capital. Após meus trabalhos oficiais, tiramos quase um mês de férias para conhecer alguns países da Europa e acabamos o giro na cidade de Cannes, ao sul da França, no Mar Mediterrâneo. De lá embarcamos no “Augusto C” para retornar ao Brasil numa maravilhosa viagem de treze dias, cruzando boa parte do Mediterrâneo, atravessando o Estreito de Gibraltar, infletindo para o norte em busca da Lisboa antiga, onde permanecemos algum tempo para compras e então atravessando o Atlântico, rumo ao porto de Santos, São Paulo, nosso destino quase final, posto que iríamos para Porto Alegre.
Pois foi a bordo do “Augusto C” que assistimos à película “Anonimo Veneziano” (assim mesmo, sem acento, nome do filme em italiano), de cuja trilha sonora faz parte a maravilhosa música de que trata esta postagem. O filme fora inteiramente rodado na cidade italiana de Veneza, que havíamos conhecido pouco tempo atrás e que, em minha opinião, é uma cidade tão linda quanto nostálgica, por tudo quanto dela se conhece – retornei lá, uma vez, e ainda a achei mais triste do que na primeira vez. E eu, que já amava a cidade, apaixonei-me pela música e a trago agora, bem como ao filme, para compartilhar com os meus leitores. 
Cartaz de Apresentação de
"O Anonimo Veneziano"

O Anonimo Veneziano é um filme italiano dramático de 1970, vencedor de prêmios, escrito e dirigido pelo famoso ator italiano Enrico Maria Salerno, na sua estreia como diretor de cinema. O filme foi estrelado pelo ator americano Tony Musante e pela nossa atriz brasileira Florinda Bolkan.
O enredo do filme fala de Enrico, um oboísta do “Gran Teatro La Fenice”, de Veneza, que não conseguiu se tornar o grande maestro que desejava. Afetado por um câncer incurável, consegue um encontro nesta cidade, com sua ex-mulher, Valéria, com quem teve um filho, de que está separado há alguns anos e que vive com outro homem em outra cidade, mas ocultando suas condições de saúde. Enrico e Valéria caminham e passeiam pelas ruas e canais de Veneza, lembrando os tempos felizes em que viviam juntos, mas também os maus momentos. Ela percebe que ainda o ama, mas quando ele, finalmente, confessa estar morrendo, Valéria percebe que já é tarde demais para voltar atrás e mudar o curso de suas vidas. No final do filme, quando o dia termina, os dois se despedem cientes de que não se encontrarão novamente. Enquanto ela se afasta, em lágrimas, da antiga igreja convertida em estúdio de gravações, Enrico dirige, com paixão, o ensaio de uma orquestra para um concerto de um autor “anônimo” (e esta a origem do título do filme), de origem veneziana, que se torna a trilha sonora do filme. 
O compositor Stelvio Cipriani

O filme recebeu os prêmios “David di Donatello” para melhor atriz, Florinda Bolkan, um “David Special” para o diretor Enrico Maria Salerno e o prêmio “Nastro d’Argento” para a melhor cinematografia a cores (Marcello Gatti) e a melhor trilha sonora (Stelvio Cipriani), além de três outras indicações. Saiu da Itália em 30 de setembro de 1970 e obteve enorme sucesso com o público, aparecendo como o quarto colocado da temporada e superando, em muito, o filme “Love Story”, do mesmo ano.
O filme é especialmente notável por sua romântica trilha sonora, composta por Stelvio Cipriani, cujo tema principal ficou conhecida no Brasil como “Anônimo Veneziano” e, em francês, como “Venise Va Mourir”. Tal melodia foi gravada por vários intérpretes de várias nacionalidades, vocal e instrumental, com enorme sucesso. Em 1970, Frida Boccara a gravou em francês (com letra de Eddy Marnay) e a apresentou mais tarde, no Festival de Filmes de Cannes. Também em 1970, Tony Renis a gravou como “Anonimo Veneziano”, em inglês e italiano; em 1971, ele a gravou como “Venise Va Mourir”, na versão francesa. Posteriormente outras gravações foram realizadas: Sergio Denis (1971), Fred Bongusto (1971), Ornella Vanoni (1971) e Nana Mouskouri, em 1973, como “To Be the One You Love”. Como música instrumental foi gravada por Paul Mauriat, Franck Pourcel, Fausto Papetti e Julio Armando, apenas para citar as mais conhecidas.
Quanto à trilha sonora, ainda, o filme apresenta uma particularidade muito interessante. O concerto que o personagem principal, Enrico, ensaia ao final do filme, é apresentado como “Concerto em Dó Menor para Oboé, Cordas e Baixo Contínuo”, de Benedetto Marcello. Na realidade, trata-se do “Concerto em Ré Menor para Oboé, Cordas e Baixo Contínuo”, em três movimentos, de Alessandro Marcello, irmão mais velho e menos popular que Benedetto. No caso do ensaio, trata-se do segundo dos três movimentos, o Adágio. Tornado famoso graças ao filme, nele ele é transcrito e conduzido por Giorgio Gaslini.
Como nunca gostei de compositores anônimos, algumas palavras sobre o autor da trilha sonora do “Anônimo Veneziano”. Stelvio Cipriani é um compositor italiano nascido em Roma, em 20 de agosto de 1937, muito conhecido por suas composições para trilhas sonoras. Sem vir de família de músicos sempre foi fascinado pelo órgão de sua igreja, onde recebeu as primeiras lições de música. Estudou no Conservatório Santa Cecília a partir dos 14 anos de idade e tocando em bandas de cruzeiros, conheceu Dave Brubeck. Acompanhou Rita Pavone ao piano. Compôs várias trilhas sonoras para filmes, principalmente para “westerns”, no início.
Li uma vez, em algum lugar, que se os compositores clássicos fossem vivos hoje, comporiam música para trilhas sonoras de filmes. Concordo plenamente com a ideia, visto que algumas das músicas mais lindas que conheço, foram compostas para trilhas sonoras; os exemplos são incontáveis. Gostaria de acrescentar também que, fazendo um curso de música há muitos anos atrás, na cadeira em que se aprendia a reconhecer os instrumentos musicais de uma grande orquestra, o professor dizia, sobre o oboé, que era o instrumento mais triste e melancólico de uma orquestra. Considerando o local onde o filme foi rodado e o tema principal do filme, eu diria que a trilha sonora nunca foi tão feliz ao ser composta e escolhida para fazer parte desta película. 
Para deleite dos leitores, disponibilizarei os “links” para o tema principal do “Anônimo Veneziano” em várias versões. Por uma questão de justiça, a primeira versão é um “áudio” da trilha sonora original, bem curta; nesta versão, o leitor poderá apreciar, com detalhe, toda a melancolia do oboé. Infelizmente, a minha fonte não declarou o intérprete da gravação, mas certamente, trata-se da orquestra que gravou a trilha sonora, sob a regência do seu compositor, Stelvio Cipriani.
A segunda versão é um “clip” da trilha sonora original, mais elaborada e longa, com algumas fotos de Veneza, para colocar o leitor num ambiente mais adequado. Para o intérprete, infelizmente, vale a mesma observação colocada anteriormente.
A seguir uma versão interpretada por Tony Renis. Presenteamos nossos leitores com a letra da música, em italiano, com versão para o português, para que possam acompanhar com o cantor (ver abaixo).
Finalmente, uma versão orquestrada, interpretada pela orquestra de Paul Mauriat, uma das minhas preferidas.
E para aqueles com gosto mais refinado, apresentamos o “Concerto em Ré Menor para Oboé, Cordas e Baixo Contínuo”, em três movimentos, completo, de Alessandro Marcello, interpretado pela Orquestra de Câmera do Scala de Milão, com Fabien Thouand executando o som tristonho do oboé.




ANONIMO VENEZIANO                     VENEZIANO ANÔNIMO

Cuore, cosa fai                                                                 Coração, o que faz
Che tutto solo te ne stai.                                                  Que fica tão sozinho.
Il sole è alto e splende già                                               O sol está alto e já brilha
Sulla città.                                                                        Sobre a cidade.

Al buio tu non guarirai,                                                   No escuro você não vai curar
Non stare lì, dai retta a me.                                              Não fique ali, dê-me atenção.
Di là dai vetri forse c'è                                                     Além dos vidros talvez tem
Una per te, per te.                                                            Uma para ti, para ti.

Almeno guarda giù                                                          Ao menos olha em baixo
e tra la gente che vedrai                                                   E entre a gente que verá
c'è sempre una, una che                                                   Há sempre uma, uma que
è come te.                                                                         É como tu.

Un viso anonimo che sà                                                   Um rosto anônimo que sabe
l'ingratitudine cos'è,                                                         A ingratidão o que é,
e una parola troverà                                                         E uma palavra encontrará
anche per te, per te.                                                          Também para ti, para ti.

E allora te ne vai,                                                             E então você vai,
non hai perduto niente ancora.                                        Não perdeu nada ainda.
A un'altra vita, un altro amore                                        Para uma outra vida, um outro amor
non dare mai.                                                                  Nunca dar.

Il sole alto splende già                                                    O sol alto já brilha
sul viso anonimo di chi                                                  Sobre o rosto anônimo de quem
potrà rubarti un altro sì,                                                 Poderá te roubar um outro sim,
un altro sì.                                                                      Um outro sim.

Il mondo é lì.                                                                 O mundo é ali
È lì.                                                                                É ali
La ra la ra la ra                                                              La ra la ra la ra
la ra la ra la ra....                                                           La ra la ra la ra ... 


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MOONLIGHT SERENADE

 Esta é outra daquelas melodias que me toca lá no fundo do coração. Composta 5 anos antes de eu nascer, sempre tive a impressão de que ela me acompanhou por toda a vida. Penso que, de novo, devo a sua lembrança e o enorme prazer que sinto ao escutá-la, àqueles tempos da “Pensão Viaduto”, quando eu tinha apenas 3 anos de idade, mas era levado para escutar as apresentações musicais no antigo auditório Araújo Viana, ao lado da Praça da Matriz, já objeto de minhas postagens. Vários anos depois disso, muitas vezes, na minha adolescência, tive o prazer de dançar esta melodia com a minha namorada ou alguma outra garota romântica que se apresentasse nos entreatos do meu namoro. Hoje, 76 anos após a sua criação, ainda sinto as mesmas emoções e o mesmo prazer que sentia ao escutá-la pela primeira vez. Penso que será assim até a última vez em que eu vier a escutá-la ...
Moonlight Serenade” (Serenata ao Luar) é uma composição popular americana composta por GlennMiller, com letra criada posteriormente por Mitchell Parish. Foi um fenômeno imediato quando lançada em maio de 1939, com um arranjo instrumental que logo transformou-se na melodia de assinatura de Glenn Miller. Em 1991, a gravação de Glenn Miller de “Moonlight Serenade” foi introduzida no “Grammy Hall of Fame”.
A canção, gravada em 4 de abril de 1939, pela RCA Bluebird, tornou-se um sucesso dos dez mais, nos quadros populares dos EUA em 1939, alcançando o número 3 nos quadros do Billboard, lá permanecendo por 15 semanas. Foi o sucesso número 5 de 1939 no registro de fim de ano do Billboard. Glenn Miller teve cinco discos entre as 20 melodias de mais sucesso de 1939, na mesma lista do Billboard.
No Reino Unido, “Moonlight Serenade” foi lançada como o Lado A de um 78 RPM da “His Master’s Voice” (marca registrada da RCA, aquela com o cachorrinho Nipper ouvindo o gramofone de uma vitrola), com a melodia “American Patrol” no Lado B. O disco atingiu o número 12 no ReinoUnido em 1954, permanecendo no quadro durante uma semana. Num pout-pourri com “Little Brown Jug” e “In the Mood”, “Moonlight Serenade” alcançou o número 13 no Reino Unido, em janeiro de 1976, numa sequência de oito semanas.
"Moonlight Serenade" em V-Disk
A gravação foi também incluída num “V-Disc” No 39ª, em novembro 1943. V-Disc (V de “victory” – vitória) era uma iniciativa para elevar o moral dos soldados, envolvendo a produção de várias séries de gravações durante a era da Segunda Guerra Moral, através de arranjo especial entre o governo dos EUA e várias gravadoras privadas americanas. Os discos eram produzidos para uso do pessoal militar americano no exterior. Muito cantores populares, grandes bandas e orquestras da época, gravaram discos V-disc entre outubro de 1943 e maio de 1949.
A gravação original usou um conjunto de saxofones liderados por um clarinete, sendo considerada o clássico estilo Glenn Miller. Miller estudou a técnica “Schillinger” com Joseph Schillinger, que o ajudou a criar o “Som Miller” e sob cuja tutelagem Glenn Miller criou “Moonlight Serenade”.
Na verdade, essa melodia evoluiu de uma versão de 1935 intitulada “Now I lay me down to weep” (Agora eu me recosto para chorar), com música de Glenn Miller e letra de Eddie Heyman, para uma nova versão chamada “Gone with the dawn” (Levado pela madrugada), com letra de George Simon e, ainda, para “The Wind in the trees” (O vento nas árvores), com letra de Mitchell Parish. Em sua biografia de Glenn Miller, George T. Simon relatou como o vocalista Al Bowlly, da orquestra de Ray Noble, cantou-lhe a letra de Eddie Heyman para a música de Glenn Miller “Now I lay me down to weep”, em 1935. A orquestra de Ray Noble nunca gravou essa música. Finalmente, ela acabou como “Moonlight Serenade” quando a Robbins Music a comprou e soube que Miller estava gravando uma versão de “Sunrise Serenade”, uma música associada de Frankie Carle, para a RCA Victor. Pensaram que “Moonlight Serenade” seria uma associação natural para “Sunrise Serenade”.
Uma versão notável da música pode ser encontrada no vinil “Moonlight Sinatra”, com Frank Sinatra, lançado em 1965, que contém, além de “Moonlight Serenade”, “Moon Love”, Moonlight Becomes You” e “Oh, You Crazy Moon”, gravadas por Glenn Miller e sua orquestra. Várias outras gravações de “Moonlight Serenade” foram realizadas por Frank Sinatra, incluindo uma que aparece em seu último lançamento, de 2015, “Ultimate Sinatra”, com 100 músicas para celebrar os seus 100 anos de nascimento.
“Moonlight Serenade” teve incontáveis interpretações, e podemos citar, entre os mais conhecidos vocalistas: Barry Manilow, Carly Simon, Santo e Johnny, Thelma Houston, Mina, Laura Fygi, Ray Anthony, Ella Fitzgerald, Bobby Vinton e Carol Burnett. Entre as orquestras mais conhecidas, com vocalistas ou não, que gravaram “Moonlight Serenade”, podemos citar: Chet Baker, Count Basie and his Orchestra, Benny Goodman and his Orchestra, Bert Kaempfert, Ray Conniff, David Rose, Paul Mauriat, Tommy Leonetti, the Boston Pops com a regência de Arthur Fiedler, John Williams, 101 Strings, Lawrence Welk, Henry Mancini, James Last, George Melachrino, The Ventures (que aqui apresento, pela sua originalidade) e Mantovani (uma das minhas favoritas, que também apresento na postagem).
Mais de 30 filmes incluíram, num momento ou outro, a melodia “Moonlight Serenade”, entre eles, o que conta a história de Glenn Miller, “The Glenn Miller Story” (A História de Glenn Miller), de 1954, com James Stuart, June Allyson e Harry Morgan.
Glenn Miller com seu trombone
O autor de “Moonlight Serenade”, Glenn Miller, músico, arranjador, compositor e líder de orquestra, nasceu Alton Glenn Miller, em 1º de março de 1904, em Clarinda, estado de Iowa. Logo seus pais - Elmer e Mattie Lou Miller – se mudaram de Iowa, primeiro para Nebraska, depois para o Missouri e então para Fort Morgan, Colorado. Em cada uma dessas cidades, o desenvolvimento musical de Miller dava um novo passo. Durante a sua estadia em Nebraska, seu pai lhe trouxe um bandolim, que em seguida ele trocou por uma corneta velha. Enquanto no Missouri, ele começou a tocar trombone como membro de uma banda da cidade. E quando sua família mudou-se para Fort Morgan, em 1918, Miller alimentou seus talentos musicais ingressando na banda do segundo grau.
Logo após graduar-se no segundo grau, em 1921, Glenn Miller entrou na orquestra Boyd Senter, a primeira de uma série de grupos musicais aos quais ele se uniria. Deixou essa banda para ingressar na Universidade do Colorado, em 1923, mas logo abandonou-a para perseguir seu amor pela música. Pelos próximos anos ele mudou-se para Los Angeles onde tornou-se membro da orquestra de Bem Pollack e então seguiu para Nova York, em 1928, atuando como trombonista e arranjador. Nessa época ele casou-se com Helen Burger, sua namorada da faculdade. Glenn Miller começou então a trabalhar com a orquestra de Dorsey Brothers, organizou uma orquestra para Ray Noble e estudou teoria e composição musical com Joseph Schillinger.
A primeira gravação de Glenn Miller com seu nome surgiu em 1934 enquanto ele ainda trabalhava com a orquestra de Ray Noble. Em 1937 ele tentou formar sua própria banda, obtendo pouca popularidade. Dissolvendo esta e reorganizando outra, Glenn Miller finalmente teve sucesso em 1938, quando a Glenn Miller Orchestra assinou um contrato no Glen Island Casino.
A partitura de
"Moonlight Serenade"
Entre 1939 e 1942, Glenn Miller e sua Orquestra alcançaram enorme popularidade e sucesso comercial. Sua orquestra gravou 17 sucessos em 1939, 31 em 1940, 11 em 1941 e mais 11 em 1942. Tais sucessos incluíram clássicos como “In the Mood”, “A String of Pearls”, “At Last”, “American Patrol”, “Tuxedo Junction”, “Little Brown Jug” e “Moonlight Serenade”. Seus sucessos conduziram a outras empreitadas lucrativas, como suas séries no rádio, intituladas “Moonlight Serenade”, no ar pela CBS três vezes por semana. Sua orquestra também trabalhou no cinema, introduzindo sucessos como “Pennsylvania 6-5000”, “Chattanooga Choo Choo” no filme “Sun Valley Serenade (1941) e “Kalamazoo”, no filme “Orchestra Wives” (1942). Pelos anos 1940’s, Glenn Miller já faturava US$20.000,00 por semana.
"Moonlight Serenade" em lado B.
O sucesso de sua orquestra deve-se ao seu estilo e som únicos. O próprio Glenn Miller dizia que “Uma banda deve ter um som próprio, uma personalidade”. A dele diferenciava-se de outras de muitas formas. A música de jazz é caracterizada por sua expontaneidade e uso de improvisação; a orquestra de Glenn Miller tocava “swing”, uma ramificação do jazz que favcorecia mais a orquestração do que a improvisação. Por isso, muitos aficionados do jazz desaprovaram seu estilo musical, sem apreciar a meticulosa preparação e estrutura, evidentes na música da dua orquestra. Combinando os sons do clarinete e do saxofone, Miller criou em sua orquestra uma ressonância que a distinguia de outras orquestras. Em sua música o clarinete e o sax tenor contribuíam para a melodia, enquanto os saxofones tocavam uma linha harmônica complementar, o que tornava a sua orquestra facilmente reconhecida e a distinguia de outros grupos.
Major Glenn Miller
em tempo de guerra.
Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, Glenn Miller expontaneamente abandonou seu sucesso musical para servir ao seu país. Alistou-se na Força Aérea Americana deixando a sua vida civil, mas não a sua música. Contratado como Capitão no Corpo de Especialistas, devotou-se à elevação do moral dos soldados, modernizando a orquestra do exército. Após completar o treinamento básico, Miller organizou a Orquestra Glenn Miller da Força Aérea, aclamada por vários como o seu melhor grupo musical.
Como os esforços anteriores de Glenn Miller, a Orquestra foi um grande triunfo, realizando uma perfeita programação de tours e apresentações. Durante esse período, a orquestra realizou mais de 800 apresentações. Outras 500 apresentações foram transmitidas para milhões de ouvintes.
O UC-64 Norseman, em que Glenn
Miller desapareceu em missão
Sua orquestra preparava-se para embarcar em um tour pela Europa e Miller pegou um vôo para Paris em 15 de dezembro de 1944, num UC-64 Norseman, USAAF serial 44-70285, para fazer os arranjos preparatórios do grupo. Partiu da RAF Twinwood Farm, pequeno aeroporto para vôos noturnos em Clapham, a 7 km ao norte de Bedford, Inglaterra, e desapareceu em vôo sobre o Canal da Mancha, junto com o Coronel Norman Baesselll e o piloto John Morgan. O desparecimento do avião de Glenn Miller pode ter sido causado por mau tempo, mas registros também sugerem que bombas, lançadas por bombardeiros aliados retornando de uma missão abortada, podem, inadvertidamente, ter atingido o aeroplano. Até hoje, livros e artigos continuam a ser publicados na tentativa de explicar o trágico desaparecimento do grande músico. 
O monumento a Glenn Miller, no
Cemitério Grove Street, New
Haven, Connecticut
Mesmo após o desaparecimento de Glenn Miller, sua orquestra militar continuou tocando para as tropas até agosto de 1945, quando retornou para Nova York e seus membros se dispersaram.
A música de Glenn Miller teve enorme popularidade e sucesso coma as audiências da década de 1940 e continua a nos encantar até hoje. “Alguns dos críticos”, disse Miller  em 1940, “apontam seus dedos nos acusando de abandonar o jazz real”. E concluiu: “Tudo depende do que você define como jazz real”. Não obstante a crítica que enfrentou, Glenn Miller devotou a sua vida, não a saciar seus críticos, mas a entreter seus ouvintes. Embora morto com 40 ano de idade, Glenn Miller é lembrado hoje, não apenas pela apreciada música que produziu, mas também por sua influência na evoluição e sucesso comercial do “swing” e por sua patriótica devoção no tempo da guerra. Embora a era das grandes orquestras tenha passado e o centenário do nascimento de Glenn Miller tenha ocorrido em março de 2004, sua música ainda mantém o mesmo encanto que possuía quando ele era vivo, e as músicas e sons da Orquestra de Glenn Miller ainda encantam audiências de todas as idades.
Glenn Miller teve três gravações que foram, postumamente introduzidas no “Grammy Hall of Fame”, um prêmio Grammy especial estabelecido em 1973, para honrar gravações com pelo menos 25 anos de idade e com “alto significado qualitativo ou histórico”:
1. “In the Mood”, gravada em 1939, jazz, com selo da RCA (Bluebird), recebeu o prêmio em 1983;
2.  “Moonlight Serenade”, gravada em 1939, no gênero jazz e selo RCA (Bluebird), recebeu o prêmio em 1991;
3. “Chattanooga Choo Choo”, gravada em 1941, jazz, com selo RCA (Bluebird), recebeu o prêmio em 1996.
Finalmente, para quem quiser cantar "Moonlight Serenade", no banheiro ou fora dele, acompanhando Frank Sinatra, ou fazendo um "karaokê" com as orquestras de Glenn Miller, Mantovani ou The Ventures, apresento a seguir a letra da maravilhosa melodia. Bom proveito!



MOONLIGHT SERENADE
(Glenn Miller & Mitchell Parish)

I stand at your gate and the song that I sing is of moonlight.
I stand and I wait for the touch of your hand in the June night.
The roses are sighing a moonlight serenade.

The stars are aglow and tonight how their light sets me dreaming.
My love, do you know that your eyes are like stars brightly beaming?
I bring you and sing you a moonlight serenade.

Let us stray till break of day
In love's valley of dreams.
Just you and I, a Summer sky,
A heavenly breeze kissing the trees.

So don't let me wait, come to me, tenderly, in the June night.
I stand at your gate and I sing you a song in the moonlight,
A love song, my darling, a moonlight serenade.


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I WILL FOLLOW YOU ou CHARIOT?

Ao aproximar-se o final dos domingos, sempre abateu-se sobre mim – e continua a ocorrer no presente - uma espécie de melancolia, nada grave, que nunca soube identificar. Inicialmente eu a creditava à proximidade de uma nova segunda-feira, com as aulas normais e todas as suas consequências e, posteriormente, às maiores responsabilidades profissionais que então se seguiram. Hoje, numa situação bem mais confortável e tranquila, já sem compromissos formais, essa sensação ainda ocorre, nesses momentos.
Durante o último fim de semana, vivenciando aquela espécie de melancolia, recebi, de uma amiga muito querida, de mil anos atrás, Aldinha Gleci Belinzoni, um “clip” maravilhoso que me motivou, formidavelmente, a escrever este “post”.
O “clip” a que me refiro apresenta a Orquestra de André Rieu com seu coral e o Harlem Gospel Choir, apresentando-se no Radio Music City Hall, em New York. Quem nasceu na década de 40 e viveu a sua adolescência nas décadas de 50 e 60, sem uma vez dançar a música “I Will Follow Him” ou “Chariot”, definitivamente não soube o que foi viver aquela época! Eu tive essa felicidade! Satisfazer a curiosidade dos meus leitores, que conhecem – ou não - e se emocionaram com essa canção, é o principal objetivo deste artigo. Nessa orquestra destacamos a terceira soprano a se apresentar, em seu lindo vestido rosa-choque, nossa brasileira Carla Mafioleti, iniciada aos 7 anos de idade em Porto Alegre, pela soprano brasileira Neyde Thomas. Ela estudou na Holanda, posteriormente, e desde 2002 é parte do conjunto de sopranos da orquestra do violinista André Rieu.
Essa maravilhosa melodia foi composta em 1961 por dois franceses dos quais, certamente, muito poucas pessoas já ouviram falar: J. W. Stole e Del Roma. Entretanto, se mencionarmos os nomes dos grandes Franck Pourcel e Paul Mauriat, poucos dirão não conhece-los. Pois ocorre que J. W. Stole foi o pseudônimo utilizado por Franck Pourcel, da mesma maneira que Del Roma foi o apelido usado por Paul Mauriat na composição conjunta de “Chariot”, melodia letrada, em seu original, por Jacques Plante e orquestrada por Raymond Lefèvre, ambos também franceses. A figura abaixo é a partitura original, para piano, de “Chariot”, composta pelos dois músicos franceses.
Essa melodia foi imediatamente gravada por Petula Clark, em 1962, em francês, de acordo com a letra original escrita por Jacque Plante, que apresentamos abaixo, para que os leitores possam acompanhar a gravação também original, que apresentamos a seguir. A capa do vinil que atingiu a primeira posição na França e a oitava na Bélgica, aparece abaixo. Petula Clark ganhou também um Disco de Ouro com sua gravação em italiano, “Sul mio carro”, que alcançou a quarta posição na Itália. Uma sua gravação em inglês, lançada nos EUA, fez muito pouco sucesso.

CHARIOT

Chariot, Chariot
Partitura original de "Chariot"
Si tu veux de moi
Pour t'accompagner au bout des jours
Laisse-moi venir près de toi
Sur le grand chariot de bois et de toile

Nous nous en irons
Du côté où l'on verra le jour
Dans les premiers reflets du ciel
Avant la chaleur du soleil
Sous la dernière étoile

La plaine, la plaine, la plaine
N'aura plus de frontière
La terre, la terre, sera notre domaine
Que j'aime, que j'aime,
Ce vieux chariot qui tangue,
Qui tangue, qui tangue

Si tu veux de moi
Pour dormir à ton côté toujours
L'été sous la lune d'argent
L'hiver dans la neige et le vent
Alors dis-le moi, je pars avec toi 
Petula Clark na capa que lhe deu o #1 na França


La plaine, la plaine, la plaine
N'aura plus de frontière
La terre, la terre, verra notre domaine
Que j'aime, que j'aime,
Ce vieux chariot qui tremble
Qui tremble, qui tremble

Si tu veux de moi
De ma vie et de mon fol amour
Le long des torrents et des bois
Au cœur des dangers et des joies
Alors dis-le moi, je pars avec toi.

No ano seguinte de 1963, uma americana, Little Peggy March, gravou a mesma melodia numa versão adaptada por Arthur Altman, em língua inglesa, criada por Norman Gimbel, com o título “I will follow Him”. Com essa gravação, Little Peggy March, então com 15 anos de idade, tornou-se a mais jovem intérprete feminina a colocar um simples em primeiro lugar no “US billboard”e em todo o mundo. Além dos EUA, essa gravação fez muito sucesso na Austrália, Nova Zelândia, Japão e Escandinávia. Abaixo, a capa do vinil que fez todo esse sucesso. A letra original, em francês, não tem nada a ver com a sua versão inglesa, a começar pelo título. A primeira é uma canção romântica que transporta a pretendente em um carro (“chariot”), ao encontro do seu amado; a versão em língua inglesa é praticamente um “gospel” que proclama a intérprete como uma seguidora de Deus. Foi impossível encontrar um “clip” da época com a famosa interpretação que a tornou número 1 em todo o mundo. Entre apresentar um “clip” mais moderno e apenas escutar à interpretação original, apreciando a capa do disco que a fez famosa, optamos por esta última e a apresentamos a seguir. E logo a letra da versão em inglês para que o leitor possa bem acompanhar a brilhante gravação. 
Little Peggy March,
a mais jovem #1 no "billboard"

I WILL FOLLOW HIM

(Du-du-doot, du-du-doot, du-du-doot.)
(Du-du-du-du-du-du-doot, du-du-doot, du-du-doot.)
(Du-du-du-du-du-du-doot...)

Love him, I love him, I love him.
And where he goes I'll follow, I'll follow, I'll follow.
I will follow him.
Follow him wherever he may go.
There isn't an ocean too deep,
A mountain so high it can keep,
Keep me away.

(Du-du-doot, du-du-doot, du-du.)
I must follow him (follow him).
Ever since he touched my hand I knew,
That near him I always must be.
And nothing can keep him from me.
He is my destiny (destiny).

I love him, I love him, I love him,
And where he goes, I'll follow, I'll follow, I'll follow
He'll always be my true love, my true love, my true love,
From now until forever, forever, forever.

I will follow him (follow him).
Follow him wherever he may go
There isn't an ocean too deep,
A mountain so high it can keep,
Keep me away, away from my love

I love him, I love him, I love him,
And where he goes, I'll follow, I'll follow, I'll follow.
He'll always be my true love, my true love, my true love,
From now until forever, forever, forever.

I will follow him (follow him),
Follow him wherever he may go,
There isn't an ocean too deep,
A mountain so high it can keep,
Keep me away, away from my love.

(Du-du-doot, du-du-doot, du-du-doot...)
(And where he goes I'll) follow, I'll follow, I'll follow.
I know I'll always love him, I love him, I love him.
And where he goes I'll follow, I'll follow, I'll follow.
I know I'll always love him...

[Fade.]


Vários outros intérpretes gravaram essa melodia, incluindo a nossa brasileira Lana Bittencourt, em inglês, e quiçá tenha sido essa a gravação mais cantada e dançada na década de 60, no Brasil, a dessa cantora de tantos outros sucessos à época.
Gravações instrumentais da mesma melodia também foram realizadas, destacando-se, evidentemente, as interpretadas pelas orquestras dos dois próprios compositores. De fato, Franck Pourcel iniciou a vitoriosa carreira da canção, como peça instrumental, no mesmo ano de 1961 e a colocou na quinta posição, aparecendo no LP de lançamento europeu “Amour Danse e Violons No 17”.
Paul Mauriat somente a gravou, com sua orquestra, no ano de 1976, no álbum “Paul Mauriat Plays the Hits of 1976”, usando um “Moog Synthesizer”.
Finalmente, no ano de 1992, a canção foi apresentada, com proeminência, no filme “Sister Act” (Mudança de Hábito), em que estrelou Whoppi Golberg, quando executada pelo coro das freiras, numa homenagem ao Papa.
Como incondicional admirador que sou, das duas orquestras mencionadas, sinto-me na obrigação de colocar, como fecho ao meu artigo, uma curta biografia dos dois grandes músicos franceses, Franck Pourcel e Paul Mauriat, aqui realçados como compositores da sua canção título. Para não tornar ainda mais longa essa postagem, clique nos "links" correspondentes, acima ou abaixo, para conhecer algo da vida desses ilustres músicos franceses.


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BILITIS

INTRODUÇÃO

O objetivo da postagem é a canção intitulada “Bilitis”, mais uma das minhas grandes preferidas. Entretanto, como se trata de trilha sonora de um filme, que por sua vez foi baseado num livro, sou obrigado, para bem informar o leitor, a abordar as três matérias.
Não sei se já escrevi em alguma de minhas postagens, mas li, em alguma publicação que tratava de música clássica, que se os grandes compositores clássicos fossem vivos, eles comporiam trilhas sonoras para cinema. Nunca esqueci disso e conheci muitas músicas lindas, que realmente me tocavam, que foram especificamente criadas para o cinema. Esta é apenas mais uma delas.

O FILME

O filme “Bilitis”, de 1977, é um drama romântico e erótico francês, dirigido pelo fotógrafo David Hamilton, com trilha sonora do mais que mundialmente conhecido Francis Lai, autor de, entre outras, “Love Story”, “Un Homme et une Femme” e “Vivre pour vivre”. São estrelas do filme, Patricia (Patti) D’Arbanville e Mona Kristensen, repectivamente nos papeis título Bilitis e Melissa.
No enredo, uma estudante adolescente (Bilitis) é aluna de uma escola só para meninas que está prestes a iniciar a interrupção para as férias de verão. Durante essas férias, Bilitis vê-se às voltas com sua sexualidade em desenvolvimento e inicia um relacionamento com um casal cujo casamento é já inamistoso, desenvolvendo uma intensa paixão lésbica pela esposa, sua guardiã. Ao mesmo tempo ela busca relações amorosas com um adolescente local (Lucas) e procura encontrar um adequado amante masculino para a esposa.
Embora “Bilitis” possa ser descrito como um filme com personagens que estão por atingir a idade adulta, a personagem do título, Bilitis, acaba por retornar à escola ao final do filme, percebendo que ainda não está pronta para tornar-se adulta.
Esse filme de 1977, é uma versão a cores do mesmo filme feito na França em 1959 que está, há muitos anos, sem possibilidades de cópia.
O filme é livremente baseado num livro de poemas de Pierre Louÿs, chamado “As Canções de Bilitis” (Les Chansons de Bilitis), encenado na antiga Grécia, embora o filme aconteça na moderna Europa.

O LIVRO

Ilustração de George Barbier para o
livro "Les Chansons de Bilitis" 
O livro “As Canções de Bilitis” (Les Chansons de Bilitis) é uma coleção de poemas eróticos, essencialmente lésbicos, pelo poeta francês Pierre Louÿs, publicado em Paris em 1894. Propositalmente, Louÿs alegou que havia traduzido a poesia original do grego antigo quando, na verdade, os poemas foram inteligentes fábulas criadas por ele mesmo e são, ainda hoje, considerados importante literatura.
Pierre Louÿs, nascido Pierre Félix Louis, foi um poeta e escritor francês, nascido em 10 de dezembro de 1870, em Ghent, Bélgica, mas relocado para França onde viveu o resto da sua vida, principalmente renomado por temas lésbicos e clássicos em alguns dos seus escritos. Conhecido como o escritor que procurou “expressar a sensualidade pagã com perfeição estilística”, foi inicialmente feito Cavaleiro e então Oficial da Legião de Honra, por suas contribuições à literatura francesa.
Estudou na École Alsacienne, em Paris, onde desenvolveu uma boa amizade com o futuro vencedor do Prêmio Nobel e campeão dos direitos homosexuais, André Gide. A partir de 1890 passou a escrever seu nome como “Louÿs” como forma de expressar seu apego à cultura grega clássica (a letra “Y”, em francês, é chamada de “i grega”). Durante os anos 1890’s tornou-se amigo do dramaturgo irlandês homosexual Oscar Wilde e foi o dedicado da edição francesa do “Salomé” de Oscar Wilde. Outro importante amigo de Louÿs, o compositor clássico Claude Debussy, compôs uma adaptação musical de três dos poemas de seu “Chansons de Bilitis” para voz e piano, entre 1897 e 1898. 

Retrato de Pierre Louÿs
Os poemas seguem o estilo de Sappho [1] e a introdução da coletânea alega que os poemas foram encontrados nas paredes de uma tumba em Chipre, escritos por uma mulher da Grécia antiga, chamada Bilitis. Era uma cortesã contemporânea de Sappho, a quem Louÿs, para emprestar credibilidade à falsificação, dedica uma pequena seção do livro, chamada “A Vida de Bilitis”, creditando a um arqueólogo alemão ficcional a descoberta da tumba de Bilitis. Quando de sua publicação, o livro iludiu até mesmo grandes estudiosos do assunto.

A MÚSICA

A música conhecida por “Bilitis” é, na verdade, uma das composições da maravilhosa trilha sonora do filme, chamada “Générique”, toda composta por Francis Lai, um dos mais importantes compositores de trilhas sonoras do mundo.
Fotografia de Francis Lai em 1972
Francis Albert Lai foi um compositor francês, de Nice, nascido em 26 de abril de 1932, exaltado por suas trilhas sonoras para o cinema. Filho de jardineiros que plantavam para venda de mercado, desde tenra idade foi fascinado pela música, inicialmente tocando em suas orquestras regionais. Em Marseille ele descobriu o jazz e se encontrou com Claude Goaty, um cantor de canções populares dos anos 1950’. Em seus vinte anos, Lai deixou o seu lar acompanhando Goaty a Paris, onde tornou-se parte do vivo cenário musical de Montmartre. Com Bernard Dimey escreveu sua primeira composição, numa parceria que renderia mais de cem músicas. Após um curto período com a orquestra de Michel Magne, tornou-se um acompanhador para Édith Piaf, para quem também acabaria compondo.
Em 1965 ele conheceu o diretor Claude Lelouch e foi contratado para a trilha sonora para o filme “Um Homme et une Femme” (Um Homem e uma Mulher), liberado em 1966, um sucesso internacional que lhe rendeu uma indicação para “Melhor Trilha Sonora Original”. Continuou a trabalhar com Lelouch em trilhas sonoras de filmes como “Vivre pour Vivre” (1967), “Un Homme qui me plait” (1969), “Le Voyou” (1970), “O Passageiro da Chuva” (1970) e “La Bonne Anné” (1973), para citar alguns. Em 1970, ainda, Lai venceu o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original e o Globo de Ouro para o filme “Love Story”. Em 1975 compôs a trilha sonora de “Emmanuelle” e em 1977 para “Bilitis. Numa carreira que durou mais de 40 anos, Lai também escreveu música para programas de TV e em colaboração com outros, compôs música para mais de cem filmes, pessoalmente escrevendo mais de 600 canções.
Francis Lai morreu em 7 de novembro de 2018, com a idade de 86 anos.
Há um álbum com a trilha sonora completa do filme, chamado “Bilitis – Música por Francis Lai”, que nos agracia com todas as partes que a compõem e nos permite observar que a melodia de “Bilitis” (Générique), como geralmente acontece, permeia várias das suas componentes.
Existem algumas versões diferentes de Bilitis, e eu gostaria de apresentar três delas, que considero indispensáveis à nossa postagem. Procurei muito e não encontrei qualquer versão letrada; creio mesmo que, em se tratando de trilha sonora e de um filme com tal história, seja natural que Francis Lai a tenha composto, propositalmente, sem letra.
Por questão de mérito, gostaria que a primeira delas fosse a “Bilitis” (Générique) que abre a trilha sonora original do filme, primeira música do álbum com a trilha sonora completa do filme, “Générique (de Bilitis)”.
Considerando que a composição não tenha letra, gostaria de apresentar a versão, não cantada, mas murmurada, por uma das minhas cantoras favoritas, Sarah Brightman. É uma inovação que vale à pena degustar.
E a terceira versão que eu gostaria de apresentar, para o deleite dos leitores, é a gravação com a orquestra de Franck Pourcel, mundialmente conhecida e uma das minhas preferidas.
Espero que os leitores apreciem a música escolhida para esta postagem, mais uma composição de Francis Lai, com toda a delicadeza que o filme exigiria.


[1] Sappho foi um poeta grego antigo de Eresos ou Mytilene, na ilha de Lesbos, conhecido por sua poesia lírica, escrita para ser cantada acompanhada por música. Nos tempos antigos, Sappho foi amplamente visto como um dos maiores poetas líricos.

2 comentários:

Wagner ( xina ) disse...

Nelson Azambuja,
Não sei como vim parar aqui na sua pagina (blogger), mas o fato é que a sua definição pra "MUSICAS PREFERIDAS " era a explicação que eu procurava a muito tempo, assim como o Glenn Miller procurava a sua assinatura musical que o destino lhe apresentou quando um musico da sua orquestra que tocava trompete e, em um ensaio, feriu o lábio e um outro que tocava sax o substitui lendo a mesma partitura , só que pra instrumentos diferentes . ( Essa foi a explicação do Glenn Miller no filme Musica e Lágrimas.) E foi aí que ele descobriu o som que ele tanto procurava.
Coincidentemente as musicas que você diz ter predileção , também são as minhas preferidas e todas com uma historia agregada como :
* Monnlight Serenade .. ... .. Glenn Miller
* Adios ........... Glenn Miller
* CUANDO VUELVA A TU LADO...... RAY CONNIFF & BILLY BUTTERFIELD
* WHAT DIFFERENCE A DAY MAKES... DINAH WASHINGTON
* ANONIMO VENEZIANO ............ TONY RENIS / FRED BONGUSTO

OU SEJA , VOCE LEU O MEU PENSAMENTO E PUBLICOU ESSA DEFINIÇÃO de " MUSICAS PREFERIDAS " ANTES DE MIM, MAS PELO SEU BOM GOSTO MUSICAL QUE " BATE" COM O MEU , TÁ PERDOADO ... ( rs..)

e atrevido que sou , como diria o Helio Ribeiro , meu ídolo do radio e o maior comunicador de todos os tempos , vou por essa definição de musicas no meu blog com o devido credito , se você assim o permitir.
meu blog >> http://blogdowagnerxina.blogspot.com.br/2015_02_01_archive.html

Parabens pelo Blog e pode contar com mais um seguidor
Wagner ( xina )

Nelson Azambuja disse...

Prezado Wagner (Xina):
Foi, realmente, com muito prazer que recebi o seu comentário. De repente, mesmo que por pouco tempo, deixei de me sentir como un dinossauro, por gostar de boas músicas.
Antes de qualquer coisa, já andei visitando o seu "Blog", que faz muito o meu gênero.
Alguns pequenos comentários sobre o teu comentário. Primeiro, sinta-se totalmente à vontade de usar coisas que eu tenha escrito; será sempre uma honra. Meu "Blog", do qual não faço propaganda nem para os meus parentes, tem como objetivo primeiro, o meu próprio prazer e é assim que sou. Se outras pessoas visitarem e gostarem das coisas que lá coloco, ficarei sempre muito feliz. Outra coisa que deve ter percebido, é que a música, embora dos meus mais importantes prazeres, constitui apenas uma das páginas do meu "blog". De longe, dedico a maior parte do meu tempo às postagens sobre vários outros assuntos, que se encontram na Página Inicial; bem que eu gostaria de dedicar mais tempo às músicas.
Um pequena retificação: sobre a música "Adiós", uma das interpretações que disponibilizei, foi com a Orquestra do Mantovani, e não com a orquestra do Glenn Miller que, claro, adoro também. Apenas faço o reparo porque a interpretação dessa música com a orquestra do Mantovani é algo único.
Obrigado pelos cumprimentos. Novamente, muito feliz por tê-lo como seguidor.
Grande abraço,
Nelson.