A HISTÓRIA DE ARTHUR E SEUS CAVALHEIROS (2)
Como introdução a este “post”, para reavivar a lembrança dos nossos leitores, apresentaremos um breve resumo do que aconteceu até aqui.
Os britons (bretões), povo de origem celta, habitantes da Britain (Bretanha), viviam em tribos rivais entre si, liderados por um chefe ou rei. Por sua falta de unidade política, essa população celta sofreu conquistas sucessivas.
Os britons (bretões), povo de origem celta, habitantes da Britain (Bretanha), viviam em tribos rivais entre si, liderados por um chefe ou rei. Por sua falta de unidade política, essa população celta sofreu conquistas sucessivas.
No século I foram invadidos pelos romanos, que pouco interferiram na cultura celta, mas protegeram os bretões de outros atacantes, apesar de terem perseguido os druidas.
Com o fim da dominação romana, no início do Século V, os bretões passaram a sofrer ataques de outros povos que pretendiam conquistar a Ilha: Scots (da Ireland), Picts (da Scotland) – povos também de origem celta com os quais os bretões sempre estiveram em conflito - e os Anglo-Saxon que conseguiram dominar a Bretanha no Século VI.
No Século XI viria a ocorrer a invasão Norman (Normanda), a última em grande escala que acometeria a Ilha.
A fonte latina mais antiga sobre os bretões (540 DC) é a obra “De Excidio et Conquestu Britanniae” - “Sobre a Destruição e Conquista da Bretanha” -, do clérigo bretão Gildas, cujo objetivo principal foi chamar a atenção para os pecados morais do povo, razão principal da sua decadência. O autor menciona a vitória dos bretões no Monte Badon, contra os anglo-saxon, atribuindo-a ao descendente de romanos Aurelius Ambrosius, sem mencionar uma só vez o nome de Arthur.
A “Historia Ecclesiastica Gentis Anglorum” – “História Eclesiástica da Nação Inglesa” -, (731 DC), do monge saxon nascido na Bretanha, o Venerável Bede, exerceu grande influência por toda a Idade Média, mas também nunca mencionou o nome de Arthur.
A “Historia Brittonum” (História da Britain), cerca de 800 DC, do historiador Nennius, foi a primeira fonte latina a mencionar o nome de Arthur, apresentado com “dux bellorum” (senhor das guerras). Segundo Nennius, Aurelius Ambrosius, enquanto ainda jovem, teria tido com Vortigern um encontro e aí lhe teria revelado seu nome e também ser filho de um Cônsul Romano (certamente Constantine, também pai de Constans e Uther Pendragon, futuro pai de Arthur). Também a morte de Vortigern e a morte de Vortimer, seu irmão, são narradas por Nennius. Logo em seguida, surge a figura de Aurelius Ambrosius já adulto e denominado de Grande Rei entre os Reis da Britain. E surge, finalmente, a figura de Arthur e Nennius narra, de imediato, as doze batalhas contra os saxões vencidas pelos bretões sob o seu comando, culminando com a Batalha de Monte Badon - um lugar talvez em Sussex ou, possivelmente, próximo de Bath, embora haja muitos candidatos à sua localização -, batalha que teria retardado o avanço Saxon por meio século, pelo menos. Nennius nada comenta sobre a morte de Arthur.
Com o fim da dominação romana, no início do Século V, os bretões passaram a sofrer ataques de outros povos que pretendiam conquistar a Ilha: Scots (da Ireland), Picts (da Scotland) – povos também de origem celta com os quais os bretões sempre estiveram em conflito - e os Anglo-Saxon que conseguiram dominar a Bretanha no Século VI.
No Século XI viria a ocorrer a invasão Norman (Normanda), a última em grande escala que acometeria a Ilha.
A fonte latina mais antiga sobre os bretões (540 DC) é a obra “De Excidio et Conquestu Britanniae” - “Sobre a Destruição e Conquista da Bretanha” -, do clérigo bretão Gildas, cujo objetivo principal foi chamar a atenção para os pecados morais do povo, razão principal da sua decadência. O autor menciona a vitória dos bretões no Monte Badon, contra os anglo-saxon, atribuindo-a ao descendente de romanos Aurelius Ambrosius, sem mencionar uma só vez o nome de Arthur.
A “Historia Ecclesiastica Gentis Anglorum” – “História Eclesiástica da Nação Inglesa” -, (731 DC), do monge saxon nascido na Bretanha, o Venerável Bede, exerceu grande influência por toda a Idade Média, mas também nunca mencionou o nome de Arthur.
A “Historia Brittonum” (História da Britain), cerca de 800 DC, do historiador Nennius, foi a primeira fonte latina a mencionar o nome de Arthur, apresentado com “dux bellorum” (senhor das guerras). Segundo Nennius, Aurelius Ambrosius, enquanto ainda jovem, teria tido com Vortigern um encontro e aí lhe teria revelado seu nome e também ser filho de um Cônsul Romano (certamente Constantine, também pai de Constans e Uther Pendragon, futuro pai de Arthur). Também a morte de Vortigern e a morte de Vortimer, seu irmão, são narradas por Nennius. Logo em seguida, surge a figura de Aurelius Ambrosius já adulto e denominado de Grande Rei entre os Reis da Britain. E surge, finalmente, a figura de Arthur e Nennius narra, de imediato, as doze batalhas contra os saxões vencidas pelos bretões sob o seu comando, culminando com a Batalha de Monte Badon - um lugar talvez em Sussex ou, possivelmente, próximo de Bath, embora haja muitos candidatos à sua localização -, batalha que teria retardado o avanço Saxon por meio século, pelo menos. Nennius nada comenta sobre a morte de Arthur.
Solsburi Hill, um Forte de Colina da idade do Bronze e uma das possíveis localizações da Batalha de Monte Badon, segundo Gildas e Nennius, condado de Somerset |
Condado de Somerset na England |
A “Anglo Saxon-Chronicle” – Crônica Anglo Saxon – foi originalmente compilada sob as ordens do Rei Alfred, o Grande, cerca de 890 DC e subsequentemente mantida por gerações de escrivães anônimos até meados do Século XII, na língua Anglo-Saxon (Old English). Considerada como um todo, a Chronicle é a fonte histórica mais importante para o período da England entre a partida dos Romanos e as décadas que se seguiram à conquista Normanda, sendo que a maior parte da informação nela fornecida não é registrada em qualquer outro lugar. Infelizmente, a Chronicle, em lugar algum faz qualquer referência ao nome de Arthur, visto que o seu objetivo principal era exaltar os feitos Anglo-Saxon.
Por volta de 950 DC, os “Annales Cambriae” (para quem tiver maior interesse, seguir o link) confirmam as vitórias de Arthur e afirmam que Arthur e Mordred teriam morrido na Batalha de Camlan. É a primeira menção do que se tornará mais tarde a última batalha entre Arthur e Mordred, sem que se saiba se, para os autores dos “Annnales Cambriae”, os dois eram adversários e mataram um ao outro, como contará Geoffrey de Monmouth, ou se morreram lutando juntos.
Somerset onde se encontra Solsbury Hill, na Vila de Batheaston, próximo a Bath |
A obra de William of Malmesbury (siga o link para uma curta biografia), “Gesta Regum Anglorum” – “Os Feitos dos Reis dos English” – também apresenta Arthur como o guerreiro vencedor da batalha de Monte Badon. Menciona o túmulo de Walwen (Sir Gawain), sobrinho de Arthur, mas diz que o seu túmulo não foi encontrado e escreve, literalmente: “como o túmulo de Arthur não é encontrado em lugar algum, as velhas lendas dizem que ele voltará”. À época em que William escrevia a sua Gesta, cerca de 1125 DC, havia uma grande quantidade de contos Arthurianos sendo oralmente espalhados por todo o país. William menciona o fato e, bem mais sensatamente, simplesmente os descarta como puro mito. O trabalho de William é provavelmente a primeira vez em que os contos Arthurianos foram reunidos e a última vez em que o folclore foi separado do que era então aceito como fato histórico. A Gesta identifica Arthur na ajuda a Ambrosius Aurelianus na luta contra os Anglo-Saxons e refere ao seu triunfo na batalha de Monte Badon, onde Arthur portava a imagem da Virgem Maria por toda a batalha. Como William não menciona Camlann, suspeita-se que ele não tenha consultado os Annales Cambriae, seu contemporâneo, ao passo que Geoffrey certamente o fez.
A obra que realmente favoreceu a difusão das lendas Arthurianas na Europa Ocidental, foi a “Historia Regum Britanniae” – História dos Reis da Britain - (escrita entre 1135 e 1138), do clérigo Geoffrey of Monmouth. Na verdade o texto mistura ficção com história, mas cita as obras de Gildas, Bede e Nennius. O objetivo maior da obra foi a exaltação dos “britons”, criando uma genealogia que exaltasse e legitimasse a nobreza British , identificando-a à Normanda, como sua continuadora, através do seu representante mais legítimo que seria Arthur. Esse personagem briton portava elementos pagãos e cristãos: uma espada – Caliburn (Excalibur) –, forjada no outro mundo, e um escudo – Pridwen – a quem sempre apelava nas batalhas, contendo a imagem da Virgem Maria. Até então invencível, Arthur é mortalmente ferido por seu sobrinho Mordred – que é morto por ele – indo à Ilha de Avalon para curar seus ferimentos. A “História dos Reis da Britain” é composta por doze Livros. Do Livro VIII ao Livro XI, Geoffrey faz um relato completo sobre Aurelius Ambrosius, a continuação do seu reinado sob seu irmão Uther Pendragon e o nascimento de Arthur e sua irmã Anne, de Uther Pendragon e sua esposa Igerna. Aqui ele relata um episódio interessante sobre como Uther teria se apaixonado por Igerna, esposa de Garlois, Duque da Cornwall, e como sendo impossível concretizar seus desejos por ela, Merlin o teria transformado, por mágica, à semelhança de Garlois e assim ele teria feito amor com Igerna, de onde teria nascido Arthur e Anne. Posteriormente, com a morte de Garlois, Uther se casaria com Igerna. Geoffrey também relata como Arthur teria sucedido a Uther Pendragon, com a idade de apenas 15 anos, mas “uma juventude com coragem e generosidade tão sem paralelo, unida com uma tal doçura de temperamento e bondade inata, que lhe granjearam um amor universal”.
A obra de Geoffrey of Monmouth também cita, textualmente, a Ilha de Avalon e a espada Excalibur (Caliburn): “E então, cingindo sua Caliburn, que era uma espada excelente, feita na Ilha de Avalon, ele agraciou seu braço direito com sua lança, que era forte, longa e adequada para matar”. Além disso, em certo ponto de sua narrativa menciona também as figuras de Mordred e de Guinevere (Guanhumara). Mordred como sendo seu primo, filho de Aurelius Ambrosius, a quem teria deixado encarregado do governo do reino quando seguindo para uma de suas batalhas, e Guanhumara com sendo a sua esposa descendente de uma nobre família de romanos, educada pelo Duque Cador e considerada como de uma beleza não ultrapassada por nenhuma outra mulher. Mais tarde ele demonstraria os desencontros de Arthur com Mordred, através do texto: “Mas no início do verão seguinte, quando seguia para sua marcha contra Roma, iniciando a passagem pelos Alpes, Arthur teve notícias de que seu sobrinho Mordred, sob cujo cuidado havia deixado a Britain, havia, por práticas tirânicas e traiçoeiras, colocado a sua coroa sobre a sua própria cabeça, e que a rainha Guanhumara, violando seu primeiro casamento havia, pecaminosamente, se casado com ele.
Todas as conquistas de Arthur, que incluem Iceland, Dinamarca, França e uma guerra prolongada contra os romanos, da qual sai vencedor, são então detalhadamente narradas, até a sua luta contra Mordred, em que o mata, mas é por ele ferido mortalmente, sendo transportado à Ilha de Avalon para ser curado de suas feridas. E transfere o controle do seu reino a Constantine, Duque da Cornwall, no ano de 542 DC.
A obra que realmente favoreceu a difusão das lendas Arthurianas na Europa Ocidental, foi a “Historia Regum Britanniae” – História dos Reis da Britain - (escrita entre 1135 e 1138), do clérigo Geoffrey of Monmouth. Na verdade o texto mistura ficção com história, mas cita as obras de Gildas, Bede e Nennius. O objetivo maior da obra foi a exaltação dos “britons”, criando uma genealogia que exaltasse e legitimasse a nobreza British , identificando-a à Normanda, como sua continuadora, através do seu representante mais legítimo que seria Arthur. Esse personagem briton portava elementos pagãos e cristãos: uma espada – Caliburn (Excalibur) –, forjada no outro mundo, e um escudo – Pridwen – a quem sempre apelava nas batalhas, contendo a imagem da Virgem Maria. Até então invencível, Arthur é mortalmente ferido por seu sobrinho Mordred – que é morto por ele – indo à Ilha de Avalon para curar seus ferimentos. A “História dos Reis da Britain” é composta por doze Livros. Do Livro VIII ao Livro XI, Geoffrey faz um relato completo sobre Aurelius Ambrosius, a continuação do seu reinado sob seu irmão Uther Pendragon e o nascimento de Arthur e sua irmã Anne, de Uther Pendragon e sua esposa Igerna. Aqui ele relata um episódio interessante sobre como Uther teria se apaixonado por Igerna, esposa de Garlois, Duque da Cornwall, e como sendo impossível concretizar seus desejos por ela, Merlin o teria transformado, por mágica, à semelhança de Garlois e assim ele teria feito amor com Igerna, de onde teria nascido Arthur e Anne. Posteriormente, com a morte de Garlois, Uther se casaria com Igerna. Geoffrey também relata como Arthur teria sucedido a Uther Pendragon, com a idade de apenas 15 anos, mas “uma juventude com coragem e generosidade tão sem paralelo, unida com uma tal doçura de temperamento e bondade inata, que lhe granjearam um amor universal”.
A obra de Geoffrey of Monmouth também cita, textualmente, a Ilha de Avalon e a espada Excalibur (Caliburn): “E então, cingindo sua Caliburn, que era uma espada excelente, feita na Ilha de Avalon, ele agraciou seu braço direito com sua lança, que era forte, longa e adequada para matar”. Além disso, em certo ponto de sua narrativa menciona também as figuras de Mordred e de Guinevere (Guanhumara). Mordred como sendo seu primo, filho de Aurelius Ambrosius, a quem teria deixado encarregado do governo do reino quando seguindo para uma de suas batalhas, e Guanhumara com sendo a sua esposa descendente de uma nobre família de romanos, educada pelo Duque Cador e considerada como de uma beleza não ultrapassada por nenhuma outra mulher. Mais tarde ele demonstraria os desencontros de Arthur com Mordred, através do texto: “Mas no início do verão seguinte, quando seguia para sua marcha contra Roma, iniciando a passagem pelos Alpes, Arthur teve notícias de que seu sobrinho Mordred, sob cujo cuidado havia deixado a Britain, havia, por práticas tirânicas e traiçoeiras, colocado a sua coroa sobre a sua própria cabeça, e que a rainha Guanhumara, violando seu primeiro casamento havia, pecaminosamente, se casado com ele.
Todas as conquistas de Arthur, que incluem Iceland, Dinamarca, França e uma guerra prolongada contra os romanos, da qual sai vencedor, são então detalhadamente narradas, até a sua luta contra Mordred, em que o mata, mas é por ele ferido mortalmente, sendo transportado à Ilha de Avalon para ser curado de suas feridas. E transfere o controle do seu reino a Constantine, Duque da Cornwall, no ano de 542 DC.
O primeiro dos trabalhos de Monmouth foi “As Profecias de Merlin”, que apareceu, primeiro, independentemente, e depois incorporado à “História dos Reis da Britain”. Essa obra consistiu, basicamente, de uma série de obscuras declarações proféticas atribuídas a Merlin, segundo ele, traduzida de língua não especificada. A sua “História” é o primeiro trabalho que apresenta uma ligação entre Merlin e o Rei Arthur. Monmouth ainda teria escrito outra obra, intitulada “A Vida de Merlin”, também composta em latim, em torno do ano 1150 DC, em que ele reconta incidentes da vida do mago bretão, baseada em material tradicional. No texto, Merlin é descrito como um profeta, muito mais fiel às tradições Welsh sobre Myrddin Wilt, o original que teria inspirado a complexa figura de Merlin criada por Monmouth; e o trabalho é o primeiro a apresentar a feiticeira Arthuriana, Morgan le Fay, como Morgana.
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