III – A MÚSICA
INCIDENTAL
III.1 – O
COMPOSITOR
Edvard Grieg, compositor de Peer Gynt |
Edvard
Hagerup Grieg (15/06/1843 – 04/09/1907), compositor e pianista norueguês, nascido
de Alexander Grieg (1806-1875), mercador e vice cônsul em Bergen e Gesine
Judithe Hagerup (1814-1875), professora de música, é considerado um dos
principais compositores da era Romântica. Seu uso e desenvolvimento da música
folclórica norueguesa em suas composições, colocou a música da Noruega no
espectro internacional, muito ajudando a desenvolver sua identidade nacional.
Grieg é simultaneamente visto, em sua orientação, como nacionalista e
cosmopolita, pois embora nascido em Bergen e lá enterrado, viajou por toda a
Europa, considerando que sua música expressava a beleza da vida rural
norueguesa e a cultura da Europa como um todo. Grieg é a mais celebrada das
pessoas de Bergen, com numerosas estátuas e muitas entidades culturais com o
seu nome: o maior edifício da cidade (Grieg Hall), sua mais avançada escola de
música (Academia Grieg), seu coro profissional (Coro Edvard Grieg) e muitas
empresas privadas, que incluem o maior hotel (Quality Hotel Edvard Grieg). O
Museu Edvard Grieg, em Troldhaugen (primeiro lar de Grieg em Bergen) é dedicado
ao seu legado.
Vistas de Bergen, de cima para baixo: Centro da Cidade; Cidade Velha; Gamlehaugen; Praça da Cidade; Bryggen |
Grieg
foi criado em ambiente musical tendo sua mãe como primeira professora de piano,
aos seis anos de idade. Posteriormente, estudou em várias escolas norueguesas
de música. No verão de 1858, Grieg encontrou-se com o eminente violinista
norueguês, Ole Bull, um amigo da família, que reconheceu o talento do menino de
15 anos e persuadiu seus pais a enviá-lo para o Conservatório de Leipzig, onde
matriculou-se concentrando-se no piano e assistindo os vários concertos e
recitais dados em Leipzig. Na primavera de 1860 ele sobreviveu a uma pleurisia
e tuberculose, tendo por toda a sua vida a saúde prejudicada pelo pulmão
esquerdo destruído e uma deformidade considerável da sua espinha torácica. Em
consequência disso sofreu inúmeras infecções respiratórias que depois se
combinaram com uma deficiência cardíaca, o que o levou várias vezes a águas
termais e sanatórios na Noruega e no exterior, com vários de seus médicos
tornando-se amigos pessoais. Fez sua estreia como pianista concertista em
Karlshamn, Suécia. Em 1862 encerrou seus estudos em Leipzig e deu seu primeiro
concerto em Bergen, incluindo a “Sonata Patética”, de Beethoven, em seu programa.
Em 1863 foi a Copenhagen, Dinamarca, onde permaneceu por três anos, encontrando
famosos compositores dinamarqueses e seu colega norueguês Rikard Nordraak,
compositor do hino nacional da Noruega, que tornou-se seu amigo e fonte de
inspiração. Grieg compôs uma marcha fúnebre em sua homenagem, quando Nordraak
morreu, em 1866. Em 11 de junho de 1867, Grieg desposou sua prima Nina Hagerup,
uma soprano lírica, com quem teve sua única filha Alexandra, falecida em 1869, de
meningite. No verão de 1868 escreveu seu “Concerto para Piano em Lá Menor”,
enquanto de férias na Dinamarca, apresentado por Edmund Neupert, em 3 de abril
de 1869, no Teatro Casino de Copenhagen. Em 1868, Franz Liszt, que ainda não
havia conhecido Grieg, escreveu-lhe um testemunho ao Ministro da Educação da
Noruega, que lhe valeu uma bolsa de viagem e, posteriormente, uma pensão. Os
dois encontraram-se em Roma, em 1870, e na primeira visita tocaram a “Sonata
para Violino No 1”, de Grieg, que encantou Liszt; no segundo
encontro Grieg levou-lhe seu Concerto para Piano que Liszt interpretou à
primeira vista. Entre 1874 e 1876, Grieg compôs música incidental para a
première da peça de Henrik Ibsen, “Peer Gynt”, a pedido do autor. Entre 1880 e
1882 foi Diretor de Música da Orquestra Filarmônica de Bergen. Em 1888 foi
apresentado a Tchaikovsky, em Leipzig – que louvou a beleza, originalidade e
calor da sua música - e ficou chocado com a sua aparente tristeza. Grieg
recebeu dois doutorados de honra: um em 1894, pela Universidade de Cambridge e
outro em 1906, pela Universidade de Oxford.
O museu de Edvard Grieg, em Troldhaugen |
Grieg
morreu no Hospital Municipal de Bergen, ao final do verão de 1907, com 64 anos,
de um ataque cardíaco, após um longo período enfermo. Seu funeral reuniu entre
trinta e quarenta mil pessoas pelas ruas da sua cidade natal, para honrá-lo. A
seu pedido foi executada a sua marcha fúnebre em honra de Nordraak e, em
seguida, o movimento da Marcha Fúnebre da “Sonata No 2 para Piano”,
de Chopin. Grieg foi cremado e suas cinzas enterradas numa cripta de montanha
próxima de sua casa, em Troldhaugen. As cinzas de sua esposa Nina foram,
posteriormente, colocadas junto às dele.
Alguns
dos primeiros trabalhos de Grieg incluem uma sinfonia, uma sonata para piano,
três sonatas para violino e uma sonata para violoncelo. A Suite Holberg,
originalmente escrita para piano, foi posteriormente arranjada para orquestra
de cordas. Grieg escreveu canções em que colocou letras dos poetas Heinrich
Heine, Johann Wolfgang Goethe, Henrik Ibsen, Hans Christian Andersen, Rudyard
Kipling e outros.
III.2 – A
COMPOSIÇÃO
Antes
de mais nada, vamos conceituar a “música incidental”, termo que pode não ser
conhecido de todos, malgrado sua importância histórica.
De
uma forma geral, música incidental é a música tocada em uma peça, programa de
televisão, programa de rádio, vídeo game, filme ou qualquer outra forma de
apresentação que não seja primariamente musical. O termo é menos frequentemente
aplicado a filmes, quando tal música recebe o nome de “partitura do filme”
(film score) ou trilha sonora (soundrack). A música incidental é muitas vezes
música de fundo e pretende adicionar atmosfera à ação. Pode tomar a forma de
algo tão simples como um som baixo e agourento que sugere um evento assustador
iminente ou para acentuar a descrição da sequência do avanço de uma história.
Pode também incluir peças como aberturas, música tocada durante trocas de cenas
ou ao final de um ato, imediatamente precedendo um interlúdio, como usual com
várias peças do século XIX. Podem também ser necessária em peças que possuem
músicos se apresentando no palco. O uso da música incidental retroage ao tempo
do drama grego e vários compositores clássicos escreveram música incidental
para várias peças, os mais famosos exemplos incluindo Beethoven (Egmont),
Schubert (Rosamunde), Mendelssohn (Sonho de uma Noite de Verão), Bizet (A
Arlesiana) e ... Grieg (Peer Gynt). Partes de todas elas são executadas em
concertos fora do contexto da peça. Música incidental vocal, incluída nas
partituras clássicas acima mencionadas, nunca deve ser confundida com a
partitura de um musical da Broadway ou filme, em que as músicas muitas vezes
revelam um personagem ou favorecem a linha da narração e que, de fato, fazem do
trabalho um musical, sendo muito mais importantes do que uma música incidental.
O
Peer Gynt, opus 23, de Edvard Grieg, escrita em 1875, é a música incidental
composta para a peça de 1867, de mesmo nome, de Henrik Ibsen. Ela foi
apresentada pela primeira vez, junto com a peça, em 24 de fevereiro de 1876, no
Christiania Teater, em Christiania (hoje Oslo).
Henrik Klausen interpretando Peer Gynt, em sua estreia em 1876 |
Quando
Ibsen pediu a Grieg para escrever música para a peça, em 1874, este concordou
entusiasticamente; contudo, a missão foi muito difícil para Grieg do que ele
poderia ter imaginado. Dele e do seu trabalho, escreveu sua esposa um dia:
“Quanto mais ele saturava sua mente com o poderoso poema, mais claramente ele
via que era o homem certo para um trabalho de tal encanto e tão permeado pelo
espírito norueguês”.
Embora
a estreia tenha sido um triunfante sucesso, Grieg queixou-se amargamente de que
o gerente sueco do teatro lhe havia dado especificações quanto à duração de
cada número e sua ordem. “Eu tive então que fazer ‘uma colcha de retalhos’ ...
De forma alguma eu pude escrever o que queria ... Daí a brevidade das peças”,
teria dito ele.
A
partitura original contém 28 movimentos, com melodias e peças de coral e foi
considerada como perdida até 1980:
COMPOSIÇÃO
ORIGINAL
Ato
I
1 1 - Prelúdio:
No Casamento.
2 2 - A
Passagem da Procissão do Casamento Norueguês.
3 3 - A
Entrada e a Dança da Primavera
Ato
II
4 4 - Prelúdio:
O Rapto da Noiva / Peer e Ingrid.
5 5 - Peer
Gynt e as Garotas do Povo.
6 6 - Peer
Gynt e a Mulher de Verde.
7 7 - Grandes
Pessoas Podem Ser Conhecidas Pelos Montes.
8 8 - Na
Mansão do Rei da Montanha
9 9 - Dança
da Filha do Rei da Montanha
1 10 - Peer Gynt Caçado
pelos Trolls
1 11 - Peer Gynt e o Boyg
Ato
III
1 12 - Prelúdio:
Profundamente dentro da Floresta de Pinheiros.
1 13 - A Canção de
Solveig.
1 14 - A Morte de Ase.
Ato
IV
1 15 - Prelúdio: Humor
Matinal.
1 16 - O Ladrão e o
Receptor.
1 17 - Dança Árabe.
1 18 - A Dança de Anitra.
1 19 - A Serenata de Peer
Gynt.
2 20 - Peer Gynt e
Anitra.
2 21 - A Canção de
Solveig.
2 22 - Peer Gynt na
Estátua de Memnon.
Ato
V
2 23 - Prelúdio: A Volta
ao Lar de Peer Gynt. Anoitecer com Tempestade no Mar.
2 24 - Naufrágio.
2 25 - Solveig Canta na
Choupana.
2 26 - Cena Noturna.
2 27 - Hino Pentecostal.
2 28 - A Canção de Ninar
de Solveig
Mais
tarde, em 1888 e 1891, Grieg extraiu oito movimentos para fazer duas Suites: a
Suite No 1, Opus 46 e a Suite No 2, Opus 55. Por muitos
anos, as suítes foram as únicas partes disponíveis da música, já que a
partitura original só foi publicada em 1908, um ano após a morte de Grieg.
SUITE
No 1, Opus 46
SUITE
No 2, Opus 55
Originalmente
a segunda suíte tinha um quinto movimento, “A Dança da Filha do Rei da
Montanha”, mas Grieg retirou-a. Alguns destes movimentos sempre receberam muita
aceitação na cultura popular. A partir da descoberta da partitura completa, que
se supunha perdida, Peer Gynt apenas tem sido executada na sua forma completa,
que é bastante longa.
Para
satisfazer a curiosidade dos meus leitores - e também respeitá-los - que ainda
não conhecem a obra de Grieg, estou disponibilizando as duas suítes, mas com os
quatro movimentos de cada uma, separados (basta clicar nos movimentos acima). Assim os leitores ficarão à vontade
para escutarem um ou outro ou todos, quando bem entenderem ou se sentirem à
vontade para tal.
Boa
audição!
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