Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

domingo, 29 de maio de 2011

UMA PEQUENA HISTÓRIA DA INGLATERRA CONTADA POR UM GAÚCHO DE PORTO ALEGRE, DESCENDENTE DE PORTUGUESES E RESIDENTE EM GRAMADO - A HISTÓRIA PROPRIAMENTE DITA (9) (Décima Sétima Parte)

CONSOLIDAÇÃO DO DOMÍNIO ANGLO-SAXON
A história do Rei Arthur se confunde com o início da dominação anglo-saxon na Britain. Por essa razão, iniciaremos a sua narrativa, pelo rei bretão Vortigern, o grande facilitador da entrada dos invasores anglo-saxon.

O REI VORTIGERN VORTENEU
As estimativas sobre o período em que Vortigern teria reinado na Britain, variam drasticamente: possivelmente em torno de 425 DC, talvez cerca de 440-445 DC. Ele pode ter sido um “alto rei” e Vortigern pode não ter sido o seu nome, mas apenas um título significando “over king” (um rei superior). De acordo com fontes disponíveis, Vortigern era um homem fraco e de pouco caráter, com poucas qualidades pessoais comprovadas. Sendo essas fontes corretas, é difícil imaginar que sua ascensão ao trono tenha sido por aclamação dos membros do conselho reinante na Britain, sendo mais fácil acreditar que ele assumiu o poder por força de traição e crimes.
Em sua “História dos Reis da Britain”, Geoffrey of Monmouth (para uma curta biografia de Geoffrey of Monmouth, siga o link) fala de um rei Constantine, com três filhos: Constans, Aurelius Ambrosius (Ambrosius Aurelianus da história real) e Uther Pendragon (o lendário futuro pai do rei Arthur). Segundo Geoffrey, Constantine foi assassinado por um pictish, deixando seu filho mais velho, Constans, como rei.
Vortigern teria achado seu caminho casando-se com Severa, a filha do herói nacional e antecessor de Constantine, Magnus Maximus, e se instalado como conselheiro do rei Constans, então muito jovem; em seguida teria conspirado para matar o jovem rei. Com o rei fora do caminho e sendo Aurelio Ambrosius e Uther Pendragon apenas bebês, sem qualquer poder para frustrar seus projetos, Vortigern deteve para si a coroa. Felizmente para os jovens irmãos, eles teriam sido agasalhados e enviados à corte de seu primo, Budic I, na Brittany (região noroeste da França).
De acordo com a “Historia Brittonum” de Nennius, Vortigern subiu ao poder sob três fortes ameaças: os Picts e Scots, uma nova invasão romana e o temível Ambrosius. O medo dos Picts e Scots era perfeitamente natural uma vez que as defesas British do norte eram ineficazes e em total desordem. O medo de uma invasão romana sugere uma grande paranoia da parte de Vortigern – já que os romanos há anos não tinham presença na Britain – ou que havia uma boa razão para se preocupar com o reaparecimento de soldados romanos nas costas da Britain, das quais somos hoje ignorantes. O medo de Ambrosius teria fatais consequências, em alguns anos, já que ele era ainda jovem para reações imediatas. Mesmo com o apoio de seus cunhados, então poderosos governantes em Wales, o poder de Vortigern no país era ainda inseguro, piorando com a morte de Severa.
Para ajudar na defesa contra os ataques crescentemente brutais das tribos do norte, Vortigern autorizou o uso de mercenários Saxon e Jutish, liderados pelos príncipes Hengist e Horsa, que chegaram com uma pequena frota, em Kent, através da mesma prática adotada pelos romanos, qual seja, a cessão de terras para assentamentos em troca dos seus serviços. E assim foi feito.
A estratégia anti Pict/Irish adotada por Vortigern provou ter sucesso, dado que essas tribos nunca voltaram a ser problema e os arranjos entre os Saxons e Vortigern foi agradável por algum tempo. Contudo, mais tarde, os saxons mais uma vez enganaram Vortigern: bêbado durante uma celebração, Vortigern apaixonou-se por Rowena, filha de Hengist que lhe concedeu casar-se com ela se lhe entregasse o sub-reino de Ceint (Kent), com o que ele concordou. As Crônicas Anglo-Saxon registram a ascenção de Hengist ao trono de Kent em 455 DC e embora registre também a fuga dos Britons daquele reino para o de London, provavelmente refere-se a um exército e não a um povo. Os invasores, Jutes, chamaram a capital do novo reino de Canterbury, o burgo do povo do Cantii.
Localização de Canterbury no Reino de Kent

O Reino de Kent na England
 


















VORTIMER E AMBROSIUS AURELIANUS
Ameaçado pela traição de seus patrícios, Vortimer, o filho mais velho de Vortigern, declara-se um líder British rival, forma um exército e, por um curto período, consegue impedir o avanço saxon; contudo, ferido em batalha, é envenenado por sua madrasta. De sua base fortificada, os saxons então demandam mais alimentos e roupas para suprir o número sempre crescente de soldados, o que Vortigern recusa; a resposta não é aceita pelos saxons, que rasgam a terra, deixando devastação por onde passam. Muitos morrem nas batalhas que se seguem, entre eles, Horsa e o filho de Vortigern, Catigern. Finalmente Hengist pede por uma conferência de paz em Salisbury Plain, dizimando os British onde estavam, assim que chegam. Essa atitude dos Saxons resultaria em várias gerações de guerra contra os Britons.
Desiludidos, os British finalmente se rebelam contra o alto-rei. Ambrosius Aurelianus, retornando do seu exílio na Brittany e agora transformado num jovem corpulento, toma seu lugar nos eventos da época, para liderar o seu conflito. Merlin lhe teria legado o sítio montanhoso onde Vortigern não havia logrado construir o seu castelo e lá constrói seu forte de Dinas Emrys. Vortigern refugia-se no reforçado forte de colina de Ter’r Ceiri em Yr Eifl (Os Rivais), em Lleyn, mas Ambrosius persegue-o e expulsa-o para o sul, via Nant Gwrtheyrn e o mar, para Ergyng e um castelo de madeira no velho forte de colina de Caer-Guorthigirn. Aí o castelo teria sido atingido por um raio e Vortigern queimado até a morte. Posteriormente ele teria sido enterrado em uma pequena capela em Nant Gwrtheyrn.
Com isso, passa para Ambrosius Aurelianus a tarefa de impedir o avanço dos saxons, como líder da facção pro-romana na Britain. Logo (460-470 DC) ele tem o completo controle da Britain, liderando os britons por anos de luta contra os saxons.
Assim, o primeiro reino Anglo-Saxon na Britain, foi na verdade um reino Anglo-Celtic, povoado por Anglo-Celtas. A dinastia fundada por Hengist, durou por três séculos, mas apenas trinta anos passados de sua chegada, outro líder chamado Aelle veio para estabelecer-se, tornando-se o líder dos South-Saxons no reino chamado Sussex. Outros reinos surgiram: Essex, o dos West-Saxons, Middlesex, o dos Middle-Saxons e Wessex, dos West-Saxons, este destinado a tornar-se o mais poderoso de todos e que acabaria por reunir os diversos povos da England (nome vindo dos Angles) em uma só nação. Nossa história não pretende avançar tanto.
A partir do ano 460-470 DC, além das fontes já mencionadas de Gildas, Bede e Nennius, tudo com que podemos contar, sobre a história da Anglo-Saxon Britain, para o objetivo que nos interessa, são linhas esparsas, fornecidas pela “Anglo-Saxon Chronicle”. Trata-se de um relato de autor desconhecido, elaborado por ordem do Rei Alfred, O Grande, aproximadamente pelo ano 890 DC.
Após a morte de Vortigern, Ambrosius mostrou-se conciliatório com relação aos seus filhos e deixou-os manter suas propriedades em Buelt, Gwerthrinyon, Gwent e Powys. A despeito dessa magnanimidade, o rei Pasgen, de Buelt e Gwerthrinyon, mais tarde rebelou-se contra Ambrosius e duas vezes tentou destruir a Britain, com ajuda dos Saxons e Irish. As principais forças Anglo-Saxon haviam se retirado ao norte do Humber e Ambrosius encontrou Hengist na batalha em Maesbeli e então Conisburgh (Caer-Conan). Mais tarde ele sitiou Octa e Osla em York (Caer-Ebrauc). Todos foram derrotados, mas Ambrosius deixou-os assentar o seu povo em Bryneich (Bernicia).
Apenas para constar, Geoffrey of Monmouth (do qual ainda muito falaremos) conta que Ambrosius teria construído um monumental círculo de pedras, o “Círculo do Gigante” (possivelmente Stonehenge ou Avebury), no Monte Ambrius, como um memorial aos massacrados pelos Saxons na “Noite das Longas Facas”, durante o reinado de Vortigern. O próprio Ambrosius teria sido enterrado aí após ser envenenado por um Saxon em Winchester.
Ambrosius foi, certamente, uma figura histórica, como registrado por seu narrador contemporâneo próximo, São Gildas. Em sua “Sobre a Ruína e Conquista da Britain”, o monge descreve como os Saxons violentaram o país antes de retornar para casa:
“Os sobreviventes (dos British) ... pegam nas armas e desafiam seus vencedores à batalha, sob Ambrosius Aurelianus. Era um homem de caráter modesto que, sem par na raça romana, teve a sorte de sobreviver à tempestade em que seus pais, pessoas sem dúvida vestidas de púrpura, haviam sido mortos. Sua descendência em nossos dias grandemente degenerou da sua nobreza ancestral. Depois daquele tempo, os cidadãos foram algumas vezes vitoriosos, algumas vezes o inimigo ... até o ano do Cerco do Mons Baudonicus”.
Adicione-se a isso os comentários do cronista do século IX, Nennius, que, alinhado com Geoffrey, registrou Ambrosius como um dos principais pavores de Vortigern. Nennius também descreve Ambrosius como um jovem sem um pai, chamado a auxiliar Vortigern. Ele amarra o período admitindo que o reino de Vortigern começou, pelo menos, em 425 e que Ambrosius lutou em Guoloph, doze anos mais tarde. Isso é muito interessante porque cria um grande problema. Muita gente considera a referência de Gilda a Mons Badonicus para deduzir que foi Ambrosius, e não o Rei Arthur, o comandante da famosa batalha de Monte Badon, a vitória decisiva British sobre os Saxons, em torno de 495-500. No ano 495, Ambrosius teria, pelo menos 74 anos de idade e seria, de fato, difícil imaginar um homem desse período vivendo até essa idade, deixado só a brandir uma pesada espada como as da época, conduzindo uma carga a cavalo contra as posições dos Saxons. Nesse caso, qual seria a solução?
Não há uma solução definitiva, mas alguns resolveram o problema postulando dois homens chamados Ambrosius: o mais velho, que apavorava Vortigern e o mais moço, herói da resistência British da segunda metade do século V e o vitorioso de Mount Badon. Isso é certamente possível, visto que havia muitas pessoas com o mesmo nome naqueles dias; por que não dois Ambrosii?
Entretanto, a mais provável possibilidade, é que havia apenas um Ambrosius. Arthur poderia, nesse caso, ter sido o real comandante da vitória de Mount Badon; ou, talvez, “o grande rei entre os reis da nação British”, Ambrosius Aurelianus, pudesse ter sido o idoso comandante supremo do batalha, deixando a função de líder da linha de frente da batalha para um homem mais jovem, que poderia ser Arthur.
Após a batalha de Monte Badon, cerca do ano 500 DC, teriam transcorrido quarenta e quatro anos de relativa paz, durante cujo período, os bretões dividiram-se em cinco ou mais reinos tribais na região ocidental.
Enquanto isso os reinos e a instabilidade aumentavam entre os anglo-saxões no Leste. Por sua vez, os jutes, a partir de Kent, tomavam a ilha de Wight. Só em 570 DC haveria uma nova forte invasão dos anglo-saxons.


A ilha de Wight no contexto da England e vista em detalhe, ao lado.









Daí para a frente, a dominação anglo-saxon se consolidaria com reis de várias dinastias se sucedendo, no prosseguimento, mais ou menos uniforme, da História da Britain, que poderá ser acompanhada pelas várias fontes citadas até aqui e outras não citadas, embora muito conhecidas; entretanto, adentrar essa área estaria fora do interesse principal do nosso trabalho.
Importante, entretanto, para o nosso assunto, embora tenha ocorrido muitos anos depois dos acontecimentos relatados, foi o importante acontecimento do ano 1066 DC, em que ocorreu a grande Invasão Normanda, que encerraria o período de dominação anglo-saxon e iniciaria, segundo muitos historiadores, a última invasão em grande escala da Britain. É também muito importante aqui lembrar, que esses invasores, embora não franceses em sua origem, partiram de uma região ao norte da França, denominada, até hoje, Normandia e eram formados por povos de origem escandinava ou vikings. Mencionada aqui, apenas de passagem, partiríamos de imediato ao nosso assunto principal, deixando aos mais interessados  - mas desta feita eu realmente recomendo uma olhada nesse texto - o “link” para uma rápida abordagem da Invasão Norman (para conhecer mais sobre a "Norman Invasion" ou Invasão Normanda, clique no link).

Um comentário:

Gilda Souto disse...

Professor, Boa tarde!
Lendo sua pequena História da Inglaterra,entendo mais uma vez que vencido e vencedor é uma situação temporal enquando a alma deste povo permanece viva.
Se morta...bem acho que aí tem seu fim.Mas é apenas minha opinião e gostaria de repartir.Estarei esperando as novas postagens.Bom domingo