Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

terça-feira, 15 de novembro de 2011

“FAUSTO” COM TODAS AS SUAS IMPLICAÇÕES (SEGUNDA PARTE)

Na primeira parte dessa nossa matéria, fizemos uma breve introdução ao assunto, localizamos a obra suprema de Goethe no contexto e apresentamos uma breve biografia do autor de "A Tragédia de Fausto". Paramos aí, embora didaticamente pouco indicado, porque a postagem já estava bem longa. Iniciamos esta segunda parte, com a exposição da obra de Goethe, propriamente dita.

II.2 – O FAUSTO DE GOETHE

Fausto é o protagonista de uma popular lenda alemã de um pacto com o demônio, baseada no Dr. Johannes Georg Fausto (que teria vivido entre 1480-1540). O nome Fausto tem sido usado como base de diversos romances de ficção, o mais famoso deles do autor Goethe, produzido em duas partes, tendo sido escrito e reescrito ao longo de quase sessenta anos.
Considerado símbolo cultural da modernidade, o Fausto, de Goethe, sua obra mais importante e considerado por muitos como um dos maiores trabalhos da literatura alemã, é uma peça trágica em forma de poema, em duas partes, de proporções épicas, que relata a tragédia do Dr. Fausto, homem das ciências que, desiludido com o conhecimento de seu tempo, faz um pacto com o demônio Mefistófeles (demônio intelectual das lendas germânicas, literalmente inimigo da luz), que o enche com a energia satânica insufladora da paixão pela técnica e pelo progresso.
Goethe completou uma versão preliminar de Fausto Parte Um (Fausto, Uma Tragédia) em 1806. À sua publicação, em 1808, seguiu-se a edição revisada de 1828-29, última editada pelo próprio Goethe. Antes disso, apareceu uma impressão parcial, em 1790, de Fausto, um Fragmento. As primeiras formas do trabalho, conhecidas como UrFausto (traduzida para o português como Fausto Zero), foram desenvolvidas entre 1772 e 1775, mas seus detalhes não são mais inteiramente claros.
Goethe terminou de escrever Fausto Parte Dois em 1831. Em contraste à Fausto Parte Um, aqui o foco não é mais sobre a alma de Fausto, vendida ao demônio, mas sim sobre o fenômeno social, como psicologia, história e política, além de tópicos místicos e filosóficos, constituindo a principal ocupação dos últimos anos de Goethe, sendo publicada, postumamente, em 1832.

II.2.1 – A PRIMEIRA PARTE DA TRAGÉDIA

Os principais personagens de Fausto Parte Um incluem:

•    Heinrich Fausto, um sábio, que se diz baseado no real Johann Georg Fausto;
•    Mefistófeles, um demônio;
•    Gretchen, o amor de Fausto (abreviatura de Margarete, sendo que Goethe usa as duas formas);
•    Marthe, vizinha de Gretchen;
•    Valentin, irmão de Gretchen;
•    Wagner, criado de Fausto.

Fausto Parte Um é uma história complexa que acontece em vários cenários, o primeiro dos quais o Céu. Mefistófeles, sabedor da insatisfação de Fausto, faz uma aposta com Deus de que poderia derrotar o seu ser humano favorito (Fausto), que empenha-se em aprender tudo o que é possível saber, afastado da busca correta. A cena seguinte ocorre no estúdio de Fausto, onde ele, desesperado da inutilidade do aprendizado científico, humanitário e religioso, vira-se para a magia em busca da exposição do conhecimento infinito. Contudo, ele suspeita que suas tentativas estão falhando e, frustrado, cogita de cometer suicídio, rejeitando a ideia quando escuta, próximo, o início da celebração da Páscoa. Ele sai para um passeio com seu criado Wagner e é seguido, na volta à casa, por um cão pastor sem dono.
Em seu estúdio, o cão transforma-se no demônio Mefistófeles e Fausto faz com ele um acordo: o demônio fará tudo que Fausto quiser enquanto ele estiver na Terra e, em troca, ele servirá ao demônio no inferno. O acordo inclui uma cláusula em que, se Fausto se arrepender num dado momento e quiser nele permanecer para sempre, ele morrerá naquele instante. Fausto é obrigado a assinar o pacto com o seu próprio sangue.
Fausto assinando o pacto com o demônio com o seu próprio sangue
Fausto faz algumas viagens e, rejuvenescido por uma poção mágica provida pelo diabo, encontra Margarete (Gretchen), por quem é atraído. Com jóias e a ajuda de uma vizinha, Marthe, o diabo coloca Gretchen nos braços de Fausto, que a seduz. A mãe de Gretchen morre por uma poção para dormir que ela lhe dá para que possa ter privacidade, com Fausto, em suas visitas. Gretchen descobre que está grávida, seu irmão condena Fausto e o desafia para um duelo, sendo morto pelas mãos de Fausto e do demônio. Gretchen afoga sua criança ilegítima e é condenada por assassinato. Fausto tenta salvá-la da morte tentando a sua liberdade da prisão. Como ela se recusa a fugir, Fausto e Mefistófeles fogem do calabouço enquanto vozes do Céu anunciam que Gretchen será salva.

II.2.2 – A SEGUNDA PARTE DA TRAGÉDIA

Rica na alusão clássica, na Fausto Parte Dois a história romântica da primeira parte é esquecida e Fausto acorda num campo de fadas para iniciar um novo ciclo de aventuras e objetivos. Nesse ciclo ele vai à corte de um imperador, no inferno, em busca de Helena de Troia e em muitas outras cenas imaginativas. A peça consiste de cinco atos em que cada um representa um tema diferente. Gradualmente nasce em Fausto a consciência de que, através do serviço à humanidade, pode-se viver em sua memória para sempre. E retoma o seu trabalho em benefício dos outros, chegando ao seu supremo momento. Ao final, Fausto vai ao Céu pois perde apenas metade da aposta. Os anjos, que chegam como mensageiros da misericórdia divina, ao final do Ato V declaram: “Aquele que se empenha e vive para empenhar-se, ainda pode merecer a redenção".
Durante toda a Parte Um, Fausto permanece insatisfeito e a conclusão final da tragédia, bem como o resultado das apostas, somente são revelados na Fausto Parte Dois. A primeira parte representa o “pequeno mundo” e acontece no próprio meio local e temporal de Fausto; em contraste, a segunda parte acontece no “mundo maior” ou macrocosmos.
A história de Fausto inspirou uma enorme quantidade de literatura, música e ilustração, por mais de quatro séculos. Em termos de poesia, Goethe coloca ciência e poder no contexto de uma metafísica interessada na moral. Fausto é um empírico cientista forçado a confrontar questões de bom e mau, Deus e o demônio, sexualidade e mortalidade.
Na Terceira Parte, a seguir, veremos o segundo grande produto da lenda de Fausto, a ópera de Charles Gounod.

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