Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

OS BORGIA (Parte 4 - Última)

Concluímos a terceira parte de nossa postagem sobre os Borgia, em meio às peripécias de Cesare Borgia, um dos filhos do Papa Alexandre VI. Esta última parte da postagem vai concluir o relato sobre Cesare e apresentar um resumo da vida de sua irmã Lucrezia Borgia.
Niccolò Machiavelli  por Santi di Tito
Nicollò Machiavelli, célebre filósofo, escritor e historiador renascentista, de Florença, conheceu Cesare em uma missão diplomática quando Secretário da Chancelaria Florentina e esteve em sua corte de 7 de outubro de 1502 a 18 de janeiro de 1503 e durante este tempo despachou regularmente aos seus superiores em Florença. Muitos de tais despachos sobreviveram e estão publicados em Trabalhos Coletados de Machiavelli. Em “O Príncipe”, Machiavelli usa Cesare Borgia como exemplo para elucidar os perigos na aquisição de um principado pelas mãos de outrem. Embora tendo recebido o poder de seu pai, Cesare governou a Romagna com habilidade e tato na maior parte do tempo. Machiavelli atribui a Cesare dois episódios que foram, pelo menos parcialmente, executados por seu pai: o método pelo qual a Romagna foi pacificada, descrito por Machiavelli no capítulo VII de “O Príncipe”, e o assassinato de seus capitães à véspera do Ano Novo de 1503, em Senigallia.
O uso que Machiavelli fez de Cesare é sujeito a muita controvérsia. Alguns estudiosos do século vêm, neste Cesare, o precursor dos crimes do estado; outros, incluindo os historiadores ingleses Macaulay e Acton, historiaram o Cesare de Machiavelli, explicando a admiração por tal violência como efeito da corrupção e criminalidade geral daquele tempo, tornando aparentemente óbvio que Machiavelli admirava o seu pai, mas não o próprio Cesare.
Entre 1502 e 1503, Cesare empregou, brevemente, Leonardo da Vinci, como arquiteto e engenheiro militar, tornando-se instantaneamente seu íntimo a ponto de conceder ao último um passe sem limites para inspecionar e dirigir todas as construções em andamento e planejadas em seus domínios. Antes de conhecer Cesare, Da Vinci havia trabalhado na corte milanesa de Ludovico Sforza, por muitos anos, até que o rei Charles VIII da França o expulsou da Itália. Após Cesare, Da Vinci não teve sucesso em busca de nova patronagem na Itália. François I da França o convenceu a entrar aos seus serviços, vivendo seus três últimos anos de vida na França.
Embora tenha sido um general e estadista muito capaz, Cesare teria encontrado problemas na manutenção de seus domínios sem a continuação do patrocínio Papal. O próprio Niccolò Machiavelli cita a dependência de Cesare da boa vontade Papal, sob o controle de seu pai, como a principal fraqueza do seu governo, destacando que, tivesse Cesare podido contar com os favores do novo Papa, ele teria sido um governante de muito sucesso. A notícia da morte de seu pai chegou quando Cesare preparava a conquista da Toscana. Enquanto convalescia no Castelo de Santo Ângelo, suas tropas controlavam o Conclave. O novo Papa, Pio III prendeu-o e ele conseguiu fugir. A ascensão do novo Papa, Julius II, inimigo mortal dos Borgia, causou sua ruína final. Quando se deslocava para Romagna, para debelar uma revolta, ele foi preso e encarcerado por Gian Paolo Baglioni, próximo a Perugia. Todas as suas terras foram adquiridas pelos Estados Papais. Exilado na Espanha em 1504, foi encarcerado no Castelo da La Mota, Medina del Campo, de onde escapou e juntou-se ao rei João III de Navarra. Cesare foi morto em 1507 enquanto lutava para o rei de Navarra, na cidade de Viana, Espanha. 
Cesare Borgia foi, originalmente, enterrado em um túmulo de mármore sob o altar da Igreja de Santa Maria em Viana, com a inscrição: “Aqui jaz, em pouca terra, alguém que foi temido por todos, com poder de paz e guerra em suas mãos”. Em 1537, o Bispo de Calahorra ordenou a destruição da tumba e a remoção dos restos para um local não consagrado fora da Igreja. Em 2007, Fernando Sebastian Aguilar, Arcebispo de Pamplona, permitiu que os despojos voltassem para a Igreja, às vésperas da comemoração dos 500 anos da morte de Cesare Borgia.
 
LUCREZIA BORGIA

Lucrezia Borgia por Bartolomeo Veneto
Nascida em 18 de abril de 1480 e morta em 24 de junho de 1519, Lucrezia foi filha ilegítima de Rodrigo Borgia, o poderoso valenciano da Renascença que mais tarde se tornaria o Papa Alexandre VI, e de Vanozza de Cattanei. A família de Lucrezia veio mais tarde resumir a cruel política e corrupção maquiavélica alegada como característica do incrível Papado Renascentista. Ela própria foi a personificação da femme fatale, um papel em que ela foi apresentada em muitos filmes, novelas e obras de arte.
Muito pouco se sabe de Lucrezia e a extensão de sua cumplicidade, nas maquinações políticas de seu pai e irmãos, não é clara. Certamente eles planejaram vários casamentos para ela, com homens importantes ou poderosos, a fim de concretizar suas ambições políticas.
Lucrezia nasceu em Subiaco, próximo de Roma. Falava e escrevia cinco línguas: italiano, valenciano (variação da língua catalã), francês, latim e grego.
Lucrezia Borgia por Dosso Dossi, 1518
É descrita, em geral, como tendo um pesado cabelo loiro que ia abaixo  de seus joelhos, uma bela compleição, olhos castanhos que variavam de cor, um colo farto e alto e uma graça natural que a fazia parecer “caminhar no ar”, atributos físicos altamente apreciados na Itália daquele período. Outra descrição dizia que “sua boca era grande, seus dentes brancos e brilhantes, seu pescoço esbelto e formoso e o busto admiravelmente bem proporcionado. Uma pintura de Dosso Dossi, “Retrato de uma Jovem”, na Galeria Nacional de Victoria, em Melbourne, Austrália, pode ser o único retrato ainda existente de Lucrezia Borgia, embora haja dúvidas a respeito.
Em fevereiro de 1491, quando Lucrezia tinha apenas 11 anos de idade, um arranjo matrimonial foi feito entre ela e Don Cherubino Juan de Centelles, o lorde de Val D’Ayora, no Reino de Valência, anulado menos de dois meses após, em favor de um novo contrato, ligando-a, desta feita, a Don Gaspare Aversa, conde de Procida. Com a ascensão ao papado, Alexandre VI buscou aliar-se com poderosas famílias principescas, fundando dinastias na Itália. Dessa forma, cancelou todos os compromissos anteriores de Lucrezia, arranjando seu casamento com Giovanni Sforza, membro da família Sforza, primo de Ascanio Sforza, lorde de Pesaro e intitulado Conde de Catignola, em 12 de junho de 1493, em Roma, um evento escandaloso, mas não muito mais extravagante do que várias outras celebrações renascentistas.
Pouco tempo depois, a família Borgia não necessitou mais dos Sforzas e a presença de Giovanni Sforza, na corte papal, tornou-se supérflua, com o Papa necessitando novas e mais vantajosas alianças políticas. A versão geralmente aceita é a de que o Papa teria secretamente ordenado a execução de Giovanni e que Lucrezia, alertada por Cesare das suas intenções, teria avisado seu esposo que fugiu de Roma. É muito possível que tudo tivesse sido combinado entre Cesare e Lucrezia para terminar com o casamento, mas como a solução fosse boa para todos da família Borgia, a anulação foi preparada através da acusação de que Giovanni era impotente e que o casamento não se havia concretizado. Alexandre VI pediu ao Cardeal Ascanio Sforza, tio de Giovanni, que intercedesse a favor da anulação. Giovanni não aceitou a imposição e declarou o incesto paternal e fraternal com Lucrezia, em 1947. Um julgamento faccioso foi montado e Giovanni acabou assinando a confissão de impotente e o documento de anulação, diante de testemunhas. Especula-se que, durante o prolongado processo de anulação, Lucrezia tivesse consumado relações com Perotto, o mensageiro de Alexandre VI, e que teria ficado dele grávida. Sabe-se que em junho de 1947 ela se retirou para o Convento de San Sisto, aguardando o desfecho do divórcio que encerrou em dezembro do mesmo ano; e que em março de 1498 o Embaixador de Ferrarese relatou que Lucrezia teria dado à luz um menino que foi chamado Giovanni, mais conhecido dos historiadores como o "Infante Romano". Alguns acreditam mesmo que a criança era de seu irmão Cesare, mas que Perotto teria concordado com a farsa em virtude de sua afeição por Lucrezia.
Impossibilitado de conseguir um casamento entre Cesare e a filha do Rei Frederick IV de Nápoles, por ameaças induziu Frederick a concordar no casamento entre o Duque de Bisceglie, filho natural de Alfonso II, e Lucrezia.
Fato pitoresco e inusitado, no que se refere às coisas da Igreja, quando Luis XII teve sucesso no norte, decidiu também conquistar o sul da Itália. Concluiu um tratado com a Espanha pela divisão do Reino de Nápoles, ratificado pelo Papa, em 25 de junho de 1501, após a deposição de Frederick. Enquanto o exército francês preparava a invasão de Nápoles, o Papa Alexandre VI aproveitou a oportunidade para, com a ajuda de Orsini, submeter Colonna. Em sua ausência pela campanha, ele deixou Lucrezia como regente, proporcionando o inusitado espetáculo de apresentar uma filha natural de um Papa, como encarregada dos negócios da Santa Sé!
Após a morte do seu segundo marido, Duque de Bisceglie, conforme relatado acima, Lucrezia, agora com 23 anos, não permaneceu viúva por muito tempo. Seu pai, o papa Alexandre VI, induziu Alfonso I d’Este, filho do duque de Ferrara, a desposar Lucrezia, em janeiro de 1502, assim estabelecendo-a como esposa do herdeiro de um dos mais importantes ducados da Itália. A ele, Lucrezia deu oito filhos e provou ser uma respeitável e comprometida duquesa da Renascença, efetivamente elevando-se bem acima da sua prévia reputação e sobrevivendo à queda dos Borgias, em seguida à morte de seu pai, embora nenhum dos parceiros tenha sido fiel.
A partir de 1503 Lucrezia manteve um longo relacionamento com seu cunhado Francesco II Gonzaga, Marques de Mântua, bem como um longo caso com o poeta Pietro Bembo. A esposa de Francesco era a culta intelectual Isabella d’Este, irmã de Alfonso, a quem Lucrezia havia feito inúteis ofertas de amizade. Seu caso com Francesco fora apaixonado e mais sexual do que sentimental, o que pode ser atestado pelas cartas febris que escreveram um ao outro, e foi encerrado quando ele contraiu sífilis e foi obrigado a encerrar suas relações sexuais com Lucrezia.
Túmulo de Lucrezia e Alfonso I d'Este, Ferrara
 Lucrezia também conheceu o famoso soldado francês Chevalier Bayard quando comandante da guarnição francesa aliada de Ferrara, em 1510. De acordo com seu biógrafo, Chevalier tornou-se um grande admirador de Lucrezia, considerando-a uma “pérola entre as mulheres”; não se sabe quanto ela retornou da sua admiração.
Lucrezia Borgia morreu em Ferrara em 24 de junho de 1519, de complicações no parto de seu oitavo filho. Foi enterrada no Convento de Corpus Domini.

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