III – GEOGRAFIA
O
rio Indo nasce no Himalaia (ou Cordilheira do Himalaia), a cadeia montanhosa
mais alta do mundo, que separa a planície indo-gangética, ao sul, do planalto
tibetano, ao norte, onde reina, soberano, o Monte Everest. Do Himalaia o rio
Indo escoa para o sul em direção ao mar da Arábia onde tem a sua foz,
percorrendo uma distância aproximada de 3.000 km, o que o faz o mais longo rio
do Paquistão.
Cordilheira do Himalaia e países relacionados à CVI |
A Civilização do Vale do Indo englobou a maior parte do
Paquistão, noroeste da Índia, partes do Afeganistão e do Irã, estendendo-se do
árido deserto do Baloquistão, no Irã, ao oeste, até o estado de Uttar Pradesh,
ao norte da Índia, no leste; do nordeste do Afeganistão, ao norte, até
Maharashtra, no centro da Índia, ao sul. A geografia do Vale do Indo coloca a
civilização que lá surgiu, em uma situação muito similar à do Egito,
com ricas terras cultiváveis, circundadas por montanhas, deserto e oceano.
Recentemente, locais do Indo também têm sido descobertos na província de
fronteira noroeste do Paquistão. Outras colônias da CVI podem ser encontradas
no Afeganistão, enquanto colônias isoladas ainda menores podem ser encontradas
até no Turquemenistão e em Gujarate. Vestígios da CVI foram ainda encontrados
em muitos outros locais e até em ilhas da Ásia.
De
acordo com alguns arqueólogos, mais de 500 sítios harappianos foram descobertos
ao longo de leitos secos do rio Ghaggar-Hakra e seus tributários, em contraste
a apenas 100 ao longo do Indo e seus tributários, razão pela qual se
justificaria a nomenclatura Civilização Ghaggar-Hakra ou Civilização Indo
Saraswati. Contudo, esses argumentos politicamente inspirados são disputados
por outros arqueólogos que dizem que a área do deserto Ghaggar-Hakra foi
mantida intocada por povoamentos e agricultura desde o final do período Indo e,
em consequência, mostra mais locais que os encontrados no aluvião do vale do
Indo; depois, o número de sítios harappianos ao longo dos leitos do
Ghaggar-Hakra tem sido exagerado e o Ghaggar-Hakra, quando ainda existente, era
um tributário do Indo, de forma que a nova nomenclatura seria redundante.
Assim, “Civilização Harappiana” permanece a forma correta, de acordo com o uso
arqueológico comum de nomear uma civilização pelo seu local de descoberta.
IV – HARAPPIANA ANTIGA
A
fase Harappiana Antiga Ravi, da proximidade com o rio Ravi, durou de 3300 a
2800 AC. Está relacionada à fase Hakra, identificada no vale do rio
Ghaggar-Hakra, ao oeste e se antecipa à fase Kot Diji (2800 a 2600 AC,
Harappiana 2), recebendo o nome de um local no nordeste da província de Sindh,
sudeste do Paquistão, próximo de Mohenjo Daro. Os primeiros exemplos de escrita
datavam do 3º milênio AC e descobertas em Bhirrana, Rajasthan, na Índia, indicam
que a manufatura do Hakra desta área, data de aproximadamente 7500 AC.
A
fase madura das culturas de aldeias mais antigas é representada por Rehman
Dheri e Amri, no Paquistão. Kot Diji representa a fase que conduz à fase
Harappiana Madura, com a cidadela alta, sobre uma colina, onde ficavam as
construções maiores, talvez o local onde viviam os governantes da cidade - representando
a autoridade central e uma qualidade de vida urbana crescente. Outra cidade
deste estágio foi encontrada em Kalibangan, na Índia, no rio Hakra.
Redes
de comércio ligavam esta cultura com culturas regionais e fontes distantes de
material cru, incluindo o lápis-lazúli e outros materiais para a confecção de
contas. Os aldeões plantavam várias culturas, incluindo ervilhas, sementes de
gergelim, tâmaras e algodão, bem como domesticava animais que incluíam o búfalo
da água. Antigas comunidades harappianas se trnasformaram em grandes centros
urbanos por volta de 2600 AC, daí iniciando a fase Harappiana Madura.
V – HARAPPIANA MADURA
Civilização do Vale do Indo em sua fase Harappiana Madura |
Cerca
de 2600 AC, as comunidades da Harappiana Antiga haviam se tornado grandes
centros urbanos, que incluíam Harappa, Ganeriwala e Mohenjo-Daro, no Paquistão
atual, e Dholavira, Kalibangan, Rakhigarhi, Rupar e Lothal, na Índia moderna.
No total, mais de 1.052 cidades e povoações foram encontradas, principalmente
na região geral do rio Indo e seus tributários.
Uma
cultura urbana sofisticada e tecnologicamente avançada é evidente na
Civilização do Vale do Indo, como primeiros centros urbanos da região. A
qualidade do planejamento das cidades sugere o conhecimento de planejamento
urbano e governos municipais eficientes, que punham uma alta prioridade na
higiene ou acesso aos meios para rituais religiosos.
Ruínas em Harappa: bloco de artesãos |
As
construções nas cidades eram feitas de tijolos de barro e estas possuíam
muralhas e estradas que podiam ter até 10 metros de largura para passagem de
carros. As ruas laterais eram estreitas, mais como vielas. Como a água era
muito importante para o povo do Indo, os construtores começavam as obras pela
escavação de poços e lançamento de drenos.
Os
tijolos eram feitos por pessoal especializado, que misturava solo, argila e
água para conseguir um barro pastoso. Em seguida eles amassavam o barro numa
forma de madeira com a forma do tijolo, onde ficava até que pudesse ser
desenformado. Os tijolos podiam ser secos ao sol ou num forno rudimentar de
alta temperatura que lhes conferia maior resistência. Os tijolos do Vale do
Indo possuíam as mesmas relações entre suas dimensões, 1:2:4, embora tivessem
tamanhos diferentes. Um tamanho muito utilizado possuía 7 cm de altura por 14
cm de largura e 28 de comprimento. Os tijolos eram dispostos em linha ou fila,
extremidade a extremidade e atravessados, usando lama úmida como cimento para
manter os tijolos unidos. As paredes eram, posteriormente, rebocadas, mas não
se pode dizer se eram também pintadas. Suas paredes eram tão fortes que muitas
resistiram por mais de 4.000 anos.
Visão global de Mohenjo-Daro Paquistão Leste |
Como
visto em Harappa, Mohenjo-Daro e a recente escavação parcial em Rakhigarhi, o plano
urbano do Vale do Indo incluiu os primeiros sistemas de saneamento urbano no
mundo. Dentro da cidade, lares individuais ou conjuntos de lares obtinham água
de poços. A partir de uma peça que parece ter sido reservada para banho, a água
usada era conduzida para drenos cobertos, que corriam pelas ruas principais. A
construção de casas em alguns povoamentos da região, ainda se assemelham, em
alguns aspectos, à construção das casas dos harappianos.
Os
sistemas de esgoto e drenagem do antigo Vale do Indo, que foram desenvolvidos e
usados em cidades de toda a região, eram mais avançados do que qualquer outro
encontrado em locais urbanos contemporâneos do Oriente Médio e ainda mais
eficientes do que os de muitas áreas do Paquistão e da Índia de hoje. A arquitetura avançada dos harappianos é
mostrada por seus estaleiros, silos, armazéns, plataformas de tijolos e muralhas
de proteção.
Em
forte contraste com as civilizações contemporâneas da Mesopotâmia e do Egito
antigo, no Vale do Indo não foram construídas estruturas monumentais. Não há
evidência conclusiva de palácios ou templos – ou de reis, exércitos ou
sacerdotes. Na cidade de Mohenjo Daro, encontrou-se uma ruína que pode ter sido
um banho público – “O Grande Banho”. As muralhas maciças das cidadelas do Vale
do Indo certamente eram defensivas e as protegiam das águas das cheias, podendo
ter desestimulado conflitos militares.
Ruínas de Mohenjo-Daro. Na frente, o Grande Banho |
As
casas do Vale do Indo eram mantidas frias, internamente, pelas espessas paredes
que as protegiam do calor do verão. Algumas casas tinham apenas um quarto e
grandes casas possuíam vários quartos dispostos em torno de um pátio central.
Não havia janelas para a rua principal, mas apenas para os pátios internos e
vielas secundárias, para evitar a poeira e o ruído. De uma casa modelo encontrada
em Harappa, podemos ver que as janelas podem ter tido venezianas de madeira
para deixar entrar o ar e a luz. Tudo o que resta hoje são os pisos térreos das
casas que uma vez tiveram dois ou três pisos, servidos por escada que conduzia
até o telhado.
A maioria das pessoas vivia em pequenas casas que eram também
usadas como oficinas de trabalhos e
nelas não havia muito espaço para relaxamento. Para as famílias ricas, o pátio
era um lugar arejado, agradável e aberto, onde as crianças podiam brincar com
seus brinquedos e animais domésticos, como macacos, cães e pássaros, e as pessoas
cultivavam plantas em vasos.
As pessoas cozinhavam em fogo de lenha, carvão ou fezes secas
de animais. Assavam o pão em pedras quentes ou em fornos rudimentares. Nos
banheiros as pessoas ficavam sobre “estrados” de tijolos e jogavam água sobre
si mesmos, de uma jarra, que era conduzida por drenos para a rua.
Embora
algumas casas fossem maiores do que as outras, as cidades da CVI foram notáveis
por sua aparente uniformidade. Todas as casas tinham acesso a instalações de
água e esgoto. Tudo isso fornece a impressão de uma sociedade com baixa
concentração de riqueza, embora claro nivelamento social seja visto em adornos
pessoais.
Gravuras
em selos e outros artefatos, mostram-nos como o povo do Indo se vestia. Como
praticamente as temperaturas eram altas durante todo o ano, as pessoas não necessitavam
de roupas pesadas para mantê-las aquecidas. A maioria dos trabalhadores
provavelmente vestia apenas uma tanga, que se assemelhava muito a shorts
folgados. Homens ricos usavam túnicas e mulheres usavam vestidos que,
provavelmente, cobriam a maior parte dos seus corpos, embora alguns pudessem
ter sido sem a parte superior. Homens e mulheres usavam joias, especialmente
contas e braceletes. Algumas mulheres ostentavam penteados elegantes,
arranjados com fitas e contas. Algumas arranjavam seus cabelos em penteados que
se assemelhavam a leques.
V.1 – AUTORIDADE E GOVERNO
Registros
arqueológicos não fornecem respostas imediatas para um centro de poder ou para
representações de pessoas no poder na sociedade harappiana, mas há indicações
de decisões complexas tomadas e implementadas. As principais teorias são as que
seguem:
- Havia um só estado, considerada a semelhança dos artefatos, a evidência de povoados planejados, a relação padronizada nos tamanhos dos tijolos e o estabelecimento das vilas próximas das fontes de material bruto;
- Não havia um só mandatário, mas vários: Mohenjo-Daro tinha um separado, Harappa outro e assim por diante;
- Na sociedade harappiana não havia reis e todos gozavam de idêntico status.
V.2 – AGRICULTURA E PECUÁRIA
A grande maioria dos povos do Vale do Indo não
vivia em cidades. Talvez nove em dez pessoas fossem agricultores ou comerciantes
que viviam em pequenas vilas. Usavam algumas ferramentas que ainda hoje são
usadas: martelos, facas, agulhas, anzóis, machados, navalhas e serras, a
maioria delas feita de pederneira. Usavam também muito cobre em suas
ferramentas, em geral com estanho, para obter o bronze.
Para alimentar as pessoas nas
cidades, os agricultores do Vale do Indo tinham que produzir uma grande
quantidade de alimentos. Para isso cultivavam grandes áreas com o uso de seus
arados de madeira puxados por bois. Muitos modelos de arado, possivelmente
brinquedos, têm sido encontrados pelos arqueólogos. Os agricultores
aproveitavam bem as águas dos rios, semeando após a inundação dos seus leitos
maiores, que tornavam ricos seus solos. Plantavam diferentes espécies
no inverno - ameno e úmido – e no verão – quente e seco. Foram, possivelmente,
os primeiros agricultores a usar a água de poços subterrâneos e certamente
terão usado água do rio para irrigar seus campos. No inverno plantavam trigo,
cevada, ervilhas, lentilhas, linhaça e mostarda; no verão plantavam o painço,
gergelim e, provavelmente, algodão; os especialistas não encontraram evidências
do plantio de arroz. Como frutas, cultivavam tâmaras, uvas e melões, o que lhes
proporcionava uma dieta bastante saudável, pela ingestão de mais frutas e
vegetais do que animais.
Em Harappa as evidências
mostram que cerca de metade dos ossos de animais vinha do gado e seus criadores
dele exploravam o leite, a carne e também o couro, além de o usarem como animal
de tração para seus carros, ao mercado, e seus arados. Criavam também ovelhas,
cabras, porcos e, possivelmente, jumentos e camelos, além de frangos.
O “Grande Silo” é uma
construção misteriosa em Harappa, com mais de 60 metros de comprimento, com
seis grandes salões, erigida acima do solo sobre paredes, com um grande número
de plataformas de tijolos próximas a ela. Inicialmente, os arqueólogos pensaram
que se tratava de um armazém de grãos (silo), construído acima do solo para que
o ar pudesse circular sob ele, assim mantendo o trigo seco. Nesse caso, as
plataformas seriam para a carga e descarga dos carros de sementes. Entretanto,
não encontraram qualquer evidência de grãos! Além disso, a construção principal
e as plataformas foram construídas em épocas diferentes. Talvez fosse um
palácio, talvez um templo, ainda um mistério a ser resolvido.
Rinocerontes e elefantes viviam no Vale do Indo e caçadores
podiam tê-los caçados em armadilhas. Havia também veados e outros animais que
os habitantes caçavam para alimento, com uso de lanças, arcos e flechas e
fundas (com pedras).
Ao longo dos rios e praias os habitantes caçavam pássaros
selvagens, como patos. Usavam as redes para apanhar carpas e outros peixes, e
também se alimentavam de moluscos (conchas). Os caçadores tinham que ser
cuidadosos porque havia predadores perigosos, como crocodilos, tigres e cobras
venenosas.
Pelo exame dos dentes e
ossos dos esqueletos descobertos, os arqueólogos puderam dizer o que os povos
do Vale do Indo comiam, atestar que os homens eram mais bem alimentados do que
as mulheres e que os dentes, da maioria das pessoas, eram saudáveis. Examinaram
também valas de resíduos para ossos de animais, conchas, sementes de frutos e
outros restos de comidas, para obter pistas de sua dieta.
Na próxima postagem, continuação da CVI, com a PARTE 03
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