IX - OS ANOS DE FERRO DA ERA STALIN (Continuação)
Localização dos campos Gulag da União Soviética |
O TENEBROSO GULAG SOVIÉTICO
Gulag, acrônimo da
expressão russa Glavnoye Upravleniye Lagerei, que significa "Administração Central dos
Campos", e a palavra que, por fim, passou a descrever todo o sistema
soviético de punição e trabalhos forçados, era um sistema
de campos de trabalhos forçados para criminosos, presos
políticos, prisioneiros de guerra e qualquer cidadão (homens, mulheres e crianças), em geral,
que se opusesse ao regime da União Soviética (todavia, a grande maioria era de presos políticos: no
campo Gulag de Kengir, em junho de 1954, existiam 650 presos comuns e 5200
presos políticos). Antes da Revolução, o Gulag chamava-se Katorga e, praticamente, possuía as mesmas finalidades. Entretanto,
os bolcheviques continuaram a tradição autocrática-imperial russa em uma escala
dezenas de vezes maior e em condições muito piores, onde até o canibalismo
foi praticado. Na União Soviética, este sistema
funcionou de 1930 até 1960. Nesses campos foram aprisionadas e mortas
milhões de pessoas, muitas delas vítimas das perseguições de Stalin, as consideradas "pessoas infames", para a
chamada "Pátria Mãe" (a URSS), e que deveriam passar por
"trabalhos forçados educacionais" para merecerem viver nela. O Gulag
tornou-se um símbolo da repressão da ditadura de
Stalin. Na verdade, as condições de trabalho
nos campos eram bastante penosas e incluíam fome,
frio, trabalho intensivo com características próprias da escravatura (por exemplo, horário de trabalho excessivo) e guardiões
desumanos. Floresceram durante o regime stalinista da URSS, estendendo-se a
regiões como a Sibéria e a Ucrânia, por exemplo, e destinavam-se, na verdade, a silenciar e
torturar opositores ao regime, incluindo os anarquistas,
trotskistas e outros.
Embora algumas vezes comparado aos campos de concentração nazistas, os motivos que presidiram à construção de ambos são bastante
diferentes: para o Gulag, as motivações eram tanto a punição por crimes comuns,
como para ideologias contrárias ao comunismo, delitos de opinião, ou simplesmente a necessidade de se ver livre de alguém
que poderia significar concorrência ao poder; para os campos de concentração
nazistas iam prisioneiros de guerra e judeus, basicamente.
O número de presos no
Gulag cresceu gradualmente a partir de 1930, com 179.000, para 1934, com 510.307; em 1938
essa taxa cresceu muito mais rapidamente, por conta dos expurgos, para 1.881.570;
durante a Segunda Guerra Mundial o número de presos decresceu por conta do
recrutamento de presos para o Exército Vermelho (eram 1.179.819 presos em
1944). Em 1945 voltou a crescer, até 1950, atingindo um valor máximo (cerca de
2.500.000), que se manteve praticamente constante até 1953, ano da morte de
Stalin. A tabela abaixo apresenta os números de presos no Gulag soviético,
durante o período que vai de 1930 a 1953, segundo dados apresentados no livro “Gulag”,
de Anne Applebaum, página 602, copiados de documentos da NKVD.
Os fluxos de
entrada e saída dos campos de trabalhos forçados eram substanciais e o número
total de detentos foi contabilizado em cerca de 18 milhões durante o período
entre 1929 e 1953. Como parte do mais amplo termo "trabalhos forçados",
mais 4 milhões de prisioneiros de guerra devem ser adicionados a esse número e,
pelo menos, 6 milhões de "especiais", isto é, camponeses deportados
durante a coletivização, chegando-se a um total de 28.000.000 de prisioneiros
que terão passado pelo Gulag soviético.
O número de mortos
nesses campos de concentração soviéticos, ainda está sob investigação, mas um
valor provisório indica 2.749.163 baixas. Este número não leva em conta as
execuções relacionadas com o sistema judicial (as execuções, apenas por razões
políticas, chegam a 786.098). Segundo dados soviéticos, morreram no Gulag 1.053.829
pessoas entre 1934 e 1953, excluindo mortos em colônias de trabalho (outro tipo de
prisão, segundo as informações soviéticas.
Número de prisioneiros pelos documentos da NKVD
1930
|
179.000
|
1936
|
1.296.494
|
1942
|
1.777.043
|
1948
|
2.199.535
|
1931
|
212.000
|
1937
|
1.196.369
|
1943
|
1.484.182
|
1949
|
2.356.685
|
1932
|
268.700
|
1938
|
1.881.570
|
1944
|
1.179.819
|
1950
|
2.561.351
|
1933
|
334.300
|
1939
|
1.672.438
|
1945
|
1.460.677
|
1951
|
2.525.146
|
1934
|
510.307
|
1940
|
1.659.992
|
1946
|
1.703.095
|
1952
|
2.504.514
|
1935
|
965.742
|
1941
|
1.929.729
|
1947
|
1.721.543
|
1953
|
2.468.524
|
Os campos recebiam também
prisioneiros de outras nacionalidades, incluindo cidadãos americanos. Em 1931, a Amtorg Trading
Corporation (primeira representação comercial soviética nos Estados Unidos)
recrutou milhares de trabalhadores americanos, que sofriam as consequências da Grande
Depressão, atraindo-os com promessas de boas
condições de trabalho. Estes trabalhadores, que contribuíram para o
desenvolvimento da indústria da URSS, eram dispensados quando não mais
necessários e poucos conseguiram retornar aos EUA. Muitos, foram enviados ao
Gulag, permanecendo detidos ali por anos. O telefilme de 1982 “Coming
Out of the Ice” (em português “Atrás
da Cortina de Gelo”), baseado no livro homônimo, dramatiza a vida de
Victor Herman, paraquedista estadunidense, que passou 18 anos detido na Sibéria
por recusar-se a adotar a nacionalidade soviética, após bater o recorde de salto
em queda livre.
De acordo com Werh
Nicolas, historiador francês do “Centre National de la Recherche Scientifique”,
em Paris, no livro "História da Rússia
no século XX", páginas 318-9, "As
estimativas do número de presos no Gulag, ao final dos anos trinta, variam
entre 3.000.000 (Timasheff, Bergson, Wheatcroft) e de 9 a 10.000.000 (Dallin,
Conquest, Avtorkhanov, Rosefielde, Solzhenitsyn). Os arquivos do Gulag,
confirmados pelos dados dos censos de 1937 e 1939, em documentos dos
Ministérios da Justiça, do Interior e da Procuradoria Geral, dão um valor de
cerca de 2.000.000 prisioneiros em 1940 (cerca de 300.000 em 1932, e de
1.200.000, no início de 1937). O número acumulado de entradas no Gulag durante
os anos 30, tendo em conta a alta rotatividade dos detentos, é cerca de
6.000.000 de pessoas." No mesmo livro, à página 416, lemos: "Como evidenciado pelos arquivos do Gulag,
recentemente exumados, nos anos 1945-53 houve um forte aumento no número de
prisioneiros nos campos de trabalho Gulag (passando de 1.200. 000 para
2.500.000 entre 1944 e 1953), e o número de deportados ‘especiais’ passou de
1.700.000 em 1943, para 2.700.000 em 1953”.
As localizações dos campos no Gulag eram
um segredo (calcula-se o seu número em 476 à época da 2ª Guerra Mundial), mas o
medo que despertavam era bem conhecido por russos, lituanos, poloneses,
armênios e outros tantos que viveram sob a influência da antiga União
Soviética. Os campos de concentração espalhavam-se por todo o país, da gélida
Sibéria às inóspitas regiões da Ásia Central, passando pelas florestas dos
Urais e os subúrbios de Moscou. Eles surgiram antes mesmo de suas infames
contrapartidas nazistas, como Auschwitz, Sobibor e Treblinka, e continuaram a
crescer muito tempo depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Hoje, a história
do Gulag, esse sistema de repressão e punição que aterrorizou milhões, é muito
bem conhecida do mundo ocidental, principalmente através de duas obras. A
primeira delas, “Arquipélago Gulag”,
é um clássico referencial sobre o assunto e foi escrita pelo dissidente,
Alexandr Solzhenitsyn, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1973. Este livro, escrito entre 1958 e 1967, é uma
narrativa de fatos que foram presenciados pelo autor, prisioneiro durante onze
anos, em Kolima, um dos campos do arquipélago, e por duzentas e trinta e sete
pessoas, que confiaram as suas cartas e relatos ao autor. Embora publicada em
1973 no ocidente, a obra circulou clandestinamente na União Soviética, numa versão minúscula, escondida, até à sua publicação
oficial no ano de 1989. A segunda fonte, escrita após o colapso da
União Soviética, “Gulag: Uma História dos
Campos de Prisioneiros Soviéticos”, é de autoria de Anne Applebaum e
recebeu o Prêmio Pulitzer de 2004. O livro apresenta um retrato completo e
acurado de um dos maiores crimes cometidos contra a humanidade. Longe de se
limitar à frieza dos documentos oficiais, finalmente acessíveis, Applebaum
enriquece a história com entrevistas e relatos de sobreviventes, que se
sobressaem, não só pela força da prosa, mas também pela capacidade de sondar
abaixo da superfície do horror cotidiano. Segundo a autora, e de modo ainda
mais amplo, Gulag veio a significar todo o sistema repressivo soviético, o
conjunto de procedimentos que os presos outrora denominaram "o moedor de
carne": as prisões, os interrogatórios, o traslado em vagões de gado sem
aquecimento, o trabalho forçado, a destruição de famílias, os anos de degredo,
as mortes prematuras e desnecessárias.
Evolução do número de presos no Gulag (1930-1953) |
Até hoje os estudiosos discordam quanto às razões que teriam levado Stalin à execução dos “Anos de Terror” na União Soviética. Uma delas, com grande quantidade de seguidores acredita que com a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha, sua política belicista e anti-comunista tornava mais próxima a ideia de uma invasão da URSS. Não podemos esquecer que, desde 1925, Hitler vagamente declarara em seu manifesto político e autobiografia "Mein Kampf" (“Minha Luta”) que ele invadiria a União Soviética, afirmando que o povo alemão necessitava garantir espaço vital para assegurar a sobrevivência da Alemanha pelos anos futuros.
O nazismo via a União Soviética (e todo o leste europeu) como povoado por “sub humanos” não arianos, governados por conspiradores bolcheviques judeus (para igualar os comunistas aos judeus). “Minha Luta” dizia que o destino da Alemanha era avançar para o leste como havia sido feito seiscentos anos antes. Como decorrência, a política nazista estabelecia matar, deportar ou escravizar a maioria dos russos e outras populações eslavas, repovoando a terra com povos germânicos. E Stalin sabia disso. No Oriente, o expansionismo japonês (conquista da Manchúria e guerra contra a China) ameaçava o forte siberiano. Criou-se assim um clima favorável para o “alarme da Pátria socialista em perigo” e a arregimentação de todas as forças em torno da ditadura stalinista. Esta pressão externa condicionou Stalin a visualizar seus inimigos políticos (dentro do Partido) como, objetivamente, inimigos da revolução e aliados da reação fascista.
Presos na construção do canal Mar Branco- Báltico, 1931 - 1933 |
O nazismo via a União Soviética (e todo o leste europeu) como povoado por “sub humanos” não arianos, governados por conspiradores bolcheviques judeus (para igualar os comunistas aos judeus). “Minha Luta” dizia que o destino da Alemanha era avançar para o leste como havia sido feito seiscentos anos antes. Como decorrência, a política nazista estabelecia matar, deportar ou escravizar a maioria dos russos e outras populações eslavas, repovoando a terra com povos germânicos. E Stalin sabia disso. No Oriente, o expansionismo japonês (conquista da Manchúria e guerra contra a China) ameaçava o forte siberiano. Criou-se assim um clima favorável para o “alarme da Pátria socialista em perigo” e a arregimentação de todas as forças em torno da ditadura stalinista. Esta pressão externa condicionou Stalin a visualizar seus inimigos políticos (dentro do Partido) como, objetivamente, inimigos da revolução e aliados da reação fascista.
O
HOLODOMOR
Holodomor é uma palavra ucraniana
que significa “extermínio pela fome”. Foi o nome dado à fome causada por Stalin
na República Soviética Socialista da Ucrânia, entre 1931 e 1933, que matou um
número estimado entre 5,0 e 7,5 milhões de ucranianos. Porém, levando-se em
conta os efeitos prolongados dessa política econômica perversa e os ucranianos
que foram levados ao trabalho forçado e lá morreram, esse número pode ser
superior a 14 milhões.
A Ucrânia foi o país da URSS que
mais resistiu às medidas do plano de coletivização imposto por Stalin. A
autonomia cultural ucraniana e sua forte identidade nacional tornavam-na
intolerável aos soviéticos russos. A insurreição dos camponeses ucranianos
contra as medidas de coletivização forçada e a requisição compulsória de
cereais obrigou Stalin a impingir medidas ainda mais drásticas do que as
executadas em outras regiões.
Stalin traçou uma campanha
antiucraniana para demonstrar quão “nociva” era a postura desse país com
relação aos anseios comunistas. Inicialmente, deu-se início a uma sistemática
humilhação de intelectuais ucranianos, que foram submetidos a julgamentos
vexaminosos e ridiculizações diversas. Houve também uma debelação de possíveis
focos de organização antissoviética que pudessem irromper a longo prazo. Depois
dessas medidas, Stalin passou a atacar o próprio campesinato.
A partir de 1929, deu-se
início a uma ferrenha estipulação de metas de produção de cereais, destinados
ao poder central soviético, que passaram a ser exigidas dos camponeses da
Ucrânia. A rigidez era tão grande que esses camponeses só conseguiriam atender
à demanda se deixassem de consumir sua parte do que era produzido, isto é, só
se passassem fome, de fato. Tudo passou a ser de propriedade do governo. Muitas
pessoas foram presas e condenadas a trabalhos forçados simplesmente por comerem
batatas ou colherem espigas de milho para consumo. Progressivamente, a morte
foi se acentuando na Ucrânia. Entre 1931 e 1933, o número de mortos era tão
grande que os cadáveres se espalhavam pelas ruas e pelos campos. O odor dos
corpos apodrecidos dominava regiões inteiras. O historiador Thomas Woods
reitera esse fato:
“Em 1933, Stalin estipulou uma nova meta de produção e coleta, a
ser executada por uma Ucrânia agora à beira da mortandade em massa por causa da
fome, que havia começado em março daquele ano. Vou poupar o leitor das
descrições mais trágicas do que aconteceu a partir daqui. Mas os cadáveres estavam
por todos os lados, e o forte odor da morte pairava pesadamente sobre o ar.
Casos de insanidade e até mesmo de canibalismo, estão bem documentados.” (Woods,
Thomas. “A Fome na Ucrânia – um dos Maiores Crimes do Estado Foi Esquecido”. Instituto
Ludwig Von Mises Brasil.)
Desde 2006, o Holodomor tem sido reconhecido pela
Ucrânia independente e muitos outros países como um genocídio do povo ucraniano
perpetrado pela União Soviética. É impossível determinar o número exato de vítimas,
mas ele aumenta significativamente quando as mortes no densamente povoado Kuban
ucraniano são incluídas. Os estudiosos discordam sobre a importância relativa
de fatores naturais e más políticas econômicas como causas da escassez absoluta
de alimentos mas acreditam que foi um plano a longo prazo de Stalin, uma
tentativa de eliminar o movimento de independência ucraniana.
Usar o Holodomor como referência à fome, enfatiza os
seus aspectos de “feito pelo homem”, sustentando que ações como a proibição de
ajuda externa, o confisco dos mantimentos das residências e a restrição ao
movimento da população, conferem intenção, definindo a fome como genocídio e
comparando o número de perdas de vidas às do Holocausto. Se as políticas e
ações soviéticas estivessem conclusivamente documentadas como pretendendo
erradicar a ascensão do nacionalismo ucraniano, elas teriam caído sob a
definição legal de genocídio.
Fome na Ucrânia, em 1933 |
Documento de Beria sobre assinado por Stalin para matar 15 mil oficiais polacos e 10 mil intelectuais na Floresta Katyn. |
O terceiro plano quinquenal desenvolveu-se apenas por três anos, de 1938 a 1941, quando a Alemanha invadiu a União Soviética, durante e Segunda Guerra Mundial. À medida que a guerra se aproximava, mais recursos eram lançados no desenvolvimento de armamentos de todas as espécies, bem como na construção de novas fábricas militares a leste dos Montes Urais. Os primeiros dois anos deste terceiro plano foram mais um desapontamento em termos da proclamada produção de objetivos. Contudo, ainda uma taxa relatada de crescimento de 12% a 13% foi atingida na união soviética durante a década de 1930.
Em 23 de agosto de 1939 Stalin firma um pacto de não agressão com a Alemanha hitlerista, conhecido como Pacto Molotov - Ribbentrop, imediatamente antes da invasão alemã na Polônia que disparou o gatilho da 2ª Guerra Mundial na Europa. UM protocolo secreto ao Pacto, resumia um acordo entre Alemanha e União Soviética sobre a divisão dos estados nas fronteiras do leste europeu, entre suas respectivas “esferas de influência”: a União Soviética e a Alemanha repartiriam a Polônia no caso de uma invasão pela Alemanha e a Rússia poderia ocupar os Estados Bálticos e a Finlândia. Como conclusão do pacto, no mês seguinte a União Soviética de Stalin invadiu a Polônia, promovendo a anexação da parte leste do país e deixando o mundo atônito tendo em vista a mútua hostilidade prévia das duas partes e suas ideologias conflitantes. Em março e setembro de 1940, aproveitando o fato de “não estar participando da Segunda Guerra Mundial”, Stalin respectivamente ocupa partes da Finlândia e da Romênia.
Como resultado do pacto, Alemanha e União Soviética mantiveram ralações diplomáticas razoavelmente fortes por dois anos, promovendo importante relação econômica. Em 1940 os dois países assinaram um pacto de comércio pelo qual os soviéticos recebiam equipamento militar e bens de consumo alemão, fornecendo aos alemães matéria prima como óleo e trigo como ajuda para frustrar o bloqueio inglês à Alemanha. A despeito das aparentes relações cordiais ostensivas, cada lado suspeitava fortemente das intenções do outro. Após a formação do Eixo, com Japão e Itália, a Alemanha iniciou negociações para uma potencial entrada da União Soviética no Eixo e após dois dias de negociações em Berlim, de 12 a 14 de novembro de 1940, a Alemanha apresentou uma proposta escrita para a entrada da União Soviética no Eixo. Em 25 de novembro de 1940, a União Soviética ofereceu uma contraproposta por escrito, para unir-se ao eixo, sob a condição de que a Alemanha suspendesse sua interferência sobre a esfera de influência da União Soviética, não respondida pela Alemanha. Como os dois lados começaram a colidir na Europa Oriental, o conflito surgiu como mais provável, embora ainda assinassem um acordo comercial e de fronteiras sobre várias questões, em janeiro de 1941.
Massacre na Floresta Katyn em 1940 |
Desfile conjunto alemão-soviético em 23/09/1939, ao final da campanha da Polônia. |
Imediatamente antes, durante e logo após a 2ª Guerra mundial, Stalin conduziu uma série de deportações, em tão grande escala a ponto de profundamente afetar o mapa étnico da União Soviética, provavelmente por não confiar em etnias particulares, como os coreanos soviéticos, os alemães do Volga, chechenos e poloneses. Estima-se que entre 1941 e 1949, aproximadamente 3,3 milhões foram deportados para a Sibéria e as repúblicas da Ásia Central. Por algumas estimativas, até 43% da população reassentada morreu de doenças e desnutrição. As razões oficiais mencionadas para as deportações foram o separatismo, a resistência ao mando soviético e a colaboração com os alemães invasores. As circunstâncias individuais dos que passaram algum tempo em territórios ocupados pelos alemães não foram examinadas. Após a breve ocupação nazista do Cáucaso, toda a população de cinco dos pequenos povos das montanhas e os tártaros da Crimeia – no total, mais de um milhão de pessoas – foram deportados sem aviso prévio ou qualquer oportunidade de apanhar suas posses.
Finalmente, em 22 de junho de 1941, a Alemanha declara guerra à URSS, através da “Operação Barba Ruiva”, sem uma declaração oficial de guerra, embora os preparativos bélicos e todos os planos de ataque e de defesa dos dois lados, ao longo de toda a fronteira. Cerca de 03:15 hs de 22 de junho de 1941, as forças do Eixo iniciaram a invasão da União Soviética pelo bombardeio das principais cidades da Polônia ocupadas pelos soviéticos e por uma barragem de artilharia sobre as defesas do Exército Vermelho em toda a frente. Em torno do meio dia a invasão foi transmitida à população pelo Ministro das Relações Exteriores Vyacheslav Molotov: “ .... Sem uma declaração de Guerra, as forças germânicas caíram sobre nosso país, atacaram nossas fronteiras em vários pontos ... O Exército Vermelho e toda a nação travarão uma vitoriosa Guerra Patriótica por nosso amado país, pela honra, pela liberdade ...”. Ao conclamar a devoção da população à Nação e não ao Partido, Molotov tocou uma corda patriótica que ajudou um povo atordoado a absorver notícias perturbadoras. Stalin só se dirigiu à nação, sobre a invasão, no dia 3 de julho e, como Molotov, clamou por uma “Guerra Patriótica” de todo o povo soviético.
Não resta dúvida de que houve êxito na reconstrução do país e na elevação do nível econômico e cultural da população soviética, tornando a URSS, juntamente com os Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), uma das superpotências mundiais, embora a União Soviética tenha tido perdas humanas e materiais que nunca poderão ser comparadas com qualquer dos países que participou da guerra. Com a vitória dos aliados sobre o eixo nazi-fascista (Alemanha, Japão e Itália), a União Soviética, principal oponente da Alemanha na Europa, passou a dispor de enorme prestígio internacional, embora as suas imensas perdas.
[1] Cheka foi a primeira de uma sucessão de organizações de segurança do estado soviético, criada em 20/12/1917, por um decreto de Lenin. Até o final de 1918, centenas de Chekas haviam sido criadas em várias cidades, em múltiplos níveis. Milhares de dissidentes, desertores e outras pessoas foram presas, torturadas e executadas por vários grupos Cheka. Após 1922, grupos Cheka passaram por uma série de reorganizações, com a NKVD, em corpos cujos membros continuaram a ser chamados “Chekistas”, até a década de 1980.
Prossegue na próxima postagem com a PARTE 10
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