Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sábado, 20 de agosto de 2011

UMA PEQUENA HISTÓRIA DA INGLATERRA CONTADA POR UM GAÚCHO DE PORTO ALEGRE, DESCENDENTE DE PORTUGUESES E RESIDENTE EM GRAMADO - A HISTÓRIA PROPRIAMENTE DITA (15) (Vigésima Terceira Parte)

O AMBIENTE ARTHURIANO (PARTE 1)

Penso que devemos iniciar a análise do ambiente Arthuriano, pelo castelo do Rei, ou seja, pelo local do seu nascimento, que deveria ser o local do seu reino ou próximo dele. Posteriormente, passaremos ao seu séquito, iniciando, obrigatoriamente, pela família mais próxima de Arthur, isto é, sua irmã ou meia irmã Morgan Le Fay (Fada Morganna) ou Morganna (ou ainda Morgause? Ou Anna?) e sua esposa Guinevere.
Localização da Cornwall na England e do Tintagel Castle, na costa oeste da Cornwall
 
O Arthur da imaginação popular nasceu no Castelo de Tintagel, na costa norte da Cornwall (Cornuália), originalmente mencionado por Geoffrey of Monmouth em sua História dos Reis da Britain. Qualquer um que visite a minúscula vila, durante a estação de férias, o encontrará repleto de turistas de todas as nacionalidades, com suas ruínas resistindo à margem de Tintagel, no que é, virtualmente, uma ilha envolvida em mar espumante, ligada ao continente por uma estreita cumeeira de rocha.
Vista panorâmica da localização e ruínas do Tintagel Castle, Cornwall
 Não foi por acaso que o seu nascimento foi nesse castelo: nele habitava Gorlois, o duque da Cornwall, com sua esposa Ygerna, por quem Uther Pendragon se apaixonara e com quem conseguiu fazer amor por uma magia de Merlin, concebendo a Arthur.
Ruínas das muralhas e vigilância do Tintagel Castle
Antiga janela do Tintagel Castle e a rude costa da Cornwall
 Entretanto, historicamente, esse castelo jamais poderia ser o local de nascimento do guerreiro Arthur, que viveu séculos antes do início da sua construção, ocorrida no início do século XII, por obra de Reginald, Conde da Cornwall. Embora em defesa de Geoffrey, surgisse a sugestão de que Arthur teria nascido em um castelo que teria previamente ocupado o mesmo local, escavações modernas mostraram que o promontório havia sido anteriormente ocupado por uma comunidade monástica, tornando o local incompatível para o nascimento de quem quer que fosse.
 Na busca do centro lendário do místico reino de Arthur, Camelot, surge imediatamente o fato de que não há qualquer evidência de que tenha existido, um dia, algum local com esse nome.
Winchester, condado de Hampshire, antiga Wessex, England
A primeira vez que esse nome surgiu foi na obra de Chrétien de Troyes, no século XII, apenas no conto Lancelot, mencionado uma vez e de passagem. Durante o século seguinte, com os romancistas posteriores, Camelot começa a aparecer em detalhe gráfico, como uma cidade esplêndida e seu inexpugnável castelo. Os autores diferem consideravelmente em suas descrições, mas sobretudo falham na especificação de seus arredores.
De acordo com Malory, Camelot estaria situado em Winchester, Hampshire, e no grande saguão de entrada do Castelo de Winchester, a mais famosa das relíquias Arthurianas, a Távola Redonda, ainda existe, de carvalho maciço, pendurada em uma parede, sem as pernas, com seus imponentes 5,5 m de diâmetro e pesando aproximadamente 250 kg. No tempo de Malory muitos a consideraram genuína e se acreditou que o castelo fosse a fortaleza de Arthur; infelizmente, da mesma forma como Tintagel, tal castelo não é suficientemente velho para o período Arthuriano, tendo sido construído no século XI por William the Conqueror.

Vista externa do Great Hall de Winchester Castle

A própria mesa foi datada, por métodos científicos modernos, como do século XIV, construída durante o reinado de Edward III, quando este monarca concebeu a idéia de fundar uma ordem de cavalaria baseada nos Cavaleiros da Távola Redonda, sem qualquer ligação com o Rei Arthur do século VI.
Vista interna do Great Hall com a Távola Redonda ao fundo


Wales também tem o seu candidato a Camelot e essa seria a pequena cidade de Caerleon, às margens do rio Usk, sudeste do país, mencionada por Geoffrey como tendo sido a corte de Arthur após a sua primeira campanha na Gaul. Este foi também o local de uma das batalhas importantes de Arthur, mencionada na Historia Brittonum de Nennius, como a Cidade da Legião, antiga Isca Silurum, posto avançado romano, com grande população civil. Escavações modernas revelaram um grande número de ruínas romanas no local, incluindo um anfiteatro que alegadamente seria a origem da Távola Redonda. Entretanto, Caerleon dificilmente se ajustaria às lendas de Camelot.
Cadbury Castle, um forte de colina da Idade do Ferro, na England, foi por muitos anos proposto como o local preferido para Camelot. A tradição provavelmente surgiu como resultado da palavra Camel ter sido encontrada nos nomes de duas vilas próximas: Queen Camel e West Camel.
Localização de Cadbury na Cornwall, a mais cotada localização do Reino de Camelot


A referência mais antiga data do antiquário chefe de Henry VIII, John Leland, em 1542 que, embora dissesse que o povo acreditava que Cadbury tinha originalmente sido Camelot, nunca pode descobrir qualquer lenda Arthuriana relacionada ao forte de colina. Excavações modernas em larga escala foram realizadas em Cadbury nos anos 1960’s e embora mostrassem que o campo, como outros locais similares, tivesse sido reutilizado cerca do ano 500, nenhuma evidência desenterrada o ligou ao histórico Rei Arthur.

Mais recentemente, Camelot tem apenas sido associado com os valores que se crê ter representado, sendo algumas vezes utilizado para representar um lugar ideal.
Morgan le Fay (ou a Fada Morganna) ou simplesmente Morganna, como foi posteriormente chamada, aparece pela primeira vez na Vita Merlini, de Geoffrey, como a líder de uma ordem de nove mulheres “santas”, da Ilha de Avalon ou das Maçãs. É ela que trata das feridas mortais de Arthur, sofridas na Batalha de Camlann e, de acordo com o mesmo autor, apaixona-se por ele exigindo sua promessa de ficar na Ilha, para onde havia sido levado. Neste ponto de evolução da lenda Arthuriana, ela não era sua irmã, mas apenas uma figura mística e curandeira, somente assumindo esse papel com a obra de Chrétien de Troyes.
Pode parecer estranho aos leitores das versões mais modernas da História Arthuriana que nos romances mais antigos Morganna fosse uma bondosa e fascinante mulher e não a malévola feiticeira em que depois se transformou. Foi principalmente graças à Vulgate Cycle, compilada cerca de um século após Geoffrey, que Morganna é transformada numa bruxa má cuja mágica destrói o reino. Embora ainda conduzindo o ferido Arthur para Avalon, ela despreza Guinevere, seduz a Lancelot e, constantemente, conspira contra ambos.

Morgana lançando a Excalibur no lago

Na Morte dArthur, de Sir Thomas Malory, Morganna é uma das três filhas de Igrayne e do Duque da Cornwall e, portanto, a meia irmã de Arthur por parte da sua mãe. Mais tarde torna-se esposa do rei Lot of Orkney e mãe de Gawaine, Gaheris, Agravaine, Gareth e Mordred, filho incestuoso com o Rei Arthur. Em adaptações modernas da lenda Arthuriana, baseadas em Malory, o episódio do incesto é totalmente arquitetado pela própria Morgause, e ela é, não apenas a mãe biológica de Mordred, mas também a sua mãe psicológica, usando-o como uma ferramenta para destruir o seu pai. Morgana é também apresentada como a permanente adversária de Arthur: ela dá a espada Excalibur ao seu amante Accolon para que ele possa usá-la contra o Rei Arthur (uma história recontada no poema de Madison J. Cawein Accolon of Gaul) e quando a trama falha, ela rouba a bainha da Excalibur que protege Arthur e a lança em um lago. No Sir Gawain and the Green Knight ela é apresentada como a instigadora da visita do Green Knight à corte do Rei Arthur, parcialmente motivada pelo seu desejo de amedrontar Guinevere, cuja inimizade tem sua origem no Lancelot da Vulgate, onde Morgana tem um relacionamento com Guiomar, primo de Guinevere, que põe fim ao caso. Morgana também é dita ser a esposa do Rei Uriens e a mãe de Yvain ou Ywain, raramente aparecendo em trabalhos pós-medievais, até o século XX quando surge um interesse renovado em seu caráter. Dependendo do texto, ela é, algumas vezes, confundida com Anna (em Historia Regnum Brittaniae, de Geoffrey of Monmouth ou em Brut, de Layamon), com Morgause tornando-se então a mãe de Mordred, como no caso do filme Excalibur, de John Boorman e em alguns romances modernos, ou ainda com Belisent (como em Alliterative Morte Arthure dos Idylls of the King, de Lord Tennyson). Uma das mais interessantes representações modernas de Morgana aparece no Arthur Rex (Arthur Rei) de Thomas Berger, onde após uma vida devotada ao mal ela decide tornar-se freira por sua crença em que “a corrupção foi desde cedo trazida à humanidade pelas forças da virtude”.
The Wicked Day, de Mary Stewart, demonstra o insaciável apetite de Morgause por homens mais jovens, notadamente por Lamorak, filho do Rei Pellinore. Ao descobrir Morgause em flagrante com o jovem cavalheiro, Gaheris assassina sua mãe num ataque de fúria e, mais tarde, com a assistência de seus irmãos, persegue e mata Lamorak num combate claramente injusto.
A notável exceção à grande tradição de tratar Morgause como vilã nas novelas modernas é Marion Zimmer Bradley, em suas The Mists of Avalon. Nessa novela, a primeira representação de Camelot de uma perspectiva quase totalmente feminina, Morgause é uma afetiva figura de mãe, uma forte intelectual esposa do Rei Lot e, mais tarde, uma esposa sexualmente liberada. Ao mesmo tempo, a sua crueldade em alcançar seus fins políticos é realçada pela insensibilidade de Morgaine e Viviane. A Morgause de Bradley apenas encontra o seu término na velhice, derrotada pela rejeição de um potencial amante mais jovem.

4 comentários:

Gilda Souto disse...

Bom dia Nelson e bom domingo!
Interessei-me em saber da Fada Morgana e fui buscando..., encontrei maravilhosas postagens no meu passeio virtual,orientada por sua deliciosa leitura! Maravilhosa minha manhã de domingo...acho que tem mais, certo? Vou estar atenta,bom dia, abraço!

Nelson Azambuja disse...

Salve Gilda, minha fiel escudeira!
Estamos chegando aos "finalmente" da empreitada.Mais umas quatro postagens e encerraremos. Falta pouco agora ...
Obrigado pela fidelidade e um grande abraço.

Edna Martins disse...

Olá Nelson, Meu nome é Edna Felisberto
Estou escrevendo sobre uma memória que tenho de uma vida passada. Em uma de minhas vidas passadas, ela se deu na Cornualha, porém, não consigo precisar as datas. O que sei que foi antes do ano 1000 d.c e que morava em um castelo não muito grande de frente para o mar, uma vila de pescadores mais a baixo da colina. Meu pai, na época, era comandante de tropas do exército córneo com parceria com os Bretões, o acordo para permanecermos na região era de protegermos a costa contra invasores, que por ventura quisessem entrar por ali. Havia interferência da igreja no processo, tivemos que nos converter ao cristianismo, não podíamos demostrar as habilidades céltica: bruxarias.
o que estou procurando é algo na história relacionado a isso.

Nelson Azambuja disse...

Prezada Edna:

Infelizmente não possuo elementos para te ajudar; são muito poucos os dados numa história tão vasta e tão antiga. Entretanto, dadas as as tuas outras vidas, vividas naquele região, fico imaginando que terás, ao contrário, muitas coisas para me ensinar. Estaria muito interessado em conhecer tuas aventuras nessas outras vidas!

Um grande abraço.
Nelson Azambuja