Tullus Hostilius,
de origem latina, sucessor de Numa Pompílio, era muito parecido com Rômulo no
que se refere ao seu caráter guerreiro e
completamente oposto a Numa em sua falta de atenção aos deuses. Fomentou guerras
contra Alba Longa, Fidenes (cidade muito próxima de Roma) e Veios (a mais
meridional das metrópoles etruscas, em guerra com Roma por séculos), que
granjearam a Roma novos territórios e maior poder. Foi durante o reinado de Tullus
que Alba Longa foi completamente destruída, sendo toda a população escravizada
e enviada a Roma. Desta forma, Roma se impôs à sua cidade materna como poder
hegemônico do Lácio. Apesar de sua natureza beligerante, Tullus Hostilius
selecionou um terceiro grupo de indivíduos que chegou a pertencer à classe patrícia
de Roma, eleito entre todos aqueles que haviam chegado a Roma buscando asilo e
uma nova vida. Também erigiu um novo edifício para albergar o senado, a Cúria Hostilia, anteriormente destruído
por incêndio.
Tullus Hostilius derrotando Veios |
Em seu reinado o
rei envolveu-se em tantas guerras que, descuidando sua atenção das divindades, teria
provocado uma terrível peste sobre Roma, de acordo com as lendas, afetando
muitos romanos e o próprio rei. Quando Tullus solicitou ajuda a Júpiter, o deus
respondeu como um raio que reduziu a cinzas o monarca e sua residência. Seu
reinado chegou ao fim após 32 anos de duração.
4) Ancus Martius
Com a morte de Tullus
Hostilius, os romanos elegeram o sabino Ancus Martius, neto de Numa Pompilius,
um personagem pacífico e religioso que, tal como seu avô, apenas estendeu os
limites de Roma, lutando em defesa dos territórios romanos quando preciso.
Durante seu reinado fortificou o monte Janículo, na margem ocidental do rio
Tibre e não incluído nas sete colinas, para assim garantir maior proteção à
cidade por este flanco. Construiu também a primeira ponte de Roma sobre o Tibre,
a ponte Sublicius, assim como a
primeira prisão romana, o carcere
Mamertino, existente até hoje. Outras das obras do rei foram a construção
do porto romano de Óstia na costa do mar Tirreno, assim como as primeiras
fábricas de salga, aproveitando a rota fluvial tradicional do comércio de sal (via
Salaria) que abastecia os agricultores sabinos. A extensão da cidade de
Roma foi incrementada devido à diplomacia exercida por Ancus, permitindo a
união pacífica de várias aldeias menores através de alianças. Graças a este
método, conseguiu o controle dos latinos, realojados no Aventino, consolidando
assim a classe plebeia de Roma. Todavia, ainda são evidentes os conflitos entre
romanos e latinos durante seu reinado.
Após 24 anos de
reinado morreu, possivelmente, de morte natural, como seu avô, sendo recordado
como um dos grandes pontífices de Roma. Foi o último dos reis latino-sabinos de
Roma.
Servius Tullius,
genro de Tarquinius Priscus, assumiu o trono e, como seu predecessor, travou
várias guerras vitoriosas contra os etruscos. O espólio obtido foi utilizado
para o financiamento das primeiras muralhas que cercavam as sete colinas
romanas, sobre o pomerium, as chamadas Murus Servii Tullii (Muralhas Servianas), assim como um
templo dedicado a Diana na colina do Aventino.
No âmbito bélico
Servius Tullius introduziu novas táticas militares, aos moldes etruscos e
gregos, e empenhou-se em tornar o exército romano mais disciplinado e
basicamente composto de infantaria pesada, a exemplo das falanges hoplitas (hoplita:
soldado grego de infantaria pesada, o nome oriundo de hoplon, o grande escudo que levavam à frente) gregas. Seu exército,
composto por 6.000 infantes e 600 ginetes, era formado de homens com quantidade
mínima de bens chamados adsidui, de modo a diferenciá-los dos proletarii,
os pobres da sociedade que compunham a infra classem (classe inferior) e
que não tinham direito a participar do exército.
Ruínas das Muralhas Servianas |
No âmbito social,
desenvolveu uma nova constituição para os romanos, com maior atenção às classes
cidadãs. Instituiu o primeiro censo da história, dividindo a população de Roma
em cinco classes censitárias, criando também a assembleia centuriata (primeira
assembleia nacional do reino de Roma). Utilizou também o censo para dividir a
cidade em quatro "tribos" urbanas (tribus urbanae), baseadas
em sua localização espacial dentro da cidade, e o restante do território romano
em 16 tribos rurais (tribus rusticae), estabelecendo a assembleia tribal
(comitia tribuna).
As reformas de Servius
provocaram uma grande mudança na vida romana: o direito a voto foi estabelecido
com base no patrimônio, pelo qual grande parte do poder político permaneceu
reservado às elites romanas. Contudo, no tempo de Servius, as classes mais
desfavorecidas foram gradualmente favorecidas para, desta forma, obter maior
apoio por parte dos plebeus, razão pela qual sua legislação pode definir-se
como insatisfatória para a classe patrícia. O grande reinado de 44 anos de Servius
Tullius terminou com seu assassinato em uma conspiração urdida por sua própria
filha Tullia e seu marido Tarquinius, seu sucessor no trono.
7) Lucius Tarquinius Superbus
(Tarquínio, o Soberbo)
Lucius Tarquinius Superbus
O sétimo e
último rei de Roma foi Tarquinius Superbus, filho de Tarquinius Priscus e genro
de Servius Tullius, também de origem etrusca. Usou a violência, o assassinato e
o terror para manter o controle sobre Roma como nenhum rei anterior havia
utilizado, revogando, inclusive, muitas das reformas constitucionais
estabelecidas por seus predecessores. Sua melhor obra para Roma foi a
finalização do templo de Júpiter, iniciado por seu pai Prisco, quando chamou o
escultor etrusco Vulca de Veii para produzir a estátua de Júpiter no templo.
Tullia passando com o carro sobre seu pai |
Tarquínio aboliu
e destruiu todos os santuários e altares sabinos da rocha Tarpeia (local de
onde eram lançados para a morte os malfeitores condenados), enfurecendo desta
forma o povo romano. O ponto crucial de seu reinado tirânico sucedeu quando
permitiu a violação de Lucrécia, uma patrícia romana, por seu filho Sexto
Tarquínio. Um parente de Lucrécia e sobrinho do rei, Lúcio Júnio Bruto,
convocou o senado que decidiu a expulsão de Tarquínio no ano 509 AC. Tarquínio
fugiu para a cidade de Túsculum e posteriormente para Cumas, onde morreria no
ano 495 AC. Esta expulsão supostamente pôs fim à influência etrusca tanto em
Roma como no Lácio.
Os etruscos
influenciaram os romanos tanto no plano cultural (disseminação do uso de túnicas,
práticas religiosas e culto a novos deuses), como no plano material (ampliação
do comércio e criação de canais de drenagem para secagem de pântanos locais);
durante a dominação etrusca a área do Forum Romanum tornou-se o centro socioeconômico
de Roma. É desta época a construção
de uma ponte que substituiria um baixio do rio Tibre, utilizado para a sua
travessia, e o sistema de esgotos romano, obras de engenharia com traçados
típicos da civilização etrusca. Não há dúvida de que, do ponto de vista técnico
e cultural, os etruscos só foram suplantados pelos gregos no desenvolvimento
romano. O legado etrusco foi grande e duradouro, tendo transformado Roma, de
uma comunidade pastoral, em uma verdadeira metrópole, imprimindo-lhe alguns aspectos
culturais dos gregos como, por exemplo, a versão ocidental do alfabeto grego.
Continuando a sua expansão para o sul, os etruscos estabeleceram contato direto
com os gregos e, após um sucesso inicial nos conflitos contra os Gregos do sul
da Itália, entrariam em declínio.
Após a expulsão
de Tarquínio, o senado decidiu abolir a monarquia, convertendo Roma em uma República
no ano 509 AC. Neste mesmo ano, um estratagema conhecido como “Conspiração
Tarquiniana” foi planejado por patrícios e membros do senado que apoiavam a
monarquia tombada. O estratagema, contudo, mostrou-se falho, e os conspiradores
foram condenados a morte.
O período entre a fundação de Roma e a expulsão
de seu último rei durou dois séculos e meio. Tendo começado, como outras
cidades do Lácio, como um simples refúgio de pastores, o assentamento no Palatino
expandiu-se até dominar todo o círculo das sete colinas. Lentamente, em
paralelo com esse crescimento interno, uma sucessão de conquistas levou as
fronteiras às duas margens do Tibre, até ao mar Tirreno, a uma longa faixa do
Lácio, desde Óstia até Circeii e desde a fronteira sabina às terras altas dos volscos, na região central da península
Itálica, Lácio meridional. Devido à política liberal, houve um constante fluxo
de novos colonizadores, que trouxeram força e conhecimentos à comunidade. Com o
passar do tempo, a presença dessa nova população, fora do círculo privilegiado
dos fundadores, trouxe problemas que foram superados e contribuiu para a
formação de legisladores e estadistas entre as classes dirigentes. Assim, após
mais de dois séculos de existência, em 509 A.C., terminou o período real e a República
Romana iniciou-se sem que se verificasse qualquer ruptura violenta das
tradições.
(Segue com a Parte 5)
[1] Corinto foi uma das
mais florescentes cidades gregas da antiguidade clássica, situado na Corintia,
periferia do Peloponeso, enorme península ao sul da Grécia.
[2] Um triunfo romano era uma cerimônia civil
e religiosa para homenagear publicamente o comandante militar de uma guerra ou
campanha no estrangeiro, notavelmente bem sucedida, e para exibir as glórias da
vitória romana. Aqueles que recebiam esta distinção eram denominados triumphators.
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