Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

domingo, 14 de abril de 2013

BREVE HISTÓRIA DO IMPÉRIO ROMANO - PARTE 1


I – INTRODUÇÃO

A ideia de escrever sobre o mundo da Roma antiga, surgiu como uma consequência das publicações que fiz sobre a história da Inglaterra, durante quatro séculos ocupada pelos romanos.
Embora no título geral dado à publicação, estejamos usando “Império Romano” como sinônimo de nação romana, isto não corresponde, totalmente, à verdade. A história de Roma passou por diferentes regimes políticos, nem sempre típicos das épocas em que aconteceram. No início da sua história, o povo de Roma foi governado por reis, seguido por uma República Romana e, finalmente, por um Império Romano. Mas foi durante esse Império que Roma atingiu o seu máximo esplendor como nação rica e a sua maior área territorial. Daí o título da nossa resenha.
Contar a história do mundo de Roma é trabalho hercúleo, tanto no que se refere à quantidade de trabalhos a ser pesquisada, como na qualidade das fontes. Muitos historiadores já dedicaram suas vidas a esse ministério e eu não acrescentaria nada a essa façanha. Por essa razão, nosso trabalho terá uma característica especial, qual seja, tentar mostrar o que foi o mundo de Roma, de uma maneira coerente, cronológica, que apresente as suas relações com os demais mundos que a cercavam à época e, sobretudo, de uma maneira simples e palatável pelos meus leitores e pelos que me venham buscar numa pesquisas futura, sem que tenham grandes problemas de entendimento da matéria.
Novamente, por se tratar de matéria muito volumosa, faremos a publicação em capítulos para que a leitura possa ser melhor digerida.

II – A FUNDAÇÃO DE ROMA

O Reino de Roma ou monarquia romana (em latim: Regnum Romanum), é a expressão utilizada, por convenção, para definir o Estado monárquico romano, desde a sua fundação, até a queda da realeza, em 509 AC. A República Romana (do latim res publica, "coisa pública"), por sua vez, é o termo utilizado, também por convenção, para definir o Estado romano e suas províncias, desde o fim do Reino de Roma em 509 AC (quando o último rei foi deposto), até o estabelecimento do Império Romano em 27 AC. Finalmente, o Império Romano (em latim: Imperium Romanum) foi um Estado que se desenvolveu a partir da península Itálica, durante o período pós-republicano da antiga civilização romana, caracterizado por uma forma autocrática[1] de governo e de grandes domínios territoriais na Europa e em torno do Mediterrâneo.
Durante a República Romana, muitas datas foram atribuídas à fundação da cidade, no intervalo entre 758 AC e 728 AC. Finalmente, no Império Romano, durante o governo de Augusto, a data sugerida por Marco Terêncio Varrão[2], 21 de abril de 753 AC, foi considerada a oficial, embora nos Fasti Capitolini[3] o ano adotado seja 752 AC. Embora o ano varie, todas as versões concordam que o dia é 21 de abril, data do festival de Pales, deusa do pastoreio. O calendário romano ab urbe condita (desde a fundação da cidade), porém, começa com a data de Varrão. De qualquer forma, embora a data exata seja desconhecida, há um consenso entre os historiadores de que Roma teria sido fundada no século VIII AC.
Entre a data convencional da Guerra de Troia (1182 AC) e a data aceita para a fundação de Roma (753 AC) há um intervalo de quatro séculos, razão pela qual os romanos, durante a República, criaram a lenda da dinastia dos reis de Alba Longa, de forma a preencher o vazio de 400 anos entre Eneias e Rômulo, de que ainda falaremos. Os vestígios arqueológicos, no entanto, demonstram que Lavínio, Alba Longa e Roma no seu início são contemporâneas.
Muito da história de Roma foi criado a partir de mitos, lendas, obras literárias e história de vultos romanos. O poeta romano Virgilio, em sua “Eneida” - que trata das aventuras de Eneias, semideus, herói e sobrevivente de Troia - e o historiador romano Tito Lívio encarregaram-se de imortalizar a lenda que narra a fundação de Roma. Segundo essa lenda, Roma foi fundada por Rômulo, cuja origem remonta à guerra de Troia. Quem leu a Ilíada, a Odisséia (ambas de Homero) e a Eneida, sabe bem do que estamos falando. Além disso, os romanos elaboraram um complexo conto mitológico sobre a origem da cidade e do estado, que se uniu à obra histórica de Tito Lívio e à obra poética de Virgilio e Ovídio, todos da era de Augusto. Naquela época, as lendas oriundas de textos mais antigos foram trabalhadas e fundidas num conto único, no qual o passado mítico foi interpretado em função dos interesses do império. Os modernos estudos históricos e arqueológicos, que se baseiam nestas e em outras fontes escritas, além de objetos e restos de construções obtidos em vários momentos das escavações, tentam reconstruir a realidade que existe no conto mítico, no qual se reconhecem alguns elementos de verdade.
Procurando simplificar ao máximo a vida dos nossos leitores, quanto aos antecedentes da fundação de Roma, quero apresentar uma breve nota sobre a Ilíada, de Homero e, posteriormente, sobre a Eneida, de Virgilio, com alguns mapas que, estou certo, serão bastante úteis como pondo de partida dessa verdadeira Odisseia, esta uma outra história.
O poema épico grego “Ilíada”, de provável autoria de Homero, descreve parte dos acontecimentos que marcaram a “Guerra de Tróia”, na verdade apenas cerca de dois meses do décimo e último ano do grande conflito travado entre aqueus (chamados de dânaos, por Homero) e troianos. A grande guerra teria sido deflagrada pelo sequestro de Helena, consorte de Menelau, rei de Esparta, por Paris, filho do rei troiano, Príamo. A Ilíada leva esse nome da palavra “Illion”, nome grego da lendária cidade de Tróia, em latim. Aqueus, na verdade fundadores do Império Helênico, são vistos como sinônimos de gregos, embora os troianos também pertencessem à civilização helênica. À época do conflito, não existia a Grécia, como hoje a conhecemos, mas sim uma espécie de confederação de cidades-estados, entre as quais podemos citar Esparta, Argos, Micenas e a própria Tróia, que viviam, mais ou menos, harmoniosamente entre si.
Localização de Troia no contexto geral
Ao fim e ao cabo, os gregos, liderados por Agamêmnon, rei de Micenas e irmão do rei ultrajado, usando o tão conhecido “Cavalo de Tróia”, venceram a guerra, causando a fuga dos poucos sobreviventes de Tróia.
No mapa apresentado ao lado, muito ilustrativo para tudo o que seguirá em nossa resenha, pode-se ver, claramente, a Grécia como é hoje, com suas inúmeras ilhas, fazendo fronteira com a Turquia, a leste. A Anatólia (ou Península Anatoliana) é a região do estremo oeste da Ásia, que corresponde, hoje, à porção asiática da Turquia, em oposição à sua porção europeia, a Trácia. Pois bem, a lendária Troia estaria localizada na região mais ocidental da Anatólia, faceando o mar de Mármara e o mar Egeu, conforme se pode ver no mapa seguinte, em escala maior.
Localização de Troia no detalhe
Entre os sobreviventes que fugiram de Tróia, encontrava-se um de seus maiores heróis, Eneias, filho da deusa Vênus, com seu pai Anquises e seu filho pequeno Ascânio; sua mulher Creúsa, filha do rei de Troia, Príamo, desparece na fuga enquanto deixam a cidade. Segundo a “Eneida” (sobre Eneias), de Virgilio e a “Ad Urbe Condita Libri” (Livros da Fundação da Cidade), de Tito Livio, as aventuras de Eneias se iniciam quando, fugindo de Troia, ruma à Itália – que, naquele tempo, nada tinha de Itália, vista como um país – comandado e desmandado por vários “deuses” que, em absoluto, se entendem. Assim, em suas peripécias, Eneias aporta inicialmente em Cartago (no mapa que segue, verificar Cartago na rota de Eneias de Troia para a Itália), onde torna-se hóspede da rainha Dido, a quem narra suas aventuras em Tróia e que acaba se apaixonando e suicidando por ele, quando parte para o Lácio, por ordem de Júpiter.
Posição de Cartago - norte da África
O Lácio (em latim “Latium”) é uma região da Itália Central (ver nos mapas que seguem) que tem Roma como capital e que remete aos latinos, povo do qual os romanos descendem e cujo idioma, o latim, tornou-se a língua formal do Império Romano e foi difundida amplamente entre os territórios que dominou. No Lácio, Eneias é amavelmente recebido pelo Rei Latino e acaba casando-se com sua filha Lavínia e fundando a cidade de Lavinio (Lavinium), hoje Pratica di Mare, muito próxima de Roma, onde reina por três anos, desparecendo do reino dos mortais e recebendo honras de imortal.
A região do Lácio na Itália
Região do Lácio no detalhe
Cerca de trinta anos após, seu filho Ascânio, de Creúsa, sua primeira mulher, funda a cidade de Alba Longa, às margens do então rio Alba cujo nome mudaria posteriormente para o famoso rio Tibre, que flui através de Roma. Sobre Alba Longa reinariam seus descendentes. Cerca de 400 anos depois, o filho e legítimo herdeiro do décimo-segundo rei de Alba, Numitor, é deposto pelo irmão Amúlio. Temeroso de perder o trono para os descendentes de Numitor, Amúlio mata seu sobrinho Lauso e obriga sua sobrinha, Reia Sílvia, à virgindade perpétua, tornando-a Vestal (sacerdotisa virgem, consagrada à deusa Vesta). No entanto, ela é fecundada e justifica sua falta dizendo ter sido seduzida pelo deus Marte (deus romano da guerra) e dá à luz os gêmeos Rômulo e Remo. Amúlio prende Reia Sívia e manda um servo executar os gêmeos; este condoendo-se da sorte das crianças, deposita ambos em um cesto que abandona no rio Tibre. Conta a lenda que uma loba, que recém perdera seus filhotes, os tira da água, amamenta e cria; algum tempo depois, ao passar pelo local, um pastor de nome Fáustulo os encontra e leva para casa, onde sua mulher, Aca Laurência, os cria. Alguns historiadores romanos detiveram-se nesse episódio, pelo menos, para tentar explicar detalhes mais improváveis, reinterpretando a loba que teria salvo os gêmeos. Os romanos designavam pela mesma palavra “lupa”, a fêmea do lobo e a prostituta. Baseado nisso, tais historiadores afirmam que, na realidade, a ama dos gêmeos teria sido Aca Laurência, mulher do pastor Fáustulo, que exercia o ofício de prostituta. A fantástica lenda do animal que os socorre teria surgido, portanto, da ambiguidade da palavra lupa.
Rômulo e Remo com a loba
Fato é, que Rômulo e Remo cresceram na cabana de seus pais adotivos em companhia de pastores com os quais caçavam e atacavam salteadores para roubar-lhes os espólios. Acusado de roubo, Remo é capturado e levado à presença do rei Amúlio. Fáustulo resolve então contar a Rômulo da sua origem. Rômulo vai até Alba Longa, liberta seu irmão, mata Amúlio, devolve o trono a seu avô Numitor e, à sua mãe, as honras devidas.
Sem futuro em Alba Longa, os gêmeos decidem fundar uma nova cidade no local onde haviam sido abandonados. Como resultado de uma discussão sobre a localização da nova cidade – sobre duas das sete colinas de Roma, o Palatino e o Aventino -, Remo acaba sendo morto por Rômulo que, dono da nova cidade, a batiza com seu nome, Roma, primitivamente rodeada por sete colinas: Capitólio, Quirinale, Viminale, Esquilino, Célio, Aventino e Palatino. Algumas descobertas arqueológicas, relativamente recentes, comprovam muitas das lendas antigas relacionadas à fundação, localização e época da fundação de Roma.
(Segue com a PARTE 2)

[1] Autocracia significa, literalmente, a partir dos radicais gregos autos (por si próprio) e kratos (poder), poder por si próprio. É uma forma de governo em que há um só detentor do poder: um líder, um comitê, uma assembleia. O governante tem controle absoluto em todos os níveis de governo sem o consentimento dos governados. As monarquias nem sempre são autocratas. As monarquias absolutistas, sim, se enquadram na classificação de regime político autocrático, pois o monarca absoluto é o único detentor do poder, fugindo ao controle de qualquer outro órgão; além disso, nessas também não há participação popular nas decisões, outra característica da autocracia.
[2] Marco Terrêncio Varrão (116 AC – 27 AC) foi filósofo e enciclopedista romano de expressão latina, nascido em Rieti, Itália, tendo estudado em Roma.
[3] Fasti Capitolini Consulares et Triumphales é uma inscrição no Arco de Augusto, no Fórum Romano, listando todos os cônsules romanos entre 483 AC e 19 DC e todos os generais que receberam um triunfo entre 753 AC e 19 DC. Encontra-se atualmente em exibição nos Museus Capitolinos, em Roma.

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