I – INTRODUÇÃO
A
ideia de escrever sobre o mundo da Roma antiga, surgiu como uma consequência
das publicações que fiz sobre a história da Inglaterra, durante quatro séculos
ocupada pelos romanos.
Embora
no título geral dado à publicação, estejamos usando “Império Romano” como
sinônimo de nação romana, isto não corresponde, totalmente, à verdade. A
história de Roma passou por diferentes regimes políticos, nem sempre típicos
das épocas em que aconteceram. No início da sua história, o povo de Roma foi
governado por reis, seguido por uma República Romana e, finalmente, por um
Império Romano. Mas foi durante esse Império que Roma atingiu o seu máximo
esplendor como nação rica e a sua maior área territorial. Daí o título da nossa
resenha.
Contar
a história do mundo de Roma é trabalho hercúleo, tanto no que se refere à
quantidade de trabalhos a ser pesquisada, como na qualidade das fontes. Muitos
historiadores já dedicaram suas vidas a esse ministério e eu não acrescentaria
nada a essa façanha. Por essa razão, nosso trabalho terá uma característica
especial, qual seja, tentar mostrar o que foi o mundo de Roma, de uma maneira
coerente, cronológica, que apresente as suas relações com os demais mundos que
a cercavam à época e, sobretudo, de uma maneira simples e palatável pelos meus
leitores e pelos que me venham buscar numa pesquisas futura, sem que tenham
grandes problemas de entendimento da matéria.
Novamente,
por se tratar de matéria muito volumosa, faremos a publicação em capítulos para
que a leitura possa ser melhor digerida.
II – A FUNDAÇÃO
DE ROMA
O Reino de Roma ou monarquia romana (em latim: Regnum
Romanum), é a expressão utilizada, por convenção, para definir o Estado monárquico
romano, desde a sua fundação, até a queda da realeza, em 509 AC. A República Romana (do latim res
publica, "coisa pública"), por sua vez, é o termo utilizado, também
por convenção, para definir o Estado romano e suas províncias, desde o fim do
Reino de Roma em 509 AC (quando o último rei foi deposto), até o estabelecimento
do Império Romano em 27 AC. Finalmente, o Império Romano (em latim: Imperium Romanum) foi um Estado que se desenvolveu a partir da
península Itálica, durante o período pós-republicano da antiga civilização
romana, caracterizado por uma forma autocrática[1] de
governo e de grandes domínios territoriais na Europa e em torno do
Mediterrâneo.
Durante a República Romana, muitas datas foram
atribuídas à fundação da cidade, no intervalo entre 758 AC e 728 AC . Finalmente, no Império
Romano, durante o governo de Augusto, a data sugerida por Marco Terêncio Varrão[2],
21 de abril de 753 AC, foi considerada a oficial, embora nos Fasti Capitolini[3]
o ano adotado seja 752 AC. Embora o ano varie, todas as versões concordam que o
dia é 21 de abril, data do festival de Pales, deusa do pastoreio. O calendário
romano ab urbe condita (desde a fundação da cidade), porém, começa com a
data de Varrão. De qualquer forma, embora a data exata seja desconhecida, há um
consenso entre os historiadores de que Roma teria sido fundada no século VIII
AC.
Entre a data convencional da Guerra de Troia (1182 AC) e
a data aceita para a fundação de Roma (753 AC) há um intervalo de quatro
séculos, razão pela qual os romanos, durante a República, criaram a lenda da
dinastia dos reis de Alba Longa, de forma a preencher o vazio de 400 anos entre
Eneias e Rômulo, de que ainda falaremos. Os vestígios arqueológicos, no
entanto, demonstram que Lavínio, Alba Longa e Roma no seu início são
contemporâneas.
Muito
da história de Roma foi criado a partir de mitos, lendas, obras literárias e
história de vultos romanos. O poeta romano Virgilio,
em sua “Eneida” - que trata das aventuras de Eneias, semideus, herói e
sobrevivente de Troia - e o historiador romano Tito Lívio encarregaram-se de
imortalizar a lenda que narra a fundação de Roma. Segundo essa lenda, Roma foi
fundada por Rômulo, cuja origem remonta à guerra de Troia. Quem leu a Ilíada, a
Odisséia (ambas de Homero) e a Eneida, sabe bem do que estamos falando. Além
disso, os romanos elaboraram um complexo conto mitológico sobre a origem da
cidade e do estado, que se uniu à obra histórica de Tito Lívio e à obra poética
de Virgilio e Ovídio, todos da era de Augusto. Naquela época, as lendas
oriundas de textos mais antigos foram trabalhadas e fundidas num conto único,
no qual o passado mítico foi interpretado em função dos interesses do império.
Os modernos estudos históricos e arqueológicos, que se baseiam nestas e em
outras fontes escritas, além de objetos e restos de construções obtidos em
vários momentos das escavações, tentam reconstruir a realidade que existe no
conto mítico, no qual se reconhecem alguns elementos de verdade.
Procurando simplificar ao máximo a vida dos nossos
leitores, quanto aos antecedentes da fundação de Roma, quero apresentar uma
breve nota sobre a Ilíada, de Homero e, posteriormente, sobre a Eneida, de Virgilio,
com alguns mapas que, estou certo, serão bastante úteis como pondo de partida
dessa verdadeira Odisseia, esta uma outra história.
O poema épico grego “Ilíada”, de provável autoria de
Homero, descreve parte dos acontecimentos que marcaram a “Guerra de Tróia”, na
verdade apenas cerca de dois meses do décimo e último ano do grande conflito
travado entre aqueus (chamados de dânaos, por Homero) e troianos. A grande
guerra teria sido deflagrada pelo sequestro de Helena, consorte de Menelau, rei
de Esparta, por Paris, filho do rei troiano, Príamo. A Ilíada leva esse nome da
palavra “Illion”, nome grego da lendária cidade de Tróia, em latim. Aqueus, na
verdade fundadores do Império Helênico, são vistos como sinônimos de gregos,
embora os troianos também pertencessem à civilização helênica. À época do
conflito, não existia a Grécia, como hoje a conhecemos, mas sim uma espécie de
confederação de cidades-estados, entre as quais podemos citar Esparta, Argos,
Micenas e a própria Tróia, que viviam, mais ou menos, harmoniosamente entre si.
Localização de Troia no contexto geral |
Ao
fim e ao cabo, os gregos, liderados por Agamêmnon, rei de Micenas e irmão do
rei ultrajado, usando o tão conhecido “Cavalo de Tróia”, venceram a guerra,
causando a fuga dos poucos sobreviventes de Tróia.
No
mapa apresentado ao lado, muito
ilustrativo para tudo o que seguirá em nossa resenha, pode-se ver, claramente,
a Grécia como é hoje, com suas inúmeras ilhas, fazendo fronteira com a Turquia,
a leste. A Anatólia (ou Península Anatoliana) é a região do estremo oeste da
Ásia, que corresponde, hoje, à porção asiática da Turquia, em oposição à sua
porção europeia, a Trácia. Pois bem, a lendária Troia estaria localizada na
região mais ocidental da Anatólia, faceando o mar de Mármara e o mar Egeu,
conforme se pode ver no mapa seguinte, em escala maior.
Localização de Troia no detalhe |
Entre
os sobreviventes que fugiram de Tróia, encontrava-se um de seus maiores heróis,
Eneias, filho da deusa Vênus, com seu pai Anquises e seu filho pequeno Ascânio;
sua mulher Creúsa, filha do rei de Troia, Príamo, desparece na fuga enquanto
deixam a cidade. Segundo a “Eneida” (sobre Eneias), de Virgilio e a “Ad Urbe
Condita Libri” (Livros da Fundação da Cidade), de Tito Livio, as aventuras de
Eneias se iniciam quando, fugindo de Troia, ruma à Itália – que, naquele tempo,
nada tinha de Itália, vista como um país – comandado e desmandado por vários
“deuses” que, em absoluto, se entendem. Assim, em suas peripécias, Eneias
aporta inicialmente em Cartago (no mapa que segue, verificar Cartago na rota de Eneias de Troia para a Itália), onde torna-se hóspede da
rainha Dido, a quem narra suas aventuras em Tróia e que acaba se apaixonando e
suicidando por ele, quando parte para o Lácio, por ordem de Júpiter.
Posição de Cartago - norte da África |
O
Lácio (em latim “Latium”) é uma região da Itália Central (ver nos mapas que seguem) que tem Roma como capital e que remete aos latinos, povo do qual os romanos
descendem e cujo idioma, o latim, tornou-se a língua formal do Império Romano e
foi difundida amplamente entre os territórios que dominou. No Lácio, Eneias é
amavelmente recebido pelo Rei Latino e acaba casando-se com sua filha Lavínia e
fundando a cidade de Lavinio (Lavinium), hoje Pratica di Mare, muito próxima de
Roma, onde reina por três anos, desparecendo do reino dos mortais e recebendo
honras de imortal.
A região do Lácio na Itália |
Região do Lácio no detalhe |
Rômulo e Remo com a loba |
Fato é, que Rômulo e Remo cresceram na cabana de
seus pais adotivos em companhia de pastores com os quais caçavam e atacavam
salteadores para roubar-lhes os espólios. Acusado de roubo, Remo é capturado e
levado à presença do rei Amúlio. Fáustulo resolve então contar a Rômulo da sua
origem. Rômulo vai até Alba Longa, liberta seu irmão, mata Amúlio, devolve o
trono a seu avô Numitor e, à sua mãe, as honras devidas.
Sem futuro em Alba Longa, os gêmeos decidem fundar uma
nova cidade no local onde haviam sido abandonados. Como resultado de uma
discussão sobre a localização da nova cidade – sobre duas das sete colinas de Roma,
o Palatino e o Aventino -, Remo acaba sendo morto por Rômulo que, dono da nova
cidade, a batiza com seu nome, Roma, primitivamente rodeada por sete colinas: Capitólio,
Quirinale, Viminale, Esquilino, Célio, Aventino
e Palatino. Algumas
descobertas arqueológicas, relativamente recentes, comprovam muitas das lendas
antigas relacionadas à fundação, localização e época da fundação de Roma.(Segue com a PARTE 2)
[1] Autocracia significa, literalmente, a partir dos radicais gregos autos (por si próprio) e kratos (poder), poder por si próprio. É uma forma de governo em que há um só detentor do poder: um líder, um comitê, uma assembleia. O governante tem controle absoluto em todos os níveis de governo sem o consentimento dos governados. As monarquias nem sempre são autocratas. As monarquias absolutistas, sim, se enquadram na classificação de regime político autocrático, pois o monarca absoluto é o único detentor do poder, fugindo ao controle de qualquer outro órgão; além disso, nessas também não há participação popular nas decisões, outra característica da autocracia.
[2] Marco Terrêncio Varrão (116 AC – 27 AC) foi filósofo e enciclopedista romano de expressão latina, nascido em Rieti, Itália, tendo estudado em Roma.
[3] Fasti Capitolini Consulares et Triumphales é uma inscrição no Arco de Augusto, no Fórum Romano, listando todos os cônsules romanos entre
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