Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

domingo, 2 de junho de 2013

BREVE HISTÓRIA DO IMPÉRIO ROMANO - PARTE 6

IV.3.2 - A expansão para o Oriente

O rei da Bitínia[1]  submeteu-se a Roma. O monarca selêucida  da Síria[2], Antíoco III, foi vencido em 189 AC na Magnésia, ao sudoeste da Ásia Menor (ou Anatólia, já comentada anteriormente).
Os romanos conquistaram a Grécia em 146 AC. Os gregos revoltaram-se contra Roma e o cônsul romano Lucius Mummius derrotou-os, incendiando Corinto. A Grécia tornou-se província romana em 129 AC com o nome de Aqueia (ou Acaia). Em seguida, Roma estabeleceu um protetorado romano no Egito. Logo, no ano de 133 AC, Roma obteve como herança, após a morte do rei Attalos III, de Pérgamo[3],  a cobiçada província da Ásia[4]. No mesmo ano, Numância, cidade do curso superior do Douro, já na Península Ibérica, foi conquistada por Cipião Emiliano, neto de Cipião, o Africano, que sitiando seus habitantes pela fome os induziu ao suicídio coletivo.
A partir do final do século II AC, Roma já era o império mais poderoso do mundo, estendendo-se por quatro mil quilômetros, da Hispânia (Península Ibérica) até a Ásia Menor, e dominando uma população estimada em 30 milhões de pessoas.
Com a conquista da Gallia Transalpina[5] , efetivada por Júlio César (52 AC), a Roma republicana transformou-se no maior império que já tinha existido até então, com população estimada em 55 milhões, quase 25% da população mundial.
Durante longos anos estas conquistas foram tratadas apenas como fonte de valiosas pilhagens. Os governos provinciais romanos não eram exatores (fiscalistas), pois a riqueza vinda das províncias conquistadas (junto com os lucros da exploração estatal das minas) permitia suprimir totalmente os impostos diretos aos habitantes da Itália.
Segundo o historiador Keith Hopkins, a população dominada por Roma aumentou de quatro milhões em 225 AC para 60 (sessenta) milhões após a queda da república.

IV.4 - A crise da República Romana

A crise da República Romana refere-se a um longo período, entre 134 e 27 AC, de instabilidade política e social, que culminou com a transformação da República Romana no Império Romano, e teve início quando o senado romano passou a ter seu poder desafiado pelo poderio militar de alguns generais.
A partir de 238 AC, Roma passou a ter províncias, sendo a primeira delas Córsega e Sardenha, seguida pela Sicília, em 241 AC. Além disso, o aumento do território e da duração temporal das guerras de conquista obrigou o senado romano a criar o pro-rogatio, que era a prorrogação do tempo do mandato do proconsul ou do pró-pretor provincial, que era o funcionário da administração central incumbido de governar a nova província. Com isso, a influência e o poder se concentraram nas mãos de alguns generais, o que lhes permitiu desafiar a tradicional classe senatorial.
Um dos melhores exemplos deste tipo de processo foi o general Caius Marius, que mesmo sendo rejeitado pelo senado para comandar a expedição ao norte da África com o intuito de solucionar a guerra contra Jugurta, foi enviado com o aval que a decisão popular lhe deu. Isso ilustra um exemplo de como os generais podiam aliciar militantes a seu favor, mesmo quando o senado decidia contra eles.
Pode-se afirmar que um dos momentos mais críticos da República Romana, até o “primeiro triunvirato”, teria sido a ditadura de Lucius Cornelius Sulla, que chegou a marchar com seu exército sobre Roma. Desde o fim das Guerras Púnicas, o cargo de ditador romano havia sido abolido, por ser considerado perigoso conceder a um único homem tanto poder. Porém, o cargo foi reintroduzido em 81 AC, por Sulla, ao fim da guerra civil com a facção de Caius Marius.
O filósofo e orador Cícero
Foi nessa época turbulenta que floresceu um dos mais importantes filósofos e políticos de toda a história de Roma, Marcus Tullius Cicero, um dos grandes defensores da República, tendo escrito vários tratados políticos e filosóficos. Na verdade, Cicero é figura merecedora de vários livros que, lamentavelmente, não poderão ser sequer relacionados aqui, para que possamos manter o foco em nosso assunto principal.
Além da reimplantação da ditadura em Roma, houve outros motivos para o colapso da República Romana, entre eles, o fracasso dos irmãos Tiberius e Gaius Sempronius Gracchus ao tentar realizar uma reforma agrária, guerras civis e revoltas populares, movimentos separatistas e insurreições de escravos. Devemos também salientar que a estrutura política da República era inadequada ao Império, no sentido de Estado conquistador.

IV.4.1 – O Primeiro Triunvirato
O General Júlio César

O Primeiro Triunvirato (governo de três pessoas) foi uma aliança política informal estabelecida em 59 AC, durante a República Romana, entre os três mais poderosos generais de Roma, Caius (ou Gaius) Iulius Caesar (Júlio César, o favorito da plebe), Cnaeus Pompeius Magnus (Pompeu, que triunfara na Hispânia) e Marcus Licinius Crassus Dives (Crasso, o homem mais rico de Roma), para dividir o governo. A palavra triunvirato origina-se de dois radicais latinos: trium (três) e vir (homem). O Primeiro Triunvirato prolongou-se até 53 AC e, ao contrário do Segundo Triunvirato, este acordo era informal e não continha nenhum valor jurídico. A única transação efetuada foi a de Júlia Cesaris, filha de César, que se tornou mulher de Pompeu num casamento que haveria de se revelar feliz. Como a cada um dos três faltava algo, juntaram esforços para se completarem.
O senador Pompeu
Recém eleito cônsul sênior em 59 AC com a ajuda de Crasso e Pompeu, embora sem histórico político, César foi encarregado da execução das medidas propostas pelos três. Distribuiu terras da Campânia para os soldados de Pompeu; apoiou os partidários de Crasso na expulsão de Cícero, senador inimigo de Crasso e contrário às reformas político-sociais em Roma. Também fez com que as soluções administrativas adotadas por Pompeu em suas conquistas no Oriente fossem confirmadas pela Assembleia Popular. Depois de um ano difícil como cônsul, César recebeu poderes proconsulares para governar as províncias da Gália e Ilíria[6] por cinco anos. Um governo pacífico não se adequava, no entanto, à sua personalidade e César iniciou as Guerras da Gália, conquistando a Gália, partes da Germânia e incursionando às ilhas Britânicas. Para si, garantiu o domínio das Gallias Cisalpina e Transalpina, onde iria buscar glória militar na luta contra as tribos rebeladas e riquezas para pagar seus credores em Roma e sustentar suas ambições políticas. 
Senador Crasso
As Guerras da Gallia duraram quase oito anos, durante os quais Vercingetórix[7], herói gaulês, bravamente resistiu a César, até que preso foi enviado a Roma e posto a definhar no Carcere Mamertino, onde foi finalmente degolado. Toda a Gallia foi então subjugada. Graças às vitórias e pilhagens, Júlio César conquistou a reputação militar, fortuna e glória que lhe faltavam para igualar-se a Crasso e Pompeu.
Pompeu era extremamente popular junto aos cidadãos, devido às suas conquistas militares, mas desprezado pela classe senatorial pela falta de sangue azul da sua família.
Em 55 AC, Pompeu e Crasso foram eleitos cônsules e honraram o acordo estabelecido com César ao prolongarem o pro consulado por mais cinco anos.
Crasso, mau militar, célebre pela luta na Terceira Guerra Servil contra Spartacus[8]  - em realidade aniquilado por Pompeu - e pela fabulosa fortuna que acumulou, mas sem influência política, foi nomeado governador da Síria. Logo após a vitória contra Spartacus, numa entrevista com o general do Império Parta[9], Surena, que o havia vencido em desastrosa campanha na Pérsia, condenada desde o início pela péssima planificação, e com o qual negociaria a sua rendição, foi assassinado em 53 AC.
A Ilíria (amarelo) no Império Romano
No ano 54 AC, Júlia Caesaris morreu em trabalho de parto, deixando pai e marido cobertos de desgosto. Sem Crasso e Júlia, Pompeu aproximou-se da facção conservadora. Ainda durante as guerras Gallicas, César procurou manter o Triunvirato e assegurar a aliança com Pompeu propondo-lhe casamento com uma das sobrinhas, mas este preferiu voltar a casar-se com Cornélia Metela, filha de Cipião Metelo, um dos maiores inimigos de César. Finalmente, após a morte de Crasso, César e Pompeu passaram a disputar o poder.
O Senado, temendo as ambições de César e seu controle absoluto sobre o experiente exército da Gallia, procurou se aproximar de Pompeu, julgado mais cordato aos interesses dos senadores. Pompeu, então considerado o mais ilustre cidadão de Roma desde a morte de Sulla, em 54 AC, exigiu de César o licenciamento do exército e a demissão do governo das Gallias. Em 50 AC, o senado, liderado por Catão[10], ordenou o regresso de César e a desmobilização de todas as suas legiões, ao mesmo tempo em que o proibia de candidatar-se ao segundo cargo de cônsul in absentia (ausente). César sabia que, sem o seu imperium de proconsul e o poder das suas legiões, perderia o seu poder de barganha e seria processado e eliminado da vida política assim que regressasse a Roma. A tradição romana não permitia que um general vitorioso entrasse na cidade acompanhado de seu exército, o que era uma forma de impedir que os militares pudessem sobrepor-se ao poder senatorial, devendo dispersar suas tropas quando se dirigiam para a capital. César recusou-se a obedecer e, em 49 AC, atravessou o rio Rubicão, ao norte da península Itálica, limite de sua jurisdição, dizendo, segundo a lenda, a famosa frase:

“Alea jacta est” (a sorte está lançada)

Quando soube que César havia atravessado o Rubicão com as tropas, Pompeu abandonou Roma. César invadiu a Itália e marchou sobre Roma.
Tempos depois, as tropas de César venceram Pompeu na Batalha de Farsalos; vencido, Pompeu fugiu para o Egito, onde foi assassinado pelos ministros do faraó Ptolomeu XII. César desembarcou no Egito, onde havia uma disputa pelo poder, e recebeu a cabeça de Pompeu, como ato boa de vizinhança, que não aceitou. Conquistou o país e depôs Ptolomeu, colocando em seu lugar Cleópatra[11] (que era irmã do faraó), ao lado de quem permaneceu, por nove meses, antes de deixar o Egito, em 47 AC.
Cleópatra, rainha do Egito.
Em 47 AC, César dominou regiões da Ásia que se mantinham fiéis aos seguidores de Pompeu. Ao vencer a Farnaces II, na Batalha de Zela, anunciou sua fácil vitória com a célebre frase:

“Veni, vidi, vici” (vim, vi e venci)

Na Batalha de Tapso, na África, César derrotou os partidários de Pompeu e foi, por isto, nomeado ditador por dez anos. Na Batalha de Munda, na Hispânia, César derrotou os filhos de Pompeu e foi então nomeado ditador vitalício, pontífice máximo, áugure e Pater Patriae (Pai da Pátria).

IV.4.3 – A Ditadura de Júlio César

Finalmente instaurado no poder, isoladamente, Júlio César reformou o Senado Romano, aumentando o número de senadores de sua orientação política. Além disso, aumentou o número de magistraturas, assentou seus veteranos de guerra em colônias fundadas por ele próprio. Além disso, para obter o apoio popular, César deu parte do espólio das novas conquistas para serem divididas entre os plebeus.
Entretanto, não durou muito a ditadura de Júlio César, pois o grupo que se lhe opunha, acreditando agir em defesa da República, tramou e executou o seu assassinato durante sessão do senado, nas próprias escadarias do edifício, em 44 AC. Entre os seus assassinos encontravam-se dois antigos protegidos: Marco Júnio Bruto (Brutus)[12] e Caio Longino Cássio. César teria caído aos pés de uma estátua de Pompeu e suas últimas palavras seriam descritas em várias versões, das quais a mais célebre teria sido a imortalizada por Shakespeare:

“Et tu Brutus?” ( Até tu, Brutus?)

Logo após o assassinato, o senado extinguiu a ditadura do grupo de magistraturas romanas. Entretanto, Marco Antônio, um dos aliados de César e seu principal general, provocou manifestações populares durante seu funeral, que assustaram os opositores de César. Com isso, mesmo com a morte de César, o senado foi obrigado a ratificar as medidas implementadas pelo ditador e Marco Antônio se tornou um dos mais influentes senadores, dado o seu poder junto ao povo, tendo o senado que aprovar todas as medidas por ele propostas.
Depois da morte de César, uma luta pelo poder rebentou entre o seu sobrinho-neto Otaviano (posteriormente conhecido como Augusto), adotado por seu testamento, e Marco António, que haveria de resultar na queda da República e na fundação do Império Romano.

[1] A Bitínia era um antigo reino situado no que agora é o noroeste da Turquia, estendendo-se para leste de Istambul, ao longo do litoral meridional do Mar Negro.
[2] O Império Selêucida foi um antigo estado grego que existiu após a morte de Alexandre, o Grande da Macedónia, quando seus generais entraram em conflito pela divisão de seu império.
[3] Pérgamo, atual Bergama, é uma antiga cidade grega que situava-se a noroeste da Anatólia, a mais de 20 km do Mar Egeu, numa colina isolada do vale do Rio Caicos.
[4] A província romana da Asia (sem confusões com o continente) foi organizada em 129 AC, governada por um procônsul e posteriormente ampliada, sem chegar a abranger a totalidade da Ásia Menor (ou Anatólia).
[5] Gallia Transalpina era o nome dado pelos romanos ao território que se estendia além dos Alpes, delimitado por estes, pelo Mediterrâneo, pelos Pirineus, pelo Reno e pelo Oceano Atlântico, correspondendo, grosso modo, ao território hoje ocupado pela França. Transalpina para diferenciar aquela região da Gallia Cisalpina, situada antes dos Alpes (da perspectiva romana), entre os Apeninos e a cordilheira alpina, na planície do rio Pó.
[6] A Ilíria (“terra dos livres”, em albanês) é a região mais a noroeste dos Bálcãs. Sua fronteira norte é a Ístria e a sul ela se estende até, aproximadamente, o Lago Scutari. Ao tempo, abrigaria os seguintes atuais países: Sérvia, Montenegro, norte daAlbânia, Bósnia e Herzegovina e Croácia.
[7] Vercingetórix foi o inspirador de Asterix, o herói gaulês das histórias em quadrinhos e do cinema.
[8] Spartacus (em português Espártaco), que viveu cerca de 120 a 70 AC, foi um gladiador de origem trácia, líder da mais célebre revolta de escravos na Roma Antiga, conhecida como "Terceira Guerra Servil", "Guerra dos Escravos" ou "Guerra dos Gladiadores". Espártaco liderou, durante a revolta, um exército rebelde que chegou a somar quase 100 mil ex-escravos.
[9] O Império Parta ou Parto, também conhecido como Império Arsácida, foi uma das principais potências político-culturais iranianas da antiga Pérsia.
[10] Catão (em latim Marcus Porcius Cato Uticensis), que viveu entre 95 e 46 AC, foi um político romano célebre pela sua inflexibilidade e integridade moral, avesso a qualquer tipo de suborno. Opunha-se, particularmente, a César e suicidou-se após a sua vitória na Batalha de Tapso.
[11] Cleópatra Thea Filopator, que teria vivido entre 69 e 30 AC, foi a última rainha egípcia da dinastia de Ptolomeu, general que governou o Egito após a conquista daquele país por Alexandre III da Macedônia. Cleópatra originalmente governou conjuntamente com seu pai, Ptolomeu XII Neos Dionisos, e mais tarde com seus irmãos, Ptolomeu XIII e Ptolomeu XIV, com quem casou-se, por costume egípcio; finalmente quedou-se como governante único. Como faraó, ela consumou uma ligação com Júlio César, com quem teve um filho, Cesário. Posteriormente, envolveu-se também com Marco Antônio, durante o Segundo Triunvirato. Cleópatra foi uma grande negociante, estrategista militar, falava seis idiomas e conhecia filosofia, literatura e arte gregas.
[12] Marcus Junius Brutus, também chamado Quintus Caepio Brutus, que teria vivido entre 85 e 42 AC, foi um político romano e um dos líderes da conspiração que assassinou Julius Caesar. Brutus era filho de Marcus Junius Brutus, o Velho, que fora assassinado por Pompeu e Servília, mais tarde amante de César.


Continua com a PARTE 7

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