Matatias, o Hasmoneano, iniciador da revolta dos Macabeus |
As tentativas de Antíoco IV de proscrever a religião judia,
conduziram a um conflito entre um grupo judeu rebelde, conhecido como Macabeus,
e o Império Selêucida, que durou de 167 a 160 AC e que ficou conhecido como a
“Revolta dos Macabeus”. Segundo “Macabeus I, Antigo Testamento”, um sacerdote
judeu, chamado Matatias, o Hasmoneano, inflamou a revolta pela recusa em adorar
deuses gregos, matando um judeu helenístico que avançou para sacrificar a um
ídolo, em seu lugar, e fugindo, em seguida, para o deserto de Judá, com seus
cinco filhos. Após a morte de Matatias, um ano depois, em 166 AC, seu filho
Judas Macabeu conduziu um exército de judeus dissidentes à vitória sobre a
dinastia Selêucida, em ações de guerrilha, inicialmente contra judeus
helenizados. Os Macabeus destruíram altares pagãos, circuncisaram meninos e
obrigaram os judeus a se oporem à lei. O termo “Macabeus”, usado para descrever
o exército judeu, foi tomado da palavra hebraica para “martelo”.
Após as vitórias iniciais, os Macabeus entraram
triunfalmente em Jerusalém, limparam o Templo, restabeleceram a tradicional
adoração judia e instalaram Jônatas Macabeu, irmão de Judas Macabeu, como alto
sacerdote. A nova consagração do Templo, quando retomado pelos Macabeus de
Judá, após sua vitória, é a base da celebração do Hanuka no Judaísmo. Após
cinco anos de guerra, em 161 AC, Judas buscou uma aliança com a República
Romana, para remover os gregos.
Jônatas Macabeu, irmão de Judas, continuador da revolta dos Macabeus |
Um grande exército selêucida foi enviado para esmagar a
revolta, mas retornou à Síria com a morte de Antíoco IV. Seu comandante Lysias,
preocupado com problemas internos, concordou com um compromisso político que
restaurava a liberdade religiosa. Antíoco IV foi substituído por Demetrius I
Soter, o sobrinho cujo trono ele havia usurpado. Demetrius enviou para Israel o
general Bachides, com um poderoso exército, a fim de instalar Alcimus no posto
de Alto Sacerdote. Bachides subjugou Jerusalém, matou Judas Macabeu e
estabeleceu os helenos como governantes de Israel. Com isso, os patriotas
perseguidos, sob a liderança de Jônatas Macabeu, fugiram, estabelecendo
acampamento a leste do rio Jordão e permanecendo em guerrilha contra os
selêucidas.
Após a morte de seu governador fantoche, Alcimus, alto
sacerdote de Jerusalém, Bachides sentiu-se seguro para deixar o país. Mas as
guerrilhas de Jônatas o chamaram de volta e depois de sitiado vários dias por
Bachides, ele ofereceu um tratado de paz e troca de prisioneiros de guerra.
Bachides rapidamente assentiu e afirmou nunca mais fazer guerra contra Jônatas,
abandonando Israel com suas forças. Jônatas fixou residência na velha cidade de
Michmash e de lá empenhou-se em limpar Jerusalém.
Attalus II Philadelphus, rei de Pergamo, relevo em pedra |
As relações de Demetrius I Soter com Attalus II
Philadelphus, do Pergamo (1), (que reinou entre 159 e 138 AC neste reino importante
do período helenístico), Ptolomeu VI do Egito (reinou entre 163 e 145 AC) e sua
irmã e rainha conjunta Cleópatra II, estavam se deteriorando e eles apoiaram um
reclamante rival ao trono selêucida, Alexandre Balas, que pretendia ser filho
de Antíoco IV Epifânio e primo de Demetrius. Este foi obrigado a chamar de
volta as guarnições da Judeia, exceto as das cidades do Acra e Beth-zur, para
reforçar seu poderio. Além disso, ele fez uma proposta pela lealdade de Jônatas,
permitindo-lhe recrutar um exército e recuperar os reféns mantidos na cidade de
Acre. Jônatas aceitou tais termos, estabeleceu residência em Jerusalém e
iniciou a fortificação da cidade. Alexander Balas ofereceu a Jônatas termos
ainda mais favoráveis, que incluíam o posto de Alto Sacerdote em Jerusalém;
apesar de uma segunda carta de Demetrius que fazia promessas quase impossíveis
de honrar, Jônatas declarou seu apoio a Balas, tornando-se líder oficial do seu
povo e já oficiando a Festa dos Tabernáculos de 153 AC com as vestes do Alto
Sacerdote. Com isso, o partido helenístico já não poderia ataca-lo sem severas
consequências.
Em 150 AC, Demetrius perdia seu trono e sua vida. Ao
vitorioso Alexander Balas foi dada a honra adicional de casar com Cleopatra
Thea, filha de seus aliados Ptolomeu VI e Cleopatra II. Convidado para a
cerimônia, Jônatas compareceu com presentes para os reis e sentou-se entre eles
como seu igual. Foi declarado por Balas uma espécie de governador militar e
governador civil da Província, e enviado de volta para Jerusalém, com honras.
Em 147 AC, Demetrius II Nicator, filho de Demetrius I Soter,
reivindicou o trono de Balas. O governador de Coele Syria (termo helenístico
para uma região da Síria), Apolônio Taos, aproveitou para desafiar Jônatas para
uma batalha. Jônatas e Simeão conduziram uma força de 10.000 homens contra o exército
de Apolônio, em Jafa, que não estava preparado para o rápido ataque e abriu os
portões para render-se aos judeus, mas recebendo reforços de Azotus, apareceu
na planície com 3.000 homens, incluindo forças de cavalaria superiores. Jônatas
atacou, capturou e queimou Azotus, com o templo residente de Dagon, e as vilas
da vizinhança.
Alexander Balas honrou o Alto Sacerdote vitorioso, dando-lhe
a cidade de Ekron com seu território circunjacente. O povo de Azotus queixou-se
ao rei Ptolomeu VI, que tinha vindo para lutar com seu genro, mas Jônatas
encontrou-o em Jaffa, em paz, e acompanhou-o até o rio Eleuterus, retornando a
Jerusalém e mantendo a paz com o rei do Egito, a despeito do seu apoio a
diferentes rivais ao trono Selêucida.
Em 145 AC, a Batalha de Antióquia (capital do Império
Selêucida, fundada por Seleucos I Nicator em finais do século IV AC) resultou
na derrota final de Alexander Balas pelas forças de seu sogro Ptolomeu VI, que
foi uma das baixas da batalha. Demetrius II Nicator ficou como único mandatário
do Império Selêucida, tornando-se o segundo marido de Cleópatra.
Jônatas não se submeteu ao novo rei e aproveitou a
oportunidade para sitiar a fortaleza selêucida de Acra, em Jerusalém, símbolo
do controle selêucida sobre a Judeia. Ela era fortemente guarnecida por uma
força selêucida e oferecia asilo a judeus helenistas. Jônatas foi chamado a
conversar com Demetrius e foi acompanhado dos anciãos e sacerdotes com muitos
presentes. Por 300 talentos (medida de peso em metal precioso) Jônatas consegui
a isenção do pagamento de impostos, por escrito, para todo o país. Em troca, Jônatas
levantou o cerco de Acra, deixando-a em mãos selêucidas.
Logo em seguida, um novo reclamante ao trono selêucida
surgiu na figura de Antíoco VI Dionysus, filho de Alexandre Balas e Cleopatra
Thea. Tinha apenas três anos de idade mas o general Diodotus Tryphon o usou
para avançar nos seus projetos ao trono. Demetrius então chamou Jônatas, como
seu aliado, prometendo a retirada da guarnição de Acra. Jônatas deu-lhe a
proteção de 3.000 homens em sua capital, Antióquia, contra seus próprios
súditos.
Demetrius não cumpriu sua promessa para com Jônatas que
resolveu então apoiar o novo rei quando Diodotus Tryphon e Antíoco VI
capturaram a cidade, especialmente quando o último confirmou seus direitos e
indicou seu irmão Simão como strategos
(líder militar) da Paralia (província costeira da Palestina à época), desde a “Escada
do Tiro” (penhasco ao sul do Tiro) até a fronteira com o Egito.
Jônatas e Simão tinham agora poder para realizar conquistas
e foi o que fizeram: Ashkelon (sul de Israel), Gaza (mais ao sul),a planície de
Hazar (ao norte de Israel) e a fortaleza de Beth-Zur (próximo de Jerusalém). Como
Judá nos primeiros anos, Jônatas buscou alianças com outros povos. Renovou seus
tratados com os romanos e trocou mensagens amistosas com Partia e outras
potências.
Diodotus Tryphon foi com um exército à Judeia e convidou Jônatas
a Scythopolis (nome grego da cidade de Beit She’an, às margens do Jordão, a
jusante do Mar da Galileia) para uma conferência amistosa onde ele o persuadiu
a dispensar seu exército de 40.000 homens, prometendo-lhe Acra e
outras fortalezas. Jônatas caiu na armadilha, levou com ele 1.000 homens a
Acra, onde foram todos mortos e ele aprisionado.
Quando Diodotus Tryphon entrava em Judeia, foi confrontado
pelo novo líder judeu, Simão, pronto para a batalha. Pretendendo evitar a
batalha, Tryphon exigiu 100 talentos e os dois filhos de Jônatas como reféns,
para libertar Jônatas. Para não ser acusado da morte de seu irmão, Simão
concordou com as exigências. Tryphon executou Jônatas para que ele não fosse
empecilho às suas conquistas e nada se sabe sobre seus dois filhos. Jônatas foi
enterrado por Simão em Modin (a moderna Modin a 30 km a oeste de Jerusalém).
Uma de suas filhas foi uma ancestral de Flavius Josephus.
Simão assumiu a liderança em 142 AC, recebendo os cargos de
Alto Sacerdote e Príncipe de Israel. A liderança dos Hasmoneanos foi
estabelecida por uma resolução adotada em 131 AC, numa grande assembleia dos
sacerdotes, anciãos e povo da terra, para que Simão fosse o seu líder e Alto
Sacerdote para sempre, até que surgisse um “profeta confiável”. Ironicamente, a
eleição foi realizada no estilo helenístico.
Simão Macabeu, fundador da Dinastia Hasmoneana |
Simão fez o povo judeu semi-independente dos gregos
selêucidas e reinou de 142 a 135 AC, inaugurando a Dinastia Hasmoniana, com a
concordância do Senado Romano, em 139 AC. Simão foi assassinado (junto com seus
filhos mais velhos, Matatias e Judá) pela instigação de seu genro Ptolomeu,
filho de Abubus (ou Abobus ou Abobi), que havia sido nomeado governador da
região pelos selêucidas.
IV – A DINASTIA HASMONEANA
A Dinastia Hasmoneana foi a dinastia governante de Judá e
regiões vizinhas, de 140 a 116 AC, reinando quase autonomamente dos selêucidas.
A dinastia foi estabelecida sob a liderança de Simão Macabeu, duas décadas
depois que seu irmão Judas Macabeu derrotou o exército selêucida durante a
Revolta dos Macabeus. Essa revolta iniciou um período de 25 anos de
independência judia, potencializado pelo permanente colapso do Império
Selêucida sob ataques das potências nascentes da República Romana e do Império
Parta. Contudo, o mesmo vácuo de poder que permitiu ao Estado Judeu ser
reconhecido pelo Senado Romano em 139 AC, propiciou a sua exploração pelos
próprios romanos.
Em 135 AC, João Hircano, o terceiro filho de Simão, assumiu
a liderança e governou como Alto Sacerdote, tomando um nome de governante grego
(de Hyrcania) em aceitação à cultura helenística de seus suseranos selêucidas.
No primeiro ano da morte de Simão, o rei selêucida Antíoco VII Sidetes atacou
Jerusalém e, de acordo com Flavius Josephus, Hircano abriu o sepulcro do Rei David
e removeu 3.000 talentos, que pagou como tributo para que poupassem a cidade.
Ele permaneceu como governador, como um vassalo selêucida, como seu pai,
reinando pelas duas décadas seguintes, como semiautônomo.
O Império Selêucida se desintegrava em face das guerras Selêucida
– Parta e em 129 AC, Antíoco VII Sidetes foi morto por forças de Phraates II da
Partia, permanentemente encerrando o mando selêucida a leste do Eufrates. Em
116 AC explodiu uma guerra civil entre os meio irmãos Antíoco VIII Grypus e Antíoco
IX Cyzicenus, que resultou numa ruptura adicional do já significantemente
reduzido reino, propiciando a revolta dos estados clientes selêucidas, como a
Judeia.
Em 110 AC, com o desmoronamento do império selêucida, a
dinastia tornou-se totalmente independente e João Hircano conseguiu suas
primeiras conquistas militares, levantando um exército mercenário para capturar
Madaba (na Jordânia, imediatamente a montante do Mar Morto) e Schechem (Siquém,
margem ocidental do Jordão ao norte de Jerusalém, primeira capital do Reino de
Israel), aumentando consideravelmente sua influência regional. Em seguida
capturou a Transjordânia, Samaria, Galileia e Idumeia (a bíblica Edom) forçando
o seu povo a converter-se ao judaísmo, como condição para permanecerem em seu
país. Ele queria que sua mulher o sucedesse como chefe do governo e seu filho
Aristobulus I permanecesse apenas como Alto Sacerdote. Entretanto, com sua
morte, Aristobulus encarcerou sua mãe (deixando-a morrer) e três irmãos,
tomando o poder como o primeiro hasmoneano com o título de basileus (termo grego com o mesmo significado de rei ou imperador),
afirmando a independência do estado. Morreu apenas um ano depois, em 103 AC.
Seus irmãos foram libertados e um deles, Alexander Janeu,
reinou de 103 a 76 AC, morrendo durante o cerco da fortaleza Ragaba. Em 87 AC,
de acordo com Josephus, após uma guerra civil de seis anos, envolvendo o rei
selêucida Demetrius III Eucaerus, Alexander crucificou 800 rebeldes judeus em
Jerusalém.
Alexander foi sucedido por sua esposa Salomé Alexandra, que
reinou de 76 a 67 AC, sendo a primeira rainha judia. Em seu reinado, seu filho Hircano
II foi o Alto Sacerdote e nomeado seu sucessor. Ele reinava há apenas três anos
quando seu irmão mais jovem, Aristobulus II iniciou uma revolução. Hircano II
avançou contra ele com exército de mercenários e seus seguidores fariseus (logo
falaremos deles), mas Aristobulus possuía um exército mais forte e na batalha
que decidiria o reino, próximo de Jericó, a maior parte dos mercenários
desertou de Hircano bandeando-se para seu irmão. Hircano refugiou-se na
cidadela de Jerusalém, mas a captura do templo, por Aristobulus, obrigou-o a
render-se. A paz foi acertada com a renúncia de Hircano ao reino e ao posto de
alto sacerdote, mas mantendo as demais dignidades a que fazia jus como irmão do
novo rei Aristobulus II, que reinou de 67 a 63 AC.
De 63 a 40 AC, o governo esteve nas mãos de Hircano II como alto
sacerdote e etnarca (líder político), embora o poder estivesse nas mãos de seu
conselheiro Antipater, o Idumeu, fundador da Dinastia Herodiana e pai de Herodes,
o Grande. É importante lembrar que em 63 AC, com a conquista do reino pela
República Romana (veremos abaixo, a “Palestina Romana”), dissolvido e
estabelecido como Estado Cliente Romano, os governantes, daí para a frente,
tornaram-se fantoches de uma guerra entre Júlio César e Pompeu, o Grande. As
mortes de Pompeu (em 48 AC), César (em 44 AC) e as guerras civis romanas
relacionadas, temporariamente relaxaram a pressão de Roma sobre Israel,
permitindo a breve ressurgência de um hasmoneano apoiado pelo Império Parta.
Esta curta independência foi rapidamente esmagada pelos romanos sob Marco
Antônio e Otávio.
(1) Pergamo foi, inicialmente, uma antiga cidade grega, hoje localizada na
moderna Turquia, entre o Mar Egeu (Mediterrâneo grego, a 26 km dele) e o Mar Negro. A partir da dinastia dos Attalus, a cidade expandiu-se
para formar o Reino de Pergamo, tornando-se sua capital (281 a 133 AC), durante
o período helenístico. Pergamo é citada no Livro das Revelações (Bíblia), como
uma das sete igrejas da Ásia.
Na próxima postagem, conclusão da HISTÓRIA DO POVO HEBREU ..., com a terceira e última parte.
Na próxima postagem, conclusão da HISTÓRIA DO POVO HEBREU ..., com a terceira e última parte.
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