Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

DAYS OF WINE AND ROSES (DIAS DE VINHO E ROSAS)

APRESENTAÇÃO

Agora, com 81 anos de idade, senti, mais ou menos de repente, a necessidade de prestar uma homenagem aos meus amigos. Quando eu digo “meus amigos”, quero me referir a todos os meus amigos e amigas, sem exceção e sem apontar preferências, para evitar cometer qualquer tipo de injustiça. Sou uma pessoa de tão poucos inimigos que prefiro dizer que não os tenho; esses, vamos chamá-los de “não amigos” ou desconhecidos, como se eu nunca os tivesse conhecido, simplesmente. Aqui me refiro a todos os amigos que tive a honra de fazer ao longo desta minha já extensa caminhada de 81 anos – e são tantos .... Amigos do passado e do presente, ainda vivos ou já fora desta vida, pai, mãe e irmão, esposa, filhos e netos, parentes de todos os tipos. Evidentemente, Deus incluído, como meu mais importante amigo!
Meus amigos mais chegados, por certo, já estão cansados de saber que eu me considero – e declaro, sem qualquer ofensa a qualquer outro que também se considere – o homem mais feliz do mundo! Pois bem, durante a festa de nossas Bodas de Rubi, em 2006, organizada por nossos queridos filhos para a celebração dos nossos 40 anos de um feliz casamento, o padre que conduziu a renovação dos nossos votos perguntou-me a que eu atribuía a minha felicidade, tão propalada. Respondi-lhe que achava que boa parte dela eu creditava aos meus amigos. O padre, um sujeito formidável, respondeu-me: “Ah, aos seus amigos, interessante ...”. Mas notei, por sua expressão, que ele não ficou satisfeito com a minha resposta, certamente porque esperava ouvir nela a palavra “Deus”. Aqui um “Mea culpa”: eu deveria ter respondido “Deus” à pergunta do padre, pois acredito firmemente que aquilo que sou e aquilo que tenho, devo-os a Deus! Mas minha resposta foi espontânea e intuitiva, como se uma demonstração do carinho que nutro pelos meus amigos. De qualquer maneira, essa já passa a ser uma discussão filosófica que transcende o objetivo dessa postagem, a minha singela homenagem aos meus amigos.
Muitos deles já sabem, com certeza, que a música é um dos maiores prazeres da minha vida. A música, de todos os tipos, permeia todas as minhas atividades diárias. Sempre que não estou executando alguma atividade que exija minha total atenção, estou escutando música, cantando ou assobiando alguma canção que me vem à cabeça. Daí que imaginei não haver melhor maneira de homenagear aos meus amigos, do que oferecendo-lhes uma pesquisa sobre uma música que tem grande significado para mim e, principalmente, para os meus amigos particulares que estão na minha mesma faixa de idade e que percorreram, juntos comigo, essa extensa caminhada que envolveu horas alegres e horas nem tão alegres, mas que no seu conjunto tornou a nossa vida tão feliz.
Em particular, a minha homenagem a um amigo que num belo dia, “en passant”, baixou o volume de voz e me disse: “Já te deste conta, Nelson, que aquele tempo nunca mais?” Ele se referia àquele tempo de nossa infância, adolescência e fase adulta jovem; àquela fase que os americanos costumam chamar de “age of no regrets” (a idade sem arrependimentos), e que nessa simples homenagem aos meus amigos estaremos chamando de “Days of Wine and Roses”.

O FILME

Embora a parte mais importante da postagem seja a música, principalmente por sua letra, como ela está associada a um filme, que foi muito importante também, começarei por ele, deixando a canção para o final assim destacando a sua maior importância.
“Days of Wine and Roses” (no Brasil exibido com o título “Vício Maldito”) é um filme americano dramático-romântico, de 1962, dirigido por Blake Edwards. Os atores principais do filme são Jack Lemmon e Lee Remick, com o apoio dos atores Charles Bickford e Jack Klugman. O filme retrata a espiral descendente de dois americanos de classe média que sucumbem ao alcoolismo e às repetidas tentativas para lidar com os seus problemas. O filme recebeu quatro indicações ao Oscar, incluindo Melhor Ator e Melhor Atriz, tendo sido selecionado para preservação no Registro Nacional de Filme dos Estados Unidos em 2018.
O enredo do filme acompanha Joe Clay (Jack Lemmon), um executivo de relações públicas, que se casa com Kirsten Arnesen (Lee Remick, uma abstêmia que se torna viciada no álcool por influência de Joe que lhe deu a experimentar o conhecido coquetel “Brandy Alexander”. A representação do alcoolismo no filme é intensa e realística, tornando-o uma poderosa história de amor, dependência e redenção. O drama emocional da película e as inesquecíveis atuações o tornaram um clássico que até hoje permanece impactante. Imagino que muitos dos meus amigo tenham assistido ao filme.
E o que tem o filme a ver com a canção? Quase nada! Pouco relativamente à letra da música que, junto com a melodia, foi a grande motivadora desta postagem. Por isso, vamos à canção!

A CANÇÃO

A canção “Days of Wine and Roses” é uma canção popular composta por Henry Mancini (que dispensa quaisquer comentários), com letra de Johnny Mercer (que também dispensa comentários), apresentada no filme de 1962 “Days of Wine and Roses”, que tratava dos esforços travados contra o alcoolismo e seus impactos sobre os relacionamentos. Por esta belíssima composição, seus autores receberam da Academia o Prêmio de Melhor Canção Original, bem como o Prêmio Grammy de 1964 como Disco do Ano e Canção do Ano. Em 2004 a música terminou em 39º lugar no “100 anos ... 100 canções da AFI” (American Film Institute), levantamento das melhores melodias do cinema americano.
A canção apreende um sentimento agridoce, que recorda os momentos joviais que são, muitas vezes, ofuscados por dor e perda. A letra da música é notável por consistir em apenas duas sentenças complexas, cada uma das quais formando uma das duas estrofes da canção. A letra da melodia comunica um sentido de saudade do passado, onde os dias de vinho e rosas simbolizam um tempo de felicidade e amor despreocupado e feliz. Contudo, a canção também sugere a inevitável passagem do tempo e os desafios que vêm com ele. A superposição de alegria e tristeza é um tema central, que a faz ressoar aos ouvintes que experimentaram sentimentos similares em suas próprias vidas.
A canção apresenta um magnífico arranjo instrumental típico do estilo de Henry Mancini, combinado com a suave interpretação vocal de Frank Sinatra (apenas um de seus múltiplos intérpretes), que acentua a intensidade emocional da letra. A combinação de melodia e letra cria uma intensa reflexão sobre amor e perda, que a tornaram um eterno clássico.
“Days of Wine and Roses” foi interpretada por vários artistas ao longo dos anos, mas a interpretação de Frank Sinatra permanece como uma das mais celebradas, embora mais no estilo Jazz. A música é muitas vezes associada com temas de nostalgia e é frequentemente executada em contextos de jazz ou popular. Continua a ser um grande favorito entre os fãs da música clássica americana.
As gravações mais conhecidas são as de Billy Eckstine, em 1961 (Eckstine teria tido acesso à música neste ano, durante a filmagem e antes do seu lançamento no filme) e Andy Williams, em 1963; mas vários outros artistas também gravaram a canção: Bill Evans, Shirley Bassey, Frank Sinatra, Julie London, Rosemary Clooney, Perry Como, Tony Bennett, Pat Boone, Ella Fitzgerald e Matt Monro, entre outros. Entre as gravações instrumentais, podemos citar Henry Mancini, Richard Alden (Ronnie Aldrich) e Jackie Gleason, além de outros.
Peço desculpas aos amigos para postar, a título de ilustração, as minhas gravações preferidas, que talvez não coincidam com as de vocês: duas com interpretação vocal e duas orquestradas. Basta clicar nos nomes e serão conduzidos às interpretações.

3) Henry Mancini (não poderia faltar o compositor);
4) Jackie Gleason (mais lenta e sentimental para melhor representar a ideia).

Dei um tratamento especial às gravação de Perry Como e de Henry Mancini, criando dois pequenos clips para os meus amigos, com a juntada de títulos, fotos e legendas às duas interpretações. Mas como essa não é a minha especialidade, as duas outras são apresentadas somente como as consegui da rede.
Não poderia deixar de apresentar a letra de “Days of Wine and Roses” em sua íntegra e original versão, bem como uma tradução para aqueles que, já um pouco esquecidos do seu inglês, possam bem acompanhar a maravilhosa ideia dos autores, que me motivou a realizar essa postagem. Afinal, essa letra tem muito a ver com os meus amigos e comigo, com a convivência nos muitos momentos em que estivemos juntos ...

A frase “Days of Wine and Roses” – e acho muito importante colocar essa referência – vem, originalmente, do poema “Vitae Summa Brevis Spem Nos Vetat Incohare Longam” (A Breve Duração da Vida nos Proíbe a Esperança de Resistir por Longo Tempo), do escritor inglês Ernest Dowson (1867-1900):

“They are not long, the weeping and the laughter,
Love and desire and hate:
I think they have no portion in us after
We pass the gate.
They are not long, the days of wine and roses:
Out of a misty dream
Our path emerges for a while, then closes
Within a dream.”

Em português, se me permitem a tradução:

“Eles não são longos, o choro e o riso,
O amor, o desejo e o ódio:
Creio que eles não fazem mais parte de nós após
Passarmos o portão.
Não são longos, os dias de vinho e rosas:
Oriundos de um sonho nebuloso
Nosso caminho emerge por um instante, e então se fecha
Dentro de um sonho.”

Embora tenha dito que os nomes de Henry Mancini e Johnny Mercer dispensam comentários, eu tenho muita pena dos quase sempre esquecidos autores de músicas, ao contrário do seus intérpretes, sempre lembrados, o que me faz incluir umas poucas palavras sobre o autor da melodia e o seu letrista.
Henry Mancini, nascido Enrico Nicola Mancini em 16 de abril de 1924 e falecido em 14 de junho de 1994, foi um compositor, condutor de orquestra, arranjador, pianista e flautista americano. Muitas vezes citado como um dos maiores compositores da história do cinema, recebeu quatro Prêmios da Academia, um Globo de Ouro e vinte Prêmios Grammy, além de um “Grammy Lifetime Achievement Award” (Prêmio Grammy pela Realização durante a Vida) póstumo, em 1995. Seus trabalhos incluem o tema e trilha sonora da série de televisão “Peter Gunn”, a música para a série de filmes de “The Pink Panther” (A Pantera Cor de Rosa) e “Moon River”, do filme “Breakfast at Tiffany’s”, sem esquecer “Days of Wine and Roses”, todos esses, resultado de sua longa colaboração, na composição de trilhas sonoras de filmes, com o diretor de cinema Blake Edwards.
Henry Mancini também manteve extensa colaboração com vários outros diretores de cinema, de que resultaram joias da música popular como “Charade”, “Arabesque”, “Two for the Road”, “Hatari” (quem não se lembra do “Passo do Elefantinho”?), “Sunflower” e incontáveis outras canções.
John Herndon Mercer, nascido em 18 de novembro de 1909 e falecido em 25 de junho de 1976, foi um letrista, compositor e cantor, além de executivo e cofundador do selo Capitol Records. Suas canções sempre estiveram entre os maiores sucessos de seu tempo, incluindo “Moon River”, Days of Wine and Roses” e “Autumn Leaves”. Escreveu as letras de mais de 1.500 canções incluindo composições do cinema e espetáculos da Broadway. Recebeu dezenove indicações para o Oscar, tendo recebido quatro Oscars de Melhor Canção Original, sendo considerado um dos maiores letristas do “Great American Songbook”.

EPÍLOGO

O epílogo é da postagem, evidentemente! Isso porque, meus amigos e eu não teremos jamais epílogo, mas viveremos para sempre! Não no físico, que tem duração curta, como os dias de vinho e rosas, embora até eles permaneçam apesar da idade. Mas o que é o físico comparado ao destino que ainda nos espera após esta vida material? Mais filosofia, para outra hora ...
Esta foi a minha despretensiosa declaração de amor a todos os meus amigos e amigas, genericamente relacionados na apresentação desta postagem. Eu ficaria muito feliz se eles apreciassem, não o trabalho em si, mas a intenção que tentei colocar por trás dele. Amo vocês todos!
E ao final de tudo, eu colocaria a frase que ouvi do conhecido jogador internacional do Real Madrid, Luka Modric, na despedida do seu clube, no famoso estádio Santiago Bernabéu, ocorrida em 24 de maio de 2025, após a vitória por 2 a 0 sobre a Real Sociedade, na última rodada de La Liga, temporada 2024/2025:

NÃO CHORE PORQUE ACABOU, SORRIA PORQUE ACONTECEU!

2 comentários:

Cláudia disse...

Maravilhoso pai! Música linda, letra e poema com gosto de saudade. Eu, ainda nos meus 56 anos, já penso em alguns dos meus "days of wine and roses", apesar de continuar vivendo novos dias de vinho e rosas. E quando a última porta se fechar, deixaremos o mundo físico, mas levaremos na alma o sentimento de todos estes dias.

Nelson Azambuja disse...

Querida Claudinha:
Seja bem vinda ao blog!
Adorei o teu comentário! Como sempre são os teus comentários, honestos e cheios de coerência! Com muito mais valor considerando a mulher super ocupada que és.
Muito obrigado e aparece sempre que puderes.
Beijos do pai,
Nelson Azambuja