Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

terça-feira, 7 de outubro de 2025

HISTÓRIA DO POVO JUDEU APÓS O RETORNO DE SEU EXÍLIO NA BABILÔNIA (PARTE 3)

 

IV – NABUCODONOSOR II E OS SUCESSORES DO SEU IMPÉRIO

O Levante Histórico em vermelho
Após ter reinado por quarenta e três anos, o rei Nabucodonosor morreu. Foi um homem ativo e mais feliz que os reis que o antecederam. Berosus menciona suas ações no terceiro livro de sua “História dos Caldeus”, onde diz: “Quando seu pai Nabopolassar foi informado de que o governador que havia colocado no Egito e as regiões da Coelesyria
[1] e Fenícia[2] haviam se revoltado, entregou parte do seu exército ao seu filho ainda jovem, Nabucodonosor, e enviou-o contra eles”. O jovem príncipe debelou todos os revoltosos e incorporou as regiões ao seu próprio país, ao mesmo tempo em que seu pai adoecia e morria na Babilônia, após reinar por 21 anos. Tendo acertado seus assuntos no Egito e outros países bem como os relativos aos transportes dos prisioneiros egípcios, fenícios, sírio e judeus bem como seu próprio exército, retornou à Babilônia assumindo o controle do reino. Construiu reforçadas muralhas em volta de toda a cidade e construiu um novo palácio para si mesmo em frente ao de seu pai.
O filho de Nabucodonosor II, Evil-Merodach, o substituiu, imediatamente colocando em liberdade e fazendo-o seu amigo íntimo, Jehoiachin, penúltimo rei de Judá, colocado por Nabucodonosor II.
Quando Evil-Merodach morreu, após um reinado de 18 anos, foi substituído por seu filho Niglissar que reinou por quarenta anos. A sucessão do reino passou para seu filho Labosordacus que reinou por apenas nove meses, sendo substituído por Baltasar, entre os babilônios, Naboandelus. Contra ele fizeram guerra Darius, o rei da Média e Ciro, o rei da Pérsia. Segundo Flavius Josephus, quando Baltasar se encontrava sitiado, teria tido um sonho que nenhum dos seus adivinhos teria conseguido interpretar. 
Mapa da região da Fenícia, em verde
Por interferência de sua avó, surge então a figura do cativo Daniel, judeu de nascimento trazido da Judeia por Nabucodonosor para a Babilônia, um sábio, que teria conseguido interpretar, apenas por influência de Deus, o sonho de Baltasar, recusando todos os presentes prometidos. Daniel teria então relatado a Baltasar que ele morreria em pouco tempo por terem, ele e Nabucodonosor blasfemado contra Deus e que, por isso, Deus partiria seu reino em pedaços dividindo-o entre Persas e Medos.
Pouco tempo depois, em 539 AC, a cidade e Baltasar foram tomados por Ciro (o primeiro general a entrar na Babilônia quando tomada pelos persas), encerrando, após um reinado de 17 anos, a posteridade de Nabucodonosor.

V – DO PRIMEIRO ANO DE CIRO ATÉ A ASCENSÃO DE ALEXANDRE, O GRANDE

Ciro II, o Grande, redentor dos Judeus
Ciro II, o Grande, filho de Cambises e neto de Ciro I, foi o fundador do Império Aquemênida, o primeiro Império Persa. Seu reinado durou 30 anos e foi criado a partir da conquista do Império Medo, do Império Lídio e, finalmente, do Novo Império Babilônio. Assumiu o trono da Pérsia em 559 AC, mas não como governante independente; como seus predecessores, teve que reconhecer a liderança dos Medos. Só após a conquista da Babilônia, em 539 AC, Ciro proclamou-se “Rei dos Quatro Cantos do Mundo”, com o maior império que o mundo tinha visto até então. 
Após a conquista persa da Babilônia, o rei Ciro, o Grande, emitiu um decreto em 538 AC (70º ano da remoção do povo judeu para a Babilônia) que não apenas permitiu, mas ativamente encorajou o retorno dos exilados judeus para Judá e a reconstrução do Templo em Jerusalém. Mais do que isso, providenciou junto aos mandatários da vizinhança da Judeia o ouro e a prata necessários para as despesas. Essa política persa de tolerância religiosa foi recebida com grande júbilo pelos exilados, a ponto de o profeta Dêutero-Isaías aclamar Ciro como "o ungido do Senhor".
A primeira onda de retornados, liderada por Zorobabel (que pode ter sido a mesma pessoa que Sesbazar) e incluindo mandatários das duas tribos, Judá (Reino de Judá após a cisão) e Benjamin, com os Levitas e sacerdotes, ocorreu por volta de 537 AC. Este grupo, composto por aproximadamente 42.360 indivíduos, além de 7.337 servos e servas e 200 cantores e cantoras, levou consigo os vasos sagrados do Templo. Contudo, é fundamental observar que este foi apenas um retorno parcial. Muitos judeus já haviam estabelecido novas vidas na Babilônia e em outras partes da diáspora, mas continuavam a considerar o Templo em Jerusalém como um poderoso símbolo de sua unidade coletiva.
A narrativa do "retorno" é central para o judaísmo pós-exílico, mas os registros históricos revelam uma contra-narrativa crucial: uma porção significativa da população judaica optou por não retornar. Isso indica que o exílio babilônico, embora traumático, também fomentou o crescimento de uma diáspora robusta e duradoura. A contínua reverência pelo Templo de Jerusalém por aqueles que permaneceram no exterior demonstra que a identidade judaica estava se tornando cada vez mais flexível, capaz de transcender as fronteiras geográficas. O estabelecimento precoce de uma grande e influente comunidade diaspórica moldaria profundamente o futuro do judaísmo, promovendo diversas expressões culturais e centros intelectuais fora da Judeia.
Os judeus que retornaram se dedicaram à reconstrução do Templo e de Jerusalém, mas foram retardados em seus esforços, pelos povos vizinhos, em especial pelos Cutheans ou Cuthitas, povo trazido da Média e Pérsia, por Nabucodonosor, para a região da Samaria, para povoar a região que ficara desabitada quando os judeus do Reino de Israel (após a cisão) foram levados para o cativeiro da Babilônia. Ciro não tinha conhecimento desses fatos porque participava de guerras contra outros povos, ocasião em que foi morto. Ciro II foi sucedido por Cambises II, em 530 AC, reinando até 522 AC, recebendo desses povos queixas contra os judeus, dizendo que assim que os seus trabalhos fossem concluídos, eles se rebelariam, deixando de pagar seus tributos. Cambises II ordenou que os judeus cessassem as construções em andamento para que os problemas anteriores ao cativeiro não voltassem a se repetir. Durante todo o reinado de Cambises II os trabalhos de reconstrução do Templo foram suspensos, só reiniciando no segundo ano de Dario I, o Grande. Cambises II foi sucedido por seu irmão mais moço Bardiya, filho de Ciro II com Atossa, sua esposa, que não era rainha. Bardiya foi assassinado por Dario I que assumiu o trono da Pérsia. Aqui a história não é bem clara e há quem diga que Bardiya não assumiu o trono, mas sim um Mago que por ele se fez passar e assim que descoberto foi assassinado por Dario I, filho de Histaspes, que assumiu o trono em 521 AC, reinando de Persépolis, capital do Império na Pérsia.
Na história de “Daniel na cova dos leões” (Daniel 6, do Antigo Testamento), Daniel continuou a servir na corte real sob Dario I, historicamente de reinado duvidoso, como alto dignatário. Seus rivais, com inveja, planejaram a sua queda, fazendo com que Dario emitisse um decreto pelo qual nenhuma oração poderia ser feita a qualquer deus ou homem além do próprio Dario, sob pena de morte. Daniel continuou a rezar ao Deus de Israel; Dario, embora profundamente desgostoso, teve que condená-lo a ser jogado na cova dos leões porque os decretos de Persas e Medos não podiam ser alterados. Ao nascer do dia o rei apressou-se ao lugar e Daniel disse-lhe que Deus havia enviado um anjo para salvá-lo. Dario então ordenou que aqueles que haviam conspirado contra Daniel fossem lançados aos leões em seu lugar, com suas esposas e filhos. Quando aqueles que tinham pretendido destruir Daniel, foram assim destruídos, o Rei Dario enviou cartas por todo o país louvando o Deus que Daniel adorava e dizendo que Ele era o único Deus verdadeiro.
A monumental tarefa de reconstruir Jerusalém e restabelecer a comunidade judaica foi reiniciada e liderada por três figuras distintas, mas complementares:

Zorobabel, o príncipe da casa de Davi que liderou a primeira leva de retornados e foi fundamental na colocação dos alicerces do Segundo Templo por volta de 536 AC. A construção do Templo foi finalmente concluída em 516 AC, durante o reinado do rei persa Dario I.
Esdras, um escriba e sacerdote altamente habilidoso, chegou mais tarde, após uma considerável lacuna cronológica. Seu foco principal era a restauração da adoração adequada e a rigorosa implementação da Torá. Ele iniciou reformas morais e espirituais significativas, incluindo a controversa condenação de casamentos mistos, tudo visando revitalizar a identidade religiosa e a devoção do povo judeu.
Neemias, que servia como copeiro do rei posterior persa Artaxerxes (cujo reinado se estendeu de 465 a 424 AC), assumiu a responsabilidade pela reconstrução das muralhas defensivas de Jerusalém, um projeto que enfrentou considerável oposição externa. Além da construção física, Neemias também se dedicou à edificação espiritual do povo e à garantia de sua adesão à aliança.

Os papéis de Zorobabel (reconstrução física e cultual), Esdras (reforma religiosa e legal) e Neemias (organização administrativa e social) ilustram uma evolução crítica na governança judaica. Com a ausência da monarquia tradicional, a liderança se diversificou. Essa divisão de autoridade, embora eficaz para uma restauração abrangente, também sinaliza uma nascente separação entre o poder religioso e o secular, com o Sumo Sacerdote ganhando influência significativa. A ênfase nas reformas espirituais e morais de Esdras e Neemias sublinha que a comunidade pós-exílica compreendia a "restauração" não apenas como um retorno a uma terra ou edifício físico, mas como uma profunda renovação espiritual e ética, centrada na Lei em vez de um rei. Esse modelo de liderança se tornaria fundamental para o futuro do judaísmo, especialmente após a destruição do Templo.
Zorobabel, feito governador dos judeus pós cativeiro, foi de Jerusalém à presença de Dario I, de quem tinha sido amigo e nas graças de quem havia caído antes mesmo que ele assumisse o reino, para solicitar-lhe o cumprimento de sua promessa de reconstrução de Jerusalém e do templo dos judeus, bem como a devolução dos vasos sagrados que Nabucodonosor havia roubado. Dario cumpriu todas as promessas feitas a Zorobabel e muito mais, isentando-o de impostos, proibindo outros povos de guerrearem contra os judeus e ainda obrigando-os a ajudarem na reconstrução da cidade e do templo. O povo saudou o retorno de Zorobabel a Jerusalém e celebrou durante sete dias o início da reconstrução e restauração do seu país.
Judá em amarelo e Israel em azul, século IX AC
A reconstrução do Templo e das muralhas foi um testemunho da fé e determinação judaica, superando adversários políticos significativos e o desânimo interno. O Segundo Templo, embora carecesse da Arca da Aliança e da Shekinah (presença divina) de seu predecessor
    e por isso fosse percebido por alguns como espiritualmente inferior, tornou-se, no entanto, o símbolo central da identidade judaica e o principal local de adoração, sacrifício ritual e reuniões comunitárias. O Templo é consistentemente destacado como um "símbolo central da identidade judaica". No entanto, a menção explícita de sua "falta de esplendor" e da ausência da Arca e da Shekinah introduz uma nuance crucial: o Segundo Templo, embora uma restauração física, não foi visto como um retorno espiritual completo à glória do Primeiro Templo. Essa sensação de imperfeição, combinada com as críticas proféticas à ganância interna e ao exclusivismo, indica que a restauração pós-exílica foi um empreendimento humano complexo, repleto de desafios internos e uma persistente sensação de incompletude espiritual. Essa tensão inerente contribuiria para as diversas expressões religiosas e expectativas que caracterizaram o período posterior do Segundo Templo.
Após dois anos e dois meses de seu retorno do cativeiro, os judeus estavam bem adiantados na construção do Templo e iniciaram as celebrações correspondentes. As nações vizinhas dos judeus, incluindo os samaritanos (da região da Samaria), voltaram a indignar-se e tentaram, de todas as nações da Síria obter novamente uma interrupção nos trabalhos dos judeus, sem tomar qualquer providência antes de saber como reagiria Dario I. Enquanto isso, os profetas Haggai e Zacarias encorajavam os judeus a não desistirem da obra nem das promessas dos Persas. Dario I não aceitou as reclamações dos vizinhos dos Judeus e voltou a hipotecar-lhes o seu apoio na reconstrução do Templo, que foi concluída em 7 anos. No nono ano de Dario I os israelitas festejaram a conclusão do novo Templo, sempre mantido o apoio persa em seu favor, sob o governo de Zorobabel, até a morte de Dario I, o Grande.
Império Persa em sua maior extensão sob Dario, o Grande
Sob o domínio persa, a comunidade judaica na província de Judá desfrutou de um grau de autonomia limitada. O principal vínculo com o vasto Império Persa era através de uma política tributária, que, embora impondo obrigação econômica, permitia uma significativa auto governança interna. Este período foi profundamente formativo para a identidade e cultura judaicas. Testemunhou o crucial processo de consolidação da liturgia judaica e a compilação dos textos que finalmente formariam o Tanakh (Bíblia Hebraica). A rigorosa observância da Lei, do Sábado e da circuncisão tornou-se elemento definidor e essencial da vida judaica.
A ausência de uma monarquia soberana e a limitada autonomia política sob a Pérsia forçaram uma reorientação fundamental da identidade judaica. A ênfase na "consolidação da liturgia e dos escritos histórico-religiosos" e a elevação da "Lei, Sábado e circuncisão" como "elementos distintivos" significam uma mudança de uma identidade nacional-política para uma identidade religiosa-textual. Os escribas tornaram-se figuras de suma importância, servindo efetivamente como os novos guardiões intelectuais e espirituais. Esse desenvolvimento foi crucial para a sobrevivência do judaísmo em um mundo sem rei e plena independência política.
Na ausência de um rei, o Sumo Sacerdote emergiu como o líder religioso preeminente e, em grande medida, líder político da comunidade judaica em Jerusalém. O cargo de Sumo Sacerdote era hereditário, traçando sua linhagem até Arão, irmão de Moisés, da tribo de Levi. Essa figura central, responsável pela mediação entre Deus e o povo através dos rituais do Templo, assumiu uma autoridade considerável na província de Judá. O surgimento de uma hierarquia sacerdotal centralizada no Templo, liderada pelo Sumo Sacerdote, foi uma resposta direta à ausência de uma monarquia e à necessidade de uma estrutura de governança interna sob o domínio persa. Essa concentração de poder religioso e, em parte, político no Sumo Sacerdote, embora garantisse a coesão da comunidade e a continuidade do culto, também plantou as sementes para futuras tensões. A dependência que tinha o sacerdócio da aprovação imperial, primeiramente persa e depois helenística e romana, para manter sua posição e privilégios, criaria divisões internas e comprometeria a independência religiosa, levando a conflitos e a uma busca por maior autonomia.
Com a morte de Dario I, seu filho Xerxes assumiu o reino persa, mantendo com os judeus o mesmo tratamento dispensado por seu pai. Por essa época, o grande sacerdote dos judeus era Joachim, filho de Jeshua. Na Babilônia, o principal sacerdote era Esdras, conhecedor das leis de Moises e bem relacionado com Xerxes. Pretendendo viajar a Jerusalém, com judeus que ainda se encontravam na Babilônia, Esdras conseguiu do rei Xerxes uma carta de recomendação que o permitisse passar com segurança pelos países do trajeto para a Judeia. Mais do que isso, permitiu à comitiva que levasse riquezas e bens da Pérsia, que servissem como sacrifícios dos judeus a Deus. Satisfeito com a boa vontade de Xerxes que o tornava responsável perante os judeus por tudo o que conseguira para levar à Judeia, Esdras organizou o povo que participaria da viagem, para o seu pleno sucesso, renunciando ao exército que Xerxes lhe oferecera como segurança. Partiram do Eufrates no 12º dia do 1º mês do 7º ano do reinado de Xerxes, chegando a Jerusalém no 5º mês do mesmo ano. Lá chegando, Esdras entregou aos tesoureiros, da família dos sacerdotes dos judeus, todos os presentes enviados por Xerxes bem como sua carta aos oficiais do Rei e aos governadores dos reinos vizinhos para que bem entendessem a boa vontade de Xerxes para com os judeus e os auxiliassem no que pudessem.
Logo começaram a surgir queixas contra alguns dos cidadãos que haviam se casado com mulheres estranhas à nação judaica, assim transgredindo as leis do seu país. Os acusadores argumentavam que Esdras deveria obrigar os faltosos a enviar de volta para os seus países, as mulheres estrangeiras com os filhos gerados, a fim de obter o perdão de Deus. Surge a figura importante de Jechonias depondo contra os faltosos, o que motiva Esdras a obrigar os chefes dos sacerdotes, dos levitas e dos israelitas a jurarem que mandariam embora as esposas e crianças. Isto feito e a fim de apaziguar Deus, ofereceram sacrifícios de animais e outros bens. Ao 7º mês tiveram início as Festas do Tabernáculo que duraram oito dias, após o que todos retornaram às suas casas cantando hinos a Deus e agradecendo a Esdras pelo conserto das faltas introduzidas. Após ter obtido tal reputação entre o povo, Esdras morreu velho e foi enterrado de maneira magnífica em Jerusalém. Ao mesmo tempo, morreu também o alto sacerdote Joachim, sucedido por seu filho Eliasib no alto sacerdócio.
Alguns anos depois, Neemias, um judeu em Susa, metrópole da Pérsia, que servia como copeiro de Xerxes, ficou sabendo que Jerusalém e o povo estavam novamente em péssimo estado, por ação de seus vizinhos. Neemias deu conhecimento do assunto a Xerxes que novamente escreveu carta aos vizinhos dos judeus, autorizando Neemias a voltar para Jerusalém com a carta que cobrava ajuda da Samaria e adjacências para a reconstrução da cidade e manutenção do templo. No 25º ano do reinado de Xerxes, Neemias retornou a Jerusalém com muitos judeus que voluntariamente o acompanharam. Em Jerusalém ele reuniu todo o povo e informou a razão de sua ida, conclamando os judeus a se reunirem por vontade de Deus e se dedicarem com ânimo à reconstrução das muralhas e à manutenção do Templo, sem se preocuparem com as afrontas dos reinos vizinhos. E após prometer que ele mesmo, com seus servos, assistiria aos judeus (assim chamados após o retorno da Babilônia, a partir do nome da tribo de Judá) na reconstrução, Neemias dissolveu a assembleia.
Logo os moabitas, amonitas, samaritanos e sírios reiniciaram suas provocações que incluíram ameaças de morte ao próprio Neemias, provocando de parte dos judeus medidas especiais para que pudessem prosseguir em seus trabalhos. Nesses moldes, a construção das muralhas demandou dois anos e quatro meses, sendo concluídas no nono mês do 28º ano do reinado de Xerxes. Encerrada a construção, Neemias e o povo ofereceram sacrifícios a Deus e festejaram durante oito dias, o que deixou indignadas as nações vizinhas. Neemias tomou ainda várias outras providências para garantir a vida tranquila da população e morreu velho e feliz por ter realizado a felicidade do povo de Jerusalém.
Com a morte do rei Xerxes, assumiu o trono da Pérsia seu filho Artaxerxes I (que alguns conhecem por Cyrus), que se casou com uma moça judia, de família real e que teve importante papel na preservação do povo judeu. O rei separando-se de sua primeira esposa, ordenou que fossem selecionadas um grande número de virgens para que escolhesse entre elas a sua nova esposa. Artaxerxes acabou apaixonando-se por Esther, uma jovem órfã judia criada por Mordecai, seu tio. O rei casou-se com ela e levou-a para habitar o seu palácio em Shushan, abandonando a Babilônia onde vivia, sem saber que Esther era judia.
Um complô contra o rei foi descoberto por Esther e denunciado por Mordecai ao Rei, que determinou a execução dos envolvidos, tornando Mordecai, que foi habitar no palácio, um de seus favoritos. Havia no reino um amalequita (inimigo dos judeus) de nome Haman que costumava ir ao rei e a quem Artaxerxes ordenara que persas e estrangeiros o adorassem. Mordecai, de origem judia, negou-se a tal procedimento e por isso Haman descobriu que ele e sua família eram judeus e resolveu aproveitar denunciando-os ao Rei para provocar a extinção de todos os judeus, propondo-se a pagar do seu bolso um valor equivalente ao tributo pago pelo povo judeu. O rei aceitou a proposta e Haman enviou decretos a todas as nações sob o jugo persa determinando a morte de todos os judeus, suas esposas e filhos, até o 14º dia do 12º mês daquele corrente ano. Mordecai e os judeus de todas as partes fizeram tais notícias chegassem aos ouvidos do Rei e da Rainha.
Essas intrigas envolvendo o Rei Artaxerxes, sua esposa Esther, Haman e Mordecai permaneceram durante algum tempo até que todas as artimanhas de Haman foram descobertas por Artaxerxes por meio de sua esposa Esther. O rei, que então ficara sabendo do parentesco de Esther com Mordecai, chamou-o e deu-lhe o anel que antes havia dado a Haman, bem como sua casa. A rainha solicitou também ao rei que liberasse totalmente a nação dos judeus do medo da morte, ao que o rei respondeu que nada faria que a desagradasse, mas que ela escrevesse tudo o que lhe agradasse sobre os judeus, em nome do rei, que lhe aporia o selo real e o enviaria a todo o seu reino.
Após aqueles dias, como celebração, os judeus realizaram vários dias de festivais que chamaram Phurim ou Purim, que continuam a ser celebrados até hoje. Mordecai tornou-se um grande e ilustre personagem junto ao rei, assistindo-o sempre no governo do povo. Com isso, os assuntos do povo judeu foram resolvidos ainda melhor do que se poderia esperar. Esta a situação dos Judeus sob o reino de Artaxerxes.
Quando o sacerdote Eliasib morreu, seu filho Judas sucedeu-o no alto sacerdócio e com sua morte, seu filho João assumiu aquela dignidade. Foi sob o seu comando que Bagoses, general de outro exército de Artaxerxes poluiu o Templo, impondo novos tributos aos Judeus. Jesus, irmão de João, era amigo de Bagoses, que lhe havia prometido o alto sacerdócio. Por isso os dois irmão brigaram no Templo e de tal forma violenta que João acabou assassinando Jesus, crime enorme principalmente considerada a sua situação de alto sacerdote. Quando Bagoses, o general persa, soube que João, o alto sacerdote dos Judeus havia assassinado seu irmão Jesus, no Templo, quis adentrar o templo, mas os judeus não permitiram, ao que ele respondeu: “Por acaso eu não sou mais puro que o assassino do templo?” E entrou, punindo os judeus por sete anos pelo assassinato de Jesus!
Quando João morreu, seu filho Jaddua o sucedeu no alto sacerdócio. Ele tinha um irmão de nome Manasseh. Na Samaria havia nesta época um homem chamado Sanballat, do mesmo estoque dos samaritanos, que havia sido enviado por Dario. Ele sabia que os reis de Jerusalém haviam dado muitos problemas aos assírios e ao povo da Selesíria, por isso deu sua filha Nicaso em casamento a Manasseh de modo a criar um compromisso com os judeus para que esses não lhe criassem problemas. Os anciãos de Jerusalém, com o alto sacerdote Jaddua, não viram com bons olhos o casamento de Manasseh com uma estrangeira, como já tinha ocorrido anteriormente, exigindo a sua separação da esposa ou o seu afastamento definitivo do altar sagrado. Manasseh buscou o auxílio de seu sogro, Sanballat, explicando toda a situação. Sanballat prometeu-lhe a manutenção de sua dignidade, bem como dar-lhe o governo de todos os locais que ele agora governava e também a construção de um templo como o de Jerusalém, no monte Gerizzini, a mais alta montanha da Samaria, com a aprovação de Dario, se ele não se separasse de sua filha. Foi por esse tempo que morreu Jaddua, o alto sacerdote, tomando seu lugar o seu filho Onias na Jerusalém daquele tempo. (Parte 4 na próxima postagem)


[1] A Coelesyria (Selesíria) era uma região da Síria na antiguidade clássica, na maioria das vezes aplicada ao vale do Beqaa, entre as cadeias de montanhas do Líbano e Ante-Líbano. É agora parte da Síria e Líbano dos dias modernos.

[2] A Fenícia foi uma antiga civilização na região do Levante, Mediterrâneo Oriental, primariamente localizada nos modernos Líbano e Síria costeira. O território dos fenícios estendeu-se e retraiu-se através da história, com o núcleo de sua cultura estendendo-se de Trípoli (norte do Líbano moderno) até o Monte Carmel (Israel moderno). Além de sua terra natal, os fenícios se espalharam através do Mediterrâneo, de Chipre até a Península Ibérica.

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