Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

HISTÓRIA DO POVO JUDEU APÓS O RETORNO DE SEU EXÍLIO NA BABILÔNIA (PARTE 4)

VI – O PERÍODO HELENÍSTICO E A CRISE DE IDENTIDADE (333 AC - 63 AC)

No império Persa, Artaxerxes I foi sucedido por seu filho Xerxes II que foi, por sua vez, assassinado e sucedido por seu meio irmão Soguediano, ambos reinando por períodos muito curtos. Dario II (424 – 404 AC) sucedeu a Soguediano e foi sucedido por seu filho Artaxerxes II, que reinou de 404 AC até a sua morte em 358 AC. Artaxerxes III o sucedeu no trono, sendo sucedido por Dario III, último rei do Império Aquemênida Persa, tendo reinado de 336 a 330 AC.
Alexandre, o Grande, da Macedônia
Por essa época Felipe, rei da Macedônia (norte da Grécia), foi assassinado em Egae, por Pausanias, filho de Cerastes, da família de Orestes, e Alexandre, seu filho, o sucedeu no trono.
Alexandre, passando pelo Helesponto (atual Estreito de Dardanelos) derrotou os generais do exército de Dario III na batalha travada em Cranicum, marchou sobre a Lydia (antigo nome da região oeste da Turquia asiática), subjugou a Ionia, Caria e Pamphylia, avançando para o leste da atual Turquia. Enquanto isso, Dario avançava com seus exércitos para o oeste, visando dar combate a Alexandre em Issus, Cilicia. Sanballat, certo de que Dario derrotaria Alexandre, reafirmou suas promessas a Massaneh. Entretanto, Dario foi batido por Alexandre que tomou a maior parte dos seus exércitos além de aprisionar sua mãe, esposa e filhos, e fugiu para a Pérsia. Alexandre invadiu a Síria, tomando Damasco, Sidon e sitiando Tiro, quando então buscou o alto sacerdote judeu para fornecer suprimentos a seus exércitos. Entretanto, o Alto Sacerdote respondeu-lhe que não transgrediria seu juramento a Dario enquanto este estivesse vivo, pois temia sua represália. Alexandre, evidentemente não gostou de sua resposta e prometeu represália aos judeus assim que tomado Tiro. Isso aconteceu rapidamente e Alexandre chegou a Gaza que foi sitiada e teve o governador da guarnição, Babemeses, preso.
Ao tempo do sítio de Tiro, Sanballat viu um boa oportunidade de atingir seus objetivos e, renunciando a Dario III, buscou Alexandre oferecendo-lhe cerca de sete mil de seus soldados e aceitando-o como seu lorde. Sanballat, sendo bem recebido por Alexandre, narrou-lhe seus próprios problemas e fez ver a Alexandre que dividindo Jerusalém com dois altos sacerdotes, dividiria também sua força. Contou com a anuência de Alexandre e apressou-se na construção do Templo prometido, fazendo Manasseh alto sacerdote. Entretanto, assim que Alexandre conquistou Tiro e Gaza, Sanballat morreu e Alexandre apressou-se a tomar Jerusalém (cerca de 329 AC), colocando o Alto Sacerdote Jaddua em pânico, fazendo com que adornasse a cidade e abrisse os seus portões para receber o Rei Alexandre. Recebeu Alexandre com toda a pompa, foi por ele muito bem aceito e conduzido ao Templo, onde ofereceu sacrifício ao Deus dos Judeus, tratando magnificamente o Alto Sacerdote e os demais sacerdotes. Tal foi a maneira como Alexandre atendeu a todas as reivindicações dos Judeus, que muitos deles se prontificaram a marchar sob suas ordens para as suas novas conquistas. Após Alexandre ter acertado todos os assuntos em Jerusalém, conduziu seu exército pelas cidades vizinhas que o receberam muito bem. A partir dessa época, a Palestina passou a ser chamada de Palestina Helenística. Vendo que os judeus o haviam recebido tão bem, os samaritanos, que tinham Shechem por sua metrópole (uma cidade situada no monte Gerizzim e habitada por apóstatas da nação judia), manifestaram, como de outras vezes, sua descendência judia, igualmente saudando o rei Alexandre.
A Província Helenística de Judá
O Império Persa, sob o qual os judeus haviam desfrutado de uma autonomia limitada, foi, portanto, conquistado por Alexandre, o Grande, da Macedônia, no século IV AC. Em 313 AC, Alexandre anexou a Terra de Israel ao seu crescente império, marcando uma nova fase de dominação estrangeira. A ascensão meteórica de Alexandre ao poder e a extensão de seu domínio por vastas regiões do mundo antigo, tudo antes de completar 30 anos, tiveram um impacto notável na história judaica.
A conquista de Alexandre não se deu apenas pela força militar, mas também pela disseminação da língua e cultura gregas num processo conhecido como helenização. O helenismo, a disseminação da cultura e língua gregas, teve um impacto profundo e complexo no judaísmo. A língua grega tornou-se um veículo de comunicação universal em todo o Oriente Médio, facilitando um diálogo cultural entre gregos e civilizações orientais. Em algumas comunidades da diáspora, notadamente em Alexandria, no Egito, os judeus se abriram à cultura helenística, assimilando-a em vários níveis, desde a língua até o pensamento e o modo de vida. Um dos produtos literários mais importantes desse contato foi a tradução da Bíblia hebraica para o grego, conhecida como a Septuaginta, realizada em etapas entre o século III e o século I AC em Alexandria. Essa tradução foi crucial para os muitos judeus da diáspora que haviam perdido o contato com a língua hebraica e para a difusão do pensamento judaico no mundo helenístico. No entanto, a influência helenística não foi uniformemente aceita. Enquanto os judeus dispersos, especialmente no Egito, mantiveram um diálogo fecundo com a cultura grega, os judeus residentes na Terra de Israel, rejeitaram fortemente a cultura helênica imposta, pois a viam como uma ameaça direta à sua identidade judaica. Dessa interação e confronto de culturas, surgiu uma rica produção literária, tanto de apoio ao helenismo (literatura de justificação) quanto de rejeição a ele (literatura de resistência). A interação entre o judaísmo e o helenismo não foi uma simples dicotomia de aceitação ou rejeição, mas um espectro de respostas que moldou profundamente a identidade judaica. A tradução da Septuaginta, por exemplo, não foi apenas um ato de adaptação linguística, mas um empreendimento que tornou as Escrituras judaicas acessíveis a um público mais amplo, incluindo os gentios, e que influenciaria profundamente o desenvolvimento do cristianismo. A resistência ao helenismo forçado, por outro lado, fortaleceu a convicção religiosa e a coesão identitária dentro da Judeia, culminando com a Revolta dos Macabeus. Essa dualidade de adaptação e resistência demonstra a capacidade do judaísmo de se engajar com culturas dominantes sem perder sua essência, um modelo de resiliência que se repetiria ao longo de sua história.

VII – DA MORTE DE ALEXANDRE, O GRANDE, À REVOLTA DOS MACCABEUS

Com a súbita morte de Alexandre, o Grande, em 323 AC, seus generais e sucessores, os “Diadochi” (Sucessores), lutando pela sucessão, acabaram por dividir o reino entre si: Seleucus I Nicator (que deu origem ao Reino Selêucida), obteve a Ásia (Ásia Menor, Síria, Mesopotâmia e Babilônia); Lysimachus governou a Trácia (Trácia propriamente e grande parte da atual Turquia); a Cassandro coube a Macedônia (que incluía a Macedônia e toda a Grécia); e a Ptolomeu I Soter coube o Egito (Egito propriamente dito, a região da Silícia, na Ásia Menor e parte da Palestina). 
Partição do reino de Alexandre entre seus generais
A Judeia, anteriormente sob o domínio persa e estrategicamente localizada entre os reinos ptolomaico e selêucida, tornou-se um ponto de disputa constante entre entre os Ptolomeus e os Selêucidas. Inicialmente, sob o governo ptolomaico, as práticas religiosas judaicas foram toleradas. No entanto, a transição para o domínio selêucida, especialmente sob Antiocus IV Epifânio, traria uma nova e severa ameaça à identidade judaica. Essa instabilidade política e a subsequente mudança de controle de um império tolerante (Ptolomeu) para um opressor (Selêucida) demonstraram a vulnerabilidade contínua da comunidade judaica a forças externas. Essa sucessão de dominações estrangeiras, cada uma com suas próprias políticas e impactos culturais, forçou os judeus a desenvolverem estratégias de resistência e adaptação, que se manifestariam em movimentos religiosos e políticos distintos, preparando o terreno para a Revolta dos Macabeus.
Com as alterações das guerras durante os primeiros anos dos Diadochi, o Reino de Judá foi, inicialmente, para o comando dos Ptolomeus que governavam o Egito, seguido do comando Selêucida no segundo século AC, com Antiocus III, o Grande. A incorporação de Judá ao reino ptolomaico como uma unidade administrativa separada (Hiparquia) liderada pelos Alto Sacerdotes Judeus, que foram diretamente responsáveis pelo governo na Alexandria, foi responsável por isso. Em contraste, os hiparcas diretamente instalados pelo rei Ptolomaico, gerenciaram todas as outras hiparquias na Selesíria, tais como a Samaria, Galileia, Idumeia e Ashdod.
Ptolomeu I reinou sobre Jerusalém de maneira cruel, num certo momento tomando grande número de cativos das partes montanhosas da Judeia e de locais em torno de Jerusalém e Samaria e próximos do Monte Gerizzim e conduzindo-os para o Egito, onde se tornaram responsáveis pela região de Alexandria. Posteriormente outros judeus, por sua própria vontade, deslocaram-se para o Egito pela qualidade dos seus solos e pela liberalidade de Ptolomeu.
Em contraste com o que sabemos sobre as atividades dos Ptolomeus na Palestina, são virtualmente nulas as informações que se têm sobre as atuações políticas dos judeus ao tempo dos Diadochi. As províncias praticamente não se envolveram em eventos geopolíticos. Contudo, as variações no poder político também tiveram consequências significativas para Judá, que se refletiram mesmo na cunhagem de moedas. A Judeia continuou a ser governada pelo Alto Sacerdote e a aristocracia sacerdotal. Um dos poucos incidentes de que se tem notícia foi a questão sobre a taxação entre o Alto Sacerdote Onias e Ptolomeu III Euergetes (que reinou entre 246 e 221 AC) que frequentava o Templo de Jerusalém. O resultado da disputa foi a indicação do jovem José, filho de Tobias, um sobrinho do Alto Sacerdote, como coletor de impostos para todo o país. A rivalidade entre a família de Tobias e do Alto Sacerdote Onias acabou tendo um papel importante na tentativa radical da Helenização da Judeia no segundo século AC.
Quando Onias morreu, seu filho Simon, o Justo, tornou-se seu sucessor. Com a morte de Simon (que havia deixado um filho também com o nome Onias), seu irmão Eleazar tornou-se o Alto Sacerdote, sendo responsável pela libertação de mais de 100.000 judeus escravos no Egito, por ordem de Ptolomeu.
Durante os anos de conflito entre Ptolomeus e Selêucidas, cada um dos rivais era apoiado por uma facção judia. A Gerousia (Conselho dos Anciãos), mencionada pela primeira vez em fontes dessa época, apoiava os Selêucidas. Há registros de que o Alto Sacerdote Simon, o Justo, (cerca de 200 AC), que provavelmente liderou a Gerousia, teria apoiado os Selêucidas. Provavelmente ele teria recuperado o poder sobre a taxação, anteriormente entregue a José, filho de Tobias, agora encarregado da renovação do Templo e da Cidade.
Em 221 AC o rei Selêucida Antiochus III (223 a 187) invadiu a Palestina pela primeira vez, sem ter o sucesso da conquista. A morte do rei Ptolomeu IV Philopator, em 203 AC abriu o caminho a Antiochus III para novas tentativas e em 201 AC ele invadiu o país novamente, conquistando-o rapidamente.
Quando Antiochus III tomou o controle da Judeia, ele afirmou o direito dos judeus de viverem de acordo com suas leis ancestrais. Contudo, apenas 30 anos após, os judeus proponentes de uma helenização extrema veriam seu filho o rei Selêucida Antiochus IV Epiphanes, como o agente que poria em ação seus planos de helenizar Jerusalém e seu povo. Ao tempo em que o domínio dos Ptolomeus na Palestina terminou, cidades gregas haviam se estabelecido por todo o país e o helenismo havia firmado fortes bases a ponto de dividir a nação antes que a Judeia recuperasse sua independência. Cerca de 198 AC, os Selêucidas estavam solidamente no controle e assim permaneceriam até a revolta dos Macabeus (168-164 AC), que enfraqueceu o poder do Império Selêucida, preparando o caminho para o início da dinastia local Hasmoneana. Em seguida ao cerco de Jerusalém por Pompeu, o Grande, em 63 AC, a região foi anexada pela República Romana, marcando o fim da Palestina Helenística e o início da Judeia Romana.
Antiochus III devia uma grande quantia de dinheiro aos romanos e a fim de obter esses recursos ele decidiu roubar um templo. O povo do templo de Bel in Lam, para vingar-se, matou Antiochus e todos os que o ajudaram, em 187 AC. Antiochus III foi sucedido por seu filho Seleucos IV Philopater que simplesmente defendeu a área de Ptolomeu V antes de ser assassinado por seus ministros em 175 AC. Seu irmão, Antiochus IV Epiphanes, tomou seu lugar. Antes de matar o rei anterior, o ministro Heliodorus tentara roubar os tesouros do Templo em Jerusalém e Antiochus IV foi informado disso por um rival do atual Alto Sacerdote Onias III que proibira a entrada de Heliodorus no Templo. Onias III foi chamado para explicar por que um ministro do rei fora impedido de acessar as dependências do Templo. Em sua ausência, seus rivais colocaram um novo Alto Sacerdote em seu lugar, Jason (versão helenizada de Josué), irmão de Onias III. 
A Palestina à época dos Macabeus
A perseguição selêucida sob Antiochus IV Epifânio (175-164 AC) foi o catalisador para a Revolta dos Macabeus. Antiochus, que se autodenominava "deus manifesto", buscou impor uma assimilação cultural e religiosa forçada sobre os judeus. Ele proibiu práticas religiosas judaicas, como a observância das leis alimentares, a circuncisão e o Sábado, e ordenou a adoração do deus grego Zeus. O ápice de sua profanação ocorreu em 167 AC, quando ele sacrificou um porco no Templo de Jerusalém, transformando-o em um local de culto sincrético pagão-judaico.
Essa opressão desencadeou a Revolta dos Macabeus, uma rebelião judaica liderada por Matatias, um sacerdote judeu, e seus cinco filhos, notavelmente Judas Macabeu, um competente general judeu. A resistência ganhou força com revoltas populares e uma campanha militar contra as forças selêucidas. Um dos momentos mais simbólicos da revolta foi a recuperação e purificação do Templo de Jerusalém pelos Macabeus, um evento celebrado até hoje no festival judaico de Hanukkah.
A Revolta dos Macabeus foi uma resposta à tentativa de aniquilação cultural e religiosa, e seu sucesso em repelir os gregos e estabelecer um reino independente marcou uma fase importante na história judaica. A profanação do Templo por Antiochus IV não foi apenas um ato de tirania, mas uma violação do cerne da identidade judaica, que considerava o Templo como o centro de sua fé e unidade. A revolta, portanto, não foi apenas uma luta por independência política, mas uma defesa existencial da religião e da identidade do povo. O estabelecimento de Hanukkah como uma festa duradoura reforça a importância da memória histórica e da resiliência religiosa como elementos centrais da identidade judaica.
Os Macabeus começaram a chamar a atenção do rei Antiochus IV em 165 AC, que mandou seu chanceler Lysias pôr um fim à revolta. Para tanto, Lysias enviou três generais que foram todos derrotados pelos Macabeus. O próprio Lysias enfrentou a questão que foi então solucionada por negociação.
Após a morte de Antiochus IV em 164 AC, seu filho Antiochus V, tendo Lysias como regente, deu aos judeus liberdade religiosa.
Ao tempo da re dedicação do Templo, durante o cerco da fortaleza de Acre, Eleazor, um dos irmãos de Judas Macabeus foi morto. Os Macabeus tiveram que se retirar para Jerusalém onde foram totalmente batidos. Contudo Lysias teve que abandonar pela contradição sobre quem seria o regente de Antiochus V. Pouco depois ambos foram assassinados por Demetrius I Soter que se tornou o novo rei selêucida. O novo Alto Sacerdote, Alcimus, tinha vindo a Jerusalém em companhia de um exército conduzido por Bacchides. Judas Macabeus conseguira há pouco um tratado com os romanos, quando foi morto em Jerusalém lutando contra o exército de Bacchides. O irmão de Judas Macabeus, Jonathan, o substituiu e por oito anos não pode fazer muita coisa. Contudo, em 153 o Império Selêucida começou a enfrentar problemas. Jonathan aproveitou a oportunidade para oferecer suas tropas a Demetrius I, como tentativa para retomar Jerusalém.
Em 152 AC, Alexandre Balas, da família Selêucida, aportou no território Fenício (costa norte da Palestina) e iniciou uma guerra civil contra Demetrius I Soter, apoiado por mercenários e facções descontentes do Império Selêucida. Em batalha decisiva em julho de 150 AC, Demetrius I foi derrotado e morto por Alexandre Balas que governou o Império Selêucida de 150 a agosto de 145 AC como Alexandre I Theopator Euergetes. Jonathan foi indicado Alto Sacerdote por Alexandre Balas e quando os conflitos entre Ptolomeu do Egito e os Selêucidas reiniciaram, ele tomou o controle da fortaleza de Acre. Em 142 Jonathan foi morto e seu irmão Simão tomou seu lugar. (Parte 5 na próxima postagem)

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