Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

Mostrando postagens com marcador Palestina. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Palestina. Mostrar todas as postagens

sábado, 11 de abril de 2015

AS TRÊS PRIMEIRAS GRANDES CIVILIZAÇÕES MUNDIAIS: EGITO (PARTE 04)

III.7 – NOVO REINO (1550 – 1069 AC)


Novo Reino em sua máxima extensão século XV AC 
O Novo Reino do Egito, ao qual também se refere como o Império Egípcio, é o período da história do Egito Antigo entre os séculos XVI (entre 1570 e 1544 AC) e XI AC, que cobriu da 18ª à 20ª Dinastias do Egito. Foi o período mais próspero do Egito e marcou o pico do seu poder e sua máxima extensão territorial. Os faraós do Novo Reino estabeleceram um período de prosperidade sem precedentes, pela segurança de suas fronteiras e pelo estreitamento dos laços diplomáticos com seus vizinhos, incluindo o Império Mitani, Assíria e Canaã. Os faraós do Novo Reino Promoveram a construção em larga escala, em honra ao deus Amun[1] cujo culto crescente era baseado em Karnak[2]. Eles também construíram monumentos para glorificar seus próprios sucessos, reais e imaginários.A última parte deste período, durante a 19ª e 20ª Dinastias (1292-1069 AC), é também conhecida como período Ramessita, devido aos onze faraós que tomaram o nome de Ramsés.
Máscara mortuária de Tutankamon, o jovem
rei que restaurou a antiga religião

A 18ª Dinastia teve alguns dos mais famosos faraós do Egito, incluindo Ahmose I, Hatshepsut, Tutmose III, Amenotep III, Akenaten e Tutankamon. A rainha Hatshepsut, que reinou por quase vinte e dois anos, promoveu a paz e concentrou-se em expandir o comércio externo do Egito, perdido com a ocupação dos hicsos, enviando uma expedição comercial até a distante terra do Punt. Tutmose III (1479-1425 AC) - como seu avô Tutmose I - expandiu o exército egípcio e controlou-o com grande sucesso para consolidar o império de seus predecessores. Foi durante o seu reinado que o termo Faraó, originalmente se referindo ao palácio do rei, tornou-se uma espécie de título para o rei. Quando Tutmose III morreu, em 1425 AC, o Egito tinha um império que se estendia da Niya, no noroeste da Síria, até a quarta cachoeira do Nilo, na Núbia, concretando alianças e abrindo acesso a importações críticas, como bronze e madeira.
A despeito de suas realizações, Amenotep II (também conhecido como Amenófe II), herdeiro do sobrinho (e enteado) de Hatshepsut, Tutmose III, tentou apagar o seu legado durante e próximo ao final do reinado do seu pai, tornando suas muitas das realizações dela. Ele também tentou mudar muitas tradições estabelecidas durante séculos, numa fútil tentativa de evitar que outras mulheres se tornassem faraós e frear sua influência no reino.
Estátua da Rainha Hatshepsut
Cerca de 1350, a estabilidade do Reino Novo pareceu mais ameaçada quando Amenotep IV, um dos mais conhecidos faraós da 18ª Dinastia, subiu ao trono e instituiu uma série de reformas radicais e caóticas. Mudando seu nome para Akenaten (em honra de Aten, um aspecto do deus Ra), ele promoveu a obscura deidade Aten a suprema e praticamente exclusiva deidade, suprimindo a adoração das demais, no primeiro exemplo de monoteísmo da história. Atacou o poder do templo que era dominado pelos sacerdotes de Amun, em Tebas, e mudou a capital para Aketaten, tornando-se surdo aos eventos do Oriente Próximo, onde hititas, mitanis e assírios competiam pelo controle. Após a sua morte, o culto a Aten foi rapidamente abandonado, os sacerdotes de Amun recuperaram seu poder e o poder retornou a Tebas. Sob sua influência, os faraós subsequentes, Tutankamon, Ay e Horemhem, trabalharam para apagar toda a menção à heresia de Akenaten, agora conhecida como Período Amarna. Possivelmente, foi esse fervor religioso de Akenaten pelo deus único Ten, que posteriormente o tornou proscrito da história egípcia. Sob seu reinado a arte egípcia floresceu atingindo um nível inédito de realismo.
Possível localização da Terra de Punt
com rotas terrestres e marítimas
Cerca de 1279 AC, Ramsés II, também conhecido como Ramsés, o Grande, já da 19ª Dinastia, subiu ao trono e construiu mais templos, erigiu mais estátuas e obeliscos e procriou mais crianças que qualquer outro faraó na história. Procurou recuperar territórios no Levante que tinham sido ocupados pela 18ª Dinastia. Um forte líder militar, Ramsés II conduziu seu exército contra os hititas na Batalha de Kadesh e, após lutar um combate sem decisão, finalmente concordou com o primeiro tratado de paz registrado, em 1258 AC. Sem poder vencer os hititas e temeroso da expansão do Médio Império Assírio, o Egito retirou-se muito do Oriente Próximo. Com isso os hititas foram deixados competir, sem sucesso, com os poderosos assírios e os recém chegados frígios.
Seus sucessores imediatos continuaram as campanhas militares, embora uma corte crescentemente conturbada – que em algum ponto colocou no trono um usurpador, Amenmesse –, tornou difícil a um faraó a tarefa de reter o controle sem incidente.
Tutmose III, o faraó militar,
"o Napoleão do Egito"
O último grande faraó do Novo Reino é aceito pela maioria como Ramsés III, um faraó da 20ª Dinastia, que reinou por várias décadas após Ramsés II. No oitavo ano do seu reino, os Povos do Mar (Filisteus entre outros) invadiram o Egito por terra e por mar sendo batidos por Ramsés III em duas grandes batalhas de mar e terra. Ramsés pretendeu tê-los incorporado como súditos estabelecendo-os ao sul de Canaã, embora haja evidência de que eles forçaram seu caminho para Canaã. Sua presença lá pode ter contribuído para a formação de novos estados nessa região, como a Filisteia[3] (Palestina), após o colapso do Império Egípcio.
O alto custo dessas ações de guerra lentamente drenou a riqueza do Egito e contribuiu para o seu gradual declínio na Ásia. A grandeza de suas dificuldades foi tão grande que a primeira greve de trabalho registrada na história ocorreu durante o 19º ano do reinado de Ramsés III, quando não foi possível fornecer as rações para os artesãos e construtores dos túmulos reais na vila de Deir el Medina. Características climáticas incomuns impediram a adequada insolação, prejudicando o crescimento global das árvores por quase duas décadas completas, até 1140 AC, provavelmente pela erupção do vulcão Hekla, na Islândia, cuja data correta permanece em disputa.
Faraó Akenaten (Amenotep IV), fundador da
primeira religião monoteísta 
A morte de Ramsés III foi seguida por anos de disputa entre seus herdeiros, três filhos do qual ascenderam ao trono sucessivamente como Ramsés IV, Ramsés VI e Ramsés VIII. O Egito foi, cada vez mais, perturbado por secas (abaixo do nível normal das cheias do Nilo), fome, agitação civil e corrupção no governo. Além disso, a riqueza do Egito, entretanto, fê-lo um alvo tentador à invasão, particularmente pelos berberes líbios do oeste e os Povos dos Mares, uma poderosa confederação de piratas gregos, luvianos (povo da Anatólia relacionado aos hititas) e fenícios/canaanitas. Inicialmente o exército pode repelir tais invasões, mas o Egito acabou perdendo o controle dos seus territórios ao sul de Canaã, principalmente para os assírios. O poder do último faraó da dinastia, Ramsés XI tornou-se tão fraco, que os altos sacerdotes de Amun, em Tebas, tornaram-se os governantes de fato do Alto Egito; e Smendes, controlando o Baixo Egito, ainda antes da morte de Ramsés XI, acabou fundando a 21ª Dinastia em Tanis, região nordeste do Delta do Nilo, conduzindo o Egito ao Terceiro Período Intermediário.

III.8 – TERCEIRO PERÍODO INTERMEDIÁRIO (1069 – 664 AC)

O Terceiro Período Intermediário do Antigo Egito inicia com a morte do faraó Ramsés XI, em 1070 AC e termina com o início do Último Período, com a fundação da 26ª Dinastia, por Psamtik, em 664 AC. Foi um período de declínio e instabilidade política, marcado pela divisão do Estado e pelo governo de estrangeiros, embora muitos aspectos da vida dos egípcios comuns tenham mudado relativamente pouco.
Com a morte de Ramsés XI, em 1078 AC, Smendes assumiu o poder sobre a região norte do Egito, reinando da cidade de Tanis e constituindo a 21ª Dinastia. O sul e o médio vale estavam efetivamente controlados pelos sacerdotes de Amun, em Tebas, que reconheciam Smendes apenas no nome. Durante este período, tribos berberes, do que mais tarde se chamaria Líbia, se haviam estabelecido no delta ocidental e os chefetes desses colonizadores começaram a aumentar a sua autonomia. Príncipes líbios tomaram controle do delta sob Shoshenq I, em 945 AC, fundando a dinastia Berbere Líbia ou Bubastita – 22ª Dinastia -, que governou por cerca de 200 anos. Soshenq I também ganhou controle do sul do Egito, colocando membros da sua família em posições sacerdotais e reunificando o país. Com isso, o Egito teve estabilidade por mais de 100 anos quando, após o reinado de Osorkon II, o país rachou em dois estados, com Shoshenq III, da 22ª Dinastia, controlando o Baixo Egito por 818 AC, enquanto Takelot II e seu filho Osorkon (o futuro Osorkon III) governavam o Médio e Alto Egito. Em Tebas, uma guerra civil engolfou a cidade entre as forças de Pedubast I, que se havia proclamado Faraó e a linha existente de Takelot II/Osorkon. Essas duas facções disputaram o poder e o conflito só foi resolvido no 39º ano de Shoshenq III quando Osorkon derrotou completamente os seus inimigos, prosseguindo para fundar a Dinastia Egípcia Líbia Superior de Osorkon III – Takelot III – Rudamun; mas esse reino rapidamente fragmentou-se após a morte de Rudamun, com o surgimento de cidades estados locais sob reis como Peftjaubast de Herakleopolis, Nimblot de Hermopolis e Init em Tebas.
O reino núbio ao sul tirou vantagem dessa divisão e instabilidade política. O rei núbio Kashta, da dinastia Kushita (24ª Dinastia), já havia estendido a influência de seu reino sobre Tebas, quando obrigou Shepenupet, sacerdotisa de Amun e irmã de Takelot III, a adotar sua filha Amenirdis como sua sucessora. Então, 20 anos depois, em 732 AC, seu sucessor, Piye, marchou para o norte tomando Tebas e o Delta do Nilo, derrotando a força combinada de vários governantes egípcios nativos: Peftjaubast, Osorkon IV de Tanis, Iuput II de Leontopolis e Tefnakht de Sais. Com isso, Piye armou o cenário para a subsequente Vigésima Quinta Dinastia de faraós, que reuniu as “Duas Terras”, tornando o império do Vale do Nilo tão grande como havia sido no Reino Novo.
Piye estabeleceu a 25ª Dinastia e nomeou os governantes derrotados como seus governadores provinciais. Foi sucedido por seu irmão Shabaka e então por seus dois filhos Shebitku e Taharga. O império do Vale do Nilo reunido, da 25ª Dinastia foi tão grande quanto tinha sido desde o Reino Novo. Os faraós construíram e restauraram templos e monumentos por todo o vale, incluindo Memphis, Karnak, Kawa etc., numa espécie de renascimento do antigo Egito, trazendo de volta à sua glória, a religião, as artes e a arquitetura dos reinos Velho, Médio e Novo. Tal dinastia terminou com seus soberanos se retirando para seu lar espiritual em Napata, onde todos os faraós da 25ª Dinastia estão enterrados sob as primeiras pirâmides construídas desde o Reino Médio no Vale do Nilo. A dinastia de Napata acabou por conduzir ao Reino de Kush, que floresceu lá e em Meroe, pelo menos até o século II DC.
Napata e Meroe, então na
Núbia, hoje Sudão
Piye fez várias tentativas, sem sucesso, para estender a influência egípcia no Oriente Próximo, então controlado pela Assíria. Em 720 AC ele enviou um exército para apoiar uma rebelião contra a Assíria, que acontecia na Filisteia. Contudo, Piye foi derrotado por Sargão II e as rebeliões terminaram. Em 711 AC Piye novamente apoiou uma revolta contra os assírios, pelos israelitas, e foi novamente derrotado.
O prestígio internacional do Egito havia declinado consideravelmente por essa época, com seus aliados internacionais firmemente sob a esfera de influência da Assíria e pelo ano 700 AC restava saber quando seria a guerra entre os dois estados. Os assírios começaram a sua invasão do Egito sob o rei Esarhadon, sucessor de Senaqueribe, assassinado por seus próprios filhos, por ter destruído a revoltosa cidade da Babilônia. Em 674 AC, Taharga derrotou Esarhadon e o exército assírio, totalmente, em solo egípcio. Em 671 AC, Esarhadon expulsou os kushitas do norte do Egito de volta para a Núbia. Contudo, os governantes egípcios nativos instalados por Esarhadon não conseguiram reter o pleno controle de todo o país por muito tempo. Dois anos mais tarde Taharga voltou da Núbia e conseguiu o controle do sul do Egito, até Memphis. Esarhadon preparava-se para retornar ao Egito quando adoeceu e morreu em Nínive. Seu sucessor, Assurbanipal, enviou um general com um pequeno mas bem treinado exército que derrotou Taharga em Memphis e o expulsou novamente do Egito. Dois anos mais tarde Taharga morreu na Núbia. Seu sucessor, Tanutamun, também fez uma tentativa fracassada para recuperar o Egito para a Núbia. Derrotou Necho, o governante fantoche instalado por Assurbanípal, tomando Tebas. Os assírios enviaram então um grande exército para o sul que pôs Tanutamun em debandada de volta para a Núbia. A despeito do tamanho e poder do Egito, a Assíria possuía um suprimento maior de madeira, que lhe proporcionava o carvão necessário para a fundição do ferro de armamentos. Essa disparidade tornou-se crítica durante a invasão assíria do Egito em 670 AC. Em 664 AC os assírios lançaram o golpe mortal, saqueando Tebas e Memphis. O exército assírio saqueou Tebas de forma que ela nunca se recuperou e um governante nativo, Psamtik I, foi posto no trono como um vassalo de Assurbanipal e os núbios nunca mais foram ameaça.

III.9 – ÚLTIMO PERÍODO (664 – 332 AC)

O Último Período do Antigo Egito refere-se à última safra de soberanos nativos egípcios após o Terceiro Período Intermediário, da 26ª Dinastia das conquistas persas até a conquista por Alexandre, o Grande, e o estabelecimento do Reino Ptolomaico, de 664 a 332 AC. Embora estrangeiros tenham governado o país neste período, a cultura foi mais prevalente que nunca. Líbios e persas alternaram o poder com egípcios nativos, mas a convenção tradicional continuou nas artes. O Período é muitas vezes visto como o último intervalo de uma vez grande cultura, durante o qual o poder do Egito permanentemente decresceu.
O Alto Egito permaneceu, por algum tempo, sob a administração de Tanutamun enquanto o Baixo Egito foi governado, a partir de 664 AC, pela 26ª Dinastia, reis clientes estabelecidos pelos Assírios que, entretanto, trabalharam para conseguir a independência política do Egito durante a época conturbada do Império Assírio. Em 656 AC, Psamtik I ocupou Tebas e tornou-se faraó, o rei do Alto e Baixo Egito, trazendo crescente estabilidade ao país, num reino de 54 anos, da cidade de Sais, no Delta do Nilo. Psamtik e seus sucessores foram cuidadosos em manter relações pacíficas com a Assíria e a influência grega expandiu-se muito desde que a cidade de Naukratis, no delta do Nilo, tornou-se lar dos gregos. Quatro sucessivos reis saitas continuaram governando o Egito em outro período de prosperidade de 610 a 525 AC.
Em 609 AC Necho II foi à guerra contra a Babilônia, os caldeus, os medos e os citas, numa tentativa infrutífera de salvar a Assíria que, após uma brutal guerra civil, estava sendo assolada por esta coalizão de potências. Os egípcios haviam protelado muito a intervenção e Nínive já havia caído e o rei Sin-shar-ishkun morto quando Necho II enviou seus exércitos para o norte. Contudo, Necho varreu o exército israelita sob o rei Josias, mas logo perdeu batalha importante, junto com os assírios, em Harran, contra os babilônios, medos e citas.
Foi durante esta época que muitos judeus chegaram ao Egito, fugindo da destruição do Primeiro Templo em Jerusalém, pelos babilônios (586 AC). Necho II e Ashur-uballit II da Assíria foram finalmente derrotados na Arameia (Síria moderna), em 605 AC. Os egípcios permaneceram na área por algumas décadas, lutando com os reis babilônios Nabopolassar e Nabucodonosor II pelo controle de porções do antigo Império Assírio no Levante. Contudo, eram eventualmente empurrados de volta para o Egito, sendo que Nabucodonosor II chegou a invadir o Egito em 567 AC.
Infelizmente para esta Dinastia, um novo poder estava crescendo na Pérsia. O faraó Psamtik III havia sucedido a seu pai, Ahmose II, apenas seis meses antes, quando teve que enfrentar o Império Persa em Pelusium, numa batalha magnificamente recontada pelo historiador grego Heródoto. Os persas já haviam tomado a Babilônia e o Egito não seria páreo. Psamtik III foi derrotado e escapou para Memphis onde foi preso e depois executado, em Susa, na Pérsia (moderno Irã), a capital do rei persa Cambises, que então assumiu o título de faraó, fundando a 27ª Dinastia e deixando o Egito sob o controle de uma satrapia. Algumas revoltas exitosas contra os persas marcaram o quinto século AC, mas o Egito nunca derrotou os persas permanentemente.
Após a sua anexação à Pérsia, o Egito foi unido a Chipre e Fenícia (moderno Líbano) na sexta satrapia do Império Persa Aquemênida. O primeiro período do governo persa sobre o Egito (27ª Dinastia), terminou em 404 AC. A 28ª Dinastia foi constituída por um só rei, Amyrtaeus, príncipe de Sais, que se rebelou contra os persas. Não deixou monumentos com o seu nome e sua dinastia durou seis anos, de 404 a 398 AC. A 29ª Dinastia governou de Mendes, pelo período de 398 a 380 AC.
A 30ª Dinastia tomou sua forma de 26ª Dinastia e governou como a última casa real nativa do Egito dinástico, que terminou com o reinado de Nectanebo II, reinando de 380 AC até a sua derrota final em 343 AC para os persas, por uma breve restauração, algumas vezes chamada de Trigésima Primeira Dinastia; mas em seguida, em 332 AC, o mandatário persa Mazaces entregou o Egito a Alexandre, o Grande, sem luta.


[1] Amun (ou Amon) era uma deidade local de Tebas, reconhecido desde o Reino Antigo, junto com sua esposa Amaunet. Com a Décima Primeira Dinastia ele foi galgado à posição de deidade patrona de Tebas, em substituição a Monthu. Após a rebelião de Tebas contra os hicsos e o governo de Ahmose I, Amun adquiriu importância nacional expressa em sua fusão com o o deus Sol, Ra, como Amun-Ra.
[2] O complexo de templos de Karnak ou apenas Karnak, compreende um conjunto de ruínas de templos, capelas e outras construções, iniciadas durante o reinado de Senusret I, no Reino Médio e prosseguido no período Ptolemaico, embora a maior parte das construções existentes seja do Reino Novo. A área em torno de Karnak era o principal centro de adoração da Décima Oitava Dinastia da Tríade Tebana, com Amun como o seu deus principal, sendo parte da monumental cidade de Tebas.
[3] A Filisteia era uma pentápolis (conjunto de cinco cidades) na região sudoeste do Levante (mesma latitude do mar Morto, no Mar Mediterrâneo), compreendendo as cidades de Asquelom, Asdode, Ecrom, Gate, e Gaza, estabelecida por tribos migrantes (possivelmente os “Povos do Mar”, chamados filisteus, cerca de 1175 AC, com a derrota desses povos pelo faraó Ramsés III. A Filisteia esteve em permanente conflito e interação com os vizinhos egípcios, israelitas e canaanitas, gradualmente absorvendo sua cultura. Os filisteus foram finalmente conquistados e subjugados pelos israelitas e a Filisteia deixou de existir após a conquista assíria do Levante em 722 AC. Admite-se que a Filisteia (com os filisteus) foi a precursora dos termos helênico e romano Palestina (Phalaestine), e palestinos.

Continuação na próxima postagem: PARTE 05

quarta-feira, 9 de julho de 2014

GALILEIA: MINISTÉRIO DE JESUS DE NAZARÉ (PARTE 1 DE 2)

I - INTRODUÇÃO

Há mais ou menos um mês atrás, terminei de ler um livro antigo, famoso e que, em minha opinião, faz muito jus à sua fama. Seu nome: “E a Bíblia Tinha Razão ...”. O livro, de autoria de Werner Keller, foi originalmente editado em 1955, na Alemanha, e continua até hoje um enorme sucesso de literatura. Através de descobertas arqueológicas e muita pesquisa, o autor mostra que tudo o que está escrito na Bíblia, abrangendo o Antigo e o Novo Testamento, realmente são fatos históricos e não histórias da carochinha como muitos pretendem que sejam, ainda até hoje. O livro descreve, de uma forma muito simples de se entender, todos os principais acontecimentos da Bíblia e os compara com as descobertas arqueológicas correspondentes, facilmente demonstrando a sua veracidade.
O autor comove o leitor quando entra no Novo Testamento e apresenta os vários livros, contando sobre a vida de Jesus Cristo e dos lugares em que Ele viveu e frequentou, até o Seu calvário, morte na cruz e a ressurreição. Foi ao ler o capítulo em que Cristo abandona Nazaré, o lugar onde Se criou, para iniciar o Seu ministério em região específica da Galileia, na pequena vila de Cafarnaum, às margens do Mar da Galileia – ou Genezaré, segundo Lucas - , que senti um impulso enorme para aprender e escrever algo sobre essa região, da qual tão pouco eu conhecia. E foi então que me botei a pesquisar sobre o assunto que ora apresento aos meus leitores e que espero os cative assim como me cativou.
Para que o assunto não fique muito longo para uma só postagem, vou publicá-lo em duas partes, das quais esta é a primeira.

II - A GALILEIA

II.1 GENERALIDADES

A descrição desses locais é, em geral, bastante complicada, por se tratar de lugares conhecidos e mencionados há milhares de anos, que foram ocupados por vários povos, de origens muito diversas e que hoje, finalmente, pertencem a Israel. Por essa razão vou, inicialmente, apresentar e descrever alguns mapas para que o leitor bem possa se localizar a nível mundial e regional, temporalmente.
Como pano de fundo para o artigo, o primeiro mapa que eu gostaria de apresentar (Figura 1, abaixo), emprestado do Google Earth, mostra boa parte do Oriente Médio, com todas as regiões envolvidas na postagem. Nesse mapa podemos localizar, a nível mundial, parte do Mar Mediterrâneo (com a Ilha de Chipre), o norte do Egito (com o rio Nilo e Alexandria), o golfo de Suez, a Península do Sinai, o golfo de Aqaba e a extremidade norte do Mar Vermelho, os estados de Israel, Jordânia, Líbano, Síria (parcial), Iraque (parcial) e Arábia Saudita (parcial), além dos territórios em disputa, Faixa de Gaza, Cisjordânia e Colinas de Golã. No estado de Israel, é possível ver o Mar Morto, o Mar da Galileia e, em suas vizinhanças, a região da Galileia.
Figura 1 - Mapa do Oriente Médio, com todos os atores da peça

Figura 2-Palestina cerca de 975 AC
Para atingir o meu objetivo, penso acertado prosseguir pela descrição da Palestina, região com limites muito teóricos e pouco preciso. Assim, um dos nomes tradicionais para as “Terras da Bíblia”, que incluem “Terra Santa”, “Terra Prometida”, Israel e Canaan, sendo derivado dos Filisteus, inimigos dos israelitas, a Palestina (em árabe transliterado, Filastin; em grego transliterado, Palaistine; e em latim Paloestina) é a denominação histórica dada pelo Império Romano, a partir de um nome hebraico bíblico, a uma região do Oriente Médio, grosseiramente situada entre a costa oriental do Mediterrâneo e as atuais fronteiras ocidentais do Iraque e Arábia Saudita, hoje compondo os territórios da Jordânia e Israel, além do sul do Líbano e os territórios de Gaza e Cisjordânia (ou Margem Ocidental do rio Jordão, território sob ocupação de Israel, reclamado pela Autoridade Palestina e pela Jordânia, limitado a leste pela Jordânia e a norte, sul e oeste por Israel). Com o enfraquecimento do poder egípcio, em finais do século XIII AC, a região foi invadida pelos chamados “Povos do Mar”. Um destes povos, os filisteus, fixou-se junto à costa oriental do Mediterrâneo, contemporânea à chegada das tribos hebraicas, com Josué, que se instalaram no interior gerando guerras com os filisteus, que se recusaram a aceitar a presença hebraica. As tribos hebraicas, unidas sob os reis Saul, Davi e Salomão, finalmente derrotaram os filisteus, fixando a capital do reino em Jerusalém e constituindo, de certa forma, a original “terra dos judeus” (Figura 2, acima). Constituindo um trecho relativamente estreito, de favorável passagem entre a África e Ásia, a Palestina sempre foi palco de um grande número de conquistas, pelos mais variados povos, por se constituir num corredor natural para os antigos exércitos.
Figura 3 - A Judeia sob Herodes, pelo ano 37 AC
No ano 40 AC, Herodes, o Grande, foi indicado como rei da Judeia ("Rei dos Judeus") pelo Senado do então Império Romano que, entre outras regiões, dominava a Palestina. Foram necessários três anos antes que Herodes e seu exército viajassem à Palestina para conquistar Jerusalém e tornar-se, de fato, o único governante de toda a Judeia. A linha negra da Figura 3, ao lado, delimita a área que constituía a Judeia sob o reinado de Herodes, o Grande, no ano 37 AC. No ano 4 AC, Herodes, o Grande, morre e o então imperador romano, Augusto, divide o seu reino entre alguns de seus filhos. Herodes Arquelaus é feito etnarca (governador de província) da Samaria, Idumeia e uma boa parte do reino anterior da Judeia que, logo no ano 6 AC, tornar-se-ia a província da Judeia, colocada diretamente sob o governo romano. Filipe, o tetrarca (muitas vezes referido como Herodes Filipe II), filho de Herodes e sua quinta esposa Cleópatra de Jerusalém e meio-irmão de Herodes Arquelaus e Herodes Antipas, recebe de Roma a parte nordeste do antigo reino de Herodes, que inclui Bataneia, Auranitis e Traconitis. Seu terceiro filho, Herodes Antipas, é feito tetrarca da Galileia e Pereia, governando-a de 4 AC a 39 DC; esse foi o Herodes que, Segundo os registros do Novo Testamento, não somente prendeu e decapitou João Batista, como também teve papel importante na crucificação de Cristo. Note-se que a Figura 3 já apresenta essas divisões e a correspondente legenda.

II.2 LOCALIZAÇÃO DA GALILEIA

A Galileia, por sua vez, é hoje uma grande área da região norte de Israel, entre o rio Litani, no Líbano atual, e o vale de Jezreel na Israel moderna, que envolve a maior parte dos distritos administrativos do Norte e Haifa. Tradicionalmente dividida em Galileia Superior, com chuvas pesadas e altos picos, Galileia Inferior, com clima mais ameno, e Galileia Ocidental, estende-se da cidade de Dan, na base do Monte Hermon, ao longo do Monte Líbano, ao norte, até as cristas do Monte Carmelo, Monte Gilboa, norte de Jenin e Tulkarm, ao sul, e do vale do Jordão, ao leste, através das planícies do vale Jezreel e Acre até as praias do mar Mediterrâneo e a planície costeira, no oeste. A região da Galileia mudou de mãos em várias oportunidades: egípcios, assírios, canaanitas e israelitas.
Figura 4
A Galileia – significando “círculo” ou “distrito” – era uma das maiores regiões da antiga Palestina, ainda maior que a Judeia ou Samaria. O nome Galileia, que à época dos romanos era aplicado a uma grande província, parece ter sido, originalmente, confinado a um pequeno circuito de terra em torno de Kedesh-Naphtali (uma das mais remotas cidades de Judá, junto ao limite sul de Edom), onde estavam situadas as vinte cidades doadas por Salomão a Hiram, rei do Tiro, em pagamento ao transporte de cedro do Líbano para Jerusalém. Ao tempo de Cristo, o território de Israel era dividido em três províncias: Judeia, Samaria e Galileia, esta última incluindo toda a secção norte do país, com os antigos territórios de Issachar, Zebulun, Asher e Naphtali. A oeste era limitada pelo território de Ptolemais; a fronteira sul corria ao longo da base do monte Carmelo e das colinas de Samaria até o monte Gilboa e então descendo ao vale de Jezreel por Scythopolis, ao Jordão; o rio Jordão, o Mar da Galileia e o alto Jordão até a fonte de Dan formavam o limite oeste; e o norte desenvolvia-se de Dan para o oeste ao longo da crista montanhosa até tocar no território dos fenícios. Era dividida em “Galileia Inferior” e “Galileia Superior” (com altitudes superiores a 900 metros). A mais alta região do país, com as menores temperaturas, bem irrigada pelas chuvas de inverno e com numerosas fontes, a Galileia era uma região de fertilidade natural, adequando-se a todas as variedades de flora, merecendo destaque especial a nogueira. As Figuras 4 a 8 se completam e mostram todos os pontos descritos acima.
Figura 5
A maior parte da Galileia é constituída por terreno rochoso, com alturas variando entre 500 e 700 metros. Entretanto, há várias montanhas altas na região, que incluem os Montes Tabor e Meron (1.208 m), com temperaturas relativamente baixas e altas precipitações. Como resultado deste clima, a flora e a fauna abundam na região, enquanto muitos pássaros anualmente migram de climas mais frios para a África e retornam através do corredor Hula-Jordão. Os cursos e quedas d’água – estas principalmente na Galileia Superior – junto com vastos campos de folhagens e folhas silvestres coloridas, bem como numerosas cidades de importância bíblica, tornam a região um popular destino turístico.

II.3 HISTÓRIA DA GALILEIA

Mencionada pela primeira vez pelo Faraó Tutmés III, que lá conquistou várias cidades canaanitas em 1.468 A.C., a Galileia foi também mencionada várias vezes no Velho Testamento (Josué, Crônicas, Reis).
Figura 6
Segundo a tradição judaica, as unidades patriarcais (Tribos de Israel) do antigo povo de Israel teriam se originado dos doze filhos de Jacó (mais tarde chamado Israel), neto de Abraão: Rubem, Simeão, Levi, Judá, Dã, Naftali, Gade, Aser, Issacar, Zebulom, José e Benjamim. A tribo de José foi, posteriormente, dividida em duas (meias tribos), Manassés e Efraim, os dois filhos de José com sua esposa egípcia, Azenate, deixando de existir a tribo de José. Moisés liderou as doze tribos pelo deserto da Península do Sinai e coube a seu sucessor, Josué, coordenar a tomada de Canaã. Para que essa tomada ocorresse de forma ordenada, a região foi dividida entre cada uma das tribos e meias tribos, que se encarregaram de conquista-las, na verdade, de forma mais ou menos independente. Após a narrativa da conquista de Canaã, os relatos da Bíblia tornam-se confusos, com referências geográficas praticamente inexistentes ou inconsistentes e, com o tempo, as tribos deixaram de existir geograficamente, seu povo sendo absorvido, ou por povos estrangeiros ou por outras tribos israelitas, ou por ambos, embora ainda considerado como parte das doze tribos. Na verdade, embora a suposta irmandade, as tribos nem sempre foram aliadas, o que ficou manifesto quando da cisão do reino, após a morte do Rei Salomão.
Figura 7
De acordo com o Antigo Testamento da Bíblia, a Galileia foi nomeada pelos israelitas e, originalmente, foi a região tribal de Naftali e Dã, às vezes se envolvendo com a terra de Aser, sendo muitas vezes referida apenas como Naftali. O nome israelita da região vem da raiz hebraica galil, uma palavra para designar “distrito” e, usualmente, “círculo”.
Figura 8
A região da Galileia (Figuras 5 e 6) foi, presumivelmente, o lar de Jesus durante, pelo menos, 30 anos de sua vida, para onde havia sido levado por seus pais José e Maria assim que souberam da morte de Herodes, enquanto residindo no Egito. A Galileia é melhor conhecida como a região onde, de acordo com os Evangelhos, Jesus conduziu a maior parte do Seu ministério público, particularmente nas cidades de Nazaré e Cafarnaum, e onde realizou a maior parte dos seus conhecidos milagres. Por exemplo, a vila árabe de Kafr Cana (Figura 6), cerca de 7 km a nordeste de Nazaré, na Galileia Inferior, é identificada como a Canaã da Galileia onde, segundo a tradição, Jesus teria realizado o milagre da transformação da água em vinho, quando participando das bodas de um casal de poucos recursos. A Figura 9 abaixo mostra a "Igreja das Bodas", por se crer que fica no mesmo local onde Jesus teria praticado o seu primeiro milagre.
Figura 9 - A Igreja das Bodas
Os autores dos Evangelhos declaram que a maior parte de Sua juventude foi vivida na Galileia Inferior, ao passo que Sua vida adulta, tempo da Sua pregação, foi passada nas margens a noroeste do Mar da Galileia, onde ficavam as cidades onde Jesus passou a maior parte da sua vida, aí incluídas Cafarnaum e Betsaida (ver Figuras 5 e 6).
Descobertas arqueológicas de sinagogas dos períodos helenístico e romano na Galileia, mostram forte influência fenícia e uma alto grau de tolerância por outras culturas, relativamente a outros locais sagrados dos judeus, no mesmo período, porque considerado “limpo de impurezas”. A Galileia oriental manteve uma maioria judia até o século VII.
O historiador judeu, Josephus, registra que havia mais de 200 vilas na Galileia no ano 66 DC, sendo bastante povoada nesta época. Sendo mais exposta a influências estrangeiras do que outras regiões judias, tinha também uma grande população pagã e era por isso conhecida por outro nome que, traduzido para o português, significava “Região dos Gentis”. Sob a dominação romana, desenvolveu-se uma característica identidade galileana, fazendo com que a Galileia fosse tratada como área administrativa separada da Judeia e da Samaria; tal fato foi majorado porque a Galileia foi, por muito tempo, governada por “fantoches” romanos ao invés de pela própria Roma. A consequência foi uma estabilidade social maior, significando não ter sido um centro de atividade política anti-romana, nem uma região marginalizada, como podem dar a entender os Evangelhos. A Galileia é também a região onde o judaísmo adquiriu a maior parte de sua forma moderna. Após a segunda revolta Judia (132 – 135 DC) quando os judeus foram totalmente expulsos de Jerusalém, muitos foram obrigados a emigrar para o norte, aumentando de forma considerável a população da Galileia, com o tempo atraindo mais judeus que já viviam em outras áreas.