Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

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quinta-feira, 18 de maio de 2023

CISÃO DOS JUDEUS: REINOS DE JUDÁ E ISRAEL

 

I - INTRODUÇÃO


Quando olhamos para a nação do moderno Estado de Israel e lemos a Bíblia, pode haver muita confusão sobre o que você está olhando comparado ao que você está lendo no que se refere “ao que está onde”. Em algum ponto, o Reino de Israel foi completamente fracionado e nos perguntamos o que era Israel e o que era Judá e onde eles estariam agora? Enquanto a terra de Israel era originalmente um reino unido, em dado momento foi dividido em dois reinos, ambos baseados em crenças e culturas hebraica/judaica. Como foi que tudo isso aconteceu?
Como sempre faço em minhas postagens, estou expressando, nesta introdução, apenas a minha própria opinião. Sempre tive enorme admiração pelo povo judeu, principalmente por sua tenacidade como nação. Exatamente por isso e conhecedor de bastante de sua história, através do Antigo Testamento e de outras fontes não bíblicas consideradas importantes, nunca entendi direito a profunda e definitiva cisão ocorrida entre as doze tribos de Israel, historicamente um acontecimento até então inconcebível e que, pelo menos para mim, até hoje, provoca enormes dúvidas quanto ao povo que atualmente constitui o moderno Estado de Israel.
Esta postagem não pretende, de forma alguma, contar a história do povo judeu (com mais de seis mil anos de existência), nem parte dessa história. O foco da postagem restringe-se a este pequeno evento, em duração, mas de consequências importantíssimas para a história da nação judaica. Espero poder atingir, nesta curta postagem, o objetivo a que me proponho.


II - A HISTÓRIA DA CISÃO

Originalmente, as doze tribos de Israel teriam os nomes de onze dos filhos de Jacó – que teve seu nome posteriormente alterado para Israel -, já que José não teve uma tribo. A tribo que faltava foi, na verdade, constituída por duas semi tribos com os nomes dos filhos de José: Manassés e Efraim. As “Doze Tribos” tiveram, portanto, os seguintes nomes: Rubem, Simeão, Levi, Judá, Zebulom, Issacar, Dã, Gade, Aser, Naftali, Benjamim e Manassés/Efraim.
Quando, segundo o Antigo Testamento, o povo de Israel pediu a Deus um rei, a nação oficialmente tornou-se um reino, mas foi avisada por Deus, que tal reino viria com todos os seus desafios. O primeiro rei de Israel foi Saul (cerca de 1.021 a 1.000 AC), escolhido pelo Juiz Samuel e por aclamação pública. A Saul seguiu, como o segundo rei de Israel, Esbaal, seu filho, que reinou por apenas dois anos, sempre em guerra com Davi, genro de Saul, e foi assassinado por dois capitães do seu próprio exército. Após Esbaal, reinou Davi, de 1010 a 970 AC, como o terceiro rei do Reino Unido de Israel. Salomão, seu filho, o sucedeu como quarto e penúltimo rei do Reino Unido de Israel (970-931 AC). Foi o construtor do Primeiro Templo de Jerusalém, dedicado a Javé, Deus dos Judeus. Com a morte de Salomão, que já teve o final do seu reinado bastante complicado, seu filho Roboão o substituiu como último rei do Reino Unido de Israel e o primeiro Rei de Judá (931 a 913 AC), um dos reinos que o sucedeu.
Como profetizado pelo Profeta Aías (Reis I, 11:31-35), a casa de Israel (formada pelas Doze Tribos originais) foi dividida em dois reinos. Essa divisão, que ocorreu cerca de 930 AC, após a morte de Salomão e durante o reinado de seu filho Roboão, aconteceu porque o povo se revoltou contra os pesados impostos cobrados por Salomão e seu filho Roboão, bem como por fortes indícios de afastamento dos preceitos originais de Javé.
Durante o reinado de Roboão, a tribo de Judá e a tribo de Benjamin (praticamente toda a tribo) o aceitaram como rei e constituíram assim o Reino de Judá, ou o Reino Sul de Israel, com sua capital em Jerusalém. As outras dez tribos (e o restante da tribo de Benjamin) – usualmente conhecidas como “As Dez Tribos” – escolheram Jeroboão como seu rei. Essas Dez Tribos retiveram o título de Israel, tornando-se também conhecidas como Efraim, que era a tribo dominante. Tornou-se o Reino do Norte com quartel general em Shechem, na região da Samaria. Desta época em diante, o povo judeu, herdeiro de Abrahão, o primeiro grande Patriarca, nunca mais voltou a ser o mesmo! 
Reinos de Judá (amarelo) e Israel (azul)
Aqui faz-se necessário uma palavrinha sobre Jeroboão, filho de Nebat, um membro da tribo de Efraim. Ainda um jovem, Salomão o fez superintendente dos homens de sua tribo na construção da fortaleza de Millo, em Jerusalém e outros serviços públicos. Assim, ele naturalmente tornou-se familiarizado com o difundido descontentamento causado pelas extravagâncias que marcaram o final do reinado de Salomão. Influenciado pelas palavras do profeta Aías, ele começou a conspirar para tornar-se rei, mas foi descoberto e fugiu para o Egito onde permaneceu sob a proteção do faraó Shishak até a morte de Salomão. Depois desse evento ele retornou e participou de uma delegação enviada para negociar junto ao novo rei Roboão a redução dos impostos. Com a negativa de Roboão e as suas maquinações, dez das doze tribos retiraram sua submissão à Casa de Davi, proclamando Jeroboão seu rei e formando o Reino Norte de Israel.
Em seu conjunto, Judá, o outro reino, permaneceu mais fiel a Javé. Quase ao mesmo tempo em que o Reino do Norte de Israel foi estabelecido, renegou a própria fé (apostasia). Embora grandes profetas como Elias e Amós ministrassem no reino, o povo adorava falsos deuses e adotava muitas práticas do Baalismo.
Pelo Antigo Testamento vemos que essas duas nações lutaram entre si, ambas tornando-se fortes e independentes e criando duas linhagens distintas na História, com seus próprios reis e seus próprios profetas. Tristemente, Israel e Judá caíram no cativeiro, embora para diferentes potências e em épocas diferentes.
Embora mais populoso que o Reino de Judá, o Reino de Israel caiu cerca de 135 anos antes. Cerca de 721 AC, Israel foi capturado pelos assírios, sob Shalmanezer, e levado embora, tornando-se, subsequentemente, perdido ao conhecimento dos homens. É hoje conhecido como “as dez tribos perdidas”, visto que Israel nunca se livrou totalmente do cativeiro assírio. Os Samaritanos foram considerados degenerados da casa de Israel, mas muitas tribos foram consideradas perdidas.
Geograficamente, Judá era menos exposta a ataques, mas em 588 Nabucodonosor, da Babilônia, sitiou Jerusalém e virtualmente encerrou com o Reino de Judá, levando seu povo cativo para a Babilônia. Após 70 anos, o rei Ciro, da Pérsia, capturou a Babilônia e permitiu a Judá retornar a Jerusalém. Muitas pessoas de Judá se haviam dispersado pela Ásia, mas a maioria retornou a Jerusalém e à reconstrução do Templo de Salomão, símbolo maior da nação judaica. Assaltados por Síria e Egito, Judá nunca recuperou seu poder original e, pelo tempo de Jesus, Jerusalém já se tinha tornado um tributário de Roma.
É importante também, para bem esclarecer o futuro de toda a região, que se digam algumas palavras sobre a Samaria. Tanto na Bíblia quanto em fontes não bíblicas, o nome “Samaria” ocorre numerosas vezes como nome de uma cidade ou designação da região de que a cidade era a capital. O nome foi aplicado à região, quando a cidade de Samaria tornou-se a capital do reino israelita do norte sob o rei Omri, no século IX AC. Após a divisão do Reino de Israel (Judá e Israel), a província da Samaria compreendia, primeiramente, todo o território ocupado pelas dez tribos revoltadas, e estendeu-se até a Galileia. Samaria é mencionada na Bíblia como o nome da montanha em que Omri construiu sua capital, nomeando-a também Samaria. Em 732 AC, os assírios aí assentaram novos estrangeiros para se misturarem ao povo de Israel, quando se tornaram conhecidos como Samaritanos. Após a conquista do Reino do Norte pelos Assírios cerca de 722 AC, o distrito circundando a cidade foi também chamado Samaria. Subjugada a cidade, o assírio Sargão mandou os seus habitantes para longe, estabelecendo-os em sítios que ficavam muito longe do país de Israel. Em conformidade com a política dos conquistadores da antiguidade, Sargão e, mais tarde, Esar-Hadom, repovoaram Samaria com gente da Babilônia, de Cuta e de outras províncias longínquas, sendo o seu fim certamente destruir os sentimentos nacionais entre os povos conquistados.
Após a destruição do Reino de Israel, os samaritanos emergiram como um grupo étnico-religioso na região da Samaria, alegando descender dos israelitas; com seu templo no Monte Gerizim, eles prosperaram por séculos.
De acordo com a versão judia dos eventos, quando o exílio das tribos de Judá terminou em 539 AC e os exilados começaram a retornar da Babilônia, os samaritanos encontraram sua pátria anterior do norte, habitada por outras pessoas que alegavam ser sua pátria, e Jerusalém, sua gloriosa capital anterior, em ruínas. Os habitantes adoravam deuses pagãos e eles apelaram ao rei da Assíria por sacerdotes israelitas para instruí-los a adorar o Deus dos Judeus. O resultado foi uma mistura de religiões em que grupos nacionais adoravam o Deus Israelita, mas também serviam a seus próprios deuses de acordo com os costumes das nações das quais eles tinham sido trazidos. Os samaritanos alegavam ser o verdadeiro Israel, como descendentes das Dez Tribos Perdidas levadas no cativeiro assírio. Além disso, alegavam que sua versão do Pentateuco era a original e que os judeus possuíam um texto falsificado produzido por Ezra, durante o exílio na Babilônia. Hoje, a maioria dos estudiosos acredita que os samaritanos eram uma mistura de israelitas com outras nacionalidades com que os assírios haviam recolonizado a região.
Por todas essas razões, os Samaritanos tornaram-se os grandes inimigos do povo judeu quando, retornando do seu exílio na Babilônia, dedicou-se à reconstrução de Jerusalém e do Templo de Salomão.
Apresentamos, para encerrar a postagem, as duas relações dos reis de Judá e de Israel, desde a cisão do Reino Unido de Israel, até a partida para os seus respectivos cativeiros:

REINO DE JUDÁ                                                REINO DE ISRAEL

Roboão                                                                   Jeroboão
Abião ou Abias                                                      Nadabe
Asa                                                                         Baasa
Jeosafá                                                                   Elá 
Jeorão                                                                    Zinri
Acazias                                                                 Omri  
Joás                                                                       Acabe
Amazias                                                                Jorão
Uzias (Ozias) ou Azarias                                      Jeú
Jotão                                                                     Jeohacaz
Acaz                                                                     Jeoás
Ezequias                                                               Jeroboão
Manassés                                                              Zacarias
Amom                                                                  Salum
Josias                                                                    Menaém
Jeoacaz                                                                 Pecaías
Eliaquim (Jeoiaquim)                                           Peca
Joaquim                                                                Oséias
Zedequias (Cativeiro e morto Babilônia)            Shalmaneser


quarta-feira, 9 de julho de 2014

GALILEIA: MINISTÉRIO DE JESUS DE NAZARÉ (PARTE 1 DE 2)

I - INTRODUÇÃO

Há mais ou menos um mês atrás, terminei de ler um livro antigo, famoso e que, em minha opinião, faz muito jus à sua fama. Seu nome: “E a Bíblia Tinha Razão ...”. O livro, de autoria de Werner Keller, foi originalmente editado em 1955, na Alemanha, e continua até hoje um enorme sucesso de literatura. Através de descobertas arqueológicas e muita pesquisa, o autor mostra que tudo o que está escrito na Bíblia, abrangendo o Antigo e o Novo Testamento, realmente são fatos históricos e não histórias da carochinha como muitos pretendem que sejam, ainda até hoje. O livro descreve, de uma forma muito simples de se entender, todos os principais acontecimentos da Bíblia e os compara com as descobertas arqueológicas correspondentes, facilmente demonstrando a sua veracidade.
O autor comove o leitor quando entra no Novo Testamento e apresenta os vários livros, contando sobre a vida de Jesus Cristo e dos lugares em que Ele viveu e frequentou, até o Seu calvário, morte na cruz e a ressurreição. Foi ao ler o capítulo em que Cristo abandona Nazaré, o lugar onde Se criou, para iniciar o Seu ministério em região específica da Galileia, na pequena vila de Cafarnaum, às margens do Mar da Galileia – ou Genezaré, segundo Lucas - , que senti um impulso enorme para aprender e escrever algo sobre essa região, da qual tão pouco eu conhecia. E foi então que me botei a pesquisar sobre o assunto que ora apresento aos meus leitores e que espero os cative assim como me cativou.
Para que o assunto não fique muito longo para uma só postagem, vou publicá-lo em duas partes, das quais esta é a primeira.

II - A GALILEIA

II.1 GENERALIDADES

A descrição desses locais é, em geral, bastante complicada, por se tratar de lugares conhecidos e mencionados há milhares de anos, que foram ocupados por vários povos, de origens muito diversas e que hoje, finalmente, pertencem a Israel. Por essa razão vou, inicialmente, apresentar e descrever alguns mapas para que o leitor bem possa se localizar a nível mundial e regional, temporalmente.
Como pano de fundo para o artigo, o primeiro mapa que eu gostaria de apresentar (Figura 1, abaixo), emprestado do Google Earth, mostra boa parte do Oriente Médio, com todas as regiões envolvidas na postagem. Nesse mapa podemos localizar, a nível mundial, parte do Mar Mediterrâneo (com a Ilha de Chipre), o norte do Egito (com o rio Nilo e Alexandria), o golfo de Suez, a Península do Sinai, o golfo de Aqaba e a extremidade norte do Mar Vermelho, os estados de Israel, Jordânia, Líbano, Síria (parcial), Iraque (parcial) e Arábia Saudita (parcial), além dos territórios em disputa, Faixa de Gaza, Cisjordânia e Colinas de Golã. No estado de Israel, é possível ver o Mar Morto, o Mar da Galileia e, em suas vizinhanças, a região da Galileia.
Figura 1 - Mapa do Oriente Médio, com todos os atores da peça

Figura 2-Palestina cerca de 975 AC
Para atingir o meu objetivo, penso acertado prosseguir pela descrição da Palestina, região com limites muito teóricos e pouco preciso. Assim, um dos nomes tradicionais para as “Terras da Bíblia”, que incluem “Terra Santa”, “Terra Prometida”, Israel e Canaan, sendo derivado dos Filisteus, inimigos dos israelitas, a Palestina (em árabe transliterado, Filastin; em grego transliterado, Palaistine; e em latim Paloestina) é a denominação histórica dada pelo Império Romano, a partir de um nome hebraico bíblico, a uma região do Oriente Médio, grosseiramente situada entre a costa oriental do Mediterrâneo e as atuais fronteiras ocidentais do Iraque e Arábia Saudita, hoje compondo os territórios da Jordânia e Israel, além do sul do Líbano e os territórios de Gaza e Cisjordânia (ou Margem Ocidental do rio Jordão, território sob ocupação de Israel, reclamado pela Autoridade Palestina e pela Jordânia, limitado a leste pela Jordânia e a norte, sul e oeste por Israel). Com o enfraquecimento do poder egípcio, em finais do século XIII AC, a região foi invadida pelos chamados “Povos do Mar”. Um destes povos, os filisteus, fixou-se junto à costa oriental do Mediterrâneo, contemporânea à chegada das tribos hebraicas, com Josué, que se instalaram no interior gerando guerras com os filisteus, que se recusaram a aceitar a presença hebraica. As tribos hebraicas, unidas sob os reis Saul, Davi e Salomão, finalmente derrotaram os filisteus, fixando a capital do reino em Jerusalém e constituindo, de certa forma, a original “terra dos judeus” (Figura 2, acima). Constituindo um trecho relativamente estreito, de favorável passagem entre a África e Ásia, a Palestina sempre foi palco de um grande número de conquistas, pelos mais variados povos, por se constituir num corredor natural para os antigos exércitos.
Figura 3 - A Judeia sob Herodes, pelo ano 37 AC
No ano 40 AC, Herodes, o Grande, foi indicado como rei da Judeia ("Rei dos Judeus") pelo Senado do então Império Romano que, entre outras regiões, dominava a Palestina. Foram necessários três anos antes que Herodes e seu exército viajassem à Palestina para conquistar Jerusalém e tornar-se, de fato, o único governante de toda a Judeia. A linha negra da Figura 3, ao lado, delimita a área que constituía a Judeia sob o reinado de Herodes, o Grande, no ano 37 AC. No ano 4 AC, Herodes, o Grande, morre e o então imperador romano, Augusto, divide o seu reino entre alguns de seus filhos. Herodes Arquelaus é feito etnarca (governador de província) da Samaria, Idumeia e uma boa parte do reino anterior da Judeia que, logo no ano 6 AC, tornar-se-ia a província da Judeia, colocada diretamente sob o governo romano. Filipe, o tetrarca (muitas vezes referido como Herodes Filipe II), filho de Herodes e sua quinta esposa Cleópatra de Jerusalém e meio-irmão de Herodes Arquelaus e Herodes Antipas, recebe de Roma a parte nordeste do antigo reino de Herodes, que inclui Bataneia, Auranitis e Traconitis. Seu terceiro filho, Herodes Antipas, é feito tetrarca da Galileia e Pereia, governando-a de 4 AC a 39 DC; esse foi o Herodes que, Segundo os registros do Novo Testamento, não somente prendeu e decapitou João Batista, como também teve papel importante na crucificação de Cristo. Note-se que a Figura 3 já apresenta essas divisões e a correspondente legenda.

II.2 LOCALIZAÇÃO DA GALILEIA

A Galileia, por sua vez, é hoje uma grande área da região norte de Israel, entre o rio Litani, no Líbano atual, e o vale de Jezreel na Israel moderna, que envolve a maior parte dos distritos administrativos do Norte e Haifa. Tradicionalmente dividida em Galileia Superior, com chuvas pesadas e altos picos, Galileia Inferior, com clima mais ameno, e Galileia Ocidental, estende-se da cidade de Dan, na base do Monte Hermon, ao longo do Monte Líbano, ao norte, até as cristas do Monte Carmelo, Monte Gilboa, norte de Jenin e Tulkarm, ao sul, e do vale do Jordão, ao leste, através das planícies do vale Jezreel e Acre até as praias do mar Mediterrâneo e a planície costeira, no oeste. A região da Galileia mudou de mãos em várias oportunidades: egípcios, assírios, canaanitas e israelitas.
Figura 4
A Galileia – significando “círculo” ou “distrito” – era uma das maiores regiões da antiga Palestina, ainda maior que a Judeia ou Samaria. O nome Galileia, que à época dos romanos era aplicado a uma grande província, parece ter sido, originalmente, confinado a um pequeno circuito de terra em torno de Kedesh-Naphtali (uma das mais remotas cidades de Judá, junto ao limite sul de Edom), onde estavam situadas as vinte cidades doadas por Salomão a Hiram, rei do Tiro, em pagamento ao transporte de cedro do Líbano para Jerusalém. Ao tempo de Cristo, o território de Israel era dividido em três províncias: Judeia, Samaria e Galileia, esta última incluindo toda a secção norte do país, com os antigos territórios de Issachar, Zebulun, Asher e Naphtali. A oeste era limitada pelo território de Ptolemais; a fronteira sul corria ao longo da base do monte Carmelo e das colinas de Samaria até o monte Gilboa e então descendo ao vale de Jezreel por Scythopolis, ao Jordão; o rio Jordão, o Mar da Galileia e o alto Jordão até a fonte de Dan formavam o limite oeste; e o norte desenvolvia-se de Dan para o oeste ao longo da crista montanhosa até tocar no território dos fenícios. Era dividida em “Galileia Inferior” e “Galileia Superior” (com altitudes superiores a 900 metros). A mais alta região do país, com as menores temperaturas, bem irrigada pelas chuvas de inverno e com numerosas fontes, a Galileia era uma região de fertilidade natural, adequando-se a todas as variedades de flora, merecendo destaque especial a nogueira. As Figuras 4 a 8 se completam e mostram todos os pontos descritos acima.
Figura 5
A maior parte da Galileia é constituída por terreno rochoso, com alturas variando entre 500 e 700 metros. Entretanto, há várias montanhas altas na região, que incluem os Montes Tabor e Meron (1.208 m), com temperaturas relativamente baixas e altas precipitações. Como resultado deste clima, a flora e a fauna abundam na região, enquanto muitos pássaros anualmente migram de climas mais frios para a África e retornam através do corredor Hula-Jordão. Os cursos e quedas d’água – estas principalmente na Galileia Superior – junto com vastos campos de folhagens e folhas silvestres coloridas, bem como numerosas cidades de importância bíblica, tornam a região um popular destino turístico.

II.3 HISTÓRIA DA GALILEIA

Mencionada pela primeira vez pelo Faraó Tutmés III, que lá conquistou várias cidades canaanitas em 1.468 A.C., a Galileia foi também mencionada várias vezes no Velho Testamento (Josué, Crônicas, Reis).
Figura 6
Segundo a tradição judaica, as unidades patriarcais (Tribos de Israel) do antigo povo de Israel teriam se originado dos doze filhos de Jacó (mais tarde chamado Israel), neto de Abraão: Rubem, Simeão, Levi, Judá, Dã, Naftali, Gade, Aser, Issacar, Zebulom, José e Benjamim. A tribo de José foi, posteriormente, dividida em duas (meias tribos), Manassés e Efraim, os dois filhos de José com sua esposa egípcia, Azenate, deixando de existir a tribo de José. Moisés liderou as doze tribos pelo deserto da Península do Sinai e coube a seu sucessor, Josué, coordenar a tomada de Canaã. Para que essa tomada ocorresse de forma ordenada, a região foi dividida entre cada uma das tribos e meias tribos, que se encarregaram de conquista-las, na verdade, de forma mais ou menos independente. Após a narrativa da conquista de Canaã, os relatos da Bíblia tornam-se confusos, com referências geográficas praticamente inexistentes ou inconsistentes e, com o tempo, as tribos deixaram de existir geograficamente, seu povo sendo absorvido, ou por povos estrangeiros ou por outras tribos israelitas, ou por ambos, embora ainda considerado como parte das doze tribos. Na verdade, embora a suposta irmandade, as tribos nem sempre foram aliadas, o que ficou manifesto quando da cisão do reino, após a morte do Rei Salomão.
Figura 7
De acordo com o Antigo Testamento da Bíblia, a Galileia foi nomeada pelos israelitas e, originalmente, foi a região tribal de Naftali e Dã, às vezes se envolvendo com a terra de Aser, sendo muitas vezes referida apenas como Naftali. O nome israelita da região vem da raiz hebraica galil, uma palavra para designar “distrito” e, usualmente, “círculo”.
Figura 8
A região da Galileia (Figuras 5 e 6) foi, presumivelmente, o lar de Jesus durante, pelo menos, 30 anos de sua vida, para onde havia sido levado por seus pais José e Maria assim que souberam da morte de Herodes, enquanto residindo no Egito. A Galileia é melhor conhecida como a região onde, de acordo com os Evangelhos, Jesus conduziu a maior parte do Seu ministério público, particularmente nas cidades de Nazaré e Cafarnaum, e onde realizou a maior parte dos seus conhecidos milagres. Por exemplo, a vila árabe de Kafr Cana (Figura 6), cerca de 7 km a nordeste de Nazaré, na Galileia Inferior, é identificada como a Canaã da Galileia onde, segundo a tradição, Jesus teria realizado o milagre da transformação da água em vinho, quando participando das bodas de um casal de poucos recursos. A Figura 9 abaixo mostra a "Igreja das Bodas", por se crer que fica no mesmo local onde Jesus teria praticado o seu primeiro milagre.
Figura 9 - A Igreja das Bodas
Os autores dos Evangelhos declaram que a maior parte de Sua juventude foi vivida na Galileia Inferior, ao passo que Sua vida adulta, tempo da Sua pregação, foi passada nas margens a noroeste do Mar da Galileia, onde ficavam as cidades onde Jesus passou a maior parte da sua vida, aí incluídas Cafarnaum e Betsaida (ver Figuras 5 e 6).
Descobertas arqueológicas de sinagogas dos períodos helenístico e romano na Galileia, mostram forte influência fenícia e uma alto grau de tolerância por outras culturas, relativamente a outros locais sagrados dos judeus, no mesmo período, porque considerado “limpo de impurezas”. A Galileia oriental manteve uma maioria judia até o século VII.
O historiador judeu, Josephus, registra que havia mais de 200 vilas na Galileia no ano 66 DC, sendo bastante povoada nesta época. Sendo mais exposta a influências estrangeiras do que outras regiões judias, tinha também uma grande população pagã e era por isso conhecida por outro nome que, traduzido para o português, significava “Região dos Gentis”. Sob a dominação romana, desenvolveu-se uma característica identidade galileana, fazendo com que a Galileia fosse tratada como área administrativa separada da Judeia e da Samaria; tal fato foi majorado porque a Galileia foi, por muito tempo, governada por “fantoches” romanos ao invés de pela própria Roma. A consequência foi uma estabilidade social maior, significando não ter sido um centro de atividade política anti-romana, nem uma região marginalizada, como podem dar a entender os Evangelhos. A Galileia é também a região onde o judaísmo adquiriu a maior parte de sua forma moderna. Após a segunda revolta Judia (132 – 135 DC) quando os judeus foram totalmente expulsos de Jerusalém, muitos foram obrigados a emigrar para o norte, aumentando de forma considerável a população da Galileia, com o tempo atraindo mais judeus que já viviam em outras áreas.