I - INTRODUÇÃO
Quando olhamos para a nação do moderno Estado de Israel e lemos a Bíblia, pode haver muita confusão sobre o que você está olhando comparado ao que você está lendo no que se refere “ao que está onde”. Em algum ponto, o Reino de Israel foi completamente fracionado e nos perguntamos o que era Israel e o que era Judá e onde eles estariam agora? Enquanto a terra de Israel era originalmente um reino unido, em dado momento foi dividido em dois reinos, ambos baseados em crenças e culturas hebraica/judaica. Como foi que tudo isso aconteceu?
Como sempre faço em minhas postagens, estou expressando, nesta introdução, apenas a minha própria opinião. Sempre tive enorme admiração pelo povo judeu, principalmente por sua tenacidade como nação. Exatamente por isso e conhecedor de bastante de sua história, através do Antigo Testamento e de outras fontes não bíblicas consideradas importantes, nunca entendi direito a profunda e definitiva cisão ocorrida entre as doze tribos de Israel, historicamente um acontecimento até então inconcebível e que, pelo menos para mim, até hoje, provoca enormes dúvidas quanto ao povo que atualmente constitui o moderno Estado de Israel.
Esta postagem não pretende, de forma alguma, contar a história do povo judeu (com mais de seis mil anos de existência), nem parte dessa história. O foco da postagem restringe-se a este pequeno evento, em duração, mas de consequências importantíssimas para a história da nação judaica. Espero poder atingir, nesta curta postagem, o objetivo a que me proponho.
II - A HISTÓRIA DA CISÃO
Originalmente, as doze tribos de Israel teriam os nomes de onze dos filhos de Jacó – que teve seu nome posteriormente alterado para Israel -, já que José não teve uma tribo. A tribo que faltava foi, na verdade, constituída por duas semi tribos com os nomes dos filhos de José: Manassés e Efraim. As “Doze Tribos” tiveram, portanto, os seguintes nomes: Rubem, Simeão, Levi, Judá, Zebulom, Issacar, Dã, Gade, Aser, Naftali, Benjamim e Manassés/Efraim.
Quando, segundo o Antigo Testamento, o povo de Israel pediu a Deus um rei, a nação oficialmente tornou-se um reino, mas foi avisada por Deus, que tal reino viria com todos os seus desafios. O primeiro rei de Israel foi Saul (cerca de 1.021 a 1.000 AC), escolhido pelo Juiz Samuel e por aclamação pública. A Saul seguiu, como o segundo rei de Israel, Esbaal, seu filho, que reinou por apenas dois anos, sempre em guerra com Davi, genro de Saul, e foi assassinado por dois capitães do seu próprio exército. Após Esbaal, reinou Davi, de 1010 a 970 AC, como o terceiro rei do Reino Unido de Israel. Salomão, seu filho, o sucedeu como quarto e penúltimo rei do Reino Unido de Israel (970-931 AC). Foi o construtor do Primeiro Templo de Jerusalém, dedicado a Javé, Deus dos Judeus. Com a morte de Salomão, que já teve o final do seu reinado bastante complicado, seu filho Roboão o substituiu como último rei do Reino Unido de Israel e o primeiro Rei de Judá (931 a 913 AC), um dos reinos que o sucedeu.
Como profetizado pelo Profeta Aías (Reis I, 11:31-35), a casa de Israel (formada pelas Doze Tribos originais) foi dividida em dois reinos. Essa divisão, que ocorreu cerca de 930 AC, após a morte de Salomão e durante o reinado de seu filho Roboão, aconteceu porque o povo se revoltou contra os pesados impostos cobrados por Salomão e seu filho Roboão, bem como por fortes indícios de afastamento dos preceitos originais de Javé.
Durante o reinado de Roboão, a tribo de Judá e a tribo de Benjamin (praticamente toda a tribo) o aceitaram como rei e constituíram assim o Reino de Judá, ou o Reino Sul de Israel, com sua capital em Jerusalém. As outras dez tribos (e o restante da tribo de Benjamin) – usualmente conhecidas como “As Dez Tribos” – escolheram Jeroboão como seu rei. Essas Dez Tribos retiveram o título de Israel, tornando-se também conhecidas como Efraim, que era a tribo dominante. Tornou-se o Reino do Norte com quartel general em Shechem, na região da Samaria. Desta época em diante, o povo judeu, herdeiro de Abrahão, o primeiro grande Patriarca, nunca mais voltou a ser o mesmo!
Reinos de Judá (amarelo) e Israel (azul) |
Aqui faz-se necessário uma palavrinha sobre Jeroboão, filho de Nebat, um membro da tribo de Efraim. Ainda um jovem, Salomão o fez superintendente dos homens de sua tribo na construção da fortaleza de Millo, em Jerusalém e outros serviços públicos. Assim, ele naturalmente tornou-se familiarizado com o difundido descontentamento causado pelas extravagâncias que marcaram o final do reinado de Salomão. Influenciado pelas palavras do profeta Aías, ele começou a conspirar para tornar-se rei, mas foi descoberto e fugiu para o Egito onde permaneceu sob a proteção do faraó Shishak até a morte de Salomão. Depois desse evento ele retornou e participou de uma delegação enviada para negociar junto ao novo rei Roboão a redução dos impostos. Com a negativa de Roboão e as suas maquinações, dez das doze tribos retiraram sua submissão à Casa de Davi, proclamando Jeroboão seu rei e formando o Reino Norte de Israel.
Em seu conjunto, Judá, o outro reino, permaneceu mais fiel a Javé. Quase ao mesmo tempo em que o Reino do Norte de Israel foi estabelecido, renegou a própria fé (apostasia). Embora grandes profetas como Elias e Amós ministrassem no reino, o povo adorava falsos deuses e adotava muitas práticas do Baalismo.
Pelo Antigo Testamento vemos que essas duas nações lutaram entre si, ambas tornando-se fortes e independentes e criando duas linhagens distintas na História, com seus próprios reis e seus próprios profetas. Tristemente, Israel e Judá caíram no cativeiro, embora para diferentes potências e em épocas diferentes.
Embora mais populoso que o Reino de Judá, o Reino de Israel caiu cerca de 135 anos antes. Cerca de 721 AC, Israel foi capturado pelos assírios, sob Shalmanezer, e levado embora, tornando-se, subsequentemente, perdido ao conhecimento dos homens. É hoje conhecido como “as dez tribos perdidas”, visto que Israel nunca se livrou totalmente do cativeiro assírio. Os Samaritanos foram considerados degenerados da casa de Israel, mas muitas tribos foram consideradas perdidas.
Geograficamente, Judá era menos exposta a ataques, mas em 588 Nabucodonosor, da Babilônia, sitiou Jerusalém e virtualmente encerrou com o Reino de Judá, levando seu povo cativo para a Babilônia. Após 70 anos, o rei Ciro, da Pérsia, capturou a Babilônia e permitiu a Judá retornar a Jerusalém. Muitas pessoas de Judá se haviam dispersado pela Ásia, mas a maioria retornou a Jerusalém e à reconstrução do Templo de Salomão, símbolo maior da nação judaica. Assaltados por Síria e Egito, Judá nunca recuperou seu poder original e, pelo tempo de Jesus, Jerusalém já se tinha tornado um tributário de Roma.
É importante também, para bem esclarecer o futuro de toda a região, que se digam algumas palavras sobre a Samaria. Tanto na Bíblia quanto em fontes não bíblicas, o nome “Samaria” ocorre numerosas vezes como nome de uma cidade ou designação da região de que a cidade era a capital. O nome foi aplicado à região, quando a cidade de Samaria tornou-se a capital do reino israelita do norte sob o rei Omri, no século IX AC. Após a divisão do Reino de Israel (Judá e Israel), a província da Samaria compreendia, primeiramente, todo o território ocupado pelas dez tribos revoltadas, e estendeu-se até a Galileia. Samaria é mencionada na Bíblia como o nome da montanha em que Omri construiu sua capital, nomeando-a também Samaria. Em 732 AC, os assírios aí assentaram novos estrangeiros para se misturarem ao povo de Israel, quando se tornaram conhecidos como Samaritanos. Após a conquista do Reino do Norte pelos Assírios cerca de 722 AC, o distrito circundando a cidade foi também chamado Samaria. Subjugada a cidade, o assírio Sargão mandou os seus habitantes para longe, estabelecendo-os em sítios que ficavam muito longe do país de Israel. Em conformidade com a política dos conquistadores da antiguidade, Sargão e, mais tarde, Esar-Hadom, repovoaram Samaria com gente da Babilônia, de Cuta e de outras províncias longínquas, sendo o seu fim certamente destruir os sentimentos nacionais entre os povos conquistados.
Após a destruição do Reino de Israel, os samaritanos emergiram como um grupo étnico-religioso na região da Samaria, alegando descender dos israelitas; com seu templo no Monte Gerizim, eles prosperaram por séculos.
De acordo com a versão judia dos eventos, quando o exílio das tribos de Judá terminou em 539 AC e os exilados começaram a retornar da Babilônia, os samaritanos encontraram sua pátria anterior do norte, habitada por outras pessoas que alegavam ser sua pátria, e Jerusalém, sua gloriosa capital anterior, em ruínas. Os habitantes adoravam deuses pagãos e eles apelaram ao rei da Assíria por sacerdotes israelitas para instruí-los a adorar o Deus dos Judeus. O resultado foi uma mistura de religiões em que grupos nacionais adoravam o Deus Israelita, mas também serviam a seus próprios deuses de acordo com os costumes das nações das quais eles tinham sido trazidos. Os samaritanos alegavam ser o verdadeiro Israel, como descendentes das Dez Tribos Perdidas levadas no cativeiro assírio. Além disso, alegavam que sua versão do Pentateuco era a original e que os judeus possuíam um texto falsificado produzido por Ezra, durante o exílio na Babilônia. Hoje, a maioria dos estudiosos acredita que os samaritanos eram uma mistura de israelitas com outras nacionalidades com que os assírios haviam recolonizado a região.
Por todas essas razões, os Samaritanos tornaram-se os grandes inimigos do povo judeu quando, retornando do seu exílio na Babilônia, dedicou-se à reconstrução de Jerusalém e do Templo de Salomão.
Apresentamos, para encerrar a postagem, as duas relações dos reis de Judá e de Israel, desde a cisão do Reino Unido de Israel, até a partida para os seus respectivos cativeiros:
REINO DE JUDÁ REINO DE ISRAEL
Roboão Jeroboão
Abião ou Abias Nadabe
Asa Baasa
Jeosafá Elá
Jeorão Zinri
Acazias Omri
Joás Acabe
Amazias Jorão
Uzias (Ozias) ou Azarias Jeú
Jotão Jeohacaz
Acaz Jeoás
Ezequias Jeroboão
Manassés Zacarias
Amom Salum
Josias Menaém
Jeoacaz Pecaías
Eliaquim (Jeoiaquim) Peca
Joaquim Oséias
Zedequias (Cativeiro e morto Babilônia) Shalmaneser
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