Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

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quinta-feira, 18 de maio de 2023

CISÃO DOS JUDEUS: REINOS DE JUDÁ E ISRAEL

 

I - INTRODUÇÃO


Quando olhamos para a nação do moderno Estado de Israel e lemos a Bíblia, pode haver muita confusão sobre o que você está olhando comparado ao que você está lendo no que se refere “ao que está onde”. Em algum ponto, o Reino de Israel foi completamente fracionado e nos perguntamos o que era Israel e o que era Judá e onde eles estariam agora? Enquanto a terra de Israel era originalmente um reino unido, em dado momento foi dividido em dois reinos, ambos baseados em crenças e culturas hebraica/judaica. Como foi que tudo isso aconteceu?
Como sempre faço em minhas postagens, estou expressando, nesta introdução, apenas a minha própria opinião. Sempre tive enorme admiração pelo povo judeu, principalmente por sua tenacidade como nação. Exatamente por isso e conhecedor de bastante de sua história, através do Antigo Testamento e de outras fontes não bíblicas consideradas importantes, nunca entendi direito a profunda e definitiva cisão ocorrida entre as doze tribos de Israel, historicamente um acontecimento até então inconcebível e que, pelo menos para mim, até hoje, provoca enormes dúvidas quanto ao povo que atualmente constitui o moderno Estado de Israel.
Esta postagem não pretende, de forma alguma, contar a história do povo judeu (com mais de seis mil anos de existência), nem parte dessa história. O foco da postagem restringe-se a este pequeno evento, em duração, mas de consequências importantíssimas para a história da nação judaica. Espero poder atingir, nesta curta postagem, o objetivo a que me proponho.


II - A HISTÓRIA DA CISÃO

Originalmente, as doze tribos de Israel teriam os nomes de onze dos filhos de Jacó – que teve seu nome posteriormente alterado para Israel -, já que José não teve uma tribo. A tribo que faltava foi, na verdade, constituída por duas semi tribos com os nomes dos filhos de José: Manassés e Efraim. As “Doze Tribos” tiveram, portanto, os seguintes nomes: Rubem, Simeão, Levi, Judá, Zebulom, Issacar, Dã, Gade, Aser, Naftali, Benjamim e Manassés/Efraim.
Quando, segundo o Antigo Testamento, o povo de Israel pediu a Deus um rei, a nação oficialmente tornou-se um reino, mas foi avisada por Deus, que tal reino viria com todos os seus desafios. O primeiro rei de Israel foi Saul (cerca de 1.021 a 1.000 AC), escolhido pelo Juiz Samuel e por aclamação pública. A Saul seguiu, como o segundo rei de Israel, Esbaal, seu filho, que reinou por apenas dois anos, sempre em guerra com Davi, genro de Saul, e foi assassinado por dois capitães do seu próprio exército. Após Esbaal, reinou Davi, de 1010 a 970 AC, como o terceiro rei do Reino Unido de Israel. Salomão, seu filho, o sucedeu como quarto e penúltimo rei do Reino Unido de Israel (970-931 AC). Foi o construtor do Primeiro Templo de Jerusalém, dedicado a Javé, Deus dos Judeus. Com a morte de Salomão, que já teve o final do seu reinado bastante complicado, seu filho Roboão o substituiu como último rei do Reino Unido de Israel e o primeiro Rei de Judá (931 a 913 AC), um dos reinos que o sucedeu.
Como profetizado pelo Profeta Aías (Reis I, 11:31-35), a casa de Israel (formada pelas Doze Tribos originais) foi dividida em dois reinos. Essa divisão, que ocorreu cerca de 930 AC, após a morte de Salomão e durante o reinado de seu filho Roboão, aconteceu porque o povo se revoltou contra os pesados impostos cobrados por Salomão e seu filho Roboão, bem como por fortes indícios de afastamento dos preceitos originais de Javé.
Durante o reinado de Roboão, a tribo de Judá e a tribo de Benjamin (praticamente toda a tribo) o aceitaram como rei e constituíram assim o Reino de Judá, ou o Reino Sul de Israel, com sua capital em Jerusalém. As outras dez tribos (e o restante da tribo de Benjamin) – usualmente conhecidas como “As Dez Tribos” – escolheram Jeroboão como seu rei. Essas Dez Tribos retiveram o título de Israel, tornando-se também conhecidas como Efraim, que era a tribo dominante. Tornou-se o Reino do Norte com quartel general em Shechem, na região da Samaria. Desta época em diante, o povo judeu, herdeiro de Abrahão, o primeiro grande Patriarca, nunca mais voltou a ser o mesmo! 
Reinos de Judá (amarelo) e Israel (azul)
Aqui faz-se necessário uma palavrinha sobre Jeroboão, filho de Nebat, um membro da tribo de Efraim. Ainda um jovem, Salomão o fez superintendente dos homens de sua tribo na construção da fortaleza de Millo, em Jerusalém e outros serviços públicos. Assim, ele naturalmente tornou-se familiarizado com o difundido descontentamento causado pelas extravagâncias que marcaram o final do reinado de Salomão. Influenciado pelas palavras do profeta Aías, ele começou a conspirar para tornar-se rei, mas foi descoberto e fugiu para o Egito onde permaneceu sob a proteção do faraó Shishak até a morte de Salomão. Depois desse evento ele retornou e participou de uma delegação enviada para negociar junto ao novo rei Roboão a redução dos impostos. Com a negativa de Roboão e as suas maquinações, dez das doze tribos retiraram sua submissão à Casa de Davi, proclamando Jeroboão seu rei e formando o Reino Norte de Israel.
Em seu conjunto, Judá, o outro reino, permaneceu mais fiel a Javé. Quase ao mesmo tempo em que o Reino do Norte de Israel foi estabelecido, renegou a própria fé (apostasia). Embora grandes profetas como Elias e Amós ministrassem no reino, o povo adorava falsos deuses e adotava muitas práticas do Baalismo.
Pelo Antigo Testamento vemos que essas duas nações lutaram entre si, ambas tornando-se fortes e independentes e criando duas linhagens distintas na História, com seus próprios reis e seus próprios profetas. Tristemente, Israel e Judá caíram no cativeiro, embora para diferentes potências e em épocas diferentes.
Embora mais populoso que o Reino de Judá, o Reino de Israel caiu cerca de 135 anos antes. Cerca de 721 AC, Israel foi capturado pelos assírios, sob Shalmanezer, e levado embora, tornando-se, subsequentemente, perdido ao conhecimento dos homens. É hoje conhecido como “as dez tribos perdidas”, visto que Israel nunca se livrou totalmente do cativeiro assírio. Os Samaritanos foram considerados degenerados da casa de Israel, mas muitas tribos foram consideradas perdidas.
Geograficamente, Judá era menos exposta a ataques, mas em 588 Nabucodonosor, da Babilônia, sitiou Jerusalém e virtualmente encerrou com o Reino de Judá, levando seu povo cativo para a Babilônia. Após 70 anos, o rei Ciro, da Pérsia, capturou a Babilônia e permitiu a Judá retornar a Jerusalém. Muitas pessoas de Judá se haviam dispersado pela Ásia, mas a maioria retornou a Jerusalém e à reconstrução do Templo de Salomão, símbolo maior da nação judaica. Assaltados por Síria e Egito, Judá nunca recuperou seu poder original e, pelo tempo de Jesus, Jerusalém já se tinha tornado um tributário de Roma.
É importante também, para bem esclarecer o futuro de toda a região, que se digam algumas palavras sobre a Samaria. Tanto na Bíblia quanto em fontes não bíblicas, o nome “Samaria” ocorre numerosas vezes como nome de uma cidade ou designação da região de que a cidade era a capital. O nome foi aplicado à região, quando a cidade de Samaria tornou-se a capital do reino israelita do norte sob o rei Omri, no século IX AC. Após a divisão do Reino de Israel (Judá e Israel), a província da Samaria compreendia, primeiramente, todo o território ocupado pelas dez tribos revoltadas, e estendeu-se até a Galileia. Samaria é mencionada na Bíblia como o nome da montanha em que Omri construiu sua capital, nomeando-a também Samaria. Em 732 AC, os assírios aí assentaram novos estrangeiros para se misturarem ao povo de Israel, quando se tornaram conhecidos como Samaritanos. Após a conquista do Reino do Norte pelos Assírios cerca de 722 AC, o distrito circundando a cidade foi também chamado Samaria. Subjugada a cidade, o assírio Sargão mandou os seus habitantes para longe, estabelecendo-os em sítios que ficavam muito longe do país de Israel. Em conformidade com a política dos conquistadores da antiguidade, Sargão e, mais tarde, Esar-Hadom, repovoaram Samaria com gente da Babilônia, de Cuta e de outras províncias longínquas, sendo o seu fim certamente destruir os sentimentos nacionais entre os povos conquistados.
Após a destruição do Reino de Israel, os samaritanos emergiram como um grupo étnico-religioso na região da Samaria, alegando descender dos israelitas; com seu templo no Monte Gerizim, eles prosperaram por séculos.
De acordo com a versão judia dos eventos, quando o exílio das tribos de Judá terminou em 539 AC e os exilados começaram a retornar da Babilônia, os samaritanos encontraram sua pátria anterior do norte, habitada por outras pessoas que alegavam ser sua pátria, e Jerusalém, sua gloriosa capital anterior, em ruínas. Os habitantes adoravam deuses pagãos e eles apelaram ao rei da Assíria por sacerdotes israelitas para instruí-los a adorar o Deus dos Judeus. O resultado foi uma mistura de religiões em que grupos nacionais adoravam o Deus Israelita, mas também serviam a seus próprios deuses de acordo com os costumes das nações das quais eles tinham sido trazidos. Os samaritanos alegavam ser o verdadeiro Israel, como descendentes das Dez Tribos Perdidas levadas no cativeiro assírio. Além disso, alegavam que sua versão do Pentateuco era a original e que os judeus possuíam um texto falsificado produzido por Ezra, durante o exílio na Babilônia. Hoje, a maioria dos estudiosos acredita que os samaritanos eram uma mistura de israelitas com outras nacionalidades com que os assírios haviam recolonizado a região.
Por todas essas razões, os Samaritanos tornaram-se os grandes inimigos do povo judeu quando, retornando do seu exílio na Babilônia, dedicou-se à reconstrução de Jerusalém e do Templo de Salomão.
Apresentamos, para encerrar a postagem, as duas relações dos reis de Judá e de Israel, desde a cisão do Reino Unido de Israel, até a partida para os seus respectivos cativeiros:

REINO DE JUDÁ                                                REINO DE ISRAEL

Roboão                                                                   Jeroboão
Abião ou Abias                                                      Nadabe
Asa                                                                         Baasa
Jeosafá                                                                   Elá 
Jeorão                                                                    Zinri
Acazias                                                                 Omri  
Joás                                                                       Acabe
Amazias                                                                Jorão
Uzias (Ozias) ou Azarias                                      Jeú
Jotão                                                                     Jeohacaz
Acaz                                                                     Jeoás
Ezequias                                                               Jeroboão
Manassés                                                              Zacarias
Amom                                                                  Salum
Josias                                                                    Menaém
Jeoacaz                                                                 Pecaías
Eliaquim (Jeoiaquim)                                           Peca
Joaquim                                                                Oséias
Zedequias (Cativeiro e morto Babilônia)            Shalmaneser


terça-feira, 21 de julho de 2015

HISTÓRIA DO POVO HEBREU APÓS A CONQUISTA DE JUDÁ PELA BABILÔNIA (PARTE 1)

I - INTRODUÇÃO

A fonte histórica mais segura para acompanhar a saga do povo hebreu é, sem dúvida, o Antigo Testamento da Bíblia, ou o Tora, para os judeus. E aqui aproveito a oportunidade para apresentar o significado de algumas palavras básicas relacionadas.

O Tora (que em hebreu significa “instrução” ou “ensino”), ao qual muitas vezes nos referimos como “Pentateuco”, é o conceito central na tradição religiosa Judaica. Possui uma grande quantidade de significados: pode significar os primeiros cinco livros (Gêneses, Êxodos, Levíticos, Números e Deuteronômio) dos vinte e quatro livros do Tanakh (conjunto dos livros da Bíblia Hebreia), em geral incluindo os comentários rabínicos. O Tora pode significar também “instrução”, oferecendo uma forma de vida para aqueles que o seguem. Ele pode significar a narrativa continuada do Gêneses ao final do Tanakh. Pode até mesmo significar a totalidade do ensinamento, cultura e prática judeus. Comum a todos esses significados, o Tora consiste na narrativa fundamental do povo judeu: seu chamamento por Deus, suas provações e atribulações e seu pacto com seu Deus, que envolve seguir uma forma de vida personificada num conjunto de obrigações e leis civis morais e religiosas.

O Talmud (significando “instrução” ou “aprendizado”, é um texto central do Judaísmo Rabínico. O termo “Talmud” em geral se refere ao Talmud Babilônico, embora haja uma coleção anterior conhecida como o Talmud de Jerusalém. O Talmud tem dois componentes. A primeira parte é o Mishnah (cerca de 200 DC), o compêndio escrito do Tora Oral do Judaísmo Rabínico. A segunda parte é o Gemara (cerca de 500 DC), uma elucidação do Mishna e dos escritos Tanáticos relacionados, que muitas vezes se aventuram por outros assuntos e expõe amplamente a Bíblia Hebreia. O Talmud pode ser usado para significar apenas o Gemara ou o Gemara e o Mishna impressos juntos. O Talmud completo consiste de 63 tratados e, em impressão normal, possui mais de 6.200 páginas e é escrito em hebreu e aramaico. O Talmud contém os ensinamentos e opiniões de milhares de rabis sobre uma variedade de assuntos, incluindo o Halakha (conjunto das leis religiosas judias derivadas do Tora escrito e oral), a ética, filosofia, costumes e história Judia, além de muitos outros tópicos.
Entretanto, mesmo este fantástico documento, torna-se bem difícil de ser acompanhado - ao menos pelos leigos ou pouco conhecedores do assunto – a partir do momento em que o Estado Judeu é invadido pela Babilônia, Jerusalém é devastada, o Templo destruído e grande parte da sua população levada cativa para as longínquas terras da Mesopotâmia. Há muito as doze tribos de Israel já se haviam separado, chegara a época dos profetas e muito do Antigo Testamento passa para o plano figurativo e religioso, tornando a leitura difícil de ser acompanhada e entendida. A história dos Hebreus só volta a ser novamente narrada e entendida após o nascimento de Cristo, através dos Evangelhos (Novo Testamento da Bíblia); nesse caso, segundo o ponto de vista dos primeiros cristãos e de cunho eminentemente religioso, com ênfase em sua figura central, Jesus Cristo.
Certamente existem historiadores contemporâneos (Flavius Josephus – “Josephus” -, Gaius Plinius Secundus – “Plínio, o Velho” – e Philo Jadaeus – “Philo de Alexandria”) que escreveram a sua história à época e, posteriormente, uma grande quantidade de historiadores modernos, usando essas fontes, apresentaram as suas respectivas versões.
O objetivo desta publicação é exatamente tentar preencher essa lacuna. O período que vai da invasão de Israel pela Babilônia e exílio dos hebreus em cativeiro, até a revolta dos judeus contra o império romano, que acabou com a destruição do Templo, pela segunda vez, e a definitiva difusão dos hebreus por todo o mundo; visto pelo prisma exclusivamente histórico.
Como esse assunto vai envolver a participação de vários impérios, já quero deixar claro que não é objetivo deste trabalho o detalhamento individual das suas histórias, mas apenas mostrar as suas relações com a história do povo hebreu durante o período mencionado. Muitos dos impérios que serão mencionados, já foram motivo de outras postagens do pesquisador e podem ser examinados, quando necessário.

II – CONQUISTA DO REINO DE JUDÁ PELA BABILÔNIA

Antes do exílio, Judá era uma monarquia que havia mantido as tradições de Israel, a comunidade tribal uma vez unida sob o Rei Davi. Havia absorvido muito das tradições pan-israelitas, mas ainda era uma comunidade, uma entidade política sem outra finalidade que a de existir, sobreviver e prosperar como uma entidade política.
Entre as principais instituições da Judá pré-exílica, estavam:
  • Os reis davídicos, uma dinastia que reivindicava investidura divina;
  • O templo Salomônico que, com as reformas de curta duração introduzidas por Ezequiel e Josias, abrigou vários cultos;
  • Adivinhos proféticos ao serviço dos reis e também profetas críticos dos reis, advogando somente a adoração de Javé. 
    Nabucodonosor II da Babilônia

O cativeiro babilônico ou exílio babilônico foi o período da história judaica durante o qual um grande número de judeus do antigo reino de Judá permaneceu cativo na Babilônia. Em 605 AC, Nabucodonosor II, rei da Babilônia, sitiou Jerusalém que não lhe pode defrontar, o que ocasionou a criação de um tributo a ser pago pelo rei hebreu Eliaquim (ou Jeoiaquim). No quarto ano de Nabucodonosor II, Eliaquim recusou-se a pagar o tributo, o que motivou um novo sítio da cidade no sétimo ano do rei babilônico (597 AC), que culminou com a morte do rei de Judá e o exílio de seu sucessor Joaquim (ou Jeconias) - que reinou por apenas três meses -, sua corte e muitos outros, para a Babilônia. Seu sucessor, Zedequias (ou Sedecias ou Matanias), e outros, foram exilados no décimo oitavo ano de Nabucodonosor II (587 AC); uma deportação posterior ainda ocorreu no vigésimo terceiro ano de Nabucodonosor II (582 AC).
Império Babilônico Nabucodonosor II

A completa conquista do reino de Judá pela Babilônia, concretizou-se, portanto, em 587 AC, quando o rei de Judá era Zedequias. Os babilônios destruíram Jerusalém e seu Templo, expurgando os membros da elite da sua população para a Babilônia, aí incluindo Zedequias - cujos filhos foram mortos em sua frente e ele cego e jogado na prisão até a sua morte. Esse período ficou sendo conhecido como “Cativeiro da Babilônia”. A despeito da perda do Templo, o Judaísmo não morreu como religião, embora o culto e o sacrifício no Templo fossem impossíveis. Os judeus se consolidaram em torno dos seus documentos sagrados e o Tora tomou o lugar do Templo como um centro sagrado. O judaísmo tornou-se uma religião de livro, com um foco sagrado portátil. O exílio babilônico dos judeus tornou-se proverbial. Durante e após o exílio, eles desenvolveram uma energia criativa sem precedentes, do que resultou a edição definitiva do Pentateuco, dos livros de Samuel e Reis, de muitos dos livros proféticos e também na composição de uma nova literatura que refletia as preocupações dos que retornaram da Babilônia, muitas vezes mais diretamente, do que a antiga literatura. Durante este período eles editaram suas histórias e escritos sagrados com a visão de que os profetas estavam certos: as desditas das “crianças de Israel” eram devidas à sua desobediência ao pacto, o que resultou na edição definitiva do Tora. O estudo do Tora tornou-se o foco da prática, com encontros semanais em casas de estudo públicas. A ênfase foi colocada nas determinações do Tora que podiam ser seguidas longe do templo, tais como a circuncisão, a observância do Sabá, as leis da pureza e as prescrições de dieta.
Mapa da deportação do povo de Judá

Em 539 AC, o persa Ciro, o Grande, conquistou a Babilônia e por um seu decreto Judá retornou do exílio em 539 AC e foi politicamente reconstruído como uma província administrativa semiautônoma da Pérsia. Passou a ser governada por uma elite sacerdotal cujos pontos de vista e atitudes foram moldados pelos projetos religiosos para reconstrução delineados no exílio. Estavam em desacordo com a população, rigorosamente forçaram a separação da população heterogênea de Judá e governaram à base do Tora. Em 428 AC, Ezra trouxe, da Babilônia para Jerusalém, e promulgou, o Tora, que serviu como o ideal legal de um estado teocrático (governado por sacerdotes ao invés de reis), efetivamente marcando o início da moderna religião judaica. Ezra foi o sacerdote que reorganizou o estado Israelita politicamente e organizou o novo sistema religioso que incluía o estudo do Tora, ficando conhecido como o “Pai do Judaísmo”. Neemias, um funcionário da corte na Pérsia, retornou pouco mais tarde para reconstruir as muralhas da cidade e o templo de Jerusalém, isto é, o Segundo Templo, já que o primeiro havia sido construído por Salomão. A partir daí, a religião passou a ser conhecida como o “Judaísmo do Segundo Templo”. 
Ciro o Grande, Pérsia
A influência persa tornou-se notável na literatura apocalítica judia (simbolismo do bem contra o mal, angelologia, figura do demônio como ano caído e o mal personificado). A língua administrativa de Judá passou a ser o aramaico, língua do império persa, ao invés do hebreu. Uma importante nova instituição foi o uso dos Levitas como sacerdotes auxiliares.
O pouco que sabemos sobre a história do “Judaísmo do Segundo Templo”, de outras fontes, é aumentado por fragmentos de cartas escritas em papiro encontradas por modernos arqueólogos, em Elefantina, escavadas quando a barragem de Assuam, no Egito, foi construída durante a década de 1960.

III – A HELENIZAÇÃO DO ORIENTE MÉDIO E A REVOLTA DOS MACABEUS
Alexandre da Macedônia

Alexandre da Macedônia foi um dos grandes estrategistas militares do mundo e nunca perdeu uma batalha. Suas campanhas foram, basicamente, uma tentativa de vingança pelo fato da Pérsia ter invadido a Grécia em 490 e 480 AC. Cerca de 332 AC, Alexandre havia conquistado o Império Persa (ao qual Judá estava subordinado e praticamente sem expressão como potência militar, após ter retornado do Exílio Babilônico) e dela recuperado o Império do Egito, a costa grega da Ásia Menor ocidental e Tiro, seguindo rapidamente para o leste, até o Paquistão. Alexandre teria passado perto, mas provavelmente nunca visitado Jerusalém.
Após a morte precoce de Alexandre, em 323 AC, com a idade de 33 anos, seus vários generais lutaram entre si até 306-305 AC, quando os vencedores repartiram o Império de Alexandre em três, assim permanecendo até a conquista da região pelos romanos: a Ptolomeu I coube o Egito; a Antigonus I coube a Grécia e a Macedônia; e a Seleucos I coube a Ásia Menor. 
Seleucos I Nicator
Estes acontecimentos encerraram o tempo do poder persa e introduziram a helenização de todo o Oriente Médio. Os judeus continuaram falando aramaico e praticando a religião durante os tempos persas. Mas o período helenístico conduziu a conflitos culturais e políticos muito violentos, finalmente conduzindo à revolta contra o Império Romano (66 DC) durante a qual Judá, Jerusalém e o Templo (símbolo de independência político-religiosa) foram destruídos pela segunda vez.
Entre 332 e 167 AC, após a conquista de Alexandre, Israel foi primeiro governado pelo Egito e então pela Ásia Menor. Isso ocorreu quando Antíoco IV “Epifânio” (“um manifesto de Deus”), um rei selêucida (da dinastia Selêucida, grega, fundada por Seleucos I), invadiu o reino ptolomaico do Egito em 168 AC, aparentemente sem o apoio judeu. É preciso que se tenha em mente que, nessa época, o reino de Judá possuía mínima expressão política em todo o Oriente Próximo, apenas tratando de sobreviver entre o Egito, de um lado, e o império Selêucida, do outro, enquanto fazendo alianças ora com um, ora com outro e sofrendo as consequências de tais alianças.
Antíoco IV Epifânio
Tudo começou quando o Alto Sacerdote Simão II morreu, em 175 AC, e o conflito irrompeu entre os simpatizantes de seu filho Onias III (que se opunha à helenização e apoiava os Ptolomeus) e seu filho Jason (que apoiava a helenização e os Selêucidas). Seguiu-se um período de intriga política com sacerdotes como Menelaus subornando o rei para conquistar o Alto Sacerdócio e acusações de assassinato de disputantes ao título. O resultado foi uma breve guerra civil durante a qual os Tobias, um grupo de filosofia helenística, conseguiram colocar Jason na posição de Alto Sacerdote. Em 175 AC a crise chegou ao clímax quando Jason estabeleceu uma arena para jogos públicos próxima do Templo, segundo estudiosos “convertendo Jerusalém numa cidade grega com ginásios e efebos. 
Simão II Macabeu
Em 167 AC, Antíoco IV respondeu à guerra civil em Jerusalém atacando a cidade e ignorando a pressão da República Romana para se retirar. Ele colocou como fora da lei a prática da religião dos judeus, prometendo a morte a todos os que circuncisassem seus filhos, mantivessem as leis da alimentação “kashrut” (conjunto das leis religiosas judias sobre a alimentação) ou mantivessem o Sabá. Ele realizou o que, na profecia de Daniel, foi denominada a “abominação da desolação”: a profanação do Templo, em Jerusalém, com o sacrifício de um porco ao deus grego Zeus.


Na próxima postagem, continuação da HISTÓRIA DO POVO HEBREU .... com a PARTE 2.