Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

quarta-feira, 12 de abril de 2017

UMA PEQUENA HISTÓRIA DOS ÁRABES MUÇULMANOS (Parte 3)

III.5 – CONQUISTA DO MAGREBE (670-710)
Uqba ibn Nafi,
conquistador do norte da África

O domínio bizantino no noroeste da África, ao tempo, era principalmente confinado às planícies costeiras, enquanto as comunidades berberes controlavam o resto. Em 670 os árabes fundaram o povoamento de Qayrawan, a oeste da atual Tunísia, que deu lhes uma base avançada para sua expansão posterior. Os historiadores muçulmanos creditam ao general Uqba ibn Nafi a subsequente conquista de terras que se estenderam até a costa do Atlântico, embora pareça ter sido uma incursão temporária. O chefe berbere Kusayla e uma enigmática líder de nome Kahina (profetisa ou sacerdotisa) parecem ter montado uma resistência efetiva, embora de curta vida, ao domínio muçulmano, ao final do século VII, mas as fontes não dão um quadro claro de tais eventos. As forças árabes capturaram Cartago (Tunísia), em 698, e Tânger (Marrocos), cerca de 708. Após a queda de Tânger, muitos berberes se juntaram ao exército muçulmano. Em 740, o domínio Omíada na região foi sacudido por uma importante revolta berbere que também envolveu os muçulmanos kharijite (grupo surgido durante a crise de liderança com a morte de Maomé) berberes. Após uma série de derrotas, o califado pôde finalmente abafar a rebelião em 742, embora as dinastias berberes locais permanecessem fora do controle imperial daí em diante.
A perda do Egito e da Síria, seguida da invasão do Exarcado da África[1], também significou que o Mediterrâneo, há muito referido como o “Lago Romano”, era agora contestado entre duas potências: o Califado Muçulmano e o Império Bizantino. Nestes eventos, o Império Bizantino, embora amargamente testado, poderia manter-se na Anatólia, enquanto as poderosas muralhas de Constantinopla a salvassem durante dois grandes cercos árabes, do mesmo destino do Império Persa.
De acordo com Will Durant, em sua “História da Civilização”, a conquista da região começou para proteger o Egito de um ataque pelo flanco, da Cirene[2] bizantina. Um exército de 40.000 muçulmanos avançou através do deserto, conquistando Barca e marchando até as vizinhanças de Cartago, derrotando na passagem um exército de 20.000 bizantinos. Seguiu-se uma força de 10.000 árabes, conduzida pelo general Uqba ibn Nafi e engrossada por milhares de outros. Partindo de Damasco o exército marchou ao norte da África tomando a vanguarda. Em 670 a cidade de Kairouan (160 km ao sul da atual Túnis, já na Tunísia) foi estabelecida como refúgio e base de operações posteriores, tornando-se a capital da província islâmica de Ifriqiya, que cobriria as regiões costeiras das modernas Líbia ocidental, Tunísia e Argélia oriental. Depois disso, o general penetrou no coração do país, atravessando o deserto em que seus sucessores erigiram a esplêndida capital do Marrocos, Fes; com o tempo, acabou por atingir a borda do Atlântico e do deserto do Saara. Em sua conquista do Magrebe, ele sitiou a cidade costeira de Bugia, na Argélia, e Tânger, no Marrocos, subjugando o que havia uma vez sido a tradicional província romana de Mauritânia Tingitana[3].
Mas aqui eles pararam e foram repelidos parcialmente. Por uma rebelião universal contra a ocupação muçulmana dos territórios bizantinos e africanos, Uqba foi chamado das praias do Atlântico; em seu retorno, uma coalizão Berbere-Romana emboscou e destruiu suas forças próximo de Biskra, matando Uqba e liquidando suas tropas. O terceiro general ou governador da África, Zuheir, vingou o destino de seu antecessor, subjugando a população nativa em várias batalhas; mas acabou sendo também derrotado por um poderoso exército enviado por Constantinopla para a libertação de Cartago.
Entrementes, uma nova guerra civil entre rivais pela monarquia, explodiu na Arábia e Síria, resultando numa série de quatro califas entre a morte de Muawiya, em 680, e a ascensão de Abd al-Malik ibn Marwan (Abdalmalek), em 685; a luta terminou em 692 com a morte do líder rebelde e o retorno à ordem doméstica que permitiu ao califa reiniciar a conquista do norte da África, com nova invasão da Ifriqiya. A tarefa coube a Hassan, governador do Egito, que tinha como principal tarefa a conquista da linha da costa, ainda nas mãos dos bizantinos. Hassan subjugou e pilhou Cartago, a metrópole da África. O Império Bizantino respondeu com tropas de Constantinopla, unidas a soldados e navios da Sicília e um poderoso contingente de Visigodos da Espanha, obrigando o exército árabe invasor a retroceder para Kairouan. Na primavera seguinte, contudo, os árabes lançaram um novo assalto por mar e terra, forçando os bizantinos e seus aliados a evacuarem Cartago. Os árabes assassinaram todos os civis, destruíram totalmente a cidade, incendiando-a a seguir, deixando a área desolada pelos próximos dois séculos. Após a partida da força principal e seus aliados, os árabes venceram outra batalha próximo de Utica (a noroeste de Cartago), obrigando os bizantinos a abandonarem o norte da África para sempre. A tais fatos seguiu-se uma rebelião berbere contra os novos governantes árabes, que Hassan não teve capacidade de sufocar; as conquistas de uma era foram perdidas num dia e o chefe árabe, sufocado pela revolta, retirou-se para os confins do Egito.
Cinco anos se passaram antes que Hassan recebesse novas tropas do Califa e retornasse ao norte da África sacrificada pelo reino berbere. Em 698 os árabes haviam tomado a maior parte da região aos bizantinos, dividindo-a em três província: Egito, com seu governador em al-Fustat; Ifriqiya, com seu governador em Kairouan; e o Magrebe (atual Marrocos), com seu governador em Tânger. Musa bin Nusair, um general iemenita de sucesso na campanha foi feito governador da Ifriqiya, com a responsabilidade de debelar uma nova revolta berbere e converter a população ao Islam. Musa e seus dois filhos obtiveram êxito, assassinaram os civis e escravizaram 300.000 prisioneiros, dos quais 30.000 foram enquadrados no serviço militar. Musa ainda construiu uma frota para combater a marinha bizantina e com ela conquistou as ilhas cristãs de Ibiza, Majorca e Minorca, avançando no Magrebe e tomando Argel em 700. 
A Ilha de Ceuta, no Estreito de Gibraltar
Em torno de 709, todo o norte da África estava sob controle do califado árabe, com exceção de Ceuta, nos Pilares de Hércules[4] africanos. Nessa época, a população de Ceuta incluía muitos refugiados de uma danosa guerra civil visigótica que eclodira na Espanha antiga, incluindo a família e confederados do falecido rei Wittiza, cristãos arianos fugindo de conversões forçadas nas mãos da igreja católica visigótica e judeus. Entretanto, Musa contava com a simpatia de Julian, governante de Ceuta. Na primavera de 710, Tariq ibn Ziyad, um berbere, escravo livre e general muçulmano, tomou Tânger; Musa o fez governador da região apoiado por um exército de 6.700 homens.

III.6 – CONQUISTA DA TRANSOXIANA (673–751)
Mapa da Transoxiana e Khurasan no século VIII

A Transoxiana é a região a nordeste do Iran, além do rio Oxus ou Amu Darya, grosseiramente correspondendo aos atuais Uzbequistão, Tajiquistão e partes do Cazaquistão. As incursões iniciais através do rio Oxus, objetivaram Bukhara (673) e Samarkand (675) e seus resultados ficaram limitados a promessas de pagamento de tributo. Os avanços posteriores foram retardados por 25 anos por sublevações políticas no califado Omíada, seguidas por uma década de rápido progresso militar sob a liderança do novo governador de Khurasan, Qutayba ibn Muslim, que incluiu a conquista de Bukhara e Samarqand em 706-712 (ver figura anterior). A expansão perdeu o seu momento quando Qutayba foi morto durante um motim do exército e os árabes foram colocados na defensiva, por força de uma aliança entre os exércitos de Sogdia e Turgesh com apoio da China da dinastia Tang. Contudo, reforços da Síria viraram a maré e muitas das terras perdidas foram reconquistadas por 741. O poder muçulmano sobre a Transoxiana foi consolidado uma década mais tarde quando um exército conduzido por chineses foi derrotado na Batalha de Talas, em 751.

III.7 – CONQUISTA DO SINDH (711–714)
Sindh, área rosa claro no sudeste do Paquistão,
com sua capital Carachi

O Sindh é das quatro províncias do Paquistão, a terceira maior em área e a segunda maior em população, após Punjab, localizada na região sudeste do país. Desenvolve-se ao longo do rio Indus, que desemboca no Mar Arábico e tem como capital a maior cidade do Paquistão, Carachi.
Embora durante os anos 660 generais árabes tivessem feito incursões esporádicas na direção da Índia e uma pequena guarnição fosse estabelecida na árida região de Makran, nos anos 670, a primeira campanha em grande escala no vale do Indus ocorreu quando o general Muhammad bin Quasim invadiu Sindh em 711, em marcha costeira através do Makran[5]. Três anos mais tarde os árabes controlavam todo o baixo vale do Indus, com a maioria das cidades submetidas ao controle árabe mediante tratados de paz, mas outras tendo oferecido uma feroz resistência, principalmente pelas forças do Rajá Dahir, último governante hindu do Sidh, na importante cidade de Debal, bem próximo de Karachi. Incursões árabes em direção ao sul de Sindh foram repelidas pelos exércitos de Gurjara e Chalukya e a expansão islâmica posterior foi coibida pelo Império Rashtrakuta (dinastia real da Índia) que ganhou o controle da região logo em seguida.

III.8 – CONQUISTA DA ESPANHA E SEPTIMÂNIA (711–721)
Em azul e marrom (Septimânia), grosseiramente, a França;
em amarelo, a Espanha

A Septimânia era a região oeste da província romana da Galia Narbonensis (o sul da França), que passou ao controle dos visigodos em 462, quando cedida ao seu rei, Teodorico II.
A conquista da Península Ibérica foi notável por sua brevidade e falibilidade das fontes disponíveis. Após a morte do rei visigodo da Espanha, Wittiza, em 710, o reino passou por um período de divisão política. Em 711 Musa ordenou que os mouros, sob a liderança do general africano berbere, Tariq ibn-Ziyad, invadissem a Espanha cristã dos visigodos, o que foi realizado pelo desembarque, de Ceuta, em navios fornecidos por Julian, seu governador. Tariq lançou-se sobre a Península Ibérica, derrotou Roderico, sitiando a capital do Reino, Toledo. Com seus exércitos árabes e berberes, os muçulmanos avançaram capturando, uma após a outra, todas as cidades do reino gótico, algumas delas com a concordância do pagamento de tributo e com a aristocracia local mantendo algo de sua influência prévia. 
Tariq ibn Ziyad, general omíada de origem berbere,
conquistador da Península Ibérica
Pelo ano 713 a Ibéria estava quase totalmente sob o controle muçulmano e os eventos dos 10 anos seguintes, com detalhes obscuros, incluíram a captura de Barcelona, Narbonne e uma incursão sobre Toulose seguida de uma expedição a Burgundy, em 725. A última incursão de grande escala para o norte acabou com uma derrota dos muçulmanos na Batalha de Tours, nas mãos dos francos, comandados pelo franco Charles Martel, em 732.
Os mouros dominaram a península Ibérica – exceto por áreas ao noroeste (como as Astúrias, onde foram parados na batalha de Covadonga) - e a maior parte das regiões bascas, nos Pirineus, por séculos, e embora o número de mouros fosse pequeno, eles ganharam um grande número de convertidos.
A Revolução Abássida foi a derrubada do Califado Omíada (661-750 DC), o segundo dos quatro maiores califados do início da história islâmica, pelo Califado Abássida (750-1258 DC). Chegando ao poder três décadas após a morte de Maomé e imediatamente após o Califado Rashidun, os Omíadas constituíram um império feudal árabe que governou sobre uma população constituída esmagadoramente por não árabes e primariamente por não muçulmanos. Os não árabes eram tratados como cidadãos de segunda classe, fossem ou não convertidos ao islamismo, e tal situação, desprezando diversas fés e etnias, conduziu finalmente à derrocada dos Omíadas, com a família Abássida reivindicando descendência de al-Abbas, um tio de Maomé. A revolução definitivamente marcou o fim do Império Árabe e o início de um Estado mais inclusivo e multiétnico no Oriente Médio; lembrada como uma das mais bem organizadas revoluções durante seu período na história, ela reorientou o foco do mundo islâmico para o oriente. 
Na Batalha de Tours, a vitória do franco Charles Martel
À época da revolução Abássida, no meio do século VIII, os exércitos muçulmanos enfrentavam uma combinação de barreiras naturais e estados poderosos que impediram um progresso militar adicional. As guerras produziam retornos decrescentes em ganhos pessoais e os soldados abandonavam o exército por ocupações civis. As prioridades dos dirigentes também se alteraram da conquista de novas terras para a administração do império adquirido. Embora a era abássida testemunhasse alguns novos ganhos territoriais, como a conquista da Sicília e de Creta, o período de rápida expansão cedia espaço a uma era onde a expansão do islamismo seria lenta e realizada através dos esforços de dinastias locais, missionários e comerciantes. É por essa razão mesma, que encerramos aqui o detalhamento das conquistas árabes.

IV – RESULTADOS ATÉ 750

As vitórias militares a partir da Península Arábica anunciaram a expansão da cultura e religião dos árabes. As conquistas foram seguidas por uma migração em grande escala de famílias e tribos inteiras da Arábia para as terras do Oriente Médio. Os árabes conquistadores já possuíam uma sociedade complexa e sofisticada. Emigrantes do Iêmen levaram consigo tradições agrícolas, urbanas e monárquicas; membros das confederações tribais dos Ghassânida e Lakhmid possuíam experiência na colaboração com os impérios. A hierarquia e as unidades dos exércitos foram tiradas das tribos nômades e sedentárias, ao passo que a liderança veio, principalmente, da classe mercante Hejaz (região a oeste da atual Arábia Saudita, que abriga Meca e Medina).
Duas políticas fundamentais foram implementadas durante o reino do segundo califa Omar (634-644): os árabes não danificariam a produção agrícola das terras conquistadas e a liderança cooperaria com as elites locais. Para esse fim os exércitos árabes eram fixados em alojamentos segregados ou em novas cidades guarnições. Aos soldados eram pagos salários e eram proibidos de apoderar-se de terras. Governadores árabes supervisionavam a coleta e distribuição de impostos deixando as anteriores ordens religiosa e social intactas. Inicialmente muitas províncias retiveram um grande grau de autonomia por acordos com os comandantes árabes; com a passagem do tempo, os conquistadores buscaram ampliar seu controle sobre os negócios locais e fazer funcionar a máquina administrativa para o novo regime, o que envolveu muita reorganização. Na região mediterrânea, cidades-estados que tradicionalmente se autogovernavam foram substituídas por uma burocracia territorial que separava a administração urbana da rural. No Egito, estados e municipalidades finalmente independentes foram abolidos em favor de um sistema administrativo simplificado. No Irã, foram feitas a reorganização administrativa e a construção de muralhas de proteção à aglomeração de quadras e vilas em grandes cidades. Locais notáveis do Irã, que antes possuíam quase completa autonomia, foram incorporados na burocracia central no período Abássida.
A sociedade dos novos povoados árabes gradualmente se estratificou em classes, baseadas na riqueza e no poder. Também foi reorganizada em novas unidades comunais que preservaram nomes do clã e tribais, mas foram de fato apenas frouxamente baseados em velhos vínculos de parentesco. Os colonizadores árabes se dirigiram a ocupações civis e em regiões orientais se estabeleceram como uma aristocracia fundiária. Ao mesmo tempo, as distinções entre os conquistadores e populações locais começaram a desaparecer. No Irã os árabes assimilaram muito da cultura local adotando a língua, costumes e casando com mulheres persas. No Iraque, colonizadores não árabes juntaram-se a cidades-fortes. Soldados e administradores do antigo regime vieram para buscar suas fortunas com os novos mestres, ao passo que escravos, trabalhadores e camponeses fugiram para lá escapando das duras condições de vida no campo. Não árabes convertidos ao Islã foram absorvidos na sociedade árabe muçulmana através de uma adaptação da instituição árabe tribal de clientela, em que a proteção do poderoso era trocada pela lealdade dos subordinados. Os clientes e seus herdeiros eram vistos como membros virtuais dos clãs, que se tornavam cada vez mais, econômica e socialmente, estratificadas.
Contrariamente à crença de escritores mais antigos, não há evidência de conversões em massa ao Islamismo como consequência imediata das conquistas. Os primeiros grupos a se converterem foram tribos árabes cristãs, embora algumas delas tivessem mantido sua religião na era Abássida, mesmo quando servindo às tropas do califado. Foram seguidos pelas antigas elites do Império Sassânida, cuja conversão ratificou seus velhos privilégios. Com o tempo, o enfraquecimento das elites não muçulmanas facilitou o colapso dos velhos laços comunais e reforçou os incentivos de conversão que prometiam vantagens econômicas e mobilidade social. Pelo início do século VIII, as conversões tornaram-se uma questão política para o califado. Foram favorecidas por ativistas religiosos e muitos árabes aceitaram a igualdade de árabes e não árabes. Contudo, a conversão foi associada a vantagens econômicas e políticas e as elites muçulmanas relutavam por ver seus privilégios diluídos. A política pública, com relação aos convertidos, variava dependendo da região e se alterava com os sucessivos califas Omíada. Estas circunstâncias provocaram a oposição dos convertidos não árabes cujas classes incluíam muitos soldados ativos e ajudaram a montar o cenário para a guerra civil que acabou com a dinastia Omíada. 
O Califado Omíada em sua maior extensão
Em sua “História do Declínio e Queda do Império Romano”, Edward Gibbon escreve: “Sob o último dos Omíadas (750), o império árabe estendia-se por uma jornada de duzentos dias de leste para oeste, dos confins da Tartária e Índia às margens do Oceano Atlântico .... A língua e as leis do Corão foram estudadas com igual devoção em Samarcand (cidade do atual Uzbequistão e uma das mais antigas cidades habitadas da Ásia Central) e Sevilha: o mouro e o indiano juntos, como cidadãos e irmãos de peregrinação em Meca; e a língua árabe adotada como idioma popular em todas as províncias a oeste do Tigre.”
Em sua maior extensão, o Califado Omíada cobriu 11.100.000 km2 e 62 milhões de pessoas (29% da população mundial à época), tornando-o um dos maiores impérios da história, tanto em área quanto em população.
As conquistas muçulmanas alavancaram o colapso do Império Sassânida e uma grande perda territorial do Império Bizantino. As razões do sucesso muçulmano são difíceis de encontrar em retrospectiva, principalmente porque somente fontes fragmentárias do período sobreviveram. A maioria dos historiadores concorda que os impérios Sassânida Persa e Bizantino Romano foram militar e economicamente exauridos por décadas de luta entre si. Muitos judeus e cristãos do Império Sassânida e judeus e monofisistas (Cristo com uma só natureza divina após a encarnação) da Síria, encontravam-se descontentes e bem receberam as forças muçulmanas, principalmente pelo conflito religioso entre os dois impérios; em outras vezes, árabes cristãos se aliaram com os persas e bizantinos contra os invasores muçulmanos. Outros autores sugerem que a formação de um Estado na Península Arábica, além da ideológica (religiosa) coerência e mobilização, foram a razão primária para que os exércitos muçulmanos pudessem, no espaço de apenas cem anos, estabelecer o maior império pré-moderno até aquele tempo.

[1] O Exarcado da África ou de Cartago, por sua capital, era o nome da divisão administrativa do Império Bizantino envolvendo suas possessões no Mediterrâneo Ocidental, governada por um exarca (vice-rei). Foi criado pelo imperador Mauricius ao final dos anos 580’ e sobreviveu até a conquista muçulmana ao final do século VII.
[2] Cirene (ou Cirena) foi uma antiga cidade grega e romana, próxima da atual Shahhat, Líbia. Era a mais antiga e importante das cinco cidades gregas da região. Deu à Líbia oriental o nome clássico Cirenaica (já mencionado acima), que reteve até tempos modernos.
[3] Com a morte de Ptolomeu de Mauritânia, seu último rei, em 40 DC, o imperador romano Claudius dividiu o reino em duas províncias romanas: Mauritânia Tingitana e Mauritânia Caesariensis, separadas pelo rio Mulucha, localizado a 60 k, a oeste da moderna Oran, Argélia. A Mauritânia Tingitana (latim para “Mauritânia Tangerina”) coincidia, grosseiramente, com a parte norte do atual Marrocos e sua capital era a moderna Tânger.
[4] “Pilares de Hércules” foi a expressão aplicada na antiguidade aos promontórios que flanqueiam a entrada ao Estreito de Gibraltar. O pilar norte, Cabo Mons, é a Rocha de Gibraltar (parte do território ultramarino britânico de Gibraltar). O pico correspondente, no norte da África, Abila Mons, sem ser predominante, tem sua identidade (a do pilar sul) disputada ao longo da história, entre o Monte Hacho, em Ceuta, e Jebel Musa, no Marrocos. Ceuta é uma cidade espanhola autônoma de 18,5 km2, localizada na costa norte da África, repartindo a fronteira oeste com o Marrocos; separada da Península Ibérica pelo Estreito de Gibraltar, Ceuta se situa ao longo da divisa entre o mar Mediterrâneo e o oceano Atlântico.
[5] O Makran é uma faixa costeira semidesértica no Baloquistão (outra das províncias do Paquistão) e Irã, ao longo da costa do golfo Pérsico e golfo de Omã.

A postagem prossegue com a PARTE 4

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