V – DINASTIA ABÁSSIDA
O califado abássida foi o terceiro dos califados islâmicos (após Maomé). Como dissemos antes, tal dinastia era descendente do tio mais jovem de Maomé, Abbas ibn Abd al-Muttalib (566-653), de quem a dinastia tomou o nome. A dinastia governou, pela maior parte do seu período, de sua capital em Bagdá (no atual Iraque), após assumir controle sobre o Império Muçulmano dos Omíadas em 750. Inicialmente o governo foi centrado em Kufa (170 km ao sul da atual Bagdá), mas em 762 o califa Al-Mansur fundou a cidade de Bagdá, ao norte da capital sassânida de Ctesiphon. A escolha da nova capital, tão próxima da Pérsia, refletia a crescente confiança nos burocratas persas, notavelmente a família Barmakid, para governar os territórios conquistados pelos muçulmanos, além da crescente inclusão de muçulmanos não árabes na comunidade. A despeito dessa colaboração inicial, os abássidas do final do século VIII alienaram os cooperantes muçulmanos não árabes e os burocratas iranianos, sendo forçados a ceder autoridade sobre Al-Andalus e Magrebe aos Omíadas, Marrocos à dinastia Idríssida, a Ifriqiya (praticamente a atual Tunísia) à dinastia Aghlabid e o Egito ao califado shiita[1] dos Fatímidas (falaremos logo desta dinastia). O poder político dos califas, praticamente, acabou, com a ascensão dos buídas[2] e dos turcos seljúcidas[3]. Embora a liderança abássida sobre o Império Islâmico fosse gradualmente reduzida a uma função cerimonial religiosa, a dinastia manteve o controle sobre suas terras mesopotâmicas. A capital Bagdá tornou-se um centro de ciência, cultura, filosofia e invenções durante a Idade Áurea do Islã.
Papa Urbano II, iniciador das Cruzadas |
Foi bem depois dessa época a ocorrência da Primeira Cruzada, primeira de uma série de Cruzadas envolvidas com a retomada de Jerusalém que, como sabemos, havia caído em 638, durante a conquista do Levante, incluída no rol das primeiras conquistas muçulmanas, então em poder dos romanos. Tal Cruzada, convocada pelo Papa Urbano II em 1095, começou como uma peregrinação difundida pela Cristandade ocidental e terminou como uma expedição militar da Europa Católica Romana para reconquistar a Terra Santa (como sinônimo de Israel). Ela respondeu a um apelo do Imperador Bizantino (Romano) Alexios I Komnenos, que pediu que voluntários do ocidente viessem em sua ajuda para repelir a invasão dos turcos seljúcidas da Anatólia. Um objetivo adicional logo transformou-se na principal meta: a reconquista cristã da sagrada cidade de Jerusalém e da Terra Santa e a libertação de cristãos orientais do domínio islâmico. Cavalheiros, camponeses e servos de várias regiões da Europa Ocidental viajaram por terra e mar, primeiro a Constantinopla e, posteriormente, para Jerusalém. Os Cruzados chegaram em Jerusalém, lançaram um assalto à cidade e a capturaram em julho de 1099, massacrando muitos dos habitantes muçulmanos e judeus da cidade. E estabeleceram os estados cruzados do Reino Latino de Jerusalém (ao sul do Levante), o Condado de Trípoli, o Principado da Antioquia e o Condado de Edessa. Lembrar que o Levante havia sido conquistado pelos muçulmanos, entre 634 e 641, ainda durante a dinastia Rashidun, com Jerusalém caindo em 638, quando foi construída a mesquita de Al Aqsa. O Reino Cruzado durou praticamente 200 anos, até 1291, quando a última possessão, Acre (litoral norte de Israel), foi destruída pelos mamelucos, mas sua história foi dividida em dois períodos: o chamado Primeiro Reino de Jerusalém durou de 1099 a 1187, quando foi quase inteiramente devastado por Saladino; após a Terceira Cruzada, o Reino foi restabelecido no Acre, em 1192, e durou até a destruição da cidade, em 1291, como veremos adiante. Este segundo reino é muitas vezes chamado de Segundo Reino de Jerusalém ou Reino do Acre, sua nova capital. A Primeira Cruzada foi o primeiro passo importante para a reabertura do comércio internacional no ocidente, desde a queda do Império Romano do Ocidente.
Papa Eugênio III, anunciador da Segunda Cruzada |
A Segunda Cruzada (1147-1149) foi deflagrada em resposta à queda do Condado de Edessa (fundado durante a Primeira Cruzada, pelo Rei Baldwin de Bolonha, em 1098), em 1146, para Imad ad-Din Zengi. A Segunda Cruzada foi anunciada pelo Papa Eugênio III e foi a primeira conduzida por reis europeus – Luís VII da França e Conrado III da Alemanha – com a ajuda de outros nobres europeus. Os dois exércitos marcharam separadamente pela Europa e após atravessarem o território Bizantino para a Anatólia, ambos foram, separadamente, derrotados pelos turcos Seljúcidas. Fontes fidedignas dizem que o Imperador Bizantino Manuel I Komnenos, por temer os procedimentos cruzados, secretamente retardou o seu progresso, particularmente na Anatólia, onde ele, deliberadamente, ordenou aos turcos que os atacassem. Luís VII e Conrado III, com os restantes de seus exércitos, alcançaram Jerusalém e, em 1148, participaram de um ataque mal coordenado a Damasco. No Oriente, a Segunda Cruzada foi um grande fracasso e uma grande vitória para os muçulmanos. O seu grande sucesso veio com uma força combinada de belgas, frísios (das costas holandesa e germânica), normandos (norte da França), ingleses, escoceses e alemães, em 1147. Viajando da Inglaterra, de navio, para a Terra Santa, a Cruzada fez uma parada e ajudou o pequeno exército português na captura de Lisboa, expulsando os ocupantes mouros, como parte da Reconquista da Europa.
Hulagu Khan, o mongol que decretou o fim da idade áurea do Império Islâmico |
Retornando à dinastia Abássida, a Idade Áurea do Islã, já dividido por uma série de dinastias, terminou em 1258, com a invasão e o saque de Bagdá pelos mongóis, sob Hulagu Khan (neto de Genghis Khan e irmão de Kublai Khan), quando lá reinava o último califa abássida Al-Musta’sim, um descendente direto do tio de Maomé, Abbas ibn Abd al-Muttalib. Em 1206, Genghis Khan estabelecera uma poderosa dinastia entre os mongóis da Ásia Central. Durante o século XIII, esse Império Mongol conquistou a maior parte da Eurásia, incluindo a China, no leste, e grande parte do antigo califado islâmico, no oeste. A destruição de Bagdá por Hulagu Khan em 1258, é tradicionalmente vista como o final da Idade Áurea do Império Islâmico. O último califa abássida Al-Musta’sim foi enrolado em um tapete e pisoteado por cavalos até a morte, em 20 de fevereiro de 1258. A família imediata do califa também foi executada, com exceção do seu filho mais jovem, enviado para a Mongólia, e uma filha que se tornou escrava no harém de Hulagu.
Al-Musta'sim, o último califa Abássida de Bagdá |
No século IX, os abássidas haviam criado, em Bagdá, um exército leal apenas ao seu califado, composto por povos de origem não árabe, que ficaram conhecidos por Mamelucos. Essa força, criada no reino de al-Ma’mun (813-833) e de seu irmão e sucessor, al—Mu’tasim (833-842), evitou uma maior desagregação do Império. O exército mameluco, muitas vezes visto negativamente, ajudou e prejudicou o califado. Inicialmente ele garantiu ao governo uma força estável para cuidar de problemas domésticos e externos. Contudo, a criação desse exército de estrangeiros e a transferência da capital do Império de Bagdá para Samarra[4], no Iraque Central, criou uma divisão entre o califado e os povos que governava; além disso, o poder dos mamelucos cresceu persistentemente até que al-Radi (934-941) teve que passar a maior parte das funções reais para Muhammad ibn Ra’iq, oficial sênior desse exército e os mamelucos acabaram chegando ao poder no Egito, Levante e Hejaz. Esta dinastia dos mamelucos durou da queda da dinastia Aiúbida (que reinou entre 1171 e 1260), dinastia muçulmana de origem curda, fundada por Saladino e centrada no Egito, até a conquista otomana do Egito (1517).
Em 1261, após a devastação de Bagdá pelos mongóis, os governantes mamelucos do Egito restabeleceram o califado abássida no Cairo, com Al-Mustansir, seu primeiro califa no Cairo. Os califas abássidas – e a cultura islâmica, em geral - continuaram a manter a presença de autoridade, mas confinada a questões religiosas, até a conquista otomana do Egito, quando reinava Al-Mutawakkil III, levado como prisioneiro, por Selim I, para Constantinopla. A partir deste momento o mundo árabe praticamente passou a ser dominado pelo Império Turco Otomano.
VI – DINASTIA AIÚBIDA
Saladino, Sultão da Síria e do Egito, oposição maior às Cruzadas no Levante |
Embora algo fora do contexto e da cronologia, estamos abrindo um capítulo especial dedicado à Dinastia Aiúbida, porque foi mencionada há pouco e pelo importante papel que ela representou nas guerras pela conquista de Jerusalém e pelo seu envolvimento com as Cruzadas.
A Dinastia Aiúbida, cujo nome vem de seu pai, Najm ad-Din Ayyub, era uma dinastia islâmica de origem Curda[5], fundada por Saladino e centrada no Egito. A dinastia governou muito do Oriente Médio durante os séculos XII e XIII. Saladino havia sido o Vizir[6] do Egito Fatímida antes de extingui-la no ano 1171. Tal dinastia foi outra das dinastias muçulmanas que governou no norte da África, com centro no Egito, cujo nome deriva de Fatima bint Muhammad, a filha do profeta Maomé.
Em 1164, Nur al-Din (Nur ad-Din), membro da dinastia turca Zengid, que governou a província síria do Império Seljúcida de 1146 a 1174, enviou Shirkuh (tio de Saladino, irmão de seu pai) com uma força expedicionária para evitar o estabelecimento de uma forte presença dos Cruzados num Egito então crescentemente anárquico. Shirkuh recrutou Saladino como um oficial sob seu comando e juntos destituíram Dirgham, vizir do Egito, reinstalando seu predecessor Shawar. Após reinstalado, Shawar ordenou a retirada de Shirkuh do Egito com suas forças. Este negou-se a retirar-se pois lá estava sob as ordens de Nur al-Din. Em alguns anos, Shirkuh e Saladino derrotaram as forças combinadas dos Cruzados e de Shawar, com a batalha final em Alexandria, onde Saladino permaneceu para proteger enquanto Shirkuh perseguia as forças cruzadas pelo baixo Egito.
Shawar morreu em 1169 e Shirkuh tornou-se vizir, morrendo mais tarde no mesmo ano. Com sua morte, Saladino foi feito vizir pelo califa fatímida al-Adid, do Egito, tornando-se mais independente, para temor de Nur al-Din. Em 1171 Al-Adid morreu de causas naturais e Saladino, aproveitando o vácuo do poder, efetivamente tomou o controle do país, mudando a sujeição do Egito para o califado abássida de Bagdá, que aderira ao islamismo Sunni. Saladino consolidou seu controle no Egito ao enviar, ao final de 1172, seu irmão mais velho, Turan-Shah, para abafar uma revolta no Cairo, encenada por 50.000 núbios do exército fatímida. Após este sucesso, Saladino começou a entregar, a seus parentes, altos postos do país e a aumentar a influência do Islamismo Sunni (mais puro islamismo) sobre o Islamismo Shia, que dominava no Cairo, pela construção de numerosas escolas de direito islâmico nas principais cidades.
Embora ainda nominalmente um vassalo de Nur al-Din, Saladino adotou uma política externa cada vez mais independente, que tornou-se mais pronunciada, publicamente, após a morte de Nur al-Din em 1174. Daí para a frente, Saladino dedicou-se à conquista da Síria dos Zengids e, em 23 de novembro deste ano, foi aclamado em Damasco pelo governador da cidade. Em 1175 ele tinha o controle de Hama (cidade nas margens do rio Orontes, na Síria centro-oeste, a 213 km de Damasco) e Homs (cidade no rio Orontes, Síria Ocidental, a 162 km ao norte de Damasco), mas falhou na tomada de Alepo (norte da atual Síria). O sucesso de Saladino alarmou o emir Saif al-Din, de Mosul (cidade do Iraque, na margem ocidental do rio Tigre, a 400 km ao norte de Bagdá), líder dos Zengids à época, que via a Síria como estado de sua família e usurpada por um antigo servo de Nur al-Din. Ele reuniu um exército para enfrentar Saladino próximo de Hama e foi por ele derrotado. Após essa vitória Saladino proclamou-se rei. O califa abássida em Bagdá, al-Mustadi, graciosamente aclamou a sua subida ao poder e deu-lhe o título de Sultão[7] do Egito e da Síria, recebendo em troca a lealdade de Saladino (não esquecer que o Egito se encontrava então, sob o domínio abássida).
Em 1177 Saladino conduziu uma força de 26.000 soldados ao sul da Palestina, após ter ciência de que soldados do Reino de Jerusalém estavam sitiando Alepo. Subitamente atacados pelos Templários sob Baldwin IV de Jerusalém, próximo de Ramla (cidade no centro de Israel), o exército aiúbida foi derrotado na batalha de Montgisard, com a maioria dos soldados mortos. Saladino acampou em Homs, no próximo ano, quando ocorreram várias escaramuças entre suas tropas, comandadas por Farrukh Shah, e as tropas cruzadas. Saladino invadiu os estados cruzados pelo oeste, derrotando Baldwin na Batalha de Marj Ayyun, em 1179. No ano seguinte ele destruiu o recém construído castelo cruzado de Chastellet, na Batalha de Passo de Jacó. Na campanha de 1182, ele lutou novamente com Baldwin na indecisa batalha de Castelo Belboir, em Kawkab al-Hawa (norte do atual Israel).
Em maio de 1182, Saladino capturou Alepo após um breve sítio. Em seguida marchou para Harim, próxima da Antioquia, governada pelos cruzados, conquistando sua guarnição. A esse tempo, apenas Mosul possuía como governante um importante muçulmano rival dos aiúbidas, na figura de Izz al-Din al-Mas’ud. A possibilidade de uma união deste governante com o governador do Azerbaijão arrefeceu o ânimo de Saladino quanto a um novo ataque a Mosul. Um acordo foi negociado pelo qual al-Adil, irmão de Saladino, administraria Alepo em nome do seu filho al-Afdal, enquanto o Egito seria governado por al-Muzaffar Umar (sobrinho de Saladino) em nome de outro filho de Saladino, Uthman. Quando seus dois filhos chegassem à idade assumiriam o poder nos dois territórios, mas se um morresse, um dos irmãos de Saladino tomaria seu lugar. No verão de 1183, após devastar a Galileia Oriental, Saladino chegou à Batalha de al-Fule contra os cruzados de Guy de Lusignan, que acabou indecisa. Muitos confrontos aconteceram nesse período e, durante 1184 e 1185, uma paz relativa seguiu-se entre os Estados Cruzados e o Império Aiúbida que, por essa época mantinha sob seu controle o Egito, a Síria, o norte da Mesopotâmia, Hejaz, Iêmen e a Costa Norte Africana até a fronteira da atual Tunísia.
Saladino sitiou Tibérias, na Galileia Ocidental, em 3 de julho de 1187 e o exército cruzado tentou atacar os aiúbidas por Kafr Kanna (ao norte de Nazaré e associada à vila de Canaã do novo testamento). Em 4 de julho de 1187 foi travada a Batalha de Hattin, quando os cruzados foram batidos decisivamente pelos muçulmanos. Em 8 de julho o baluarte cruzado do Acre foi capturado por Saladino, enquanto suas forças capturavam Nazaré e Saffuriya (também ao norte de Nazaré). Outras cidades e vilas foram rapidamente tomadas e, finalmente, em 2 de outubro de 1187, o Reino de Jerusalém foi conquistado após negociações com Balian of Ibelin, o nobre cruzado local. Ao final de 1187 os aiúbidas controlavam virtualmente todo o reino cruzado no Levante, com exceção do Tiro, governado por Conrado de Montferrat. Em janeiro de 1188, Saladino reuniu um Conselho de Guerra onde decidiram pela retirada do Condado de Trípoli, às margens do Mediterrâneo, bem ao norte do atual Líbano.
Papa Gregório VIII, autor da bula que convocou a Terceira Cruzada |
O Papa Gregório VIII convocou uma “Terceira Cruzada”, contra os muçulmanos, no ano de 1187, em resposta à derrota do Reino Cruzado de Jerusalém, na Batalha de Hattin, por meio da Bula Papal “Audita Tremendi”. Atendendo ao apelo do Papa, Friedrich Barbarossa, do Sacro Império Romano, Philippe Auguste, da França e Richard the Lionheart (Ricardo Coração de Leão), da Inglaterra, formaram uma aliança para reconquistar Jerusalém. Enquanto isso, os cruzados e aiúbidas lutavam perto do Acre, ganhando reforços da Europa. De 1189 a 1191, o Acre foi sitiado pelos cruzados e embora um sucesso inicial dos muçulmanos, ele caiu às forças de Ricardo. À tomada seguiu-se o massacre de 2.700 habitantes muçulmanos e os cruzados planejaram tomar Ascalon, no litoral sul de Israel. Sob o comando unificado de Ricardo, os cruzados derrotaram Saladino na batalha de Arsuf, o que lhes permitiu a conquista de Jaffa e grande parte da costa Palestina, sem, entretanto, conseguir recuperas as regiões interiores. Em vez disso, Ricardo assinou com Saladino um tratado, em 1192, pelo qual restaurava o Reino de Jerusalém numa uma faixa costeira entre Jaffa e Beirute, ficando este como o último maior esforço da carreira de Saladino, que morreu no ano seguinte, 1193. Após a sua morte, seus filhos contestaram o controle sobre o sultanato, mas o irmão de Saladino, al-Adi, acabou por estabelecer-se como sultão em 1200 e todos os sultões posteriores do Egito foram seus descendentes, até 1249, quando assumiram os mamelucos (já que Egito e Síria se separaram em 1230 para se reunirem em 1247, novamente).
Ricardo I da Inglaterra, Coração de Leão |
A Quarta Cruzada (1202-1204) foi uma expedição armada da Europa Ocidental convocada pelo Papa Inocêncio III, com o objetivo original de conquistar a Jerusalém controlada pelos muçulmanos, através de uma invasão pelo Egito. Entretanto, uma sequência de eventos culminou com os Cruzados saqueando a cidade de Constantinopla, capital do Império Bizantino (Romano) controlado pelos cristãos. Em janeiro de 1203, a caminho de Jerusalém, a maioria da liderança cruzada entrou em acordo com o príncipe bizantino Alexios IV Angelos, para desviar a Constantinopla e restaurar seu pai, Isaac II Angelus, como imperador, deposto que fora por um golpe, em 1195, de seu tio, imperador Alexius III Angelus. A intenção dos cruzados era então prosseguir para a Terra Santa, com a promessa da assistência financeira e militar bizantina. Em 23 de junho de 1203, a principal frota cruzada atingiu Constantinopla enquanto os contingentes menores seguiram para o Acre. Em agosto de 1203, após conflitos fora de Constantinopla, Alexios Angelos foi coroado coimperador (como Alexios IV Angelos), com apoio cruzado,
na Igreja de Santa Sofia. Alexios foi coroado coimperador, porque o povo libertara seu pai e o queria como rei, com o que não concordaram os cruzados, pois ele havia sido cego e tornado inapto para governar. Contudo, em janeiro de 1204 Alexios foi deposto por um levante popular em Constantinopla. Com isso os cruzados perderam o seu prometido pagamento e quando Alexios foi assassinado em 8 de fevereiro de mesmo ano, os cruzados e venezianos decidiram pela completa conquista de Constantinopla. Em abril de 1204 eles capturaram e brutalmente saquearam a cidade, estabelecendo um novo Império Latino (Império Latino de Constantinopla) e repartindo outros territórios entre si. A resistência bizantina, baseada em seções não conquistadas do Império, como Niceia, Trebizonda e Épiro, acabaram por recuperar Constantinopla em 1261. Como vemos, a Quarta Cruzada, convocada como nova tentativa para a retomada de Jerusalém, não produziu qualquer impacto sobre os povos árabes, sendo citada apenas por fazer parte do grande grupo das Cruzadas. Entretanto, ela é considerada como um dos atos finais do Grande Cisma entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa Oriental, além de ponto chave no declínio do Império Bizantino e da Cristandade no Oriente Médio.
Inocêncio III, o Papa mais poderoso da história, segundo os historiadores |
[1] Shia é o substantivo; shiita é o adjetivo. Os shias (partido de Ali) são os membros do segundo maior ramo de crentes do Islamismo, constituindo 16% do total dos muçulmanos (o maior ramo é o dos muçulmanos sunitas, que são 84% da totalidade dos muçulmanos). Os shias consideram Ali, genro e primo do profeta Maomé, como o seu sucessor legítimo e consideram ilegítimos os três califas sunitas que assumiram a liderança da comunidade muçulmana após a morte de Maomé.
[2] O Império Buída ou Emirado Buída foi um Estado iraniano medieval shiita que existiu entre 934 e 1055. Foi governado pela dinastia buída, também referida como dinastia Buyida. Eles fundaram uma confederação que controlou a maior parte do Irã e do Iraque nos séculos X e XI.
[3] Os turcos seljúcidas ou Dinastia Seljúcida foi uma dinastia muçulmana Suni (o maior ramo do Islamismo) de turcos Oghuz (da Ásia Central, de língua oghuz) que, gradualmente, tornou-se uma sociedade pérsica, que muito contribuiu para a tradição turco-persa, na Ásia Central e Ocidental medieval. Os seljúcidas estabeleceram o Império Seljúcida e o Sultanato de Rum que, em seu ápice, estendia-se da Anatólia por todo o Irã.
[4] Samarra é uma cidade do Iraque Central que serviu como capital do Califado Abássida, de 836 a 892. Fundada pelo califa al-Mu’tasim, foi brevemente uma metrópole importante que se estendia por vários quilômetros ao longo da margem oriental do Tigre. Foi abandonada durante a segunda metade do século IX, em seguida ao retorno dos califas para Bagdá.
[5] Os Curdos são um grupo étnico do Oriente Médio, habitando principalmente áreas do leste e sudeste da Turquia, (Curdistão Norte), oeste do Irã (Curdistão Iraniano ou Norte), norte do Iraque (Curdistão Iraquiano Sul) e Síria (Curdistão Oeste ou Rojava). Os Curdos são cultural e linguisticamente parentes imediatos dos povos iranianos e, como resultado, frequentemente classificados como um povo iraniano. Muitos curdos se consideram descendentes dos Medos, um antigo povo iraniano.
[6] Um vizir era um conselheiro político de alto nível ou ministro. Os califas abássidas davam o título de vizir a um ministro anteriormente chamado secretário, que era, inicialmente, um mero ajudante, mas tornou-se, posteriormente o representante e sucessor do escriba oficial dos reis sassânidas. No Egito antigo era o mais alto funcionário a servir o rei ou faraó, durante os reinos antigo, médio e novo.
[7] Sultão é um título nobre com vários significados históricos. Originalmente era um nome árabe abstrato significando força, autoridade e poder. Mais tarde veio a ser usado como título para certos governantes que reivindicavam quase plena soberania em termos práticos (independência de qualquer governante superior) sem, contudo, reivindicar o “califado” ou referir-se a um poderoso governador de uma província dentro do califado. À dinastia e terras governadas por um sultão, dava-se o título de “sultanato”.
Continua com a PARTE 5
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