CHARLEMAGNE OU CARLOS MAGNO
(Parte 3 de 4)
VI - CAMPANHAS ORIENTAIS
1 – Guerras contra os Saxões
Carlos Magno esteve envolvido em hostilidades quase constantes por todo o seu reinado, muitas vezes à frente dos seus esquadrões pessoais de elite. Nas guerras contra os saxões, tribo germânica de adoradores pagãos, que duraram trinta anos e dezoito batalhas, ele conquistou a Saxônia (correspondendo, grosseiramente, aos estados da moderna Alemanha da Baixa Saxônia, Westfália, Nordalbingia e Saxônia-Anhalt ocidental, todos no noroeste da Alemanha) dedicando-se à sua conversão ao cristianismo. Os saxões germânicos estavam divididos em quatro grupos, em quatro regiões. Mais próximo da Austrasia ficava a Westfália e mais afastado a Eastphalia. Entre elas estava a Engria e ao norte dessas três, na base da península da Jutland, ficava a Nordalbbingia.
Em sua primeira campanha, em 773, Carlos Magno forçou a submissão dos Engrians, botando abaixo um pilar Irminsul (objeto sagrado em forma de pilar que representava um importante papel no paganismo germânico dos saxões) próximo de Paderborn. A campanha foi abreviada por sua primeira expedição à Itália. Ele retornou em 775, marchando através da Westfália e conquistando o forte saxão em Sigiburg. atravessou então a Engria onde novamente derrotou os saxões. Finalmente, na Eastphalia, ele derrotou uma força saxã, convertendo seu líder Hessi ao cristianismo. Carlos Magno retornou através da Westphalia, deixando acampamentos em Sigiburg e Eresburg, então importantes bastiões saxões. Ele então controlou a Saxônia com exceção da Nordalbingia, mas a resistência saxã não havia terminado.
Após ter subjugado os Dukes de Friuli e Spoleto, Carlos Magno retornou rapidamente à Saxônia em 776, onde a rebelião havia destruído sua fortaleza de Eresburg. Os saxões foram novamente batidos, mas seu líder Widukind fugiu para a Dinamarca, lar de sua esposa. Carlos Magno construiu um novo campo em Karlstadt. Em 777 convocou uma dieta nacional em Paderborn para integrar completamente a Saxônia ao reino Franco. Muitos saxões foram batizados como cristãos.
No verão de 779, ele novamente invadiu a Saxônia, reconquistando Eastphalia, Engria e Westphalia. Em uma dieta próxima de Lippe, ele dividiu o território em distritos missionários que assistiram a vários batizados em missas (780). Ele então retornou à Itália e, pela primeira vez, os saxões não se rebelaram imediatamente, pacificados de 780 a 782. Retornou à Saxônia em 782 instituindo um código de lei e indicando condes saxões e francos. As leis eram draconianas em questões religiosas; por exemplo, a Capitulatio de partibus Saxoniae prescrevia a morte aos pagãos saxões que recusassem sua conversão ao cristianismo, o que renovou os conflitos. Naquele ano, outono, Widukind retornou e conduziu uma nova revolta. Em resposta, em Verden, Baixa Saxônia, Carlos Magno ordenou a execução de 4.500 prisioneiros por decapitação, conhecido como o “Massacre de Verden”. As mortes dispararam três anos de renovadas guerras sangrentas. Durante esta guerra, os Frisians Orientais entre os Lauwers e os Weser se uniram aos saxões em revolta e foram finalmente subjugados. A guerra terminou com Widukind aceitando o batismo. Os Frisians posteriormente pediram que missionários fossem enviados a eles e um bispo de sua própria nação, Ludger, foi enviado. Carlos Magno também proclamou um código de leis, o Lex Frisonum, o que fizera para muitos povos súditos.
Depois disso, os saxões mantiveram uma paz por sete anos, mas em 792 a Westphalia novamente se rebelou. Os Eastphalians e Nordalbingians se juntaram a eles em 793, mas a insurreição foi impopular e encerrada em 794. Uma rebelião Engrian se seguiu em 796, mas a presença de Carlos Magno, saxões e eslavos cristãos rapidamente os destruiu. A última insurreição ocorrida em 804, mais de 30 anos após a primeira campanha contra eles, também falhou.
A guerra que havia durado tantos anos afinal terminou pelo aceite dos termos do Rei: renúncia aos seus costumes religiosos nacionais e adoração de demônios, aceitação dos sacramentos da fé e religião cristã e a união com os francos para formar um só povo.
2 – Submissão da Bavária
Por 774, Carlos Magno invadira o Reino da Lombardia [1] e mais tarde anexou os territórios da Lombardia assumindo a sua coroa e colocando os Estados Papais sob a proteção franca. O Ducado de Spoleto ao sul de Roma foi adquirido em 774, enquanto nas partes centro oeste da Europa, o Ducado da Bavária foi absorvido e a política bávara de estabelecer fronteiras tributárias entre os servos eslavos e thecos prosseguiu. O poder remanescente contra os francos no leste eram os avaros. Contudo, Carlos Magno adquiriu outras áreas eslavas, incluindo a Boêmia, Moravia, Áustria e Croácia.
Em 789 Carlos Magno voltou-se contra a Bavária, queixando-se que Tassilo III, Duque da Bavária não era um governante adequado por ter quebrado seu juramento. As acusações eram exageradas, mas Tassilo foi deposto de qualquer maneira e colocado no monastério de Jumièges. Em 794 Tassilo foi obrigado a renunciar a qualquer intenção sobre a Bavária, para si e toda sua família (os Agilolfings), no sínodo de Frankfurt, quando formalmente entregou ao rei todos os direitos que possuíra. A Bavária foi subdividida em condados Francos, à semelhança da Saxônia.
3 – Campanhas Contra os Ávaros
Em 788, os Ávaros (Avares ou Abares), um grupo nômade asiático que se havia estabelecido no que hoje é a Hungria, sucessores do Hunos, invadiram Friuli (região ao nordeste da Itália) e Bavária. Ocupado com outras questões, Carlos Magno marchou, em 790, seguindo o rio Danúbio e devastou o território ávaro de Györ (hoje a mais importante cidade do noroeste da Hungria). Um exército lombardo sob Pippin então marchou para o vale do rio Drava e devastou a Pannonia [2]. As campanhas terminaram quando os saxões novamente se revoltaram em 792.
Pelos dois anos seguintes, Carlos Magno esteve ocupado, além dos eslavos, com os saxões. Pippin e o Duque de Friuli continuaram, contudo, contra os baluartes dos ávaros. Sua fortaleza mais importante foi tomada duas vezes e logo os governantes ávaros perderam a vontade de lutar, viajando a Aachen, capital de Carlos Magno para se tornarem seus vassalos e cristãos. Carlos Magno aceitou sua rendição e enviou um chefe nativo de volta à Bavária, que conseguiu manter seu povo em linha; entretanto, em 800, os búlgaros sob Khan Krum atacaram o que sobrara do estado ávaro. Em 803, Carlos Magno enviou um exército bávaro à Pannonia, derrotando e trazendo um fim à confederação ávara. Em novembro do mesmo ano, Carlos Magno foi para Regensburg onde os líderes ávaros o reconheceram como governante. Em 805, o khagan [3] ávaro, que já fora batizado, foi a Aachen pedir permissão para assentar seu povo a sudeste de Viena. Os territórios Transdanubianos tornaram-se parte integral do reino Franco que foi abolido pelos magiares em 899-900.
4 – Expedições aos eslavos do nordeste
Em 789, em reconhecimento aos seus novos vizinhos pagãos, os eslavos, Carlos Magno conduziu um exército austrasio-saxão além do rio Elba, em território dos Obotritas [4]. Os eslavos finalmente se submeteram conduzidos por seu líder Witzin. Carlos Magno então aceitou a rendição dos Veleti [5] sob Dragovit exigindo muitos reféns. Também exigiu permissão para enviar missionários a essa região pagã. O exército marchou para o Báltico antes de retornar e marchar para o Reno, fazendo muita pilhagem sem ameaças. Os eslavos que pagavam tributo se tornaram leais aliados. Em 795, quando os saxões quebraram a paz, os Obotritas e Veleti se revoltaram com seu novo mandante contra os saxões. Witzin morreu em batalha e Carlos Magno vingou-o destruindo os habitantes da Eastphalia no Elba. Thrasuco, seu sucessor, conduziu seus homens à conquista dos Nordalbingianos, entregando seus líderes a Carlos Magno. Os Obotritas permaneceram leais até a morte de Carlos Magno.
5 – Expedições aos eslavos do sudeste
Após incorporar grande parte da Europa Central, Carlos Magno trouxe o Estado Franco face a face com os ávaros e eslavos do Sudeste. Os vizinhos mais a sudeste dos Francos eram os Croatas, que se estabeleceram na Croácia Pannoniana e Croácia Dálmata. Em 796, Carlos Magno obteve uma importante vitória sobre eles. O Duque Voinomir, da Croácia Pannoniana ajudou Carlos Magno e os francos se fizeram Lordes dos Croatas do norte da Dalmácia, Eslavônia e Pannonia.
O comandante franco Eric de Friuli pretendeu estender seu domínio conquistando o Ducado do Litoral Croata. Àquela época, a Croácia Dálmata era governada pelo Duque Viseslav da Croácia. Na Batalha de Trsat as forças de Eric abandonaram suas posições e foram perseguidas pelas forças de Viseslav quando, entre outros Eric foi morto, causando grande impacto no Império Carolíngio.
Carlos Magno também dirigiu sua atenção aos eslavos a oeste do Kaganato Ávaro: os Carantanianos e os Carniolanos. Esses povos foram subjugados pelos lombardos e os bávaros, passando a pagar tributos, mas nunca foram totalmente incorporados ao Estado Franco.
VII - IMPÉRIO
1 - Coroação
Em 799, o Papa Leão III havia sido assaltado por romanos que tentaram arrancar seus olhos e língua. Conseguindo escapar, fugiu para Carlos Magno em Paderbom, Aconselhado pelo sábio Alcuin, Carlos Magno viajou para Roma em novembro de 800 e reuniu um sínodo. Em 23 de dezembro, Leão III fez um juramento a Carlos Magno e dois dias após, durante a missa do Natal (25 de dezembro), quando Carlos Magno ajoelhou-se no altar para rezar, o Papa coroou-o “Imperador dos Romanos” na Basílica de São Pedro. Com isso o Papa rejeitava a legitimidade de Imperador de Irene de Constantinopla.
A Coroação Imperial de Carlos Magno no ano 800 |
Historicamente, não há um consenso sobre o que realmente significou a coroação de Carlos Magno. Muitos historiadores dizem que ele sabia o que aconteceria e desejava a coroação; outros tantos afirmam que ele não desejava a coroação justamente para evitar a polêmica futura e que, ao chegar a Catedral, nem mesmo sabia que tal ato ocorreria.
Para o Papa e Carlos Magno, o Império Romano permanecia uma potência significativa na política europeia daquele tempo. O Império Bizantino, baseado em Constantinopla, continuava a manter uma parte substancial da Itália, com fronteiras não muito longe de Roma. O assento de Carlos Magno, no julgamento do Papa, poderia ser visto como usurpação das prerrogativas do Imperador em Constantinopla.
Por quem, contudo, poderia o Papa ser julgado? Quem, em outras palavras estava qualificado a proferir julgamento sobre o “Vigário de Cristo”? Em circunstâncias normais, a única resposta concebível à questão, teria sido o Imperador em Constantinopla; mas o trono imperial, no momento, era ocupado por Irene, consorte do imperador Leão IV de 775 a 780, regente durante a infância de seu filho Constantino VI de 780 a 790, comandatária de 792 até 797 e finalmente Imperatriz do Império Romano do Oriente de 797 a 802. A Imperatriz era notória por ter cegado e assassinado seu próprio filho, mas nas mentes do Papa e de Carlos Magno isso era quase imaterial, bastando que ela fosse mulher. O sexo feminino era conhecido por ser incapaz de governar e pela velha tradição sálica (a Lei Sálica, que excluía as mulheres da sucessão), excluída de tal possibilidade. No que concerne à Europa Ocidental, o trono dos Imperadores estava vago: a reivindicação de Irene a ele era apenas uma prova adicional, se alguma fosse necessária, da degradação em que havia caído o chamado Império Romano.
Se não havia um Imperador vivo ao tempo, o Papa deu o extraordinário passo para criar um. Desde 727 o papado havia estado em conflito com os predecessores de Irene em Constantinopla por uma série de questões, principalmente a permanente aderência à doutrina do iconoclasta, a destruição de imagens ou monumentos cristãos e com isso o Império Bizantino na Itália Central, a partir de 750 havia sido anulado.
Conferindo a coroa imperial a Carlos Magno, o Papa trouxe a si próprio o direito de indicar o Imperador dos Romanos, estabelecendo a coroa imperial como seu presente pessoal, mas simultaneamente garantindo a si próprio uma implícita superioridade ao Imperador que ele havia criado. E porque os bizantinos se haviam demonstrado tão insatisfatórios de todos os pontos de vista – político, militar e doutrinário – ele selecionaria um ocidental: aquele que, por sua sabedoria, política e vastidão de seus domínios se apresentasse acima de seus contemporâneos.
Portanto, com a coroação de Carlos Magno, o Império Romano permaneceu, no que concerne a Carlos Magno e ao Papa Leão, uno e indivisível, com Carlos como seu imperador, embora a coroação tenha sido furiosamente contestada em Constantinopla.
Segundo o cronista Theophanes, membro da aristocracia bizantina e depois monge, a reação de Carlos Magno, à sua coroação, foi tomar os primeiros passos para assegurar o trono de Constantinopla, através do envio de ofertas a Irene, às quais ela teria reagido favoravelmente.
É importante distinguir entre os conceitos universal e local do Império, ainda controvertido entre historiadores. De acordo com o primeiro, o Império era uma monarquia universal, uma espécie de confederação mundial, cuja unidade transcendia qualquer distinção menor; e o Imperador, merecedor da obediência da Cristandade. De acordo com o segundo, o Imperador não tinha ambição de domínio universal; seu reino era limitado como o de qualquer outro governante e quando apresentou queixas mais amplas, tinha como objetivo se preservar dos ataques do Papa ou do imperador bizantino. De acordo com essa visão, a origem do Império deve ser explicada por circunstâncias locais específicas ao invés de teorias mais abrangentes. Entretanto, na primavera de 813, em Aachen, Carlos Magno indicou seu único filho vivo, Luís, como imperador, sem recorrer a Roma, mas apenas pela aclamação de seus francos, ou seja, uma aclamação cristã franca e não romana, significando a independência de Roma e a explicitação de um Império Franco.
2 - Título Imperial
Carlos Magno usou tais circunstâncias para reivindicar seu título de “Renovador do Império Romano”, que havia declinado sob os bizantinos.
O título de Imperador permaneceu na família Carolíngia por muitos anos, mas divisões de território e a luta pela supremacia do Estado Franco, enfraqueceram o seu significado. O próprio Papado nunca esqueceu o título nem abandonou o seu direito de concedê-lo. Quando a família de Carlos Magno deixou de produzir herdeiros de valor, o Papa, com muita satisfação, coroou qualquer magnata italiano que melhor o protegesse de seus inimigos locais. O Império permaneceria em existência contínua por mais de um milênio, como o “Sacro Império Romano”, um verdadeiro sucessor imperial de Carlos Magno.
3 - Diplomacia Imperial
A iconoclastia (destruição deliberada dos ícones ou imagens religiosas) da dinastia Isáurica bizantina (também chamada de dinastia Síria, que governou o império Bizantino entre 717 e 802) foi endossada pelos francos. O Segundo Concílio de Niceia reintroduziu a veneração de ícones, sob a Imperatriz Irene, em 787. O Concílio não foi reconhecido por Carlos Magno, já que emissários francos não haviam sido convidados, embora governasse mais de três províncias do império clássico romano e fosse considerado com a mesma dignidade do imperador bizantino. O Papa apoiava a reintrodução da veneração icônica, mas politicamente divergia do Bizâncio; certamente, ele desejava aumentar a influência do papado, para honrar seu salvador Carlos Magno e para resolver questões constitucionais que então criavam problemas a juristas europeus, em uma era em que Roma não se encontrava nas mãos de um imperador. Assim, a aceitação do título imperial não foi uma usurpação aos olhos dos francos ou italianos; mas foi assim visto no Bizâncio, onde foi protestado por Irene e seu sucessor Nikephoros I, nenhum dos quais tinha grande efeito ao manifestar seus protestos.
Os romanos orientais, contudo, ainda mantinham vários territórios na Itália: Veneza, Reggio (na Calábria), Otranto (em Apulia) e Nápoles. Tais regiões permaneceram fora das mãos francas até 804, quando os venezianos, separados por lutas internas, transferiram sua submissão à Coroa de Ferro de Pepino, filho de Carlos Magno, com isso encerrando a Paz de Nikephoros (paz entre os impérios Franco e Bizantino). Nikephoros devastou as costas com suas frotas, iniciando o único real exemplo de guerra entre bizantinos e francos. O conflito durou até 810, quando o partido pro Bizâncio de Veneza entregou esta cidade de volta ao governador bizantino e os dois imperadores da Europa fizeram paz. Em 812, o imperador bizantino Michael I Rangabe reconheceu seu status de imperador, não necessariamente “Imperador dos Romanos”.
4 - Ataques Dinamarqueses
Após a conquista da Nordalbíngia [6], a fronteira franca foi posta em contato com a Escandinávia. Os pagãos dinamarqueses, habitando a Península da Jutelândia, tinham ouvido muitas histórias sobre as ameaças dos francos e da fúria que seu rei Cristão dirigia aos seus vizinhos pagãos. Em 808 o rei dos dinamarqueses, Godfred, expandiu o vasto Danevirke, um sistema defensivo de fortificação de terra, através do istmo de Schleswig. Tal sistema protegia a terra dinamarquesa e dava a Godfred a oportunidade de ameaçar a Frisia e Flanders com ataques piratas, subjugando aliados dos francos. Assassinado por um franco ou um de seus próprios homens, Godfred foi sucedido por seu sobrinho Hemming, que concluiu, com Carlos Magno, o Tratado de Heiligen, em 811.
5 - Morte
De acordo com Einhard, Carlos Magno esteve com boa saúde até os quatro últimos anos de sua vida, quando passou a sofrer de febres e sem energia. Contudo, mesmo naqueles tempos ele seguia mais os seus próprios conselhos do que os conselhos dos médicos.
Em 813, Carlos Magno chamou à sua corte, Luís, o Pio, rei da Aquitânia, seu único filho legítimo sobrevivente, lá coroando-o como seu co-imperador e enviando-o de volta à Aquitânia. Ele então passou o outono caçando antes de retornar a Aachen, em primeiro de novembro. Em janeiro foi acometido de pleurisia, caindo em profunda depressão – principalmente porque muitos de seus planos não foram realizados – que o levou à cama em 21 de janeiro e o matou em 28 do mesmo mês, às nove horas, após tomar a comunhão, aos setenta e dois anos de idade e após 47 anos de reinado. Foi enterrado no mesmo dia, na Catedral de Aachen.
Luís sucedeu-o como Carlos havia pretendido. Deixou um testamento alocando seus bens em 811 que não foi atualizado antes de sua morte. Deixou a maior parte de seus bens à Igreja para serem usados como caridade. Seu Império, na totalidade, durou somente uma outra geração; sua divisão, de acordo com o costume, entre os filhos de Luís, após a sua morte, conduziu à fundação dos modernos Estados da Alemanha e da França.
Nas décadas seguintes seu império foi dividido entre seus herdeiros e ao final dos anos 800 havia sido dissolvido. Contudo, Carlos Magno tornou-se uma figura lendária de qualidades míticas.
Uma história posterior, contada por Otho de Lomello, Conde do Palácio de Aachen ao tempo do Imperador Otto III (cerca do ano 1000), atestaria que ele e Otto haviam descoberto a tumba de Carlos Magno que, segundo eles, estaria sentado em um trono, usando uma coroa e segurando um cetro, com sua carne praticamente perfeita.
Em 1165, sob o Imperador Frederick Barbarossa (1122-1190), Carlos Magno foi canonizado por razões políticas, fato não reconhecido pela Igreja. Sua tumba foi reaberta e o Imperador colocado num esquife feito de ouro e prata, conhecido como Karlsschrein.
Segue na próxima postagem com a Parte 4 de 4
[1] Povo de origem germânica que ocupou a Península Itálica na última parte do século VI, com seu reino subdividido num número variável de ducados governados por duques autônomos, ainda subdivididos a nível municipal. A capital do reino era Pavia, situada na região da Lombardia, ao norte da Itália.
[2] A Pannonia estava localizada no território atual do oeste da Hungria, leste da Áustria, norte da Croácia, Eslovênia, Bósnia e Herzegovina e noroeste da Sérvia. Durante o Período das Migrações no século V, algumas partes da Pannonia foram cedidas aos Hunos pelos romanos. Após o colapso do Império Huno em 454, muito ostrogodos foram estabelecidos na área como federados aos romanos. O Império Romano do Oriente controlou partes do sul da Pannonia no século VI. Posteriormente, ela foi novamente invadida pelos ávaros e os eslavos, mas tornou-se independente apenas a partir do século VII. Em 790 foi então invadida pelos Francos.
[3] Khagan é um título de graduação imperial nas línguas turca, mongol e outras, equivalente ao status de imperador e alguém que governa um khaganato (império).
[4] Os Obotritas foram uma confederação de tribos do oeste eslavo medieval, ao norte da Alemanha. Por décadas eles foram aliados de Carlos Magno em suas guerras contra os saxões germânicos e os Veleti eslavos. Sob o comando do príncipe Thrasco, os obotritas derrotaram os saxões na batalha de Bornhöved (798). Os saxões ainda pagãos foram dispersados pelo imperador e parte de sua terra original, ao norte do Elba, foi entregue aos obotritas em 804 como recompensa por sua vitória.
[5] Os Veleti eram um grupo de tribos medievais dentro do território do que hoje é o nordeste da Alemanha, aparentado com os eslavos polabianos (poloneses). Junto com outros grupos eslavos entre os rios Elba e Oder, eles eram frequentemente descritos por fontes germânicas como Wends.
[6] Também conhecida como Albíngia do Norte, foi uma das quatro regiões administrativas do Ducado da Saxônia medieval, junto com Angria, Eastphalia e Westphalia. O nome da região é baseado no nome latino Alba, do rio Elba, e se refere à área predominantemente localizada ao norte do Baixo Elba, grosseiramente correspondendo à atual região do Holstein, norte da Alemanha, o mais antigo domínio conhecido dos saxões.
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