Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

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domingo, 14 de julho de 2013

BREVE HISTÓRIA DO IMPÉRIO ROMANO - PARTE 8

V.1.2 – A Crise do Terceiro Século

Este foi o nome dado a uma série de acontecimentos catastróficos ocorridos no Império Romano ao longo do Século III, mais precisamente do ano 235 ao ano 284. Neste período, o império foi governado sucessivamente por cerca de dezoito imperadores "legítimos" (ver o anexo “Imperadores do Principado”). A maioria deles era de proeminentes generais que assumiram o poder imperial sobre todo ou parte do império, somente para perdê-lo por derrota em combate, assassinato, ou morte natural, governando, em média, apenas dois a três anos. O número exato de imperadores do período é desconhecido, pois não considera os nomeados junto com pais e colegas, além de desconsiderar os pretendentes.
Ao final do século II, uma guerra civil de sucessão aconteceu, que abalou profundamente o império. Na primeira metade do século seguinte, o império se manteve próspero e extenso, até que o poderoso Império Sassânida(1), ao leste, iniciou ataques ao Império Romano. No ano 260, foram capturados o imperador Valeriano e todo o seu exército de 70 mil homens e, sem muita defesa, as províncias do leste foram devastadas. A peste bubônica espalhou-se pelo império tornando-se uma epidemia. Além desses problemas, o Império Romano ainda iria se deparar com outro poderoso inimigo ao norte, os godos, povo de origem germânica, das regiões meridionais da Escandinávia. O avanço da peste e os fracassos militares do império eram tão frustrantes que o povo passou a buscar novas crenças e rituais para afastar os perigos, ao mesmo tempo em que se intensificou a perseguição aos cristãos, sempre culpados do infortúnio do momento.
Uma característica marcante observada na crise do terceiro século foi a fraqueza demonstrada pelos imperadores em manter, de forma prolongada, o controle sobre o império. Essa série de imperadores fracos foi, de certa forma, um reflexo da extensa militarização do império. Em outras palavras, Roma foi abandonando gradativamente seu caráter aristocrático, percebido anteriormente nos poderes investidos ao senado romano, para tornar-se um império militar. Esse processo de enfraquecimento do senado romano foi acompanhado pelo fortalecimento, cada vez maior, das legiões romanas nas decisões relativas à escolha dos imperadores, em função de seus interesses imediatos e, por consequência, na administração do império. Isso levou, inevitavelmente, à escolha de imperadores despreparados e incompetentes.
Foi também durante a “Crise do Terceiro Século” que algumas das Províncias Romanas efetivaram rebeliões contra o governo central e que mencionaremos de passagem, considerando que os imperadores que surgiram com essas rebeliões constam da “Relação dos Imperadores do Principado”. 
Império das Gallias (verde) e Palmira (amarelo) no Império Romano (vermelho)

a) O Império das Gallias
O Império das Gálias (em latim Imperium Galliarum) é o nome moderno dado à secessão das províncias romanas da Gália, Britânia, parte de Hispânia e parte de Germânia, do Império Romano durante a “Crise do Terceiro Século”, de 259 a 274, também conhecido como Império Galo-Romano.
Seu fundador, Marco Cassiano Latínio Póstumo, estabeleceu a capital do Império em Trier, no atual estado alemão da Renânia-Palatinado.
Imperador Póstumo
Em seu trono sucederam-se uma série de usurpadores que se proclamaram imperadores romanos e são conhecidos principalmente pelas moedas que cunharam. O imperador romano da época, Galiano, empreendia uma campanha contra os marcomanos(2)  no médio Danúbio, enquanto o general Póstumo assumia a defesa da Récia (província romana na atual Suíça). O general aproveitou-se dessa posição e assumiu o trono imperial na Gália. O estabelecimento do Império das Gálias proporcionou uma resposta mais eficaz às invasões germânicas do que poderia oferecer o imperador Galiano, ocupado com a fronteira no leste e no Danúbio.
O império das Gálias foi recuperado para Roma pelo imperador Aureliano, que com uma série de campanhas militares conseguiu restabelecer o poder imperial no Ocidente e também no Oriente, onde havia sido proclamado o Reino de Palmira. 
Imperador Galiano

b) O Império de Palmira
A Palmira (hoje chamada de Tadmor) era uma antiga cidade na Síria central, localizada num oásis a cerca de 210 km a nordeste de Damasco. Sua localização estratégica, aproximadamente ao meio da distância que vai do Mar Mediterrâneo até ao rio Eufrates, tornou-a um ponto de paragem obrigatório para muitas das caravanas que seguiam por aí a sua rota comercial. O nome "Palmira" refere-se, tal como o prenome feminino, às palmeiras, árvore que, supostamente, existiria aí em grande quantidade.
Palmira tornou-se parte da província romana da Síria durante o reinado de Tibério (14 a 37 DC). A cidade continuou a desenvolver-se e a ganhar importância até que se tornou uma cidade livre, sob o império de Adriano, em 129. No século III, a sua rainha, Septímia Zenóbia criou alguns embaraços ao Império Romano ao autoproclamar-se rainha do reino de Palmira (Império de Palmira); mas em 272, o imperador romano Aureliano capturou-a e levou-a para Roma. Depois de expô-la numa parada triunfal, acorrentada a cadeias de ouro, permitiu-lhe que se retirasse para uma vila em Tibur (hoje, Tivoli, Itália) onde continuou a ter um papel politicamente ativo, durante anos. 
Imperador Aureliano

c) Imperadores Ilírios
Não se tratando propriamente de uma dinastia, é antes de tudo um conjunto de imperadores romanos que, devido à sua origem comum, ficaram conhecidos como "Ilírios". A Ilíria é uma região histórica que corresponde, aproximadamente, à antiga Iugoslávia no período entre 268 e 285. Os imperadores Ilírios ficaram famosos também por serem quase todos militares. Com Cláudio II, o Gótico (268-270), inaugura-se precisamente essa época, em que quase todos os imperadores provinham da Ilíria, que compreendia a Dalmácia, região fortemente romanizada na costa do Adriático e toda a área montanhosa adjacente, também indelevelmente marcada pela ação civilizadora romana. Apesar da escassa duração deste período Ilírio, conseguiu-se nessa época restabelecer, pela força, a unidade do Império, então muito abalada. A sucessão desses imperadores pode ser vista na relação anexa (Imperadores do Principado). Os Ilírios foram, de fato, os últimos imperadores da unidade e da afirmação da coesão do Império, que não lhes sobreviveu como unidade geopolítica una e indivisível.
Com a crise do terceiro século, começaram as transformações que, mais de um século depois, levariam ao fim do período histórico conhecido como Antiguidade e o início da Idade Média. Foram os sucessos de Aureliano que, efetivamente, encerraram a Crise do Terceiro Século do Império Romano, rendendo-lhe o título de “Restaurador do Mundo”.

V.2 – O DOMINATO

O Dominato, palavra que se origina de dominus (senhor), é o período do Império Romano que vai de 284 DC, com Diocleciano, a 565 DC, data da morte de Justiniano. O Dominato foi uma monarquia despótica e militar, do tipo helenístico, sob a influência de ideias orientais, em que o princeps converteu-se em dominus, isto é, em amo ou governante absoluto, à frente de uma grande burocracia. Durante o Dominato, os imperadores mostravam claramente a sua condição, usando coroas, púrpuras e outros ornamentos imperiais. O imperador tornava-se "senhor e deus" e todos que eram admitidos em sua presença eram obrigados a ajoelhar-se e beijar a ponta do manto real. Extinguiu-se, com isso, o Principado: os civis haviam sido derrotados pelos militares.
O cargo de princeps já trazia, na realidade, o germe da situação de Dominato: fatos como a “apoteose” dos imperadores, o poder sem limites, e o lento declinar, por parte dos Romanos, da importância que davam a vida política entre iguais, contribuíram, de forma decisiva, para a adoção de uma monarquia oriental, especialmente bem sucedida no Império Romano do Oriente. 
Imperador Diocleciano
Durante o Dominato persistiram as dinastias (“Anexo 2 - Imperadores do Dominato”), que se iniciou com Diocleciano, em 284 DC e a sua constituição da Tetrarquia, em 293 DC. A Tetrarquia designa qualquer sistema de governo em que o poder esteja dividido entre quatro indivíduos, denominados "tetrarcas", e aplica-se, usualmente, à introduzida por Diocleciano, que perdurou até 313 DC, marcando a resolução da crise do século III e a recuperação do Império Romano.
A primeira medida importante de Diocleciano foi indicar Maximiano como seu augusto ou co-imperador, em 285. Não foi propriamente uma divisão de poder, pois, na realidade, Diocleciano estava em posição superior à de Maximiano; entretanto, a partir daí, o império passou a ter dois augustos (augusti), cada qual com exército, administração e capital próprios, embora Diocleciano continuasse a ser o chefe do Estado, representando a unidade do mundo romano. Com isso, o império foi dividido entre os sectores orientais (pars Orientis), sob o controle pessoal de Diocleciano, e ocidentais (pars Occidentis), governados por Maximiano. 
Imperador Maximiano
Oito anos mais tarde, em 293, dada a crescente dificuldade de conter as numerosas revoltas no interior do império, procedeu a uma nova divisão funcional e territorial, a fim de facilitar as operações militares: nomeou um imperador menos "graduado", denominado César, subordinado a cada imperador mais graduado (augusto). Como seu césar para o oriente, Diocleciano designou Galério; Maximiano fez o mesmo, nomeando Constâncio Cloro para o ocidente. A tetrarquia concretizou-se com a divisão do império em quatro territórios:
Diocleciano controlava as províncias orientais e o Egito, com capital na Nicomédia (atual İzmit, na Turquia);
Galério administrava as províncias balcânicas, com capital em Sirmium (atual Sremska Mitrovica, na Sérvia);
Maximiano governava a Itália e a África Proconsular, com a capital em Mediolanum (atual Milão, na Itália); 
Imperador Galerio
Constâncio Cloro, pai de Constantino I, recebeu a Hispânia, a Gália e a Britânia, com capital em Augusta Treverorum (atual Trier ou Tréveris, na Alemanha).
Os césares eram chefes militares capazes de governar e proteger o império, adotados como filhos pelos augustos, a quem sucederiam em caso de morte, de incapacidade provocada pela velhice ou decorridos vinte anos de seus governos. Lugares-tenentes dos augustos, os césares também possuíam capital, exército e administração próprios.
Com a abdicação de Diocleciano (305), teve início uma guerra entre os augustos e os césares por ele nomeados e a anarquia se instaurou. De 316 a 323, Constantino e Licínio governaram Roma. A partir de 324, Constantino passou a ser o único senhor de todo o império, valendo à pena escrevermos algumas linhas sobre ele, por razões que logo serão entendidas.
Imperador Constâncio Cloro
Constantino I, também conhecido como Constantino Magno ou Constantino, o Grande, foi um imperador romano, proclamado Augusto pelas suas tropas em 25 de julho de 306, que governou uma porção crescente do Império Romano até a sua morte.
Quando Diocleciano e Maximiano abdicaram conjuntamente em 305, Constâncio (pai de Constantino) seria proclamado “augusto”, mas Constantino seria descartado como “césar” em proveito de Flávio Severo. Pouco antes da morte de seu pai, em 25 de julho de 306, Constantino conseguiu a permissão de Galério para reunir-se a ele no Ocidente, onde participou de campanha contra os “picts”, estando junto ao leito de morte de seu pai na Britânia, o que lhe permitiu impor o princípio da hereditariedade em seu proveito, proclamando-se "césar" e sendo reconhecido como tal por Galério, então "augusto" do Oriente. Assim, desde o início de seu reinado, Constantino tinha o controle da Britânia,Gália,Germânia e Hispânia, com sua capital em Trier, cidade que fez embelezar e fortificar. 
Imperador Constantino I
As guerras civis constantes e prolongadas fizeram de Constantino, antes de mais nada, um reformador militar, que, para aumentar o número de tropas a sua disposição imediata, constituiu o cortejo militar do imperador (comitatus) num corpo de tropas de elite auto suficiente - um verdadeiro exército de campanha —, principalmente pelo recrutamento de grande número de germanos que se apresentavam ao exército romano nos termos de diversos tratados de paz, a começar pelo chefe dos alamanos, Chrocus, que teve um papel decisivo na aclamação de Constantino como Augusto.
Constantino acabou, no entanto, por entrar na História como o primeiro imperador romano a professar o cristianismo, na sequência da sua vitória sobre o imperador Magêncio na Batalha da Ponte Mílvio, próximo de Roma, em 312, que ele mais tarde atribuiria ao Deus cristão. Constantino legalizou e apoiou fortemente a cristandade por volta do tempo em que se tornou imperador, com o Édito de Milão (3), sem tornar o paganismo ilegal ou fazer do cristianismo a religião estatal única. Na sua posição de Pontifex Maximus, estabeleceu as condições do seu exercício público e interferiu na organização da hierarquia, quando convocado.
Quando Licínio expulsou os funcionários cristãos da sua corte, Constantino encontrou um pretexto para enfrentar seu colega e, tendo negada a permissão para entrar no Império do Oriente, durante uma campanha contra os sármatas, fez disto a razão para derrotar e eliminar Licínio em 324, quando tornou-se imperador único.
Apesar de a Igreja ter prosperado sob o auspício de Constantino, ela própria decaiu no primeiro de muitos cismas públicos. Após ter unificado o mundo romano, Constantino convocou o “Primeiro Concílio de Niceia” (4), em um grande centro urbano da parte oriental do império, em 325, um ano depois da queda de Licínio, a fim de unificar a Igreja cristã, pois com as divergências desta, o seu trono poderia ficar ameaçado.
Para resolver definitivamente o problema logístico da distância entre a capital e as principais frentes militares da época, sem recorrer ao expediente de uma residência imperial "interina", Constantino reconstruiu a antiga cidade grega de Bizâncio, em maio de 330 chamando-a Nova Roma, dotando-a de um Senado e instituições cívicas semelhantes aos da antiga Roma. Entretanto, era uma cidade cristã onde encontrava-se o mausoléu onde Constantino seria sepultado. Os templos pagãos de Bizâncio foram nela preservados, mas foram proibidos os sacrifícios e o culto das imagens dos deuses. Após a morte de Constantino, Bizâncio foi renomeada Constantinopla – em sua homenagem -, gradualmente transformando-se na capital permanente do império romano, por mais de mil anos, sendo por isso considerado como um dos fundadores do Império Romano do Oriente. A fundação de Constantinopla foi complementada pelo tratado entre Constantino e seus descendentes e os godos que, a partir de 332, passaram a defender a fronteira do Danúbio, fornecendo homens ao exército romano, em troca de abastecimentos. A mudança da capital imperial enfraqueceu a influência do papado de Roma, fortalecendo a influência do bispo de Constantinopla sobre o Oriente, um dos eventos notáveis que provocaria, futuramente, o Grande Cisma do Oriente (5).
Além de derrotar os imperadores Magêncio e Licínio durante as guerras civis, Constantino lutou com sucesso contra os francos e alamanos, visigodos e sármatas, durante boa parte do seu reinado.
Constantino foi sucedido, em 337, por seus três filhos com sua esposa Fausta: Constantino II, Constante e Constâncio II, que dividiram entre si a administração do império até que, após uma série de lutas confusas, Constâncio II emergiu como “augusto” único.
Durante as décadas das dinastias Constantina e Valentiniana que se seguiram, o império foi dividido ao longo de um eixo leste-oeste, com dois centros de poder, um em Constantinopla e outro em Roma (logo falaremos sobre isso com mais detalhe). O reinado de Juliano, que tentou restaurar a religião helenística e romana clássica, apenas interrompeu, brevemente, a sucessão de imperadores cristãos. Teodósio I, que sucedeu à casa Valentiniana, o último imperador a governar Oriente e o Ocidente, em Constantinopla, morreu em 395 D.C., depois de, efetivamente, tornar o Cristianismo a religião oficial do Estado.

(1) O Império Sassânida foi o último Império Persa pré-islâmico, governado pela dinastia sassânida de 224 a 651 DC. O Império Sassânida, que sucedeu ao Império Parta, foi reconhecido como uma das principais potências da Ásia Ocidental e Central, juntamente com o Império Romano/Bizantino, por um período de mais de 400 anos.
(2) Os marcomanos constituíam uma tribo germânica com estreitas ligações aos suevos e que habitavam a região sul do rio Danúbio. As fontes romanas indicam que, no início da era cristã, as tribos marcomanas se estabeleceram na atual Boêmia, depois de terem sido derrotadas por Nero Cláudio Druso, general do imperador romano Augusto. No século II DC, os marcomanos federaram-se com outros povos (quados, vândalos e sármatas) para enfrentar o Império Romano. Sendo essencialmente guerreiros, os marcomanos empregavam também mulheres em combates.
(3) O Édito de Milão (313 DC), também referenciado como Édito da Tolerância, declarava que o Império Romano seria neutro em relação ao credo religioso, acabando oficialmente com toda perseguição sancionada oficialmente, especialmente do Cristianismo. O édito foi emitido em Milão, pelo tetrarca ocidental Constantino I e por Licínio, o tetrarca Oriental.

(4) O Primeiro Concílio de Niceia foi um concílio de bispos cristãos reunidos na cidade de Niceia da Bitínia (atual İznik, Turquia), pelo imperador romano Constantino I em 325 DC. O concílio foi a primeira tentativa de obter um consenso da igreja através de uma assembleia representando toda a cristandade. O seu principal feito foi o estabelecimento da questão cristológica entre Jesus e Deus, o Pai; a construção da primeira parte do Credo Niceno (credo ou profissão de fé, mais utilizado na liturgia cristã); a fixação da data da Páscoa; e a promulgação da lei canônica (lei eclesiástica interna que rege as Igrejas Cristãs).
(5) O Cisma do Oriente, também chamado de Grande Cisma ou Cisma Ocidente-Oriente, foi a divisão definitiva da “Igreja Católica Apostólica” em “Igreja Católica Apostólica Romana” e “Igreja Ortodoxa”. O cisma ocorreu no ano de 1054, na cidade de Constantinopla.



Continua na Parte 9.

domingo, 23 de junho de 2013

BREVE HISTÓRIA DO IMPÉRIO ROMANO - PARTE 7

IV.4.4 – O Segundo Triunvirato

Otaviano do Segundo Triunvirato
O segundo triunvirato foi estabelecido em 43 AC, ainda durante a vigência da República Romana, entre Marco Antônio, Otaviano e Lépido, prolongando-se até 33 AC. Menos tácito do que o Primeiro, este Triunvirato, foi uma aliança política formal, pela qual dividiam, oficialmente, o território romano, cada uma ficando com uma parte sob a sua jurisdição. Com o nome oficial de “Triunviros para a Organização do Povo”, o triunvirato foi legislado pela Lex Titia e aprovado pela Assembleia do Povo, conferindo poderes universais aos três homens por um período de cinco anos.
Caio Júlio César Otaviano Augusto (em latim Gaius Iulius Caesar Octavianus Augustus) nasceu patrício, em 63 AC, e morreu em 14 DC, como o primeiro imperador romano. Atia, sua mãe, era sobrinha de Júlio César que, orgulhando-se do sobrinho-neto, adotou-o politicamente. Quando César foi assassinado, Otaviano encontrava-se na Ilíria, servindo ao exército. Ao retornar à Itália, foi informado de que era o herdeiro adotivo de César. O testamento de César prometia a distribuição de terras à plebe e aos veteranos de guerra. Além disso, continha o nome do seu sucessor, seu sobrinho-neto Otaviano, pois tendo o Senado permitido a Júlio César utilizar o título imperator antes de seu próprio nome e sendo este título hereditário, Otaviano foi a Roma reivindicar sua herança com o nome de Imperator Caesar Caius Otavianus. O jovem Otaviano organizou legiões e entrou para o senado como pretor.
Marco Antonio, Segundo Triunvirato
Marco Antônio (em latim: Marcus Antonius), nascido patrício em Roma, em 83 AC, e morto em Alexandria, no Egito, em 30 AC, foi um célebre militar e político romano da fase final da República. Sua mãe, Julia Cesaris (conhecida como Júlia Antônia), era prima de Júlio César. Importantíssima foi a sua participação no cerco de Alésia, o último capítulo da conquista romana da Gallia. Durante quatro dias, o exército de César lutou em duas frentes, com Marco Antônio comandando várias legiões. No segundo ataque gaulês, realizado durante a noite, os homens de Antônio quase cederam, sendo salvos pela chegada de reforços. No dia seguinte, o chefe gaulês, Vercingetórix, à frente de 60 mil guerreiros, lançou seu derradeiro e desesperado ataque. Durante a luta, César e Antônio podiam ser vistos cavalgando de um lado para o outro das linhas romanas, incentivando os legionários e providenciando reforços. Quando a batalha terminou, com a rendição de Vercingetórix, Marco Antônio recebia todas as honras militares por sua destacada conduta na luta. A essa altura, na invejável condição de principal general de César, ao final de 51 AC, Marco Antônio tornara-se famoso, rico (graças aos despojos da guerra gaulesa) e homem de confiança de César, pronto para enveredar pelas estradas da política, rumo ao poder. Com o retorno de Otaviano a Roma, Antônio alia-se ao general Marcus Aemilius Lepidus, governador da Gallia.
Lépido, membro do Segundo Triunvirato
Marcus Aemilius Lepidus (Lépido), político romano, viveu entre 90 e 12 AC. Exercia a função de pretor em 49 AC, quando Júlio César, com seu apoio, foi proclamado ditador. Em 46 AC, foi eleito cônsul. Após a morte de Júlio César, apoiou Marco Antônio, que o designou para o cargo de Sumo Sacerdote (pontifex maximus) e o indicou para governar a Gália Narbonense. Quando, derrotado durante a guerra com o Senado, Antônio retirou-se para a Gália, Lépido acolheu-o e juntou-se a ele, sendo declarado inimigo público pelos senadores. Ao lado de Antônio marchou com seu exército para a península Itálica, onde se encontrou com as forças de Otávio e selaram a paz entre os três. Por proposição de Lépido, definiram a partilha do poder entre os três, ao final de 43 AC, num acordo que ficaria conhecido como o Segundo Triunvirato, para governar as províncias romanas e vingar a morte do tio, caçando todos os conspiradores da morte de Júlio César.
A constituição do segundo triunvirato e a atribuição de poderes excepcionais a Antônio, Otaviano e Lépido justificou-se no período de crise sem precedentes que se seguiu ao assassinato de Júlio César. A primeira ação dos triúnviros foi a de eliminar todos os homens que conspiraram contra César - Cícero uma das vítimas – e perseguir Brutus e Cássio que se haviam refugiado na Grécia: trezentos senadores e dois mil cavaleiros, oponentes dos triúnviros, foram proscritos e caçados até a morte; além disso, numerosas propriedades foram confiscadas.
Cerca de 40 AC o território romano foi dividido entre os três senadores. Otaviano assumiu a maior parte das províncias ocidentais; Marco Antônio ficou com a parte oriental da república e as províncias do Oriente Médio; e Lépido, com a África. Marco Antônio e Otávio, que disputavam o controle da Itália, resolveram suas diferenças e, para selar o acordo, no ano 37 AC, o segundo entregou sua irmã Otávia em matrimônio ao primeiro. Inaugurou-se, então, uma era de paz com a renovação do triunvirato por mais cinco anos.
Restava a ameaça de Sexto Pompeu, filho de Pompeu e o último opositor importante do triunvirato. Quando Sexto Pompeu refugiou-se na Lacetânia (nordeste da Hispânia) e, a partir de lá, reuniu tropas e derrotou Caio Asínio Polião, em Cartagena, Lépido, então governador da Hispânia, fez com ele um acordo para que Sexto Pompeu recuperasse as terras de seu pai. Tal acordo fora aprovado por Marco Antônio, por amizade a Lépido e hostilidade a Otaviano. Com uma esquadra fornecida por Antônio, Otávio derrotou e executou Sexto Pompeu - então estabelecido na Sicília e na Sardenha - em Nauloque, na Sicília, em 36 AC. Lépido havia invadido a Sicília, para combater Sexto, e ao fim da luta pretendeu conservá-la sob seu controle. Porém, Otávio apresentou-se na ilha e, obtendo a deserção das tropas de Lépido, acusou-o de traição, afastando-o do triunvirato. Desprovido de poder, Lépido contentou-se com o cargo de Sumo Pontífice, que exerceu até sua morte.
Entrementes, Marco Antônio devolve Otávia a Roma e desposa Cleópatra, então rainha do Egito. Com o reconhecimento de Cesarion (Ptolomeu XV) - filho de Cleópatra e César -, como seu co-dirigente, Marco Antônio passa a ameaçar a posição de Otaviano como único sucessor de César e a guerra entre ambos torna-se inevitável.
Otaviano consolida sua situação, pacifica a Ilíria e contribui para a prosperidade romana, com o desenvolvimento da agricultura. Usa as campanhas orientais de Antônio como pretexto para proclamar a traição do adversário e sua intenção de formar um reino independente de Roma. Esta declara guerra ao Egito e Otaviano é nomeado cônsul para combater Antônio e Cleópatra, cujos exércitos são vencidos na batalha de Áccio em 31 AC. Com a derrota, o território egípcio foi incorporado a Roma e no ano seguinte Marco Antônio e Cleópatra suicidam-se e Cesarion é assassinado. Em 29 AC, Otaviano retorna triunfalmente a Roma, como Senhor único do poder e recebe, com o nome de Augusto (posteriormente, Caesar Augustus), em 27 AC, os poderes repartidos até então, entre os magistrados, dando início ao Império Romano.

V – O IMPÉRIO ROMANO

Para simplificar o entendimento da matéria, diremos que o regime denominado “Império Romano” foi constituído por quatro distintas fases que ficarão, ao longo da jornada, perfeitamente claras: o “Principado”, o “Dominato”, o “Império Ocidental” e o “Império Oriental”.

V.1 – O Principado Romano

O Principado é a fase convencionada pelos historiadores para designar a primeira fase do Império Romano, desde 27 AC, quando o senado investiu Otaviano - o futuro Augusto - no poder supremo com a denominação de príncipe ou princeps (“primeiro” em latim), até 285 DC, quando iniciou-se o dominato por Diocleciano, mais próximo de uma monarquia absoluta. Durante esse período, a verdadeira natureza do regime permaneceu oculta atrás de conceitos republicanos e os imperadores eram muitas vezes relutantes, por falsa modéstia, em assumir-se como tal. O governo autocrático do imperador era ainda escrupulosamente mascarado por formas e convenções herdadas do período político da República Romana sob o lema Senatus Populusque Romanus ou SPQR.
O principado apresentava facetas diversas em Roma e nas províncias. Em Roma, era uma monarquia atenuada, pois o príncipe era apenas o primeiro cidadão, que respeitava as instituições políticas da república. Nas províncias imperiais, era uma verdadeira monarquia absoluta, porque o princeps, lá, possuía poderes discricionários. Mas o principado, como regime de transição da república à monarquia absoluta, encaminhou-se, paulatinamente, para o absolutismo.
Já em 29 AC, Otaviano recebera o poder de imperium vitalício, com o controle sobre todas as legiões romanas. Além de receber o título de “Augusto” (que acabou confundindo-se com o seu próprio nome) e “Princeps” em 27 AC, Otaviano foi também elevado a pontifex maximus em 12 AC, embora tenha recusado outros títulos, como a ditadura, temendo ter a mesma sorte de Júlio César; daí ter proposto esta nova forma de governo, o principado, que lhe dava o poder, mas mantinha a forma tradicional da república romana, que manteve até a sua morte em 14 DC. Na prática, detinha um poder absoluto!
O título, por extenso, Princeps Senatus /Princeps Civitaris (primeiro dos senadores, primeiro dos cidadãos), foi primeiramente adotado por Otaviano que decidiu não introduzir uma monarquia legal. O principal objetivo era restabelecer a estabilidade política perdida, desesperadamente necessária depois de exaustivas guerras civis, por meio de um regime ditatorial, de fato, dentro da estrutura constitucional da República Romana, como uma alternativa ao odiado predecessor Reino de Roma.
Imperador Augustus
Em face das peculiaridades que apresentou o principado, há controvérsia entre os autores modernos sobre a real natureza desse regime, mas tal discussão extrapola o escopo desta publicação e a deixaremos de lado.)
A obra de Augusto foi imensa, na paz como na guerra. Os quarenta anos do principado de Augusto marcaram uma das épocas mais brilhantes da história romana e descrever com detalhe todas as suas realizações – e haveria muito a contar -, novamente me desviaria do principal assunto desta postagem. Gostaria apenas de citar alguns fatos de sua época, para bem localizar o leitor em sua época, sem dúvida uma das mais brilhantes da história de Roma.
Virgilio, autor da "Eneida"
Por exemplo, sua foi também a época das figuras mais proeminentes do mundo romano no domínio da poesia, literatura, arquitetura e história; lembremos alguns de seus protegidos: Vergilius (Virgílio), Titus Livius (Tito Livio), Marcus Vitruvius Pollio (Vitrúvio), Quintus Horatius Flaccus (Horácio) e Publius Ovidius Naso (Ovídio). Além disso, fundou bibliotecas públicas e a literatura latina, primitivamente influenciada pelos gregos, adquiriu independência e tornou-se uma das mais brilhantes do mundo ocidental. Realizou um governo de ordem e hierarquia, lutando contra a decadência dos costumes, reorganizou a administração e as forças armadas, tornando-as permanentes e fixando-as nas fronteiras e criou organismos governamentais que facilitaram o censo e a cobrança de impostos e o aumento da centralização. Construiu o fórum de Augusto, no campo de Marte ergueu as primeiras termas, o Panteão de Roma e outros templos. Realizou expedições militares vitoriosas em várias partes do mundo e foi em sua época que a Judeia foi anexada; entretanto, sua campanha na Germânia fracassou.
Ovidio, autor de "Metamorfoses"
Escritores antigos e modernos discordam quanto à importância de Augusto. Alguns condenaram sua cruel luta pelo poder. Outros, dentre os quais se inclui o fiel partidário da república, Tácito (Publius Gaius Cornelius Tacitus), reconhecem suas boas ações como dirigente. Às vezes, pesquisadores atuais criticam seus métodos pouco escrupulosos e seu estilo autoritário, mas normalmente reconhecem suas realizações no estabelecimento de uma administração eficiente e um governo estável, bem como na obtenção de segurança e prosperidade para o Império Romano.
Augusto casou-se três vezes. Sua terceira esposa foi Lívia Drusilla, que já tinha dois filhos, Tibério e Druso, de um matrimônio anterior. Augusto, por sua vez, tinha uma filha, Júlia, também de um matrimônio anterior. Sua tentativa de conseguir um grande sucessor fracassou, pois seu sobrinho Marcelo morreu jovem. Agripa, cujo casamento com sua filha Júlia ele tinha forçado, morreu em 12 AC. Os filhos menores de Agripa morreram em 2 e 4 da era cristã. Druso e Júlia também faleceram. Restava Tibério. Adotando-o, Augusto deu-lhe participação cada dia mais ativa nos negócios do Estado. A partir de 13 DC, Tibério tinha poderes quase iguais aos do imperador. Quando Augusto morreu, em Nola, na Campânia, no ano 14 DC, já era o enteado quem de fato governava Roma.
O Panteão Romano

V.1.1 – Imperadores do Principado

Alguns historiadores, como Tácito, sugeriram que teria sido possível o retorno ao sistema republicano após a morte de Augusto, não permitindo a Tibério a acumulação dos mesmos poderes anteriores, o que não aconteceu. Os primeiros sucessores de Augusto retomaram a ficção de um governo em nome do senado e do povo romano enquanto continuaram a concentrar mais poder pessoal: as palavras "Imperator" e "Augusto" tornaram-se títulos dos imperadores.
A República Romana continuou com os seus magistrados, mas nomeados pelo imperador em vez de eleitos. O senado, composto por membros também escolhidos pelos mesmos imperadores, confirmava os títulos dos novos imperadores, que amiúde vinham das suas fileiras, e concediam a apoteose (elevação de alguém ao estatuto de divindade) aos "bons" imperadores, que se tornavam objeto de culto oficial. Inversamente, o Senado condenava os imperadores odiados ao esquecimento, declarando a sua damnatio memoriae (“danação da memória”, com o sentido de remover da memória)
O principado atingiu o seu apogeu sob os impérios de Trajano e Adriano, que permaneceram como era dourada onde reinava a paz e a prosperidade, a famosa Pax Romana. O fim do principado aconteceu com a chamada “crise do terceiro século” e o advento do dominato, de Diocleciano.
Ao longo do principado, os seus vários imperadores foram distribuídos por dinastias. Pelo menos três fatos surpreendem, de imediato, qualquer leitor menos avisado. O primeiro deles é a enorme quantidade de imperadores que governou durante o principado – e de modo geral ao longo de todo o império -, indicando curtos períodos de mando. O segundo é a existência de um grande número de nomes completamente desconhecidos dos nossos cursos de história, o que poderia indicar absoluta falta de documentação sobre esses personagens, mas que não parece plausível, dado o conhecimento de amplo material em épocas bem anteriores ao principado; o que nos deixa com a alternativa de que tais desconhecidos, tão pouco realizaram por Roma que a própria história encarregou-se de coloca-los no ostracismo. Surpreende também o número de imperadores que morreu de morte não natural, em geral assassinado por “amigos” (mas também por esposa), parentes ou, pelo menos, por relações que lhes eram próximas; o que nos leva a pensar sobre as imensas vantagens oferecidas ao posto mais alto da hierarquia do poder romano, de modo a justificar os esforços dispendidos (a própria vida) que, na maioria das vezes, não puderam ser gozadas.
Eu pretendia, neste ponto, introduzir uma relação dos Imperadores Romanos, que mostrou-se, entretanto, muito mais longa do que eu supunha, se formos incluir todos os que foram, historicamente, aceitos como tal. Em vista disto, desisti da minha ideia original, para não tornar o artigo por demais cansativo à maioria dos meus leitores. Entretanto, para não privar, aos que possuem um interesse maior no assunto, do conhecimento dessa grande relação, publicarei esta “Lista dos Imperadores Romanos” como Anexo ao artigo, através de “links” que os conduzirão diretamente a ela. A lista será subdividida em duas partes: Imperadores do Principado, inicialmente e, posteriormente, Imperadores do Dominato. É importante mencionar que esta lista inclui os imperadores romanos de todos os períodos do Império, até o seu final, com o Império do Oriente, apresentando sempre uma curta nota sobre cada um deles.
Imperador Nero
Até para manter a tradição, Nero é o primeiro dos imperadores do Principado que merece um registro especial, não pelas suas loucas mazelas, brevemente relatadas na lista dos imperadores, mas porque foi durante o seu tempo de governo que aconteceu o grande incêndio de Roma. Tal evento teve início na noite de 18 de julho do ano 64 DC e prolongou-se por nove dias até ser totalmente controlado, afetando 10 das 14 zonas da antiga cidade de Roma, três das quais foram completamente destruídas.
Existem várias versões sobre a causa do incêndio, a mais contada sendo a de que o povo que habitava construções de madeira, usando o fogo para aquecer-se e alimentar-se, por descuido teria permitido que o fogo perdesse o controle; os fortes ventos reinantes encarregaram-se de alastrar o fogo por toda a cidade. Outra versão famosa, desmentida pelos historiadores, é de que o imperador Nero teria ordenado o incêndio com o propósito de reconstruir a cidade de acordo com um novo e majestoso projeto arquitetônico. Há ainda a versão, também insustentável, concebida por romancistas pósteros que, atribuindo ao imperador a condição de demente, pretenderia que ele provocara o incêndio para inspirar-se, poeticamente, e poder produzir um poema, como Homero, ao descrever o incêndio de Troia. O fato de que, posteriormente, Nero teria usado seus agentes para adquirir, a preço vil, terrenos nas imediações de seu palácio, tornou-o suspeito, junto ao povo, como responsável pelo sinistro. Não se sabe exatamente o momento em que os cristãos passaram a ser acusados pelo incêndio, mas uma vez que a tese de "incêndio criminoso" se disseminara, poderia ter sido uma manobra de Nero transformar os cristãos em "bodes expiatórios", pelo fato de serem mal vistos em Roma, assim desviando as suspeitas de sua própria pessoa. Consequentemente, os cristãos foram ferozmente perseguidos por Nero e hoje a Igreja Católica celebra a memória desses "Santos Protomártires" no dia 30 de Junho. Entre os mais ilustres deles, encontram-se São Pedro, que foi crucificado de cabeça para baixo no circo de Nero, atual Basílica de São Pedro, e São Paulo que foi decapitado junto da estrada de Roma para Óstia.
O último ano do reinado de Nero foi caracterizado por um clima de terror e medo em que Roma e o senado foram submetidos ao poder do imperador e sofriam com sua paranoia. Em abril de 68, o senador Caio Júlio Víndice, governador da Gália Lugdunense, iniciou uma rebelião, com o objetivo de substituir Nero por Servius Sulpicius Galba, governador da Hispânia Tarraconense. Galba aceitou a proposta e imediatamente marchou para Roma. Em junho do mesmo ano, o senado declarou Nero persona non grata, reconheceu Galba como o novo imperador, aclamando-o na cidade, com suas legiões, e Nero suicidou-se.
Na história romana, o “Ano dos Quatro Imperadores” refere-se ao período aproximado de um ano, entre 68 e 69 D.C., no qual quatro homens sucederam-se como imperadores romanos. Entre junho de 68 D.C. e dezembro de 69 D.C., Roma testemunhou a ascensão e queda de Galba, Otão e Vitélio, e a ascensão final de Vespasiano, fundador da dinastia flaviana. Este período de guerra civil tornou-se emblemático dos distúrbios políticos cíclicos com várias implicações na história do Império Romano.
Com a queda da dinastia Júlio-Claudiana ("Imperadores do Principado"), o principado foi redefinido nos termos formais pelo imperador Vespasiano. A posição de princeps tornou-se uma entidade dentro da mais ampla — formalmente ainda republicana — constituição romana. Enquanto muitas das expectativas políticas e culturais permaneceram, o princeps não mais detinha uma posição ganha com base no mérito, mas permitindo a Vespasiano, e aos futuros imperadores, designar seus sucessores tendo que garantir sua posição mediante anos de sucessos e favores públicos. Sob a dinastia Antonina, foi normal o imperador apontar um general de sucesso e politicamente promissor como sucessor. Nas análises históricas modernas, isto é tratado por muitos autores como uma situação "ideal": o indivíduo mais capaz era promovido à posição de princeps. Segundo o historiador inglês Edward Gibbon, a dinastia Antonina teria sido o mais feliz e produtivo período da história humana, atribuindo o crédito, como fator chave, ao sistema de sucessão. Entretanto, a promoção de indivíduos à posição de princeps, baseada em sua bravura militar, é vista por muitos como tendo contribuído diretamente para a queda do principado, o caos da crise do terceiro século e a ascensão do dominato.
Imperador Nerva
Antes de entrar na “Crise do Terceiro Século”, uma breve referência ao chamado “Período dos Cinco Bons Imperadores” da história de Roma, compreendido entre os anos 96 e 180 DC Durante as administrações imperiais de Nerva (96 a 98), Trajano (98 a 117), Adriano (117 a 138), Antonino Pio (138 a 161) e Marco Aurélio (161 a 180), Roma desfrutou de relativa paz e prosperidade política, militar e econômica, atingindo o seu auge neste período. A prioridade do Império passou a ser, a partir de Adriano, a sua própria manutenção, em detrimento do expansionismo que o havia guiado anteriormente. Estabelecia-se, assim, a famosa Pax Romana.
Um dos fatores apontados como responsáveis por essa boa fase foi o método de sucessão escolhido por tais imperadores: em vez de simplesmente transferirem o poder aos seus descendentes, que não necessariamente possuíam capacidade administrativa para conduzir o Império, este era transmitido a um sucessor notadamente capaz. Foi assim em primeiro lugar com Trajano, que foi adotado e escolhido por Nerva a fim de sucedê-lo (Nerva não tinha filhos).
Imperador Trajano
Essa feliz política de sucessões só foi interrompida quando Marco Aurélio indicou, não o homem mais apto para substituí-lo no cargo após a sua morte (ocorrida em 180), e sim o seu filho, Cómodo, encarado como um dos piores imperadores que Roma teve e responsável pelo início das instabilidades políticas que abalariam o Império Romano.