Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

domingo, 5 de dezembro de 2021

LUIZ VIEIRA, O PRÍNCIPE DO BAIÃO

APRESENTAÇÃO

Não sei, pensei muito, mas não consegui lembrar, como retornei à voz e às composições do querido Luiz Vieira, dos meus 18 anos e que, por um pecado terrível, um dia abandonei, também sem saber por que razão ... Talvez tenha sido apenas devido à natural luta pela vida, que nos afasta de algumas, mas nos traz outras coisas igualmente ou mais importantes e queridas. Mas nada disso é agora relevante esclarecer. O importante é que eu reencontrei esse mágico da poesia, da música e da interpretação musical da minha geração – e que geração, Graças a Deus! – e que pude, graças a todos os recursos atuais, buscar algumas das suas obras e da sua história, para poder escrever essa pequena homenagem a tão ilustre músico da vida brasileira.
Esta é, na verdade, muito mais que uma homenagem que presto com todas as minhas limitações. É, em primeiro lugar, um agradecimento a Luiz Vieira por nos ter regalado, a todos os brasileiros e a pessoas do mundo inteiro, com obra tão maravilhosa, elaborada ao longo de sua vida simples e modesta de menino do interior do Pernambuco. Em segundo lugar, é o que eu considero uma obrigação, como brasileiro e como amante da boa música, reverenciar, embora muito tardiamente, o compositor em geral, sempre tão olvidado nas citações musicais, mas em particular, este genial compositor, poeta e intérprete Luiz Vieira que não teve, na minha opinião, o reconhecimento que deveria ter tido no cenário musical brasileiro, nem em vida, nem após a sua morte. A lamentar, apenas não ter tido Luiz Vieira um ou mil autores mais dignos a lhe prestar tal simples, mas honesta, homenagem.
Lembro de ter ouvido Luiz Vieira pela primeira vez, com a interpretação de “O Menino de Braçanã”, provavelmente por iniciativa de um de meus pais, porque essa melodia foi lançada em 1954, quando eu tinha apenas dez anos de idade e dificilmente me interessaria por esse tipo de música. Essa foi uma das desvantagens de Luiz Vieira, na minha opinião. Aquela nossa época foi marcada pelo eclodir do Rock’n’Roll, e cantores de outros tipos musicais tinham muito pouca chance de obter sucesso com os jovens. Entretanto, em 1962, ele lançou “Prelúdio Pra Ninar Gente Grande”, ao qual até os jovens de 18 anos, como eu, aderiram. E no ano seguinte ele lançou “Paz do Meu Amor”, outra de suas obras primas. E, a partir daí, não houve mais faixa etária que resistisse ao dom de Luiz Vieira. Logo vieram muitos outros sucessos, mas no que me concerne, foi também a época em que iniciei meu curso de Engenharia Civil e uma nova fase da minha vida se iniciou, em que passou a predominar o dever sobre o prazer. E Luiz Vieira, assim como outros nomes de vários setores, para mim caíram no esquecimento de uma fase da minha vida. E nunca mais ouvi falar dessa personalidade ...
Até que, presentemente, sem lembrar como, seu nome voltou ao meu alcance e comecei a buscar as suas composições, despertando todas as minhas lembranças das suas interpretações, lamentando o tempo perdido sem cultivar as suas gravações e sentindo o meu arrependimento por não lhe ter dado todo o crédito que merecia.
Enfim, nessa postagem, todo o meu reconhecimento à genialidade e ao mérito de Luiz Vieira, que muitas pessoas capacitadas, ligadas ou não à música, poderiam ter prestado e não o fizeram, intencionalmente ou não.

A VIDA DE LUIZ VIEIRA

Luiz Rattes Vieira Filho, nascido em Caruaru em 12 de outubro de 1928 e falecido no Rio de Janeiro, no ano passado, em 16 de janeiro de 2020, com a idade de 91 anos, foi um cantor, compositor, poeta e radialista brasileiro, tendo realizado a sua primeira composição aos oito anos de idade. Sua mãe era Anita Alves Mendonça, uma cantora lírica portuguesa de "Trás Os Montes", que participava de cerimônias religiosas em igrejas e de quem, certamente, Luiz Vieira teria herdado sua veia musical. Seu pai, Luiz Rattes Vieira, era advogado e jornalista. Queria muito que o filho seguisse sua trajetória, o que levou o rapaz a cursar Direito, tornando-se bacharel, mas nunca chegando a exercer a profissão.
Caruaru é um município brasileiro do estado de Pernambuco. É a mais populosa cidade do interior do estado, localizada na microzona do Agreste (estreita zona do Brasil nos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, entre a floresta costeira Zona da Mata e o sertão semiárido) e, por sua importância cultural, leva os apelidos de “Capital do Agreste”, “Princesinha do Agreste” e “Capital do Forró”. Possuindo aeroporto próprio, fica localizada a 140 km da capital do estado, Recife. É muito conhecida por suas festas de São João que tomam todo o mês de junho, às vezes estendendo-se até julho. Tinha, em 2020, uma população fixa de 365.278 habitantes vivendo numa área de 920,61 km2.
O nome de Luiz Vieira foi uma homenagem ao avô. Perdeu a mãe com apenas dois anos de idade. Antes dos dez anos deixou Caruaru, mudando-se para o Rio de Janeiro, sendo criado pelo avô em Alcântara, município de São Gonçalo, Rio de Janeiro. Na ex-capital federal exerceu diversas atividades antes de ingressar na vida artística. Foi chofer de caminhão, motorista de táxi, guia de cego, vaqueiro (condutor de burros) engraxate e lapidário. Em criança cantou em circos e parques de diversão. Aos oito anos, produziu sua primeira composição.
O jovem Luiz Vieira
Em sua carreira, iniciada precocemente (em 1943 já cantava em programas de calouros), cantava músicas românticas, valsas e sambas-canções. No programa de Renato Murce, importante radialista do Rio de Janeiro, imitou Vicente Celestino. Terminada a segunda grande guerra, em 1945, foi crooner de orquestra no cabaré “Novo México”, do bairro da Lapa, contratado “por vinte mangos por noite”, no Café Nice e no Capela, Rio de Janeiro.
Seu amor pela arte era tão grande que, em sua luta para conseguir suas primeiras participações em rádio, ia semanalmente de Alcântara, São Gonçalo, ao Rio de Janeiro, trajeto em que levava quase três horas, para tentar um lugar ao sol. Queria cantar no programa do Zé do Norte. E graças à sua persistência, num dia em que os cantores contratados e fixos de programa fizeram greve e faltaram, o rapazinho foi chamado e cantou. Saiu-se bem e passou a fazer parte da equipe. Em 1946 deixou seu emprego numa oficina mecânica e, contratado, começou a se apresentar na Rádio Clube do Brasil (hoje Mundial), no programa “Manhãs na Roça”, do cantor e compositor Zé do Norte, cantando músicas nordestinas. No mesmo programa tornou-se secretário e diretor musical do programa, para o qual redigia textos, anunciando casamentos, batizados, óbitos e nascimentos.
Luiz Vieira em
sua exitosa carreira

Transferiu-se depois para a Rádio Tamoio, onde passou a apresentar-se no programa “Salve o Baião”, tornando-se o “Príncipe do Baião”, apresentando-se ao lado de Luiz Gonzaga, o “Rei do baião”, Carmélia Alves, a “Rainha” e Claudette Soares, a “Princesinha”.
Após a morte de seu grande parceiro Zé do Norte, fez homenagem ao mesmo cantando a música “Lua bonita” em dueto com Marcus Lucenna, em apresentação no Circo Voador, no Rio de Janeiro.
Convidado por “Almirante”, foi contratado pela Rádio Tupi por intermédio de Paulo de Grammont. Em 1950, acabou sendo contratado pelas Rádios Tupi e Record, de São Paulo, que pertenciam às Emissoras Associadas. Com a inauguração da primeira TV no Brasil, a extinta Tupi, no Rio de Janeiro, em 1951, participou do primeiro programa musical da Televisão, “Espetáculos Tonelux”, apresentando-se ao lado da estrela vedete Virgínia Lane, com a direção de Mário Provezano.
Foi para a Rádio Nacional em 1953, ano em que compôs seu primeiro e um dos seus maiores sucessos, a toada “Menino de Braçanã” (com Arnaldo Passos), gravada inicialmente por Roberto Paiva e, em seguida, regravada por Ivon Curi.
Os meninos passarinhos de Luiz Vieira
No início de sua carreira trabalhou ainda na Bahia, na TV Itapoã. Em 1954 era cantor da rádio e televisão Record, de São Paulo, onde permaneceu até 1961.
No fim da década de 1950 foi para a Rádio e TV Record, de São Paulo. O programa “Encontro com Luiz Vieira”, da TV Excelsior, Canal 9, de São Paulo, estreou no ano de 1962, onde continuou divulgando músicas e cantadores do Nordeste. Nesse mesmo ano, a bordo de um avião, compôs o seu maior sucesso, o “Prelúdio para Ninar Gente Grande”, que se tornou mais conhecida como “Menino Passarinho”. Com ele, Luiz Vieira ganhou definitivamente as paradas de sucesso. Em 1963 gravou outro grande sucesso, “Paz do Meu Amor” (Prelúdio nº 2).
Em 1975 fez o show “Luís Vieira, de Rapadura e Cuscuz até Menino Passarinho”, no Teatro da Lagoa, no Rio de Janeiro, acompanhado pelo grupo "Gente". Nesse mesmo ano apresentou se no show “Tarde Nordestina”, na boate Igrejinha, em São Paulo.
Entre baiões, guarânias, toadas, sambas e prelúdios, é autor de mais de 500 músicas e suas composições foram gravadas por nomes como Sérgio Reis., Hebe Camargo, Elba Ramalho, Zizi Possi, Fagner, Rita Lee, Maria Bethânia, Agnaldo Timóteo, Caetano Veloso, Moacyr Franco, Luiz Gonzaga, Taiguara, Pery Ribeiro, Nara Leão, Augusto Calheiros, Gilberto Alves, Agnaldo Rayol, Cascatinha e Inhana e outros.
Chegou a fazer diversas viagens aéreas por semana, para fazer cinco programas de televisão. Viajava do Ceará ao Rio Grande do Sul. Foi radialista na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, no final dos anos 80, onde apresentou por mais de uma década, o programa diário “Minha Terra, Nossa Gente”, das 05:00hs às 07:00 hs, de segunda a sábado. Depois passou pela Rádio Rio de Janeiro e Rádio Carioca. Também foi locutor da Rádio Manchete.
Luiz Vieira no auge da carreira

Luiz Vieira não gostava de ser chamado de cantor, mas, sim, de cantador. e era um profundo conhecedor da literatura de cordel e do folclore nordestino.
Em 2002, lançou o espetáculo "Pessoas que Brilham", no Teatro João Caetano, onde a cada dia apresentava um convidado, entre os quais, Carmélia Alves. Foi também Diretor-presidente da SOCINPRO - Sociedade Brasileira de Administração e Proteção de Direitos Intelectuais - nos períodos de 1986 a 1988 e de 1990 a 1996.
Em outubro de 2018, foi realizado um show em São Paulo como tributo aos 90 anos do artista. A homenagem ganhou formato em disco de 2019, com o título “Luiz Vieira 90 anos”, lançado com participações de Zeca Baleiro, Daniel, Maria Alcina, Renato Teixeira, Claudette Soares e outros artistas brasileiros.
Luiz Vieira teve três filhos, dois dos quais formando um casal de gêmeos, do seu segundo casamento, com Eurídice Pereira.
Empresário e publicitário, fundou a Luís Vieira Produções.
Luiz Vieira morreu em 16 de janeiro de 2020, aos 91 anos, de uma parada cardíaca, depois de ser levado ao hospital após ter passado mal na noite anterior.

AS MÚSICAS E CURIOSIDADES DE LUIZ VIEIRA

Luiz Vieira sempre foi um camarada muito espirituoso e, sobretudo, de respostas sempre prontas, na “ponta da língua”. Lembro de algumas apresentações suas, em que o entrevistador lhe colocava algumas questões delicadas e ele, com aquela sua risada franca de nordestino, diplomaticamente se esquivava com alguma boa tirada.
Numa entrevista com Jô Soares em seu programa de 15 de dezembro de 2008, eles falavam sobre o público antigo de Luiz Vieira e sobre a dificuldade que esse mesmo público enfrentava para escutar cantores mais antigos, que eram esquecidos das grandes emissoras. E sobre alguma coisa ou música de cantor brasileiro mais antigo, Luiz Vieira deixo sair sem titubear: “Rapaz, isso era do tempo em que conquistar até mulher de vida fácil era difícil; hoje até mulher difícil está bem mais fácil de conquistar.”
A discografia de Luiz Vieira é muito pequena em relação ao que se poderia esperar de um compositor com mais de 500 composições, porque a grande maioria delas foi entregue a outros cantores para gravação. Gostaríamos de registrar – e apresentar aos nossos leitores -, a produção dos seguintes álbuns, sem garantir que esses constituam toda a sua discografia.

1958 – Retalhos do Nordeste (primeiro disco de Luiz Vieira)

1962 – Encontro com Luiz Vieira

1963 – Prelúdios de Amor

1971 – Em Tempo de Verdade

1974 – Luiz Vieira

1978 – Na Asa do Vento

1998 – 20 Supersucessos – Luiz Vieira

1998 – Se Eu Pudesse Falar

1998 – O Melhor de Luiz Vieira

2019 – Luiz Vieira 90 Anos 
Luiz em sua calma maturidade

Eu não conheço, nem ouvi, todas as músicas de Luiz Vieira. Seria praticamente impossível enumerar as suas mais de 500 composições, quanto mais apresentá-las todas. Por isso os leitores terão que confiar no meu gosto e preferência musicais. Mas estou certo de que a amostra será muito mais do que suficiente para mostrar a genialidade do nosso querido nordestino brasileiro Luiz Vieira.
Imagino que as canções mais conhecidas de Luiz Vieira - e que mais sucesso fizeram- foram, não nesta ordem cronológica, “Prelúdio para ninar gente grande”, “Paz do Meu Amor” e “Menino de Braçanã”. Portanto, acho justo que iniciemos por elas, a apresentação de suas músicas.
A origem de “Menino de Braçanã” foi contada pelo próprio autor, num programa de entrevistas. Braçanã era uma localidade do Estado do Rio de Janeiro, onde morava o tio de Luiz, o Sr. Augusto. E havia um menino que costumava ir buscar farinha, com seu jumentinho, na casa do seu tio, e voltava no mesmo dia, sem atender aos apelos para que pousasse, a fim de evitar as assombrações noturnas. O menino mostrava um crucifixo e dizia que não tinha medo porque andava com Jesus Cristo, e assim também obedecia ao que recomendava sua mãe, voltar no mesmo dia.
Essa história transformou-se na letra de “Menino de Braçanãque pode ser acessada no “link” enquanto acompanham a linda melodia do “Menino de Braçanã.
A história da composição da canção “Prelúdio para ninar gente grande", mais conhecida como "Menino Passarinho”, foi contada pelo próprio compositor no programa “mpbambas” ao seu entrevistador, Tárik de Souza. Nas suas andanças entre as várias cidades em que fazia apresentações à época (Belém, Recife, Fortaleza e Salvador), só tinha tempo para dormir no avião. Numa dessas vezes, ao chegar em Salvador, ele foi “sequestrado” por uma jovem importante em sua área de atividade, que o levou para um apartamento que ela alugaria para ele, sentindo que ele vivia muito cansado por causa de suas viagens. Ele achou o gesto muito bonito e, como o que bem sabia fazer era compor, disse que ia, em agradecimento, fazer à moça uma composição. Saindo de Recife e baseado no fato de que Salvador era sua última etapa e que lá chegando iria encontrar o descanso em colo amigo, compôs o “Menino Passarinho” a bordo do avião que decolava. A letra desta canção é tão bonita que Vinícius de Moraes não a podia escutar sem elogiar a singeleza da poesia. Para que nossos leitores possam apreciá-la, segue também o link da letra de Menino Passarinho. Essa foi uma das melodias que, segundo ele, Luiz Vieira fez questão de gravar.
Outra canção muito conhecida de Luiz Vieira é “Paz do meu amor - Prelúdio No. 2”, que foi gavada por vários cantores brasileiros importantes, como Nelson Gonçalves, Taiguara, Hebe Camargo e outros. Entretanto, em minha opinião, nenhum deles bate a interpretação do seu autor. Com vocês, “Paz do meu amor”, na voz de Luiz Vieira, com sua belíssima letra para acompanharem.
Na mesma entrevista com Tárik de Souza, em seu programa “mpbambas”, Luiz Vieira disse uma vez: “Poeta nasce poeta pela graça de Deus; faz-se popular pela graça do povo”. Ele era um poeta de mão cheia e as duas últimas composições que apresentarei dão uma boa ideia dessa sua qualidade.
Das suas composições, a que mais me emociona é “Estrêla de Veludo”, com uma poesia primorosa e uma melodia vibrante e ao mesmo tempo muito calma. Essa composição, infelizmente, foi gravada por Luiz Vieira diretamente no auditório da sua apresentação e, por isso, sua qualidade deixa a desejar. Eu recomendo muito a meus leitores que, primeiramente, leiam atentamente a sua letra, uma poesia maravilhosa, para bem poderem apreciar, posteriormente, a melodia completa de “Estrela de Veludo”.
Na mesma entrevista mencionada acima, disse, entre outras coisas, Luiz Vieira: “A vida só é bonita se for vivida como ela é; pobreza só é pobreza quando o cabra perde a fé. Para conhecer o amor verdadeiro, você precisa ter sofrido antes. Baseado em tudo porque passei antes, criado por meu avô e tendo que desempenhar todos os tipos de atividades, algumas dessas acabaram se tornando, para mim, muito prazerosas. Muitas dessas coisas foram colocadas na letra da linda melodia que é “Balada do Amor Sublime”.
Como falei antes, esse nosso querido compositor nordestino, foi o autor de mais de 500 composições. Acredito muito que, com essa pequena amostra apresentada, nossos leitores possam ter uma pálida ideia da genialidade de Luiz Vieira, o “Príncipe do Baião”.