Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

 



CHARLEMAGNE OU CARLOS MAGNO
(Parte 1 de 4)


I - INTRODUÇÃO

Embora missionários como Patrick e Agostinho tenham feito do Cristianismo um enorme sucesso nas Ilhas Britânicas, na realidade havia somente uma tribo em toda a Europa continental que era, na época, Cristã: os Francos, cujo rei se havia convertido em 496. Todas as demais eram pagãs.
Tudo isso mudou quando Carlos Magno ou Carlos, o Grande, tornou-se Rei dos Francos, governando de 771 a 814. Ele foi um grande conquistador militar e canalizou esse talento a serviço da Igreja, pois ao conquistar a maior parte da Europa Ocidental e uma boa parte da região oriental, ele usou a força militar para constranger todos os seus súditos a se tornarem cristãos. Ele também realizou esforços missionários mais sutis, encorajou a difusão de monastérios beneditinos e, especialmente, a cópia de manuscritos teológicos.
O Papa o coroou Imperador Romano no ano 800, séculos após o colapso do antigo Império Romano na Europa, num ato que enfureceu o Imperador do Oriente, que ainda reivindicava o mando de ambos, ocidental e oriental. Seu “Sacro Império Romano” diminuiu rapidamente após a sua morte, mas permaneceu como uma força importante da Europa rumo à Reforma. Embora centrado na moderna Alemanha, sua influência espalhou-se de forma muito mais ampla.
Ironicamente, Carlos Magno presenteou os cristãos de hoje com um dilema. De um lado, perguntamos se as ações de Carlos Magno, com sede de sangue ao difundir a Igreja, não foram totalmente hostis ao evangelho de Cristo? De outro lado nos perguntamos se a Igreja teria sobrevivido sem ele?
Carlos Magno, em francês Charlemagne, em inglês Charles the Great e numerado Charles I, nascido em 2 de abril de 748 e morto em 28 de janeiro de 814, foi o Rei dos Francos a partir de 768, o Rei dos Lombardos [1] a partir de 774 e o Imperador dos Romanos a partir de 800. Durante a Antiga Idade Média, ele uniu a maioria da Europa Ocidental e Central. Ele foi o primeiro imperador reconhecido a governar a Europa Ocidental desde a queda do Império Romano Ocidental três séculos antes. O Estado Franco expandido, que Carlos Magno fundou, é também chamado de Império Carolíngio. Foi muito mais tarde canonizado pelo antipapa Pascal III.
A “Francia”, “Reino dos Francos” ou “Império dos Francos” foi o maior reino bárbaro pós-romano na Europa Ocidental. Foi governado pelos francos durante a “Antiguidade Tardia” e a “Antiga Idade Média” e predecessor dos modernos estados da França, Bélgica, Netherlands, Luxemburgo e Alemanha. Após o Tratado de Verdun, em 843, a Francia Ocidental tornou-se o predecessor da França, assim como a Francia Oriental, o da Alemanha. A Francia esteve entre os últimos reinos germânicos sobreviventes do período migratório dos povos germânicos (370 a 580) antes de sua partição em 843.
Carlos Magno era o filho mais velho de Pepino, o Breve e Bertrada de Laon, nascido antes de seu casamento canônico. Tornou-se rei dos Francos em 768 com a morte de seu pai, inicialmente como comandante com seu irmão Carlomano I, até a morte deste em 771. Como mandante único, continuou a política de seu pai em direção ao Papado, tornando-se seu protetor, removendo os Lombardos do poder no norte da Itália e liderando uma incursão à Espanha muçulmana. Realizou campanhas contra os Saxões ao seu leste, cristianizando-os sob pena de morte, conduzindo a eventos como o Massacre de Verden, em que ordenou a morte de 4.500 saxões (782), ocorrido em Verden, hoje na Baixa Saxônia, Alemanha. Alcançou o máximo do seu poder em 800, ao ser coroado Imperador dos Romanos pelo Papa Leão III, na noite de Natal, na velha basílica de São Pedro, em Roma.
Carlos Magno tem sido chamado de “Pai da Europa”, por ter unido a maioria da Europa Ocidental pela primeira vez desde a era clássica do Império Romano, e por ter unido partes da Europa que nunca tinham estado antes sob mando Franco ou Romano. Seu comando estimulou o “Renascimento Carolíngio”, um período de grande atividade cultural e intelectual na Igreja Ocidental. A Igreja Ortodoxa Oriental o viu menos favoravelmente pelo seu apoio ao “filioque [2]” e pelo Papa te-lo preferido como Imperador ao invés da primeira mulher rainha do Império Bizantino, Irene de Atenas. Esta e outras disputas conduziram ao rompimento posterior entre Roma e Constantinopla, no Grande Cisma de 1054.
Carlos Magno casou-se pelo menos quatro vezes e teve três filhos legítimos que viveram até a idade adulta, mas somente o mais jovem deles, Luís, o Piedoso, sobreviveu para sucedê-lo. Também teve numerosos filhos ilegítimos com suas concubinas. Morreu em 814 e foi conduzido ao descanso na Catedral Aachen, em sua cidade imperial de Aachen.

II - ANTECEDENTES

O termo “Francos” emergiu no século III, envolvendo as tribos Germânicas entre o Baixo Reno e o Rio Ems (hoje entre terras de Holanda, Bélgica, Alemanha e o Mar do Norte), que se estabeleceram na fronteira norte do Império Romano, incluindo os Bructeri, Ampsivarii, Chamavi, Chattuarii e Salians.

Posições aproximadas das tribos Germânicas no século III
Mais tarde o termo “francos” foi associado às dinastias germânicas romanizadas, dentro do então moribundo Império Romano do Ocidente que, ao final, comandou toda a região entre os rios Reno e Loire, impondo o seu poder a muitos outros reinos pós romanos e germânicos. Ainda mais tarde, os governantes francos foram reconhecidos pela Igreja Católica como sucessores dos antigos mandatários do Império Romano do Ocidente. O núcleo dos territórios francos dentro do Império Romano do Ocidente, ficava próximo aos rios Reno e Maas (Rio Meuse), ao norte. O núcleo territorial original do reino Franco, veio a ser conhecido por “Austrasia” (as terras orientais), ao passo que o grande reino franco romanizado ao norte da Gália veio a ser conhecido como “Neustria”.

França nos primórdios do século VIII
Embora todas tivessem participado do exército romano, os Salians tiveram autorização para se estabelecer dentro do Império Romano.
Alguns dos líderes francos, como Flavius Bauto e Arbogastes, se aliaram à causa dos romanos, mas outros mandatários, como Mallobaudes, estiveram ativos em solo romano por outras razões. Após a queda de Arbogastes, seu filho Arigius teve sucesso no estabelecimento de um condado hereditário em Trier (sudeste da atual Alemanha) e, após a queda do usurpador Constantino III, alguns francos apoiaram o usurpador Jovinus, morto em 413, mas os romanos tiveram cada vez mais dificuldade para gerenciar os francos dentro de suas fronteiras.
Cerca de 428, o rei Clódio, cujo reino pode ter sido no Civitas Tungrorum [3] (com sua capital em Tongeren), lançou um ataque em território romano estendendo seu reino até Camaracum (Cambrai) e o Somme. Embora relatado que Flavius Aetius derrotou uma união de casamento desse povo (cerca de 431), este período marca o início de uma situação que duraria por muitos séculos: os francos germânicos como mandatários de um número crescente de súditos Gallo-Romanos.
Após o período em que pequenos reinos interagiram com as restantes instituições Gallo-Romanas ao sul, um só reino os uniu, fundado por Clóvis I, coroado Rei dos Francos, em 496 e sua dinastia ficou conhecida como dinastia Merovíngia. Em um período de conflitos entre facções, nos anos 450 e 460, Quilderico I, um franco, foi um de vários líderes militares comandando forças romanas com várias afiliações étnicas na Gália Romana, enfrentando competição de um romano pelo reino dos francos associados às forças romanas do Loire. Os Merovíngios, portanto, considerados parentes de Clódio, surgiram dentro dos exércitos Gallo-Romano, com Quilderico I e seu filho Clóvis sendo chamados de Reis dos Francos no exército Gallo-Romano, ainda antes de ter qualquer reino territorial franco. Assim que Clóvis derrotou Syagrus, seu adversário romano, pelo poder ao norte da Gália, juntou-se aos reis dos francos ao norte e leste, bem como a outros reinos pós romanos já existentes na Gália: Visigodos, Burgundians e Alemanni.
Pelo século VI, a tribo ocidental germânica dos Francos havia sido cristianizada, em considerável medida pela conversão de Clóvis I. A Francia, governada pelos Merovíngios, era o mais poderoso dos reinos que sucederam ao Império Romano do Ocidente. Logo após a Batalha de Tertry, os Merovíngios caíram na impotência pela qual criaram os chamados “reis que não fazem nada”. Quase todos os poderes do governo eram exercidos por seu principal servidor, o “prefeito do palácio” (mordomo).
A dinastia Merovíngia foi, ao final, substituída pela Dinastia Carolíngia, criada em sua base, que se tornou, ao final, a dinastia dos Novos Imperadores da Europa Ocidental no ano 800. Sob as campanhas quase contínuas de Pepino de Herstal, Carlos Martel, Pepino o Breve, Carlos Magno e Luís o Piedoso – pai, filho, neto, bisneto e trineto – a maior expansão do Império Franco foi garantida ao início do século IX, nessa época já batizada de Império Carolíngio.
Em 687, Pepino de Herstal, prefeito do palácio de Austrasia, terminou com a contenda entre vários reis e seus prefeitos com sua vitória em Tertry. Ele tornou-se o único governante de todo o Reino Franco. Pepino era o neto de duas importantes figuras do Reino Austrasiano: Santo Arnulf de Metz e Pepino de Landen. Pepino de Herstal foi posteriormente sucedido por seu filho Carlos, mas tarde conhecido por Carlos Martel.
Após 737, Carlos governou os Francos como rei, mas declinando chamar-se Rei. Em 741, Carlos foi sucedido por seus filhos Carlomano e Pepino, o Breve (pai de Carlos Magno), como Prefeitos do Palácio. Em 743, os irmãos, para evitar o separatismo na periferia, resolveram reconhecer Quilderico III como o último rei merovíngio. Carlomano resignou ao seu posto em 746, tornando-se monge da Igreja. Como Quilderico III nunca tivesse participado dos assuntos públicos, Pepino resolveu tomar a coroa para si e enviou cartas ao Papa Zacarias, perguntando-lhe se o título de rei deveria pertencer a quem tivesse linhagem real ou a quem de fato exercesse o poder. O Papa Zacarias deu a sua decisão em 749, respondendo que quem detivesse o poder de fato, deveria ter também o título de rei, ordenando que Pepino o Breve se tornasse o verdadeiro Rei. Em 750 Pepino foi eleito por uma assembleia dos Francos e ungido pelo arcebispo assim elevado ao posto de Rei. Quilderico III foi enviado para um monastério e com isso a dinastia Merovíngia foi definitivamente substituída pela dinastia Carolíngia, nomeada de Carlos Martel.
O Papa Estevão II foi o Bispo de Roma de 26 de março de 752 até a sua morte em 25 de abril de 757 e marcou a histórica delineação entre o Papado Bizantino [4] e o Papado Franco [5]. Em 753, durante o seu pontificado, Roma estava enfrentando a invasão dos Lombardos (povo de origem germânica que governou a maior parte da Península Itálica de 568 a 774) e Estevão II fugiu da Itália para Paris em busca de ajuda de Pepino o Breve, que derrotou os Lombardos. Em retorno, Estevão II novamente ungiu e confirmou o reino de Pepino, desta vez adicionando seus jovens filhos Carolus (Carlos Magno) e Carlomano ao patrimônio real, tornando-se assim herdeiros do reino que então já cobria a maior parte da Europa Ocidental. Em 756, após derrotar os Lombardos, Pepino doou ao Papa Estevão II um território que, ao final, serviu de base legal ao estabelecimento dos Estados Papais, assim estendendo o governo temporal dos Papas além do Ducado de Roma [6].
Sob o mando Carolíngio, o Reino Franco se ampliou até abarcar uma área que incluía a maior parte da Europa Ocidental, com a divisão leste-oeste do reino formando a base da moderna França e Alemanha. A “Francia”, também chamada de “Reino dos Francos” ou “Império Franco”, foi o maior reino bárbaro pós-romano da Europa Ocidental. Ele foi governado pelos Francos durante o final da Antiguidade e o início da Idade Média, sendo o precursor dos modernos estados da França, Bélgica, Holanda, Luxemburgo e Alemanha. Após o Tratado de Verdun, em 843, a Francia Ocidental tornou-se a precursora da França e a Francia Oriental a precursora da Alemanha.

II - ASCENÇÃO AO PODER

A data mais provável do nascimento de Carlos Magno é obtida de várias fontes que se contradizem. O ano de 742, calculado por Einhard a partir da data de sua morte, em janeiro de 814, com 72 anos, coloca o casamento de seus pais em 744. O ano de 747 dado pelos Anais Petaviani seria mais razoável, mas contradiz Einhard e outras poucas fontes, fazendo com que Carlos Magno morresse com 67 anos de idade. 

Busto de Carlos Magno
Catedral de Aachen.
O lugar exato do seu nascimento é desconhecido, embora historiadores tenham sugerido Aachen da atual Alemanha e Liège (Herstal) na Bélgica de hoje, como locais possíveis. As duas cidades ficam próximas da origem das famílias Merovíngia e Carolíngia. Outras cidades também foram sugeridas, incluindo Düren, Gauting, Mürlenbach, Quierzy e Prüm, sem que qualquer evidência definitiva resolva a questão.
Carlos Magno foi o filho mais velho de Pepino o Breve (714 a 24 de setembro de 768), que reinou de 751 à sua morte, e de sua esposa Bertrada de Laon (720 a 12 de julho de 783), filha de Caribert de Laon. Muitos historiadores consideram que Carlos Magno possa ter sido filho ilegítimo dado que Pepino só casou com Bertrada em 744, após o nascimento de Carlos Magno, fato que não o excluiu da sucessão. Os registros apenas consideram como seus irmãos, Carlomano e Gisela além de três crianças mortas em tenra idade: Pepino, Chrothais e Adelais. Seria tolice escrever algo sobre o nascimento, infância ou mesmo sua juventude, pois nada foi jamais escrito sobre o assunto.
Os mais poderosos funcionários do povo franco, o Prefeito do Palácio (Maior Domus) e um ou mais reis, eram indicados pela eleição do povo. As eleições não eram periódicas, mas eram mantidas como necessárias para eleger os servidores aos quais pertenciam os mais importantes assuntos de estado. Evidentemente, decisões provisórias podiam ser feitas pelo Papa que, ao final necessitavam ser ratificadas por uma assembleia do povo que se reunia anualmente.
Antes de ser eleito rei, em 751, Pepino o Breve, foi inicialmente um Prefeito, um alto posto que ele teve, “embora hereditário”, da mesma forma que seu pai Carlos Martelo, em propriedade conjunta com seu irmão Carlomano. Contudo, cada um tinha sua própria jurisdição geográfica. Quando Carlomano decidiu abdicar, para tornar-se um monge beneditino em Monte Cassino, a questão dessa disposição foi resolvida pelo Papa. Ele converteu a Prefeitura num reinado, concedendo a propriedade conjunta a Pepino, que ganhou o direito de passá-la por herança. 

O Reino Franco no ano de 768
Com a morte de Pepino em 24 de setembro de 768, em Paris, o reino passou para seus filhos “com assento divino”. Os francos, em assembleia geral, deram a ambos o título de rei, mas partiram o corpo do reino igualmente. Os “anais” contam uma versão levemente diferente, com o rei morrendo em Saint Denis, próximo de Paris e os dois lordes (senhores) sendo elevados à realeza, Carlos Magno em 9 de outubro, em Noyon e Carlomano, em data não especificada, em Soissons. Se nascido em 742, Carlos Magno tinha 26 anos, mas havia acompanhado seu pai, como seu braço direito, por vários anos, assim tendo obtido seu aperfeiçoamento militar. Carlomano tinha 17 anos de idade.
De qualquer forma, a língua sugere que houve duas heranças que teriam criado distintos reis, mas apenas uma herança conjunta com um reinado conjunto regido por dois reis iguais, Carlos Magno e seu irmão Carlomano. Carlos Magno recebeu a porção original de Pepino como Prefeito: as porções mais externas do reino, junto ao mar, Neustria, Aquitaine Ocidental e as partes setentrionais da Austrasia. A Carlomano coube a porção mais interna inicial de seu tio, sul da Austrasian Septimania, Aquitaine Oriental, Burgundy (Borgonha). Provence e Swabia (região cultural, histórica e linguística no sudoeste da Alemanha), na fronteira com a Itália. Não foi definitivamente estabelecido se essas duas jurisdições reverteriam ao outro irmão se um deles morresse ou se cada uma delas passaria aos descendentes do irmão falecido. Tudo continuou assim pelas décadas que vieram, até que os netos de Carlos Magno criaram reinos distintos.
O primeiro evento do reino dos irmãos foi a revolta da Aquitaine e Gasconha, em 769, no território dividido entre os dois reis. Um ano antes de sua morte, Pepino, o Breve, tinha finalmente derrotado Waifer, Duque da Aquitaine, após empreender uma destrutiva guerra de 10 anos contra a Aquitaine. Agora, Hunaldo II conduziu os aquitaineos até Angoulême. Carlos Magno encontrou-se com Carlomano, que se recusou a participar, retornando a Burgundy. Carlos partiu para a guerra, conduzindo um exército para Bordeaux, onde estabeleceu um forte em Fronsac. Hunaldo foi obrigado a fugir para a corte do Duke Lupus II da Gasconha. Lupus, temendo represália de Carlos Magno, entregou Hunaldo em troca da paz, que foi colocado num monastério. Os lordes gascões também se renderam e com isso a Aquitaine e a Gasconha foram afinal e totalmente subjugadas pelos Francos.
Os irmãos mantiveram relações indiferentes com a assistência de sua mãe Bertrada, mas em 770 Carlos Magno assinou um tratado com o Duque Tassilo III da Bavária e desposou uma princesa lombarda, Desiderata, a filha do rei Desiderius, para cercar Carlomano com seus aliados. Embora o Papa Estevão III tenha inicialmente se oposto ao casamento com uma princesa lombarda, concluiu que teria pouco a temer de uma aliança Franco-Lombarda.
Menos de um ano após o seu casamento, Carlos Magno repudiou Desiderata e desposou uma nobre de treze anos da Swabia, chamada Hildegard. A repudiada Desiderata retornou à corte de seu pai em Pavia, cuja ira aumentada o faria de bom grado aliar-se a Carlomano para derrotar Carlos Magno. Contudo, antes que hostilidades abertas fossem declaradas, Carlomano morreu em 5 de dezembro de 771, aparentemente de causas naturais, fazendo com que Gerberga, sua viúva, fugisse com seus filhos para a corte de Desiderius em busca de proteção.

Segue na próxima postagem com a parte 2 de 4.

[1] Os Lombardos ou Langobardos eram um povo germânico que governou a maior parte da Península Itálica, de 568 a 774, originário da Escandinávia. Os Reis dos Lombardos foram os monarcas do povo Lombardo desde o início do século VI até que a sua identidade se perdeu nos séculos IX e X. Após 568, os Reis Lombardos às vezes se se autointitulavam Reis da Itália. Após 774 não eram mais Lombardos, mas Francos. A partir do século XII, a coroa e relicário comemorativos, conhecido como a “Coroa de Ferro”, retrospectivamente tornou-se um símbolo do seu governo, embora nunca tenha sido usada pelos Reis Lombardos.
[2] Filioque é um termo latino que significa “e do Filho”, adicionado ao Credo original de Niceia e Constantinopla, comumente conhecido como Credo de Niceia, assunto de grande controvérsia entre o Cristianismo Oriental e Ocidental. É um termo que se refere ao Filho, Jesus Cristo, como um ponto de origem adicional do Espírito Santo. Não é o texto original do Credo atribuído ao Primeiro Concílio de Constantinopla (381), o segundo concílio ecumênico, que dizia que o Espírito Santo procede “do Pai”, sem adições de qualquer espécie como “e do Filho” ou “somente”.
[3] O Civitas Tungrorum foi um enorme distrito administrative romano, dominando o que é hoje o leste da Bélgica e o sul da Holanda. No início do Império Romano, ele ficava na província da Galia Belgica, mas mais tarde uniu-se aos distritos vizinhos da fronteira do rio Reno Inferior, dentro da província da Alemanha Inferior, cuja capital era Aduatuca Tungrorum, agora Tongeren. Como muitos outros distritos administrativos romanos, este tirou seu nome do grupamento tribal que ali vivia, os Tungri, embora aquele nome não fosse conhecido da área antes que ela se tornasse parte do Império Romano. Também, como outros distritos, este tornou-se a base de um bispado medieval, mas os bispos de Tongeren moveram-se primeiro para a próxima Maastricht e então para Liège.
[4] O Papado Bizantino foi o período de dominação bizantina do Papado Romano de 537 a 752, quando os papas solicitavam a aprovação do Imperador Bizantino para a consagração episcopal e muitos papas foram escolhidos por ligações entre o Papa e o Imperador ou os habitantes da Grécia, Síria ou Sicília bizantinas. Justiniano I conquistou a Península Itálica na Guerra Gótica e indicou os três Papas seguintes, uma prática que continuaria por seus sucessores e mais tarde seria delegada ao Exarcado de Ravena.
[5] De 756 a 857 o Papado mudou da órbita do Império Bizantino para os reis dos Francos que passaram a ter influência considerável na seleção e administração dos Papas.
[6] O Ducado de Roma era um Estado dentro do Exarcado (Governo Militar) Bizantino de Ravena. Como qualquer Estado bizantino na Itália, era governado por um funcionário imperial com o título de Duque. O Ducado muitas vezes entrou em conflito com o Papado pela supremacia dentro de Roma. O Ducado foi fundado com as conquistas bizantinas do Imperador Justiniano I na Itália em 533 na Guerra Gótica.