Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

domingo, 8 de outubro de 2023

ANONIMO VENEZIANO

Eu havia publicado, anteriormente, algumas postagens sobre músicas na minha “tag” “Músicas Preferidas”, mas essa publicação estava bem complicada de ser feita, assim como acontecia com a “tag” “Livros Preferidos”, provavelmente devido à minha falta de perícia no tratamento dessas questões midiáticas. Em vista disso, resolvi republicar todas as postagens sobre músicas e livros anteriormente publicadas, com pequenas alterações, cada uma como uma nova postagem. Creio que assim procedendo, tornarei as matérias sobre músicas e livros mais acessíveis aos meus leitores. Vou iniciar com o “Anonimo Veneziano”.
Música é o meu ponto fraco!!! Ainda sou capaz de identificar, ao ouvir uma melodia, a época e situação da minha vida em que a escutei pela primeira vez ou fui por ela marcado. Qualquer pessoa sabe que é muito difícil dizer qual a sua melodia preferida, pois as músicas impressionam as pessoas de maneiras diversas; e essas várias sensações acabam tornando uma música preferida por tal razão, outra por qual motivo e assim sucessivamente, de forma que diferentes pessoas catalogam diferentes melodias como as suas preferidas.
Esta música, mais uma das minhas grandes favoritas, me traz lindas lembranças do ano tão distante de 1973, quando retornava da minha primeira viagem à Europa, em companhia da minha esposa Selene e da filha Cláudia, então única. Havíamos passado seis meses na Inglaterra, radicados em Londres, mas viajando por toda a Grã-Bretanha, e mais quatro meses na França, morando na pacata e histórica cidade de Brive-La-Gaillarde, mas também viajando bastante por toda a metade meridional do país, além da capital. Após meus trabalhos oficiais, tiramos quase um mês de férias para conhecer alguns países da Europa e acabamos o giro na cidade de Cannes, ao sul da França, no Mar Mediterrâneo. De lá embarcamos no “Augusto C” para retornar ao Brasil numa maravilhosa viagem de treze dias, cruzando boa parte do Mediterrâneo, atravessando o Estreito de Gibraltar, infletindo para o norte em busca da Lisboa antiga, onde permanecemos algum tempo para compras e então atravessando o Atlântico, rumo ao porto de Santos, São Paulo, nosso destino quase final, posto que iríamos para Porto Alegre.
Pois foi a bordo do “Augusto C” que assistimos à película “Anonimo Veneziano” (assim mesmo, sem acento, nome do filme em italiano), de cuja trilha sonora faz parte a maravilhosa música de que trata esta postagem. O filme fora inteiramente rodado na cidade italiana de Veneza, que havíamos conhecido pouco tempo atrás e que, em minha opinião, é uma cidade tão linda quanto nostálgica, por tudo quanto dela se conhece – retornei lá, uma vez, e ainda a achei mais triste do que na primeira vez. E eu, que já amava a cidade, apaixonei-me pela música e a trago agora, bem como ao filme, para compartilhar com os meus leitores. 
O cartaz de apresentação de
"Anonimo Veneziano"
O "Anonimo Veneziano" é um filme italiano, dramático, de 1970, vencedor de prêmios, escrito e dirigido pelo famoso ator italiano Enrico Maria Salerno, na sua estreia como diretor de cinema. O filme foi estrelado pelo ator americano Tony Musante e pela nossa atriz brasileira Florinda Bolkan.
O enredo do filme fala de Enrico, um oboísta do “Gran Teatro La Fenice”, de Veneza, que não conseguiu se tornar o grande maestro que desejava. Afetado por um câncer incurável, consegue um encontro nesta cidade, com sua ex-mulher, Valéria, com quem teve um filho, de quem está separado há alguns anos e que vive com outro homem em outra cidade, mas ocultando suas condições de saúde. Enrico e Valéria caminham e passeiam pelas ruas e canais de Veneza, lembrando os tempos felizes em que viviam juntos, mas também os maus momentos. Ela percebe que ainda o ama, mas quando ele, finalmente, confessa estar morrendo, Valéria percebe que já é tarde demais para voltar atrás e mudar o curso de suas vidas. No final do filme, quando o dia termina, os dois se despedem cientes de que não se encontrarão novamente. Enquanto ela se afasta, em lágrimas, da antiga igreja convertida em estúdio de gravações, Enrico dirige, com paixão, o ensaio de uma orquestra para um concerto de um autor “anônimo” (é esta a origem do título do filme), de origem veneziana, que se torna a trilha sonora do filme.
O filme recebeu os prêmios “David di Donatello” para melhor atriz, Florinda Bolkan, um “David Special” para o diretor Enrico Maria Salerno e o prêmio “Nastro d’Argento” para a melhor cinematografia a cores (Marcello Gatti) e a melhor trilha sonora (Stelvio Cipriani), além de três outras indicações. Saiu da Itália em 30 de setembro de 1970 e obteve enorme sucesso com o público, aparecendo como o quarto colocado da temporada e superando, em muito, o filme “Love Story”, do mesmo ano. 
O compositor Stelvio Cipriani
O filme é especialmente notável por sua romântica trilha sonora, composta por Stelvio Cipriani, cujo tema principal ficou conhecida no Brasil como “Anônimo Veneziano” e, em francês, como “Venise Va Mourir”. Tal melodia foi gravada por vários intérpretes de várias nacionalidades, vocal e instrumental, com enorme sucesso. Em 1970, Frida Boccara a gravou em francês (com letra de Eddy Marnay) e a apresentou mais tarde, no Festival de Filmes de Cannes. Também em 1970, Tony Renis a gravou como “Anonimo Veneziano”, em inglês e italiano; em 1971, ele a gravou como “Venise Va Mourir”, na versão francesa. Posteriormente outras gravações foram realizadas: Sergio Denis (1971), Fred Bongusto (1971), Ornella Vanoni (1971) e Nana Mouskouri, em 1973, como “To Be the One You Love”. Como música instrumental foi gravada por Paul Mauriat, Franck Pourcel, Fausto Papetti e Julio Armando, apenas para citar as orquestras mais conhecidas.
Quanto à trilha sonora, ainda, o filme apresenta uma particularidade muito interessante. O concerto que o personagem principal, Enrico, ensaia ao final do filme, é apresentado como “Concerto em Dó Menor para Oboé, Cordas e Baixo Contínuo”, de Benedetto Marcello. Na realidade, trata-se do “Concerto em Ré Menor para Oboé, Cordas e Baixo Contínuo”, em três movimentos, de Alessandro Marcello, irmão mais velho e menos popular que Benedetto. No caso do ensaio, trata-se do segundo dos três movimentos, o Adágio. Tornado famoso graças ao filme, neste ele é transcrito e conduzido por Giorgio Gaslini.
Como nunca gostei de compositores anônimos, algumas palavras sobre o autor da trilha sonora do “Anônimo Veneziano”. Stelvio Cipriani é um compositor italiano nascido em Roma, em 20 de agosto de 1937, muito conhecido por suas composições para trilhas sonoras. Sem vir de família de músicos, sempre foi fascinado pelo órgão de sua igreja, onde recebeu as primeiras lições de música. Estudou no Conservatório Santa Cecília a partir dos 14 anos de idade e tocando em bandas de cruzeiros, conheceu Dave Brubeck. Acompanhou Rita Pavone ao piano. Compôs várias trilhas sonoras para filmes, principalmente para “westerns”, no início.
Li uma vez, em algum lugar, que se os compositores clássicos fossem vivos hoje, comporiam música para trilhas sonoras de filmes. Concordo plenamente com a ideia, visto que algumas das músicas mais lindas que conheço, foram compostas para trilhas sonoras; os exemplos são incontáveis. Gostaria de acrescentar também que, fazendo um curso de música, há muitos anos atrás, na cadeira em que se aprendia a reconhecer os instrumentos musicais de uma grande orquestra, o professor dizia, sobre o oboé, que era o instrumento mais triste e melancólico de uma orquestra. Considerando o local onde o filme foi rodado e o tema principal do filme, eu diria que a trilha sonora nunca foi tão feliz ao ser composta e escolhida para fazer parte desta película.
Para deleite dos leitores, disponibilizarei os “links” para o tema principal do “Anônimo Veneziano” em várias versões. Por uma questão de justiça, a primeira versão é um “áudio” da trilha sonora original, bem curta; nesta versão, o leitor poderá apreciar, com detalhe, toda a melancolia do oboé. Infelizmente, a minha fonte não declarou o intérprete da gravação, mas certamente, trata-se da orquestra que gravou a trilha sonora, sob a regência do seu compositor, Stelvio Cipriani. A segunda versão é um “clip” da trilha sonora original, mais elaborada e longa, com algumas fotos de Veneza, para colocar o leitor num ambiente mais adequado. Para o intérprete, infelizmente, vale a mesma observação colocada anteriormente.
A seguir uma versão interpretada por Tony Renis. Presenteamos nossos leitores com a letra da música, em italiano, com versão para o português, abaixo, para que possam acompanhar com o cantor.
Finalmente, uma versão orquestrada, interpretada pela orquestra de Paul Mauriat, uma das minhas preferidas.
E para aqueles com gosto mais refinado, apresentamos o “Concerto em Ré Menor para Oboé, Cordas e Baixo Contínuo”, em três movimentos, completo, de Alessandro Marcello, interpretado pela Orquestra de Câmera do Scala de Milão, com Fabien Thouand executando o som tristonho do oboé.


ANONIMO VENEZIANO                                VENEZIANO ANÔNIMO

Cuore, cosa fai                                                    
Coração, o que faz 
Che tutto solo te ne stai.                                     Q
ue fica tão sozinho.
Il sole è alto e splende già                                   
O sol está alto e já brilha  
Sulla città.                                                           
Sobre a cidade.

Al buio tu non guarirai,                                       
No escuro você não vai curar
Non stare lì, dai retta a me.                                 
Não fique ali, dê-me atenção.
Di là dai vetri forse c'è                                        
Além dos vidros talvez tem
Una per te, per te.                                                
Uma para ti, para ti.

Almeno guarda giù                                              
Ao menos olha em baixo
E tra la gente che vedrai                                      
E entre a gente que verá
C'è sempre una, una che                                      
Tem sempre uma, uma que
È come te.                                                            
É como tu.

Un viso anonimo che sà                                       
Um rosto anônimo que sabe
L'ingratitudine cos'è,                                            
A ingratidão o que é,
E una parola troverà                                             
E uma palavra encontrará
Anche per te, per te.                                             
Também para ti, para ti.

E allora te ne vai,                                                  
E então você vai,
Non hai perduto niente ancora.                            
Não perdeu nada ainda.
A un'altra vita, un altro amore                              
Para uma outra vida, um outro amor
Non dare mai.                                                       
Nunca dar.

Il sole alto splende già                                          
O sol alto já brilha
Sul viso anonimo di chi                                        
Sobre o rosto anônimo de quem
Potrà rubarti un altro sì,                                        
Poderá te roubar um outro sim,
Un altro sì.                                                            
Um outro sim.

Il mondo é lì.                                                        
O mundo é ali
È lì.                                                                       
É ali.
La ra la ra la ra                                                     
La ra la ra la ra
La ra la ra la ra....                                                 
La ra la ra la ra...