Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066 (PARTE 11)

O PODER DO IMPÉRIO E DO MAR (1714 - 1837)

GEORGE I (1714-1727)
George I da Grã Bretanha

George I nasceu em março de 1660, filho de Ernest, Elector of Hanover e Sophia, neta de James I. Foi criado na corte real de Hanover, uma província alemã, e casou com Sophia, Princesa de Zelle, in 1682. O casamento produziu um filho (o futuro George II) e uma filha (Sophia Dorothea, que casou com um primo, Frederick William I, rei da Prússia).
George, Elector of Hanover desde 1698, subiu ao trono com a morte da rainha Anne, sob os termos do Act of Settlement, de 1701, com 54 anos de idade. Sua mãe havia morrido recentemente e ele preparou, meticulosamente, tudo que era seu em Hanover, antes de embarcar para a Inglaterra. Examinou sua posição e concluiu que os Whigs eram o melhor demônio a enfrentar (a outra alternativa era James Edward Stuart, o filho católico de James II com Mary de Modena, o 'Velho Pretendente'). George sabia que qualquer decisão ofenderia a metade da população britânica. Seu caráter e modos eram estritamente alemães: nunca aprendeu a língua inglesa e passou a metade da sua vida em Hanover.
O novo rei chegou à Inglaterra com um enorme séquito de amigos, conselheiros e servos alemães, todos determinados a lucrar com a aventura, liderados por George I. Trazia duas concubinas e nenhuma esposa - Sophia havia sido presa por adultério – e a população inglesa não o perdoou por isso.
Em setembro de 1715, os Jacobites[1] , adeptos dos Tories, liderados por John Erskine, duque de Mar, tentaram um levante, proclamando James Francis Edward Stuart (filho de James II) rei da Escócia. Foram derrotados por forças do governo em novembro de 1715 e três meses depois a rebelião havia sido aniquilada. Os líderes Jacobites foram presos e alguns executados. Após a rebelião, a Inglaterra encontrou um bom tempo de paz, com a política interna e as relações exteriores alcançando bons resultados.
Com a ignorância de George com relação à língua e costumes ingleses, as posições do Gabinete tornaram-se de primeira importância; os ministros do rei representavam o poder executivo enquanto o Parlamento representava o legislativo. As frequentes ausências de George exigiram a criação do posto de Primeiro Ministro, o líder da maioria na Casa dos Comuns, que agia no lugar do rei. O primeiro foi Robert Walpole, cujo ímpeto politico foi testado em 1720, com a debacle da Companhia South Sea, uma empresa de risco altamente especulativa (uma das várias que à época infestavam a economia britânica) cujos investidores atraíram a participação do governo. Walpole resistiu no início e depois que o empreendimento faliu e milhares ruíram financeiramente, ele trabalhou febrilmente para restaurar o crédito popular e a confiança no governo de George. Seu sucesso colocou-o no domínio da política britânica pelos vinte anos seguintes e a confiança num Gabinete Executivo marcou um importante passo na formação de uma moderna monarquia constitucional na Inglaterra.
Robert Walpole, primeiro
Primeiro Ministro britânico
Em abril de 1721, Sir Robert Walpole tornou-se também uma espécie de Ministro das Finanças. Ele confirmou a lealdade do partido Whig à monarquia Hanoveriana. Nunca sustentou o título real de ‘Primeiro Ministro’, mas recebeu poderes que vieram a ser associados com o cargo. George I deu-lhe também a residência de Downing Street, 10, ainda a residência oficial do primeiro ministro nos dias atuais.
George evitou entrar em conflitos europeus, estabelecendo uma complexa rede de alianças continentais. Ele e seus ministros Whigs foram muito habilidosos, mantendo-se afastados das guerras até que George II declarou guerra à Espanha em 1739.
George I e seu filho, George II, odiavam-se, literalmente, um fato que o partido Tory usou para ganhar força política. Nas suas muitas viagens a Hanover, George I, nunca colocou a liderança do governo nas suas mãos, preferindo confiar em seus ministros. Esse desprezo mútuo entre pai e filho foi um mal que tornou-se uma tradição na Casa de Hanover.
Após governar a Inglaterra por treze anos, George I morreu de um derrame durante uma viagem à sua amada Hanover, em 11 outubro de 1727, sendo sucedido por seu filho, George II, o segundo rei Hanoveriano.

GEORGE II (1727-1760)
George II da
Grã Bretanha

George II nasceu em 10 de novembro de 1683, filho único de George I e Sophia. Passou sua juventude na corte Hanoveriana da Alemanha e casou com Caroline de Anspach, em 1705. Foi verdadeiramente devotado a Caroline, que lhe deu três filhos e cinco filhas, tendo participado ativamente dos negócios do governo, antes que ela morresse em 1737. Como seu pai, George foi um príncipe alemão, mas à idade de 30 anos, quando ascendeu ao trono, era jovem bastante para absorver a cultura inglesa que escapara ao seu pai.
George possuía três paixões: o exército, música e sua esposa. Era excepcionalmente bravo e foi o ultimo soberano britânico a comandar tropas no campo (em Dettingen, contra os franceses, em 1743). Herdou de seu pai o amor pela opera, principalmente os trabalhos de George Frederick Handel, que havia sido o primeiro músico da corte em Hanover.
Caroline provou ser o seu maior ativo. Reviveu a vida tradicional da corte, era muito inteligente e uma ardente adepta de Robert Walpole, que manteve o papel de primeiro ministro sob o comando de Caroline, pois George nunca desejou manter o líder do gabinete de seu pai. O ódio que George nutria por seu pai foi também nutrido por seu filho, Frederick, Príncipe de Gales, que morreu em 1751.
Walpole aposentou-se em 1742, após estabelecer as fundações da moderna monarquia constitucional: um Gabinete responsável a um Parlamento que era, por sua vez, responsável a um eleitorado. Naquele tempo, o sistema estava longe de verdadeiramente democrático; o eleitorado era, essencialmente, a voz dos abastados proprietários de terra e comerciantes. O partido Whig estava firme no controle, embora os Tories fieis ainda tentassem uma última rebelião Jacobite em 1745, na tentativa de recolocar um Stuart no trono. O Príncipe Charles Edward Stuart atracou na Escócia e marchou para o sul até Derby, provocando uma nova onda ante catolicismo, na Inglaterra, sendo finalmente derrotado pelo exército real. Charles fugiu para a França e morreu em Roma. Em virtude de sua associação com o Jacobitismo, o partido Whig assegurou o controle oligárquico pelos cinquenta anos seguintes.
Contra os desejos de Walpole, que o havia refreado, George declarou Guerra à Espanha em 1739, que se estendeu pela década de 1740, como uma componente da 'Guerra de Sucessão Austríaca', em que a Inglaterra lutou contra o domínio francês na Europa, iniciada em 1756 e de onde saiu vitoriosa em 1763. Pelo Tratado de Paris, a Inglaterra adquiriu Quebec, Flórida, Minorca, grandes partes da Índia e as Índias Ocidentais.
A hesitação do governo em responder à crise francesa, trouxe William Pitt à proa da política britânica.
George II morreu de um derrame em 25 de outubro de 1760, sendo sucedido por seu neto, George III.

GEORGE III – (1760-1820)
George III do Reino Unido

George III, primeiro filho de Frederick, Príncipe de Gales e Augusta, foi o primeiro dos reis Hanoverian a nascer (em 1738) e criar-se na Bretanha. Durante o seu reinado a Bretanha perdeu as colônias americanas mas emergiu como uma potência europeia líder. Casou-se com Charlotte de Mecklinburg-Strelitz em 1761, a quem foi devotado e com quem teve 15 filhos, nove dos quais meninos e seis meninas. A partir de 1788, George sofreu com uma doença mental recorrente e vários ataques prejudicaram seu controle da realidade e o debilitaram pelos últimos anos do seu reinado. O governo pessoal foi passado ao seu filho George, príncipe regente, em 1811.
George III sucedeu a seu avô, George II, na ausência de seu pai, Frederick, Prince de Gales, morto em 1751, sem nunca ter governado. George estava determinado a recuperar a prerrogativa perdida para o Conselho Ministerial pelos dois primeiros Georges; nas duas primeiras décadas do seu reinado, ele enfraqueceu, metodicamente, o partido Whig por meio de suborno, coerção e proteção. O Primeiro Ministro William Pitt foi derrubado pelos Whigs após a 'Paz de Paris' e homens de talento medíocre e mentes servis foram escolhidas a dedo, por George, como membros do Gabinete, que atuavam com pouco mais do que “homens sim”. Surtos de loucura e a forma como ele gerenciou a Revolução Americana, erodiram seu apoio, e o poder da Coroa foi novamente garantido ao Primeiro Ministro.
A 'Paz de Paris' (1763) encerrou a Guerra dos Sete Anos com a França, pelas corajosas políticas ante francesas de Pitt, enfatizando a superioridade naval na arte da guerra colonial. A Grã Bretanha emergiu do conflito como a maior potência colonial do mundo. A Inglaterra floresceu em tempos de paz, mas a decisão de George de cobrar impostos das colônias americanas pela proteção militar, conduziu a hostilidades em 1775.
O tecido de algodão havia se tornado a maior indústria na década de 1760, com a maior parte do trabalho sendo feito pelas pessoas em suas casas. Em 1771 o inventor Richard Arkwright abriu a primeira fábrica de algodão em Cromford, Derbyshire, como um passo decisivo na automação das indústrias de trabalho intensivo, anunciando o início da ‘Era das Fábricas’ na Bretanha.
Os crescentes e renovados impostos sobre as colônias americanas, acoplados à crença de que o Parlamento não ouvia as queixas americanas, conduziu à revolução. Ninguém sabe quem deu o primeiro tiro, mas em abril de 1775, uma escaramuça entre os casacos vermelhos britânicos e a milícia local, em Lexington, Massachusetts, conduziu à luta que iniciou a 'Guerra Americana da Independência'. Os colonos, liderados por Thomas Jefferson, proclamaram a independência em 1776, mas George, obstinadamente, prosseguiu na Guerra até a vitória final americana em Yorktown, em 1781. Em setembro de 1783, o Tratado de Paris formalmente encerrou a Guerra, garantindo o reconhecimento britânico dos Estados Unidos da América. A sanidade de George estava no limite do rompimento e seu poder politico decresceu quando William Pitt, o Jovem, tornou-se Primeiro Ministro, em 1783; recuperou algum do seu poder quando conseguiu retirar Pitt do poder, de 1801 a 1804.
Tomas Jefferson, principal autor
da Declaração de Independência
dos Estados Unidos da América
Fundado em 1785 como Daily Universal Register, a publicação foi renomeada como The Times, três anos mais tarde e sua primeira publicação saiu em 01 de janeiro de 1788, o mais velho jornal britânico em existência, com constante publicação diária.
A paz que se seguiu ao fim da guerra com a França durou pouco. Em 14 de julho de 1789, a invasão da prisão da Bastilha, em Paris, marcou o início da Revolução Francesa, um evento que abalou o mundo, com a derrubada da monarquia, a execução do rei Louis XVI e o estabelecimento da República. Apenas dez anos depois, a Inglaterra uniu-se a uma aliança continental contra as forças revolucionárias francesas que, após ganharem o poder na França, tentaram a total hegemonia francesa em toda a Europa. Cerca de 1797, a maior parte da Europa encontrava-se sob dominação francesa, permanecendo apenas a Inglaterra contra a República revolucionária. Após algumas vitórias britânicas importantes em batalhas navais, a paz foi negociada em Amiens, em 1802. Na virada do século, Napoleão Bonaparte tomou o supremo poder na França e retomou os ataques contra a Inglaterra em 1803.
Napoleão Bonaparte,
Imperador Francês
Enquanto isso, em janeiro de 1801, Grã Bretanha (Inglaterra, Escócia e País de Gales) e Irlanda foram formalmente unidas sob o 'Ato de União', para criar o United Kingdom (Reino Unido) e dissolver o Parlamento irlandês, em Dublin. A despeito da união, católicos ainda eram proibidos de votar em eleições gerais ou manter cargos parlamentares e na maioria dos públicos.
Em 1805, as frotas combinadas de França e Espanha enfrentaram a Marinha Real na última grande batalha da era da vela, em Cabo Trafalgar, costa da Espanha. O herói naval britânico, Almirante Horatio Lord Nelson conduziu o audaz ataque no HMS 'Victory', obtendo a vitória que deu à Bretanha o completo controle dos mares, com a perda da própria vida. Com isso, o Reino Unido rompeu o sistema continental de Napoleão, que proibia a importação de bens britânicos.
Em 1807 o comércio de escravos foi abolido após duzentos anos, embora a escravidão continuasse nas colônias britânicas até 1833.
Almirante Nelson, herói da
Batalha de Trafalgar
As hostilidades com a França duraram até 1814 quando uma coligação europeia derrotou Napoleão e ele foi deposto. Retornou brevemente ao comando da França em 1815, ao fugir de sua prisão na Ilha de Elba, durante o seu governo dos “Cem Dias”, sendo totalmente derrotado por forças continentais comandadas pelo general inglês, Duque de Wellington, na Batalha de Waterloo, que encerrou as guerras napoleônicas. Napoleão foi forçado a abdicar como imperador da França e enviado para o exílio na Ilha de Santa Helena, onde morreu.
O aumento da população, melhorias nos métodos agrícolas e industriais e a revolução nos transportes, estimularam o crescimento econômico britânico. A literatura inglesa foi agraciada por alguns de seus melhores autores: Wordsworth, Shelley and Keats estavam entre os escritores da época.
Ao final, a insanidade de George passou o destino da Coroa ao seu filho mais velho, George, Príncipe Regente, na delicada posição de governar ainda com a vontade errática de seu pai, George III, que morreu cego, surdo e louco em Windsor Castle, em 29 de janeiro de 1820.

GEORGE IV – (1820-1830)
George IV, do Reino Unido

George IV, filho mais velho de George III e Charlotte, nasceu em 12 de agosto de 1762. Casou-se secretamente com sua primeira esposa, a viúva católica Maria Fitzherbert, em 1785, sem a permissão de seu pai. O casamento foi declarado ilegal por ordem de seu pai, pois casado com católica, seu filho seria inelegível para o trono inglês. Em 1795 ele casou novamente, com sua prima Caroline de Brunswick, que lhe deu uma filha, Charlotte, nascida em 1796. Caroline tomou a criança e mudou-se para a Itália, retornando à Inglaterra quando George sucedeu a seu pai, apenas para reclamar seus direitos de rainha. George barrou-a de sua coroação, negando-lhe a realeza.
George IV tornou-se profundamente impopular por seu extravagante estilo de vida e escandalosa vida privada, mas foi um entusiástico adepto das artes, legando maravilhosos artefatos à posteridade. Algumas de suas residências inspiraram o estilo de arquitetura denominado “Regency”. Doou a imensa biblioteca de seu pai como base da ‘Biblioteca do Museu Britânico’. Contudo, suas extravagâncias, o período após as guerras napoleônicas e as enormes mudanças trazidas pela revolução industrial, levaram o país a um tempo de desgraça social e miséria geral.
Em 27 de setembro de 1825 George IV assistiu à inauguração da primeira Estrada de ferro a vapor, entre as cidades nordestinas de Stockton e Darlington, que anunciou a era das estradas de ferro, com a construção de uma extensa malha na Bretanha, permitindo um rápido e econômico meio de transporte e comunicação.
Arthur Wellesley,
Duque de Wellington
Em 1828, o parlamento repeliu as leis que baniam os católicos dos cargos governamentais e públicos, bem como de frequência às universidades. O Catholic Relief Act, de 1829, foi além e garantiu total emancipação a católicos britânicos e irlandeses. Tal medida dividiu o partido Tory em diferentes facções. O primeiro ministro, Arthur Wellesley, Duke de Wellington, guiou o projeto de lei nos seus estágios finais e garantiu a aquiescência de George IV.
Em junho de 1829, o Ministro do Interior, Roberto Peel, lançou o Metropolitan Police Act, que estabeleceu a primeira força policial paga para a metrópole, eliminando o sistema informal de vigias e policiais voluntários antes existente. Inicialmente impopular, a polícia teve sucesso, e ao final da década de 1830 o sistema estava sendo instalado em muitas das grandes cidades britânicas.
George IV morreu em 26 de junho de 1830, após uma série de derrames, sendo substituído por seu irmão William IV.

WILLIAM IV – (1830–1837)
William IV, Reino Unido

William IV, nascido em 21 de agosto de 1765, foi o terceiro filho de George III and Sophia. Coabitou com a atriz Mrs. Dorothea Jordan, de 1791 a 1811, que lhe deu dez filhos ilegítimos. Com a morte da Princesa Charlotte, filha e herdeira de George IV, os filhos sobreviventes de George III foram solicitados a, apressadamente, fazer os arranjos para assegurar a sucessão Hanoverian; William abandonou Mrs. Jordan e, após várias rejeições, casou com Adelaide de Saxe-Coburg e Meinengein, que lhe deu duas filhas que morreram na infância.
William foi recebido de braços abertos pelo povo britânico, cansado dos excessos de George IV. William possuía um caráter modesto, vida privada exemplar e desdém pela pompa e cerimônia. 
A reforma parlamentar foi a ordem do dia. A cidadania ampla ainda não havia sido atualizada desde o seu início, em 1430, reinado de Henry VI. Somente proprietários dos condados podiam votar; vilas separadas exigiam várias qualificações para votar. As reformas industrial e agrícola, aumentos na população, comércio e migração do campo para a cidade, haviam deixado a Inglaterra com um dilapidado e ineficiente sistema de representação que apenas beneficiava a aristocracia. Lord Grey, apoiado por William, elaborou um projeto de reforma através dos Comuns, em 1831, que foi derrotado por nobres paranoicos na Casa dos Lordes, com surgimento de revoltas em vários locais da Inglaterra. Um segundo projeto foi oferecido e também rejeitado. Em 1832, a Terceira versão passou nas duas câmaras, mas apenas por ameaças de William de criar novos nobres. A ‘Lei da Reforma’, de 1832, estendeu o direito de voto aos proprietários de terras da classe media e tornou-se a base para leis adicionais que, ao final, deram o direito de voto a todos os súditos adultos.
Em 1833, o nobre reformador Tory, Anthony Ashley Cooper, promoveu a ‘Lei das Fábricas’, que restringia as horas de trabalho de mulheres e crianças nos moinhos têxteis. Sob os termos dessa lei, todos os proprietários de moinhos deveriam provar que crianças até 13 anos recebiam duas horas de escola, seis dias por semana.
A luta pela democracia varria a Europa, com lúgubres consequências para a realeza. O caráter intocável de William muito colaborou para que a Inglaterra saísse ilesa dessa era. Ele foi o único monarca europeu da época a sobreviver ao advento da democracia.
Em 1835, a ‘Lei das Corporações Municipais’ deu a 178 distritos o direito de ter seus próprios conselhos municipais. Todos os contribuintes tiveram, a partir daí, o direito de voto nas eleições do conselho distrital. Em seguida, os novos conselhos tiveram controle de serviços locais, como educação, moradia e iluminação pública.
William IV morreu de pneumonia em 20 de junho de 1837, sem filhos legítimos. Sua morte separou o governo conjunto da Inglaterra e Hanover: sua sobrinha Victoria subiu ao trono da Inglaterra, mas foi barrada, pela lei Sálica[2] , de governar em Hanover, que passou às mãos do irmão de William, Ernest, Duque de Cumberland.

[1] O Jacobitismo (seus adeptos, os Jacobites) foi um movimento político na Inglaterra e Irlanda para restaurar o rei católico James II (Stuart) e seus herdeiros ao trono da Inglaterra, Irlanda e Escócia. O movimento tomou seu nome de Jacobus, a forma latina de James, e refere-se a uma série de levantes entre 1688 e 1746, que tentaram repor os Stuarts vivendo no exílio. Os maiores Jacobites eram os escoceses das Highlands, a Irlanda e o norte da Inglaterra.
[2] Salic Law of Succession, regra pela qual, em certas dinastias soberanas, pessoas descendendo de de uma soberano anterior, somente através de uma mulher, eram excluídas do trono. Gradualmente introduzida na França, a regra toma seu nome dos Francos Salianos (subgrupo dos primeiros Francos que viviam originalmente ao norte das bordas do Império Romano, ao norte do rio Reno, no século III), a Lex Salica. Cada rei francês, do final do século X ao início do século XIV, teve um filho que o sucedesse; por isso, a dinastia Capetiana não teve problemas na sucessão ao trono. Após a morte do rei Capetiano, Louis X, em 1316, sem herdeiro homem e uma viúva grávida, que deu à luz um menino que morreu em cinco dias, Philip V, um irmão de Louis X, intimou os Estados Gerais (1317) a estabelecer o princípio de que mulheres deveriam ser excluídas da sucessão ao trono francês.

Prossegue na PARTE 12

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066 (PARTE 10)

CHARLES II (1660-1685)
Charles II, o rei tolerante

A restauração oficial de Charles II ao trono inglês, em maio de 1660, foi marcada por maciças celebrações.
Charles II, segundo filho de Charles I e Henrietta Marie de França, nasceu em 1630. Casou-se com Catherine of Braganza, mas não procriou filhos legítimos. Foi extremamente tolerante com os que haviam condenado seu pai à morte, executando apenas nove dos conspiradores. Foi também tolerante nas questões religiosas, por sabedoria política.
Embora feliz por ter a monarquia de volta, a Inglaterra havia, através do seu Parlamento, limitado severamente os poderes e privilégios reais. Charles II foi obrigado a sustentar sua administração por meio de taxas alfandegárias e uma saudável pensão que lhe pagava Louis XIV da França. Este foi um momento decisivo na história política inglesa, com o Parlamento mantendo uma posição superior à do rei e com o moderno conceito de partidos políticos formados das cinzas dos Cavaliers e  Roundheads. Os primeiros evoluíram para o partido Tory(1) , com os realistas pretendendo preservar a autoridade do rei sobre o Parlamento, enquanto os segundos evoluíram para o partido Whig(2) , homens de propriedades dedicados a expandir o Mercado exterior, mantendo a supremacia do Parlamento no campo político.
Os anos iniciais do novo reinado foram perturbados por sérios problemas. Em 1665 Londres foi devastada pela “Grande Praga”(3) ; um ano mais tarde, grande parte da cidade foi destruída no “Grande Incêndio de Londres”(4) ; em 1667, os holandeses subiram o rio Medway (durante a segunda guerra entre Inglaterra e Holanda), afundaram cinco navios de batalha e rebocaram para a Holanda o Royal Charles, o porta bandeira da armada,  na maior derrota da frota inglesa.
A década de 1670 viu Charles fazendo uma nova aliança com a França, contra os holandeses. O apoio francês foi concedido baseado numa promessa de que Charles reintroduziria o catolicismo na Inglaterra, o que nunca aconteceu, embora tenha se convertido ao catolicismo em seu leito de morte.
Os Whigs usaram o catolicismo para solapar Charles, criando uma sorte de incidentes que levaram à execução de várias pessoas. Dois dos principais responsáveis por essa onda de ante catolicismo foram Titus Oates, um padre anglicano exonerado de suas ordens e Anthony Cooper, conde de Shaftsbury e fundador do partido Whig. O Parlamento, dominado pelos Whigs, tentou pressionar, através de um “Exclusion Bill” (Projeto de Lei de Exclusão), proibindo Católicos de assumir serviços públicos (e mantendo James Stuart fora do trono); Charles foi abatido por uma febre e a opinião o dominou. Seus últimos anos foram ocupados para assegurar a reivindicação de seu irmão James ao trono e reunir o apoio dos Tories.
A era Charles é lembrada como o tempo da “Alegre e Velha Inglaterra”. A monarquia, embora limitada em escopo, foi restaurada com sucesso – os onze anos da Comunidade foram oficialmente ignorados, apenas como um interregno entre os governos de Charles I e Charles II. Contudo, o rei era um político astuto, e quando morreu, em fevereiro de 1685, de complicações que se seguiram a um derrame, a posição da monarquia Stuart parecia segura, embora as coisas tenham mudado com a ascensão de seu irmão James II, abertamente católico,

JAMES II (1685-1688)
James II, rei da Inglaterra,
Escócia e Irlanda

James II nasceu em 1633, o terceiro filho de Charles I e Henrietta Maria. Como seu irmão, envolveu-se na Guerra Civil e fugiu para a França em exílio, com a criação da Comunidade de Cromwell. Casou-se duas vezes: Anne Hyde deu-lhe 4 filhos e quatro filhas (Charles, Mary, James, Anne, outro Charles, Edgar, Henrietta, e Catherine) antes de sua morte em 1671; Mary de Modena deu-lhe dois filhos e cinco filhas (Catherine, Isabella, Charles, Charlotte, Elizabeth, James Francis Edward, e Louisa).
James esteve em total contraste com o seu predecessor Charles: embora um valente soldado em batalha até os seus últimos anos, faltou-lhe a sabedoria do irmão e permaneceu um leal católico romano. Sua ascensão foi saudada com entusiasmo, pois Charles lhe havia deixado um forte gabinete executivo e um leal Parlamento dominado pelos Tories. James, contudo, atuou estouvadamente tentando restaurar a prerrogativa real e trazer a Inglaterra, novamente à fé católica, o que lhe custou a coroa.
Logo após assumir, em julho de 1685, com o objetivo de tomar o trono de James II, o filho bastardo de Charles II, James Scott, Duke of Monmouth, atracou em Lyme Regis, Dorset. Em sua marcha para o leste, centenas se uniram a ele, mas seus inexperientes soldados do oeste rural provaram não ser capazes de vencer os treinados soldados de James II. No encontro principal, em Sedgmoor, Somerset Levels, os rebeldes foram feitos em pedaços, Monmouth foi capturado e executado na Torre de Londres.
Em três anos, a velha nobreza e a emergente classe comercial haviam sido totalmente alienadas por James. Quando Mary of Modena deu à luz um herdeiro homem, James Francis Edward, em 1688, as coisas pioraram muito, pois interferiu com o desejo do Parlamento de que Mary, sua filha protestante mais velha, sucedesse no trono à morte do seu pai. Em seguida, um grupo de protestantes ingleses e membros protestantes do Parlamento, desgostosos com James, convidaram Mary, casada em 1677 com o Stadholder(5)  holandês, William of Orange, a tomar o trono. William, que há tempos havia antecipado tal convite, velejou para a Inglaterra com uma frota. James, assombrado pelas lembranças de Richard II e Henry IV, preferiu abandonar Londres antes de ser capturado, mas William assegurou-lhe uma viagem segura para a França.
Em março de 1689, encorajado por Louis XIV da France, James II singrou para a Irlanda esperando que, a tendo sob seu controle, seria capaz de recuperar a Inglaterra e a Escócia. Atracando à frente de 20.000 franceses, James rapidamente foi reforçado por milhares de impetuosos católicos irlandeses. Logo a maior parte da Irlanda estava nas mãos de James o que provocou a ida do próprio William III para enfrentar o seu oponente. Os exércitos encontraram-se no rio Boyne, onde as tropas de James foram postas em fuga e ele retornou à França, onde permaneceu até o fim da sua vida. Em menos de dois anos as forças de Williams haviam completado a reconquista da Irlanda.
Na Escócia, muitos partidários do católico James ainda o apoiaram contra o protestante William III e obtiveram muitas vitórias, mas foram finalmente batidos pelas forças de William.
As tentativas de James ao forçar o catolicismo na Inglaterra e tentar impor a prerrogativa real, destruíram o seu reinado. O Parlamento emergiu supremo; a linhagem real era ainda uma preocupação, mas o protestantismo tornou-se o fator principal na escolha de um monarca, uma decisão agora deixada às mãos do Parlamento.
James foi deposto em 1688 e morreu de uma hemorragia cerebral em 1701. William e Mary foram coroados como monarcas conjuntos em 1689.

WILLIAM E MARY (1689 – 1702)
William III of Orange

A chamada "Revolução Gloriosa" de 1688-1689 substituiu o rei James II pela monarquia conjunta de sua filha protestante Mary e seu marido holandês, William of Orange. Ela foi a viga-mestra da história Whig que se opôs à sucessão católica da Bretanha. De acordo com a versão Whig, os eventos da revolução foram sem sangue e estabeleceram a supremacia do Parlamento sobre a Coroa, colocando o país no caminho da monarquia constitucional e democracia parlamentar. Entretanto, ela parece ignorar à que extensão tais eventos constituíram uma invasão estrangeira por outra potência europeia, a República Holandesa. Embora as mortes tenham sido limitadas na Inglaterra, na Irlanda e Escócia só foram asseguradas pela força e com perda de muitas vidas.
Mary II, nascida em 1662, era filha de James II e Anne Hyde. Ela e William não tiveram filhos e Mary morreu de varíola em 1694. William III (William of Orange), nascido em 1650, era filho de William, príncipe de Orange, e Mary Stuart (filha de Charles I). Mary e William eram, portanto, primos irmãos, ambos netos de Charles I. William, um dos atores mais significativos do continente, esforçou-se permanentemente para espalhar o protestantismo e diminuir a influência católica da França e Espanha. Morreu em 1702 de complicações consequentes de uma queda do cavalo.
Mary II, a rainha inglesa
que depôs o pai
Na verdade, o Parlamento queria que o trono fosse ocupado apenas por Mary, William atuando como Príncipe Consorte, o que Mary recusou por sua natural subserviência ao seu marido. William, por seu turno, relutou em aceitar o trono como conquista, preferindo ser nomeado rei pelo Parlamento, pelo direito de nascimento. O Parlamento sucumbiu aos desejos de William e Mary, mas à medida que o reinado desenvolveu-se, o plano original do Parlamento tornou-se a realidade da situação, uma vez que William estava muito mais preocupado com suas propriedades e os conflitos entre católicos e protestantes no continente, deixando Mary a governar só, na Inglaterra. William e o povo inglês eram indiferentes, um ao outro, mas Mary amava a Inglaterra e o povo inglês a amava.
Whigs e Tories, no Parlamento, divididos no que se referia ao comércio inglês e às tensões Puritano-Anglicano, uniam-se em dois objetivos: manter a supremacia sobre a monarquia e eliminar, definitivamente, a influência católica sobre o governo. O caráter da monarquia foi alterado para sempre, pois o governo oligárquico alimentava a reforma parlamentar do governo. A Bill of Rights (Lei dos Direitos), aprovada em 1689, foi mais uma lei de limitações: o uso dos direitos e prerrogativas reais (criação da autoridade Tudor-Stuart) foi proibida, o rei podia manter um exército ativo apenas com o consentimento parlamentar, e uma quantia anual de £600,000 (seiscentas mil libras) foi concedida ao monarca, com objetivos específicos também apropriados pelo Parlamento. Tal Lei permanece como um documento básico da lei constitucional inglesa e padrão para outras constituições em todo o globo. O Mutiny Act assegurou a prorrogação anual do Parlamento pela exigência da aprovação parlamentar das forças armadas em base anual.
A Inglaterra adicionou um considerável débito nacional por conta das caras guerras de William III. O mercador escocês William Paterson fundou o Bank of England para ajudar a Coroa no gerenciamento deste débito. O Banco tornou-se a reserve nacional e, em 1697 sua posição de proeminência foi assegurada quando o Parlamento proibiu a formação de quaisquer outros bancos de capital social na Inglaterra, sendo o banco emissor de notas bancárias desde 1694. Um Bank of Scotland, separado, foi criado em 1695.
A morte de Mary, em 1694, deixou William como governante único dos três reinos e em 1700 todos os olhos se voltavam ao problema da sucessão, pois William não tinha herdeiro, nem Anne, a filha sobrevivente de James II. Os protestantes estavam aterrorizados ante a possibilidade do trono reverter a James II, ainda vivo, para seu filho ou qualquer outro reclamante católico. Para acabar com esse perigo, o Settlement Act (Ato de Instalação), de 1701, foi o ato final que estabeleceu a supremacia do Parlamento. Uma série de batalhas continentais lutadas por William, primariamente para impor o protestantismo, havia sobrecarregado pesadamente os recursos econômicos ingleses. Como retaliação, o Ato proibiu guerras sem o consentimento do Parlamento, proibiu membros da Casa dos Comuns, bem como não nativos, de manter cargos públicos e sujeitou indicações ministeriais à aprovação parlamentar. Como declaração final de supremacia, ao Parlamento foi garantido o direito de nomear a sucessão. Assim, o rebento católico de James com Mary of Modena foi barrado do trono. Após as mortes de William e Anne, o trono retornaria aos descendentes da filha de James I, Elizabeth Stuart, a esposa do Elector Palatine(6) , Frederick V. Assim, a Coroa passaria a Sophie, Electress of Hanover, filha de Elizabeth, neta de James I, e sobrinha de Charles I, e aos seus descendentes, assim impedindo a ascensão de quaisquer reis católicos.
As políticas expansionistas de Louis XIV da França ameaçavam romper o balanço de forças na Europa e suas tentativas para concretizar a união das coroas espanhola e francesa causaram, em setembro de 1701, a união de ingleses, holandeses e austríacos contra si. A chamada “Guerra da Sucessão Espanhola” iniciou no ano seguinte.
Em 1702, William morreu e foi sucedido por Anne, a irmã mais jovem de Mary e segunda filha de James II e Anne Hyde. Cinco anos após, uma união formal dos reinos da Inglaterra e Escócia foi cogitada a fim de assegurar, também na Escócia, a sucessão por um protestante.

ANNE (1702 – 1714)
Anne Stuart, rainha da
Grã Bretanha

Anne, nascida em 1665, representou importante papel no reinado do seu pai, mas alinhou com sua irmã e cunhado durante a Revolução Gloriosa. Casou com George, Príncipe da Dinamarca, mas não tiveram filhos. Morreu aos 49 anos de idade, após uma longa batalha contra a porfiria (doença hereditária do sangue, oriunda dos casamentos de mesmos grupos).
 A morte precoce de William III anulou, no efeito, o Settlement Act de 1701: filha de James por seu casamento protestante, Anne não apresentava conflito com o Ato. Evitou antagonizar-se politicamente com o Parlamento, mas foi compelida a atender à maioria dos encontros do Gabinete, para manter sob controle seu meio irmão James, o velho pretendente. Anne foi o ultimo soberano a vetar um ato do Parlamento e o último monarca Stuart. O ato constitucional mais significativo do seu reinado foi o “Ato da União” de 1707, que criou a Great Britain, final e totalmente unindo a Inglaterra e a Escócia (a Irlanda juntou-se à União em 1801).
O traço Stuart de confiar em favoritos, foi tão pronunciado em Anne como havia sido no reinado de James. Sarah Churchill, a mais próxima confidente de Anne, casada com John Churchill, Duque de Marlborough, que conduziu habilmente os ingleses a várias vitórias na Guerra da Sucessão Espanhola, exerceu grande influência sobre o reino. Anne e Sarah eram virtualmente inseparáveis; nenhuma amante de rei possuiu o poder outorgado à duquesa. Entretanto, ela tornou-se demasiadamente confiante em sua posição, desenvolvendo uma conduta arrogante em relação a Anne, chegando a repreendê-la em público.
Entrementes, os líderes Tories “plantaram” na casa real, Abigail Hill, para capturar a necessidade de afeição de Anne e, à medida que esta se voltava para Abigail, a questão sucessória novamente surgiu, colocando a rainha e os Marlborough em acalorados debates. Essa relação ruiu e, a despeito de seu registro de guerras, Marlborough foi dispensado de seus serviços e Sarah afastada em favor de Abigail.
Muitos dos conflitos internos na sociedade inglesa eram causados pelo sistema de governo de dois partidos. Os Whigs e Tories, totalmente emancipados durante o último ano do reinado de Anne, lutaram pelo controle do Parlamento e pela influência sobre a rainha. Anne foi dividida, pessoal e politicamente, pela questão sucessória: sua formação Stuart a compelia a escolher como herdeiro, seu meio irmão, o velho pretendente, e favorito dos Tories, mas ela já havia escolhido alinhar-se com os Whigs ao apoiar Mary e William contra James II. Ao final, Anne, aceitou o Ato de Instalação com os Whigs aplainando o caminho para a sucessão do seu candidato, George of Hanover.
Em abril de 1713, os ingleses e seus aliados holandeses chegaram a um acordo pelo Tratado de Utrecht, encerrando dez anos de guerras. Por ele, os franceses concordaram em abandonar seu apoio às reivindicações dinásticas de James II ao trono da Grã Bretanha, reconhecendo a sucessão Hanoveriana na Inglaterra, estabelecida pelo Act of Settlement de 1701.
Quando Anne, a última monarca Stuart, morreu, em 1714, sem deixar herdeiros, o trono do Reino Unido da Grã Bretanha foi ocupado por George I, Elector of Hannover(7) , o primeiro dos Hanoverians.


(1) A palavra "tory" deriva do irlandês antigo tóraidhe, que significa fora da lei, ladrão ou arruaceiro e do irlandês tóir, significando "perseguir", uma vez que os fora da lei eram homens perseguidos. Foi originalmente usada para se referir a um irlandês for a da lei e posteriormente aplicada aos realistas em armas. Assim, o termo foi de início usado como um termo de abuso, antes de ser adotado como marca política, da mesma forma que “whig”.
(2) O termo Whig foi originalmente encurtado de “whiggamor”, palavra que significava "condutor de gado", usada para descrever os escoceses que iam a Leith em busca de cereais. O termo "Whig" entrou no discurso politico inglês durante a crise de 1678–1681, quando da controvérsia sobre o direito de sucessão de James, irmão de Charles II, ao trono inglês. "Whig" foi também um termo de abuso aplicados aos que desejavam exluir James por ser, supostamente, um católico romano.
(3) Ao fim do inverno de 1664-1665, a peste bubônica irrompeu no distrito londrino, abatido pela pobreza, St Giles-in-the-Fields. O contagion espalhou-se rapidamente e pelos meses seguintes mais de 100.000 pessoas morreram. Quando a epidemia acabou, em dezembro de 1665, um quarto da população da capital havia morrido.
(4) O fogo irrompeu numa padaria em Pudding Lane, Londres, e espalhou-se rapidamente. Em quarto dias dois terços da cidade haviam sido destruídos e 65.000 pessoas estavam sem lar. O incêndio teve um lado positivo: em três semanas o arquiteto Christopher Wren apresentou planos para reconstrução de boa parte da cidade. Embora não totalmente implementados, Wren foi responsável pela reconstrução de mais de 50 igrejas, incluindo a Catedral de São Paulo.
(5) Nos Países Baixos (Holanda) o Stadholder era uma função medieval que, durante os séculos XVI a XVIII, desenvolveu-se num tipo raro de chefe de estado hereditário, de fato, da “coroada” República Dutch (holandesa).
(6) O Palatinato do Reno, posteriormente, Eleitorado do Palatinato (Elector Palatine), foi um território histórico do Sacro Império Romano-Germânico, administrado por um conde palatino.
(7) A Casa de Hanover (os Hanoverians ) é uma dinastia real germânica que governou o Ducado (Electorate) de Braunschweig-Lüneburg e Reino de Hanover, além de, posteriormente, o Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066 (PARTE 9)

GUERRA CIVIL E REVOLUÇÃO (1603 – 1714)

JAMES I (1603 – 1625)
James VI da Escócia
e James I da Inglaterra

James I nasceu em 1566 de Mary I, rainha da Escócia e seu Segundo marido Henry Stewart, Lord Darnley. James ascendeu ao trono pela abdicação forçada de sua mãe, em 1567, mas o país foi governado por um regente até a sua maioridade. Casou-se com Anne, da Dinamarca, em 1589, que deu-lhe 3 filhos e quarto filhas: Henry, Elizabeth, Margaret, Charles, Robert, Mary e Sophia. Foi nomeado sucessor do trono inglês por sua prima, Elizabeth I, ascendendo àquele trono em 1603. Morreu de um derrame em 1625 após governar a Escócia por 58 anos e a Inglaterra por 22 anos.
James foi profundamente afetado por seus jovens anos na corte escocesa. Assassinato e intriga haviam infestado a corte escocesa durante o reinado de seu avô (James V) e sua mãe, prosseguindo no seu próprio reinado, conforme já visto. Assim, James desenvolveu modos reservados e ansiava por tomar a coroa inglesa, esquecendo as limitações e pobreza da corte escocesa.
Ingleses e escoceses sempre se odiaram, desde as primeiras chegadas das raças anglo-saxãs, pela supremacia na ilha. Essa desconfiança inerente combinada com as tensões religiosas, em muito limitaram as intenções de James quanto a um reinado de sucesso. Sua personalidade também causou problemas: arguto e versado, cria firmemente no direito divino do rei e sua própria importância, mas teve dificuldade em ganhar a aceitação da sociedade inglesa que via suas maneiras toscas e sua paranoia natural muito impróprias. Seus hábitos extravagantes nos gastos e sua indiferença às queixas da nobreza, manteve o rei e parlamento, que via de pouco uso, em permanente desacordo. Chegou ao trono no auge do poder monárquico, mas realmente nunca alcançou a profundidade e o escopo de tal poder.
A discórdia religiosa foi a base de um evento que confirmou e estimulou a paranoia de James: a “Trama da Póvora” de novembro de 1605. Guy Fawkes(1)  e quatro outros católicos dissidentes, foram apanhados tentando explodir a Casa dos Lordes num dia em que o rei abriria a sessão. Os conspiradores foram executados, mas uma onda renovada de sentimentos anti-católicos varreu a Inglaterra, e a relação entre o rei e o parlamento erodiu-se permanentemente. O parlamento recusou totalmente desembolsar com um rei que ignorava suas questões e irritava-se com as recompense esbanjadas com os seus favoritos e com decoração. James recompensou mais de 200 de seus pares com títulos de terras como suborno para ganhar lealdade, a mais controversa sendo a criação do Duque de Buckingham para George Villiers (seu conselheiro, companheiro mais próximo e, segundo alguns, seu amigo homossexual), que lhe falhou miseravelmente na política externa. James tentou melhorar as relações com a Espanha através do casamento de seu filho Charles com a Infanta espanhola (pouca receptiva às propostas de Charles e Buckingham), e pela execução de Sir Walter Raleigh(2)  por ordem da Espanha.
Sir Walter Raleigh
Ao final do século XVI haviam diversas versões da Bíblia em circulação e James autorizou uma sua versão definitiva em 1604. Conhecida como a “Bíblia do Rei James”, até hoje, foi impressa em 1611, com um profundo impacto na língua inglesa.
Embora resolvido a manter seus reinos fora de confusões externas, por força do casamento de sua filha mais velha, Elizabeth, com Frederick V, príncipe eleitor do Palatinado da Renânia (um dos estados do Santo Império Romano Germânico), em fevereiro de 1613, logo coroado rei da Boêmia, e a expulsão subsequente do jovem par por forças católicas, de seu novo reino, arrastaram James I à continental “Guerra dos Trinta Anos”.
James também não apreciava os protestantes extremistas (Puritanos) que exageravam em suas demandas ao rei, o que resultou na primeira onda de imigrantes ingleses para a América do Norte, em 1620, conhecidos como ‘Pilgrim Fathers’ (Pais dos Peregrinos), muitas vezes retratados como os fundadores da moderna América.
James I foi abatido pelo que os contemporâneos chamam de 'febre terçã' (espécie de malária), morrendo em seu leito de Theobalds, Hertfordshire, em 1625, com a idade de 57. Foi sucedido por seu único filho vivo, Charles, com 25 anos, proclamado rei poucas horas após.

CHARLES I (1625 – 1649)
Charles I da Inglaterra

Charles I nasceu em 1600, o segundo filho de James I e Anne of Denmark. Após tentativas frustradas para conseguir um casamento, Charles casou-se com Henrietta Maria, filha do rei Henry IV da França, com 15 anos de idade, que lhe deu 4 filhos: Charles (morreu adolescente), Charles (que tornou-se Charles II), James e Henry; e cinco filhas (Mary, Elizabeth, Anne, Catherine e Henrietta Anne).
Charles tornou-se um excelente cavaleiro e um enérgico rei; sua forte vontade, contudo, provou ser a sua ruína. Herdou os incessantes problemas financeiros de seu pai: a recusa do Parlamento em garantir fundos a um rei que negava considerar as queixas da nobreza. O duque de Buckingham ainda exerceu indevida e impopular influência sobre Charles, em seus primeiros anos de reinado e seu assassinato, em agosto de 1628, provocou gritos de alegria da nobreza.
Três vezes convocado e três vezes dissolvido entre 1625 e 1629, o Parlamento passou os 11 anos seguintes sem ser convocado, pois Charles financiou seu reinado com a venda de monopólios comerciais e taxando cidades que quisessem construir navios de guerra. O casamento de Charles com a devota princesa católica francesa exasperou a nobreza crescentemente puritana, à medida em que seus amigos católicos inundavam a corte. Era uma mulher intrometida que sempre colocou seus desejos (e os de seus amigos) acima das necessidades do reino.
Charles tentou impor um novo livro de orações aos escoceses, que resultou em rebelião, trazendo um abrupto fim aos seus onze anos de governo pessoal, liberando as forças de uma guerra civil na Inglaterra. Suas forças mal preparadas por falta de recursos próprios, obrigaram o rei a chamar, inicialmente, o ‘Short Parliament’ (Parlamento Curto) e, finalmente, o ‘Long Parliament’ (Parlamento Longo), mas de novo sem acordo entre o rei e o Parlamento. Tolamente, Charles tentou, aconselhado por Henrietta Maria, prender cinco membros do Parlamento, complicando sobremaneira a questão. A luta pela supremacia conduziu à guerra civil, quando Charles colocou o estandarte real no Castle Hill, Nottingham, em agosto de 1642 convocando seus súditos leais a se unirem com ele contra seus inimigos do Parlamento.
Questões religiosas e econômicas se somaram às diferenças entre os partidários da monarquia (Cavaliers – ‘Cavalheiros’ - ou Realistas) e os do Parlamento (Roundheads – ‘Cabeças Redondas - ou Parlamentaristas). As linhas de divisão eram, grosseiramente, as seguintes: o apoio dos Cavalheiros vinha dos camponeses e da nobreza da raízes episcopais, enquanto o dos Parlamentaristas vinha da classe média emergente e comerciantes do movimento puritano; geograficamente, as províncias do norte e oeste apoiavam os Cavalheiros, enquanto que os condados financeiramente mais prósperos e populosos do sul apoiavam os Parlamentaristas. Com isso, os Parlamentaristas, com bolsos mais cheios e populações maiores para arrastar, estavam destinados a vencer a batalha. Oliver Cromwell e seu ‘New Model Army’(3) , em Naseby, derrotou fragorosamente os Cavalheiros em 1645. Menos de um anos depois Charles rendeu-se às forças escocesas que o entregaram ao Parlamento inglês. Em 1648 Charles foi julgado por traição e por 68 votos contra 67, julgado culpado e condenado à morte, em 1649. Ainda em dezembro de 1648, enfurecidos pela oposição do Parlamento às suas ideias políticas, oficiais do New Model Army decidiram dele remover os membros considerados não confiáveis, num efetivo golpe de estado. Colonel Thomas Pride, que deu nome ao expurgo, expulsou cerca de 180 membros e prendeu mais de 40. O Parlamento resultante, com menos de 160 membros, ficou ironicamente conhecido como 'the Rump' (a Sobra).
É importante lembrar, considerando tudo o que foi dito antes, que Charles I era, ao assumir o reinado, além de descendente de escocês, rei da Inglaterra, Escócia e Gales. Com a sua morte, a monarquia foi abolida e a república chamada de “Commonwealth of England” (Comunidade da Inglaterra) foi declarada.
Os novos mandatários foram chamados a restabelecer a tradicional dominação sobre a Irlanda e, em 1649, enviaram uma força comandada por Cromwell para reconquistar a Irlanda, tarefa efetivamente completada em 1652.
Entrementes, desesperado para recuperar o trono de seu pai, seu filho mais velho chegava a um acordo com os escoceses e, em janeiro de 1651, era coroado como Charles II da Escócia. No mesmo ano Charles invadiu a Inglaterra com um exército escocês, sendo derrotado por Cromwell em Worcester, apenas conseguindo evitar a captura e escapar para a França. Seus súditos, deixados em péssima situação, foram totalmente conquistados pelos Parlamentaristas.

OLIVER CROMWELL (1653–1658).–.COMUNIDADE DA INGLATERRA
Oliver Cromwell, Lorde Protetor

Após a execução de Charles I, as várias facções começaram a brigar entre si, perdendo a credibilidade aos olhos do exército. Frustrado, Oliver Cromwell descartou, de forma indigna, o Parlamento expurgado, em 21 de abril de 1653, evacuando a Casa a ponta de espada. A auto indicação de Cromwell como 'Lorde Protetor' da nova Comunidade da Inglaterra, Escócia e Irlanda, em 1653, deu-lhe poderes semelhantes a um rei. O exército chamou por um novo Parlamento de puritanos que provou ser tão inepto quanto a ‘Sobra’. Em 1655 Cromwell dissolveu esse novo parlamento, decidindo governar sozinho, da mesma forma que Charles havia feito em 1629. Sua crescente popularidade com o exército o sustentou pelos cinco anos seguintes, embora não tenha conseguido estabelecer um apoio de ampla base para um honesto governo republicano.
O custo da manutenção de um exército regular de 35.000 homens provou ser incompatível com o governo financeiramente arruinado de Cromwell, muito piorado com as duas guerras que com os holandeses teve que manter.
A solução militar ainda tentou uma nova versão do Parlamento, com a criação da ‘Casa dos Pares’, recheada com os partidários de Cromwell e real poder de veto, mas os Comuns se tornaram ainda mais antagônicos a ele. A monarquia foi restaurada em tudo a menos do nome.
O Lorde Protetor morreu em 3 de setembro de 1658, nomeando seu filho Richard como Lorde Protetor sucessor.

RICHARD CROMWELL (1658–1659).–.COMUNIDADE DA INGLATERRA
Richard Cromwell

Richard foi o terceiro filho do Lorde Protetor, Oliver Cromwell. Nascido em 4 de outubro de 1626, ele serviu ao exército Parlamentar quando jovem, mas mostrou pouca aptidão para o papel que lhe caberia representar. Em 3 de setembro de 1658, Richard Cromwell foi proclamado Lord Protetor do Reino. Entretanto, militares do Conselho mostraram ampla animosidade contra sua indicação, demonstrando seu ressentimento contra seus contrapartidas civis. Para levantar fundos e apaziguar as diferenças, Richard foi forçado a dissolver o Protetorado e reinstalar o Parlamento da Sobra, em janeiro de 1659, apenas conseguindo efeitos opostos e foi por isso dispensado.
General Monck, um dos mais capazes, oficiais tornou-se então o principal líder da restauração da monarquia, único caminho para encerrar o caos político. Marchou com suas tropas para Londres em apoio ao Parlamento, em fevereiro de 1660, quebrando o impasse e reinstalando a Sobra pela terceira vez. Em abril do mesmo ano, ele abriu as portas do Parlamento àqueles que haviam sido barrados dez anos antes. A Casa dos Comuns estabeleceu um Conselho de Estado Monárquico autorizado a convidar Charles II a tomar a Coroa e dispensar o passivo Lorde Protetor em 25 de maio de 1659, apenas oito meses após ter tomado posse. O Longo Parlamento finalmente dissolveu-se após tais ações e um Stuart novamente subiu ao trono. Em maio de 1660 a monarquia foi restaurada com Charles II entrando triunfalmente em Londres.
Richard foi esperto o bastante para deixar as praias da Inglaterra no verão de 1660, indo viver na França com o nome de John Clarke, antes de mover-se para a Espanha, Itália ou, possivelmente Suíça. Permitiram-lhe, finalmente, retornar ao lar, sem recriminações, em 1680.

(1) Em 1972, durante meu primeiro estágio na Inglaterra, tive oportunidade de assistir e participar, em companhia de amigos londrinos, da celebração do “Guy Fawkes’ Day”, como é até hoje lembrada a data, na Inglaterra, como uma espécie de festa de “São João” à inglesa, com fogueiras ardendo por todo o canto, mais para lembrar a frustrada tentativa de destruição das “Casas do Parlamento”, um símbolo da história daquele país. Infelizmente, a tentativa de assassinato de James I e a elite protestante dominante, manchariam, embora injustamente, todos os ingleses católicos como traidores, pelos séculos vindouros.
(2) Walter Raleigh, nascido em 1554 e morto em 1618, foi um aristocrata, poeta, escritor, soldado, político, cortesão, espião e explorador inglês, que popularizou o uso do fumo na Inglaterra. Entre outras façanhas, casou sem permissão com uma das damas de companhia de Elizabeth I e por isso foi jogado na Torre de Londres com a amada, por dois anos. Em 1594 viajou à América do Sul em busca do “El Dorado”; na volta publicou um exagerado relato de suas experiências. Em 1603 foi preso novamente como envolvido na trama de assassinato do rei James. Em 1616 realizou uma segunda viagem em busca do “El Dorado”. Sem sucesso, homens sob seu comando saquearam um posto avançado espanhol. Retornando à Inglaterra, para apaziguar os espanhóis, foi preso e executado em 1618.
(3) O New Model Army (Exército de Novo Modelo) da Inglaterra foi formado em 1645 pelos Parlamentaristas, na Guerra Civil inglesa, e dispersado em 1660 após a Restauração. Ele diferia de outros exércitos ingleses no que se refere a um exército responsável pelo serviço em qualquer região do país (incluindo Escócia e Irlanda), ao invés de restrito a uma só área ou guarnição. Seus soldados tornaram-se profissionais em tempo integral e seus líderes foram proibidos de possuir assento na Casa dos Lordes ou dos Comuns, a fim de encorajar sua separação de facções políticas ou religiosas entre os Parlamentaristas.

Prossegue na PARTE 10

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066 (PARTE 8)

EDWARD VI (1547 – 1553)
Edward VI, rei da Inglaterra

Edward VI, filho de Henry VIII e Jane Seymour, nasceu em 1537. Subiu ao trono com a idade de 9 anos, com a morte de seu pai. Estava prometido à sua prima, Mary, rainha da Escócia, mas as prejudicadas relações entre ingleses e escoceses impediram o casamento. O frágil e protestante rapaz morreu de tuberculose com 16 anos sem casar.
Seu reino foi eivado por problemas desde o nascimento. Seu pai havia emitido decreto para que um conselho de regência governasse até que Edward se tornasse maior, mas seu tio, Edward Seymour, assumiu o controle. O Conselho ofereceu-lhe o Protetorado do Reino e o Ducado de Somerset; Seymour realmente importou-se com o reino e com o jovem rei, mas usou o Protetorado e o radicalismo religioso de Edward para implementar seus interesses protestantes. O “Livro do Orador Comum”, eloquente trabalho do arcebispo Thomas Cranmer, foi instituído em 1549 como um manual do novo estilo de adoração que evitava questões controversas num esforço para pacificar católicos. E a Inglaterra transformou-se num refúgio para heréticos continentais. Os católicos gostaram da branda versão protestante, mas os radicais protestantes clamaram por reformas adicionais, aumentando a sempre presente discórdia entre as facções.
A miséria econômica atormentou a Inglaterra durante o reinado de Edward VI e as relações exteriores encontravam-se em desordem. A nova fé e a dissolução dos monastérios deixaram uma considerável de quantidade de funcionários do clero sem trabalho, num tempo em que o desemprego subia; o cerco de terras monásticas privou muitos camponeses de seu meio de sobrevivência. A cunhagem perdeu valor - as novas moedas eram feitas de metais inferiores – quando as moedas do Novo Mundo invadiram os mercados ingleses. Uma aliança francesa/escocesa ameaçou a Inglaterra, causando a invasão da Escócia por Somerset, onde os escoceses foram derrotados em Pinkie. A intranquilidade geral e manobras entre as facções provocaram a queda de Somerset; ele foi executado em Setembro de 1552, assim iniciando um das mais corruptas eras da história política da Inglaterra.
John Dudley, modelo de corrupção
O responsável por tal corrupção foi o Duque de Warwick, John Dudley, um político ambicioso que queria tornar-se o maior proprietário de terras da Inglaterra. Dudley forçou Edward, alegando que ele havia alcançado a condição de adulto aos doze anos de idade e que estava pronto para governar, além de manejar suas finanças. Dudley foi feito Duque da Northumberland e virtualmente governou a Inglaterra, sem título oficial. Sob sua liderança, o Conselho sistematicamente confiscou os territórios da Igreja, à medida em que a recente onda de radicalismo Protestante parecia uma continuação lógica e justificável da reforma de Henry VIII. As ambições de Northumberland cresciam na proporção do seu ganho de poder, buscando desesperadamente sua ligação à família real. Permitiram-lhe mesmo influir na sucessão de Edward VI assim que diagnosticada sua tuberculose, em janeiro de 1553.
Segundo o testamento de Henry VIII, a Edward VI deveriam suceder suas irmãs Mary e Elizabeth, seguidas dos descendentes da irmã de Henry VIII, Mary: Frances Grey e filhos. Northumberland convenceu Edward de que sua irmã católica Mary arruinaria as reformas protestantes concretizadas até então, sabendo que ela restauraria o catolicismo, devolvendo ao clero os territórios confiscados, que enriqueciam o Conselho. O condenado rei declarou suas irmãs bastardas, passando a sucessão à filha de Frances Grey, lady Jane Grey, uma de suas reais amigas e sua prima. Northumberland fez os Greys consentirem num casamento entre seu filho Guildford e Lady Jane. Edward morreu em 6 de julho de 1553, deixando Jane, contra seus desejos, declarada rainha pelo Conselho.

LADY JANE GREY (NOVE DIAS DE 1553)
Lady Jane Grey, infeliz rainha

A Inglaterra do século XVI viu um tempo turbulento na vida religiosa de seus cidadãos. A Reforma e Henry VIII haviam jogado católicos contra protestantes e foi nesse ambiente que o lar da família Grey viu nascer a filha Jane, em seu chalé palaciano de caça, Bradgate Manor, em Leicestershire, em outubro de 1537.
No início de maio de 1553, Jane foi convocada à presença de seus pais para ser informada de que ela fora prometida a Guildford Dudley, filho de John Dudley, Duque de Northumberland. Ela protestou dizendo que já estava prometida a Edward, Lord Hertford, provavelmente mais por desgostar de Dudley e sua família do que por gostar de Hertford.
Em 25 (ou 21) de maio Jane estava casada com Guildford, em “Durham House on the Strand”, em Londres, na mesma cerimônia em que sua irmã Lady Katherine casou-se com Lord Herbert, filho do Duque de Pembroke, e a filha de Northumberland, Katherine, casou-se com Lord Hastings; a irmão mais nova de Jane foi prometida a seu primo Lord Arthur Grey. Esses casamentos uniram Northumberland a três das famílias mais poderosas na corte.
Dez dias após o casamento, Northumberland divulgou seu plano aos pais de Jane, no mesmo instante em que Jane foi informada da doença de Edward e da necessidade de estar preparada para o que dela fosse exigido. Os planos de Northumberland culminaram com o documento assinado por Edward que eliminava Mary e Elizabeth da linha de sucessão, nomeando Frances Grey, e seus descendentes, herdeiros da Coroa; Frances Grey foi convocada ao leito de morte de Edward onde formalmente cedeu o trono à sua filha Jane. Em quatro dias Jane foi proclamada rainha da Inglaterra e Irlanda, no mesmo dia em que Mary recebeu uma carta do Conselho que a declarava ilegítima.
Robert Dudley, outro filho de Northumberland, foi enviado para toma-la sob custódia, mas Mary, avisada por um simpatizante, fugiu para o Castelo de Framlingham, em Suffolk, e reivindicou o trono.
Em 11 de julho, William Paulet, o lord Tesoureiro Mor, trouxe a coroa para Jane ver como se ajustava, mas ela recusou dizendo que não havia pedido para ver as joias. Como ele explicasse que ela deveria levar o assunto a sério e que ele logo voltaria para ver uma coroa também para seu marido, ela percebeu e extensão dos planos de Northumberland, que não a queria como rainha mas como esposa de seu filho, que lhe daria o supremo poder da Inglaterra. Sem se intimidar, ela reuniu seus conselheiros, a quem informou que Guildford não seria rei, mas apenas o Duque de Clarence.
A concordância de Northumberland em deixar o Conselho sem sua supervisão foi um enorme erro tático. Em sua ausência, Mary reuniu apoio popular e viajou triunfante para Londres onde os conselheiros questionaram sua autoridade. Em 18 de julho todo o Conselho deixou a Torre para um encontro secreto no castelo de Baynard, onde proclamou Northumberland traidor – por cujo crime foi decapitado em 22 de agosto de 1553 - e Mary rainha.
Após um reinado de apenas nove dias, Jane Grey adentrou a Torre em 10 de julho de 1553, na fortaleza que deveria ser o seu palácio e que transformou-se em sua prisão. Sete meses depois, ela seria decapitada por ordem de sua prima Mary, e seu corpo enterrado na capela Real, sem cerimônia, aos dezessete anos de idade.

MARY I (1553 – 1558)
Mary I da Inglaterra

Mary I, filha de Henry VIII e Catarina de Aragão, nasceu em 1516 e teve uma terrível infância de omissão, intolerância e má saúde. Foi uma católica fiel desde o Nascimento, resistindo sempre à pressão de outros para renunciar à sua fé, à qual sempre resistiu com firmeza. Casou-se com Felipe II da Espanha – filho de Charles V, que se opôs com sucesso a Henry VIII em 1527 -, mas não conseguiu ter um filho.
Mary, a primeira mulher a ser coroada rainha, em seu próprio direito, iniciou o seu tumultuado reinado aos 37 anos de idade, chegando a Londres em meio a uma cena de grande alegria, mas já em fevereiro de 1554, em Kent, ocorreu um levante popular liderado por Sir Thomas Wyatt. Os rebeldes marcharam sobre Londres onde um punhado de fidalgos chave, fieis a Mary, esmagaram a insurreição. A rainha deposta, Jane Grey e seu pai, Duque de Suffolk, foram executados para impedir que se tornassem foco de futuro dessossego.
O primeiro ato de Mary foi revogar a legislação protestante de seu irmão, Edward VI, lançando a Inglaterra numa fase de severa perseguição religiosa. Seu principal objetivo foi o restabelecimento do catolicismo na Inglaterra, ao qual se dedicou integralmente. Mais por um desejo de pureza de fé do que por vingança, aproximadamente 300 pessoas, incluindo o prévio arcebispo de Canterbury, Thomas Cranmer, e muitos dos mais proeminentes membros da sociedade, foram queimados por heresia; por isso Mary recebeu o apelido “Bloody Mary” (Mary Sanguinária).
O casamento de Mary com o militante católico Felipe também foi projetado para reforçar o catolicismo do reino. Infelizmente para Mary, dois fatores provocaram oposição a seus planos: o povo inglês odiava estrangeiros – mormente espanhóis – e vinte anos de protestantismo haviam azedado o inglês contra o papismo. Ela encontrou resistência em todos os setores da sociedade e, ao contrário de seu pai e irmão, falhou em moldar a sociedade segundo um padrão ideológico. Felipe II, frio e indiferente à Mary e ao reino, permaneceu na Inglaterra apenas por um curto período, além de forçar a rainha a uma guerra contra a França, que resultou em derrota e perda de Calais, última possessão continental inglesa. Com a saída de seu pai, Charles V, do Santo Império Romano, Felipe retornou à Espanha.
A Inglaterra sofreu durante o reinado de Mary I: economia em ruína, a questão religiosa chegou ao clímax e a Inglaterra perdeu seu último território continental. Após duas falsas gravidez, Mary adoeceu, sem retorno, em agosto de 1558 e morreu sem filhos na madrugada de 17 de novembro. Sua única herdeira era sua irmã, Elizabeth, filha de Anne Boleyn.

ELIZABETH I (1558 – 1603)
Elizabeth I, a rainha virgem

Durante o seu reinado, Mary sempre vira sua irmã protestante, Elizabeth, como uma ameaça, embora não tivesse feito qualquer esforço para impedir sua ascensão ao trono; o próprio parlamento já a reconhecera, informalmente, como a futura rainha, uma semana antes da morte de Mary.
Uma protestante moderada, Elizabeth herdou um reino nervoso onde o catolicismo dominava em toda a Inglaterra, com exceção das cidades principais, o sudeste e East Anglia. Em 1559, Elizabeth lançou o “Church Settlement” (Acordo da Igreja), que pretendia ser inclusivo, mas foi muito protestante. O acordo restaurou a Supremacia Real (do tempo do rei Henry VIII) e o “Act of Uniformity”, um reforço ao Prayer Book de Cranmer, de 1552, mas em um gesto conciliatório reintroduziu as vestes clericais e uma Eucaristia mais católica. Os alteres foram permitidos e o clero teve permissão para casar.
Todos os bispos de Mary, com exceção de um, foram afastados após recusarem o “Oath of Supremacy” e substituídos por homens escolhidos a dedo pelo seu ministro-chefe, Robert Cecil. A maioria era mais radical que a própria rainha, como os clérigos que preencheram as paróquias dos padres católicos resignatários. Os altares, embora permitidos na teoria, foram removidos por comissões que circularam pelo país para verificar o cumprimento das ordens.
A igreja foi ainda mais sufocada em 1563 quando outro “Act of Uniformity” fez da recusa ao juramento ou a defesa da autoridade papal, uma ofensa de traição. Mas desta vez, a ameaça estrangeira era real: uma revolta em 1569, a invasão papal da Irlanda, a excomunhão de Elizabeth e a chegada de padres da França, salientaram a insegurança da igreja anglicana. Paralelamente, a severidade das leis de traição aumentaram o sentimento anti-católico, empurrando-o para os subterrâneos para o resto do seu reinado, longo o suficiente para garantir o estabelecimento do Anglicismo como protestante. Após as políticas vacilantes de Edward e Mary, a Reforma teve 45 anos de governo Elizabethano para sedimentar.
Felipe II da Espanha
Digno de nota em seu reinado foi o agravamento da crise entre Inglaterra e Espanha, iniciada com a morte de Mary, esposa de Felipe II e a ascensão de Elizabeth, muito mais por questões religiosas do que por qualquer outra. O tratado de assistência às Províncias Unidas (reunião de territórios nos Países Baixos) foi assinado no Palácio de Nonsuch, Surrey, e previa ajuda militar inglesa para a Antuérpia, sitiada por forças espanholas. A Antuérpia caiu em 17 de agosto de 1585, mas o tratado foi tido como um ato de Guerra por Felipe II da Espanha e conduziria, por uma série de eventos, ao envio da Armada para invadir a Inglaterra.
A situação chegou ao auge em 1588 quando Elizabeth rejeitou proposta de casamento de Felipe II da Espanha. O indignado rei espanhol, inflamado pela pirataria inglesa e as pilhagens na exploração do Novo Mundo (Américas), enviou sua temida “Invencível Armada” para atacar a Inglaterra, dando a Elizabeth a oportunidade de por a público as qualidades que ninguém esperaria encontrar numa frágil mulher daqueles tempos. A Inglaterra habilmente venceu a batalha, ajudada pelo tempo inclemente do British Channel (Canal da Mancha), emergindo como o maior poder naval mundial e estabelecendo o cenário para os futuros projetos imperiais britânicos.
Embora não indispensável ao nosso trabalho, creio adequado abrir aqui um pequeno parênteses, para apresentar um importantíssimo personagem do seu reinado, que também ajudará a esclarecer a sucessão de Elizabeth I e mostrar como se confundem as histórias da Inglaterra e da Escócia.
Mary Stuart, filha de James V, rei dos escoceses, nascida a 8 de dezembro de 1542, tornou-se rainha da Escócia com a morte de seu pai, aos seis dias de idade. Sua avó paterna, mãe de seu pai, Margaret Tudor, era irmã do rei Henry VIII da Inglaterra, o que a tornava sua sobrinha bisneta.
Mary Stuart,
rainha da Escócia
Evidentemente, o governo da Escócia foi exercido por uma dupla regência até que ela se tornasse adulta. Durante essa regência, Henry VIII pretendeu realizar o casamento de Mary com seu próprio filho, o príncipe Edward, que se tornou rei da Inglaterra, assim unindo os dois países, através do acordo. Tal desejo acabou não se concretizando porque o mais forte regente de Mary, católico, favoreceu a aproximação da Escócia com a França, inclinou-a para o catolicismo e rompeu o acordo de casamento, o que enfureceu Henry VIII.
O rei da França, Henry II, propôs então unir França e Escócia, através do casamento de seu filho e herdeiro, Francis II, com Mary Stuart; com isso ela tornou-se rainha consorte da França e ele rei consorte da Escócia. Acordado o casamento, Mary, católica, mudou-se com 5 anos para a corte francesa, de onde só retornaria, para a Escócia, com a idade de 19 anos, após a morte de Francis II em 1560, para iniciar o seu reinado, num país religiosamente dividido, tendo como conselheiro chefe, seu ilegítimo meio irmão, James Stuart, Conde de Moray.
Em julho de 1565, Mary casou-se pela segunda vez, com seu primo inglês (ambos netos de Margaret Tudor), Henry Stuart, lorde Darnley, católico, ambos reclamantes ao trono da Inglaterra, enfurecendo sobremaneira Elizabeth I e o Conde de Moray, que partiu para revolta aberta, embora sem sucesso.
Em junho de 1566 nasceu James, filho de Mary e lorde Darnley, que viria a tornar-se rei da Escócia como James VI, quando o casamento de seus pais já desmoronava após o assassinato de Davis Rizzio, secretário católico particular de Mary, em que seu marido tomara parte. Nas primeiras horas da manhã de 10 de fevereiro de 1567, uma explosão devastou a casa onde lorde Darnley se recuperava de uma doença e ele foi encontrado morto nos jardins, aparentemente asfixiado, num crime misterioso e sem condenações.
Em abril de 1567, Mary visitou seu filho pela última vez, pois na volta a Edinburgh foi sequestrada por James Hepburn, 4º Conde de Bothwell, um dos principais suspeitos do assassinato do seu marido, que a conduziu ao castelo de Dunbar, onde a teria estuprado. Em maio ela retornou a Edinburgh onde casou com Bothwell segundo ritos protestantes. A decisão de Mary de casar com James Hepburn, causou imenso prejuízo à sua reputação, provocando a rebelião da nobreza escocesa. Foi feita prisioneira e obrigada a abdicar em favor de seu filho James VI. Escapou em maio de 1568 e levantou um exército que foi decisivamente batido por forças sob o comando do conde de Moray. Sem desistir, Mary logrou deixar o país, adentrando solo inglês para pedir a Elizabeth apoio na recuperação do seu trono.
Entretanto, Elizabeth tinha outras ideias. Como sabemos, ela própria havia sido declarada herdeira ilegítima num ato não repelido formalmente, sabendo que muitos católicos consideravam Mary a legítima herdeira do trono inglês. Sua presença na Inglaterra poderia despertar um levante católico e Elizabeth recusou ajuda-la até que tivesse provado sua inocência no assassinato de Lord Darnley, sendo conduzida para o castelo Carlisle, como prisioneira.
A investigação não comprovou culpa, mas Mary ficou detida na Inglaterra, onde tornar-se-ia o foco de muitas intrigas para destronar Elizabeth. Católicos do norte se levantaram com o objetivo de substituir Elizabeth por Mary Stuart, mas quando esmagados, seus líderes foram executados ou fugiram para o exílio. O episódio encorajou Elizabeth a abandonar a tolerância religiosa permitindo que a igreja da Inglaterra se tornasse mais expressivamente protestante.
No último dia de 1580, o prévio regente anglófilo da Escócia, James Douglas, Duque de Morton, foi preso e acusado de cumplicidade no assassinato do marido de Mary Stuart, em 1567. Elizabeth obteve de James VI a promessa de que sua vida seria poupada; contudo ele foi executado em 2 de junho de 1581, o que a desgostou profundamente.
Em 1586 Mary Stuart foi implicada no complô de Babington para assassinar Elizabeth I e culpada de traição. Seus conselheiros, sabedores de que Elizabeth estaria sempre em perigo enquanto Mary estivesse viva, executaram-na após Elizabeth ter finalmente consentido em assinar a pena de morte.
Findo o parênteses sobre Mary Stuart, retornamos à “rainha virgem”, como foi conhecida Elisabeth I, posto que nunca casou, para vê-la morrer em 1603, sem marido e sem herdeiro, mas com o país unido como nunca foi possível tê-lo no século anterior, por uma religião comum e por um inimigo comum, a França. Patriotismo e Protestantismo foram duas metades de uma mesma moeda, uma moeda que barrava o título de Henry VIII, “Defensor da Fé”, e continua barrando. Ironicamente, a coroa inglesa passou ao rei protestante James VI da Escócia, filho de Mary Stuart, que tornou-se James I, o primeiro rei Stuart da Inglaterra. A ascensão de James fez com que os reinos separados da Inglaterra, Escócia e Irlanda fossem, pela primeira vez, unidos sob um só monarca.
William Shakespeare
Propositalmente fora da cronologia, para não misturar as profissões, antes de fechar o reinado de Elizabeth I, queremos fazer referência a um escritor que viveu em sua época, provavelmente o escritor mais importante da Inglaterra e um dos mais conhecidos em todo mundo. William Shakespeare nasceu em Stratford Upon Avon, em 1564, apenas seis anos ou menos após a ascensão de Elizabeth ao trono, provavelmente algo em torno de 23 de abril (pois seu batizado foi realizado em 26 de abril), de Mary Arden and John Shakespeare. Sua biografia tem sido uma enorme fonte de controvérsia, pois embora um dos maiores escritores do mundo, o que se conhece dos 28 primeiros anos de sua vida poderia ser escrito nas costas de um selo de correio, embora ele tenha vivido até os 52 anos de idade. Na verdade, apenas os últimos anos de sua vida são suficientemente bem documentados, para alguém da sua classe social e profissão, para comprovar a sua existência.
Apenas após 1592, sua vida em Londres, onde ele morava desde 1589, tornou-se mais clara. Shakespeare foi o dramaturgo da história da Inglaterra, sua estreia acontecendo com uma trilogia sobre as “Guerras das Rosas” e pelo fim de 1592 já havia escrito “Richard III”. Entre 1594 e 1595, ele escrevia suas primeiras obras-primas, “Sonho de uma Noite de Verão” e “Romeu e Julieta”. Várias outras obras importantes se seguiram, como “Henry IV”, “The Twelfth Night”, “King Lear”, “Macbeth”, “Hamlet”, “The Tempest” e muitas outras, entre comédias, tragédias e peças históricas, além de vários poemas.
O registro do enterro atesta a sua morte em 23 de abril de 1616, data do seu nascimento, em sua cidade natal, onde ele se tornara um pilar da comunidade local, tendo sido enterrado na igreja da Holy Trinity (Santa Trindade). O mundo que ele representou com tanta emoção – a velha Inglaterra com seus reis bons e maus, velhos frades e santas mulheres – foi o mundo de sua própria vida, em que ele juntou os conflitos do seu tempo, a revolução cultural da era Elizabethana e pós- Elizabethana. Verdadeira permanece a frase do seu amigo Bem Jonson: “Shakespeare não foi de uma era, mas de todos os tempos”.

Continua na PARTE 9