Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066 (PARTE 9)

GUERRA CIVIL E REVOLUÇÃO (1603 – 1714)

JAMES I (1603 – 1625)
James VI da Escócia
e James I da Inglaterra

James I nasceu em 1566 de Mary I, rainha da Escócia e seu Segundo marido Henry Stewart, Lord Darnley. James ascendeu ao trono pela abdicação forçada de sua mãe, em 1567, mas o país foi governado por um regente até a sua maioridade. Casou-se com Anne, da Dinamarca, em 1589, que deu-lhe 3 filhos e quarto filhas: Henry, Elizabeth, Margaret, Charles, Robert, Mary e Sophia. Foi nomeado sucessor do trono inglês por sua prima, Elizabeth I, ascendendo àquele trono em 1603. Morreu de um derrame em 1625 após governar a Escócia por 58 anos e a Inglaterra por 22 anos.
James foi profundamente afetado por seus jovens anos na corte escocesa. Assassinato e intriga haviam infestado a corte escocesa durante o reinado de seu avô (James V) e sua mãe, prosseguindo no seu próprio reinado, conforme já visto. Assim, James desenvolveu modos reservados e ansiava por tomar a coroa inglesa, esquecendo as limitações e pobreza da corte escocesa.
Ingleses e escoceses sempre se odiaram, desde as primeiras chegadas das raças anglo-saxãs, pela supremacia na ilha. Essa desconfiança inerente combinada com as tensões religiosas, em muito limitaram as intenções de James quanto a um reinado de sucesso. Sua personalidade também causou problemas: arguto e versado, cria firmemente no direito divino do rei e sua própria importância, mas teve dificuldade em ganhar a aceitação da sociedade inglesa que via suas maneiras toscas e sua paranoia natural muito impróprias. Seus hábitos extravagantes nos gastos e sua indiferença às queixas da nobreza, manteve o rei e parlamento, que via de pouco uso, em permanente desacordo. Chegou ao trono no auge do poder monárquico, mas realmente nunca alcançou a profundidade e o escopo de tal poder.
A discórdia religiosa foi a base de um evento que confirmou e estimulou a paranoia de James: a “Trama da Póvora” de novembro de 1605. Guy Fawkes(1)  e quatro outros católicos dissidentes, foram apanhados tentando explodir a Casa dos Lordes num dia em que o rei abriria a sessão. Os conspiradores foram executados, mas uma onda renovada de sentimentos anti-católicos varreu a Inglaterra, e a relação entre o rei e o parlamento erodiu-se permanentemente. O parlamento recusou totalmente desembolsar com um rei que ignorava suas questões e irritava-se com as recompense esbanjadas com os seus favoritos e com decoração. James recompensou mais de 200 de seus pares com títulos de terras como suborno para ganhar lealdade, a mais controversa sendo a criação do Duque de Buckingham para George Villiers (seu conselheiro, companheiro mais próximo e, segundo alguns, seu amigo homossexual), que lhe falhou miseravelmente na política externa. James tentou melhorar as relações com a Espanha através do casamento de seu filho Charles com a Infanta espanhola (pouca receptiva às propostas de Charles e Buckingham), e pela execução de Sir Walter Raleigh(2)  por ordem da Espanha.
Sir Walter Raleigh
Ao final do século XVI haviam diversas versões da Bíblia em circulação e James autorizou uma sua versão definitiva em 1604. Conhecida como a “Bíblia do Rei James”, até hoje, foi impressa em 1611, com um profundo impacto na língua inglesa.
Embora resolvido a manter seus reinos fora de confusões externas, por força do casamento de sua filha mais velha, Elizabeth, com Frederick V, príncipe eleitor do Palatinado da Renânia (um dos estados do Santo Império Romano Germânico), em fevereiro de 1613, logo coroado rei da Boêmia, e a expulsão subsequente do jovem par por forças católicas, de seu novo reino, arrastaram James I à continental “Guerra dos Trinta Anos”.
James também não apreciava os protestantes extremistas (Puritanos) que exageravam em suas demandas ao rei, o que resultou na primeira onda de imigrantes ingleses para a América do Norte, em 1620, conhecidos como ‘Pilgrim Fathers’ (Pais dos Peregrinos), muitas vezes retratados como os fundadores da moderna América.
James I foi abatido pelo que os contemporâneos chamam de 'febre terçã' (espécie de malária), morrendo em seu leito de Theobalds, Hertfordshire, em 1625, com a idade de 57. Foi sucedido por seu único filho vivo, Charles, com 25 anos, proclamado rei poucas horas após.

CHARLES I (1625 – 1649)
Charles I da Inglaterra

Charles I nasceu em 1600, o segundo filho de James I e Anne of Denmark. Após tentativas frustradas para conseguir um casamento, Charles casou-se com Henrietta Maria, filha do rei Henry IV da França, com 15 anos de idade, que lhe deu 4 filhos: Charles (morreu adolescente), Charles (que tornou-se Charles II), James e Henry; e cinco filhas (Mary, Elizabeth, Anne, Catherine e Henrietta Anne).
Charles tornou-se um excelente cavaleiro e um enérgico rei; sua forte vontade, contudo, provou ser a sua ruína. Herdou os incessantes problemas financeiros de seu pai: a recusa do Parlamento em garantir fundos a um rei que negava considerar as queixas da nobreza. O duque de Buckingham ainda exerceu indevida e impopular influência sobre Charles, em seus primeiros anos de reinado e seu assassinato, em agosto de 1628, provocou gritos de alegria da nobreza.
Três vezes convocado e três vezes dissolvido entre 1625 e 1629, o Parlamento passou os 11 anos seguintes sem ser convocado, pois Charles financiou seu reinado com a venda de monopólios comerciais e taxando cidades que quisessem construir navios de guerra. O casamento de Charles com a devota princesa católica francesa exasperou a nobreza crescentemente puritana, à medida em que seus amigos católicos inundavam a corte. Era uma mulher intrometida que sempre colocou seus desejos (e os de seus amigos) acima das necessidades do reino.
Charles tentou impor um novo livro de orações aos escoceses, que resultou em rebelião, trazendo um abrupto fim aos seus onze anos de governo pessoal, liberando as forças de uma guerra civil na Inglaterra. Suas forças mal preparadas por falta de recursos próprios, obrigaram o rei a chamar, inicialmente, o ‘Short Parliament’ (Parlamento Curto) e, finalmente, o ‘Long Parliament’ (Parlamento Longo), mas de novo sem acordo entre o rei e o Parlamento. Tolamente, Charles tentou, aconselhado por Henrietta Maria, prender cinco membros do Parlamento, complicando sobremaneira a questão. A luta pela supremacia conduziu à guerra civil, quando Charles colocou o estandarte real no Castle Hill, Nottingham, em agosto de 1642 convocando seus súditos leais a se unirem com ele contra seus inimigos do Parlamento.
Questões religiosas e econômicas se somaram às diferenças entre os partidários da monarquia (Cavaliers – ‘Cavalheiros’ - ou Realistas) e os do Parlamento (Roundheads – ‘Cabeças Redondas - ou Parlamentaristas). As linhas de divisão eram, grosseiramente, as seguintes: o apoio dos Cavalheiros vinha dos camponeses e da nobreza da raízes episcopais, enquanto o dos Parlamentaristas vinha da classe média emergente e comerciantes do movimento puritano; geograficamente, as províncias do norte e oeste apoiavam os Cavalheiros, enquanto que os condados financeiramente mais prósperos e populosos do sul apoiavam os Parlamentaristas. Com isso, os Parlamentaristas, com bolsos mais cheios e populações maiores para arrastar, estavam destinados a vencer a batalha. Oliver Cromwell e seu ‘New Model Army’(3) , em Naseby, derrotou fragorosamente os Cavalheiros em 1645. Menos de um anos depois Charles rendeu-se às forças escocesas que o entregaram ao Parlamento inglês. Em 1648 Charles foi julgado por traição e por 68 votos contra 67, julgado culpado e condenado à morte, em 1649. Ainda em dezembro de 1648, enfurecidos pela oposição do Parlamento às suas ideias políticas, oficiais do New Model Army decidiram dele remover os membros considerados não confiáveis, num efetivo golpe de estado. Colonel Thomas Pride, que deu nome ao expurgo, expulsou cerca de 180 membros e prendeu mais de 40. O Parlamento resultante, com menos de 160 membros, ficou ironicamente conhecido como 'the Rump' (a Sobra).
É importante lembrar, considerando tudo o que foi dito antes, que Charles I era, ao assumir o reinado, além de descendente de escocês, rei da Inglaterra, Escócia e Gales. Com a sua morte, a monarquia foi abolida e a república chamada de “Commonwealth of England” (Comunidade da Inglaterra) foi declarada.
Os novos mandatários foram chamados a restabelecer a tradicional dominação sobre a Irlanda e, em 1649, enviaram uma força comandada por Cromwell para reconquistar a Irlanda, tarefa efetivamente completada em 1652.
Entrementes, desesperado para recuperar o trono de seu pai, seu filho mais velho chegava a um acordo com os escoceses e, em janeiro de 1651, era coroado como Charles II da Escócia. No mesmo ano Charles invadiu a Inglaterra com um exército escocês, sendo derrotado por Cromwell em Worcester, apenas conseguindo evitar a captura e escapar para a França. Seus súditos, deixados em péssima situação, foram totalmente conquistados pelos Parlamentaristas.

OLIVER CROMWELL (1653–1658).–.COMUNIDADE DA INGLATERRA
Oliver Cromwell, Lorde Protetor

Após a execução de Charles I, as várias facções começaram a brigar entre si, perdendo a credibilidade aos olhos do exército. Frustrado, Oliver Cromwell descartou, de forma indigna, o Parlamento expurgado, em 21 de abril de 1653, evacuando a Casa a ponta de espada. A auto indicação de Cromwell como 'Lorde Protetor' da nova Comunidade da Inglaterra, Escócia e Irlanda, em 1653, deu-lhe poderes semelhantes a um rei. O exército chamou por um novo Parlamento de puritanos que provou ser tão inepto quanto a ‘Sobra’. Em 1655 Cromwell dissolveu esse novo parlamento, decidindo governar sozinho, da mesma forma que Charles havia feito em 1629. Sua crescente popularidade com o exército o sustentou pelos cinco anos seguintes, embora não tenha conseguido estabelecer um apoio de ampla base para um honesto governo republicano.
O custo da manutenção de um exército regular de 35.000 homens provou ser incompatível com o governo financeiramente arruinado de Cromwell, muito piorado com as duas guerras que com os holandeses teve que manter.
A solução militar ainda tentou uma nova versão do Parlamento, com a criação da ‘Casa dos Pares’, recheada com os partidários de Cromwell e real poder de veto, mas os Comuns se tornaram ainda mais antagônicos a ele. A monarquia foi restaurada em tudo a menos do nome.
O Lorde Protetor morreu em 3 de setembro de 1658, nomeando seu filho Richard como Lorde Protetor sucessor.

RICHARD CROMWELL (1658–1659).–.COMUNIDADE DA INGLATERRA
Richard Cromwell

Richard foi o terceiro filho do Lorde Protetor, Oliver Cromwell. Nascido em 4 de outubro de 1626, ele serviu ao exército Parlamentar quando jovem, mas mostrou pouca aptidão para o papel que lhe caberia representar. Em 3 de setembro de 1658, Richard Cromwell foi proclamado Lord Protetor do Reino. Entretanto, militares do Conselho mostraram ampla animosidade contra sua indicação, demonstrando seu ressentimento contra seus contrapartidas civis. Para levantar fundos e apaziguar as diferenças, Richard foi forçado a dissolver o Protetorado e reinstalar o Parlamento da Sobra, em janeiro de 1659, apenas conseguindo efeitos opostos e foi por isso dispensado.
General Monck, um dos mais capazes, oficiais tornou-se então o principal líder da restauração da monarquia, único caminho para encerrar o caos político. Marchou com suas tropas para Londres em apoio ao Parlamento, em fevereiro de 1660, quebrando o impasse e reinstalando a Sobra pela terceira vez. Em abril do mesmo ano, ele abriu as portas do Parlamento àqueles que haviam sido barrados dez anos antes. A Casa dos Comuns estabeleceu um Conselho de Estado Monárquico autorizado a convidar Charles II a tomar a Coroa e dispensar o passivo Lorde Protetor em 25 de maio de 1659, apenas oito meses após ter tomado posse. O Longo Parlamento finalmente dissolveu-se após tais ações e um Stuart novamente subiu ao trono. Em maio de 1660 a monarquia foi restaurada com Charles II entrando triunfalmente em Londres.
Richard foi esperto o bastante para deixar as praias da Inglaterra no verão de 1660, indo viver na França com o nome de John Clarke, antes de mover-se para a Espanha, Itália ou, possivelmente Suíça. Permitiram-lhe, finalmente, retornar ao lar, sem recriminações, em 1680.

(1) Em 1972, durante meu primeiro estágio na Inglaterra, tive oportunidade de assistir e participar, em companhia de amigos londrinos, da celebração do “Guy Fawkes’ Day”, como é até hoje lembrada a data, na Inglaterra, como uma espécie de festa de “São João” à inglesa, com fogueiras ardendo por todo o canto, mais para lembrar a frustrada tentativa de destruição das “Casas do Parlamento”, um símbolo da história daquele país. Infelizmente, a tentativa de assassinato de James I e a elite protestante dominante, manchariam, embora injustamente, todos os ingleses católicos como traidores, pelos séculos vindouros.
(2) Walter Raleigh, nascido em 1554 e morto em 1618, foi um aristocrata, poeta, escritor, soldado, político, cortesão, espião e explorador inglês, que popularizou o uso do fumo na Inglaterra. Entre outras façanhas, casou sem permissão com uma das damas de companhia de Elizabeth I e por isso foi jogado na Torre de Londres com a amada, por dois anos. Em 1594 viajou à América do Sul em busca do “El Dorado”; na volta publicou um exagerado relato de suas experiências. Em 1603 foi preso novamente como envolvido na trama de assassinato do rei James. Em 1616 realizou uma segunda viagem em busca do “El Dorado”. Sem sucesso, homens sob seu comando saquearam um posto avançado espanhol. Retornando à Inglaterra, para apaziguar os espanhóis, foi preso e executado em 1618.
(3) O New Model Army (Exército de Novo Modelo) da Inglaterra foi formado em 1645 pelos Parlamentaristas, na Guerra Civil inglesa, e dispersado em 1660 após a Restauração. Ele diferia de outros exércitos ingleses no que se refere a um exército responsável pelo serviço em qualquer região do país (incluindo Escócia e Irlanda), ao invés de restrito a uma só área ou guarnição. Seus soldados tornaram-se profissionais em tempo integral e seus líderes foram proibidos de possuir assento na Casa dos Lordes ou dos Comuns, a fim de encorajar sua separação de facções políticas ou religiosas entre os Parlamentaristas.

Prossegue na PARTE 10

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