Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066 (PARTE 8)

EDWARD VI (1547 – 1553)
Edward VI, rei da Inglaterra

Edward VI, filho de Henry VIII e Jane Seymour, nasceu em 1537. Subiu ao trono com a idade de 9 anos, com a morte de seu pai. Estava prometido à sua prima, Mary, rainha da Escócia, mas as prejudicadas relações entre ingleses e escoceses impediram o casamento. O frágil e protestante rapaz morreu de tuberculose com 16 anos sem casar.
Seu reino foi eivado por problemas desde o nascimento. Seu pai havia emitido decreto para que um conselho de regência governasse até que Edward se tornasse maior, mas seu tio, Edward Seymour, assumiu o controle. O Conselho ofereceu-lhe o Protetorado do Reino e o Ducado de Somerset; Seymour realmente importou-se com o reino e com o jovem rei, mas usou o Protetorado e o radicalismo religioso de Edward para implementar seus interesses protestantes. O “Livro do Orador Comum”, eloquente trabalho do arcebispo Thomas Cranmer, foi instituído em 1549 como um manual do novo estilo de adoração que evitava questões controversas num esforço para pacificar católicos. E a Inglaterra transformou-se num refúgio para heréticos continentais. Os católicos gostaram da branda versão protestante, mas os radicais protestantes clamaram por reformas adicionais, aumentando a sempre presente discórdia entre as facções.
A miséria econômica atormentou a Inglaterra durante o reinado de Edward VI e as relações exteriores encontravam-se em desordem. A nova fé e a dissolução dos monastérios deixaram uma considerável de quantidade de funcionários do clero sem trabalho, num tempo em que o desemprego subia; o cerco de terras monásticas privou muitos camponeses de seu meio de sobrevivência. A cunhagem perdeu valor - as novas moedas eram feitas de metais inferiores – quando as moedas do Novo Mundo invadiram os mercados ingleses. Uma aliança francesa/escocesa ameaçou a Inglaterra, causando a invasão da Escócia por Somerset, onde os escoceses foram derrotados em Pinkie. A intranquilidade geral e manobras entre as facções provocaram a queda de Somerset; ele foi executado em Setembro de 1552, assim iniciando um das mais corruptas eras da história política da Inglaterra.
John Dudley, modelo de corrupção
O responsável por tal corrupção foi o Duque de Warwick, John Dudley, um político ambicioso que queria tornar-se o maior proprietário de terras da Inglaterra. Dudley forçou Edward, alegando que ele havia alcançado a condição de adulto aos doze anos de idade e que estava pronto para governar, além de manejar suas finanças. Dudley foi feito Duque da Northumberland e virtualmente governou a Inglaterra, sem título oficial. Sob sua liderança, o Conselho sistematicamente confiscou os territórios da Igreja, à medida em que a recente onda de radicalismo Protestante parecia uma continuação lógica e justificável da reforma de Henry VIII. As ambições de Northumberland cresciam na proporção do seu ganho de poder, buscando desesperadamente sua ligação à família real. Permitiram-lhe mesmo influir na sucessão de Edward VI assim que diagnosticada sua tuberculose, em janeiro de 1553.
Segundo o testamento de Henry VIII, a Edward VI deveriam suceder suas irmãs Mary e Elizabeth, seguidas dos descendentes da irmã de Henry VIII, Mary: Frances Grey e filhos. Northumberland convenceu Edward de que sua irmã católica Mary arruinaria as reformas protestantes concretizadas até então, sabendo que ela restauraria o catolicismo, devolvendo ao clero os territórios confiscados, que enriqueciam o Conselho. O condenado rei declarou suas irmãs bastardas, passando a sucessão à filha de Frances Grey, lady Jane Grey, uma de suas reais amigas e sua prima. Northumberland fez os Greys consentirem num casamento entre seu filho Guildford e Lady Jane. Edward morreu em 6 de julho de 1553, deixando Jane, contra seus desejos, declarada rainha pelo Conselho.

LADY JANE GREY (NOVE DIAS DE 1553)
Lady Jane Grey, infeliz rainha

A Inglaterra do século XVI viu um tempo turbulento na vida religiosa de seus cidadãos. A Reforma e Henry VIII haviam jogado católicos contra protestantes e foi nesse ambiente que o lar da família Grey viu nascer a filha Jane, em seu chalé palaciano de caça, Bradgate Manor, em Leicestershire, em outubro de 1537.
No início de maio de 1553, Jane foi convocada à presença de seus pais para ser informada de que ela fora prometida a Guildford Dudley, filho de John Dudley, Duque de Northumberland. Ela protestou dizendo que já estava prometida a Edward, Lord Hertford, provavelmente mais por desgostar de Dudley e sua família do que por gostar de Hertford.
Em 25 (ou 21) de maio Jane estava casada com Guildford, em “Durham House on the Strand”, em Londres, na mesma cerimônia em que sua irmã Lady Katherine casou-se com Lord Herbert, filho do Duque de Pembroke, e a filha de Northumberland, Katherine, casou-se com Lord Hastings; a irmão mais nova de Jane foi prometida a seu primo Lord Arthur Grey. Esses casamentos uniram Northumberland a três das famílias mais poderosas na corte.
Dez dias após o casamento, Northumberland divulgou seu plano aos pais de Jane, no mesmo instante em que Jane foi informada da doença de Edward e da necessidade de estar preparada para o que dela fosse exigido. Os planos de Northumberland culminaram com o documento assinado por Edward que eliminava Mary e Elizabeth da linha de sucessão, nomeando Frances Grey, e seus descendentes, herdeiros da Coroa; Frances Grey foi convocada ao leito de morte de Edward onde formalmente cedeu o trono à sua filha Jane. Em quatro dias Jane foi proclamada rainha da Inglaterra e Irlanda, no mesmo dia em que Mary recebeu uma carta do Conselho que a declarava ilegítima.
Robert Dudley, outro filho de Northumberland, foi enviado para toma-la sob custódia, mas Mary, avisada por um simpatizante, fugiu para o Castelo de Framlingham, em Suffolk, e reivindicou o trono.
Em 11 de julho, William Paulet, o lord Tesoureiro Mor, trouxe a coroa para Jane ver como se ajustava, mas ela recusou dizendo que não havia pedido para ver as joias. Como ele explicasse que ela deveria levar o assunto a sério e que ele logo voltaria para ver uma coroa também para seu marido, ela percebeu e extensão dos planos de Northumberland, que não a queria como rainha mas como esposa de seu filho, que lhe daria o supremo poder da Inglaterra. Sem se intimidar, ela reuniu seus conselheiros, a quem informou que Guildford não seria rei, mas apenas o Duque de Clarence.
A concordância de Northumberland em deixar o Conselho sem sua supervisão foi um enorme erro tático. Em sua ausência, Mary reuniu apoio popular e viajou triunfante para Londres onde os conselheiros questionaram sua autoridade. Em 18 de julho todo o Conselho deixou a Torre para um encontro secreto no castelo de Baynard, onde proclamou Northumberland traidor – por cujo crime foi decapitado em 22 de agosto de 1553 - e Mary rainha.
Após um reinado de apenas nove dias, Jane Grey adentrou a Torre em 10 de julho de 1553, na fortaleza que deveria ser o seu palácio e que transformou-se em sua prisão. Sete meses depois, ela seria decapitada por ordem de sua prima Mary, e seu corpo enterrado na capela Real, sem cerimônia, aos dezessete anos de idade.

MARY I (1553 – 1558)
Mary I da Inglaterra

Mary I, filha de Henry VIII e Catarina de Aragão, nasceu em 1516 e teve uma terrível infância de omissão, intolerância e má saúde. Foi uma católica fiel desde o Nascimento, resistindo sempre à pressão de outros para renunciar à sua fé, à qual sempre resistiu com firmeza. Casou-se com Felipe II da Espanha – filho de Charles V, que se opôs com sucesso a Henry VIII em 1527 -, mas não conseguiu ter um filho.
Mary, a primeira mulher a ser coroada rainha, em seu próprio direito, iniciou o seu tumultuado reinado aos 37 anos de idade, chegando a Londres em meio a uma cena de grande alegria, mas já em fevereiro de 1554, em Kent, ocorreu um levante popular liderado por Sir Thomas Wyatt. Os rebeldes marcharam sobre Londres onde um punhado de fidalgos chave, fieis a Mary, esmagaram a insurreição. A rainha deposta, Jane Grey e seu pai, Duque de Suffolk, foram executados para impedir que se tornassem foco de futuro dessossego.
O primeiro ato de Mary foi revogar a legislação protestante de seu irmão, Edward VI, lançando a Inglaterra numa fase de severa perseguição religiosa. Seu principal objetivo foi o restabelecimento do catolicismo na Inglaterra, ao qual se dedicou integralmente. Mais por um desejo de pureza de fé do que por vingança, aproximadamente 300 pessoas, incluindo o prévio arcebispo de Canterbury, Thomas Cranmer, e muitos dos mais proeminentes membros da sociedade, foram queimados por heresia; por isso Mary recebeu o apelido “Bloody Mary” (Mary Sanguinária).
O casamento de Mary com o militante católico Felipe também foi projetado para reforçar o catolicismo do reino. Infelizmente para Mary, dois fatores provocaram oposição a seus planos: o povo inglês odiava estrangeiros – mormente espanhóis – e vinte anos de protestantismo haviam azedado o inglês contra o papismo. Ela encontrou resistência em todos os setores da sociedade e, ao contrário de seu pai e irmão, falhou em moldar a sociedade segundo um padrão ideológico. Felipe II, frio e indiferente à Mary e ao reino, permaneceu na Inglaterra apenas por um curto período, além de forçar a rainha a uma guerra contra a França, que resultou em derrota e perda de Calais, última possessão continental inglesa. Com a saída de seu pai, Charles V, do Santo Império Romano, Felipe retornou à Espanha.
A Inglaterra sofreu durante o reinado de Mary I: economia em ruína, a questão religiosa chegou ao clímax e a Inglaterra perdeu seu último território continental. Após duas falsas gravidez, Mary adoeceu, sem retorno, em agosto de 1558 e morreu sem filhos na madrugada de 17 de novembro. Sua única herdeira era sua irmã, Elizabeth, filha de Anne Boleyn.

ELIZABETH I (1558 – 1603)
Elizabeth I, a rainha virgem

Durante o seu reinado, Mary sempre vira sua irmã protestante, Elizabeth, como uma ameaça, embora não tivesse feito qualquer esforço para impedir sua ascensão ao trono; o próprio parlamento já a reconhecera, informalmente, como a futura rainha, uma semana antes da morte de Mary.
Uma protestante moderada, Elizabeth herdou um reino nervoso onde o catolicismo dominava em toda a Inglaterra, com exceção das cidades principais, o sudeste e East Anglia. Em 1559, Elizabeth lançou o “Church Settlement” (Acordo da Igreja), que pretendia ser inclusivo, mas foi muito protestante. O acordo restaurou a Supremacia Real (do tempo do rei Henry VIII) e o “Act of Uniformity”, um reforço ao Prayer Book de Cranmer, de 1552, mas em um gesto conciliatório reintroduziu as vestes clericais e uma Eucaristia mais católica. Os alteres foram permitidos e o clero teve permissão para casar.
Todos os bispos de Mary, com exceção de um, foram afastados após recusarem o “Oath of Supremacy” e substituídos por homens escolhidos a dedo pelo seu ministro-chefe, Robert Cecil. A maioria era mais radical que a própria rainha, como os clérigos que preencheram as paróquias dos padres católicos resignatários. Os altares, embora permitidos na teoria, foram removidos por comissões que circularam pelo país para verificar o cumprimento das ordens.
A igreja foi ainda mais sufocada em 1563 quando outro “Act of Uniformity” fez da recusa ao juramento ou a defesa da autoridade papal, uma ofensa de traição. Mas desta vez, a ameaça estrangeira era real: uma revolta em 1569, a invasão papal da Irlanda, a excomunhão de Elizabeth e a chegada de padres da França, salientaram a insegurança da igreja anglicana. Paralelamente, a severidade das leis de traição aumentaram o sentimento anti-católico, empurrando-o para os subterrâneos para o resto do seu reinado, longo o suficiente para garantir o estabelecimento do Anglicismo como protestante. Após as políticas vacilantes de Edward e Mary, a Reforma teve 45 anos de governo Elizabethano para sedimentar.
Felipe II da Espanha
Digno de nota em seu reinado foi o agravamento da crise entre Inglaterra e Espanha, iniciada com a morte de Mary, esposa de Felipe II e a ascensão de Elizabeth, muito mais por questões religiosas do que por qualquer outra. O tratado de assistência às Províncias Unidas (reunião de territórios nos Países Baixos) foi assinado no Palácio de Nonsuch, Surrey, e previa ajuda militar inglesa para a Antuérpia, sitiada por forças espanholas. A Antuérpia caiu em 17 de agosto de 1585, mas o tratado foi tido como um ato de Guerra por Felipe II da Espanha e conduziria, por uma série de eventos, ao envio da Armada para invadir a Inglaterra.
A situação chegou ao auge em 1588 quando Elizabeth rejeitou proposta de casamento de Felipe II da Espanha. O indignado rei espanhol, inflamado pela pirataria inglesa e as pilhagens na exploração do Novo Mundo (Américas), enviou sua temida “Invencível Armada” para atacar a Inglaterra, dando a Elizabeth a oportunidade de por a público as qualidades que ninguém esperaria encontrar numa frágil mulher daqueles tempos. A Inglaterra habilmente venceu a batalha, ajudada pelo tempo inclemente do British Channel (Canal da Mancha), emergindo como o maior poder naval mundial e estabelecendo o cenário para os futuros projetos imperiais britânicos.
Embora não indispensável ao nosso trabalho, creio adequado abrir aqui um pequeno parênteses, para apresentar um importantíssimo personagem do seu reinado, que também ajudará a esclarecer a sucessão de Elizabeth I e mostrar como se confundem as histórias da Inglaterra e da Escócia.
Mary Stuart, filha de James V, rei dos escoceses, nascida a 8 de dezembro de 1542, tornou-se rainha da Escócia com a morte de seu pai, aos seis dias de idade. Sua avó paterna, mãe de seu pai, Margaret Tudor, era irmã do rei Henry VIII da Inglaterra, o que a tornava sua sobrinha bisneta.
Mary Stuart,
rainha da Escócia
Evidentemente, o governo da Escócia foi exercido por uma dupla regência até que ela se tornasse adulta. Durante essa regência, Henry VIII pretendeu realizar o casamento de Mary com seu próprio filho, o príncipe Edward, que se tornou rei da Inglaterra, assim unindo os dois países, através do acordo. Tal desejo acabou não se concretizando porque o mais forte regente de Mary, católico, favoreceu a aproximação da Escócia com a França, inclinou-a para o catolicismo e rompeu o acordo de casamento, o que enfureceu Henry VIII.
O rei da França, Henry II, propôs então unir França e Escócia, através do casamento de seu filho e herdeiro, Francis II, com Mary Stuart; com isso ela tornou-se rainha consorte da França e ele rei consorte da Escócia. Acordado o casamento, Mary, católica, mudou-se com 5 anos para a corte francesa, de onde só retornaria, para a Escócia, com a idade de 19 anos, após a morte de Francis II em 1560, para iniciar o seu reinado, num país religiosamente dividido, tendo como conselheiro chefe, seu ilegítimo meio irmão, James Stuart, Conde de Moray.
Em julho de 1565, Mary casou-se pela segunda vez, com seu primo inglês (ambos netos de Margaret Tudor), Henry Stuart, lorde Darnley, católico, ambos reclamantes ao trono da Inglaterra, enfurecendo sobremaneira Elizabeth I e o Conde de Moray, que partiu para revolta aberta, embora sem sucesso.
Em junho de 1566 nasceu James, filho de Mary e lorde Darnley, que viria a tornar-se rei da Escócia como James VI, quando o casamento de seus pais já desmoronava após o assassinato de Davis Rizzio, secretário católico particular de Mary, em que seu marido tomara parte. Nas primeiras horas da manhã de 10 de fevereiro de 1567, uma explosão devastou a casa onde lorde Darnley se recuperava de uma doença e ele foi encontrado morto nos jardins, aparentemente asfixiado, num crime misterioso e sem condenações.
Em abril de 1567, Mary visitou seu filho pela última vez, pois na volta a Edinburgh foi sequestrada por James Hepburn, 4º Conde de Bothwell, um dos principais suspeitos do assassinato do seu marido, que a conduziu ao castelo de Dunbar, onde a teria estuprado. Em maio ela retornou a Edinburgh onde casou com Bothwell segundo ritos protestantes. A decisão de Mary de casar com James Hepburn, causou imenso prejuízo à sua reputação, provocando a rebelião da nobreza escocesa. Foi feita prisioneira e obrigada a abdicar em favor de seu filho James VI. Escapou em maio de 1568 e levantou um exército que foi decisivamente batido por forças sob o comando do conde de Moray. Sem desistir, Mary logrou deixar o país, adentrando solo inglês para pedir a Elizabeth apoio na recuperação do seu trono.
Entretanto, Elizabeth tinha outras ideias. Como sabemos, ela própria havia sido declarada herdeira ilegítima num ato não repelido formalmente, sabendo que muitos católicos consideravam Mary a legítima herdeira do trono inglês. Sua presença na Inglaterra poderia despertar um levante católico e Elizabeth recusou ajuda-la até que tivesse provado sua inocência no assassinato de Lord Darnley, sendo conduzida para o castelo Carlisle, como prisioneira.
A investigação não comprovou culpa, mas Mary ficou detida na Inglaterra, onde tornar-se-ia o foco de muitas intrigas para destronar Elizabeth. Católicos do norte se levantaram com o objetivo de substituir Elizabeth por Mary Stuart, mas quando esmagados, seus líderes foram executados ou fugiram para o exílio. O episódio encorajou Elizabeth a abandonar a tolerância religiosa permitindo que a igreja da Inglaterra se tornasse mais expressivamente protestante.
No último dia de 1580, o prévio regente anglófilo da Escócia, James Douglas, Duque de Morton, foi preso e acusado de cumplicidade no assassinato do marido de Mary Stuart, em 1567. Elizabeth obteve de James VI a promessa de que sua vida seria poupada; contudo ele foi executado em 2 de junho de 1581, o que a desgostou profundamente.
Em 1586 Mary Stuart foi implicada no complô de Babington para assassinar Elizabeth I e culpada de traição. Seus conselheiros, sabedores de que Elizabeth estaria sempre em perigo enquanto Mary estivesse viva, executaram-na após Elizabeth ter finalmente consentido em assinar a pena de morte.
Findo o parênteses sobre Mary Stuart, retornamos à “rainha virgem”, como foi conhecida Elisabeth I, posto que nunca casou, para vê-la morrer em 1603, sem marido e sem herdeiro, mas com o país unido como nunca foi possível tê-lo no século anterior, por uma religião comum e por um inimigo comum, a França. Patriotismo e Protestantismo foram duas metades de uma mesma moeda, uma moeda que barrava o título de Henry VIII, “Defensor da Fé”, e continua barrando. Ironicamente, a coroa inglesa passou ao rei protestante James VI da Escócia, filho de Mary Stuart, que tornou-se James I, o primeiro rei Stuart da Inglaterra. A ascensão de James fez com que os reinos separados da Inglaterra, Escócia e Irlanda fossem, pela primeira vez, unidos sob um só monarca.
William Shakespeare
Propositalmente fora da cronologia, para não misturar as profissões, antes de fechar o reinado de Elizabeth I, queremos fazer referência a um escritor que viveu em sua época, provavelmente o escritor mais importante da Inglaterra e um dos mais conhecidos em todo mundo. William Shakespeare nasceu em Stratford Upon Avon, em 1564, apenas seis anos ou menos após a ascensão de Elizabeth ao trono, provavelmente algo em torno de 23 de abril (pois seu batizado foi realizado em 26 de abril), de Mary Arden and John Shakespeare. Sua biografia tem sido uma enorme fonte de controvérsia, pois embora um dos maiores escritores do mundo, o que se conhece dos 28 primeiros anos de sua vida poderia ser escrito nas costas de um selo de correio, embora ele tenha vivido até os 52 anos de idade. Na verdade, apenas os últimos anos de sua vida são suficientemente bem documentados, para alguém da sua classe social e profissão, para comprovar a sua existência.
Apenas após 1592, sua vida em Londres, onde ele morava desde 1589, tornou-se mais clara. Shakespeare foi o dramaturgo da história da Inglaterra, sua estreia acontecendo com uma trilogia sobre as “Guerras das Rosas” e pelo fim de 1592 já havia escrito “Richard III”. Entre 1594 e 1595, ele escrevia suas primeiras obras-primas, “Sonho de uma Noite de Verão” e “Romeu e Julieta”. Várias outras obras importantes se seguiram, como “Henry IV”, “The Twelfth Night”, “King Lear”, “Macbeth”, “Hamlet”, “The Tempest” e muitas outras, entre comédias, tragédias e peças históricas, além de vários poemas.
O registro do enterro atesta a sua morte em 23 de abril de 1616, data do seu nascimento, em sua cidade natal, onde ele se tornara um pilar da comunidade local, tendo sido enterrado na igreja da Holy Trinity (Santa Trindade). O mundo que ele representou com tanta emoção – a velha Inglaterra com seus reis bons e maus, velhos frades e santas mulheres – foi o mundo de sua própria vida, em que ele juntou os conflitos do seu tempo, a revolução cultural da era Elizabethana e pós- Elizabethana. Verdadeira permanece a frase do seu amigo Bem Jonson: “Shakespeare não foi de uma era, mas de todos os tempos”.

Continua na PARTE 9

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