Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 (Parte 9)



IX - OS ANOS DE FERRO DA ERA STALIN (Continuação)

Localização dos campos Gulag da União Soviética

O TENEBROSO GULAG SOVIÉTICO

Gulag, acrônimo da expressão russa Glavnoye Upravleniye Lagerei, que significa "Administração Central dos Campos", e a palavra que, por fim, passou a descrever todo o sistema soviético de punição e trabalhos forçados, era um sistema de campos de trabalhos forçados para criminosos, presos políticos, prisioneiros de guerra e qualquer cidadão (homens, mulheres e crianças), em geral, que se opusesse ao regime da União Soviética (todavia, a grande maioria era de presos políticos: no campo Gulag de Kengir, em junho de 1954, existiam 650 presos comuns e 5200 presos políticos). Antes da Revolução, o Gulag chamava-se Katorga e, praticamente, possuía as mesmas finalidades. Entretanto, os bolcheviques continuaram a tradição autocrática-imperial russa em uma escala dezenas de vezes maior e em condições muito piores, onde até o canibalismo foi praticado. Na União Soviética, este sistema funcionou de 1930 até 1960. Nesses campos foram aprisionadas e mortas milhões de pessoas, muitas delas vítimas das perseguições de Stalin, as consideradas "pessoas infames", para a chamada "Pátria Mãe" (a URSS), e que deveriam passar por "trabalhos forçados educacionais" para merecerem viver nela. O Gulag tornou-se um símbolo da repressão da ditadura de Stalin. Na verdade, as condições de trabalho nos campos eram bastante penosas e incluíam fome, frio, trabalho intensivo com características próprias da escravatura (por exemplo, horário de trabalho excessivo) e guardiões desumanos. Floresceram durante o regime stalinista da URSS, estendendo-se a regiões como a Sibéria e a Ucrânia, por exemplo, e destinavam-se, na verdade, a silenciar e torturar opositores ao regime, incluindo os anarquistas, trotskistas e outros.
Embora algumas vezes comparado aos campos de concentração nazistas, os motivos que presidiram à construção de ambos são bastante diferentes: para o Gulag, as motivações eram tanto a punição por crimes comuns, como para ideologias contrárias ao comunismo, delitos de opinião, ou simplesmente a necessidade de se ver livre de alguém que poderia significar concorrência ao poder; para os campos de concentração nazistas iam prisioneiros de guerra e judeus, basicamente.
O número de presos no Gulag cresceu gradualmente a partir de 1930, com 179.000, para 1934, com 510.307; em 1938 essa taxa cresceu muito mais rapidamente, por conta dos expurgos, para 1.881.570; durante a Segunda Guerra Mundial o número de presos decresceu por conta do recrutamento de presos para o Exército Vermelho (eram 1.179.819 presos em 1944). Em 1945 voltou a crescer, até 1950, atingindo um valor máximo (cerca de 2.500.000), que se manteve praticamente constante até 1953, ano da morte de Stalin. A tabela abaixo apresenta os números de presos no Gulag soviético, durante o período que vai de 1930 a 1953, segundo dados apresentados no livro “Gulag”, de Anne Applebaum, página 602, copiados de documentos da NKVD.
Os fluxos de entrada e saída dos campos de trabalhos forçados eram substanciais e o número total de detentos foi contabilizado em cerca de 18 milhões durante o período entre 1929 e 1953. Como parte do mais amplo termo "trabalhos forçados", mais 4 milhões de prisioneiros de guerra devem ser adicionados a esse número e, pelo menos, 6 milhões de "especiais", isto é, camponeses deportados durante a coletivização, chegando-se a um total de 28.000.000 de prisioneiros que terão passado pelo Gulag soviético.
O número de mortos nesses campos de concentração soviéticos, ainda está sob investigação, mas um valor provisório indica 2.749.163 baixas. Este número não leva em conta as execuções relacionadas com o sistema judicial (as execuções, apenas por razões políticas, chegam a 786.098). Segundo dados soviéticos, morreram no Gulag 1.053.829 pessoas entre 1934 e 1953, excluindo mortos em colônias de trabalho (outro tipo de prisão, segundo as informações soviéticas.

Número de prisioneiros pelos documentos da NKVD

1930
179.000
1936
1.296.494
1942
1.777.043
1948
2.199.535
1931
212.000
1937
1.196.369
1943
1.484.182
1949
2.356.685
1932
268.700
1938
1.881.570
1944
1.179.819
1950
2.561.351
1933
334.300
1939
1.672.438
1945
1.460.677
1951
2.525.146
1934
510.307
1940
1.659.992
1946
1.703.095
1952
2.504.514
1935
965.742
1941
1.929.729
1947
1.721.543
1953
2.468.524


Os campos recebiam também prisioneiros de outras nacionalidades, incluindo cidadãos americanos. Em 1931, a Amtorg Trading Corporation (primeira representação comercial soviética nos Estados Unidos) recrutou milhares de trabalhadores americanos, que sofriam as consequências da Grande Depressão, atraindo-os com promessas de boas condições de trabalho. Estes trabalhadores, que contribuíram para o desenvolvimento da indústria da URSS, eram dispensados quando não mais necessários e poucos conseguiram retornar aos EUA. Muitos, foram enviados ao Gulag, permanecendo detidos ali por anos. O telefilme de 1982 “Coming Out of the Ice(em português “Atrás da Cortina de Gelo”), baseado no livro homônimo, dramatiza a vida de Victor Herman, paraquedista estadunidense, que passou 18 anos detido na Sibéria por recusar-se a adotar a nacionalidade soviética, após bater o recorde de salto em queda livre.
De acordo com Werh Nicolas, historiador francês do “Centre National de la Recherche Scientifique”, em Paris, no livro "História da Rússia no século XX", páginas 318-9, "As estimativas do número de presos no Gulag, ao final dos anos trinta, variam entre 3.000.000 (Timasheff, Bergson, Wheatcroft) e de 9 a 10.000.000 (Dallin, Conquest, Avtorkhanov, Rosefielde, Solzhenitsyn). Os arquivos do Gulag, confirmados pelos dados dos censos de 1937 e 1939, em documentos dos Ministérios da Justiça, do Interior e da Procuradoria Geral, dão um valor de cerca de 2.000.000 prisioneiros em 1940 (cerca de 300.000 em 1932, e de 1.200.000, no início de 1937). O número acumulado de entradas no Gulag durante os anos 30, tendo em conta a alta rotatividade dos detentos, é cerca de 6.000.000 de pessoas." No mesmo livro, à página 416, lemos: "Como evidenciado pelos arquivos do Gulag, recentemente exumados, nos anos 1945-53 houve um forte aumento no número de prisioneiros nos campos de trabalho Gulag (passando de 1.200. 000 para 2.500.000 entre 1944 e 1953), e o número de deportados ‘especiais’ passou de 1.700.000 em 1943, para 2.700.000 em 1953”.
As localizações dos campos no Gulag eram um segredo (calcula-se o seu número em 476 à época da 2ª Guerra Mundial), mas o medo que despertavam era bem conhecido por russos, lituanos, poloneses, armênios e outros tantos que viveram sob a influência da antiga União Soviética. Os campos de concentração espalhavam-se por todo o país, da gélida Sibéria às inóspitas regiões da Ásia Central, passando pelas florestas dos Urais e os subúrbios de Moscou. Eles surgiram antes mesmo de suas infames contrapartidas nazistas, como Auschwitz, Sobibor e Treblinka, e continuaram a crescer muito tempo depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Hoje, a história do Gulag, esse sistema de repressão e punição que aterrorizou milhões, é muito bem conhecida do mundo ocidental, principalmente através de duas obras. A primeira delas, “Arquipélago Gulag”, é um clássico referencial sobre o assunto e foi escrita pelo dissidente, Alexandr Solzhenitsyn, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1973. Este livro, escrito entre 1958 e 1967, é uma narrativa de fatos que foram presenciados pelo autor, prisioneiro durante onze anos, em Kolima, um dos campos do arquipélago, e por duzentas e trinta e sete pessoas, que confiaram as suas cartas e relatos ao autor. Embora publicada em 1973 no ocidente, a obra circulou clandestinamente na União Soviética, numa versão minúscula, escondida, até à sua publicação oficial no ano de 1989. A segunda fonte, escrita após o colapso da União Soviética, “Gulag: Uma História dos Campos de Prisioneiros Soviéticos”, é de autoria de Anne Applebaum e recebeu o Prêmio Pulitzer de 2004. O livro apresenta um retrato completo e acurado de um dos maiores crimes cometidos contra a humanidade. Longe de se limitar à frieza dos documentos oficiais, finalmente acessíveis, Applebaum enriquece a história com entrevistas e relatos de sobreviventes, que se sobressaem, não só pela força da prosa, mas também pela capacidade de sondar abaixo da superfície do horror cotidiano. Segundo a autora, e de modo ainda mais amplo, Gulag veio a significar todo o sistema repressivo soviético, o conjunto de procedimentos que os presos outrora denominaram "o moedor de carne": as prisões, os interrogatórios, o traslado em vagões de gado sem aquecimento, o trabalho forçado, a destruição de famílias, os anos de degredo, as mortes prematuras e desnecessárias.

Evolução do número de presos no Gulag (1930-1953)
Rapidamente, a indústria soviética atinge grandes proporções de riqueza em pouco tempo, tornando-se uma grande potência mundial. Paradoxalmente e com a lei das coletivizações em marcha, o povo vivia na pobreza extrema. Além do mais, as medidas políticas de Stalin provocaram grandes ondas de fome que assolaram as repúblicas, principalmente na Ucrânia, que deu origem ao termo Holodomor (Ver Quadro “O Holodomor”, a seguir).
Até hoje os estudiosos discordam quanto às razões que teriam levado Stalin à execução dos “Anos de Terror” na União Soviética. Uma delas, com grande quantidade de seguidores acredita que com a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha, sua política belicista e anti-comunista tornava mais próxima a ideia de uma invasão da URSS. Não podemos esquecer que, desde 1925, Hitler vagamente declarara em seu manifesto político e autobiografia "Mein Kampf" (“Minha Luta”) que ele invadiria a União Soviética, afirmando que o povo alemão necessitava garantir espaço vital para assegurar a sobrevivência da Alemanha pelos anos futuros. 
Presos na construção do canal Mar Branco-
Báltico, 1931 - 1933

O nazismo via a União Soviética (e todo o leste europeu) como povoado por “sub humanos” não arianos, governados por conspiradores bolcheviques judeus (para igualar os comunistas aos judeus). “Minha Luta” dizia que o destino da Alemanha era avançar para o leste como havia sido feito seiscentos anos antes. Como decorrência, a política nazista estabelecia matar, deportar ou escravizar a maioria dos russos e outras populações eslavas, repovoando a terra com povos germânicos. E Stalin sabia disso. No Oriente, o expansionismo japonês (conquista da Manchúria e guerra contra a China) ameaçava o forte siberiano. Criou-se assim um clima favorável para o “alarme da Pátria socialista em perigo” e a arregimentação de todas as forças em torno da ditadura stalinista. Esta pressão externa condicionou Stalin a visualizar seus inimigos políticos (dentro do Partido) como, objetivamente, inimigos da revolução e aliados da reação fascista.



O HOLODOMOR

Holodomor é uma palavra ucraniana que significa “extermínio pela fome”. Foi o nome dado à fome causada por Stalin na República Soviética Socialista da Ucrânia, entre 1931 e 1933, que matou um número estimado entre 5,0 e 7,5 milhões de ucranianos. Porém, levando-se em conta os efeitos prolongados dessa política econômica perversa e os ucranianos que foram levados ao trabalho forçado e lá morreram, esse número pode ser superior a 14 milhões.
A Ucrânia foi o país da URSS que mais resistiu às medidas do plano de coletivização imposto por Stalin. A autonomia cultural ucraniana e sua forte identidade nacional tornavam-na intolerável aos soviéticos russos. A insurreição dos camponeses ucranianos contra as medidas de coletivização forçada e a requisição compulsória de cereais obrigou Stalin a impingir medidas ainda mais drásticas do que as executadas em outras regiões.
Stalin traçou uma campanha antiucraniana para demonstrar quão “nociva” era a postura desse país com relação aos anseios comunistas. Inicialmente, deu-se início a uma sistemática humilhação de intelectuais ucranianos, que foram submetidos a julgamentos vexaminosos e ridiculizações diversas. Houve também uma debelação de possíveis focos de organização antissoviética que pudessem irromper a longo prazo. Depois dessas medidas, Stalin passou a atacar o próprio campesinato.
A partir de 1929, deu-se início a uma ferrenha estipulação de metas de produção de cereais, destinados ao poder central soviético, que passaram a ser exigidas dos camponeses da Ucrânia. A rigidez era tão grande que esses camponeses só conseguiriam atender à demanda se deixassem de consumir sua parte do que era produzido, isto é, só se passassem fome, de fato. Tudo passou a ser de propriedade do governo. Muitas pessoas foram presas e condenadas a trabalhos forçados simplesmente por comerem batatas ou colherem espigas de milho para consumo. Progressivamente, a morte foi se acentuando na Ucrânia. Entre 1931 e 1933, o número de mortos era tão grande que os cadáveres se espalhavam pelas ruas e pelos campos. O odor dos corpos apodrecidos dominava regiões inteiras. O historiador Thomas Woods reitera esse fato:
Em 1933, Stalin estipulou uma nova meta de produção e coleta, a ser executada por uma Ucrânia agora à beira da mortandade em massa por causa da fome, que havia começado em março daquele ano. Vou poupar o leitor das descrições mais trágicas do que aconteceu a partir daqui. Mas os cadáveres estavam por todos os lados, e o forte odor da morte pairava pesadamente sobre o ar. Casos de insanidade e até mesmo de canibalismo, estão bem documentados.” (Woods, Thomas. “A Fome na Ucrânia – um dos Maiores Crimes do Estado Foi Esquecido”. Instituto Ludwig Von Mises Brasil.)
Desde 2006, o Holodomor tem sido reconhecido pela Ucrânia independente e muitos outros países como um genocídio do povo ucraniano perpetrado pela União Soviética. É impossível determinar o número exato de vítimas, mas ele aumenta significativamente quando as mortes no densamente povoado Kuban ucraniano são incluídas. Os estudiosos discordam sobre a importância relativa de fatores naturais e más políticas econômicas como causas da escassez absoluta de alimentos mas acreditam que foi um plano a longo prazo de Stalin, uma tentativa de eliminar o movimento de independência ucraniana.
Usar o Holodomor como referência à fome, enfatiza os seus aspectos de “feito pelo homem”, sustentando que ações como a proibição de ajuda externa, o confisco dos mantimentos das residências e a restrição ao movimento da população, conferem intenção, definindo a fome como genocídio e comparando o número de perdas de vidas às do Holocausto. Se as políticas e ações soviéticas estivessem conclusivamente documentadas como pretendendo erradicar a ascensão do nacionalismo ucraniano, elas teriam caído sob a definição legal de genocídio.

Fome na Ucrânia, em 1933
Dado o despreparo do país para enfrentar um ataque conjunto alemão-japonês, era inevitável que a oposição terminasse por questionar sua autoridade sobre o país. Ele passou a agir de forma "preventiva" antes que a oposição ganhasse vulto, explorando a insatisfação contra o Regime. As abjetas confissões a que os velhos revolucionários foram submetidos, tinham por objetivo degradá-los perante a opinião pública - ao mesmo tempo que consagravam Stalin como o único e exclusivo seguidor do Leninismo e da pureza revolucionária. A industrialização acelerada, feita sem nenhum amparo em referências anteriores, fez com que os inevitáveis acidentes e dificuldades fossem apontados como sabotagem contrarrevolucionária. Desta forma eximia-se a facção dirigente das inevitáveis calamidades que uma industrialização galopante traz em seu bojo. O terror passou a exercer uma função pedagógica. As falhas e a incompetência eram punidas com a prisão ou fuzilamento, fazendo com que as eficiências de formação fossem superadas pela dedicação integral ao trabalho. Os processos e fuzilamentos atuavam também como uma espécie de "compensação" psicológica para a massa da população. Apesar dos sofrimentos a que estavam submetidos, pelas condições do trabalho, pela escassez de víveres e de habitação, "consolavam-se" ao ver os privilegiados do regime stalinista pagar com a vida sua indisposição com a facção dirigente. Mas não foram apenas os quadros políticos e técnicos os atingidos pelas grandes purgas. Nem o Exército nem a polícia secreta ficaram imunes: 65% dos oficiais graduados foram executados ou presos e mais de três mil “chekists”[1] foram fuzilados. De certa forma isto foi interpretado como demonstração de fraqueza do Estado Soviético, pois ao eliminarem os quadros da nova intelligentsia militar (pincipalmente o grande estrategista, Marechal Tukaschevski) favoreceram os preparativos belicistas de Hitler. Os resultados internos, no entanto, consagraram o domínio absoluto de Stalin. Uma nova equipe dirigente foi colocada a sua disposição. Duros, eficientes e cruéis, propiciaram uma centralização efetiva do poder. Deve-se observar que o stalinista típico, tinha formação cultural bem inferior à dos membros da Velha Guarda partidária. Poucos conheciam o exterior, ficando suas raízes em solo russo. Ao contrário da elite intelectual dos primeiros tempos, fornida pela alta especulação teórica, os homens de Stalin dominavam o jargão convencional do marxismo. Sua própria situação social era distinta. Excetuando talvez Molotov e Malenkov, seus próximos emergiram da baixa classe média e do operariado, como Kalinin e Kruschev. Foi durante seu período de pleno poder que a Ciência, as Artes e a Literatura tornaram-se adstritas à política. Nenhum ramo do conhecimento atuava à margem dos interesses partidários imediatos, tornando-se instrumento da propaganda oficialista, sob a batuta do Ministro da Cultura Zhadanov. Artistas e historiadores viviam sob a vigilância permanente e seus textos, muitas vezes, eram censurados pelo próprio Stalin (de acordo com a tradição czarista, pois Nicolau I fazia o mesmo com as rimas do grande poeta Puschkin). Mesmo assim, os alcances da instrução massiça atingiram as multidões. 
Documento de Beria sobre assinado por
Stalin para matar 15 mil oficiais polacos
e 10 mil intelectuais na Floresta Katyn.
O terceiro plano quinquenal desenvolveu-se apenas por três anos, de 1938 a 1941, quando a Alemanha invadiu a União Soviética, durante e Segunda Guerra Mundial. À medida que a guerra se aproximava, mais recursos eram lançados no desenvolvimento de armamentos de todas as espécies, bem como na construção de novas fábricas militares a leste dos Montes Urais. Os primeiros dois anos deste terceiro plano foram mais um desapontamento em termos da proclamada produção de objetivos. Contudo, ainda uma taxa relatada de crescimento de 12% a 13% foi atingida na união soviética durante a década de 1930.
Em 23 de agosto de 1939 Stalin firma um pacto de não agressão com a Alemanha hitlerista, conhecido como Pacto Molotov - Ribbentrop, imediatamente antes da invasão alemã na Polônia que disparou o gatilho da 2ª Guerra Mundial na Europa. UM protocolo secreto ao Pacto, resumia um acordo entre Alemanha e União Soviética sobre a divisão dos estados nas fronteiras do leste europeu, entre suas respectivas “esferas de influência”: a União Soviética e a Alemanha repartiriam a Polônia no caso de uma invasão pela Alemanha e a Rússia poderia ocupar os Estados Bálticos e a Finlândia. Como conclusão do pacto, no mês seguinte a União Soviética de Stalin invadiu a Polônia, promovendo a anexação da parte leste do país e deixando o mundo atônito tendo em vista a mútua hostilidade prévia das duas partes e suas ideologias conflitantes. Em março e setembro de 1940, aproveitando o fato de “não estar participando da Segunda Guerra Mundial”, Stalin respectivamente ocupa partes da Finlândia e da Romênia.
Massacre na Floresta Katyn em 1940
Como resultado do pacto, Alemanha e União Soviética mantiveram ralações diplomáticas razoavelmente fortes por dois anos, promovendo importante relação econômica. Em 1940 os dois países assinaram um pacto de comércio pelo qual os soviéticos recebiam equipamento militar e bens de consumo alemão, fornecendo aos alemães matéria prima como óleo e trigo como ajuda para frustrar o bloqueio inglês à Alemanha. A despeito das aparentes relações cordiais ostensivas, cada lado suspeitava fortemente das intenções do outro. Após a formação do Eixo, com Japão e Itália, a Alemanha iniciou negociações para uma potencial entrada da União Soviética no Eixo e após dois dias de negociações em Berlim, de 12 a 14 de novembro de 1940, a Alemanha apresentou uma proposta escrita para a entrada da União Soviética no Eixo. Em 25 de novembro de 1940, a União Soviética ofereceu uma contraproposta por escrito, para unir-se ao eixo, sob a condição de que a Alemanha suspendesse sua interferência sobre a esfera de influência da União Soviética, não respondida pela Alemanha. Como os dois lados começaram a colidir na Europa Oriental, o conflito surgiu como mais provável, embora ainda assinassem um acordo comercial e de fronteiras sobre várias questões, em janeiro de 1941.
Desfile conjunto alemão-soviético em 23/09/1939,
ao final da campanha da Polônia.
Imediatamente antes, durante e logo após a 2ª Guerra mundial, Stalin conduziu uma série de deportações, em tão grande escala a ponto de profundamente afetar o mapa étnico da União Soviética, provavelmente por não confiar em etnias particulares, como os coreanos soviéticos, os alemães do Volga, chechenos e poloneses. Estima-se que entre 1941 e 1949, aproximadamente 3,3 milhões foram deportados para a Sibéria e as repúblicas da Ásia Central. Por algumas estimativas, até 43% da população reassentada morreu de doenças e desnutrição. As razões oficiais mencionadas para as deportações foram o separatismo, a resistência ao mando soviético e a colaboração com os alemães invasores. As circunstâncias individuais dos que passaram algum tempo em territórios ocupados pelos alemães não foram examinadas. Após a breve ocupação nazista do Cáucaso, toda a população de cinco dos pequenos povos das montanhas e os tártaros da Crimeia – no total, mais de um milhão de pessoas – foram deportados sem aviso prévio ou qualquer oportunidade de apanhar suas posses.
Finalmente, em 22 de junho de 1941, a Alemanha declara guerra à URSS, através da “Operação Barba Ruiva”, sem uma declaração oficial de guerra, embora os preparativos bélicos e todos os planos de ataque e de defesa dos dois lados, ao longo de toda a fronteira. Cerca de 03:15 hs de 22 de junho de 1941, as forças do Eixo iniciaram a invasão da União Soviética pelo bombardeio das principais cidades da Polônia ocupadas pelos soviéticos e por uma barragem de artilharia sobre as defesas do Exército Vermelho em toda a frente. Em torno do meio dia a invasão foi transmitida à população pelo Ministro das Relações Exteriores Vyacheslav Molotov: “ .... Sem uma declaração de Guerra, as forças germânicas caíram sobre nosso país, atacaram nossas fronteiras em vários pontos ... O Exército Vermelho e toda a nação travarão uma vitoriosa Guerra Patriótica por nosso amado país, pela honra, pela liberdade ...”. Ao conclamar a devoção da população à Nação e não ao Partido, Molotov tocou uma corda patriótica que ajudou um povo atordoado a absorver notícias perturbadoras. Stalin só se dirigiu à nação, sobre a invasão, no dia 3 de julho e, como Molotov, clamou por uma “Guerra Patriótica” de todo o povo soviético.
Não resta dúvida de que houve êxito na reconstrução do país e na elevação do nível econômico e cultural da população soviética, tornando a URSS, juntamente com os Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), uma das superpotências mundiais, embora a União Soviética tenha tido perdas humanas e materiais que nunca poderão ser comparadas com qualquer dos países que participou da guerra. Com a vitória dos aliados sobre o eixo nazi-fascista (Alemanha, Japão e Itália), a União Soviética, principal oponente da Alemanha na Europa, passou a dispor de enorme prestígio internacional, embora as suas imensas perdas.

[1] Cheka foi a primeira de uma sucessão de organizações de segurança do estado soviético, criada em 20/12/1917, por um decreto de Lenin. Até o final de 1918, centenas de Chekas haviam sido criadas em várias cidades, em múltiplos níveis. Milhares de dissidentes, desertores e outras pessoas foram presas, torturadas e executadas por vários grupos Cheka. Após 1922, grupos Cheka passaram por uma série de reorganizações, com a NKVD, em corpos cujos membros continuaram a ser chamados “Chekistas”, até a década de 1980.

Prossegue na próxima postagem com a PARTE 10

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 (Parte 8)

IX - OS ANOS DE FERRO DA ERA STALIN

União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 1922
A morte de Lenin cedeu lugar a uma violenta luta interna pelo poder, principalmente entre Trotsky e Stalin. Para Trotsky, o sucesso do socialismo na URSS dependia da vitória de revoluções operárias nos países vizinhos. Defendia, portanto, a revolução mundial permanente. O grupo que se lhe opunha, ao contrário, defendia a construção do socialismo apenas na URSS, deixando de lado a tese da revolução mundial até conseguir a industrialização do país, com a União Soviética em pé de igualdade com as nações capitalistas.
Lenin acabou sendo sucedido por um triunvirato (Troika) com plenos poderes sobre o Estado e a Organização Partidária. Dos triúnviros, (Kamenev, Zinoviev e Stalin) foi Stalin que de fato passou a usufruir de maior poder e autoridade, com o cargo de Secretário Geral, responsável pela administração do Partido e pela admissão ou exclusão de seus militantes. A combinação deste cargo com os outros seis que ocupava (ver Quadro anterior de Stalin), permitiu a Stalin monitorar as nomeações do Partido nas zonas rurais de toda a União Soviética e assim construir um exército de fiéis seguidores. Isso significava que logo ele poderia controlar a eleição dos deputados do Soviete Supremo, o principal corpo legislativo, e o Congresso do Partido, de forma a poder manipulá-los. 
Mortos pela fome de 1922 jogados no cemitério de Buzuluk.

Stalin também foi mais estimulado ao saber que nos últimos dois anos de vida de Lenin, e logo após sua morte, Trotsky era visto como seu sucessor óbvio e temido por outros líderes. Contudo, no seu último ano de vida, Lenin começou a duvidar de ambos. Em seu “Testamento” (Ver Quadro “A Carta Testamento de Lenin” a seguir), Lenin escreveu que Stalin deveria ser removido do posto de Secretário Geral. Provocado pela rudeza de Stalin para com sua esposa Nadezhda Krupskaia (1869-1939) – a quem Stalin reprendera severamente por não seguir as ordens dos médicos de manter assuntos do Partido afastados de Lenin, após seu derrame -, ele chamou Stalin de “grosseiro e cruel”. Ao mesmo tempo, ele criticou Trotsky por ser muito arrogante. Finalmente, ele alertou para o perigo da rivalidade entre os dois, que poderia cindir o Partido. Quando o “Testamento” foi finalmente liberado por Nadezhda aos principais líderes do Partido e lido por eles em um encontro durante o 13º Congresso do Partido, Stalin apresentou a sua renúncia, mas seus colegas decidiram não publicá-lo, como Lenin havia pedido, e o ignoraram. Isso foi feito porque acreditavam que tal crítica pública de Stalin garantiria a eleição de Trotsky como Secretário Geral e temeram que o “pai” do Exército Vermelho e antigo menchevique se tornasse um ditador militar e se livrasse deles. Outro fato que depôs muito contra Trotsky foi o fato dele se encontrar ausente quando da morte e funerais de Lenin, propositalmente apressados e conduzidos por Stalin. Numa época em que a reconstrução do país ganhava cada vez mais importância, os administradores foram ocupando o lugar dos teóricos e dos agitadores e Stalin terminou sendo o veículo da nova situação. Graças a seus poucos recursos teóricos, não tinha nenhum grande compromisso em manter fidelidades ideológicas; ao contrário, servia-se delas para executar o seu projeto político-econômico. A tese do "socialismo num só país", esboçado inicialmente por Bukharin[1] e, posteriormente, por Stalin, saiu vitoriosa e aclamada em 1924, durante o XIV Congresso do Partido Comunista e Trotsky foi automaticamente jogado na oposição pelo triunvirato. Ainda em 1924, após a morte de Lenin, Bukharin tornou-se membro permanente do Politburo, opondo-se à política de rápida industrialização e coletivização na agricultura, posição então abraçada por Stalin. Em 1925, Stalin aproximou-se do grupo de Bukharin, Rykov e Tomsky (bloco “direitista”) que apoiava a NEP de Lenin, enquanto Kamenev e Zinoviev, “esquerdistas”, desejavam o país mais fortemente em direção ao controle estatal da economia. Ambos perceberam que Stalin os traía, buscando aliança com a facção de Bukharin ao mesmo tempo em que reunia um forte grupo em torno de si mesmo. Direitistas e esquerdistas digladiavam-se no Congresso do Partido e os direitistas pareciam levar a melhor a despeito dos ataques a Stalin e sua política de “socialismo em um só país”. Em julho de 1926, Kamenev e Zinoviev foram em busca de Trotsky para obter apoio e fundaram a “Oposição Unida”. Entretanto, em outubro do mesmo ano, no Congresso do partido, ambos haviam sido removidos do Politburo. Stalin então apressou o Partido a apoiar seus pontos de vista para não serem acusados de anti-leninistas. Trotsky era a expressão do ímpeto revolucionário da época heroica, que lentamente estava sendo arquivada pela nova elite dirigente. Sua formação cosmopolita e internacionalista, o indispunha com o "socialismo num só país", que se identificava com os ditames do aparelho administrativo-burocrático e com o nacionalismo. Trotsky resistiu e, em 1927, foi destituído de suas funções como comissário de guerra, expulso do Partido e exilado para Alma-Ata, na remota Ásia Central Soviética, em 1928, e deportado da Rússia em 1929. Stalin tinha o controle. Tempos depois, em 1940, Trotsky seria assassinado no México, a mando de Stalin, por um agente de segurança soviético, a golpes de picareta na cabeça.


A CARTA TESTAMENTO DE LENIN

O “Testamento de Lenin” é o nome dado a um documento escrito por Vladimir Lenin nas últimas semanas de 1922 e primeira semana de 1923. No testamento, Lenin propôs alterações à estrutura dos corpos de governo soviéticos. Sentindo sua morte iminente, ele também comentou sobre os membros dirigentes da União Soviética, de forma a garantir o seu futuro. Sugeriu que Stalin fosse removido de sua posição de Scretário Geral do Comitê Central do Partido Comunista Russo.
Lenin queria que o testamento fosse lido no XII Congresso do Partido do Partido Comunista Russo, a ser realizado em abril de 1923. Contudo, após o terceiro derrame, em março de 1923, que o deixou paralisado e impossibilitado de falar, o testamento foi mantido secreto por sua esposa, na esperança de sua eventual recuperação. Somente após a morte de Lenin, em janeiro de 1924, ela entregou o documento ao Secretariado do Comitê Central do Partido, pedindo que ele fosse disponibilizado aos delegados do XIII Congresso do Partido, em maio de 1924.
Seu testamento apresentava o triunvirato (ou Troika) que governaria, Stalin, Grigory Zinoviev e Lev Kamenev, com um desconfortável dilema. Por um lado, eles teriam preferido suprimir o testamento já que ele era crítico aos três, bem como ao aliado deles, Nikolai Buckarin e seus oponentes Leon Trotsky e GeorgyPyatakov. Embora os comentários de Lenin fossem prejudiciais a todos os líderes comunistas, Joseph Stalin seria o mais prejudicado uma vez que a única sugestão prática do testamento era removê-lo do cargo de Secretário Geral do Comitê Central do Partido. De outro lado, a liderança não ousava ir diretamente contra os desejos de Lenin imediatamente após a sua morte, especialmente com sua viúva desejando que todos fossem afastados. A liderança encontrava-se também no meio de uma luta entre facções pelo controle do Partido, com a facção governante consistindo de grupos aliados tão frouxamente que logo brigariam, o que tornaria difícil um disfarce.
O compromisso final proposto pelo triunvirato no Conselho dos Anciãos do XII Congresso, após Kamenev ler o texto do documento, foi que o Testamento de Lenin fosse disponibilizado aos delegados sob as seguintes condições (essas condições foram tornadas públicas em 1934 por um panfleto de Trotsky e confirmadas por documentos liberados durante e após a “glasnost” de Gorbachev):
1 – O Testamento seria lido por representantes da liderança do Partido para cada delegado regional, separadamente.
2 – Anotações não seriam permitidas
3 – O Testamento não seria comentado durante o encontro plenário do Congresso.

A proposta foi adotada pela maioria, com objeções de Krupskaya. Como resultado, o testamento não teve o efeito desejado por Lenin e Stalin manteve sua posição como Secretário Geral. O fracasso da divulgação do documento no Partido ficou como um ponto de contenção durante a luta entre a oposição de esquerda e a facção Stalin-Bukharin entre 1924 e 1927. Sob pressão da oposição, Stalin teve que ler o testamento novamente durante o encontro do Comitê Central em julho de 1926. Uma versão editada do Testamento foi impressa, em dezembro de 1927, numa edição limitada, disponibilizada aos delegados do 15º Congresso do Partido. A divulgação mais ampla do Testamento foi solapada pelo consenso da liderança do Partido de que ele não poderia ser impresso publicamente pois arruinaria o Partido como um todo.
O texto do Testamento e a sua ocultação logo tornou-se conhecida no Ocidente, especialmente após a controvérsia descrita por Max Eastman em seu livro “Desde que Lenin Morreu” (1925). A liderança soviética denunciou o relato de Eastman e usou a disciplina do Partido para forçar Trotsky, ainda um membro do Politburo, a escrever um artigo negando a versão de Eastman dos eventos. O texto completo do Testamento de Lenin, em língua inglesa, foi publicado como parte de um artigo de Eastman que apareceu no New York Times, em 1926.
A partir do instante em que Stalin consolidou sua posição de líder inquestionado do Partido Comunista e da União Soviética, ao final da década de 1920, todos as referências ao Testamento de Lenin foram consideradas como agitação antissoviética e punida como tal. A Negação da existência do Testamento permaneceu um dos pilares da historiografia soviética até a morte de Stalin em 5 de março de 1953. Após a denúncia de Nikita Khrushchev's sobre Stalin no 20o Congresso do Partido, em 1956, o documento foi, finalmente, oficialmente publicado pelo governo soviético. O documento original encontra-se em um museu dedicado a Lenin.
A carta constitui uma crítica ao governo soviético, tal como estava, avisando de perigos que ele anteviu e fazendo sugestões para o futuro. Algumas daquelas sugestões incluíam o crescimento do Comitê Central do Partido, dando ao Comitê de Planejamento do Estado poderes legislativos e alterando a política das nacionalidades implementada por Stalin.
Sobre a crítica de Stalin e Trotsky:
“O camarada Stalin, tendo assumido como Secretário Geral, tem autoridade ilimitada concentrada em suas mãos e não estou certo de que ele sempre será capaz de usar esta autoridade com cuidado suficiente. O camarada Trotsky, por outro lado, como sua luta contra a Comitê Central sobre a questão do Comissariado das Comunicações do Povo, já provou ser distinto, não apenas por sua habilidade relevante. Talvez ele seja, pessoalmente, o homem mais capaz no atual Comitê Central, mas tem mostrado excessiva autossegurança e mostrado excessiva preocupação com o lado puramente administrativo do trabalho. Essas duas qualidades dos dois mais importantes líderes do atual CC podem, inadvertidamente, conduzir a uma partição e se o nosso Partido não tomar medidas para evitar isso, a divisão virá inesperadamente”
Lenin sentiu que Stalin tinha mais poder que podia manejar e podia ser perigoso se o permitisse sucede-lo. Num post script escrito poucas semanas mais tarde, Lenin recomendou a Remoção de Stalin da sua posição de Secretário Geral do Partido: “Stalin é muito vulgar e este defeito, embora tolerável no nosso meio e tratando conosco, comunistas, torna-se intolerável num Secretário Geral. Essa a razão porque sugiro que os camaradas pensem numa forma de remover Stalin desse posto, indicando outro para a sua vaga, que seja mais tolerante, mais leal, mais polido e mais considerado com os camaradas, menos caprichoso etc”.
Por “poder”, Trotsky ponderou que Lenin quisesse dizer “poder administrativo” antes de “influência política” dentro do Partido e ressaltou que Lenin tinha efetivamente acusado Stalin de falta de lealdade.
O Testamento de Lenin não deve ser confundido com o “Testamento Político de Lenin”, um termo usado no leninismo, para se referir a um conjunto de cartas e artigos ditados por Lenin durante sua doença, que instruem sobre a continuação da construção do Estado Soviético que, tradicionalmente, inclui os seguintes trabalhos:

1) Uma carta para um congresso;
2) Sobre a designação de funções legislativas ao Gosplan;
3) A “Questão das Nacionalidades” ou sobre “A Autonomia”;
4) Páginas do meu Diário;
5) Sobre Cooperação;
6) Sobre nossa revolução;
7) Como reorganizaremos o “Rabkrin” (Inspetorado dos Operarios e Camponeses);
8) Melhor menos, mas melhor.


O conflito pelo poder perdurou de 1923 a 1928, quando finalmente Stalin tornou-se o senhor da chefia do governo e deu início às reformas com que visou, primordialmente, ao fortalecimento da URSS. Durante o período stalinista (1928 - 1953) calcula-se que o terror político soviético foi responsável pela prisão de mais de cinco milhões de cidadãos e pela morte de mais de 23 milhões de pessoas. 
Prisioneiros do Gulag em trabalho forçado no
Canal do Mar Branco, em 1933


Os planos quinquenais de Stalin, para o desenvolvimento da economia nacional da União Soviética, foram uma série de planos econômicos centralizados a nível nacional. Tais planos foram desenvolvidos por um comitê estatal de planejamento, baseados na teoria das forças produtivas, parte das linhas gerais de ação do Partido Comunista para o desenvolvimento econômico. Esses planos continuaram até o 13º Plano que iniciou em 1991 e deveria ir até 1995, mas terminou com a dissolução da União Soviética em 1991.

Em 1928 Stalin lança o primeiro plano quinquenal (1928-1932) com o objetivo de priorizar a industrialização e "edificar o socialismo", passando para o Estado o controle de toda a atividade econômica. O primeiro passo dado, em 1929, foi a coletivização forçada das propriedades privadas cuja “administração” passou a ser completamente “racionalizada” pelo Estado soviético: pequenos, médios ou grandes proprietários de terras são executados ou deportados em massa com suas famílias. A URSS do final dos anos vinte possuía, aproximadamente, 25 milhões de pequenas propriedades, onde viviam mais de cem milhões de camponeses com suas famílias. A contradição da propriedade privada da terra e propriedade socializada foi resolvida num golpe. Criaram-se milhares de fazendas coletiva (kolkozes) e granjas estatais (solfkozes) que deveriam iniciar uma nova etapa da história da exploração agrícola do solo. Esperava-se deste modo, fazer com que a produtividade agrícola aumentasse com a mecanização das lavouras, acumulando-se assim a renda necessária para a sustentação dos grandes projetos de eletrificação e industrialização. A resistência dos camponeses foi muito além das expectativas. Mataram seu gado, inutilizaram suas ferramentas e, em muitas regiões, rebelaram-se abertamente contra o regime. Stalin foi implacável! Mobilizaram-se inclusive forças do Exército para cumprir o projeto de coletivização e milhões de kulaks foram deportados para os campos siberianos condenados a trabalhos forçados. O impiedoso chicote de Stalin abateu-se sobre o campo e destruiu o que restava de resistência.

A partir de dezembro de 1929, Stalin converteu-se no ditador absoluto da União Soviética. O método que utilizou para a total conquista do poder político teve como base a sua habilidade no controle da máquina burocrática do Partido e do Estado, bem como a montagem de um implacável sistema de repressão política de todos os opositores. Desse modo, Stalin conseguiu eliminar do Partido, do Exército e dos principais órgãos do Estado todos os antigos dirigentes revolucionários, muitos dos quais tinham sido grandes companheiros e apoiadores de Lenin ainda antes da revolução, como Zinoviev, Bukharin, Kamenev, Rikov, Muralov, entre outros. Depois de presos e torturados, os opositores de Stalin eram forçados a confessar crimes de espionagem que não haviam praticado. Assim, conhecidos patriotas eram executados como traidores da pátria. Era a farsa jurídica que caracterizou as chamadas depurações.
Nos anos trinta a União Soviética iria se lançar numa das mais formidáveis e traumatizantes aventuras dos tempos contemporâneos, na tentativa de realizar a transição vertiginosa de um país agrário para um país industrializado. Pela primeira vez na História, essa transição não se daria pelas forças cegas da lei do mercado e sim pelo impulso estatal amparada numa pretendida planificação econômica geral. Stalin enterrou definitivamente a NEP e deu início ao lançamento das bases industriais que permitiram posteriormente a URSS sair vitoriosa no conflito com a Alemanha Nazista (1941-45). No entanto sua política teve terríveis consequências no plano físico, moral e intelectual da nação. Acicatado pela necessidade de fazer frente a "ameaça capitalista" que cercava o país, os soviéticos lançaram-se à tarefa num ritmo sem precedentes.
O sucesso do primeiro plano quinquenal foi fazer a União Soviética iniciar sua jornada para leva-la a uma potência mundial através da industrialização, preparando-a para vencer a Segunda Guerra Mundial. Sem o primeiro e os demais planos que o seguiram, a União Soviética não teria sido preparada para a invasão germânica, em 1941, e para derrotar a Alemanha em 1945.
Voroshilov, Molotov, Stalin e
Yezhov, quando chefe de NKVD
Ao ser fuzilado como traidor do povo
em 1940, Yezhov é removido da foto 
 No segundo plano quinquenal (1933-1937), Stalin procura dar maior ênfase ao desenvolvimento da indústria leve. Como aconteceu com os demais planos, o Segundo não teve o mesmo sucesso que o primeiro, falhando em atender os níveis de produção recomendadas nas indústrias do carvão e do óleo. Nesse período, na área urbana os projetos industriais cresciam como cogumelos, o padrão de vida era baixo e as dificuldades de habitação, transporte e alimentação duríssimas. Milhares de camponeses foram jogados dentro das fábricas, onde sua inabilidade, indisciplina e ignorância provocavam um espantoso índice de acidentes de trabalho. Mas o clima do país, pelo menos nessa época, era de entusiasmo.
Stalin, Lakoba, Svetlana (filha de Stalin) e Beria após
após assumir a chefia da NKVD, substituindo Yezhov.
A juventude lançou-se ardorosamente na construção industrial pois esperava-se em breve chegar finalmente à sociedade igualitária. Milhares de administradores, economistas, engenheiros eram formados e engajavam-se na monumental tarefa. No entanto, a população ainda iria passar pôr um teste ainda mais duro - a Era do Terror - quando Stalin decidiu-se pela eliminação de todos àqueles que lhe fizeram e faziam oposição, dentro do partido. O assassinato de Kirov, um dedicado homem de confiança de Stalin, em Leningrado (a antiga Petrogrado rebatizada em homenagem à morte de Lenin), serviu de pretexto para que o ditador iniciasse o “Grande Expurgo”, os terríveis expurgos que espantaram o país e o mundo. Todos aqueles que eram considerados ameaças, eram mortos ou enviados para campos de concentração ou gulag (Ver Quadro “O Tenebroso Gulag Soviético”, próxima postagem) na Sibéria. Milhares foram presos, torturados e mortos. Nem mesmo as forças armadas ficaram imunes e vários de seus principais dirigentes foram fuzilados. Numa série de processos (entre 1936 e 1938) toda a "Velha Guarda" do partido bolchevique foi esmagada. Este terrível período ficou na memória como a Yezhovchina - o “terror de Yezhov”, chefe da Polícia Secreta (NKVD
[2]), que também foi executado, quando Beria assumiu o comando do aparelho repressivo, em 1938. Os principais dirigentes foram executados em três grandes processos: Zinoviev e Kamenev em 1936, Radeck e Pyatakov em 1937, Bukharin e seu grupo em 1938. Os expurgos no Exército atingiram 3 dos 5 marechais, 14 dos 16 comandantes de exército de I e II classe, seus 8 almirantes, etc...; dos 783 altos oficiais e comissários militares, 528 foram presos ou fuzilados.




[1] Nikolai Ivanovich Bukharin (09/10/1888 – 15/03/1938) foi um revolucionário bolchevique russo, político soviético e prolífico autor sobre teoria revolucionária. Quando jovem passou seis anos no exílio, em contato com Lenin e Trotsky, seus companheiros. Após a Revolução de fevereiro de 1917, ele retornou a Moscou onde suas credenciais bolchevistas lhe garantiram uma alta posição no Partido; após a Revolução de outubro, tornou-se editor do Pravda. Seu leve movimento para a direita, como defensor da NEP o colocou como principal aliado de Stalin. Entre 1926 e 1929, Bukharin gozou de grande poder como Secretário Geral do Comitê Executivo do Comintern, mas a decisão de Stalin de avançar com a Coletivização, afastou os dois e Bukharin foi expulso do Politburo. Embora tenha participado da escritura da Constituição Soviética de 1936, quando o Grande Expurgo começou, no mesmo ano, Stalin viu em algumas cartas, conversas e telefonemas de Bukharin indícios de “deslealdade”. Foi expulso do Partido e preso em fevereiro de 1937, por ser “Trotskysta”, falsamente acusado de conspiração para subverter o Estado Bolchevique, condenado por espionagem e atividades contrarrevolucionárias e executado em março de 1938, após um julgamento que alienou muitos simpatizantes comunistas ocidentais.

[2] O “Comissariado do Povo para Assuntos Interno” (NKVD), foi uma agência de execução da lei, da União Soviética, que diretamente executava o papel de poder do Partido Comunista, diretamente associada com a Polícia Secreta Soviética.

Prossegue na próxima postagem com a PARTE 9.