Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

quinta-feira, 28 de abril de 2016

ORIGEM E FORMAÇÃO DA ALEMANHA (PARTE 2)

GUERRAS NAPOLEÔNICAS

Friedrich Wilhelm II, 1797.

Durante o reinado de Friedrich Wilhelm II (1786-1797), a Prússia anexou território polonês através de outras Partições da Polônia[1]. Seu sucessor, Friedrich Wilhelm III (1797-1840), anunciou a união da igreja luterana da Prússia e as igrejas reformadas em uma. Com a ajuda de seus ministros, Barão vom und zum Stein e o Príncipe Karl August von Hardenberg, instituiu uma série de reformas liberais dentro do reino.
De 1801 a 1805, durante as “Guerras Napoleônicas”, a Prússia foi dominada por Napoleão I (Napoleão Bonaparte). A Prússia teve parte importante nas guerras revolucionárias francesas, mas permaneceu em silêncio por mais de uma década, devido à Paz de Basileia, de 1795, só para ir mais uma vez à guerra com a França em 1806, quando falharam as negociações com aquele país sobre a alocação dos domínios de influência no Império Germânico. Por isso, em 1806, Friedrich Wilhelm III reuniu uma coligação contra Napoleão e foi derrotado, perdendo muito do seu território.
Friedrich Wilhelm III, o rei das
Guerras Napoleônicas
 A Prússia sofreu uma derrota devastadora contra as tropas de Napoleão Bonaparte nas Batalhas gêmeas de Jena e Auerstedt, travadas em 14 de outubro de 1806. A derrota decisiva sofrida pelo exército prussiano subjugou o Reino da Prússia ao Império Francês até a Sexta Coalizão[2], formada em 1812, levando Friedrich Wilhelm III e sua família a fugir temporariamente para Memelburgo (Klaipėda)[3]. Nos termos dos Tratados de Tilsit, em 1807, o estado perdeu quase a metade do seu território, incluindo as áreas adquiridas com a segunda e a terceira Partições da Polônia, que então caíram para o Ducado de Varsóvia, além da obrigação de pagar uma grande indenização ao exército e a permissão de tropas francesas por toda a Prússia, efetivamente tornando-a um reino satélite francês.
A partir de 1806, com a formal dissolução do milenar “Sacro Império Romano-Germânico”, por Napoleão Bonaparte, em 6 de agosto, com a renúncia do seu último imperador Francisco II (a partir de 1804, Francisco I da Áustria) que manteve até 1918 o título de Imperador da Áustria, os estados alemães se encontraram muito fragmentados e, como resposta a esta derrota, reformadores como Stein e Hardenberg definiram a modernização do estado prussiano. Entre as suas reformas estavam a libertação dos camponeses da servidão e a emancipação dos judeus como cidadãos com pleno direito. O sistema escolar foi reorganizado e, em 1818, o comércio livre foi introduzido. O processo de reforma do exército terminou em 1813 com a introdução do serviço militar obrigatório.
Após a derrota de Napoleão na Rússia, em 1812, a Prússia encerrou sua aliança com a França e participou da “Sexta Coalizão” durante as "Guerras de Libertação" contra a ocupação francesa. Tropas prussianas, sob o comando do marechal Gebhard Leberecht von Blücher, contribuíram decisivamente (com os britânicos) na Batalha de Waterloo, em junho de 1815, com a vitória final sobre Napoleão e seu desterro definitivo na Ilha de Santa Helena.
O Congresso de Viena em 1815, que redesenhou o mapa político da Europa após a “Batalha de Waterloo”, que resultou na queda do Império Francês, deu como recompensa à Prússia, a recuperação de sua fortuna e seus territórios perdidos, bem como boa parte do noroeste da atual Alemanha, com toda a Renânia, Vestfália e alguns outros territórios. Essas terras ocidentais eram de vital importância, porque incluíam a área do Ruhr, área rica em carvão e centro da recente industrialização da Alemanha, especialmente na indústria de armas. Tais ganhos territoriais implicaram também na duplicação da população da Prússia. Em troca, a Prússia se retirou das áreas da Polônia central para permitir a criação do Congresso da Polônia sob a soberania russa. 
Confederação Germânica em 1815. Verde escuro, Estados
Membros; em claro, territórios dos Estados fora da Confederação
A Prússia emergiu das guerras napoleônicas como a potência dominante entre os estados alemães que, após 1815, no Congresso de Viena, passaram a ser chefiados pelo Império Austríaco, na “Confederação Germânica”, criada para coordenar as economias separadas dos países de língua alemã e substituir o antigo Sacro Império Romano. Tal era uma confederação fraca de 39 Estados, que representava apenas os soberanos e não os povos daqueles territórios. O tamanho e a influência da cada Estado variava consideravelmente. O Império Austríaco e o Reino da Prússia eram os maiores e mais importantes membros da confederação. Grandes partes de seus territórios e de suas forças armadas não foram incluídas na confederação, o que permitia a ambos atuar como países independentes; por exemplo, durante as guerras com a Dinamarca, Áustria e Prússia não combateram sob a bandeira da confederação. Ambas possuíam um voto cada na dieta (assembleia). Dois Estados-membros eram governados por soberanos estrangeiros: os reis da Dinamarca, dos Países Baixos e do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda (até 1837) eram membros da Confederação Germânica na qualidade, respectivamente, de duque de Holstein e rei de Hanôver. Cada um detinha um voto cada na dieta. Seis outros Estados contavam um voto cada na dieta: os reis da Baviera, Saxônia e Vurtemberg, o príncipe-eleitor do Hesse e os grão-duques de Baden e do Hesse. Vinte e três membros menores compartilhavam cinco votos na dieta. As quatro cidades livres de Lübeck, Frankfurt, Brêmen e Hamburgo compartilhavam um voto na dieta. As suas fronteiras eram aproximadamente as mesmas fronteiras do Sacro-Império à época da Revolução Francesa, excetuando o território que corresponde hoje à Bélgica. Os seus membros, drasticamente reduzidos em relação aos mais de 200 que constituíam o Sacro-Império, dispunham de plena soberania e comprometiam-se a uma defesa mútua, mantendo em conjunto uma série de fortalezas no Luxemburgo, em Mogúncia, Rastatt, Ulm e Landau. Os assuntos políticos, naturalmente limitados devido à grande autonomia dos estados-membros, discutiam-se na dieta federal, sob presidência austríaca, de Frankfurt.
A primeira metade do século XIX viu uma luta prolongada nos estados alemães, entre os liberais, que queriam uma Alemanha unida e federal sob uma constituição democrática, e os conservadores, que queriam manter o Império como uma colcha de retalhos de estados independentes monárquicos, com a Prússia e a Áustria competindo por influência. Um pequeno movimento que marcou o desejo de unificação alemã neste período foi o movimento estudantil Burschenschaft (corporação estudantil de antigos combatentes das guerras contra Napoleão Bonaparte, que haviam retomado seus estudos, em 1815, na Universidade de Jena), que incentivou o uso da bandeira preto-vermelho-ouro, as discussões sobre a nação alemã unificada e um sistema político progressista e liberal. Por causa do tamanho da Prússia e de sua importância econômica, os estados menores começaram a associar-se em sua área numa zona de livre comércio em 1820. A Prússia se beneficiou com a criação em 1834 da união aduaneira alemã (Zollverein), que incluiu a maioria dos estados alemães mas excluiu a Áustria.
Por essa época, o Reino da Dinamarca mantinha uma União Pessoal (uma união de estados com chefe de Estado comum) com os ducados de Schleswig e Holstein, sendo que ambos tinham laços estreitos entre si, embora apenas Holstein fizesse parte da Confederação Germânica. O Schleswig era um ducado soberano (formalmente independente), de maioria dinamarquesa, vinculado à coroa da Dinamarca por uma União Pessoal e por laços feudais. Já o Holstein era um ducado soberano, de maioria alemã, que integrara o Sacro Império Romano-Germânico e a Confederação, mas ligado à Dinamarca por uma União Pessoal desde o século XV. Em outras palavras, o rei da Dinamarca era o duque do Schleswig e do Holstein, territórios governados, na prática, pelos dinamarqueses. O chamado Tratado de Ribe (1460) dispunha que os dois ducados não poderiam ser separados. A extinção da linhagem real masculina da Dinamarca, com a morte do rei Friedrich VII, criou para os dinamarqueses o problema da manutenção do seu controle sobre o Schleswig-Holstein, cobiçado por advogados da unificação Alemã.
Por 1844 quase todos os estados germânicos estavam economicamente ligados à Prússia. Quando Friedrich VII, rei da Dinamarca, após as Revoluções de 1848, tentou integrar Schleswig, mas não Holstein, ao estado dinamarquês, promulgando uma constituição democrática comum à Dinamarca e ao Schleswig, provocou um movimento separatista nos ducados. Em março de 1848, a grande maioria alemã do Schleswig-Holstein rebelou-se contra a Dinamarca e buscou a independência frente a esta última, para se associar à Confederação Germânica. O Reino da Prússia, sob Friedrich Wilhelm IV, interveio militarmente em favor da revolta, expulsou dos ducados as tropas dinamarquesas e conseguiu levar a Confederação Germânica contra a Dinamarca na Primeira Guerra do Schleswig (1848-1851). A guerra terminou quando as grandes potências europeias pressionaram a Prússia a aceitar o Protocolo de Londres de 1852. Nos termos deste acordo de paz, a Confederação Germânica devolvia o Schleswig-Holstein à Dinamarca que, por um acordo com a Prússia, comprometia-se a não criar laços adicionais com o Schleswig mais fortes do que os deste último com o Holstein. Como se vê, um resultado não conclusivo que logo faria estalar um novo conflito.

AS GUERRAS DE UNIFICAÇÃO

Wilhelm I, proclamado imperador do Império Alemão
Sob o Rei Wilhelm I (1861 a 1888), e seu primeiro ministro e chanceler imperial, Príncipe Otto Von Bismarck (a partir de 1862), o Chanceler de Ferro, ministro presidente do Reino, a Prússia alcançou o pico do seu poder, realizando a unificação alemã através do desprezo aos recursos do liberalismo político e da opção pela política da força.
Em 1862, o rei Wilhelm I nomeou Otto von Bismarck como primeiro-ministro da Prússia, decidido a derrotar tanto os liberais quanto os conservadores e aumentar a supremacia prussiana e a sua influência entre os estados alemães. Há muito debate sobre se Bismarck realmente planejou criar uma Alemanha unida quando partiu nesta jornada, ou se ele simplesmente se aproveitou das circunstâncias. Certamente suas memórias pintam um quadro róseo de um idealista, mas estes foram escritos com o benefício da retrospectiva e certos eventos cruciais que não poderiam ser previstos. O que está claro é que Bismarck apoiou grandes setores da população com a promessa de levar a luta para uma maior unificação alemã. Em busca do seu objetivo maior, Bismarck guiou a Prússia através de três guerras que, no seu conjunto, trouxeram Wilhelm I da Prússia à posição de Imperador Alemão: (1) a guerra contra a Dinamarca em 1864; (2) a “Guerra das Sete Semanas” contra a Áustria, em 1866; (3) e a “Guerra Franco-Prussiana” em 1870. Essas três guerras colocaram a Prússia como estado líder no Império Germânico. Em 1867 tornou-se o núcleo da Confederação da Alemanha do Norte e, em 1871, do Império Germânico. Daí em diante, a história da Prússia geralmente coincide com a história da Alemanha.
Chanceler Otto Von Bismarck,
retratado por N. Repik
Em 1863, a Dinamarca introduziu uma constituição compartilhada para a Dinamarca e Schleswig. Isso levou a um conflito com a Confederação Germânica, que autorizou a ocupação de Holstein pela Confederação, da qual as forças dinamarquesas se retiraram. Em 1864, forças prussianas e austríacas cruzaram a fronteira entre Holstein e Schleswig iniciando a Segunda Guerra do Schleswig. As forças austro-prussianas derrotaram os dinamarqueses, que entregaram os dois territórios. Na Convenção de Gastein, de 1865 a Prússia assumiu a administração de Schleswig enquanto a Áustria assumiu a de Holstein.
Bismarck percebeu que a dupla administração de Schleswig e Holstein era apenas uma solução temporária, e as tensões aumentaram entre o Reino da Prússia e o Império Austríaco. A luta pela supremacia na Confederação e a disputa sobre Schleswig e Holstein, levou à Guerra Austro-Prussiana, em 1866.
Do lado austríaco, ao sul, estavam os estados alemães (incluindo a Baviera e Württemberg), alguns estados alemães centrais (incluindo Saxônia) e Hanôver, ao norte. Do lado prussiano estavam o Reino da Itália e a maioria dos estados ao norte da Confederação e alguns estados centrais menores. As tropas prussianas, melhor armadas, conquistaram a vitória fundamental na batalha de Königgrätz, sob Helmuth von Moltke. O conflito centenário entre Berlim e Viena pelo domínio da Confederação havia acabado.
Pela Paz de Praga, em 1866, a Prússia anexou quatro dos aliados austríacos no norte e no centro da Alemanha: Hanôver, Hesse-Kassel, Nassau e Frankfurt. A Prússia também ganhou o controle total de Schleswig-Holstein. Como resultado desses ganhos territoriais, a Prússia estendeu-se através de dois terços do norte da Confederação, que continha dois terços da sua população. A “Confederação Germânica” foi dissolvida e a Prússia agrupou 21 estados norte do rio Meno para formar a “Confederação da Alemanha do Norte” sob hegemonia do Reino da Prússia e excluindo a Áustria e a Baviera.
Wilhelm I, Imperador Germânico  a partir
de 18 de janeiro de 1871.
A Prússia foi o Estado dominante na nova confederação, como um reino composto praticamente de quatro quintos do território do novo Estado e da população. O controle quase total da Prússia sobre a confederação foi garantido na constituição redigida por Bismarck em 1867. O poder executivo seria realizado por um presidente, coadjuvado por um chanceler apenas a ele subordinado. A presidência foi um cargo hereditário dos governantes Hohenzollern da Prússia. Havia também uma casa de dois parlamentos. A casa baixa, ou Reichstag, eleita por sufrágio universal masculino; a casa superior, ou Bundesrat (Conselho Federal), era nomeado pelos governos estaduais e, na prática, a casa mais forte. A Prússia teve 17 de 43 votos, e poderia facilmente controlar processos através de alianças com outros estados.
A polêmica entre a Prússia e o “Segundo Império Francês”[4] sobre a candidatura de um Hohenzollern ao trono espanhol foi intensificada tanto pela França como por Bismarck. Com seu “despacho de Ems”[5], Bismarck provocou a declaração de guerra da França à Prússia, por Napoleão III, em 19 de julho de 1870. Honrando os seus tratados, os estados alemães juntaram forças e, rapidamente, derrotaram a França na Guerra Franco-Prussiana. Com a vitória, sob a liderança de Bismarck, Baden, Württemberg e a Baviera, que haviam ficado fora da Confederação da Alemanha do Norte, aceitaram a incorporação a um Império Germânico unificado.
Segundo Bismark, o Império era a solução da "Alemanha Menor" no que se refere à união de todos os povos de língua alemã em um estado, excluindo a Áustria, que permaneceu conectada ao Reino da Hungria e cujos territórios incluíam populações não-alemãs. Em 18 de janeiro de 1871 (o 170º aniversário da coroação do rei Friedrich I), Wilhelm I foi proclamado "Imperador Germânico" (não "Imperador da Alemanha") no Salão dos Espelhos, em Versalhes, perto de Paris, com a capital francesa ainda sob cerco. Esse título (em alemão, “Deutscher Kaiser”) foi o título oficial do chefe de estado do Império Germânico, (Deutsches Reich) então ocupado pelo rei da Prússia (e Bismarck como seu chanceler), e vigorou desde que a Confederação da Alemanha do Norte, após a vitória da Prússia sobre a França na Guerra Franco – Prussiana, em 1871, tornou-se um império, até 1918, com o término da Primeira Guerra Mundial e a derrota da Alemanha.

[1] As Partilhas da Polônia ocorreram ao longo do século XVIII e puseram fim à existência da soberana República das Duas Nações (Reino da Polônia e Grão Ducado da Lituânia). Elas envolveram o Reino da Prússia, o Império Russo e a Monarquia/Império Austríaco, dividindo as terras da república entre elas. As três partilhas ocorreram em: 5 de agosto de 1772; 23 de janeiro de 1793; e 24 de outubro de 1795.
[2] A Sexta Coalizão (1812-1814) reuniu Áustria, Prússia, Rússia, Reino Unido, Portugal, Suécia, Espanha e alguns Estados Germânicos que finalmente conseguiram derrotar a França e enviar Napoleão para o seu primeiro exílio, na Ilha de Elba. Com a frustrada invasão da Rússia, os seus adversários se reorganizaram, expulsaram Napoleão da Alemanha em 1813 e invadiram a França em 1814, obrigando Napoleão a abdicar restaurando os Bourbons.
[3] Klaipėda, anteriormente referida como Memelburgo, é uma cidade e único porto lituano, situada na entrada da laguna da Curlândia, que deságua no mar Báltico, fundada pelos Cavaleiros Teutônicos. Algumas de suas construções mais antigas possuem similaridades com construções alemãs, francesas, inglesas, dinamarquesas e também do sul da Suécia.
[4] O Segundo Império Francês foi o regime monárquico bonapartista implantado por Napoleão III de 1852 a 1870, entre os períodos históricos da Segunda República e da Terceira República, na França. Durante este período, a capital Paris foi centro de exposições mundiais, para onde convergiam a divulgação do progresso cultural e industrial do mundo. Com a Guerra Franco-Prussiana, o Império encontrou seu fim, mostrando seu despreparo militar, com o próprio Imperador Napoleão III sendo capturado na desastrosa batalha de Sedan e deposto em seguida.
[5] O “Despacho de Ems” é um documento histórico. Foi o telegrama que relatou o encontro, em 13 de Julho de 1870 entre o Rei da Prússia Wilhelm I e o embaixador da França, na Prússia, em Bad Ems, no rio Lahn, perto de Koblenz. O telegrama foi habilmente manipulado por Bismark, de forma a torna-lo uma afronta aos franceses, assim provocando a declaração de Guerra da França.

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