Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 (Parte 10)




IX - OS ANOS DE FERRO DA ERA STALIN (FINAL)

Com o fim da 2ª Guerra Mundial, em 1945 Stalin prometeu que a URSS seria a potência industrial líder em 1960. A essas alturas, a URSS havia sido devastada pela guerra. Oficialmente, 98.000 fazendas coletivas haviam sido pilhadas e arruinadas, com a perda de 137.000 tratores, 49.000 colheitadeiras, sete milhões de cavalos, dezessete milhões de cabeças de gado, vinte milhões de porcos, vinte e sete milhões de ovelhas; 25% de todo o capital em equipamento fora destruído em 35.000 usinas e fábricas; seis milhões de edificações, incluindo 40.000 hospitais em 70.666 vilas e 4.710 cidades (40% de moradias) foram destruídas, deixando 25 milhões pessoas sem tetos; cerca de 40% de trilhos de estradas de ferro foram destruídos; oficialmente, 7,5 milhões de homens das forças armadas morreram, além de seis milhões de civis, mas talvez tenham morrido 20 milhões no total. Em 1945, a mineração e a metalurgia estavam a 40% dos níveis de 1940, a energia elétrica caiu a 52%, ferro fundido a 26% e o aço a 45%; a produção de alimentos estava em 60% do nível de 1940. Após a Polônia, a URSS havia sido o país mais duramente atingida pela guerra. A reconstrução foi retardada por uma crônica carência de força de trabalho devido ao enorme número de baixas soviéticas na guerra. Além disso, 1946 foi o ano mais seco desde 1891 e a colheita foi pobre.
Vítimas da NKVD assassinadas ao final de junho de 1941
logo após a eclosão da guerra entre Alemanha e a URSS
A partir de 1945, a URSS manteve tropas ocupando a Polônia e a parte oriental da Alemanha, criando a República Democrática da Alemanha (RDA), além de manter forças em países da Europa Central e Oriental, o que fez Churchill referir-se à região como que estando atrás de uma “Cortina de Ferra” com controle de Moscou. Tal região passou a ser chamada de “Bloco Oriental” ou “Bloco Soviético”.
Os Estados Unidos e a URSS foram incapazes de chegar a um acordo sobre o empréstimo dos EUA para a ajudar na reconstrução e este foi um dos fatores contribuintes na rápida escalada da “Guerra Fria”, entre os aliados da véspera, com Stalin acusando os Estados Unidos de “imperialistas”. Contudo, a URRS ganhou reparações da Alemanha e fez os países do leste europeu realizarem pagamentos como retribuição pelos soviéticos os terem livrado dos nazistas. Em 1947, Stalin ressuscita o Komintern, que havia sido extinto em 1943, sob o nome de Kominform.
Em 7 de outubro de 1947, a RDA foi declarada com uma nova constituição que louvava o socialismo. Em Berlim, após os cidadãos rejeitarem candidatos comunistas em uma eleição, em junho de 1948, a União Soviética bloqueou Berlim Ocidental, fora do controle soviético, impedindo totalmente o abastecimento de alimentos e outros bens. O bloqueio falhou graças a uma inesperada campanha de abastecimento aéreo levada a efeito pelas potências ocidentais, conhecida por “Transporte Aéreo de Berlim”; em 1949 Stalin reconheceu a derrota e encerrou o bloqueio.
Embora Stalin tenha prometido na Conferência de Yalta, que faria eleições livres na Polônia, após o fracasso eleitoral nas eleições chamadas “Três Vezes Sim” (três questões que, segundo os interesses da URSS deveria ter resposta SIM), uma eleição totalmente fraudulenta foi empregada para vencer uma maioria na pesquisa cuidadosamente controlada, após o que, a economia polonesa começou a ser nacionalizada.
Na Hungria, quando os soviéticos instalaram um governo comunista, Mátyás Rákosi, que se descrevia como “o melhor discípulo húngaro de Stalin” e “o melhor pupilo de Stalin”, tomou o poder. Empregando a “tática do salame”, fatiou seus inimigos como peças de salame, para enfrentar a maioria política inicial do após guerra pronta para estabelecer uma democracia. Rákosi empregou programas políticos e econômicos stalinistas e foi apelidado “o assassino calvo”, por estabelecer uma das ditaduras mais cruéis da Europa. Aproximadamente 350.000 oficiais e intelectuais húngaros foram expurgados entre 1948 e 1956.
Ainda durante a 2a Grande Guerra, na Bulgária, o Exército Vermelho cruzou a fronteira e criou as condições para um golpe de estado comunista na noite seguinte. O comandante militar soviético em Sofia assumiu a autoridade suprema, e os que ele instruíra tomaram o total controle da política doméstica.
Stalin não se abrandou com a idade. Ele praticou um reino de terror, expurgos, execuções, exílios a campos de trabalhos forçados e perseguições na URSS do após guerra, suprimindo toda dissidência e qualquer coisa que tivesse indícios de influência estrangeira, especialmente ocidental. Estabeleceu governos comunistas por todo o leste europeu e em 1949 conduziu os soviéticos à era nuclear com a explosão de uma bomba atômica.
Em 1949, o Conselho para Assistência Econômica Mútua (COMECON) foi criado, ligando economicamente União Soviética, Bulgária, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia e Polônia. Tal organização foi criada de acordo com os desejos de Stalin de reforçar a dominação soviética nos países menores da Europa e abrandar alguns estados que haviam expressado interesse no Plano Marshall e que se encontravam agora, crescentemente, separadas dos seus mercados e abastecedores tradicionais na Europa Ocidental. Um terço das despesas de capital do Quarto Plano Quinquenal russo foi gasto na Ucrânia, país muito importante, agrícola e industrialmente, e que tinha sido uma das áreas mais devastadas pela guerra.
A URSS passa a ter supremacia em quase toda a Europa Oriental. Nestes países, foram mantidos governos pró-URSS durante toda a Guerra Fria, quando foram criadas várias barreiras entre os países pró-URSS e pró-EUA, algumas ideológicas como a Cortina de Ferro e outras físicas, como o Muro de Berlim em torno de Berlim Ocidental, na RDA.
Na Ásia, o Exército Vermelho havia devastado a Manchúria no último mês da Guerra e também ocupou a Coreia, acima do paralelo 38º norte. O Partido Comunista da China, de Mao-Tse-Tung, embora receptivo a um mínimo apoio soviético, derrotou o Partido Nacionalista Chinês (Kuonmintang – KMT), pró-ocidental e francamente assistido pelos americanos, na guerra civil chinesa. Houvera atrito entre Stalin e Mao desde o início. Durante a 2ª Grande Guerra Stalin havia apoiado o ditador chinês Chiang Kai-Shek (KMT) como um baluarte contra o Japão e havia fechado um olho para as mortes em massa de comunistas, colocando sua aliança com Chiang acima dos seus aliados ideológicos na China. Mesmo após a guerra, Stalin fechou um pacto de não agressão entre URSS e o regime do KMT de Chiang, na China, instruindo Mao e os comunistas chineses a cooperarem com Chiang e o KMT após a guerra. Mao ignorou o conselho, iniciando a revolução comunista contra Chiang e sem acreditar que Mao teria sucesso, pouco ajudou o último, mantendo relações diplomáticas com o KMT de Chiang até 1949 quando tornou-se claro que Mao venceria. Stalin fez então um pacto de amizade com Mao embora permanecesse um mal-estar entre os dois líderes pelo fato de Stalin não ter integralmente apoiado Mao durante a guerra civil chinesa. Os comunistas passaram a controlar a China Continental como República Popular da China enquanto os nacionalistas mantiveram apenas a Ilha de Taiwan. As relações diplomáticas entre a China e a União Soviética alcançaram o ponto mais alto quando em 1950 os dois países assinaram o Tratado Sino-Soviético de Amizade e Aliança.
Contrariamente à política americana que restringiu o armamento ilimitado a infantaria e forças policiais da Coreia do Sul, Stalin armou o exército e a força aérea da Coreia do Norte de Kim II Sung e enviou muito mais “conselheiros” do que o necessário para finalidades defensivas, a fim de facilitar a Kim (um prévio oficial soviético) o seu objetivo de conquistar o resto da península coreana. O exército coreano atacou nas primeiras horas da madrugada de 25 de junho de 1950, atravessando o paralelo 38 atrás de uma tempestade de artilharia, iniciando a invasão da Coreia do Sul. Durante a Guerra da Coreia, pilotos soviéticos pilotaram aviões soviéticos a partir de bases chinesas contra aviões das Nações Unidas que defendiam a Coreia do Sul. Pesquisa realizada após a Guerra Fria em arquivos soviéticos, revelaram que a Guerra da Coreia foi iniciada por Kim II-Sung, com a expressa permissão de Stalin.
Em 1952 e 1953 Stalin e os dirigentes soviéticos criaram a “Conspiração dos Doutores”, segundo a qual, vários médicos (a metade dos quais judeus) teriam tentado matar funcionários soviéticos. A opinião predominante entre muitos estudiosos de fora da União Soviética foi de que Stalin pretendia usar o resultado do julgamento dos médicos para lançar um maciço expurgo do Partido, mas também é visto por muitos historiadores como uma provocação antissemita; ela ocorreu imediatamente após os julgamentos de exibição do Comitê Antifascista Judeu e da execução secreta de 13 membros, sob as ordens de Stalin, na famosa “Noite dos Poetas Mortos”. Após isso, numa sessão do Politburo, em dezembro, Stalin anunciou que “Cada nacionalista judeu é um agente do serviço de inteligência americana. Os nacionalistas judeus pensam que sua nação foi salva pelos Estados Unidos (lá vocês podem ficar ricos, burgueses etc...). Eles pensam que devem aos americanos. Entre os médicos há muitos nacionalistas judeus”. Para mobilizar o povo soviético para essa campanha, Stalin ordenou que a Tass[1] e o Pravda publicassem histórias, ao mesmo tempo da alegada descoberta de Stalin da “Conspiração dos Doutores” para assassinar líderes soviéticos, incluindo Stalin, a fim de criar o cenário para novos julgamentos de exibição. No dia seguinte o Pravda publicou histórias com o texto relativo aos pretensos conspiradores “burgueses nacionalistas judeus”. Nikita Khrushchev escreveu que Stalin sugeriu-lhe incitar o antissemitismo na Ucrânia, dizendo-lhe que “os bons trabalhadores na fábrica deveriam receber porretes com que pudessem acabar com aqueles judeus”. Stalin também ordenou que os médicos falsamente acusados fossem torturados até a morte. Com relação às origens da conspiração, as pessoas que conheciam Stalin, tal como Khrushchev, sugerem que Stalin há muito havia abrigado sentimentos negativos para com os judeus e que as tendências antissemíticas nas políticas do Kremlin foram ainda mais estimuladas pelo exílio de Leon Trotsky. Ao final de janeiro de 1953, o médico pessoal de Stalin, Miron Voysi, (primo de Solomon Mikhoels, assassinado em 1948 por ordem de Stalin) foi preso no mesmo contexto da conspiração. Voysi foi solto por Lavrentiy Beria, Ministro do Interior e Chefe da NKVD, após a morte de Stalin, em 1953, como também foi o compositor Mieczyslaw Weinberg, seu genro.
Alguns historiadores têm sustentado que Stalin também planejava enviar milhões de judeus para quatro recém construídos campos de trabalhos forçados na Rússia Ocidental, usando uma “Comissão Deportação” que alegadamente agiria para salvar os judeus soviéticos de uma população soviética enfurecida pelos julgamentos da “Conspiração dos Médicos”. Indiferente ao fato de ter sido ou planejada uma conspiração para deportar judeus, no seu “Discurso Secreto”[2], em 1956, o Premier Soviético Nikita Khrushchev declarou que a Conspiração dos Médicos foi “inventada por Stalin”, que Stalin havia dito ao juiz para obter confissões dos réus, e aos membros do Politburo: “Vocês são cegos como jovens gatinhos. O que acontecerá sem mim? O país perecerá porque vocês não conseguem reconhecer inimigos.”
Com o fim da 2ª Grande Guerra a saúde de Stalin deteriorou-se, com a arteriosclerose que possuía pelo fumo exagerado e teve um derrame leve por ocasião do Desfile da Vitória e um ataque cardíaco severo em outubro de 1945.
Nas primeiras horas do amanhecer de 1º de março de 1953, após um dos frequentes jantares e cinemas, Stalin chegou à sua residência de Kuntsevo, a 15 km de Moscou, com Beria e os futuros premiers Georgy Malenkov, Nikolai Bulganin e Nikita Khrushchev, e retirou-se para dormir. Ao amanhecer Stalin não saiu de seu quarto. Embora seus guardas achassem estranho não vê-lo acordar à hora habitual, como tinham ordem de não incomodá-lo, deixaram-no só o dia inteiro. Às 22:00 hs ele foi descoberto pelo comandante de Kuntsevo, que entrou em seu quarto e encontrou Stalin deitado de costas, no chão, vestindo calça de pijama e camiseta, ensopado em urina. Como o Comandante não conseguisse ouvir palavra de Stalin, usou o telefone da cabeceira para chamar alguns oficiais do Partido, avisando que Stalin parecia ter sofrido um derrame e pedindo que enviassem médicos. Beria foi informado e chegou poucas horas depois. Os médicos chegaram ao amanhecer de 2 de março, quando trocaram as roupas de cama de Stalin para atende-lo, diagnosticando uma hemorragia cerebral (derrame), causada por hipertensão, que teria ainda causado uma hemorragia do estômago. Foi tratado em sua casa, com sanguessugas, como era costume na época. Em 3 de março seu dublê, Felix Dadaev, foi chamado de férias, para Moscou, ´para ficar de prontidão se necessário para algo, o que não aconteceu. Sem sair da cama, Stalin morreu no dia 5 de março de 1953, com a idade de 74 anos, com muitas suspeitas posteriores de que, na verdade, ele tivesse sido assassinado com uma overdose de Warfarin, uma droga anticoagulante.
Beria não podia esconder o seu contentamento e, confirmando que o “velho” estava realmente morto, deu uma leve pancada em seu corpo e retirou-se radiante, segundo Khrushchev. Stalin não havia nomeado ou recomendado um sucessor e Beria sentiu que esse era o momento. A luta pela sucessão de Stalin havia começado.
Após a visitação de 1,5 milhões de pessoas, seu corpo embalsamado foi colocado, em 9 de março de 1953, no mausoléu de Lenin. Em 31 de outubro de 1961 seu corpo foi removido do mausoléu e enterrado na Necrópole dos Muros do Kremlin, como parte do processo de desestalinização.
Sua morte chegou em muito boa hora para Beria e muitos outros, que temiam ser varridos, brevemente, em outro expurgo. Acredita-se que Stalin temia que o poder de Beria estivesse crescendo a ponto de ameaçar o seu próprio poder.
Após a morte de Stalin, uma luta pelo poder instalou-se entre os oito membros seniores do Presidium do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, listados formalmente de acordo com a ordem de precedência, em 5 de março de 1953: Georgy Malenkov, Lavrentiy Beria, Vyacheslav Molotov, Klim Voroshilov, Nikita Khrushchev, Nikolai Bulganin, Lazar Kaganovich, Anastas Mikoyan. A sucessão foi controversa e os políticos mais próximos decidiram governar juntos a URSS, mas o chefe da NKVD, Beria, resolveu tomar o poder sem o consentimento dos demais. O General Khrushchev e os demais candidatos, juntaram-se e detiveram Beria, que seria executado no mesmo ano. O impasse permaneceu até 1958 quando finalmente Khrushchev venceu, derrotando seus potenciais rivais no Presidium e tornando-se o sucessor oficial de Stalin.
A crueldade com que as relações soviéticas foram conduzidas durante o mando de Stalin, foi subsequentemente repudiada por seus sucessores na liderança do Partido Comunista, principalmente por Nikita Khrushchev, em fevereiro de 1956, durante o XX Congresso do Partido Comunista, com o seu “Discurso Secreto” (oficialmente chamado “Do Culto à Personalidade e suas Consequências”), já mencionado, a partir do qual iniciou-se um processo de “desestalinização” da União Soviética. Nessa mesma ocasião, ele condenou as deportações de Stalin como uma violação do Leninismo e reverteu a maioria delas, embora apenas em 1991, os tataros, os meskhetianos (subgrupo dos georgianos) e os alemães do Volga tiveram permissão para retornar em massa às suas terras natais. A memória das deportações até hoje representa um importante papel nos movimentos separatistas dos Estados Bálticos, o Tataristão e a Chechênia.
Um trabalho soviético de 1974, descreve a liderança de Stalin da seguinte maneira:

“Stalin manteve, desde 1922, o posto de Secretário Geral do Comitê Central do Partido Comunista. Ele fez importantes contribuições à implementação da política de construção socialista do Partido na URSS e ganhou grande popularidade por sua luta sem tréguas contra os grupos antileninistas dos Trotskystas e bukharinistas. Contudo, a partir do início da década de 1930, todos os sucessos alcançados pelo povo soviético na construção do socialismo, começou a ser arbitrariamente atribuído a Stalin. Já numa carta escrita em 1922, Lenin alertou o Comitê Central do Partido sobre o fato de que ‘o camarada Stalin, tendo se tornado secretário geral, concentrou autoridade sem limites em suas mãos e não estou certo de que ele sempre exercerá autoridade com suficiente juízo’.”
Durante os primeiros anos após a morte de Lenin, Stalin considerou suas observações críticas, mas à medida que o tempo passou, ele abusou de sua posição como Secretário Geral cada vez mais frequentemente, violando o princípio de liderança coletiva e tomando decisões independentes em importantes questões do Partido e do Estado. Tais atalhos pessoais passaram a manifestar-se cada vez com maior insistência: sua rudeza, capricho, intolerância às críticas, arbitrariedade, excessiva suspeita etc...., conduziram a injustificadas restrições da democracia, fortes violações da legalidade socialista e repressões contra proeminentes líderes militares, do Partido, governo e outras pessoas.
Após a morte de Stalin, a queda do ditador na União Soviética.
Certamente, não podemos dizer como Lenin ou Trotsky, Zinoviev, Kamenev ou Bukharin, teria governado a URSS se tivesse vencido a luta pelo poder. Contudo, pelo que sabemos de cada um deles, é improvável que qualquer desses líderes fosse igualar a monstruosa tirania de Stalin, que custou a vida de tantos milhões de russos. Não existe consenso quanto à contagem de vítimas do stalinismo. Determinadas estatísticas afirmam que entre 20 a 35 milhões de soviéticos morreram por fome, frio ou executados em campos de concentração ou de trabalhos forçados durante a época de Stalin.
Eric Hobsbawm, o escritor marxista britânico, em seu livro “A Era dos Extremos”, de 1994, escreveu sobre Stalin em uma nota de rodapé: “Este escritor, que viu o corpo embalsamado de Stalin no mausoléu da Praça Vermelha, antes dele ser removido, em 1957, lembra-se do choque da visão de um homem tão minúsculo e no entanto tão todo-poderoso. Significativamente, todos os filmes e fotografias ocultavam o fato de que ele tinha apenas 1,58 m de altura”. Apenas faltou dizer que, além de todo-poderoso, foi também o que mais vítimas fez ao longo da sua tirania.

[1] A Agência de Telégrafo da União Soviética (TASS) foi uma agência central para coleta e distribuição de notícias nacionais e internacionais para todas as estações de televisão, rádio e jornais soviéticos. Ela possuía um monopólio oficial de informação estatal liberado sob forma de um Relatório da TASS. Foi estabelecida em 25 de julho de 1925 por um decreto do Presidiu do Soviete Supremo da União Soviética, a partir da Agência de Telégrafo Russa (ROSTA), a primeira agência de notícias na Rússia Soviética. Era frequentemente usada como uma organização de frente pelas agências de inteligência como a NKVD (mais tarde KGB) com muitos de seus empregados servindo como seus informantes. 
[2] O relatório “Sobre o Culto da Personalidade e Suas Consequências”, apresentado no 20o Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em 25 de fevereiro de 1956, foi profundamente crítico a Joseph Stalin, principalmente no que se refere aos expurgos realizados pelo Partido Comunista da União Soviética durante os últimos anos da década de 1930. Khrushchev acusou Stalin de ter criado um culto de personalidade do líder, a despeito de ostensivamente manter apoio aos ideais do comunismo. Superficialmente, o discurso foi uma tentativa para aproximar o Partido Comunista Soviético de Lenin. Contudo, a motivação última de Khrushchev foi legitimar e ajudar a consolidar seu controle do Governo e Partido Comunistas, poder obtido numa luta política contra Vyacheslav Molotov e Georgy Malenkov, leais a Stalin. Tal relatório ficou conhecido como “Discurso Secreto” porque liberado em uma sessão fechada dos delegados, sem a presença da imprensa. O texto foi amplamente discutido em células do Partido já no início de março, muitas vezes com a participação de não membros do Partido, mas o texto oficial russo, só foi publicado em 1989, durante a campanha da glasnost (“publicidade”, mas também abertura e transparência) do líder soviético Mikhail Gorbachev.

Na próxima postagem, o encerramento da Revolução Russa, com as Conclusões, na PARTE 11 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 (Parte 9)



IX - OS ANOS DE FERRO DA ERA STALIN (Continuação)

Localização dos campos Gulag da União Soviética

O TENEBROSO GULAG SOVIÉTICO

Gulag, acrônimo da expressão russa Glavnoye Upravleniye Lagerei, que significa "Administração Central dos Campos", e a palavra que, por fim, passou a descrever todo o sistema soviético de punição e trabalhos forçados, era um sistema de campos de trabalhos forçados para criminosos, presos políticos, prisioneiros de guerra e qualquer cidadão (homens, mulheres e crianças), em geral, que se opusesse ao regime da União Soviética (todavia, a grande maioria era de presos políticos: no campo Gulag de Kengir, em junho de 1954, existiam 650 presos comuns e 5200 presos políticos). Antes da Revolução, o Gulag chamava-se Katorga e, praticamente, possuía as mesmas finalidades. Entretanto, os bolcheviques continuaram a tradição autocrática-imperial russa em uma escala dezenas de vezes maior e em condições muito piores, onde até o canibalismo foi praticado. Na União Soviética, este sistema funcionou de 1930 até 1960. Nesses campos foram aprisionadas e mortas milhões de pessoas, muitas delas vítimas das perseguições de Stalin, as consideradas "pessoas infames", para a chamada "Pátria Mãe" (a URSS), e que deveriam passar por "trabalhos forçados educacionais" para merecerem viver nela. O Gulag tornou-se um símbolo da repressão da ditadura de Stalin. Na verdade, as condições de trabalho nos campos eram bastante penosas e incluíam fome, frio, trabalho intensivo com características próprias da escravatura (por exemplo, horário de trabalho excessivo) e guardiões desumanos. Floresceram durante o regime stalinista da URSS, estendendo-se a regiões como a Sibéria e a Ucrânia, por exemplo, e destinavam-se, na verdade, a silenciar e torturar opositores ao regime, incluindo os anarquistas, trotskistas e outros.
Embora algumas vezes comparado aos campos de concentração nazistas, os motivos que presidiram à construção de ambos são bastante diferentes: para o Gulag, as motivações eram tanto a punição por crimes comuns, como para ideologias contrárias ao comunismo, delitos de opinião, ou simplesmente a necessidade de se ver livre de alguém que poderia significar concorrência ao poder; para os campos de concentração nazistas iam prisioneiros de guerra e judeus, basicamente.
O número de presos no Gulag cresceu gradualmente a partir de 1930, com 179.000, para 1934, com 510.307; em 1938 essa taxa cresceu muito mais rapidamente, por conta dos expurgos, para 1.881.570; durante a Segunda Guerra Mundial o número de presos decresceu por conta do recrutamento de presos para o Exército Vermelho (eram 1.179.819 presos em 1944). Em 1945 voltou a crescer, até 1950, atingindo um valor máximo (cerca de 2.500.000), que se manteve praticamente constante até 1953, ano da morte de Stalin. A tabela abaixo apresenta os números de presos no Gulag soviético, durante o período que vai de 1930 a 1953, segundo dados apresentados no livro “Gulag”, de Anne Applebaum, página 602, copiados de documentos da NKVD.
Os fluxos de entrada e saída dos campos de trabalhos forçados eram substanciais e o número total de detentos foi contabilizado em cerca de 18 milhões durante o período entre 1929 e 1953. Como parte do mais amplo termo "trabalhos forçados", mais 4 milhões de prisioneiros de guerra devem ser adicionados a esse número e, pelo menos, 6 milhões de "especiais", isto é, camponeses deportados durante a coletivização, chegando-se a um total de 28.000.000 de prisioneiros que terão passado pelo Gulag soviético.
O número de mortos nesses campos de concentração soviéticos, ainda está sob investigação, mas um valor provisório indica 2.749.163 baixas. Este número não leva em conta as execuções relacionadas com o sistema judicial (as execuções, apenas por razões políticas, chegam a 786.098). Segundo dados soviéticos, morreram no Gulag 1.053.829 pessoas entre 1934 e 1953, excluindo mortos em colônias de trabalho (outro tipo de prisão, segundo as informações soviéticas.

Número de prisioneiros pelos documentos da NKVD

1930
179.000
1936
1.296.494
1942
1.777.043
1948
2.199.535
1931
212.000
1937
1.196.369
1943
1.484.182
1949
2.356.685
1932
268.700
1938
1.881.570
1944
1.179.819
1950
2.561.351
1933
334.300
1939
1.672.438
1945
1.460.677
1951
2.525.146
1934
510.307
1940
1.659.992
1946
1.703.095
1952
2.504.514
1935
965.742
1941
1.929.729
1947
1.721.543
1953
2.468.524


Os campos recebiam também prisioneiros de outras nacionalidades, incluindo cidadãos americanos. Em 1931, a Amtorg Trading Corporation (primeira representação comercial soviética nos Estados Unidos) recrutou milhares de trabalhadores americanos, que sofriam as consequências da Grande Depressão, atraindo-os com promessas de boas condições de trabalho. Estes trabalhadores, que contribuíram para o desenvolvimento da indústria da URSS, eram dispensados quando não mais necessários e poucos conseguiram retornar aos EUA. Muitos, foram enviados ao Gulag, permanecendo detidos ali por anos. O telefilme de 1982 “Coming Out of the Ice(em português “Atrás da Cortina de Gelo”), baseado no livro homônimo, dramatiza a vida de Victor Herman, paraquedista estadunidense, que passou 18 anos detido na Sibéria por recusar-se a adotar a nacionalidade soviética, após bater o recorde de salto em queda livre.
De acordo com Werh Nicolas, historiador francês do “Centre National de la Recherche Scientifique”, em Paris, no livro "História da Rússia no século XX", páginas 318-9, "As estimativas do número de presos no Gulag, ao final dos anos trinta, variam entre 3.000.000 (Timasheff, Bergson, Wheatcroft) e de 9 a 10.000.000 (Dallin, Conquest, Avtorkhanov, Rosefielde, Solzhenitsyn). Os arquivos do Gulag, confirmados pelos dados dos censos de 1937 e 1939, em documentos dos Ministérios da Justiça, do Interior e da Procuradoria Geral, dão um valor de cerca de 2.000.000 prisioneiros em 1940 (cerca de 300.000 em 1932, e de 1.200.000, no início de 1937). O número acumulado de entradas no Gulag durante os anos 30, tendo em conta a alta rotatividade dos detentos, é cerca de 6.000.000 de pessoas." No mesmo livro, à página 416, lemos: "Como evidenciado pelos arquivos do Gulag, recentemente exumados, nos anos 1945-53 houve um forte aumento no número de prisioneiros nos campos de trabalho Gulag (passando de 1.200. 000 para 2.500.000 entre 1944 e 1953), e o número de deportados ‘especiais’ passou de 1.700.000 em 1943, para 2.700.000 em 1953”.
As localizações dos campos no Gulag eram um segredo (calcula-se o seu número em 476 à época da 2ª Guerra Mundial), mas o medo que despertavam era bem conhecido por russos, lituanos, poloneses, armênios e outros tantos que viveram sob a influência da antiga União Soviética. Os campos de concentração espalhavam-se por todo o país, da gélida Sibéria às inóspitas regiões da Ásia Central, passando pelas florestas dos Urais e os subúrbios de Moscou. Eles surgiram antes mesmo de suas infames contrapartidas nazistas, como Auschwitz, Sobibor e Treblinka, e continuaram a crescer muito tempo depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Hoje, a história do Gulag, esse sistema de repressão e punição que aterrorizou milhões, é muito bem conhecida do mundo ocidental, principalmente através de duas obras. A primeira delas, “Arquipélago Gulag”, é um clássico referencial sobre o assunto e foi escrita pelo dissidente, Alexandr Solzhenitsyn, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1973. Este livro, escrito entre 1958 e 1967, é uma narrativa de fatos que foram presenciados pelo autor, prisioneiro durante onze anos, em Kolima, um dos campos do arquipélago, e por duzentas e trinta e sete pessoas, que confiaram as suas cartas e relatos ao autor. Embora publicada em 1973 no ocidente, a obra circulou clandestinamente na União Soviética, numa versão minúscula, escondida, até à sua publicação oficial no ano de 1989. A segunda fonte, escrita após o colapso da União Soviética, “Gulag: Uma História dos Campos de Prisioneiros Soviéticos”, é de autoria de Anne Applebaum e recebeu o Prêmio Pulitzer de 2004. O livro apresenta um retrato completo e acurado de um dos maiores crimes cometidos contra a humanidade. Longe de se limitar à frieza dos documentos oficiais, finalmente acessíveis, Applebaum enriquece a história com entrevistas e relatos de sobreviventes, que se sobressaem, não só pela força da prosa, mas também pela capacidade de sondar abaixo da superfície do horror cotidiano. Segundo a autora, e de modo ainda mais amplo, Gulag veio a significar todo o sistema repressivo soviético, o conjunto de procedimentos que os presos outrora denominaram "o moedor de carne": as prisões, os interrogatórios, o traslado em vagões de gado sem aquecimento, o trabalho forçado, a destruição de famílias, os anos de degredo, as mortes prematuras e desnecessárias.

Evolução do número de presos no Gulag (1930-1953)
Rapidamente, a indústria soviética atinge grandes proporções de riqueza em pouco tempo, tornando-se uma grande potência mundial. Paradoxalmente e com a lei das coletivizações em marcha, o povo vivia na pobreza extrema. Além do mais, as medidas políticas de Stalin provocaram grandes ondas de fome que assolaram as repúblicas, principalmente na Ucrânia, que deu origem ao termo Holodomor (Ver Quadro “O Holodomor”, a seguir).
Até hoje os estudiosos discordam quanto às razões que teriam levado Stalin à execução dos “Anos de Terror” na União Soviética. Uma delas, com grande quantidade de seguidores acredita que com a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha, sua política belicista e anti-comunista tornava mais próxima a ideia de uma invasão da URSS. Não podemos esquecer que, desde 1925, Hitler vagamente declarara em seu manifesto político e autobiografia "Mein Kampf" (“Minha Luta”) que ele invadiria a União Soviética, afirmando que o povo alemão necessitava garantir espaço vital para assegurar a sobrevivência da Alemanha pelos anos futuros. 
Presos na construção do canal Mar Branco-
Báltico, 1931 - 1933

O nazismo via a União Soviética (e todo o leste europeu) como povoado por “sub humanos” não arianos, governados por conspiradores bolcheviques judeus (para igualar os comunistas aos judeus). “Minha Luta” dizia que o destino da Alemanha era avançar para o leste como havia sido feito seiscentos anos antes. Como decorrência, a política nazista estabelecia matar, deportar ou escravizar a maioria dos russos e outras populações eslavas, repovoando a terra com povos germânicos. E Stalin sabia disso. No Oriente, o expansionismo japonês (conquista da Manchúria e guerra contra a China) ameaçava o forte siberiano. Criou-se assim um clima favorável para o “alarme da Pátria socialista em perigo” e a arregimentação de todas as forças em torno da ditadura stalinista. Esta pressão externa condicionou Stalin a visualizar seus inimigos políticos (dentro do Partido) como, objetivamente, inimigos da revolução e aliados da reação fascista.



O HOLODOMOR

Holodomor é uma palavra ucraniana que significa “extermínio pela fome”. Foi o nome dado à fome causada por Stalin na República Soviética Socialista da Ucrânia, entre 1931 e 1933, que matou um número estimado entre 5,0 e 7,5 milhões de ucranianos. Porém, levando-se em conta os efeitos prolongados dessa política econômica perversa e os ucranianos que foram levados ao trabalho forçado e lá morreram, esse número pode ser superior a 14 milhões.
A Ucrânia foi o país da URSS que mais resistiu às medidas do plano de coletivização imposto por Stalin. A autonomia cultural ucraniana e sua forte identidade nacional tornavam-na intolerável aos soviéticos russos. A insurreição dos camponeses ucranianos contra as medidas de coletivização forçada e a requisição compulsória de cereais obrigou Stalin a impingir medidas ainda mais drásticas do que as executadas em outras regiões.
Stalin traçou uma campanha antiucraniana para demonstrar quão “nociva” era a postura desse país com relação aos anseios comunistas. Inicialmente, deu-se início a uma sistemática humilhação de intelectuais ucranianos, que foram submetidos a julgamentos vexaminosos e ridiculizações diversas. Houve também uma debelação de possíveis focos de organização antissoviética que pudessem irromper a longo prazo. Depois dessas medidas, Stalin passou a atacar o próprio campesinato.
A partir de 1929, deu-se início a uma ferrenha estipulação de metas de produção de cereais, destinados ao poder central soviético, que passaram a ser exigidas dos camponeses da Ucrânia. A rigidez era tão grande que esses camponeses só conseguiriam atender à demanda se deixassem de consumir sua parte do que era produzido, isto é, só se passassem fome, de fato. Tudo passou a ser de propriedade do governo. Muitas pessoas foram presas e condenadas a trabalhos forçados simplesmente por comerem batatas ou colherem espigas de milho para consumo. Progressivamente, a morte foi se acentuando na Ucrânia. Entre 1931 e 1933, o número de mortos era tão grande que os cadáveres se espalhavam pelas ruas e pelos campos. O odor dos corpos apodrecidos dominava regiões inteiras. O historiador Thomas Woods reitera esse fato:
Em 1933, Stalin estipulou uma nova meta de produção e coleta, a ser executada por uma Ucrânia agora à beira da mortandade em massa por causa da fome, que havia começado em março daquele ano. Vou poupar o leitor das descrições mais trágicas do que aconteceu a partir daqui. Mas os cadáveres estavam por todos os lados, e o forte odor da morte pairava pesadamente sobre o ar. Casos de insanidade e até mesmo de canibalismo, estão bem documentados.” (Woods, Thomas. “A Fome na Ucrânia – um dos Maiores Crimes do Estado Foi Esquecido”. Instituto Ludwig Von Mises Brasil.)
Desde 2006, o Holodomor tem sido reconhecido pela Ucrânia independente e muitos outros países como um genocídio do povo ucraniano perpetrado pela União Soviética. É impossível determinar o número exato de vítimas, mas ele aumenta significativamente quando as mortes no densamente povoado Kuban ucraniano são incluídas. Os estudiosos discordam sobre a importância relativa de fatores naturais e más políticas econômicas como causas da escassez absoluta de alimentos mas acreditam que foi um plano a longo prazo de Stalin, uma tentativa de eliminar o movimento de independência ucraniana.
Usar o Holodomor como referência à fome, enfatiza os seus aspectos de “feito pelo homem”, sustentando que ações como a proibição de ajuda externa, o confisco dos mantimentos das residências e a restrição ao movimento da população, conferem intenção, definindo a fome como genocídio e comparando o número de perdas de vidas às do Holocausto. Se as políticas e ações soviéticas estivessem conclusivamente documentadas como pretendendo erradicar a ascensão do nacionalismo ucraniano, elas teriam caído sob a definição legal de genocídio.

Fome na Ucrânia, em 1933
Dado o despreparo do país para enfrentar um ataque conjunto alemão-japonês, era inevitável que a oposição terminasse por questionar sua autoridade sobre o país. Ele passou a agir de forma "preventiva" antes que a oposição ganhasse vulto, explorando a insatisfação contra o Regime. As abjetas confissões a que os velhos revolucionários foram submetidos, tinham por objetivo degradá-los perante a opinião pública - ao mesmo tempo que consagravam Stalin como o único e exclusivo seguidor do Leninismo e da pureza revolucionária. A industrialização acelerada, feita sem nenhum amparo em referências anteriores, fez com que os inevitáveis acidentes e dificuldades fossem apontados como sabotagem contrarrevolucionária. Desta forma eximia-se a facção dirigente das inevitáveis calamidades que uma industrialização galopante traz em seu bojo. O terror passou a exercer uma função pedagógica. As falhas e a incompetência eram punidas com a prisão ou fuzilamento, fazendo com que as eficiências de formação fossem superadas pela dedicação integral ao trabalho. Os processos e fuzilamentos atuavam também como uma espécie de "compensação" psicológica para a massa da população. Apesar dos sofrimentos a que estavam submetidos, pelas condições do trabalho, pela escassez de víveres e de habitação, "consolavam-se" ao ver os privilegiados do regime stalinista pagar com a vida sua indisposição com a facção dirigente. Mas não foram apenas os quadros políticos e técnicos os atingidos pelas grandes purgas. Nem o Exército nem a polícia secreta ficaram imunes: 65% dos oficiais graduados foram executados ou presos e mais de três mil “chekists”[1] foram fuzilados. De certa forma isto foi interpretado como demonstração de fraqueza do Estado Soviético, pois ao eliminarem os quadros da nova intelligentsia militar (pincipalmente o grande estrategista, Marechal Tukaschevski) favoreceram os preparativos belicistas de Hitler. Os resultados internos, no entanto, consagraram o domínio absoluto de Stalin. Uma nova equipe dirigente foi colocada a sua disposição. Duros, eficientes e cruéis, propiciaram uma centralização efetiva do poder. Deve-se observar que o stalinista típico, tinha formação cultural bem inferior à dos membros da Velha Guarda partidária. Poucos conheciam o exterior, ficando suas raízes em solo russo. Ao contrário da elite intelectual dos primeiros tempos, fornida pela alta especulação teórica, os homens de Stalin dominavam o jargão convencional do marxismo. Sua própria situação social era distinta. Excetuando talvez Molotov e Malenkov, seus próximos emergiram da baixa classe média e do operariado, como Kalinin e Kruschev. Foi durante seu período de pleno poder que a Ciência, as Artes e a Literatura tornaram-se adstritas à política. Nenhum ramo do conhecimento atuava à margem dos interesses partidários imediatos, tornando-se instrumento da propaganda oficialista, sob a batuta do Ministro da Cultura Zhadanov. Artistas e historiadores viviam sob a vigilância permanente e seus textos, muitas vezes, eram censurados pelo próprio Stalin (de acordo com a tradição czarista, pois Nicolau I fazia o mesmo com as rimas do grande poeta Puschkin). Mesmo assim, os alcances da instrução massiça atingiram as multidões. 
Documento de Beria sobre assinado por
Stalin para matar 15 mil oficiais polacos
e 10 mil intelectuais na Floresta Katyn.
O terceiro plano quinquenal desenvolveu-se apenas por três anos, de 1938 a 1941, quando a Alemanha invadiu a União Soviética, durante e Segunda Guerra Mundial. À medida que a guerra se aproximava, mais recursos eram lançados no desenvolvimento de armamentos de todas as espécies, bem como na construção de novas fábricas militares a leste dos Montes Urais. Os primeiros dois anos deste terceiro plano foram mais um desapontamento em termos da proclamada produção de objetivos. Contudo, ainda uma taxa relatada de crescimento de 12% a 13% foi atingida na união soviética durante a década de 1930.
Em 23 de agosto de 1939 Stalin firma um pacto de não agressão com a Alemanha hitlerista, conhecido como Pacto Molotov - Ribbentrop, imediatamente antes da invasão alemã na Polônia que disparou o gatilho da 2ª Guerra Mundial na Europa. UM protocolo secreto ao Pacto, resumia um acordo entre Alemanha e União Soviética sobre a divisão dos estados nas fronteiras do leste europeu, entre suas respectivas “esferas de influência”: a União Soviética e a Alemanha repartiriam a Polônia no caso de uma invasão pela Alemanha e a Rússia poderia ocupar os Estados Bálticos e a Finlândia. Como conclusão do pacto, no mês seguinte a União Soviética de Stalin invadiu a Polônia, promovendo a anexação da parte leste do país e deixando o mundo atônito tendo em vista a mútua hostilidade prévia das duas partes e suas ideologias conflitantes. Em março e setembro de 1940, aproveitando o fato de “não estar participando da Segunda Guerra Mundial”, Stalin respectivamente ocupa partes da Finlândia e da Romênia.
Massacre na Floresta Katyn em 1940
Como resultado do pacto, Alemanha e União Soviética mantiveram ralações diplomáticas razoavelmente fortes por dois anos, promovendo importante relação econômica. Em 1940 os dois países assinaram um pacto de comércio pelo qual os soviéticos recebiam equipamento militar e bens de consumo alemão, fornecendo aos alemães matéria prima como óleo e trigo como ajuda para frustrar o bloqueio inglês à Alemanha. A despeito das aparentes relações cordiais ostensivas, cada lado suspeitava fortemente das intenções do outro. Após a formação do Eixo, com Japão e Itália, a Alemanha iniciou negociações para uma potencial entrada da União Soviética no Eixo e após dois dias de negociações em Berlim, de 12 a 14 de novembro de 1940, a Alemanha apresentou uma proposta escrita para a entrada da União Soviética no Eixo. Em 25 de novembro de 1940, a União Soviética ofereceu uma contraproposta por escrito, para unir-se ao eixo, sob a condição de que a Alemanha suspendesse sua interferência sobre a esfera de influência da União Soviética, não respondida pela Alemanha. Como os dois lados começaram a colidir na Europa Oriental, o conflito surgiu como mais provável, embora ainda assinassem um acordo comercial e de fronteiras sobre várias questões, em janeiro de 1941.
Desfile conjunto alemão-soviético em 23/09/1939,
ao final da campanha da Polônia.
Imediatamente antes, durante e logo após a 2ª Guerra mundial, Stalin conduziu uma série de deportações, em tão grande escala a ponto de profundamente afetar o mapa étnico da União Soviética, provavelmente por não confiar em etnias particulares, como os coreanos soviéticos, os alemães do Volga, chechenos e poloneses. Estima-se que entre 1941 e 1949, aproximadamente 3,3 milhões foram deportados para a Sibéria e as repúblicas da Ásia Central. Por algumas estimativas, até 43% da população reassentada morreu de doenças e desnutrição. As razões oficiais mencionadas para as deportações foram o separatismo, a resistência ao mando soviético e a colaboração com os alemães invasores. As circunstâncias individuais dos que passaram algum tempo em territórios ocupados pelos alemães não foram examinadas. Após a breve ocupação nazista do Cáucaso, toda a população de cinco dos pequenos povos das montanhas e os tártaros da Crimeia – no total, mais de um milhão de pessoas – foram deportados sem aviso prévio ou qualquer oportunidade de apanhar suas posses.
Finalmente, em 22 de junho de 1941, a Alemanha declara guerra à URSS, através da “Operação Barba Ruiva”, sem uma declaração oficial de guerra, embora os preparativos bélicos e todos os planos de ataque e de defesa dos dois lados, ao longo de toda a fronteira. Cerca de 03:15 hs de 22 de junho de 1941, as forças do Eixo iniciaram a invasão da União Soviética pelo bombardeio das principais cidades da Polônia ocupadas pelos soviéticos e por uma barragem de artilharia sobre as defesas do Exército Vermelho em toda a frente. Em torno do meio dia a invasão foi transmitida à população pelo Ministro das Relações Exteriores Vyacheslav Molotov: “ .... Sem uma declaração de Guerra, as forças germânicas caíram sobre nosso país, atacaram nossas fronteiras em vários pontos ... O Exército Vermelho e toda a nação travarão uma vitoriosa Guerra Patriótica por nosso amado país, pela honra, pela liberdade ...”. Ao conclamar a devoção da população à Nação e não ao Partido, Molotov tocou uma corda patriótica que ajudou um povo atordoado a absorver notícias perturbadoras. Stalin só se dirigiu à nação, sobre a invasão, no dia 3 de julho e, como Molotov, clamou por uma “Guerra Patriótica” de todo o povo soviético.
Não resta dúvida de que houve êxito na reconstrução do país e na elevação do nível econômico e cultural da população soviética, tornando a URSS, juntamente com os Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), uma das superpotências mundiais, embora a União Soviética tenha tido perdas humanas e materiais que nunca poderão ser comparadas com qualquer dos países que participou da guerra. Com a vitória dos aliados sobre o eixo nazi-fascista (Alemanha, Japão e Itália), a União Soviética, principal oponente da Alemanha na Europa, passou a dispor de enorme prestígio internacional, embora as suas imensas perdas.

[1] Cheka foi a primeira de uma sucessão de organizações de segurança do estado soviético, criada em 20/12/1917, por um decreto de Lenin. Até o final de 1918, centenas de Chekas haviam sido criadas em várias cidades, em múltiplos níveis. Milhares de dissidentes, desertores e outras pessoas foram presas, torturadas e executadas por vários grupos Cheka. Após 1922, grupos Cheka passaram por uma série de reorganizações, com a NKVD, em corpos cujos membros continuaram a ser chamados “Chekistas”, até a década de 1980.

Prossegue na próxima postagem com a PARTE 10