Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sábado, 21 de outubro de 2017

A HISTÓRIA DO IMPÉRIO PERSA (IRÃ) - Parte 2

III – ANTIGUIDADE CLÁSSICA


III.1 – IMPÉRIOS MEDO E AQUEMÊNIDA (650-330 AC)

Os medos fixaram-se no norte do Planalto Iraniano, em Ecbátana (atual Hamadã, a 400 km a sudoeste de Teerã), e os persas, até então nômades, estabeleceram-se ao sul, em Parsa (atual província iraniana de Fars), na cidade de Anshan, onde Teispes (que reinou entre cerca de 675-640 AC), filho de Aquêmenes (semi-lendário, com reinado entre 700-675 AC), teria fundado um novo reino, intitulando-se “rei da cidade de Anshan”, primeiro passo do Império Aquemênida. Sucederam a Teispes, Ciro I e Cambises I. Este último casou-se com a neta do líder medo Ciáxares e foi pai de Ciro II, conhecido como o Grande. O reino de Anshan, tributário dos medos, continuou a usar o elamita como idioma oficial por algum tempo, embora a dinastia governante falasse persa, uma língua indo-européia. A posterior expansão do reino da cidade de Anshan resultaria na criação do Império Persa.
Império Neo-Assírio e suas expansões
Em 646 AC, o rei assírio Assurbanipal saqueou Susa (essa e as cidades que seguem podem ser vistas no mapa do Império Neo-Assírio), acabando com a supremacia elamita na região. Por mais de 150 anos os reis assírios do norte da Mesopotâmia estavam procurando conquistar as tribos medas do Irã ocidental, com tal pressão apenas causando a união dos pequenos reinos dessa região em estados cada vez maiores e mais centralizados. Na segunda metade do século VII AC, os medos ganharam sua independência e foram unidos por Deioces.
Império Meda (Região da Média), 678 a 549 AC
Durante anos dominadas pelos citas e pelos assírios, as tribos medas, unificadas por Ciáxares (neto de Deioces) e apoiados por Nabopolassar, rei da Babilônia, invadiram a Assíria e conquistaram Nínive, capital da Assíria, destruindo-a em 612 AC, levando à queda do Império Neo-Assírio. Urartu foi também, posteriormente, conquistado e dissolvido pelos medos. Após a derrota definitiva dos assírios em 610 AC, os medos ocuparam território no que é hoje o Irã, bem como na Ásia Menor, na Anatólia e na Lídia.
Ciro II, o Grande, rei da Pérsia,
da dinastia Aquemênida
Aos medos é creditada a fundação do Irã como nação e império, bem como o estabelecimento do primeiro Império Iraniano, o maior de seu tempo, até que Ciro II, o Grande, de origem persa, em 550 AC derrotou os medos e tomou o trono, estabelecendo um império unificado dos Medos e Persas, que conduziu ao Império Aquemênida (550 a 330 AC), ou Primeiro Império Persa, com sua capital em Pasárgada. Na verdade, medos e persas pertenciam à mesma raça iraniana e suas línguas eram quase idênticas, de forma que a ascensão de Ciro pode ser vista como uma revolução interna que não afetou o Império. Senhor dos territórios anteriormente sujeitos ao Império Medo, Ciro II tomou a antiga capital elamita de Susa, para onde foi transferida a capital persa. Em seguida, os persas conquistam a Lídia (contra quem os medos lutavam há décadas), a Jônia, a Cária, a Lícia e a Babilônia, após derrotar o Rei Nabonido em 538 AC. Sucedendo seu pai Ciro II, Cambises II conquistou, em vinte anos, por meio de força militar e de uma política liberal para com os povos submetidos, um Império que se estendia do Mediterrâneo ao Indo e que incluía o Egito (causando o colapso da 26ª Dinastia do Egito), muito maior que o da Assíria. Cambises II adoeceu e morreu antes ou quando deixava o Egito e conforme relata Heródoto, ele foi abatido por sua forte irreverência contra as deidades egípcias.
Cambises II, o rei persa liberal
Durante o período aquemênida, o Zoroastrismo, fundado por Zoroastro (Zaratustra), tornou-se a religião dos governantes e da maior parte dos povos da Pérsia. O Zoroastrismo enfatizava uma luta dualista entre o bem e o mal, e uma batalha final vindoura. O zoroastrismo e seus líderes místicos, os magi (singular mago), viriam a ser um elemento definidor da cultura persa.
Dario I, o rei persa do auge do
Império Aquemênida
Dario I reivindicou a sucessão por uma linha colateral do Império Aquemênida. A primeira capital de Dario I foi em Susa e seu programa de construção foi iniciado em Persépolis. Ele reconstruiu um canal entre o rio Nilo e o Mar Vermelho, um precursor do moderno Canal de Suez. Melhorou o extenso sistema de estradas e durante o seu reinado foi pela primeira vez mencionada a Estrada Real, uma grande estrada para ligar o seu extenso império, estendendo-se de Susa a Sardes (Turquia, às margens do Mediterrâneo), com estações de correio a intervalos regulares. As estradas também se destinavam ao comércio do Egito e da Europa com a Índia e a China, do qual a Pérsia se beneficiou grandemente. A cunhagem, na forma do Daric (moeda de ouro) e o Shekel (moeda de prata) foi padronizada, já que a cunhagem havia sido inventada mais de um século antes, na Lídia; a eficiência administrativa foi aumentada. Sob Dario I, o Império Persa Aquemênida acabou por tornar-se o maior e mais poderoso Estado que o mundo havia visto até então, quando reinou e administrou a maior parte do mundo então conhecido, além de estender-se pelos três continentes, Europa, Ásia e África. Dario dividiu o reino em cerca de vinte satrapias (províncias), supervisionadas por governadores (sátrapas). Também instituiu um sistema tributário para cobrar impostos de cada província, ampliou o sistema postal dos assírios e adotou o uso de agentes secretos (conhecidos como os Olhos e Ouvidos do Rei). A antiga língua persa aparece em inscrições reais, numa versão especialmente adaptada da escrita cuneiforme[1]. Sua maior realização foi o próprio império, que representou a primeira superpotência mundial baseada num modelo de tolerância e respeito por outras culturas e religiões. 
Império Persa cerca de 490 AC
Ao final do século VI AC, Dario I lançou sua campanha europeia, durante a qual derrotou os peonianos[2], conquistou a Trácia[3] e subjugou todas as cidades gregas costeiras, derrotando a Cítia Europeia[4] em torno do rio Danúbio. Em 512/511 AC, a Macedônia, sob Felipe I, tornou-se um reino vassalo da Pérsia.
Em 499 AC, Atenas cedeu apoio a uma revolta em Mileto[5] que resultou no saque de Sardes, conduzindo a uma campanha Aquemênida contra a Grécia continental, que ficou conhecida como as Guerras Grego-Persas (ou Guerras Médicas) e durou até a primeira metade do século V AC, uma das guerras mais importantes da história da Europa. Na primeira invasão persa, o general persa Mardonius reconquistou a Trácia e tornou a Macedônia totalmente integrada à Pérsia, embora ao final a guerra tenha se transformado em derrota. 
Relevo em rocha de Xerxes I
em sua tumba
O sucessor de Dario I foi Xerxes I e, como seu antecessor, governou o Império no seu auge territorial, de 486 AC até o seu assassinato em 465 AC, pelas mãos de Artabano, o comandante da sua guarda pessoal. Lançou a segunda invasão persa da Grécia, em 480 AC e em dado momento cerca de metade da Grécia continental havia sido conquistada pelos persas, incluindo todos os territórios ao norte do Istmo de Corinto (que liga o Peloponeso, extensa península ao sul da Grécia, à Grécia continental); contudo tal situação logo foi revertida para uma vitória grega, após as batalhas de Plataea e Salamis, quando a Pérsia perdeu sua base de operações na Europa, acabando por retirar-se dela. Pertence a esta invasão o famoso episódio histórico da Batalha das Termópilas, quando uma pequena força de espartanos comandada por um rei de Esparta, Leônidas, resistiu por três dias a um grande exército persa, embora fosse ao final derrotada. Durante as Guerras Grego-Persas, a Pérsia teve grandes vantagens territoriais e destruiu Atenas, em 480 AC. Contudo, após uma sequência de vitórias gregas, os persas foram forçados a retirar, assim perdendo o controle da Macedônia, Trácia e Jônia (região da costa sudoeste da Anatólia, hoje na Turquia, banhada pelo Mar Egeu). A luta continuou por várias décadas após os gregos terem repelido com sucesso a Segunda Invasão, com numerosas cidades-estados gregas sob a recém-formada Liga de Delos (com sua sede na cidade de Delos) e que finalmente terminou com a paz de Callias em 449 AC e término das Guerras Grego-Persas. Xerxes também esmagou revoltas no Egito e na Babilônia logo após assumir o império.
Ruínas do Palácio de Artaxerxes I, em Persépolis
Artaxerxes I, terceiro filho de Xerxes I, sucedeu a seu pai como o quinto Rei da Pérsia, reinando entre 465AC e 424 AC e durante o seu reinado foi assinada a paz de Callias, em 449AC. Seu sucessor foi seu filho Xerxes II que, após um reinado de quarenta e cinco dias, foi assassinado em 424 AC por seu irmão ilegítimo Sogdianus, figura histórica obscura que foi, por seu turno, assassinado por outro irmão ilegítimo, Dario II.
Os historiadores pouco sabem do reinado de Dario II. Enfrentou uma rebelião dos medos em 409 AC e parece ter sido muito dependente de sua esposa Parysatis. Enquanto o poder de Atenas permaneceu intacto, ele não se envolveu nos negócios gregos. Em 413 AC Atenas apoiou o rebelde Amorges, na Caria (região no sudoeste da Anatólia), e Dario II não teria interferido se, no mesmo ano, o poder ateniense não tivesse sido rompido em Siracusa (cidade histórica na região sudeste da ilha da Sicília, Itália). Como resultado do evento, Dario II deu ordem a seus sátrapas na Ásia Menor, para iniciar uma guerra contra Atenas, o que os persas efetivaram através de uma aliança com Esparta. Para maior efetividade, em 408 Dario II enviou para a Ásia menor seu filho Ciro. Dario II morreu em 404 AC, no nono ano do seu reinado, sendo sucedido como rei da Pérsia por Artaxerxes II, seu filho.
Dario II morreu logo antes da vitória final do general egípcio Amirteu, sobre os persas, em revolta do Egito. Os faraós seguintes resistiram às tentativas persas, até 343 AC, quando foi finalmente reconquistado por Artaxerxes III.
O filho mais velho de Dario II, Arsames, foi coroado como Artaxerxes II e ainda antes da coroação enfrentava oposição de seu irmão mais jovem Ciro. Este havia conseguido pacificar as rebeliões locais na Ásia Menor, tornando-se líder popular entre iranianos e gregos. Sabedor da doença de seu pai, Ciro reuniu apoio dos gregos locais e mercenários e marchou para a Babilônia, inicialmente declarando sua intenção de esmagar os exércitos revoltosos na Síria. Ao saber da morte de Dario II, Ciro declarou sua reivindicação ao trono, baseado no argumento de que ele era nascido de Dario e Parysatis, após Dario ter ascendido ao trono, ao passo que Artaxerxes nascera antes de Dario II assumir o trono. Artaxerxes II defendeu sua posição contra Ciro que, com ajuda de imenso exército tentava usurpar o seu direito. Embora Ciro tenha obtido uma vitória tática na Batalha de Cunaxa, na Babilônia (401 AC), foi morto durante a batalha, tornando a vitória irrelevante.
Artaxerxes III, de seu túmulo em Persépolis
Artaxerxes III, filho e sucessor de Artaxerxes II, reinou entre 358 e 338 AC como o Grande Rei (Xá) da Pérsia e o 11º do Império Aquemênida, bem como o 1º Faraó da 31ª dinastia do Egito. Logo após tornar-se rei, Artaxerxes III assassinou toda a família real para garantir seu lugar como rei. Iniciou duas campanhas contra o Egito. Falhou na primeira delas que foi seguida por rebeliões em todo o oeste do Império. Em 343 AC, Artaxerxes III derrotou Nectanebo II, o Faraó do Egito. Nos últimos anos de Artaxerxes, o poder de Felipe II da Macedônia, pai de Alexandre Magno, crescia na Grécia, onde ele tentava convencer os gregos a se revoltarem contra a Pérsia Aquemênida. A isso se opôs Artaxerxes III e com sua ajuda a cidade de Perinthus (ao lado da moderna Istambul) resistiu a um cerco macedônio. Há evidências de uma renovada política de construção em Persépolis, ao final de sua vida, onde Artaxerxes III erigiu um novo palácio e sua tumba, iniciando projetos de longo prazo, tais como o Portão Inacabado. Segundo uma placa cuneiforme, hoje no Museu Britânico, Artaxerxes teria morrido de causas naturais.
Felipe II da Macedônia
Artaxerxes IV, o filho mais jovem de Artaxerxes III, foi rei da Pérsia entre 338 e 336 AC. Foi um rei marionete de Bagoas, um poderoso vizir da Pérsia que poderia ter assassinado seu pai e que, de fato, exercia o poder atrás do trono. Bagoas acabou por envenenar Artaxerxes IV, levando ao trono um seu primo, como Dario III da Pérsia. Uma grande preocupação da Pérsia durante o seu curto reinado foram as hostilidades das fronteiras ocidentais com a Macedônia, sob os reis Felipe II, inicialmente, e Alexandre o Grande, posteriormente. Tais eventos se transformaram na guerra de conquista de Alexandre durante o reinado do sucessor de Artaxerxes III, Dario III.
Dario III, último rei do Império Aquemênida
Após as tentativas frustradas para conquistar a Grécia, o império aquemênida começou a declinar. Décadas de golpes, revoltas e assassinatos enfraqueceram o poder dos aquemênidas. Dario III, originalmente chamado Artashata, foi o último rei do Império Aquemênida da Pérsia, de 336 a 330 AC. Seu reinado foi instável, com grandes áreas governadas por sátrapas ciumentos e não confiáveis, habitado por súditos sem afeto e revoltosos. Em 334 AC, Alexandre, o Grande, iniciou sua invasão do Império Persa. Em 333 AC, os persas já não tinham mais força para suportar a avalanche de ataques de Alexandre, o Grande, que derrotou os persas em várias batalhas antes de saquear e destruir a capital Persépolis, incendiada em 331 AC. Com o Império Persa agora efetivamente sob o seu controle, Alexandre decidiu perseguir Dario III. Em 330 AC, antes de Alexandre captura-lo, Dario III, o último rei Aquemênida foi assassinado pelo sátrapa Bessus (que era também seu primo), com o primeiro Império Persa caindo em mãos dos gregos e macedônios. 


[1] A escrita cuneiforme foi um dos primeiros sistemas de escrita, inventado pelos sumérios. Distinguiu-se por suas marcas em forma de cunha em tabletes de argila, feitas por meio de um bambú rombudo a funcionar como estilete.
[2] A Peônia, terra e reino dos peonianos, tem localização obscura, mas tudo indica que corresponderia à atual República da Macedônia e a uma estreita faixa do norte da Macedônia Grega, nos limites com a República da Macedônia e uma pequena parte do sudoeste da Bulgária.
[3] A Trácia é uma área geográfica e histórica no sudeste da Europa, agora dividida entre a Bulgária, Grécia e Turquia, limitada pelos Balcãs ao norte, o mar Egeu ao sul e o mar Negro ao leste. Compreende o sudeste da Bulgária, o nordeste da Grécia e a parte europeia da Turquia.
[4] A Cítia era uma região da Eurásia Central na antiguidade clássica que incluía partes da Europa Oriental, a leste do rio Vístula, e Ásia Central, com as margens orientais vagamente definidas pelos gregos, que davam este nome a todas as terras do nordeste da Europa e a costa norte do Mar Negro.
[5] Mileto era uma antiga cidade grega na costa oeste da Anatólia (atual Turquia), próxima da foz do rio Maeander na antiga região da Cária. Antes da invasão persa, Mileto era considerada a maior e mais rica das cidades gregas. Suas ruínas estão localizadas próximas da moderna vila de Balat, na província de Aydin, Turquia.

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