Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

BILITIS


INTRODUÇÃO

O objetivo da postagem é a canção intitulada “Bilitis”, mais uma das minhas grandes preferidas. Entretanto, como se trata de trilha sonora de um filme, que por sua vez foi baseado num livro, sou obrigado, para bem informar o leitor, a abordar as três matérias.
Não sei se já escrevi em alguma de minhas postagens, mas li, em alguma publicação que tratava de música clássica, que se os grandes compositores clássicos fossem vivos, eles comporiam trilhas sonoras para cinema. Nunca esqueci disso e conheci muitas músicas lindas, que realmente me tocavam, que foram especificamente criadas para o cinema. Esta é apenas mais uma delas.

O FILME

O filme “Bilitis”, de 1977, é um drama romântico e erótico francês, dirigido pelo fotógrafo David Hamilton, com trilha sonora do mais que mundialmente conhecido Francis Lai, autor de, entre outras, “Love Story”, “Un Homme et une Femme” e “Vivre pour vivre”. São estrelas do filme, Patricia (Patti) D’Arbanville e Mona Kristensen, repectivamente nos papeis título Bilitis e Melissa.
No enredo, uma estudante adolescente (Bilitis) é aluna de uma escola só para meninas que está prestes a iniciar a interrupção para as férias de verão. Durante essas férias, Bilitis vê-se às voltas com sua sexualidade em desenvolvimento e inicia um relacionamento com um casal cujo casamento é já inamistoso, desenvolvendo uma intensa paixão lésbica pela esposa, sua guardiã. Ao mesmo tempo ela busca relações amorosas com um adolescente local (Lucas) e procura encontrar um adequado amante masculino para a esposa.
Embora “Bilitis” possa ser descrito como um filme com personagens que estão por atingir a idade adulta, a personagem do título, Bilitis, acaba por retornar à escola ao final do filme, percebendo que ainda não está pronta para tornar-se adulta.
Esse filme de 1977, é uma versão a cores do mesmo filme feito na França em 1959 que está, há muitos anos, sem possibilidades de cópia.
O filme é livremente baseado num livro de poemas de Pierre Louÿs, chamado “As Canções de Bilitis” (Les Chansons de Bilitis), encenado na antiga Grécia, embora o filme aconteça na moderna Europa.

O LIVRO

Ilustração de George Barbier para o
livro "Les Chansons de Bilitis" 
O livro “As Canções de Bilitis” (Les Chansons de Bilitis) é uma coleção de poemas eróticos, essencialmente lésbicos, pelo poeta francês Pierre Louÿs, publicado em Paris em 1894. Propositalmente, Louÿs alegou que havia traduzido a poesia original do grego antigo quando, na verdade, os poemas foram inteligentes fábulas criadas por ele mesmo e são, ainda hoje, considerados importante literatura.
Pierre Louÿs, nascido Pierre Félix Louis, foi um poeta e escritor francês, nascido em 10 de dezembro de 1870, em Ghent, Bélgica, mas relocado para França onde viveu o resto da sua vida, principalmente renomado por temas lésbicos e clássicos em alguns dos seus escritos. Conhecido como o escritor que procurou “expressar a sensualidade pagã com perfeição estilística”, foi inicialmente feito Cavaleiro e então Oficial da Legião de Honra, por suas contribuições à literatura francesa.
Estudou na École Alsacienne, em Paris, onde desenvolveu uma boa amizade com o futuro vencedor do Prêmio Nobel e campeão dos direitos homosexuais, André Gide. A partir de 1890 passou a escrever seu nome como “Louÿs” como forma de expressar seu apego à cultura grega clássica (a letra “Y”, em francês, é chamada de “i grega”). Durante os anos 1890’s tornou-se amigo do dramaturgo irlandês homosexual Oscar Wilde e foi o dedicado da edição francesa do “Salomé” de Oscar Wilde. Outro importante amigo de Louÿs, o compositor clássico Claude Debussy, compôs uma adaptação musical de três dos poemas de seu “Chansons de Bilitis” para voz e piano, entre 1897 e 1898. 

Retrato de Pierre Louÿs
Os poemas seguem o estilo de Sappho [1] e a introdução da coletânea alega que os poemas foram encontrados nas paredes de uma tumba em Chipre, escritos por uma mulher da Grécia antiga, chamada Bilitis. Era uma cortesã contemporânea de Sappho, a quem Louÿs, para emprestar credibilidade à falsificação, dedica uma pequena seção do livro, chamada “A Vida de Bilitis”, creditando a um arqueólogo alemão ficcional a descoberta da tumba de Bilitis. Quando de sua publicação, o livro iludiu até mesmo grandes estudiosos do assunto.

A MÚSICA

A música conhecida por “Bilitis” é, na verdade, uma das composições da maravilhosa trilha sonora do filme, chamada “Générique”, toda composta por Francis Lai, um dos mais importantes compositores de trilhas sonoras do mundo.
Fotografia de Francis Lai em 1972
Francis Albert Lai foi um compositor francês, de Nice, nascido em 26 de abril de 1932, exaltado por suas trilhas sonoras para o cinema. Filho de jardineiros que plantavam para venda de mercado, desde tenra idade foi fascinado pela música, inicialmente tocando em suas orquestras regionais. Em Marseille ele descobriu o jazz e se encontrou com Claude Goaty, um cantor de canções populares dos anos 1950’. Em seus vinte anos, Lai deixou o seu lar acompanhando Goaty a Paris, onde tornou-se parte do vivo cenário musical de Montmartre. Com Bernard Dimey escreveu sua primeira composição, numa parceria que renderia mais de cem músicas. Após um curto período com a orquestra de Michel Magne, tornou-se um acompanhador para Édith Piaf, para quem também acabaria compondo.
Em 1965 ele conheceu o diretor Claude Lelouch e foi contratado para a trilha sonora para o filme “Um Homme et une Femme” (Um Homem e uma Mulher), liberado em 1966, um sucesso internacional que lhe rendeu uma indicação para “Melhor Trilha Sonora Original”. Continuou a trabalhar com Lelouch em trilhas sonoras de filmes como “Vivre pour Vivre” (1967), “Un Homme qui me plait” (1969), “Le Voyou” (1970), “O Passageiro da Chuva” (1970) e “La Bonne Anné” (1973), para citar alguns. Em 1970, ainda, Lai venceu o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original e o Globo de Ouro para o filme “Love Story”. Em 1975 compôs a trilha sonora de “Emmanuelle” e em 1977 para “Bilitis. Numa carreira que durou mais de 40 anos, Lai também escreveu música para programas de TV e em colaboração com outros, compôs música para mais de cem filmes, pessoalmente escrevendo mais de 600 canções.
Francis Lai morreu em 7 de novembro de 2018, com a idade de 86 anos.
Há um álbum com a trilha sonora completa do filme, chamado “Bilitis – Música por Francis Lai”, que nos agracia com todas as partes que a compõem e nos permite observar que a melodia de “Bilitis” (Générique), como geralmente acontece, permeia várias das suas componentes.
Existem algumas versões diferentes de Bilitis, e eu gostaria de apresentar três delas, que considero indispensáveis à nossa postagem. Procurei muito e não encontrei qualquer versão letrada; creio mesmo que, em se tratando de trilha sonora e de um filme com tal história, seja natural que Francis Lai a tenha composto, propositalmente, sem letra.
Por questão de mérito, gostaria que a primeira delas fosse a “Bilitis” (Générique) que abre a trilha sonora original do filme, primeira música do álbum com a trilha sonora completa do filme, “Générique (de Bilitis)”.
Considerando que a composição não tenha letra, gostaria de apresentar a versão, não cantada, mas murmurada, por uma das minhas cantoras favoritas, Sarah Brightman. É uma inovação que vale à pena degustar.
E a terceira versão que eu gostaria de apresentar, para o deleite dos leitores, é a gravação com a orquestra de Franck Pourcel, mundialmente conhecida e uma das minhas preferidas.
Espero que os leitores apreciem a música escolhida para esta postagem, mais uma composição de Francis Lai, com toda a delicadeza que o filme exigiria.


[1] Sappho foi um poeta grego antigo de Eresos ou Mytilene, na ilha de Lesbos, conhecido por sua poesia lírica, escrita para ser cantada acompanhada por música. Nos tempos antigos, Sappho foi amplamente visto como um dos maiores poetas líricos.

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