Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

domingo, 2 de outubro de 2011

MIKHAIL BAKUNIN E O ANARQUISMO (Parte 5)

V - CONCLUSÃO

O Anarquismo, como muitos outros “ismos” que andam por aí, é um conceito absolutamente teórico. Ninguém pode conceber uma sociedade organizada, com ordem, sem algum tipo de coerção que poderá ser, por exemplo, um conjunto de normas, regulamentos, leis etc... que, uma vez criadas, tenderão a ser descumpridas, eventualmente. Nesse caso, obrigatoriamente, alguém (ou alguns) terá que ser responsável pelo manutenção dessas normas e surgirá, obrigatoriamente, a coerção. Quem duvidar disso, que procure, para começar, viver num condomínio – vertical ou horizontal – onde haja, pelo menos uma pessoa ou família mal educada, que resolva fazer, dentro do condomínio, tudo aquilo que lhe der vontade de fazer sem respeitar os direitos dos demais ou, ainda mais simples, onde todos procurem agir de maneira idêntica, fazendo tudo o que lhes aprouver, e verão, muito rapidamente, aonde tal procedimento conduzirá a convivência dentro deste condomínio. Mesmo considerando o mais puro conceito, ele jamais poderá deixar de ser teórico. Afirmar que se pode educar um povo ou o mundo de modo a fazê-lo praticar o Anarquismo, é uma utopia muito maior do que tentar educar o mesmo povo ou o mundo, para praticar a democracia e o capitalismo honesto e sem ganância. Pelo menos para esta "humanidade", tal como ela foi criada. Como mostrado acima, a grande dificuldade reside exatamente na consolidação dos ideais anarquistas, totalmente inviável na prática, que jamais poderá prescindir das questões referentes ao determinismo da natureza humana.
Vejam que nos meios anarquistas, de forma geral, rejeita-se a hipótese de que o governo ou o Estado sejam necessários ou mesmo inevitáveis para a sociedade humana. Segundo eles, os grupos humanos seriam naturalmente capazes de se auto organizarem de forma igualitária e não-hierárquica, mediante os progressos originados pela educação libertária. Imediatamente meu pensamento volta-se ao Brasil em que vivemos hoje e eu me pergunto se uma utopia dessas seria aqui possível. Com a necessidade de um chão a ser varrido, quem o varreria? E quem mandaria varrer? Ou todos mandariam? Ou todos varreriam? Ou ninguém varreria? E com relação às atividades mais nobres, quais seriam os procedimentos? E para aquelas que necessitassem inteligências mais expeditas? Em quanto tempo essa suposta educação libertária seria adquirida de forma a proporcionar bons resultados, se no Brasil, por exemplo, não se consegue nem proporcionar a educação fundamental aos seus cidadãos?
Ainda, o Anarquismo sustenta que a presença de hierarquias baseadas na força, ao invés de contribuírem para a organização social, antes a corrompem, por inibirem essa capacidade inata de auto-organização e por dar origem à desigualdade. Mas as hierarquias não necessariamente devem ser baseadas na força, embora a natureza assim o tenha determinado, tanto no reino animal quanto nos primórdios da humanidade, pela simples razão de que essa é a ordem natural das coisas. Racionalmente, essas hierarquias, naturalmente, deveriam ser formadas pelos mais capacitados, física ou intelectualmente, não há como se opor a isso. A capacidade inata de auto organização, que sempre existiu, na teoria, é permanentemente questionada quanto à sua aplicação prática, porque sempre ditada, definida ou determinada pela ação dos mais capazes, sempre que a primeira discussão sobre a forma mais correta de organização surge.
É sempre muito interessante que nos fixemos sobre o conceito de “liberdade” tal como emitido pelos libertários – mas não apenas por eles. Por exemplo, quando os anarquistas libertários dizem que, para a encarnação da Liberdade, é necessária a erradicação completa de qualquer forma de autoridade – enquanto houver autoridade não haverá liberdade! -, eu fico imaginando como seria possível ter-se algo desse tipo num país como o nosso, onde a maioria do povo não possui consciência nem tampouco cultura para respeitar, nem ao menos, os sinais de tráfego e as regras mínimas de conduta! O que imaginariam os anarquistas liberais? Que bastaria avisar ao público usuário, de uma determinada rodovia, que a velocidade limite era de 80 km/h e todo o povo obedeceria incontinenti? O povo age assim hoje? Mas atenção à palavra usada: “obedecer”. Não seria ela muito pesada? Não estaria cerceando a sua liberdade total? Obedeceriam todos? Alguém não obedeceria? O simples fato de uma pessoa não poder desobedecer, implica cerceamento de sua liberdade. Além disso, alguma autoridade deveria existir para dizer que esse alguém não estava seguindo a regra estabelecida. E punir esse alguém. E autoridade é uma forma de poder. Isto é apenas um exemplo muito simples de que é impossível o conceito de liberdade total. Ou seja, novamente, a teoria é muito bonita, como se fosse possível a liberdade total para alguns sem ferir a liberdade de outros tantos!!! O que me faz lembrar e invocar os versos da nossa poetisa Cecília Meireles:

"...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."


Ao final de tudo, como vemos claramente, o anarquismo, sem precisarmos entrar no mérito de ser bom ou mau, mostrou ser de um teorismo absoluto que, como não poderia deixar de ser, resultou em ... nada! O movimento terminou por completo e muita gente boa e inteligente sacrificou-se por nada, ou seja, sacrificou-se apenas, por nada. A mim configura um completo absurdo, um desperdício de energia e de vidas, como de fato aconteceu; e, o pior de tudo, um tempo que poderia ter sido utilizado de alguma forma muito mais produtiva, até para aqueles que participavam das ideias originais. Existem heróis e heróis. Heróis que se sacrificam inutilmente, sem um objetivo definido, não são heróis, são tolos. É insensato lutar por causas que sabe-se, a priori, são impossíveis de serem atingidas, como foi o caso do Anarquismo e muitos outros “ismos” que ainda existem por aí. São causas perdidas em sua origem, por que vão contra a natureza humana; e os seus idealizadores e seguidores são, das duas uma: ou muito ingênuos, o que custo a acreditar, ou, embora propagando uma teoria correta – embora impossível – estejam buscando, ao final de tudo, lucros ou benefícios pessoais e aí, mostram-se, novamente, iguais a tudo e a todos a quem condenam. E em qualquer dos casos, surgirá sempre, e novamente, a tão falada figura dos “inocentes úteis”, a servirem de “bucha para canhão”.
Com relação ao homem Bakunin, tenho sempre uma teoria sobre os revolucionários (que pregam ou lideram revoluções, quaisquer transformações violentas da forma de um governo), terroristas (adeptos do terrorismo, forma de ação política que combate o poder estabelecido mediante o emprego da violência) e outros, em geral. A biografia de Bakunin, propositalmente longa, mais uma vez comprova essa minha teoria de que há uma constante em todos os revolucionários, de qualquer origem: as revoltas internas enfrentadas na juventude, brigas domésticas ou externas, mal aceitas pelas mentes mais geniosas, acontecimentos violentos em que o pai, a mãe, ou ambos, foram protagonistas, tragédias em que, de forma direta ou indiretamente, esteve envolvido ou presenciou e, como personalidade mais fraca ou problemática não conseguiu absorver, e o encontro com as companhias de ideologias diversas das vigentes ou aceitas no momento, na hora certa. Ou errada. Todas essas possibilidades podem ocasionar em algumas pessoas, uma revolta interna que, na primeira oportunidade elas irão exteriorizar, transformando-as em revolucionários potenciais.Tive, ao longo de minha vida, numerosos exemplos, alguns muito próximos que sempre confirmaram essa regra. Ainda não encontrei uma exceção. Naturalmente que estou falando dos revolucionários realmente assumidos e não dos aproveitadores e oportunistas que, sem o serem de fato, apenas utilizam as ocasiões que se apresentam, com objetivos nada nobres. É preciso também considerar o fator juventude, como muito importante. É característica dos jovens, o ímpeto revolucionário como ferramenta mais efetiva para a solução das questões políticas e/ou sociais, que os mais maduros já sabem não ser o mais efetivo e preferam usar a política como arma alternativa. Não é à toa que o eminente jornalista e político brasileiro, Carlos Lacerda, a esse respeito teria dito uma vez:

“Quem não foi comunista aos dezoito anos, não teve juventude; quem é depois dos trinta não tem juízo".

Possivelmente porque fora um comunista em sua juventude, mas inteligente bastante para ver que trilhava a estrada errada. Eu não fui comunista na minha mocidade (nem tampouco depois dos trinta anos) e tive uma juventude maravilhosa, mesmo que sem qualquer sobra de recursos financeiros. Infelizmente, já não podemos dizer o mesmo do nosso personagem Bakunin, que enfrentou, em sua própria juventude, muitos dos fatores acima mencionados e, aparentemente, não foi suficientemente inteligente para mudar os rumos dos seus ideais; persistiu nos seus erros e desperdiçou uma vida que poderia ter sido preciosa, se acertadamente colocada a serviço do seu país e das nações europeias onde viveu e trabalhou.

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