Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O SONHO DE OLWEN

INTRODUÇÃO
Nunca fiz qualquer segredo do meu amor pelo piano e da minha leve “frustração” – sem traumas – por não ter realmente aprendido a executá-lo. O amor pelo piano vem da minha avó Julieta e da minha tia Ione, sua filha, pianista concertista que a sucedeu. Com ela tive aulas de piano enquanto criança e algumas adicionais, depois de adulto; entretanto, por minhas atividades profissionais, na busca do “pão nosso de cada dia” nunca pude, realmente, dedicar-me a ele como gostaria de ter-me dedicado.
Há um ano atrás, buscando alguma música na net, acabei descobrindo uma melodia maravilhosa, composta para piano, e tive aquela sensação de que já a havia escutado, no passado, sem saber onde nem quando. A música é maravilhosa e incorpora, na sua composição, não por acidente, o mistério que bem traduz o clima que o filme deveria proporcionar por seu enredo. E, claro, muito piano ....

Coloquei-me na pesquisa e descobri que a música, chamada “The Dream of Olwen” - em português “O Sonho de Olwen” -, composta por Charles Williams, constituiu o tema musical de um filme britânico, chamado “While I Live”.
Folheto de Apresentação de "While I Live"
O filme, cujo título em português é “Enquanto eu viver” –, é uma produção britânica de 1947, dirigido por John Harlow, produzido por Edward Dryhurst e escrito por Doreen Montgomery. Este filme acabou sendo melhor lembrado por seu tema musical “The Dream of Olwen”, composto por Charles Williams, tocado várias vezes durante todo o filme, que tornou-se enormemente popular no seu tempo e ainda é executado regularmente. O próprio filme tornou-se amplamente conhecido como “The Dream of Olwen”. A versão que apresentamos aqui, espero que para deleite dos nossos leitores, é a execução de Russ Conway ao piano, sobre quem escreveremos algumas linhas abaixo.
Nos papéis principais atuaram os atores Audrey Fildes (Olwen), Sonia Dresdel (Julia), Carol Raye (Sally Grant) e Tom Walls (Nehemiah).
John Harlow foi um diretor inglês, não muito conhecido, principalmente do público brasileiro, ativo de 1930 até o final da década de 1950. Trabalhou para estúdios menores, principalmente em filmes de crime e suspense e seus filmes mais conhecidos incluem “Candles at Nine” (1944), “Meet Sexton Blake” (1945), “The Echo Murders” (1945) e o drama “While I Live”.
Os artistas não são conhecidos do público brasileiro por serem mais antigos e porque os filmes britânicos nunca tiveram muita penetração entre nós.

O ENREDO


A região da Cornwall, a sudoeste da Inglaterra, em rosa.
Em 1922, na Cornwall – Cornualha, em português – uma prodigiosa jovem pianista e compositora, Olwen Trevelyan (Audrey Fildes), debate-se na conclusão de um poema sinfônico para piano que está compondo. Impulsionada a completar a peça por sua dominadora irmã mais velha Julia (Sonia Dresdel), Olwen torna-se agitada e desesperada e uma certa noite, numa crise de sonambulismo, encaminha-se para a borda de um penhasco próximo de sua casa. Julia a segue, chamando por ela e Olwen, bruscamente despertada, perde o equilíbrio e cai para a morte nas rochas embaixo do precipício.
Julia não supera o episódio da morte de Olwen e a culpa de sua própria participação no evento durante os anos que passam, tornando-se uma figura obsessiva cuja principal razão de viver é manter viva a memória de Olwen. A composição final de Olwen ganha o seu reconhecimento póstumo e a cada ano, no aniversário de sua morte, ela é transmitida pelo rádio.
No vigésimo quinto aniversário da morte de Olwen, Julia está escutando a execução da sinfonia pelo rádio quando ouve uma frenética batida à porta e a abre para permitir a entrada da jovem Sally Grant (Carol Raye) que encaminha-se diretamente ao piano e inicia, com destreza, a executar a composição junto com a transmissão pelo rádio. A jovem alega ter perdido a memória e não ter ideia de quem seja ou como ter chegado à casa isolada, embora pareça ter uma certa familiaridade com os arredores e com a história da família Trevelyan. Chocada por sua semelhança com Olwen, Julia lhe oferece refúgio e, também percebendo traços comportamentais que lembram Olwen, se convence que a mulher é a reencarnação de sua irmã morta. Nehemiah (Tom Walls), um habitante local a quem se atribui poderes de cura pela fé e que também alega ser vidente, se envolve e a história gradativamente se repete, culminando com a presença precária da jovem sob a mesma borda do penhasco de onde caiu Olwen.

CHARLES WILLIAMS

Charles Williams nasceu Isaac Cozerbreit, em 8 de maio de 1893 em Londres, filho de pais judeus poloneses, e morreu em 7 de setembro de 1978 em Findon Valley, Worthing, West Sussex, Inglaterra com 85 anos de idade. Foi um compositor e maestro britânico que contribuiu com as músicas de mais de 100 filmes. Embora sua carreira tenha sido trilhada de 1934 a 1968, muito do seu trabalho chegou às telas do cinema como “música de estoque” e, por isso, ele não recebeu os créditos correspondentes.

O Compositor Charles Williams
 Charles Williams começou sua carreira como violinista independente em teatros, cinemas e orquestras sinfônicas, posteriormente estudando composição com Norman O’Neill na Academia Real de Música. Em 1933 ele foi para a Gaumont British Films como compositor, onde permaneceu até 1939. Compôs para muitos filmes britânicos e shows de rádios e após o final da Segunda Guerra Mundial, tornou-se o maestro da nova Orquestra Ligeira Queen’s Hall; posteriormente formou sua própria Orquestra para Concertos. Compôs muitas músicas orquestrais e na década de 1950 tornou-se muito conhecido por temas de cinema e televisão ingleses bastante conhecidos na Inglaterra e na Austrália.
Charles Williams foi um compositor prolífico e sem paralelo na área da cativante Música Ligeira e, entretanto, é hoje uma figura praticamente desconhecida. Sua versatilidade foi algo impressionante, pois ele se sentia igualmente em casa na “Royal Opera House”, “Covent Garden” ou no poço da orquestra do Cinema Empress, no Brixton. Tocando sob a batuta de Sir Edward Elgar (compositor de “Pomp and Circumstance”, entre várias outras obras primas da composição britânica) teve atuação tão primorosa que dele mereceu receber, por valiosos serviços prestados, uma cópia autografada de sua biografia.
A contribuição de William para as telas do cinema incluiu incumbências adicionais de Alfred Hitchcock e as comédias do famoso ator cômico inglês William Thomson Hay (Will Hay) – Oh, Mr Porter! – não do nosso tempo. Após a segunda grande guerra ele teve um grande sucesso com “The Dream of Olwen”, do filme “While I live”. Gravado por vários artistas, esta melodia tornou-se um sinônimo do seu próprio nome, durando muito mais do que o filme. Em 1960, seu “Jealous Lover” foi escolhido como o tema para o filme americano “The Apartment” – no Brasil, “Se o meu Apartamento Falasse”. Estrelado por Jack Lemmon e Shirley MacLaine, filme e música tornaram-se extraordinários sucessos. A versão que apresentamos é executada por Ferrante & Teicher, um dueto de pianistas americanos, conhecidos por seus preciosos arranjos ligeiros de peças clássicas familiares e trilhas sonoras de filmes.
Tristemente, o alcoolismo foi a doença contra a qual ele batalhou, permanentemente, durante os últimos estágios de sua vida, e sua percepção do problema levou-o a declinar um grau honorário de Doutor em Música oferecido pela Universidade de Oxford, por não se considerar mais digno de tal premiação nem confiar em si próprio para participar de tão importante cerimônia; dada a sua brilhante estirpe musical  e influência sobre os seus vários pares esta foi uma verdadeira tragédia pessoal.
Após passar grande parte da sua vida em Hampstead, West London, Williams retirou-se com sua esposa para Findon, nos South Downs, próximo de Worthing, em West Sussex. Lá ele morreu em 7 de setembro de 1978, com a idade de 85 anos, uma figura praticamente esquecida, já que a Música Ligeira tornara-se “fora de moda”. Contudo, um recente ressurgimento do interesse na grande herança musical britânica trouxe de volta uma reavaliação, muito desejada, deste verdadeiramente grande compositor.

RUSS CONWAY

Russ Conway, nascido a 2 de setembro de 1925 e morto em 16 de novembro de 2000, foi um pianista de música popular, que teve a surpreendente marca de 20 melodias instrumentais para piano no Quadro de Simples do Reino Unido, entre 1957 e 1963, incluindo dois sucessos em primeiro lugar.

O Pianista Russ Conway
Nasceu em Trevor Herbert Stanford, em Bristol, England e não teve aulas de piano formais, mas recebeu um bolsa de estudos para o Coro da Catedral de Bristol. Foi praticamente um autodidata no piano, enquanto gastava o seu tempo, ainda quando jovem, numa estadia de três anos em Borstal, um instituto correcional na Inglaterra. Seu pai, então, permitiu-lhe que ingressasse na marinha mercante, onde iniciou em 1942 na Marinha Real, permanecendo até 1948, quando foi agraciado com a Medalha de Distinção em Serviço, como sinaleiro numa flotilha, “por reconhecidos serviços, eficiência e zelo”, na busca de minas no Mar Egeu e operações durante a libertação da Grécia, entre 1944 e 1945.
Sua fama nasceu enquanto tocava num clube londrino, quando foi indicado para o selo Columbia da EMI, e passou a metade da década de 1950 como piano de fundo para os artistas de plantão.
Sua carreira foi minada pela má saúde que incluiu um colapso nervoso e, subsequentemente, um derrame que o impediu de tocar entre 1968 e 1971. Às vezes bebia muito e fumava até 80 cigarros por dia. Foi medicado com antidepressivos e teve períodos de severa perda de memória. Mas prosseguiu tocando o seu piano. Teve diagnosticado um câncer de estômago ao final da década de 1980 e fundou, em 1990, com seu amigo escritor e radialista Richard Hope-Hawkins, o “Russ Conway Cancer Fund, apresentando espetáculos de gala nos principais teatros, que levantaram milhares de libras para instituições de caridade de combate ao câncer.
Conway morreu solteiro em 16 de novembro de 2000 e Richard Hope-Hawkins fez o principal elogio fúnebre em seu funeral, na histórica igreja de St. Mary Redcliffe, em Bristol, para o qual Elton John enviou uma coroa de flores.
E nós, sem nada mais podermos fazer além de apreciar a arte dos grandes mestres, prestamos a nossa singela homenagem a esses dois grandes músicos, repassando a vocês o lindo “clip” da música “The Dream of Olwen”, a maravilhosa composição de Charles Williams, na brilhante execução de Russ Conway.
Deliciem-se com ela e vibrem como eu vibrei!

9 comentários:

Cesar Campos disse...

Gostei muito da publicação.
Minha irmã mais velha, pianista e professora secundária e de música (hoje com 83 anos e com Alzheimer) tocava O Sonho de Olwen. Eu, criança, ouvia e não sabia que era tema de um filme.Até pouco tempo pensava que era um tema dos eruditos românticos e seus devaneios.
Obrigado

Nelson Azambuja disse...

Prezado Cesar:
Fiquei muito feliz por ter tocado o coração de alguém com esta minha publicação. "The Dream of Olwen" é, entre todas, uma das composições que mais admiro! E piano é o meu instrumento da alma! Meus parabéns e recomendações à tua querida mana.
Muito obrigado pelo comentário.
Um grande abraço,
Nelson Azambuja.

Alice disse...

Minha mae ama a musica tema do fgilme O sonho de Olwen. Penas q nao encontramos o filme completo p assistir. Mas que bom q através desta publicacao, conseguimos alguns dados.um abraco

Nelson Azambuja disse...

Prezada Alice:
Muito obrigado pela visita ao Blog e pelo comentário.
Como eu respondi a outro comentário, essa é uma das minhas composições preferidas. Assim que a descobri, saí em busca de material para uma postagem. Que bom que ainda existem pessoas, como vocês, que têm bom gosto musical.
Um abraço,
Nelson Azambuja

Aparecida Gaziolla disse...

Muito obrigada. Sempre gostei dessa música e imaginava que fosse trilha sonora de filme, só não imaginava que não teria como assistir 😥. Que pena pois gosto de filmes antigos e costumava comprar qdo disponíveis. Sempre fui fascinada por trilhas sonoras, pelo menos sua postagem me deu a conhecer o conteúdo do filme. Muito obrigada mesmo!

Nelson Azambuja disse...

Prezada Aparecida:
Desde que ouvi essa música pela primeira vez, ela se tornou uma das minhas preferidas. Por isso resolvi fazer a pesquisa sobre o assunto. Uma vez, estudando música, li de um dos autores do curso, que se os grandes compositores clássicos fossem vivos hoje, eles comporiam trilhas sonoras de filmes. Nunca esqueci disso e acho que ele estava totalmente certo.
Fico sempre muito feliz quando minhas postagens atingem o coração de alguém. Muito obrigado por visitar o blog e pelo seu comentário. Volte sempre.
Nelson Azambuja.

Unknown disse...

fiquei feliz ao achar este seu blog ! Sou pianista, toco desde menina O Sonho de Olwen ! assisti o filme qdo criança ! Foi bom recordar e as indicações tecnicas foram super importantes ! Obrigada !!!

Nelson Azambuja disse...

Cara leitora:
Eu é que agradeço a visita e o comentário. E muito feliz fico por saber que as indicações colocadas lhe foram importantes. Adoro a boa música, em geral, e o piano, em particular, desde criança. E músicas como essa me tocam muito profundamente.
Apareça sempre.

Unknown disse...

sr. Blogueiro ! Segunda vez que me atrevo à escrever em um Blog! senti-me muito canhestra ao responder o primeiro ! ( ainda me sinto ) mas vamos lá ! Gostei da resposta ! mais uma vez, obrigada !