Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

domingo, 28 de abril de 2013

BREVE HISTÓRIA DO IMPÉRIO ROMANO - PARTE 4

3) Tullus Hostilius
Rei Tullus Hostilius
Tullus Hostilius, de origem latina, sucessor de Numa Pompílio, era muito parecido com Rômulo no que se refere ao seu caráter guerreiro e completamente oposto a Numa em sua falta de atenção aos deuses. Fomentou guerras contra Alba Longa, Fidenes (cidade muito próxima de Roma) e Veios (a mais meridional das metrópoles etruscas, em guerra com Roma por séculos), que granjearam a Roma novos territórios e maior poder. Foi durante o reinado de Tullus que Alba Longa foi completamente destruída, sendo toda a população escravizada e enviada a Roma. Desta forma, Roma se impôs à sua cidade materna como poder hegemônico do Lácio. Apesar de sua natureza beligerante, Tullus Hostilius selecionou um terceiro grupo de indivíduos que chegou a pertencer à classe patrícia de Roma, eleito entre todos aqueles que haviam chegado a Roma buscando asilo e uma nova vida. Também erigiu um novo edifício para albergar o senado, a Cúria Hostilia, anteriormente destruído por incêndio.
Tullus Hostilius derrotando Veios
Em seu reinado o rei envolveu-se em tantas guerras que, descuidando sua atenção das divindades, teria provocado uma terrível peste sobre Roma, de acordo com as lendas, afetando muitos romanos e o próprio rei. Quando Tullus solicitou ajuda a Júpiter, o deus respondeu como um raio que reduziu a cinzas o monarca e sua residência. Seu reinado chegou ao fim após 32 anos de duração.

4) Ancus Martius
Com a morte de Tullus Hostilius, os romanos elegeram o sabino Ancus Martius, neto de Numa Pompilius, um personagem pacífico e religioso que, tal como seu avô, apenas estendeu os limites de Roma, lutando em defesa dos territórios romanos quando preciso.
Durante seu reinado fortificou o monte Janículo, na margem ocidental do rio Tibre e não incluído nas sete colinas, para assim garantir maior proteção à cidade por este flanco. Construiu também a primeira ponte de Roma sobre o Tibre, a ponte Sublicius, assim como a primeira prisão romana, o carcere Mamertino, existente até hoje. Outras das obras do rei foram a construção do porto romano de Óstia na costa do mar Tirreno, assim como as primeiras fábricas de salga, aproveitando a rota fluvial tradicional do comércio de sal (via Salaria) que abastecia os agricultores sabinos. A extensão da cidade de Roma foi incrementada devido à diplomacia exercida por Ancus, permitindo a união pacífica de várias aldeias menores através de alianças. Graças a este método, conseguiu o controle dos latinos, realojados no Aventino, consolidando assim a classe plebeia de Roma. Todavia, ainda são evidentes os conflitos entre romanos e latinos durante seu reinado.

Após 24 anos de reinado morreu, possivelmente, de morte natural, como seu avô, sendo recordado como um dos grandes pontífices de Roma. Foi o último dos reis latino-sabinos de Roma.

5) Tarquinius Priscus
Moeda com Tarquinius Priscus
Tarquinius Priscus, que reinou entre 616 e 579 AC, foi o quinto rei de Roma e o primeiro de origem etrusca, presumivelmente de ascendência coríntia[1] Após emigrar a Roma, obteve o favor de Ancus, que o adotou como seu filho. Ao ascender ao trono, combateu em várias guerras vitoriosas contra sabinos e etruscos, dobrando assim o tamanho de Roma e obtendo grandes tesouros para a cidade. Numa de suas primeiras reformas, adicionou cem novos membros ao senado, procedentes das tribos etruscas conquistadas, elevando a trezentos o número de senadores. Também ampliou o exército, duplicando o número de efetivos para 6.000 infantes e seiscentos ginetes. Além disso, a ele é creditada a criação dos Jogos Romanos.

Tarquinius Priscus utilizou a grande pilhagem obtida em suas campanhas militares para construir grandes obras em Roma, entre as quais destaca-se o grande sistema de esgoto da cidade, a Cloaca Máxima (cujo fim era drenar as águas residuais e o lixo dos vales situados entre as colinas de Roma, para o rio Tibre), o Forum Romanum e o Circus Maximus, um grande estádio onde realizavam as corridas de cavalos e que contava com um templo-fortaleza consagrado a Júpiter. Em seu reinado foram introduzidos os símbolos militares romanos e os cargos civis, bem como celebrado o primeiro triumphus romanum[2]. Tarquinius Priscus foi assassinado, após 38 anos de reinado, num complô promovido pelos filhos de seu predecessor, Ancus Martius, que não assumiram o trono.


6) Servius Tullius
Efígie do rei Servius Tullius
Servius Tullius, genro de Tarquinius Priscus, assumiu o trono e, como seu predecessor, travou várias guerras vitoriosas contra os etruscos. O espólio obtido foi utilizado para o financiamento das primeiras muralhas que cercavam as sete colinas romanas, sobre o pomerium, as chamadas Murus Servii Tullii (Muralhas Servianas), assim como um templo dedicado a Diana na colina do Aventino.
No âmbito bélico Servius Tullius introduziu novas táticas militares, aos moldes etruscos e gregos, e empenhou-se em tornar o exército romano mais disciplinado e basicamente composto de infantaria pesada, a exemplo das falanges hoplitas (hoplita: soldado grego de infantaria pesada, o nome oriundo de hoplon, o grande escudo que levavam à frente) gregas. Seu exército, composto por 6.000 infantes e 600 ginetes, era formado de homens com quantidade mínima de bens chamados adsidui, de modo a diferenciá-los dos proletarii, os pobres da sociedade que compunham a infra classem (classe inferior) e que não tinham direito a participar do exército.
Ruínas das Muralhas Servianas
No âmbito social, desenvolveu uma nova constituição para os romanos, com maior atenção às classes cidadãs. Instituiu o primeiro censo da história, dividindo a população de Roma em cinco classes censitárias, criando também a assembleia centuriata (primeira assembleia nacional do reino de Roma). Utilizou também o censo para dividir a cidade em quatro "tribos" urbanas (tribus urbanae), baseadas em sua localização espacial dentro da cidade, e o restante do território romano em 16 tribos rurais (tribus rusticae), estabelecendo a assembleia tribal (comitia tribuna).
As reformas de Servius provocaram uma grande mudança na vida romana: o direito a voto foi estabelecido com base no patrimônio, pelo qual grande parte do poder político permaneceu reservado às elites romanas. Contudo, no tempo de Servius, as classes mais desfavorecidas foram gradualmente favorecidas para, desta forma, obter maior apoio por parte dos plebeus, razão pela qual sua legislação pode definir-se como insatisfatória para a classe patrícia. O grande reinado de 44 anos de Servius Tullius terminou com seu assassinato em uma conspiração urdida por sua própria filha Tullia e seu marido Tarquinius, seu sucessor no trono.

7) Lucius Tarquinius Superbus (Tarquínio, o Soberbo)
Lucius Tarquinius Superbus
O sétimo e último rei de Roma foi Tarquinius Superbus, filho de Tarquinius Priscus e genro de Servius Tullius, também de origem etrusca. Usou a violência, o assassinato e o terror para manter o controle sobre Roma como nenhum rei anterior havia utilizado, revogando, inclusive, muitas das reformas constitucionais estabelecidas por seus predecessores. Sua melhor obra para Roma foi a finalização do templo de Júpiter, iniciado por seu pai Prisco, quando chamou o escultor etrusco Vulca de Veii para produzir a estátua de Júpiter no templo.
Tullia passando com o carro sobre seu pai
Tarquínio aboliu e destruiu todos os santuários e altares sabinos da rocha Tarpeia (local de onde eram lançados para a morte os malfeitores condenados), enfurecendo desta forma o povo romano. O ponto crucial de seu reinado tirânico sucedeu quando permitiu a violação de Lucrécia, uma patrícia romana, por seu filho Sexto Tarquínio. Um parente de Lucrécia e sobrinho do rei, Lúcio Júnio Bruto, convocou o senado que decidiu a expulsão de Tarquínio no ano 509 AC. Tarquínio fugiu para a cidade de Túsculum e posteriormente para Cumas, onde morreria no ano 495 AC. Esta expulsão supostamente pôs fim à influência etrusca tanto em Roma como no Lácio.
Os etruscos influenciaram os romanos tanto no plano cultural (disseminação do uso de túnicas, práticas religiosas e culto a novos deuses), como no plano material (ampliação do comércio e criação de canais de drenagem para secagem de pântanos locais); durante a dominação etrusca a área do Forum Romanum tornou-se o centro socioeconômico de Roma. É desta época a construção de uma ponte que substituiria um baixio do rio Tibre, utilizado para a sua travessia, e o sistema de esgotos romano, obras de engenharia com traçados típicos da civilização etrusca. Não há dúvida de que, do ponto de vista técnico e cultural, os etruscos só foram suplantados pelos gregos no desenvolvimento romano. O legado etrusco foi grande e duradouro, tendo transformado Roma, de uma comunidade pastoral, em uma verdadeira metrópole, imprimindo-lhe alguns aspectos culturais dos gregos como, por exemplo, a versão ocidental do alfabeto grego. Continuando a sua expansão para o sul, os etruscos estabeleceram contato direto com os gregos e, após um sucesso inicial nos conflitos contra os Gregos do sul da Itália, entrariam em declínio.
Após a expulsão de Tarquínio, o senado decidiu abolir a monarquia, convertendo Roma em uma República no ano 509 AC. Neste mesmo ano, um estratagema conhecido como “Conspiração Tarquiniana” foi planejado por patrícios e membros do senado que apoiavam a monarquia tombada. O estratagema, contudo, mostrou-se falho, e os conspiradores foram condenados a morte.
O período entre a fundação de Roma e a expulsão de seu último rei durou dois séculos e meio. Tendo começado, como outras cidades do Lácio, como um simples refúgio de pastores, o assentamento no Palatino expandiu-se até dominar todo o círculo das sete colinas. Lentamente, em paralelo com esse crescimento interno, uma sucessão de conquistas levou as fronteiras às duas margens do Tibre, até ao mar Tirreno, a uma longa faixa do Lácio, desde Óstia até Circeii e desde a fronteira sabina às terras altas dos volscos, na região central da península Itálica, Lácio meridional. Devido à política liberal, houve um constante fluxo de novos colonizadores, que trouxeram força e conhecimentos à comunidade. Com o passar do tempo, a presença dessa nova população, fora do círculo privilegiado dos fundadores, trouxe problemas que foram superados e contribuiu para a formação de legisladores e estadistas entre as classes dirigentes. Assim, após mais de dois séculos de existência, em 509 A.C., terminou o período real e a República Romana iniciou-se sem que se verificasse qualquer ruptura violenta das tradições.

(Segue com a Parte 5)

[1] Corinto foi uma das mais florescentes cidades gregas da antiguidade clássica, situado na Corintia, periferia do Peloponeso, enorme península ao sul da Grécia.
[2] Um triunfo romano era uma cerimônia civil e religiosa para homenagear publicamente o comandante militar de uma guerra ou campanha no estrangeiro, notavelmente bem sucedida, e para exibir as glórias da vitória romana. Aqueles que recebiam esta distinção eram denominados triumphators.

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