Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

domingo, 15 de dezembro de 2013

HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066 (PARTE 6)

HENRY V (1413 - 1422)
Henry V, o rei guerreiro

Henry V, o mais velho filho de Henry IV e Mary Bohun, nasceu em 1387. Seu único filho, o futuro Henry VI, nasceu em 1421. Henry era um consumado soldado: à idade de catorze anos ele lutou contra as forças galesas de Owain Glyn Dwr; com dezesseis ele comandou as forças de seu pai na batalha de Shrewsbury; e logo após sua ascensão ele eliminou um importante levante Lollard(1) e uma trama de assassinato por nobres ainda leais a Richard II. Propôs casamento a Catherine em 1415, exigindo as antigas terras dos Plantagenet, na Normandia, e Anjou como seu dote. Charles VI recusou e Henry declarou Guerra, abrindo um novo capítulo na Guerra dos Cem Anos. A guerra contra a França serviu a dois objetivos: ganhar terras perdidas em outras batalhas e manter o foco afastado de qualquer das ambições reais de seus primos. Detentor de uma hábil mente militar, Henry derrotou os franceses na batalha de Agincourt em outubro de 1415 e em 1419 havia capturado a Normandia, Picardy e grande parte do baluarte Capetiano de Ile-de-France.
Em 1420 Inglaterra e França assinaram o tratado de Troyes, pelo qual Charles VI não somente aceitou Henry V como seu genro, mas deu-lhe e a seu filho, Henry, a herança da coroa francesa, deserdando o Delfin de França, seu filho. Se Henry tivesse vivido mais dois meses, teria sido rei da Inglaterra e da França; contudo, envelhecido prematuramente pela vida dura de soldado, morreu subitamente em 1422, longe da Inglaterra, deixando seu único filho Henry, com menos de um ano de idade e sem saber, agora rei de Inglaterra e França sob os termos do Tratado de Troyes. A Inglaterra foi governada por um Conselho de Regência e na França, o tio do rei, John, Duque de Bedford, gradualmente estendeu o controle inglês.

HENRY VI (1422 – 1461; 1470 - 1471)
Henry VI, rei da Inglaterra
e França

Henry VI foi o único filho de Henry V e Catherina de Valois, nascido em 6 de dezembro de 1421, no Castelo de Windsor(2). Tinha apenas nove meses quando sucedeu a seu pai, Henry V, após morte prematura; era, de nome, rei da Inglaterra e França, mas um Protetor governou cada reino. Foi coroado rei em 1429 (com oito anos), mas um conselho de regência governou a Inglaterra até que tivesse idade suficiente, em 1437. Casou-se com Margaret d’Anjou em 1445, gerando a união um filho, Edward, morto em batalha um dia antes da execução de Henry.
As hostilidades na França continuavam, até que os ventos sopraram para os franceses, em 1428, com o surgimento de Joana d’Arc(3), a garota de 17 anos de idade, vital no resgate do Delfin Charles, em 1429, logo coroado em Rheims como Charles VII. Independente disso, Henry VI foi coroado rei da França, em Paris, em dezembro de 1431, já que o local tradicional de coroações francesas, Rheims, havia sido recapturada por Joana d’Arc no ano anterior, mesmo ano em que ela foi queimada na estaca, como herética, numa manobra francamente política.
Castelo de Windsor, residência de vários reis ingleses
Henry foi um homem piedoso, com esporádico interesse no governo, que escolheu os conselheiros errados e que não pode prever as lutas pelo poder que iniciaram na corte. Ao mesmo tempo, era muito difícil manter a dupla monarquia; os sucessos do Delfin e de Joana d’Arc começaram a enfraquecer o domínio inglês sobre as possessões francesas: a Brittany foi perdida em 1449, a Normandia em 1450 e a Gasconha em 1453, concluindo a Guerra dos Cem Anos e contribuindo fortemente para a erosão do prestígio e autoridade de Henry, que perdera todas as suas reivindicações em solo francês, com exceção de Calais.
Joana d'Arc, a donzela de Orleans
Além de tudo, as “Guerras das Rosas”, entre as facções Lancaster e York, realmente deflagraram durante o reinado de Henry VI que teve, em 1453, um ataque da doença mental hereditária que flagelou a francesa “Casa de Valois”; Richard, duque de York, foi feito protetor do reino durante a doença. Margaret, a obstinada esposa de Henry, alienou Richard durante a sua recuperação e aquele respondeu atacando e derrotando as forças da rainha em St. Albans, em 1455. Em 1460 Richard capturou o rei e forçou-o a reconhece-lo como herdeiro da Coroa. Henry conseguiu escapar e juntou-se às forças Lancastrianas que mataram Richard de York, na batalha de Wakefield, em 1460. Edward e seu irmão Richard (o futuro Richard III), filhos de Richard, encamparam a luta, derrotando os Lancastrianos em Towton, Yorkshire, na maior batalha das “Guerras das Rosas” travada até então, em 1461; finda a batalha, Edward coroou-se como Edward IV. Henry e Margaret fugiram para o exílio na Escócia, retornando e sendo capturados por Edward, em 1465, sendo aprisionados na Torre de Londres até 1470.
O duque de Warwick – previamente um aliado de Edward – então mudou de lado e, brevemente, recolocou Henry no trono, em 1470. Entretanto, assim que conseguindo recompor suas forças, Edward retornou do exílio e destruiu as forças Lancastrianas em Tewkesbury, em 1471. Nessa batalha, o único filho de Henry VI e Margaret, foi morto. Henry, o último rei Lancastriano, retornou à prisão na Torre e foi assassinado no dia seguinte. Todo o reinado de Henry VI esteve envolvido com a retenção das duas coroas e, ao final, ele acabou sem qualquer delas.

EDWARD IV (1461–1470; 1471-1483)
Edward IV, rei duas vezes

Edward, nascido em 28 de abril de 1442 em Rouen, França, filho de Richard Plantagenet, duque de York(4), foi rei da Inglaterra por duas vezes, vencendo uma luta contra os Lancastrianos para estabelecer a Casa de York no trono inglês, com o apoio do poderoso duque de Warwick, conhecido como o “Fazedor de Reis”, que depois o traiu e foi por ele morto.
A segunda parte do reinado de Edward, de 1471 a 1483, foi um período de relativa paz e segurança. Usou recursos dos Estados da Coroa para pagar custos do governo e com isso necessitou menos de concessões parlamentares do que seus predecessores – convocou o Parlamente em apenas seis ocasiões. Acordos comerciais, a paz externa e a ordem interna, revigoraram o comércio, beneficiando as obrigações alfandegárias e outras receitas. Conselhos foram estabelecidos nas fronteiras do País de Gales e ao norte.
Foi nessa época que William Caxton, anteriormente um chefe de mercadores aventureiros em Flandres, publicou o primeiro livro impresso na Inglaterra: 'Dictes and Sayings of the Philosophres' (Ditos e Declarações dos Filósofos). Ele havia estabelecido sua prensa em Westminster após retornar de Bruges, em 1476. Posteriormente ele publicou alguns trabalhos dos poetas do século XIV, Geoffrey Chaucer e John Gower, além da literatura de cavalaria que incluiu o célebre “Morte de Arthur”, do seu contemporâneo, Sir Thomas Malory (1405-1471).
Edward IV morreu, subitamente, em 9 de abril de 1483, e seu filho de 12 anos assumiu a Coroa como Edward V.

EDWARD V (1483 – 1483)
Edward V e o irmão Richard,
mortos na Torre de Londres

Edward V foi rei da Inglaterra desde a morte de seu pai, Edward IV, em 9 de abril de 1483, até 26 de junho do mesmo ano, sem nunca ter sido coroado.
Edward e Richard, os jovens filhos de Edward IV foram deixados sob a proteção de seu tio Richard, Duque de Gloucester (irmão de Edward IV). Gloucester encontrou o novo rei em sua jornada para Londres e quando alcançaram a capital, hospedou-o na Torre de Londres com seu jovem irmão. Em junho os meninos foram declarados ilegítimos, sob a alegação de que o casamento de seu pai com sua mãe, Elizabeth Woodville, havia sido inválido. Na Torre de Londres eles foram provavelmente assassinados sob as ordens do Duque de Gloucester.
Em seguida, o parlamento solicitou que Richard, Duque de Gloucester, assumisse o trono, o que ele aceitou, sendo coroado como Richard III.

RICHARD III (1483 – 1485)
Richard III, o rei "assassino"

Richard III, o décimo-primeiro filho de Richard, Duque de York e Cecily Neville, nasceu em 1452 e foi nomeado terceiro duque de Gloucester na coroação de seu irmão Edward IV. Em 6 de julho de 1483 foi coroado como Richard III. Richard teve três filhos: uma filha e um filho ilegítimos e um filho de sua primeira esposa, Anne Neville, viúva do filho de Henry IV, Edward.
O reinado de Richard ganhou uma importância fora de proporção para a sua duração. Ele foi o último da dinastia Plantagenet, que havia governado a Inglaterra desde 1154, sendo o último rei inglês a morrer em batalha, em 1485, entre as eras medieval e moderna. A ele foi também imputada responsabilidade por vários assassinatos: Henry VI, Edward, filho de Henry VI, seu irmão Clarence e seus sobrinhos Edward V e Richard.
Quatro meses após coroado, esmagou uma rebelião conduzida por seu prévio assistente, Henry Stafford, Duque de Buckingham, que buscava a ascensão ao trono de Henry Tudor, um enfraquecido Lancaster. A rebelião foi esmagada, mas Henry Tudor, Duque de Richmond e o melhor Lancastriano reivindicando o trono e vivendo na França, reuniu tropas e aportou ao sul do País de Gales, atacando as forças de Richard III, em 22 de agosto de 1485. Esta batalha, em Bosworth Fields, a última importante das “Guerras das Duas Rosas”, tornou-se o leito de morte de Richard III. Embora superior em número, vários de seus oficiais importantes desertaram e Richard III foi morto em batalha, com Henry Tudor assumindo o trono como Henry VII.
Richard III, de William Shakespeare
Os historiadores foram notavelmente cruéis com Richard III, baseados em evidências puramente circunstanciais. Shakespeare o pintou como um completo monstro em sua peça “Richard III”. Uma coisa é certa: a derrota de Richard, último dos reis medievais ingleses, e o encerramento das “Guerras das Rosas”, permitiu a estabilidade que a Inglaterra necessitava para curar-se, consolidar-se e penetrar na era moderna.


(1) Os Lollards eram seguidores do reformador herético da igreja, John Wyclif, que havia morrido em 1384. A revolução dos cavaleiros Lollard, de 1414, conduzida por Sir John Oldcastle, foi facilmente reprimida por Henry V. Oldcastle permaneceu livre até que foi capturado, julgado e executado, em 1417. O movimento Lollard foi considerado subversivo e, embora continuasse a fazer adeptos, sempre permaneceu como uma minoria religiosa.
(2) Windsor Castle é uma residência real em Windsor, condado inglês de Berkshire, notável por sua longa associação com a família real britânica e sua arquitetura. Foi construído no século XI, após a invasão normanda, por William, the Conqueror, e desde o tempo de Henry I tem sido usado pelos reis que o sucederam, sendo o mais longamente usado palácio da Europa. O castelo ocupa uma área de cinco hectares, combinando as características de fortificação, palácio e uma pequena cidade, incluindo a capela de Saint George, considerada uma das obras primas da arquitetura gótica. Mais de 500 pessoas vivem e trabalham no Castelo de Windsor.
(3) Em francês, Jeanne d’Arc, apelidada de “a donzela de Orleans”, nascida em 1412 e morta em 30 de maio de 1431, foi uma heroína popular da França e uma santa católica. Nascida de uma família de camponeses, dizia ter orientação divina e conduziu o exército francês a importantes vitórias contra os ingleses, durante a “Guerra dos Cem Anos”, abrindo caminho para a coroação de Charles VII. Foi capturada pelos Burgundians (importante partido de apoio aos ingleses), transferida aos ingleses, por dinheiro, julgada pelo bispo de Beauvais, pró inglês, Pierre Cauchon, por acusações de “insubordinação e heterodoxia”, e condenada à morte na fogueira, com 19 anos de idade.
(4) Nesse texto, as palavras “Duke” e “Earl” estão sendo traduzidas, indiferentemente, por Duque, embora exista diferença entre elas; daí a colocação dessa nota. 
Na nobreza, um “Duke” é o cargo mais alto, apenas abaixo do Rei ou Príncipe e considerados seus amigos (muitos deles da própria família real), com alto status social e financeiro. Eram feitos governadores de províncias pelos reis e seu território era chamado de “Duchy” (Ducado). Este é o caso do Duque de York, de Lancaster e outros. Se um “Duke” morresse sem herdeiro, seu título retornava à família real que o conferia a outra pessoa. A esposa de um “Duke” é chamada de Duquesa.
O “Earl” é um título de nobreza inferior, na hierarquia, a um “Duke”, abaixo de um Marquês e acima de um Barão. É o caso do citado Earl de Warwick. Quando os reis precisavam de recursos para formar exércitos, conferir esses títulos a pessoas não nobres era uma forma de resolver a questão. Não há nome oficial para a esposa de um “Earl”.

Continua na "Parte 7"

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